EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA MATA DA MARGARAÇA

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA MATA DA MARGARAÇA – OS EXEMPLOS DO ART`AMBIENTE E DAS ESPÉCIES INVASORAS

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INSTITUTO POLITCNICO DE COIMBRA

ESCOLA SUPERIOR AGRRIA Licenciatura em Engenharia do AmbienteRelatrio de Fim de Curso

EDUCAO AMBIENTAL NA MATA DA MARGARAA OS EXEMPLOS DO ART`AMBIENTE E DAS ESPCIES INVASORAS

LILIANA MARISA GONALVES MARTINS MENDES

ESAC COIMBRA,2004

INSTITUTO POLITCNICO DE COIMBRA

ESCOLA SUPERIOR AGRRIA Licenciatura em Engenharia do AmbienteRelatrio de Fim de Curso

EDUCAO AMBIENTAL NA MATA DA MARGARAA OS EXEMPLOS DO ART`AMBIENTE E DAS ESPCIES INVASORAS

Orientadora: Dr. Manuela Direito Supervisora: Dr. Hlia Marchante Local de Estgio: ICN rea da Paisagem Protegida da Serra do Aor

LILIANA MARISA GONALVES MARTINS MENDES

ESAC COIMBRA, 2004

Agradecimentos

Dr. Manuela Direito do Instituto da Conservao da Natureza (ICN), pelo seu acompanhamento permanente e pela preciosa colaborao em todo meu trabalho. Dr. Hlia Marchante pela sua disponibilidade e incentivo sempre presentes em todas as etapas do trabalho. Dr. Cristina Giro Vieira do ICN, pela cedncia de variado material respeitante Educao Ambiental. A todas as pessoas do ICN, que seguiram de perto este trabalho, sempre com um sorriso e uma palavra amiga. Ana Torrinha, minha colega de trabalho pela sua amizade e a sugesto de ideias para a elaborao do relatrio. minha querida amiga Susana e Maria Joo pelo emprstimo de variados livros relativos a actividades a realizar para os diferentes nveis etrios. Ao Joo Ramos pela colaborao na elaborao da ilustrao grfica para o poster. Cristina e Susana Carvalho pela ajuda na seleco das cores para o material sobre invases biolgicas e na impresso do trabalho. Ao Paulo pelo seu incentivo permanente e ajuda preciosa em todas as etapas do trabalho. Aos meus pais, irm e av, por me incentivarem e estarem presentes nos momentos mais difceis.

ResumoAo longo dos anos, e no que diz respeito s questes relacionadas com o ambiente, a Educao Ambiental (EA) tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante. Esta o motor que proporciona a sensibilizao do pblico e, estando este bem informado/sensibilizado para os diferentes problemas ambientais, pode tornar-se num agente de preveno. O presente trabalho teve como objectivos a participao na organizao de dois projectos de EA do Instituto da Conservao da Natureza (ICN) /rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor (APPSA): um projecto dirigido para o pblico escolar denominado Art Ambiente, e outro projecto sobre espcies invasoras que incluiu a organizao de um Campo de Trabalho Cientfico (CTC) e a elaborao de material de divulgao ambiental para incluir num Kit sobre a temtica das Invases Biolgicas. No que diz respeito ao projecto Art`Ambiente, foi feito o acompanhamento de quase todo o projecto nas suas vrias fases. de destacar a realizao de sesses de formao/sensibilizao em escolas; a elaborao de diferente material de divulgao; a preparao de actividades para o dia de encerramento do concurso e a anlise/avaliao dos relatrios de acompanhamento de trabalhos. Enquanto concurso vocacionado essencialmente para a populao escolar de sete reas Protegidas (AP), este projecto apresentou resultados muito positivos. Relativamente ao CTC, este teve como objectivos a sensibilizao para a problemtica das espcies invasoras e o controlo efectivo da espcie invasora Acacia dealbata. Mereceu especial ateno a preparao e concretizao de uma aco de sensibilizao para a populao local sobre o tema das Invases Biolgicas. O CTC revelou-se uma actividade de EA muito eficaz aliando o aumento de conhecimento dos participantes acerca da Conservao da Natureza e dos problemas com espcies invasoras, realizao prtica de trabalhos de controlo. Em relao elaborao do material de divulgao para incluir no Kit sobre Invases Biolgicas, e atendendo a que as campanhas de sensibilizao sobre esta temtica so muito escassas (ou mesmo nulas) no nosso Pas, pretendeu-se preparar material para uma primeira abordagem ao tema. O Kit composto por marcadores, posters e um jogo e numa primeira fase de teste revelou resultados muito positivos. Assim, reala-se a importncia da divulgao deste tipo de material pelo pblico-alvo, em futuras campanhas.

Os resultados destas actividades confirmam que a EA pode e deve desempenhar um papel fundamental na realidade em que vivemos devendo ser considerada como uma disciplina importante e prioritria na formao dos vrios pblicos.

AbstractThrough out the years, and regarding subjects related to the Environment, Environmental Education (EE) has assumed a very important role since it manages to call public attention to environmental problems and by doing this make each individual a prevention agent. The main goal of this work was to participate in the organization of two EE projects of the Instituto da Conservao da Natureza (ICN)/rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor (APPSA): a project of EE called ArtAmbiente specially designed to a school audience; and another concerning Biological invasions that included the planning of a Scientific Work Field (SWF) and the elaboration of material of environmental divulgation to a broader target-audience. The ArtAmbiente project, was followed throughout most of its several stages: sessions of formation in schools; elaboration of several propaganda material; preparation of activities the closing day contest and analyses / evaluation of the reports of the underlying work. Being a contest targeted for the school population of the Protected Areas (AP), this project has presented many positive results. The SWF, aimed at, arising awareness towards the problem of invasive species and controlling some areas invaded by Acacia dealbata. Special attention was given to the preparation and realization of a EE session on Biological Invasions for the local population about. The SWF, besides contributing to the removal of invasive plants in Natural Areas, revealed itself as a very effective activity of EE, which increased the participants knowledge of Nature Conservation and Invasive Species problem. Bearing in mind that information campaigns on Biological Invasions are very scarce in Portugal, a first approach, by means of the making of a Kit, was attemplid. This Kit is made up of differents items (posters, markers and a childrens game) and it eventually proved to show very positive responses. Thus, the importance of making this material available to the target-audience in future campaigns has been clearly shown. The results of these activities confirm that EE can and should play a fundamental role in the reality we live in, and should be considered as an important and mandatory subject in the formation of various audiences.

Sumrio1. INTRODUO ....................................................................................................................................... 12 2. REVISO BIBLIOGRFICA.................................................................................................................. 13 2.1 A EDUCAO AMBIENTAL (EA)............................................................................................................ 13 2.1.1 A EA definio ....................................................................................................................... 13 2.1.2 A Emergncia da EA Reviso Histrica ................................................................................ 14 2.1.3 Objectivos e Princpios da EA .................................................................................................. 16 2.1.4 Destinatrios da EA .................................................................................................................. 18 2.1.5 A Educao Ambiental em Portugal......................................................................................... 19 2.1.6 A EA na Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB) ... 23 2.1.7 EA direccionada para os diferentes pblicos ........................................................................... 24 2.2 TEMAS EM ESTUDO: 2 EXEMPLOS DE EDUCAO AMBIENTAL TEMTICA .................................................. 25 2.2.1 Actividade I - Concurso Art`Ambiente ...................................................................................... 26 2.2.2 Actividade II - Invases biolgicas ........................................................................................... 28 3. MATERIAIS E MTODOS ..................................................................................................................... 37 3.1 REA DE PAISAGEM PROTEGIDA DA SERRA DO AOR (APPSA) ........................................................... 37 3.1.1 Caracterizao da Mata da Margaraa .................................................................................... 38 4. DESCRIO DE ACTIVIDADES E RESULTADOS OBTIDOS............................................................ 41 4.1 CONCURSO ARTAMBIENTE ................................................................................................................. 41 4.1.1 Reunies de trabalho................................................................................................................ 41 4.1.2 Actividades de divulgao ........................................................................................................ 41 4.1.3 Actividades preparadas para o encerramento do concurso (dia 4 de Junho).......................... 50 4.1.4 Recursos................................................................................................................................... 71 4.1.5 Exposio montagem, desmontagem, abertura ao pblico .................................................. 78 4.1.6 Jri ............................................................................................................................................ 79 4.1.7 ltimos preparativos antes do dia do encontro ........................................................................ 80 4.1.8 Dia do Encontro ........................................................................................................................ 81 4.1.9 Avaliao .................................................................................................................................. 87 4.1.10 Discusso ............................................................................................................................... 92 4.1.11 Concluso ............................................................................................................................... 93 4.2 INVASES BIOLGICAS ........................................................................................................................ 94 4.2.1 Campo de trabalho cientfico Mata da Margaraa ................................................................ 95 4.2.2 Elaborao do material para o Kit de divulgao ..................................................................... 99 4.2.3 Discusso ............................................................................................................................... 115 4.2.4 Concluso ............................................................................................................................... 115 5. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................... 117 6. ANEXOS .............................................................................................................................................. 125

Lista de Tabelas, Figuras e GrficosTabelasTabela I Escolas da APPSA participantes no Art`Ambiente ................................................... 42 Tabela II Total de participantes inscritos no Art`Ambiente considerando a AP de provenincia e os escales. Discrimina-se entre os participantes (particip.) alunos, professores (prof.) e auxiliares-de-educao (Aux)............................................................................................. 43 Tabela III Sesses realizadas nosJardins-de-infncia (J.I.) da zona envolvente da APPSA.. 44 Tabela IV Recursos humanos necessrios para o dia de encerramento do concurso Art`Ambiente....................................................................................................................... 72

FigurasFigura 1 Principais etapas de um processo de invaso (adaptado de Marchante, 2001). ..... 31 Figura 2 Potenciais efeitos de uma espcie invasora nos ecossistemas que invade (adaptado de Marchante, 2001). ......................................................................................................... 32 Figura 3 Localizao da APPSA. -- Limite da Mata da Margaraa; -- Limite da APPSA; Pardieiros (fonte: adaptado de Verglio, 2003)................................................................... 38 Figura 4 Sesses de divulgao realizadas nos Jardins-de-infncia (Fonte: Liliana Mendes)45 Figura 5 Jogo elaborado para os 1., 2. e 3. escales includo no caderno de campo ........ 48 Figura 6 Jogo elaborado para os 4. e 5. escales includo no caderno de campo .............. 48 Figura 7 Imagem da contracapa do caderno de campo.......................................................... 49 Figura 8 Esquema explicativo da 1. fase do jogo dos elementos (fonte: Vialles, 2001)...... 53 Figura 9 Esquema explicativo do jogo a Gineta e o Javali (Fonte: Allu, 2000)................... 57 Figura 10 Esquema explicativo da forma de proceder no jogo o tesouro da floresta (Fonte: Allu, 2000) ........................................................................................................................ 58 Figura 11 Esquema do recinto necessrio para o desenvolvimento do jogo As plantas, os incndios e a eroso ......................................................................................................... 60 Figura 12 Placas de sinalizao no recinto (Fonte: Eduardo Miguel Cavaleiro - Reserva Natural do Paul de Arzila -RNPA) ...................................................................................... 74 Figura 13 Actividades de recepo dos participantes no dia do encerramento do concurso Art`Ambiente (fotos de: Eduardo Miguel Cavaleiro - RNPA).............................................. 82 Figura 14 Alguns momentos da visita exposio dos trabalhos realizados no mbito do concurso Art`Ambiente (fotos de: Telmo Afonso - PNM) ................................................... 82

Figura 15 Actividade de entrega das mochilas aos participantes (fotos de: Eduardo Miguel Cavaleiro - RNPA) .............................................................................................................. 83 Figura 16 a) Stand de anilhagem cientfica; b) Salto de paraquedistas (fotos de: Telmo Afonso - PNM) ................................................................................................................................ 83 Figura 17 Actividades e ateliers realizados no dia do encontro (fotos de: Eduardo Miguel Cavaleiro - RNPA e Telmo Afonso - PNM)......................................................................... 84 Figura 18 Almoo em conjunto entre os participantes (fotos de: Telmo Afonso - PNM)......... 84 Figura 19 Animao de palco (fotos de: Telmo Afonso - PNM e Eduardo Miguel CavaleiroRNPA) ................................................................................................................................ 85 Figura 20 Entrega de prmios do concurso Art`Ambiente aos diversos escales participantes (fotos de: Telmo Afonso - PNM) ......................................................................................... 85 Figura 21 Imagens do controlo das manchas de Acacia dealbata (mimosa) no CTC - Mata da Margaraa (fonte: arquivo CTC - Mata da Margaraa). ..................................................... 96 Figura 22 Imagens do controlo de Acacia dealbata (mimosa) isolada no CTC - Mata da Margaraa (fonte: arquivo CTC - Mata da Margaraa). ..................................................... 96 Figura 23 Actividades de corte de Acacia dealbata na APPSA no mbito CTC Margaraa (fonte: arquivo CTC - Mata da Margaraa)......................................................................... 98 Figura 24 Personificao dos impactos que as espcies invasoras podem causar (desenhos de: Joo Ramos baseados em Klein, 2002)..................................................................... 101 Figura 25 Imagem do poster Invases Biolgicas: Uma crescente ameaa conservao dos nossos sistemas. ...................................................................................................... 102 Figura 26 Imagem do poster Invases biolgicas por plantas em reas de montanha de Portugal. .......................................................................................................................... 104 Figura 27 Marcador de carcter geral sobre a temtica das Invases Biolgicas................ 106 Figura 28 Marcadores das espcies invasoras, nomeadamente mimosa (Acacia dealbata); espanta-lobos (Ailanthus altissima); bons-dias (Ipomoea acuminata) e gambsia (Gambusia holbrooki) ....................................................................................................... 107 Figura 29 Logtipo para a campanha de sensibilizao sobre espcies invasoras ............. 108 Figura 30 Tabuleiro do jogo Viagem ao Mundo das Invasoras .......................................... 110 Figura 31 Imagens do guia do jogo Viagem ao Mundo das Invasoras............................... 111 Figura 32 Imagens da frente (a) e verso (b) da caixa para incluir o material elaborado sobre a temtica das espcies invasoras...................................................................................... 112 Figura 33 Imagens das laterais da caixa para incluir o material elaborado sobre a temtica das espcies invasoras. ................................................................................................... 113

GrficosGrfico 1 Anlise do parmetro apreciao global para o 1. escalo ................................. 88 Grfico 2 Anlise do parmetro dificuldades encontradas para o 1. escalo...................... 89 Grfico 3 Anlise do parmetro sugestes para o 1. escalo ............................................. 89 Grfico 4 Anlise do parmetro apreciao global para o 2. escalo ................................. 90 Grfico 5 Anlise do parmetro dificuldades encontradas para o 2. escalo...................... 91

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AbreviaturasAP rea Protegida ADA Associaes de Defesa do Ambiente APE Associao Portuguesa de Ecologistas APPSA rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor ASPEA Associao Portuguesa de Educao Ambiental CEE Comunidade Econmica Europeia CMAD Comisso Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento CTC Campo de Trabalho Cientfico DID Diviso de Informao e Divulgao EA Educao Ambiental ENCNB Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e Biodiversidade ESAC Escola Superior Agrria de Coimbra GAF Grupo Aprender em Festa GEOTA Grupo de Estudos do Ordenamento do Territrio e Ambiente IA Instituto do Ambiente ICN Instituto da Conservao da Natureza IEEP Programa Internacional de Educao Ambiental INAMB Instituto Nacional do Ambiente IPAMB Instituto de Promoo Ambiental JI Jardins-de-infncia LPN Liga para a Proteco da Natureza MAOT Ministrio do Ambiente e Ordenamento do Territrio ONG Organizao No Governamental de Ambiente PNA Parque Natural do Alvo PNDI Parque Natural do Douro Internacional PNM Parque Natural de Montesinho PNPA Plano Nacional de Poltica de Ambiente PNSE Parque Natural da Serra da Estrela PNSSM Parque Natural da Serra de S. Mamede POA Programa Operacional do Ambiente RNPA Reserva Natural do Paul de Arzila

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RNSM Reserva Natural da Serra da Malcata SNPRCN Servio Nacional de Parques, Reservas e Conservao da Natureza SPECO Sociedade Portuguesa de Ecologia UICN Unio Internacional para a Conservao da Natureza UNEP Programa de Ambiente das Naes Unidas WWF World Wide Fund (Fundo Mundial para a Vida Selvagem) ZPE Zona de Proteco Especial

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1. IntroduoEm consequncia de fenmenos ainda no totalmente desvendados, a Terra formou-se h cerca de 4600 milhes de anos. H cerca de 3500 anos surgiram as primeiras formas de vida, que evoluram para formas mais complexas, surgindo o Homem h 10 milhes de anos. Ao longo do tempo o Homem transformou-se num poderoso agente de destabilizao dos equilbrios ecolgicos do Planeta Terra. Neste sentido, devido s graves questes ambientais com que actualmente nos confrontamos tanto a nvel local, regional como global, a EA tem vindo a ser progressivamente utilizada e valorizada. O presente trabalho, que corresponde ao relatrio de estgio da licenciatura em Engenharia do Ambiente da Escola Superior Agrria de Coimbra (ESAC), foi desenvolvido na APPSA Mata da Margaraa, tendo consistido no desenvolvimento de um conjunto de actividades de EA ligadas s aces de Conservao da Natureza que decorreram na AP. O estgio incluiu duas actividades de EA enquadradas em temticas distintas: uma correspondente participao na organizao do concurso escolar ArtAmbiente 2003 / 2004 (5. edio), e outra inserida no Programa Operacional do Ambiente (POA) que se iniciou no presente ano na APPSA e que se concretizou na participao na preparao e acompanhamento de um CTC sobre espcies invasoras na AP e na idealizao/concepo de material didctico sobre invasoras a incluir num Kit de formao para EA. Para compreenso dos temas em estudo feita inicialmente uma abordagem de carcter terico, onde se apresenta a histria da EA; os objectivos, princpios e destinatrios da EA; o modo como trabalhar com o pblico e ainda uma descrio dos temas em estudo, nomeadamente o Concurso escolar Art`Ambiente e o problema das Invases biolgicas. Seguidamente, procede-se caracterizao do local onde decorreram as actividades de EA e posteriormente feita uma descrio das actividades realizadas para cada tema de estudo, apresentando-se tambm os resultados obtidos e respectivas concluses.

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2. Reviso Bibliogrfica

2.1 A Educao Ambiental (EA)2.1.1 A EA definioAo analisar a expresso Educao Ambiental, verifica-se que constituda por duas palavras: Ambiente e Educao. Define-se Meio Ambiente como O conjunto dos sistemas fsicos, ecolgicos, econmicos e socioculturais com efeito directo ou indirecto sobre os organismos e a qualidade da vida do Homem (Lei de bases do ambiente) e Educao como O conjunto das aces e influncias exercidas voluntariamente por um ser humano num outro, e orientada para um fim que consiste na formao, no formando, de toda a espcie de disposio que corresponde aos fins a que destinado quando atinge a maturidade (Alves e Caeiro, 1998). Nas sociedades antigas, e ainda hoje em grandes sectores da populao rural, a preparao do Homem para a vida faz-se atravs de experincias em ligao estreita com a Natureza e o meio ambiente, portanto de uma certa forma, a educao tem estado sempre ligada ao meio ambiente (Fernandes, 1983). Segundo o relatrio final da Conferncia de Tbilisi A EA constitui um processo de reconhecimento dos valores e de clarificao dos conceitos graas aos quais a pessoa humana adquire as capacidades e os comportamentos que lhe permitem abarcar e apreciar as relaes de interdependncia entre o Homem, a sua cultura e o seu meio biofsico (Fernandes, 1983). Esta definio sublinha no s a importncia das faculdades cognitivas (aquisio de noes e conhecimentos), como tambm das faculdades afectivas (adopo de valores e comportamentos). Actualmente, a EA aceite, cada vez mais, como sinnimo de educao para o desenvolvimento sustentvel ou de educao para a sustentabilidade. Assim, o conceito de Educao Ambiental assume um carcter realista, o qual assenta na existncia de um equilbrio entre o meio natural e o homem, com vista construo de um futuro pensado e vivido numa lgica de desenvolvimento e progresso.

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2.1.2 A Emergncia da EA Reviso HistricaA Nossa gerao foi testemunha dum crescimento econmico e dum progresso tcnico sem precedentes, os quais, distribuindo benefcios por numerosos pases, tiveram, em contrapartida, repercusses nefastas sobre a sociedade e o ambiente. A desigualdade aumenta entre os pobres e os ricos, entre as naes e mesmo dentro de cada nao, e manifesto que, em certos pontos, o ambiente fsico se deteriora cada vez mais escala mundial (INA, 1990). Esta tomada de conscincia, da fragilidade da relao seres vivos/natureza e da desestabilizao causada pelo Homem surgiu na dcada de 60, levando ao longo dos anos edio de livros alarmantes relativamente ao estado global do ambiente dos quais se destacam: Primavera Silenciosa de Raquel Carson; Antes que a Natureza morra de Jean Dorst; Os Limites do Crescimento do Clube de Roma, o Livro Vermelho das Espcies em Extino etc. (Alves e Caeiro, 1998). Apesar desta tomada de conscincia surgir a partir da dcada de 60, j na dcada de 40 comearam a surgir associaes de mbito internacional para a conservao da Natureza, nomeadamente a UICN (Unio Internacional para a Conservao da Natureza) em 1948 e a WWF (Fundo Mundial para a Vida Selvagem) em 1962 (Alves e Caeiro, 1998). Por outro lado, e j mais recentemente, registaram-se uma srie de desastres ambientais graves, nomeadamente o acidente de Bophal na ndia (1984), o derrame do petroleiro Exxon Valdez na costa do Alasca (1989) e o acidente nuclear de Tchernobyl (1990), cujos chocantes aspectos negativos tiveram um grande impacte na opinio pblica mundial que recomeou a adquirir uma maior sensibilidade para as questes ambientais. O agravamento progressivo dos problemas ambientais, transformou-se num assunto de preocupao essencial para a comunidade internacional (Alves e Caeiro, 1998). Voltando aos primrdios da EA, na dcada de 70, e a fim de procurar responder a muitas questes relacionadas com o Ambiente, realizou-se em Estocolmo, no ano de 1972, a Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente Humano, da qual resultou a Declarao sobre o Ambiente Humano. Esta declarao reflectiu a preocupao da satisfao das necessidades das geraes do presente e do futuro, formulando no Princpio 19, aquilo que viria a constituir a base estratgica de interveno institucional no domnio do ambiente - a Educao Ambiental. Desta conferncia resultou ainda a

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deciso de criar o Programa de Ambiente das Naes Unidas (UNEP) (Alves e Caeiro, 1998). Trs anos mais tarde (1975), num Encontro Internacional de Educao Ambiental em Belgrado, e em resposta s recomendaes da Conferncia de Estocolmo, foi elaborada a carta de Belgrado e lanado o Programa Internacional de Educao Ambiental (IEEP) da UNESCO em colaborao com o UNEP (Alves e Caeiro, 1998). Em 1977, realizou-se em Tbilisi a Conferncia Intergovernamental de Educao Ambiental, onde foram definidos os objectivos e as estratgias da EA pertinentes a nvel nacional e internacional (Teixeira, 2003). Chegando dcada de 80, mais precisamente ao ano de 1984, foi constituda a Comisso Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento (CMAD) na qual integraram 21 pases. Esta comisso publicou em 1987 um relatrio denominado O nosso Futuro Comum tambm conhecido por Relatrio Bruntland, no qual Gro Harlem Bruntland (1. Ministra da Noruega) defende que os problemas do ambiente s sero resolvidos com uma alterao de comportamentos, dependente de uma mudana efectiva de atitudes atingvel, apenas, atravs da educao ambiental (Alves e Caeiro, 1998). Neste relatrio ainda introduzido o conceito de Desenvolvimento Sustentvel: Desenvolvimento que satisfaa as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraes satisfazerem as suas prprias necessidades (Portal do Governo, 2004). Ainda no ano de 1987 teve lugar em Moscovo a Conferncia Intergovernamental de EA, onde foram revistos os progressos desde Tbilisi e foram estabelecidas as prioridades da EA para os anos 90. No ano seguinte a Comunidade Europeia reconheceu a importncia da EA, sendo adoptada a resoluo 88/C-177/03 em que se retomam os objectivos e princpios fundamentais da EA, delineando-se tambm as aces a realizar pelos estados membros (Alves e Caeiro, 1998). J na dcada de 90, mais exactamente no ano de 1992, teve lugar no Rio de Janeiro a Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento ou Cimeira do Rio, da qual resultaram 2 documentos muito importantes, a Declarao do Rio e a Agenda 21 (Teixeira, 2003). Mais recentemente, e passados 10 anos aps a Cimeira do Rio, realizou-se em Joanesburgo a Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel que tinha como objectivo adoptar medidas para alcanar resultados com base nos princpios

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consagrados na Agenda 21, tendo sido discutidos sectores da rea do ambiente, economia, novas tecnologias e globalizao (Plataforma das Organizaes No Governamentais para o Desenvolvimento Sustentvel, 2004).

2.1.3 Objectivos e Princpios da EADa Carta de Belgrado (1975) considerada por muitos como um dos marcos da Educao para o Ambiente, salientam-se as finalidades e objectivos da EA, que de certo modo se poder assemelhar a uma definio (Nova, 1994). Assim, a EA tem como finalidades formar uma populao mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas a ele ligados, uma populao que tenha os conhecimentos, as competncias, o estado de esprito, as motivaes e o sentido de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente na resoluo das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo (Fernandes, 1983). Os objectivos da EA so os seguintes (INA, 1990; NOVA, 1994): 1) A Tomada de Conscincia: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a tomarem conscincia do ambiente global e dos seus problemas anexos, sensibilizando-os para estes assuntos. 2) Os conhecimentos: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a compreenderem o ambiente global, os problemas conexos, a importncia da humanidade, a responsabilidade e o papel crtico que lhes incumbem. 3) A atitude: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a adquirirem os sistemas de valores que incluam um grande interesse pelo ambiente e uma forte motivao para participarem activamente na proteco e melhoria da qualidade do ambiente. 4) As competncias: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a adquirirem as competncias necessrias soluo dos problemas do ambiente. 5) Capacidade de avaliao: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a avaliarem as medidas e os programas de EA, em funo de factores ecolgicos, polticos, econmicos, sociais, estticos e educativos. 6) A participao: auxiliar os indivduos e os grupos sociais a desenvolverem um sentido de responsabilidade e um sentido de urgncia que garantam a tomada de medidas adequadas resoluo dos problemas do ambiente.

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Os objectivos da EA visam essencialmente a obteno de mudanas de atitudes e comportamentos. A EA assim uma educao evolutiva e progressiva para uma evoluo e progresso da criatura humana e do seu Mundo (Fernandes, 1983). Por sua vez, a Declarao de Tbilisi, recomenda a adopo de um determinado nmero de critrios que no deixam de ser um prolongamento e ajustamento dos princpios da Carta de Belgrado. Os referidos critrios possibilitam orientar os esforos no sentido do desenvolvimento da educao ambiental a vrios nveis (regional, nacional e internacional) instituindo-se como um direito de cada cidado. Assim a EA deve (INA, 1990): 1) Considerar o ambiente na sua globalidade: natural e artificial (com interveno do Homem), tecnolgico e social (econmico, politico, histrico-cultural, moral e esttico); 2) Constituir um processo contnuo e permanente, iniciado ao nvel do ensino prescolar e prosseguindo atravs de todas as etapas de educao formal ou no formal; 3) Adoptar uma abordagem interdisciplinar, fazendo apelo aos recursos de cada disciplina de forma a colocar os problemas do ambiente numa perspectiva global e equilibrada; 4) Examinar as principais questes ambientais numa perspectiva local, regional, nacional e internacional, para que os educandos conheam as condies ambientais de outras regies geogrficas; 5) Concentrar-se nas situaes ambientais actuais e futuras, tendo em conta, tambm, a perspectiva histrica; 6) Insistir no valor e na necessidade de cooperao local, nacional e internacional para prevenir os problemas ambientais; 7) Considerar de modo explcito as questes de desenvolvimento e de crescimento, do ponto de vista do ambiente; 8) Auxiliar os alunos a aprender a organizar as suas prprias experincias de aprendizagem e dar-lhes oportunidade de tomarem decises e aceitarem as suas consequncias. 9) Relacionar os processos de sensibilizao, aquisio de conhecimentos, competncia para resolver problemas e clarificao de valores relativos ao ambiente, para todos os nveis etrios, dando especial ateno sensibilizao dos mais jovens em relao ao ambiente da sua prpria comunidade;

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10) Auxiliar os alunos a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais; 11) Sublinhar a complexidade dos problemas ambientais e a necessidade de desenvolver o sentido crtico e as competncias necessrias para resolver os problemas; 12) Utilizar variados meios de aprendizagem e diversos mtodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio, realando o papel das actividades prticas e das experincias pessoais.

2.1.4 Destinatrios da EASegundo a Carta de Belgrado, e baseadas no tipo de educao, podem diferenciar-se duas categorias de destinatrios essenciais (INA, 1990): 1) Sistema Escolar, que engloba os alunos de todos os nveis de ensino, os professores e os especialistas de ambiente em cursos de formao e reciclagem; 2) Sistema extra-escolar, que acolhe os jovens e adultos, de todas as camadas de populao, grupos sociais, famlias, trabalhadores laborais, quadros superiores e todos os que detenham o poder de deciso em domnios ligados ou no ao ambiente. Por outro lado, a Declarao de Tbilisi, faz um agrupamento dos destinatrios um pouco diferente, com base em grupos socioprofissionais (INA, 1990): 1) O pblico em geral, no especializado, composto por jovens e adultos cujos comportamentos quotidianos tm uma influncia decisiva na conservao e melhoria do ambiente; 2) Os grupos sociais especficos cujas actividades profissionais incidem sobre a qualidade do meio; 3) Os cientistas e tcnicos cujas investigaes e prticas especializadas constituem a base dos conhecimentos sobre os quais se deve fundamentar a educao, a formao e a gesto eficaz do ambiente.

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Qualquer que seja a abordagem, a EA deve dirigir-se a pessoas de todas as idades, de todos os nveis de educao, formal ou no-formal, e de todos os grupos socioprofissionais, isto , destina-se ao grande pblico. Entende-se por Educao Formal, o processo educativo institucionalizado que ocorre na rede de Ensino, com estrutura curricular, programas, contedos, mtodos pedaggicos, formao de professores, etc. (INA, 1989). Neste tipo de educao dada nfase interdisciplinaridade dos vrios componentes do projecto educativo, a participao do aluno e sua determinao para a aco e soluo dos problemas ambientais, bem como a integrao com a comunidade. Por Educao No-formal entende-se o processo educativo, que pode ser desvinculado ou no do poder oficial, realizando-se fora da escola, sendo caracterizado pela flexibilidade de mtodos e contedos e tambm pela existncia de um pblico geralmente adulto. Assim, a Educao No-Formal, designada tambm por educao de adultos ou educao permanente um processo educativo, institucionalizado ou de caractersticas populares, que se preocupa com a relao e compromisso do ser humano com o Ambiente imediato e global em que vive (INA, 1989).

2.1.5 A Educao Ambiental em PortugalA fundao da Liga para a Proteco da Natureza (LPN) em 1948, a mais antiga Organizao No Governamental de Ambiente (ONGA) Portuguesa e Ibrica, um marco decisivo no panorama nacional, no que diz respeito s questes do Ambiente (Teixeira, 2003). No entanto, neste contexto, as primeiras referncias explcitas e coerentes s se encontram no III Plano de Fomento que decorreu de 1968 a 1973. At esta data, as preocupaes da Administrao e da sociedade com o ambiente eram assumidas no mbito da lgica e prtica conservacionistas, sendo a criao de parques e reservas naturais considerada como medida fundamental no mbito de uma poltica de proteco da natureza (Instituto do Ambiente, 2004) Em 1972, Portugal participou na Conferncia de Estocolmo. Nos trabalhos preparatrios (1971), houve a necessidade de criar um interlocutor na rea do ambiente. Assim nasceu a Comisso Nacional do Ambiente (CNA) que desenvolveu um trabalho pioneiro at 1983 (Guia de Recursos em Educao Ambiental, 2000). A CNA desenvolveu a sua aco em diversas frentes, as quais tinham como objectivos a

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introduo nos currculos escolares de noes relacionadas com a defesa do ambiente e fomentar a difuso de informaes de carcter tcnico e cientfico nesta rea. Das vrias aces que esta comisso realizou, destacam-se a criao de um ncleo de documentao; o apoio bibliogrfico a alunos; o programa televisivo H s uma Terra e a promoo da comemorao do Dia Mundial do Ambiente, a 5 de Junho (Guia de Recursos em Educao Ambiental, 2000). Apesar das questes e problemas do ambiente terem ganho visibilidade meditica e adquirido peso institucional, aps Estocolmo, apenas a partir de 25 de Abril de 1974 lhes comeou a ser atribuda a devida importncia. Em 1975, foi criada a Secretaria de Estado do Ambiente, integrada na estrutura do Ministrio do Equipamento Social e Ambiente (IA, 2004). Nesse mesmo ano nasceu o Servio Nacional de Participao das Populaes (SNPP) inserido na CNA, ao qual competia "assegurar a concretizao de campanhas de divulgao, participao e formao da populao em geral e da juventude em particular em ordem conservao e concretizao de uma poltica regional e local de ambiente" (Guia de Recursos em Educao Ambiental, 2000). No ano seguinte (1976), no artigo 66 da Constituio da Repblica Portuguesa foram estabelecidos os "direitos do ambiente" e ainda no mesmo ano foi criada a Rede Nacional de reas Protegidas (Teixeira, 2003). No ano de 1977, Portugal participou na Conferncia de Tbilisi, representado pelo ento Secretrio de Estado do Ambiente M. Gomes Guerreiro, que apresentou um relatrio sobre o que estava a ser feito no nosso pas em matria de EA. Em 1978, o Conselho da Europa, atravs da CNA, realizou em Portugal uma Conferncia Internacional sob o tema Educao em Matria de Ambiente na Regio da Europa Meridional, envolvendo especialistas europeus e tcnicos portugueses (Teixeira, 2003). Com o aparecimento do Grupo de Estudos do Ordenamento do Territrio e Ambiente (GEOTA) em 1981, formalmente institucionalizado apenas em 1986, houve o aparecimento de outras Associaes de Defesa do Ambiente (ADA), das quais se destacam a QUERCUS (Associao Nacional de Conservao da Natureza) e a Associao Portuguesa de Ecologistas (APE) (Teixeira, 2003). Em 1983, a CNA extinta e a equipa destacada para o trabalho de extenso educativa passa para o Gabinete de Estudos e Planeamento, sendo depois integrada

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no Servio Nacional de Parques, Reservas e Conservao da Natureza (SNPRCN) (IA, 2004). Em 1986, a entrada de Portugal na Comunidade Econmica Europeia (CEE) constituiu outro marco decisivo para tornar mais visvel e actuante a poltica de ambiente no nosso pas. O processo de institucionalizao da "Poltica Pblica de Ambiente" foi acelerado conduzindo, entre outros aspectos, publicao, em 1987, de dois diplomas legais fundamentais a Lei de Bases do Ambiente e a Lei das Associaes de Defesa do Ambiente - e ao incio do processo de transio e integrao de directivas comunitrias nas mais diversas reas (IA, 2004). Com a publicao da Lei de Bases do Ambiente, foi criado o Instituto Nacional do Ambiente (INAMB) destinado promoo de aces no domnio da qualidade do ambiente, com especial nfase na formao e informao dos cidados e apoio s associaes de defesa do ambiente, integrando a representao da opinio pblica nos seus rgos de deciso (Teixeira, 2003). Ainda no ano de 1986, a publicao da Lei de Bases do Sistema Educativo, vem incluir a Educao Ambiental nos novos objectivos de formao dos alunos, definio abrangente a todos os nveis de ensino (IA, 2004). Em 1990, nasce a Associao Portuguesa de Educao Ambiental (ASPEA) e a partir deste ano, institucionaliza-se a organizao de Encontros Nacionais de EA, numa parceria entre o Parque Biolgico de Gaia e o INAMB (Teixeira, 2003). No ano de 1992, teve lugar em Tria a VI Conferncia Internacional sobre a EA, onde participaram delegados de 18 pases, entre alunos e professores dos vrios nveis de ensino (Teixeira, 2003). Em 1993, com a aprovao da nova Lei Orgnica do Ministrio do Ambiente e Recursos Naturais o INAMB deu lugar ao Instituto de Promoo Ambiental (IPAMB), que herdou daquele competncias e atribuies muitos similares (Guia de Recursos em Educao Ambiental, 2000). No ms de Fevereiro de 1995 foi concluda a discusso pblica do Plano Nacional de Poltica de Ambiente (PNPA) que consignou a EA como tarefa primordial entre as suas orientaes estratgicas (Teixeira, 2003). Em 1996, os contactos entre as tutelas da Educao e do Ambiente foram formalizados em protocolo, tendo em vista a promoo e o desenvolvimento da Educao Ambiental nas escolas dos ensinos Bsico e Secundrio (Teixeira, 2003). Ainda nesse ano foi implantada a Rede Nacional de Ecotecas, que foi pensada como

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uma malha de equipamentos com a capacidade de apoiar as escolas da regio onde se inserem no desenvolvimento de actividades de EA e ainda de potenciar uma crescente participao dos cidados nas questes ambientais. As ecotecas so constitudas a partir de parcerias entre o IPAMB e outras entidades, como Cmaras Municipais, reas Protegidas (ICN) e, em alguns casos ONGA, tendo sido inaugurada a primeira em Porto de Ms em Outubro de 1997 (Guia de Recursos em Educao Ambiental, 2000). A Conferncia Europeia de Educao Ambiental decorreu em Portugal no ano de 1998, organizada pela ASPEA, sobre o tema Avaliao Indicadores de progresso na EA, tendo sido debatida a importncia da avaliao dos projectos de EA como instrumento fundamental na promoo da qualidade (Teixeira, 2003). O primeiro Congresso Mundial de Educao Ambiental, teve lugar em Espinho em Maio de 2003, reunindo 300 participantes de 40 pases, onde foram debatidos aspectos chave da EA a nvel Mundial. Merece ainda destaque o Programa Operacional do Ambiente (POA) que apresenta vrios objectivos ambientais, estando includa a promoo da EA. Este visa assim requalificar e valorizar o patrimnio natural e o ambiente urbano, as infraestruturas de informao, sensibilizao e gesto ambiental, de 2000 a 2006 (Portal do Governo, 2004) Pelo decreto-lei n. 8/2002 de 9 de Janeiro, foi criado o Instituto do Ambiente (IA) que resultou da fuso da Direco Geral do Ambiente (DGA) e do IPAMB. Neste sentido o IA passou a ser o organismo do Ministrio do Ambiente e Ordenamento do Territrio (MAOT) encarregue do estudo, concepo, coordenao, planeamento e apoio tcnico e normativo na rea da gesto do ambiente e da promoo do desenvolvimento sustentvel, da prossecuo das polticas que visem a participao e informao dos cidados e das organizaes no governamentais de defesa dos valores e qualidade ambientais (IA, 2004). Pela anlise do percurso da EA em Portugal, verifica-se que esta comeou a ter peso e visibilidade institucionais atravs dos esforos desenvolvidos pela Comisso Nacional do Ambiente renovados posteriormente pelo quadro da Lei de Bases do Ambiente e pelas competncias legais assumidas pelo ento INAMB, passando para o IPAMB e actualmente IA.

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2.1.6 A EA na Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB)A ENCNB, um documento orientador e fundamental para a prossecuo de uma poltica integrada num domnio cada vez mais importante da poltica de ambiente e fundamental para a prpria estratgia de desenvolvimento sustentvel. Esta estratgia nacional apresenta vrios princpios, estratgias e directivas de aco onde est incorporada a EA (MAOT e ICN, 2002). A ENCNB assenta em 10 princpios fundamentais dos quais se destacam os que apresentam particular interesse no mbito da EA: b) Princpio da utilizao sustentvel dos recursos biolgicos; f) Princpio da responsabilizao; i) Princpio da participao. Merece ainda especial destaque a opo estratgica n 8 Promover a educao e a formao em matria de Conservao da Natureza e da Biodiversidade, a qual apresenta 7 directivas de aco: a) Promover e apoiar projectos de EA em matria da conservao da natureza e da biodiversidade, ao nvel Formal e No Formal; b) Aumentar a articulao entre o organismo do Ministrio do Ambiente e do Ordenamento do Territrio responsvel pela EA e os servios competentes do Ministrio da Educao; c) Consolidar na reorganizao curricular em curso e nas actividades pedaggicas das escolas a valorizao dos temas da conservao da natureza e biodiversidade; d) Proporcionar meios e instrumentos de apoio para as aces de educao e formao; e) Promover ou apoiar aces de formao profissional contnua dos variados agentes com interveno na rea da conservao da natureza e da biodiversidade, englobando os funcionrios e tcnicos das autarquias locais e as autoridades policiais; f) Sensibilizar as universidades e o ensino superior no universitrio para a integrao de temas relacionados com a conservao da natureza e biodiversidade nos programas curriculares;

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g) Envolver a comunidade cientfica, o sector privado e as organizaes nogovernamentais no desenvolvimento de aces de educao e formao em material de conservao da natureza e biodiversidade (MAOT e ICN, 2002). A implementao das directivas de aco mencionadas anteriormente, torna-se fundamental e poder ser um marco importante na evoluo da EA em Portugal. Esta estratgia aplica-se s AP que esto sob a tutela do Instituto da Conservao da Natureza (ICN). Ao estimular-se a organizao de actividades/aces de EA nas AP e sendo estas locais com determinadas caractersticas que importa conservar, deve-se ento ponderar muito bem o modo de realizar essas aces (capacidade de carga; perodos do ano recomendados, ).

2.1.7 EA direccionada para os diferentes pblicosO tipo de aco de EA junto dos grupos depende de variadssimos aspectos entre os quais se destacam a faixa etria, o nvel de formao, a profisso e o nvel socio-econmico (Oliveira, 1995). A EA pode apresentar um carcter passivo ou activo. Se assume um carcter passivo, esta forma de realizar a EA utiliza quase sempre meios audiovisuais; os livros, os folhetos, as palestras, as exposies, as projeces de filmes e diapositivos, entre outros, so algumas das formas a partir das quais o participante recebe a informao passivamente. Por outro lado, nas aces de carcter activo, o participante convidado a viver uma experincia, agindo activamente durante todo o processo (Oliveira, 1995). As vertentes cognitivas, sensoriais e afectivas do participante podem ser atingidas consoante o tipo de actividades que se desenvolvem. A vertente cognitiva aquela que leva ao veicular de conhecimentos partindo do monitor e atingindo o participante; j a vertente sensorial, privilegia o aprender fazendo, em que se promovem actividades sentidas/vividas pelos participantes. A vertente afectiva aquela em que o participante levado a envolver-se na realidade que o rodeia (Alves e Caeiro, 1998). Antes de se iniciar uma actividade, fundamental considerar a fase de planificao pois assim minimizam-se os riscos do imprevisto e do improviso. Dentro dos factores que se devem ter em linha de conta no planeamento da actividade a fazer destacam-se: 1) o tempo livre das pessoas que constituem o grupo de trabalho, 2) a

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temtica, o grupo-alvo, o material de estudo e a proximidade do local onde se iro realizar os trabalhos, e 3) o estado geral das condies meteorolgicas de acordo com o perodo do ano (Oliveira, 1995). A concretizao da aco processa-se em vrias fases. A primeira destina-se a conhecer os participantes, a delinear o projecto, a solicitar autorizaes necessrias (incluindo a dos encarregados de educao, se necessrio); a tomar conhecimento com os arredores da escola (ou outro local) e com o meio social e paisagstico onde se insere, e descobrir as entidades que possam contribuir para o sucesso da aco. Numa segunda fase d-se incio aos trabalhos e, por fim, o grupo ocupa-se da recolha e tratamento de dados, das concluses a tirar e da apresentao de um relatrio escrito ou apresentao de um trabalho final (Oliveira, 1995). Quando se concretiza uma actividade/aco, esta deve ser permanentemente avaliada. Esta avaliao deve ser contnua, analtica e deve fazer-se sempre tendo em conta os objectivos (Fernandes, 1983). Assim, ela fornece o feed back, ou seja d um retorno sobre o que se fez ou assimilou, podendo mesmo evitar a repetio de um disfuncionamento. Tendo em considerao as dificuldades, possvel fazer de outro modo numa prxima vez (Giorgan e Souchon,1997).

2.2 Temas em estudo: 2 exemplos de educao ambiental temticaO concurso escolar Art`Ambiente tem vindo a ser desenvolvido pela rea Protegida (AP) desde 1999, sendo direccionado para o pblico escolar, abrangendo desde o ensino pr-primrio at ao secundrio. O tema das espcies invasoras uma iniciativa nova na AP, tendo o CTC sido realizado pela primeira vez no presente ano com o objectivo de sensibilizar e formar os participantes para o problema das espcies invasoras. O desenvolvimento de um Kit de divulgao sobre o tema pretende ser uma primeira abordagem para sensibilizao de um problema ainda muito desconhecido do pblico.

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2.2.1 Actividade I - Concurso Art`AmbienteO concurso ArtAmbiente surgiu da vontade de um conjunto de AP de montanha desenvolverem em parceria trabalhos de Educao Ambiental (EA), nomeadamente, o Parque Natural de Montesinho (PNM), o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), o Parque Natural do Alvo (PNA), o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), a rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor (APPSA), a Reserva Natural da Serra da Malcata (RNSM) e o Parque Natural da Serra de S. Mamede (PNSSM) (ICN/APPSA, 2000 b) Este concurso lanado sempre no incio do ano lectivo e termina com as comemoraes do Dia Mundial do Ambiente, a 5 de Junho. Como principal objectivo, pretende fomentar a EA nas escolas da zona de influncia das AP que participam na sua organizao, destinando-se a todos os nveis de ensino, desde o pr-primrio ao secundrio. Os nveis de ensino so divididos por escalo: 1. Escalo Ensino Prprimrio; 2. Escalo 1. Ciclo Ensino Bsico; 3. Escalo 2. Ciclo Ensino Bsico; 4. Escalo 3. Ciclo Ensino Bsico; 5. Escalo Ensino Secundrio. O Art`Ambiente visa assim, um aumento dos conhecimentos e competncias e a melhoria dos comportamentos ambientais dos alunos e restante comunidade educativa, bem como da populao em geral. Em cada ano lectivo, as escolas desenvolvem trabalhos sobre um tema anual especfico, envolvendo tambm a comunidade, de modo a melhorar o ambiente e a fomentar iniciativas no mbito da conservao da natureza. As actividades realizadas devem incluir a elaborao, pelos alunos, de trabalhos temticos que so depois submetidos a concurso (ICN/APPSA, 2000 b; ICN/APPSA, 2001) A primeira edio (1999/2000) realizou-se na RNSM sendo subordinada ao tema A problemtica Ambiental construir com materiais naturais. A segunda (2000/2001) e terceira (2001/2002) edies foram subordinadas ao mesmo tema Conservao da Natureza, Fauna, Flora, gua e Relao Homem-meio que decorreram respectivamente no PNSE e a no PNDI. A fauna da rea Protegida foi o tema da quarta edio (2002/2003) que teve lugar no PNA (ICN/APPSA, 2000 b; ICN/APPSA, 2001; ICN/APPSA, 2002; ICN/PNA, 2003). No presente ano lectivo (2003/2004), o Art`Ambiente entrou na quinta edio, tendo lugar na rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor e terminou no dia 4 de Junho (por ser o dia til anterior ao dia do Ambiente) sendo o tema escolhido "Floresta escondida: equilbrio de vida". Foi escolhido este tema devido aos

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incndios ocorridos no Vero do ano anterior, pois algumas AP foram afectadas e muitas das escolas iriam com certeza abordar esse assunto (ICN, 2004). Ao longo do ano lectivo a APPSA desenvolveu este projecto com as escolas na sua zona envolvente, ocorrendo as seguintes fases: 1) divulgao do concurso e inscries; 2) realizao de sesses nas escolas; 3) elaborao dos trabalhos pelos participantes; 4) o dia do encerramento a 4 de Junho. Este concurso apresenta algumas regras de participao das quais se destacam: o facto de na concepo dos trabalhos se apelar criatividade dos participantes devendo utilizar-se materiais naturais e materiais reutilizados e elaborao do Relatrio de Acompanhamento de Actividades pelo professor, ferramenta fundamental na avaliao (Anexo I), que tem de ser entregue juntamente com o trabalho. Cabe depois s AP proceder a uma pr seleco do trabalhos elaborados pelos participantes de acordo com o cumprimento integral das normas de participao (ICN, 2004). O jri que avalia os trabalhos composto por seis elementos, dois do ICN (um director e um tcnico das AP envolvidas no Art Ambiente) e quatro de outras instituies (um representante do Ministrio da Educao; um representante do Instituto do Ambiente; um artista plstico, preferencialmente oriundo da regio das AP e um elemento da Autarquia da regio), sendo o Presidente de Jri um tcnico do ICN. Os elementos do ICN so designados mediante sorteio e os restantes atravs de convite respectiva instituio (ICN, 2004). A seleco de trabalhos baseada em quatro critrios: (1) relatrio de acompanhamento; (2) criatividade e originalidade; (3) adequao do trabalho ao tema, e (4) conjugao de materiais utilizados (naturais e reutilizados). Estes critrios fazem parte de uma grelha de avaliao entregue aos membros do jri (ICN, 2004). No final so premiados 3 trabalhos, correspondentes aos 1., 2. e 3. lugar, por escalo escolar. Os prmios por escalo so os seguintes: 1. Escalo (1. Lugar: BTT; 2. Lugar: Jogos; 3. Lugar: livros e/ou enciclopdias); 2. Escalo/3. Escalo (1. Lugar: BTT; 2. Lugar: mquina fotogrfica; 3. Lugar: livros e/ou enciclopdias); 4. Escalo/5. Escalo (1. Lugar: um Kit de campo (mochila, bssola, cantil...); 2. Lugar: binculos; 3. Lugar: Guias de campo (Mamferos, Avifauna, Flora, Peixes, entre outros) (ICN, 2004). A entrega de prmios tem lugar na AP organizadora, numa actividade de convvio com todos os que aderiram ao concurso, onde esto em exposio todos os

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trabalhos concorrentes, assinalando nesta data o Dia Mundial do Ambiente (ICN, 2004). A organizao do concurso envolve vrias fases: 1) escolha do tema do concurso; 2) divulgao do concurso e recepo das inscries; 3) escolha dos elementos do jri; 4) preparao e realizao das sesses nas escolas; 5) planeamento das actividades para o encontro; 6) estabelecimento de parcerias com algumas entidades locais para a realizao de actividades; 7) pedidos de oramentos de diversos materiais; 8) recolha dos trabalhos; 9) avaliao dos trabalhos; 10) preparao do local do encontro e montagem das diferentes actividades e ateliers e, finalmente, 11) o dia do encontro.

2.2.2 Actividade II - Invases biolgicas 2.2.2.1 Invases biolgicasAs invases biolgicas consistem no aumento no controlado do nmero de indivduos de uma espcie (Elton, 1958), que atinge localmente densidades populacionais muito elevadas, afectando negativamente o ecossistema nativo (Mooney e Hobbs, 2000). Actualmente, as invases biolgicas ameaam a biodiversidade a uma escala global, estando as espcies invasoras presentes em muitos grupos taxonmicos, nomeadamente vrus, fungos, algas, fetos, plantas superiores, invertebrados, rpteis, aves e mamferos. Estas tm vindo a afectar o biota nativo de praticamente todos os tipos de ecossistemas no planeta e, na maioria dos casos, uma vez ocorridas revelamse irreversveis ou de muito difcil resoluo (Martins, 2000). O isolamento criado pelas barreiras biogeogrficas (depois do tercirio), levou criao de reas distintas, ficando as espcies limitadas a regies definidas, consoante a sua amplitude ecolgica. Sem interveno humana, a maior parte das espcies teria uma rea de distribuio limitada a essas reas, enquanto outras quer por possurem bons mecanismos de disperso, quer pela ausncia de barreiras que as limitassem, apresentariam uma vasta distribuio pelo mundo (Elton, 1958). Ao longo do tempo, o Homem tem vindo a causar a destruio de muitas barreiras biogeogrficas, as quais no coincidem com as fronteiras administrativas e/ou

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polticas, contribuindo assim inicialmente para a origem e mais tarde para o agravamento das invases biolgicas (D`Antonio e Vitousek, 1992). Sendo um problema crescente em muitas regies do mundo, revela-se particularmente grave nos ecossistemas mediterrnicos (Marchante, 2001).

2.2.2.2 Introdues acidentais vs introdues intencionaisAs espcies exticas podem ser introduzidas de forma intencional ou acidental. As introdues intencionais esto caracteristicamente mais ligadas s indstrias de produo, como a agricultura, horticultura, indstria florestal e aquacultura, e incluem tambm a importao de organismos com funes de controlo biolgico (Martins, 2000). As introdues acidentais ocorrem associadas a actividades humanas como o comrcio e o turismo. Estas podem ser controladas recorrendo a normas de quarentena, a multas mais rigorosas e ainda melhorando os padres higinicos de transporte. A educao de exportadores, importadores e viajantes, no sentido de alertar para os riscos das invases biolgicas uma prioridade. Este tipo de introdues pode ser de vrios tipos (Martins, 2000): organismos aquticos nas guas de balastro dos navios; organismos patognicos e parasitas transportados juntamente com introdues autorizadas; organismos boleia nos substratos de itens comercializados /transportados (gua para peixe, solo para plantas); insectos e outros organismos terrestres em avies e barcos; organismos aquticos que dispersam atravs de sistemas de canais. No que diz respeito introduo intencional de espcies exticas, esta dever apenas ser considerada se nenhuma espcie nativa for apropriada ao objectivo para que a introduo est a ser feita e ainda se puderem ser previstos benefcios claros e bem definidos para as comunidades naturais e para o Homem (Decreto-lei n. 565/99). Seja dentro ou fora dos limites de jurisdio nacional, de um modo geral nenhuma espcie extica dever ser deliberadamente introduzida em qualquer habitat natural, ilha, lago, mar, oceano ou centro de endemismo. Alm disso, nenhuma espcie

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extica dever ser introduzida num habitat semi-natural se no existirem razes excepcionais para o fazer. Uma das situaes em que se podem considerar excepo quando uma espcie invasora ameaa a biodiversidade nativa num sistema natural ou semi-natural, e a importao de um agente de controlo biolgico rigorosa e intensivamente testado, for proposta como uma soluo ao problema inicial (Martins, 2000). Quando se considera a introduo deliberada de espcies em habitats naturais ou semi-naturais, e sendo aceite que esta introduo ser benfica para o ambiente e para o Homem, deve realizar-se uma anlise de riscos e um Estudo de Impacte Ambiental, sendo este processo de avaliao de extremamente importante (Martins, 2000).

2.1.2.3. Principais etapas de um processo de invasoA introduo de espcies exticas numa fase inicial corresponde a um aumento da biodiversidade escala regional (Arroyo et al., 2000). No entanto, com a continuidade, algumas espcies aumentam exponencialmente a sua rea de distribuio, revelando elevado sucesso no seu estabelecimento, enquanto outras no chegam a expandir-se extinguindo-se mesmo em casos extremos (Lonsdale, 1999) (Figura 1). De entre o total das espcies introduzidas, aquelas que se conseguem fixar para alm do seu local de introduo inicial formando populaes em habitats naturais e semi-naturais que se mantm a si prprias, dizem-se naturalizadas (Cronk e Fuller, 1995). Uma espcie pode permanecer naturalizada por tempo varivel at que algum fenmeno facilite o aumento da sua populao (Naylor, 2000). Esta facilitao pode ser uma perturbao natural (ex: fogo, tempestade), ou antropognica (alteraes no uso da terra, fogos controlados, construo de infra-estruturas); ou pode ainda ser devida introduo de um agente dispersor ou polinizador ou ausncia de pestes e doenas (Naylor, 2000; Cronk e Fuller, 1995). A taxa de crescimento e reproduo das espcies invasoras, a eficincia dos seus mecanismos de disperso e as caractersticas do habitat invadido vo condicionar o subsequente aumento da sua distribuio. Por fim, as espcies invasoras passam a interagir com as espcies animais, vegetais ou outras formas de vida que as rodeiam e podem alcanar ou no a estabilizao (Cronk e Fuller, 1995). O sucesso dos processos de invaso depende

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para alm dos atributos das espcies invasoras, da natureza, da histria e da dinmica dos ecossistemas invadidos (Hobbs e Humphries, 1995).% das espcies exticas que so introduzidas, que se naturalizam e que se tornam invasoras T a m a n h o d a p o p u l a o

invasoestabilizao

introduo

naturalizao

facilitao

Aumento da distribuio

Tempo

Figura 1 Principais etapas de um processo de invaso (adaptado de Marchante, 2001).

Apesar de grande parte das espcies introduzidas no chegar a ultrapassar as etapas de introduo ou naturalizao, todas as novas espcies que se considerem introduzir devem ser monitorizadas e consideradas potenciais invasoras, at que se prove que so na verdade inofensivas (Arroyo et al, 2000). Existem caractersticas comuns a muitas espcies invasoras e antecedentes de invases noutros locais que podem alertar para espcies aparentemente no problemticas (Marchante, 2001).

2.1.2.4 Efeitos das espcies invasorasAs espcies invasoras tm vindo a contribuir para a uniformizao global, sendo consideradas como a segunda maior causa de perda de biodiversidade a nvel do planeta e uma das principais causas das alteraes globais. Causam ainda impactos negativos a muitos outros nveis, nomeadamente econmicos, quando a rea que

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invadem de ocupao agrcola ou florestal, ou de sade pblica, quando so espcies que provocam doenas ou alergias (Marchante, 2001). Outros potenciais efeitos podem incluir a alterao dos regimes de fogo (D`Antonio, 2000) e a quantidade de gua disponvel (Zavaleta, 2000); a alterao da composio e disponibilidade de nutrientes, nomeadamente do azoto do solo (Vitousek et al.1987; Musil e Midgley, 1990; Marchante et al., 2004) e da folhada (Milton, 1981); a remoo ou introduo de elementos nas cadeias alimentares (Cronk e Fuller, 1995); a prpria alterao dos processos geomormofolgicos (Vitousek et al. 1987) e at mesmo pela extino de muitas espcies (D`Antonio e Vitousek, 1992) (Figura 2). Estes e outros impactos negativos provocam alteraes de difcil e dispendiosa resoluo, causando muitas vezes prejuzos irreversveis (Marchante e Marchante, 2004).

Alterao da disponibilidade de nutrientes Alteraes dos regimes de fogo Alterao das cadeias alimentares

Transformao estrutural de uma comunidade

Efeitos das espcies invasoras

Alterao dos processos geormofolgicos

Diminuio da biodiversidade Diminuio da quantidade de gua disponvel

Extino de espcies

...

Figura 2 Potenciais efeitos de uma espcie invasora nos ecossistemas que invade (adaptado de Marchante, 2001).

2.1.2.5 Gesto do problemaTanto a preveno de futuras invases como a gesto das espcies invasoras, que j se tornaram uma ameaa conservao, so de importncia vital (Martins, 2000).

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Preveno, Erradicao e Controlo A preveno passando pela educao/informao do pblico em geral, o ponto de partida para a minimizao deste problema, uma vez que a populao em geral que muito frequentemente causa e contribui inconscientemente para o seu agravamento; por exemplo, quando adquirem plantas exticas e as colocam em espaos abertos a libertar disporos, ou quando compram animais exticos e depois os abandonam quando se tornam indesejveis (Marchante e Marchante, 2004). Numa etapa posterior, em que j tinha ocorrido a introduo de novas espcies, importante detectar possveis invasoras quando apresentam distribuies muito limitadas e quando ainda possvel, com custos relativamente baixos erradic-las. A soluo passa pela monitorizao do territrio de forma a localizar pequenos focos de invaso (Marchante e Marchante, 2004). Em situaes mais agravadas, em que as espcies j se encontram muito difundidas/espalhadas e j no possvel erradicar, a resoluo do problema passa pelo estabelecimento de prioridades, tanto relativamente s espcies, como s reas, para posterior aplicao de metodologias de controlo (Marchante e Marchante, 2004). O controlo das espcies invasoras requer uma gesto muito bem planeada, que englobe a determinao da dimenso da invaso, a identificao das suas possveis causas, a avaliao dos impactos, a avaliao das metodologias de controlo mais adequadas a cada situao e ainda a posterior monitorizao da recuperao da rea controlada (Cronk e Fuller, 1995). Os mtodos geralmente utilizados no controlo das espcies vegetais invasoras incluem: o controlo qumico, o controlo mecnico, o controlo biolgico, o fogo controlado e a gesto integrada (Marchante, 2001).

2.1.2.6 A situao em Portugal legislao aplicvelO Decreto-lei n. 565/99, publicado em Dezembro de 1999, a base legal que surgiu na tentativa de colmatar um cenrio legislativo insuficiente, relativo introduo na natureza de espcies no indgenas da flora e da fauna. Este documento legal vem atender s obrigaes internacionalmente assumidas por Portugal, ao ratificar a Conveno de Berna, a Conveno de Bona e a Conveno da Biodiversidade, que preconizam a adopo de medidas que condicionem as introdues acidentais, bem como o controlo ou erradicao das espcies j introduzidas (Decreto-lei n. 565/99).

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A nota preambular do referido decreto-lei iniciada salientando que: A introduo de espcies no indgenas na Natureza pode originar situaes de predao ou competio com espcies nativas, a transmisso de agentes patognicos ou de parasitas e afectar seriamente a diversidade biolgica, as actividades econmicas ou a sade pblica, com prejuzos irreversveis e de difcil contabilizao. Este o princpio que est na base da proibio de disseminao ou libertao na Natureza de espcimes de espcies no indgenas visando o estabelecimento de populaes selvagens, inscrita no artigo 3.. A sustentar esta proibio encontram-se factores de ordem econmica, cultural ou educacional, e principalmente factores relacionados com a conservao do patrimnio natural autctone (ICN/Grupo de trabalho para as espcies no indgenas, 2000). As espcies no indgenas destinadas explorao agrcola, foram excludas do diploma, por se reconhecer que a sua produo tradicional, sistemtica e generalizada trouxe inquestionveis benefcios para o Homem. Podem ser excepcionalmente permitidas as introdues intencionais para fins florestais (anexo II do Decreto-lei n. 565/99), cinegticos, aqucolas e apcolas (artigo 4.), mediante estudo de impacte, ensaio controlado (artigo 5.) e quarentena (artigo 6.). O artigo 7. probe a disseminao na Natureza de espcimes no indgenas, ainda que sem vontade deliberada, como preveno para o estabelecimento acidental de populaes selvagens (Decreto-lei n. 565/99). No decreto-lei, so ainda definidas espcies invasoras e espcies que comportam risco ecolgico, para as quais foram definidas limitaes para o cultivo, criao, deteno ou troca (artigo 8.). Os artigos 9., 10., 12. e 13. definem que os jardins botnicos e zoolgicos e as lojas de animais, ficam obrigadas a licenciamento, por parte do ICN, para deteno de espcimes de espcies no indgenas. Segundo o artigo 11., as instalaes destinadas a deter esses espcimes tm que obedecer a requisitos especiais de segurana, estabelecidos por portaria. De acordo com o artigo 15., os comerciantes de plantas ornamentais e animais de companhia devem contribuir para o esclarecimento pblico dos riscos inerentes a estas detenes, expondo no estabelecimento um extracto-resumo. Relativamente ao enchimento e vazamento das guas de lastro dos navios, fonte provvel de introdues involuntrias, est prevista a aplicao da., interdito o repovoamento das espcies classificadas como invasoras, propondo-se um plano nacional de controlo e erradicao das espcies no indgenas invasoras j introduzidas (artigo 18.).

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O ICN deve assegurar as funes administrativas e tcnico-cientficas, em colaborao com outras entidades, nomeadamente a Direco Geral das Florestas (artigo 19.), aconselhado por um Conselho consultivo de peritos. As funes de fiscalizao competem ao ICN e tambm a outras instituies estatais (artigo 24.) e, independentemente da aplicao de coimas e sanes previstas (artigo 21., 22. e 23.), os infractores podero ter de proceder reposio da situao anterior infraco, realizando as aces necessrias erradicao da espcie introduzida (artigo 25.). O Decreto-lei n. 565/99, apesar de recente, necessita j de actualizao uma vez que algumas espcies que so consideradas apenas como introduzidas, apresentam actualmente comportamento invasor. Apesar de existir esta legislao, a fiscalizao muito insuficiente e o decreto no eficientemente aplicado. Assim sendo, fundamental o aumento da fiscalizao efectiva para cumprir o que vem formulado no Decreto-lei n. 565/99 e diminuir assim o problema causado pelas espcies invasoras.

2.1.2.7. A importncia da Educao Ambiental na problemtica das espcies invasorasNa realidade, e apesar de legalmente estar em vigor a nvel nacional o Decretolei n. 565/99, esta problemtica ainda muito desconhecida do pblico em geral, o qual funciona como um dos principais vectores de introduo e propagao de espcies invasoras. A educao ento essencial de forma a minimizar introdues acidentais de espcies. essencial que este problema seja divulgado envolvendo informao/ sensibilizao acerca de: 1) diferena entre espcies nativas e espcies exticas; 2) importncia das espcies nativas em relao s exticas; 3) que as espcies exticas podem, em algumas circunstncias, ameaar as nativas; 4) que actividades aparentemente inofensivas, tais como jardinagem e silvicultura, podem resultar na naturalizao de espcies exticas e posterior invaso (Cronk e Fuller, 1995). A educao deve ainda visar o conhecimento da ameaa potencial que as espcies exticas podem representar para os ecossistemas nativos e conhecimento de que a introduo deve ser acompanhada de estudos de avaliao do potencial das espcies para dispersarem e causar danos (Cronk e Fuller, 1995).

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Diferentes grupo-alvo requerem diferentes nveis de envolvimento e informao. Por exemplo, o pblico em geral necessita apenas saber qual o risco das invases e que espcies no deve usar, enquanto os donos dos terrenos devem ser um alvo a ser encorajado a adoptar medidas prticas, incluindo por exemplo o controlo (Clout, Lowe, e IUCN, 1996). Idealmente, estudos ambientais deveriam fazer parte dos currculos escolares, a educao de adultos deveria ser conduzida atravs dos meios de comunicao social e a educao dos turistas deveria ser introduzida atravs de literatura para visitantes. A informao para os turistas tambm pode tomar a forma de filmes-vdeo a mostrar nos avies antes da aterragem (Cronk e Fuller, 1995). As pessoas que trabalham em AP tambm precisam de formao e isto aplicase tanto a gestores/responsveis como operadores no terreno/tcnicos. Os gestores precisam deslocar recursos, frequentemente de oramentos cada vez mais reduzidos, para necessidades que valham a pena; devem estar bem conscientes do problema das invases biolgicas antes que estejam fora de controlo. Os tcnicos no terreno devem estar informados da importncia e propsito das actividades de controlo que frequentemente exigem muito esforo e cuidado e so tediosas (Cronk e Fuller, 1995). O pbico em geral pode inconscientemente contribuir para a disperso de espcies invasoras, mas se este pblico estiver convenientemente informado pode actuar igualmente como agente de preveno deste problema (Cronk e Fuller, 1995).

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3. Materiais e mtodos

3.1 rea de Paisagem Protegida da Serra do Aor (APPSA)A Serra do Aor encontra-se localizada na Regio Centro de Portugal Continental, entre a Serra da Estrela e a Serra da Lous (cartas militares n.233 e 244), na confluncia de trs provncias administrativas: Beira Alta (BA), Beira Litoral (BL) e Beira Baixa (BB) (Silveira, 2001). As influncias climticas na Serra do Aor variam desde as atlnticas, nas vertentes expostas a noroeste, at s mediterrnicas, nas vertentes expostas a sudeste e nos vales abrigados, situando-se numa rea de clima pr-atlntico, sub-hmido (Neves, Direito e Henriques, 2002). A APPSA faz parte do Complexo do Aor, onde tambm se incluem a Mata e Afloramentos de Fajo, os Cumes de S. Pedro do Aor e da Cebola (Anexo II), integrados, no mbito da Directiva Habitats, na Rede Natura 2000 (Neves, Direito; Henriques e 2002). Biogeograficamente a Serra do Aor pertence ao Reino Holrtico, Regio Mediterrnica, Provncia Gaditano-Onubo-Algarviense, sector Divisrio Portugus, subsector Beirense Litoral e ainda Provncia Carpetano-Ibrico-Leonesa, sector Estrelense (Lous et al, 1998). A APPSA situa-se no concelho de Arganil, distrito de Coimbra, englobando as Freguesias de Benfeita e Moura da Serra, com a existncia de uma povoao no seu permetro geogrfico: o lugar de Pardieiros, que dista cerca de 25 km da sede do concelho (Figura 3) (ICN/APPSA, 2000 b).

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Figura 3 Localizao da APPSA. -- Limite da Mata da Margaraa; -- Limite da APPSA; Pardieiros (fonte: adaptado de Verglio, 2003).

A APPSA foi criada atravs do Decreto-lei n. 67/82 de 3 de Maro, incluindo trs zonas com estatuto de proteco diferente: a Mata da Margaraa, como Reserva Natural Parcial, a Fraga da Pena, como Reserva de Recreio e a restante rea como rea de Paisagem Protegida, ocupando uma extenso global de aproximadamente 350ha (Anexo III).

3.1.1 Caracterizao da Mata da MargaraaCom uma rea aproximada de 50 ha, a Mata da Margaraa, ocupa uma encosta com exposio N-NW, entre os 400 e 800m (Neves, Direito e Henriques, 2002), apresentando um declive acentuado com 25% de inclinao (Gama, 1998/1999). A Mata apresenta uma elevada riqueza hdrica, com a formao de vrias linhas de gua de carcter permanente ou temporrio, o que possibilita a existncia de populaes animais e vegetais estritamente dependentes destes meios hdricos (Gama, 1998/99). A linha de gua permanente mais importante a Ribeira da Mata da Margaraa, que corre ao fundo da encosta e se estende ao longo do vale indo desaguar no rio Alva (Romo e Barreiros, 1999). Entre as comunidades vegetais mais importantes na composio vegetal da Mata da Margaraa sobressai a associao Rusco aculeati-Quercetum roboris subassociao viburnetosum tini que se insere taxonomicamente na classe QUERCOFAGETEA, na ordem Quercetalia roboris e na aliana Quercion robori pyrenaicae.(Decreto-lei n. 67/82; Alves et al., 1998).

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3.1.1.1 FloraOs diferentes usos do solo e os fogos que ocorreram ao longo do tempo foram responsveis pela alterao significativa da vegetao natural das encostas da Serra do Aor. Segundo o Decreto-lei n. 67/82, de 3 de Maro, a Mata da Margaraa uma amostra do que j foi essa vegetao, o que faz dela uma das raras relquias de vegetao natural das encostas xistosas do centro de Portugal. uma floresta antiga onde dominam castanheiros (Castanea sativa) e carvalhoportugus (Quercus robur), coexistindo com outras espcies menos abundantes como o azereiro (Prunus lusitanica), o loureiro (Laurus nobilis), o azevinho (Ilex aquifolium), o medronheiro (Arbutus unedo), o folhado (Viburnum tinus), a ginjeira (Prunus cerasus) e a cerejeira (Prunus avium), etc. No estrato sub-arbustivo predominam entre outros, a gilbardeira (Ruscus aculeatus), a silva (Rubus sp.) e a madressilva (Lonicera periclimenum) (Paiva, 1981). A expanso das invasoras, nomeadamente a mimosa (Acacia dealbata), a austrlia (Acacia melanoxylon), a hquia-picante (Hakea sericea), a falsa-accia (Robinia pseudoacacia) e o espanta-lobos (Ailanthus altissima) atingem significativamente algumas reas da Serra do Aor (Silveira, 2001).

3.1.1.2 FaunaSo vrias as espcies animais que encontram na APPSA o habitat que noutras zonas da serra j no existe. Da fauna de grandes mamferos pode destacar-se a raposa (Vulpes vulpes), a fuinha (Martes foina), a doninha (Mustela nivalis), a gineta (Genetta genetta) e o javali (Sus scrofa), alm de uma dezena de espcies de micromamferos e outras tantas de morcegos. Quanto avifauna, encontram-se vrias espcies como, o aor (Accipiter gentilis), o gavio (Accipiter nisus), a coruja-do-mato (Strix aluco), a rola (Strptopelia turtur), a toutinegra-de-barrete-negro (Sylvia atricapilla), entre outras. Entre a herpetofauna reala-se a presena da salamandra-de-caudacomprida (Chioglossa lusitanica), do lagarto-de-gua (Lacerta schreiberi) e da ribrica (Rana iberica) os quais so endemismos ibricos (ICN/APPSA, 2000 b). J no que diz respeito aos macroinvertebrados, podem ser encontrados os seguintes grupos taxonmicos: Tricladida, Nematoda, Gastropoda, Lamellibranchiata, Oligochaeta, Hirudinea, Hydracarina, Isopoda, Collembola e Insecta (Abelho, 1996).

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3.1.1.3 Educao Ambiental na APPSAA Mata da Margaraa tem sido palco de aces de EA, para as escolas que a visitam, vindas um pouco de todo o pas. Estas aces decorrem desde 1996, existindo um programa anual de visitas guiadas e um conjunto de sesses temticas das quais se destacam: Descoberta dos Cogumelos da Mata da Margaraa; A Floresta: histrias de uma mquina viva; Plantas Aromticas e Medicinais; Anilhagem e Observao de Aves; No trilho de Mamferos da Mata da Margaraa. Durante os dias teis de semana, a grande maioria destas visitas so de escolas, enquanto aos fins-de-semana e perodos de frias mais o pblico em geral que a visita. H aces que se realizam pontualmente, tais como a comemorao de algumas datas importantes para o ambiente: Dia Mundial da Floresta (21 de Maro), Dia Mundial da Terra (22 de Abril); Dia Mundial do Ambiente (5 de Junho) e Dia Mundial de Conservao da Natureza (28 de Julho) (Comunicao oral Dr. Manuela Direito e Dr. Slvia Neves ICN).

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4. Descrio de actividades e Resultados obtidos

4.1 Concurso ArtAmbiente4.1.1 Reunies de trabalhoPara a organizao do Art`Ambiente 2003/2004 realizaram-se algumas reunies na APPSA Mata da Margaraa, onde se debateram os seguintes pontos: anlise e alterao do regulamento (tema do concurso, calendrio, jri, prmios e critrios de avaliao); anlise de propostas das AP; sorteio AP (elementos do jri, letras das fichas, cores das camisolas); actividades a desenvolver; material para prmios; material para escolas participantes; outro material (cartaz, programa, convite, caderno de campo, etc.). Numa das reunies, procedeu-se ainda a uma visita ao local proposto para a realizao do Art`Ambiente, o Clube Operrio do Jardim do Alva em Coja.

4.1.2 Actividades de divulgao 4.1.2.1 Divulgao do concurso e inscriesA divulgao foi um procedimento extremamente importante tanto para as escolas como para a imprensa, pois foi assim que se deu a conhecer o trabalho que se pretendia realizar. Pretendeu-se com a divulgao que houvesse uma grande adeso por parte das escolas e uma cobertura noticiosa sobre esta actividade relacionada com o Ambiente. Numa fase inicial, procedeu-se divulgao do concurso e respectivo tema para o presente ano lectivo, bem como inscrio das escolas interessadas, tendo sido realizada no ms de Outubro. Nos Jardins-de-infncia a divulgao foi realizada no Agrupamento de Arganil; nas escolas do 1. ciclo foi feita nos Agrupamentos de Coja e Arganil. Relativamente s escolas do 2. e 3. ciclos a divulgao foi feita nas prprias escolas, com o intuito de cativar os alunos mais velhos a participar.

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Nesta fase foram distribudos: o regulamento do concurso (Anexo IV), a ficha de inscrio (Anexo V), a ficha de identificao do trabalho (Anexo VI), o quadro de identificao (Anexo VII) e o relatrio de acompanhamento de actividades (Anexo I), sendo o ltimo um elemento fundamental para a avaliao dos trabalhos. Estes elementos foram entregues em todas as escolas da rea de influncia da APPSA, tendo-se explicado o funcionamento do concurso escolar Art`Ambiente. Apesar da divulgao realizada pela APPSA inscreveram-se apenas escolas dos 1. e 2. escales, perfazendo um total de 18 (Tabela I).

Tabela I Escolas da APPSA participantes no Art`Ambiente

Total

Ensino Pr primrio J.I. de Arganil J.I. Barril de Alva J.I. de Coja J. I. de Folques J.I. de Pomares J.I. de Pombeiras J.I. de Pombeiro da Beira J.I. de S. Martinho da Cortia J.I. de Sarzedo J. I. de Secarias 10

1. Ciclo Ensino Bsico EB 1 de Barril de Alva EB 1 de Benfeita EB 1 de Cerdeira EB 1 de Coja EB 1 de Pido EB 1 de Piso EB 1 de Pomares EB 1 de Vila Cova de Alva

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No Anexo VIII possvel consultar a lista completa, referente a todas as escolas participantes das sete AP envolvidas no ArtAmbiente, perfazendo um total de 94 escolas. Destas, 25 foram Jardins-de-infncia; 43 escolas do 1 ciclo; 14 escolas do 2. ciclo, 11 do 3. ciclo e 1 escola do secundrio, perfazendo um total de 1947 participantes inscritos (Tabela II).

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Tabela II Total de participantes inscritos no Art`Ambiente considerando a AP de provenincia e os escales. Discrimina-se entre os participantes (particip.) alunos, professores (prof.) e auxiliares-de-educao (Aux).Escalo Total AP particip. 1. 271 42 16 RNSM alunos Prof. e Aux. alunos Prof. e Aux. alunos Prof. e Aux. ---30 PNA --8 PNM --56 PNSSM alunos Prof. e Aux. 37 PNSE alunos Prof e Aux. alunos Prof. e Aux. -----PNDI --50 ------177 --133 --31 --49 --12 --------Total 2. 167 22 65 ---76 --87 --80 3. ----101 ---27 --50 --28 4. ----50 ----22 --8 --30 5. ---------------------438 64 232 22 155 45 153 45 196 46 307 44 182 20 1947 alunos APPSA Prof. e Aux.

4.1.2.2 Divulgao para a ImprensaNo dia 31 de Maio de 2004, procedeu-se divulgao da nota de imprensa (Anexo IX) para a Comunicao Social Nacional e Regional. Como resultado, foram publicadas notcias em alguns jornais (Anexo X) Jornal de Coimbra que noticiou a realizao do Art`Ambiente no dia 2 de Junho; Dirio As Beiras que noticiou a realizao do encontro nos dias 4 e 5 de Junho; o Dirio de Coimbra tambm noticiou a realizao do encontro no dia 5 de Junho; e o jornal A Comarca de Arganil desenvolveu num artigo as vrias iniciativas que decorreram nesse dia associadas ao ArtAmbiente.

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4.1.2.3 Sesses nas Escolas da APPSADada a localizao das escolas participantes numa zona do interior do pas, onde se verifica todos os anos a alterao de professores, e tambm porque muitos dos Jardins-de-infncia (J.I.) inscritos no concurso nunca tinha visitado a AP, surgiu a necessidade de realizar sesses para dar a conhecer a Mata da Margaraa. Como o nmero de escolas e de crianas inscritas foi elevado, dividiu-se o concelho em dois: parte alta do concelho (Coja) e parte baixa (Arganil) (esta diviso no corresponde diviso administrativa, mas sim aquela que se adapta melhor ao trabalho das tcnicas da AP) (Tabela III). A responsabilidade pelas sesses realizadas na zona de Arganil coube a uma tcnica do ICN de Coimbra, e na zona de Coja a uma tcnica da APPSA. A preparao e execuo das sesses do agrupamento de Arganil foram desenvolvidas no decorrer deste estgio. Uma vez que a maioria das escolas de 1. ciclo pertencentes zona de Coja j tinham participado em diversas actividades realizadas pela APPSA, no houve necessidade de realizar sesses com excepo no J. I. de Pomares, a pedido da professora.Tabela III Sesses realizadas nosJardins-de-infncia (J.I.) da zona envolvente da APPSA

Data

Concelho

Escolas J.I. de S. Martinho da Cortia J.I. de Sarzedo J. I. De Secarias J.I. de Pombeiras J. I. De Folques J.I. de Arganil J.I. de Pombeiro da Beira J. I. De Pomares Subtotal Total

N. de N. de professoras crianas e auxiliares 26 24 15 12 11 108 15 13 224 256 6 4 2 2 2 12 2 2 32

11/03/04 Arganil 12/03/04 16/03/04 17/03/04 18/03/04 24/03/04 25/03/04 Arganil Arganil Arganil Arganil Arganil Arganil Coja

Tendo o pblico-alvo idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos foi necessrio preparar sesses recorrendo principalmente a meios audiovisuais, onde a

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imagem teve um papel preponderante para facilitar a compreenso dos temas abordados (Figura 4).

J.I. de Pombeiras

J.I. de Folques

J.I. de Arganil

J.I. de Pombeiro da Beira

Figura 4 Sesses de divulgao realizadas nos Jardins-de-infncia (Fonte: Liliana Mendes)

Cada sesso consistiu numa apresentao da Mata da Margaraa, sendo esta bastante interactiva. Inicialmente foi mostrado um mapa de Portugal, com o objectivo de mostrar aos alunos a localizao da Serra do Aor. Seguidamente foi feita uma breve apresentao da Mata da Margaraa com slides relativos fauna, flora e actividades realizadas na AP pertencentes ao arquivo da APPSA. Vrias brochuras sobre a Mata da Margaraa foram apresentadas como informao complementar (Serra do Aor Reserva Natural (edio de 1994); Paisagem Protegida da Serra do Aor (edio de 2002); Flora Mata da Margaraa (edio de 2000); Os cogumelos e a Floresta (edio de 1999).

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Posteriormente falou-se mais em pormenor sobre os morcegos tendo sido apresentada uma brochura sobre esta temtica [Morcegos (edio de 1998)]; das aves-de-rapina e mamferos tendo sido apresentados cartazes com algumas imagens. Por fim, foi utilizado um vdeo da Direco-Geral das Florestas denominado Um Passeio na Floresta. Para que as Educadoras de Infncia pudessem trabalhar melhor o tema Floresta escondida: equilbrio de vida com as crianas, e assim ajudar na elaborao do trabalho para apresentar a concurso, optou-se por deixar em cada Jardim-deinfncia os cartazes e as brochuras. Aps a realizao das sesses, algumas das escolas ainda realizaram durante o ms de Maio uma visita Mata da Margaraa.

4.1.2.4 Intercmbio entre as escolasNesta edio do ArtAmbiente decidiu-se manter o intercmbio entre as escolas das diferentes AP, iniciativa que teve incio na edio de 2003/2004. Este intercmbio tem como objectivo que os alunos das diferentes AP comuniquem entre si e dem a conhecer a respectiva AP e regio. Neste sentido foram elaboradas listas de intercmbios entre alunos dos mesmos escales, provenientes de AP diferentes (Anexo XI). Estas listas foram distribudas aquando das sesses nas escolas.

4.1.2.5 Elaborao do material de divulgaoProcedeu-se elaborao do seguinte material: cartaz Art`Ambiente; convite; folheto com o programa; caderno de campo; certificado de prmio e certificado de participao. O material foi elaborado em Corel Draw 10, tendo como linha orientadora o material do concurso do ano anterior. A sua elaborao foi realizada no decorrer deste estgio com a colaborao de uma tcnica da AP com excepo do cartaz Art`Ambiente que foi elaborado por um tcnico do PNSE. O cartaz foi enviado cerca de 1 ms antes do encontro para as sete AP participantes de modo a fazer a divulgao.

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Convite O convite (Anexo XII) foi enviado para entidades das regies onde se inserem as sete AP. A lista das entidades a convidar resultou da reunio da informao que cada AP elaborou para a sua regio. Toda a lista foi compilada na APPSA, tendo-se recorrido essencialmente lista telefnica para conseguir os contactos/moradas. Programa Juntamente com o convite foi tambm enviado um programa resumido (Anexo XIII). Ambos foram enviados cerca de 15 dias antes do concurso. No foi enviado o programa completo, uma vez que nele seriam destacados os apoios e patrocnios dos quais ainda se aguardavam algumas confirmaes. O programa resumido continha informao sintetizada relativa ao que se iria fazer no dia 4 de Junho; por sua vez o programa completo tinha uma descrio pormenorizada das actividades que se iriam realizar nesse dia, bem como informao relativa aos apoios e patrocnios. O programa completo (Anexo XIV) foi entregue s escolas aquando da recolha dos trabalhos para o concurso, e tambm no dia do encontro aos convidados. Caderno de campo O caderno de campo, a incluir no material a distribuir pelos participantes, (Anexo V) foi desenhado de forma a incluir um texto de apresentao e um passatempo referente a cada uma das sete AP bem como a letra da cano Art`Ambiente. A elaborao do caderno de campo teve como objectivo transmitir o esprito do trabalho de campo, ou seja, um caderno para apontar todas as observaes. A letra da Cano foi escrita pela tcnica Cristina Vieira da Diviso de Informao e Divulgao no ano anterior. Para a edio de 2004, efectuou uma adaptao da letra de acordo com o tema. Cada AP elaborou o seu texto e passatempo e enviou para a APPSA. O texto da APPSA foi escrito por uma tcnica da referida AP e o passatempo foi elaborado neste estgio, tendo em considerao o tema do concurso. Para a organizao do passatempo, agruparam-se os escales, tendo-se elaborado um jogo de palavras cruzadas com imagens, direccionado para os 1.,2. e 3. escales (Figura 5); e um jogo de palavras cruzadas mais complexo para os 4. e 5. escales (Figura 6).

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Completa as palavras cruzadas, sabendo que os elementos esto relacionados com o que existe na Floresta e tambm com o que podemos obter dela.

Figura 5 Jogo elaborado para os 1., 2. e 3. escales includo no caderno de campo

HORI ZONTAL:

1- um ser vivo de grande lo ngevidade, de tamanho elevado, com um caule chamado tronco; 2Quando seres vivos pertencentes a espcies diferentes se relacionam, diz-se que essas relaes so...; 3- Essencial para as plantas realizarem a fotossintese; 4- Cerca de 70 a 80% do corpo humano e formado por...VERTICAL:

1- Quando as relaes entre os seres vivos so benficas para as duas espcies envolvidas diz-se relaes de..; 2- Um ser vivo serve de alimento a outro, que por sua vez alimenta um terceiro, o qual alimento de um quarto e assim sucessivamente; 3- conjunto formado pela parte inanimada do ambiente (solo