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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARÍA FLORENTINA LAPADULA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: Um olhar sobre a formação e atuação de pedagogos (as) na Região dos Inconfidentes MARIANA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARÍA FLORENTINA LAPADULA

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL:

Um olhar sobre a formação e atuação de pedagogos (as) na Região dos Inconfidentes

MARIANA

2017

MARÍA FLORENTINA LAPADULA

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL:

Um olhar sobre a formação e atuação de pedagogos (as) na Região dos Inconfidentes

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Educação da Universidade

Federal de Ouro Preto como requisito parcial para

obtenção do título de mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dr

a. Célia Maria Fernandes

Nunes

MARIANA

2017

À Tere, Pilo, Toto, Nilda, Carme e Alfre.

AGRADECIMENTOS

À minha família.

A todos e a todas que me acompanharam neste processo de aprendizagem. Às minhas

amigas e aos meus amigos da Argentina, do Brasil e da Colômbia por compartilharem a vida.

Aos que esperaram minha volta à Argentina e aos quem me receberam no Brasil.

À Universidade Federal de Ouro Preto, em especial, à minha orientadora, Célia, pela

confiança e apoio.

Aos meus colegas, amigas e amigos do mestrado, por compartilharem estes dois anos

nas aulas e no jardim.

Ao Prof. Dr. José Rubens Lima Jardilino, por ter me ajudado antes de chegar ao Brasil

e por ter me recebido. À Profª Drª. Liliane dos Santos Jorge, ao Prof. Dr. Marco Antônio

Torres e ao Prof. Dr. Odair França de Carvalho, por compartilharem seus saberes e

experiências. Aos funcionários do ICHS.

Às pedagogas que participaram da pesquisa e aos espaços de educação não formal.

À cidade de Mariana.

Aos meus companheiros e companheiras do Colectivo de Educación Popular La Casa.

Aos meus colegas docentes e aos estudantes com os quais tenho compartilhado.

A todos e a todas os que acreditam na construção coletiva para a transformação da

realidade social.

“Não se pode esperar que um texto – e nem mesmo um

conjunto de textos – produza alterações substanciais [...]

almeja-se que seja mais um dos instrumentos que sirva à

reflexão e à ação pedagógica de educadores que se

posicionam como agentes transformadores da realidade

social onde atuam.” (GRACIANI, 2014, p. 163)

RESUMO

A Pedagogia pode ser entendida como o campo de conhecimento que tem como finalidade o

estudo da práxis educacional e que pode se definir como um campo heterogêneo e complexo,

com a existência de educação formal, não formal e informal, nos quais pedagogos e

pedagogas, como profissionais da educação, intervêm pedagogicamente. Embora a escola

tenha sido o âmbito hegemônico onde os pedagogos e pedagogas trabalhavam, atualmente, o

campo de atuação se diversifica. Com a existência dos espaços educacionais não formais, que

começam a se estender, nos anos 1970, por todo o país, ampliam-se os espaços de atuação dos

pedagogos e pedagogas, criando-se mudanças na formação destes nos espaços de educação

superior. Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar a formação e atuação dos

pedagogos e pedagogas que trabalham na educação não formal, focalizando aqueles que

atuam em projetos educacionais com crianças e jovens na Região dos Inconfidentes (Minas

Gerais). Como caminho metodológico por meio de uma abordagem qualitativa, realizamos

uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo que utilizou como instrumentos de

coleta de dados a aplicação de questionários e entrevista semi- estruturada. Analisamos os

dados obtidos tendo como base os conceitos trabalhados para refletir sobre a formação e a

atuação dos pedagogos e pedagogas que desenvolvem seu trabalhos nesses espaços educativos

da educação não formal. A pesquisa nos permitiu identificar a existência de uma

multiplicidade de tarefas que são realizadas pelas pedagogas. Esse fato reflete um fenômeno

que permeia o mundo do trabalho e, particularmente, o trabalho docente, ou seja as próprias

caraterísticas da educação não formal e a indefinição de sua função. Podemos concluir que

isso se deve ao fato de a educação não formal ser um campo em construção, e por isso, ainda

requer a definição das ações de atuação dos profissionais que lá trabalham.

Palavras-chave: Educação não formal; Formação do pedagogo e pedagoga; Atuação do

pedagogo e da pedagoga.

ABSTRACT

The Pedagogy can be understood as a field of knowledge which has as its purpose the study of

educational praxis. It can be defined as a heterogeneous and complex, with the existence of

formal education, non-formal and informal learning. Where educators and him, as educational

professionals involved pedagogically. Although the school has been the hegemonic where

educators and him work, currently the playing field if diversifies. With the existence of

educational spaces called not formal, which begins in the 1970s to extend the country

everything, expands the performance spaces of pedagogues and him in Brazil. Creating

changes in the formation of these in the area of higher education. This research aimed to

identify and analyze the formation and activities of pedagogues and him who work on non-

formal education, focusing on those who work in educational projects with children and

young people in the Region of Inconfidentes (Minas Gerais). As methodological path through

a qualitative approach, we conducted a literature search and a field survey which used as

instruments of data collection application of questionnaires and semi- structured interviews.

We analyzed the data obtained on the basis of the concepts worked out to reflect on the

formation and the role of educators and him who develop their work in these spaces of

education of non-formal education. The survey allowed us to identify the existence of a

multiplicity of tasks that are performed by him. This fact reflects a phenomenon that

permeates the world of work and, particularly, the teaching work, their own characteristics of

non-formal education and the vagueness of its function. We can conclude that this is due to

the fact that non-formal education be a field under construction, and therefore still requires the

definition of the actions of the professionals who work there.

Keywords: Non-formal education; Formation of the educator; Ation of the educator.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALCA – Área de Livre Comércio das Américas

ANPED – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FAE – Faculdade de Educação

FMI – Fundo Monetário Internacional

FURG – Universidade Federal do Rio Grande

IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IPM – Instituto de Pesquisas Municipais

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

OEA – Organização dos Estados Americanos

ONG – Organização não governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PUC-CAMPINAS – Pontifícia Universidade Católica de Campinas

PUC-RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

UEL – Universidade Estadual de Londrina

UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz

UFAL – Universidade Federal de Alagoas

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

UFG – Universidade Federal de Goiás

UFLA – Universidade Federal de Lavras

UFMA – Universidade Federal do Maranhão

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos

UFU – Universidade Federal de Uberlândia

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNISANTOS – Universidade Católica de Santos

UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

USP – Universidade de São Paulo

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1: Número de pesquisas segundo descritores 45

Gráfico 2: Pesquisas segundo programas de pós-graduação 46

Gráfico 3: Número de pesquisas segundo ano de defesa 47

Gráfico 4: Número de pesquisas segundo instituição 48

Gráfico 5: Ano de início do curso de Pedagogia 60

Gráfico 6: Ano de conclusão do curso de Pedagogia 61

Gráfico 7: Instituição de ensino superior 62

Gráfico 8: Cidade da instituição de ensino superior 63

Gráfico 9: Disciplina realizada no curso de Pedagogia com temática de educação

não formal

64

Gráfico 10: Estágio Supervisionado em espaços de educação não formal 65

Gráfico 11: Pedagogas que realizaram curso de pós-graduação 66

Gráfico 12: Curso de pós-graduação 67

Gráfico 13: Instituição de ensino superior: curso de pós-graduação 68

Gráfico 14: Ano de início do curso de pós-graduação 68

Gráfico 15: Ano de finalização do curso de pós-graduação 69

Gráfico 16: Anos de atuação como pedagoga 71

Gráfico 17: Espaço de educação não formal onde trabalham as pedagogas 72

Gráfico 18: Municípios onde trabalham as pedagogas 72

Gráfico 19: Cargos ocupados pelas pedagogas 73

Gráfico 20: Anos que trabalham na educação não formal 74

Gráfico 21: Horas semanais trabalhadas no espaço de educação não formal 75

Gráfico 22: Trabalho além do espaço não formal no qual atuam 76

Gráfico 23: Experiência prévia em educação não formal 77

Gráfico 24: Anos trabalhados em espaços de educação não formal 78

LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Estado de Minas Gerais (Brasil) 59

Mapa 2: Região dos Inconfidentes 59

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Trabalhos apresentados na ANPED GT 6 (2005-2015) 50

Tabela 2: Trabalhos apresentados na ANPED GT 8 (2005-2015) 51

Quadro 1: Perfil dos espaços de educação não formal 79

Quadro 2: Perfil das pedagogas

80

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO 21

2.1 Definindo o conceito de educação não formal 21

2.1.1 Contextualização da Educação não formal 26

2.1.2 Pedagogia Social e a educação não formal no Brasil 30

2.2 Formação inicial e continuada do(a) pedagogo(a) e seus campos

de atuação no Brasil

35

2.3 O que dizem as pesquisas sobre a educação não formal 43

2.3.1 Mapeamento e análise das teses e dissertações do banco de

teses da IBICT de 2004 a 2014

45

2.3.2 Mapeamento e analise dos trabalhos apresentados nos

encontros da ANPED de 2005 a 2015

49

3 O PERCURSO METODOLÓGICO 54

4 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOS (AS) PEDAGOGOS (AS) NA

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

58

4.1 O perfil dos(as) pedagogos(as) 58

4.2 Formação inicial e continuada das pedagogas da educação não

formal

77

4.3 Atuação das pedagogas da educação não formal 94

CONSIDERAÇÕES FINAIS 113

REFERÊNCIAS 121

APÊNDICES 127

16

1 INTRODUÇÃO

A educação é um direito fundamental de todos os seres humanos e tem o objetivo

primordial de gerar o desenvolvimento integral dos sujeitos.

Desde o século XX, no mundo ocidental, a educação das pessoas é conduzida por um

agente principal, a escola pública (PINEAU, 1996). Segundo diferentes autores, esse espaço

educacional tem sido o âmbito hegemônico da atuação dos pedagogos e das pedagogas

(TRILLA BERNET, 1992; LIBÂNEO, 1996, 2010; FIREMAN, 2006) até início do século

XXI, época em que o campo de atuação se diversificou (VICENTE, 2014).

No contexto social, político, econômico e cultural atual, podemos afirmar que é

reconhecido um diverso campo de atuação dos pedagogos(as). Embora a escola continue

sendo o espaço educacional central onde estes se desenvolvem, existem outros, como ONGs,

sindicatos, movimentos sociais, empresas, hospitais, a mídia, instituições culturais, a

educação especial etc. Segundo diferentes autores, esses espaços educacionais para além da

escola podem ser denominados como não formais.

Gohn (1999) esclarece que a existência dos espaços educativos chamados não formais

começa, desde os anos 1980, a se estender por todo o país e a ter influência na construção da

subjetividade das pessoas, ampliando-se, assim, a formação e a atuação dos pedagogos e

pedagogas.

A partir desse contexto, a universidade começa a repensar a formação inicial no

âmbito da educação superior nos cursos de Pedagogia, considerando que os alunos poderão

trabalhar em diferentes espaços educativos. Nas normativas do curso de Pedagogia determina-

se que aqueles que se formam como licenciados poderão atuar em ambientes escolares e não

escolares (Parecer CNE/CP nº. 5/2005; Resolução CNE/CP nº. 1/2006, Resolução nº. 2/2015),

incluindo, no seu trajeto de formação inicial, disciplinas e estágios supervisionados que

abordam essa temática.

Gohn (2006) explica que, no Brasil, existe uma lacuna nessa temática, sendo

necessário conhecer mais a fundo sobre a formação específica dos pedagogos na educação

não formal, além de conhecer e sistematizar o trabalho cotidiano nesses espaços.

Reafirmamos isso ao realizar uma pesquisa bibliográfica nos bancos de teses e dissertações

sobre educação não formal nos sites da IBICT, ANPED e CAPES e descobrir que são escassas

17

as investigações que abordam a educação não formal, e menores ainda aquelas que trabalham

sobre a formação e atuação de pedagogos(as) na educação não formal.

O interesse por pesquisar essa temática tem relação com minha trajetória pessoal e

profissional, já que há onze anos trabalho em espaços além da escola. No ano de 2004,

comecei a colaborar num restaurante comunitário1, dando apoio escolar a crianças e jovens de

um bairro periférico da minha cidade natal, junto com amigos e colegas do Ensino Médio.

Essa experiência levou-me, anos depois, a estudar o professorado em Ciências da Educação

na Universidad Nacional de La Plata2, na Argentina, na busca de uma formação para trabalhar

nesses espaços, conhecer e refletir sobre a educação no meu país e na América Latina.

Nos primeiros anos da minha formação, embora gostasse do curso, não achava

resposta para a minha inquietude principal. Até que, no terceiro ano, duas disciplinas me

ajudaram a ampliar a teoria e a repensar as práticas nestes espaços fora da escola – um

trabalho de intervenção pedagógica na disciplina Pedagogia II, com as professoras Julia Silber

e Marina Barcia, e a realização da disciplina eletiva Seminário de Educação Popular e

Promoção da Saúde, com as professoras Maria del Carmen Cosentino, Ana Dumrauf e Silvina

Cordero. Essas disciplinas permitiram que eu ampliasse meu acervo teórico e refletisse sobre

as diferentes práticas educacionais.

Nesse mesmo ano, comecei atuar como militante em um Coletivo de Educação

Popular chamado La Casa3, onde ainda trabalho. Nos anos seguintes, nesse espaço

educacional além da escola, aprofundei-me sobre as diferentes práticas nos espaços não

formais e suas especificidades, e constatei a escassa formação no meu curso para atuar nessa

experiência.

Por isso, continuei meus estudos, no ano de 2013, na Especialização em Educação

Sócio-Comunitária na Universidad Tecnologica de Buenos Aires4. Realizei meu trabalho de

final de curso sobre as relações da educação popular e a educação não formal na Argentina.

Nesse ano, comecei a trabalhar como professora na Universidad Nacional de Quilmes5, no

curso de Economia Social e Solidária, na disciplina Pedagogia social, o que fez com que

1 Na Argentina, os restaurantes comunitários surgiram há mais de 30 anos como espaços criados para dar solução

ao problema do acesso à alimentação no país. São situados, geralmente, em escolas públicas e bairros

periféricos. 2 A Universidad Nacional de La Plata é uma universidade pública situada na Província de Buenos Aires.

Fundada em 1905, é uma das primeiras universidades do país. O curso de Ciências da Educação foi criado em

1914, tendo, portanto, mais de 100 anos de história. 3 O Coletivo de Educação Popular “La Casa” abriu suas portas em 2013. Na atualidade, trabalha com oficinas

para crianças, jovens e adultos num bairro periférico da cidade de La Plata. 4 A Universidad Tecnológica de Buenos Aires é uma universidade pública. Foi fundada em 1948, na cidade de

Buenos Aires. 5 A Universidad Nacional de Quilmes é uma universidade pública da Argentina, situada na cidade de Bernal.

18

inclinasse meu trabalho, dentro e fora do sistema de ensino, para uma temática particular, a

educação não escolar.

Interessada em conhecer o que acontecia nesta área no Brasil, tendo como referência

Paulo Freire e as diferentes experiências fora da escola, continuei meus estudos, ingressando

no Programa de Pós-graduação em Educação na Universidade Federal de Ouro Preto, com

uma bolsa da OEA e do Grupo Coimbra. Pretendia estudar em profundidade os pesquisadores

que têm estudado a educação não formal no país e as práticas existentes.

Assim, nessa trajetória de vivências, tenho participado de diferentes experiências,

como congressos, seminários e conversas com colegas, e sempre uma pergunta me

acompanhou: Como são formados os pedagogos e as pedagogas para atuar nos espaços não

formais e como tem sido a sua atuação nesses espaços?

Propondo-me conhecer mais sobre a tarefa que eles desenvolvem nesses espaços

educativos e, assim, contribuir na reflexão sobre a formação dos pedagogos, quatro perguntas

orientaram esta pesquisa: Como surge e se desenvolve a educação não formal no Brasil?

Quem são os pedagogos e pedagogas que trabalham nos espaços não formais na Região dos

Inconfidentes? Como tem sido a formação dos pedagogos e das pedagogas que atuam em

espaços além da escola? Como tem sido a atuação dos pedagogos e das pedagogas que

trabalham em projetos educacionais com crianças e jovens na Região dos Inconfidentes?

Esta pesquisa teve, portanto, como objetivo identificar e analisar a formação e a

atuação dos(as) pedagogos(as) que trabalham na educação não formal, focalizando aqueles

que atuam em projetos educacionais com crianças e jovens na Região dos Inconfidentes.

Por sua vez, foram seus objetivos específicos:

- Contextualizar o conceito de educação não formal e caracterizar seu desenvolvimento no

Brasil;

- Identificar as experiências de educação não formal realizadas em projetos educacionais com

crianças e jovens na Região dos Inconfidentes;

- Conhecer quem são os pedagogos e pedagogas que trabalham nos espaços não formais na

Região dos Inconfidentes;

- Conhecer a formação inicial e continuada em serviço dos pedagogos e pedagogas que atuam

nestes espaços;

- Identificar e analisar a atuação desenvolvida pelos pedagogos e pedagogas que trabalham em

projetos educacionais com crianças e jovens na Região dos Inconfidentes.

19

Selecionamos seis espaços de educação não formal onde trabalham oito pedagogas.

Esses espaços têm sua sede em Mariana e Ouro Preto, duas cidades da Região dos

Inconfidentes. Estas experiências educacionais não formais são projetos educacionais que

trabalham em diferentes áreas: educação especial, educação artística, biblioteca, casa lar6 e

centro de recreação. Em todos eles participam crianças e jovens de diferentes idades em

atividades variadas.

No primeiro capítulo, Definindo o conceito de educação não formal, apresentamos o

conceito de educação não formal segundo diferentes autores da Europa e da América Latina e

nos aprofundamos sobre o contexto de surgimento das experiências de educação fora da

escola. Também refletimos sobre a relação entre educação não formal e a Pedagogia Social no

Brasil, como campo ainda em construção.

Já em Formação inicial e continuada do(a) pedagogo(a) e seus campos de atuação

no Brasil analisamos o conceito de formação inicial e continuada, aprofundando-nos nas

políticas educacionais atuais que orientam a licenciatura em Pedagogia nas universidades do

país, focalizando o lugar da educação não formal. Logo, refletimos sobre diversificação do

campo de atuação dos pedagogos na atualidade, citados os novos e diversos espaços onde os

pedagogos e pedagogas podem se desenvolver profissionalmente.

No capítulo O que dizem as pesquisas sobre a educação não formal, apresentamos

um mapeamento e análises das pesquisas sobre educação não formal nos sites da IBICT,

ANPED e CAPES, nos últimos dez anos, segundo a última data de publicação de cada banco

de teses e dissertações. Destacamos os programas onde foram realizados, os anos de

apresentação e a universidade, e também analisamos aquelas que têm, como temática, a

atuação e formação de pedagogo da educação não formal.

O capítulo O percurso metodológico contém o caminho metodológico percorrido

durante a investigação. Recorrendo a uma abordagem qualitativa, realizamos uma pesquisa

bibliográfica e a pesquisa de campo. Foram utilizados, nessa última, como instrumentos de

coleta de dados: questionários e entrevista semiestruturada. Em seguida, apresentamos o

processo de análise dos dados coletados.

No capítulo Formação e atuação dos(as) pedagogos(as) na educação não formal,

desenvolvemos a apresentação e a análise dos dados, apresentamos o perfil dos(as)

pedagogos(as) que trabalham nos espaços de educação não formal que participam da

pesquisa, assim também como a sua formação e atuação nessas instituições de educação para

6 ONG que acolhe crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e pessoal encaminhadas pelo

Juiz da Infância e Conselho Tutelar.

20

além da escola. A análise foi feita a partir dos dados obtidos pelos questionários e entrevista

semiestruturada realizadas com os pedagogos e pedagogas durante o ano 2015 e 2016, nas

cidades de Mariana e Ouro Preto.

No final da dissertação, apresentamos as considerações finais construídas a partir dos

achados da pesquisa.

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Definindo o conceito de educação não formal

As transformações sociais, políticas, econômicas e culturais acontecidas desde os anos

1970 influenciaram no conceito de educação e ampliaram o olhar sobre a mesma. Autores

como Coombs (1968), Trilla (1985; 1992; 1993; 2008), Afonso (1992), Brusilovsky (1992),

Torres (1992), Libâneo (1999), Gohn (1999; 2006; 2010) e Sirvent (2006) tentaram organizá-

lo, definindo e descrevendo, de diferentes formas, todas as práticas educacionais realizadas

em diversos espaços, objetivos, sujeitos, tempos e realidades, bem como dividindo e

discutindo o conceito em três categorias à educação: formal, não formal e informal.

A divisão tripartite para organizar as práticas educacionais foi popularizada

internacionalmente por Coombs e Ahmed (1974), e trazida para a América Latina por Jaume

Trilla Bernet (1985; 1993; 2008) em suas diferentes publicações. Segundo este autor, a

educação formal pode ser definida como a educação incluída em um sistema regulado,

constituído por uma estrutura educacional graduada e hierárquica que emite certificação

acadêmica. Enquanto a educação não formal é um conceito muito mais amplo, já que é aquela

que tem uma finalidade educacional específica e é organizada, mas não faz parte do sistema

escolar formal. E a informal, por sua vez, é aquela proveniente da experiência, mas que não é

intencional.

Segundo Gohn (2010), foram deste autor e de Afonso (1992) as referências

internacionais, utilizadas no Brasil, na literatura sobre a temática do conceito de educação não

formal que influenciaram na utilização da expressão no discurso pedagógico brasileiro.

Afonso (1992) marca a diferença entre os processos educacionais desenvolvidos em

espaços formais e as novas formas de educação e contextos de aprendizagem fora da escola

tradicional. Estes devem ser abordados como um novo objeto de estudo da Sociologia, com o

fim de analisar as associações democráticas para o desenvolvimento, onde se situam as

experiências não escolares. Para sistematizar a sua posição, apresenta um quadro com

algumas caraterísticas das escolas de caráter mais tradicionais e outras experiências

educacionais de caráter mais democráticas.

Neste caso, apresentaremos estas últimas, sendo aquelas com experiências mais

voltadas para a educação não formal. Segundo Afonso (1992), nestas instituições se

22

desenvolvem práticas de caráter voluntário e poucos formalizadas, por meio da proposição de

espaços que favoreçam a participação descentralizada e pouco hierarquizada. Suas atividades

e projetos procuram promover a participação e a solidariedade, visando ao desenvolvimento

dos sujeitos e tendo como objetivo principal a mudança social.

O autor apresenta uma visão sobre os dois tipos de educação e, ao fim de seu texto,

afirma que novos processos educativos constituem novos problemas a serem abordados como

objeto de estudo da Sociologia da Educação, propondo a criação de uma sociologia não

escolar.

Segundo outro autor, Trilla (1985, p. 22), a educação não formal pode se definir como:

[...] conjunto de meios e instituições que geram efeitos educacionais a partir de

processos intencionais, metódicos e diferenciados, que contam com objetivos

pedagógicos prévia e explicitamente definidos, desenvolvidos por agentes cujo papel

educacional está institucionalmente ou socialmente reconhecido, e que não faz parte

do sistema educacional graduado ou que fazendo parte deste, não constitui formas

estrita e convencionalmente escolares.

As práticas de educação não formal podem ocorrer em vários âmbitos, quais sejam: o

da formação ligada ao trabalho, o da educação social, o de cultura e lazer, e a própria escola.

Além da diversidade de âmbitos, existe uma multiplicidade de objetivos e de conteúdos, já

que estes são contextualizados e adaptados às necessidades dos participantes e à sua realidade.

A formação dos educadores e seu status profissional são mais flexíveis, assim como os

tempos, espaços e metodologias utilizados para desenvolver as atividades e para cumprir com

os propósitos estabelecidos. Quanto à gestão, não existe uma hierarquia piramidal e os

educadores participam da mesma. O financiamento provém de órgãos públicos e privados,

nacionais e internacionais.

Trilla (2008) afirma que, existindo diferenças entre os tipos de educação – formal, não

formal e informal –, existem também interações, podendo-se gerar pontes e coordenação entre

distintas propostas pedagógicas.

Gohn (2010, p. 33) também propõe que sejam articulados e não opostos, assegurando-

se a importância da educação formal como direito conquistado. Ele define a educação não

formal como:

[...] um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação da cidadania,

entendendo o político como a formação do indivíduo para interagir com o outro em

sociedade. Ela designa um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e

produção de saberes, que envolve organizações/instituições, atividades, meios e

formas variadas, assim como uma multiplicidade de programas e projetos sociais.

23

Segundo esta autora, sua concepção articula-se ao campo da educação cidadã, proposta

por Gadotti, uma educação voltada para a formação de sujeitos livres, emancipados,

portadores de direitos e de deveres para com o outro.

Os objetivos da educação não formal poderiam se resumir em sete, sendo: educação

para a justiça social, para a igualdade e diversidade cultural, contra qualquer forma de

discriminação, para a liberdade, para direitos, para democracia e educação pelo exercício da

cultura e das diferenças culturais. Esses objetivos não são oferecidos previamente, ou seja, se

constroem no processo interativo por meio de práticas educacionais em diferentes espaços nos

quais se observa a participação da sociedade civil: os movimentos sociais, as ONGs, fóruns e

assembleias, e estruturas colegiadas institucionalizadas – campos que, por meio de sua luta e

da construção de projetos sociais, são reconhecidos na América Latina e no mundo.

Como áreas de abrangência, Gohn (1999, p. 98) designam-se seis campos ou

dimensões da educação não formal:

O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto

cidadãos, isto é, o processo que gera a conscientização dos indivíduos para a

compreensão de seus interesses e do meio social e a natureza que o cerca, por meio

da participação em atividades grupais. Participar de um Conselho de escola poderá

desenvolver essa aprendizagem. O segundo, a capacitação dos indivíduos para o

trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de

potencialidades. O terceiro, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os

indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de

problemas coletivos cotidianos. [...] O quarto, e não menos importante, é a

aprendizagem dos conteúdos da escolarização formal, escolar, em formas e espaços

diferentes. [...] O quinto é a educação desenvolvida na e pela mídia, em especial a

eletrônica. Os educadores não têm dado muita atenção a essa modalidade.

Finalmente, deve-se registrar ainda o campo da educação para a vida ou para a arte

de bem viver.

Na educação não formal, as diferentes aprendizagens sobre os direitos, para o trabalho,

para a resolução de problemas coletivos, dos conteúdos escolares, os desenvolvidos pela

mídia e a educação para a vida produzem aprendizagens e saberes dos seguintes tipos: prática,

teórica, técnico instrumental, política, cultural, linguística, sobre economia, simbólica, social,

cognitiva, reflexiva e ética. Esses saberes se constroem por meio de diferentes práticas

educacionais intencionais, contextualizadas e coletivas, nas quais, usualmente, a participação

dos indivíduos é optativa, sendo o diálogo o fio condutor da formação dos sujeitos.

Nesta formação, Gohn (2008) reconhece o trabalho do educador social, como um

elemento estratégico nas experiências coletivas propostas pela educação não formal. Seu

papel é fundamental na construção de propostas participativas de qualidade, que partem do

território no qual intervêm, gerando processos educacionais tendo em conta o contexto, os

24

valores, os saberes e os pertencimentos da comunidade local, e o direito ao acesso a

conhecimentos e à informação historicamente acumulada.

Seguindo a Pedagogia de Paulo Freire haveria três fases bem distintas na construção

do trabalho do educador social, a saber: elaboração do diagnóstico do problema e

suas necessidades, a elaboração preliminar da proposta de trabalho propriamente dita

e o desenvolvimento e complementação da proposta envolvendo a comunidade

complementar com a sua participação do processo de participação de um grupo ou

toda a comunidade de um dado território, na implementação da proposta (GOHN,

2008, p. 51).

Nessas três fases, o trabalho do educador social na educação não formal baseia-se na

escuta, no diálogo e no respeito pelo outro, por seus saberes e sonhos. Tais fases objetivam

dinamizar propostas educacionais que criem cenários futuros e a reconstrução do tecido social

existente.

Assim, como resultados que poderão desenvolver a educação não formal, Gohn (2008,

p. 21) explica uma série de processos:

- Consciência e organização de como agir em grupos coletivos;

- A construção e reconstrução de concepção(ões) de mundo e sobre mundo;

- Contribuições para um sentimento de identidade com uma comunidade dada;

- Forma o indivíduo para a vida e suas adversidades (e não apenas o capacita para

entrar no mercado de trabalho);

- Quando presente em programas com crianças ou jovens adolescentes, a educação

não formal resgata o sentimento de valorização de si próprio [...];

- Os indivíduos adquirem conhecimentos a partir de sua própria prática, os

indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca;

- Desenvolve a cultura política do grupo.

A educação não formal com a meta da formação cidadã, partindo dos interesses

coletivos em um território particular, defende os objetivos das práticas educacionais, os

conteúdos e temas, as atividades, os resultados, os espaços e tempos, embora ainda apresente

lacunas em sua metodologia.

Outro autor que se baseia na visão tripartite é Libâneo (1998), que afirma que a

educação é uma prática social, sendo um fenômeno plurifacetado, composto por uma

multiplicidade de práticas, com diferentes finalidades, atores e espaços. Segundo o autor,

existem duas modalidades da educação, a não intencional (informal) e a intencional (formal e

não formal), que se diferenciam, mas também se complementam. Ao definir a educação não

formal, explica que são atividades educacionais com baixo grau de sistematização e

estruturação, que implicam em relações pedagógicas não formalizadas, produzidas em

movimentos sociais, em meios de comunicação, no campo, no trabalho, em agências

25

formativas etc. Esses seriam espaços onde os pedagogos e as pedagogas, como profissionais

da educação, poderiam atuar e se desenvolver.

Todas essas características fazem da educação não formal um campo heterogêneo no

qual uma multiplicidade de práticas educacionais, democráticas e autoritárias se misturam.

Assim sendo, Trilla (2008, p. 143) adverte que:

Em realidade, salvo em aspetos que caracterizam diferencialmente a educação

formal e a não formal, esta última pode, em seu caso, abrigar idênticos males, que,

em seu caso, podem-se à primeira. A educação não formal pode ser tão classista,

alienante, burocrática, ineficaz, onerosa, obsoleta, manipuladora, estereotipada,

uniformizadora etc. como pode ser a formal.

Nessa perspectiva, Brusilovsky (1994) reflete sobre a educação não formal e identifica

duas visões polares em torno do conceito, ou seja, aqueles que a defendem como uma

verdadeira educação alternativa e democrática; e os críticos a ela, que pensam que se trata de

uma educação inferior, que alivia o Estado de sua responsabilidade. Segundo a autora, pensar

as experiências de educação para além da escola como um campo homogêneo é ter um olhar

parcial do mesmo, já que não se analisaria a tensão que existe nesse campo.

Nos anos 1970, quando se começou a utilizar a classificação tripartite de educação

(educação formal, educação não formal e educação informal), existia uma forte crítica à

escola como aparelho reprodutor da ordem social7. As experiências de educação não formal,

na sua maioria, surgiram como projetos político-pedagógicos que tinham o objetivo da

transformação social e a comunidade tinha uma participação militante.

Entorno das vivencias da educação social e a escola, o campo da educação não formal

tem se ampliado, e com ele, os objetivos peculiares das experiências de educação não formal.

Segundo Moura e Zuchetti (2006, p. 230), “[...] entendemos que esta nomeação pode

constituir um importante limitador para a análise das inúmeras experiências de educação fora

da escola e sua relação com o complexo contexto atual”. Ou seja, assim como existem

projetos educacionais que têm o propósito da transformação social e da educação cidadã,

existem muitos outros projetos que reproduzem as desigualdades sociais no sistema

capitalista. Dessa forma, encontramos diferenças naqueles que trabalham e participam nesses

espaços, assim como as metodologias e técnicas que utilizam a relação com o Estado, com os

órgãos que os financiam, os espaços e ambientes onde se desenvolvem, entre outras.

7 Segundo Louis Althusser (1971) a escola é Aparelho ideológico do Estado. Uma das instituições criadas pela

classe dominante, com o fim da reprodução da sociedade capitalista, mediante o ensino de conhecimentos

necessários para o funcionamento e mantimento do sistema produtivo.

26

Portanto, é necessário uma análise mais aprofundada para compreender cada um das

experiências educacionais. Para Brusilovsky (1994), para entender as possibilidades e

contradições do campo, dependerá do sentido de cada proposta educacional não formal. Para

isso, propõe algumas perguntas para refletir e analisar cada experiência em particular: quais

são seus objetivos? Que conhecimentos e saberes constroem? Que participação promove aos

seus sujeitos? Qual é o âmbito no qual se desenvolve a participação? Que efeito produz na

realidade? Qual é a sua vinculação com o Estado? Que valores promovem?

Embora existam, na atualidade, diversos debates sobre o conceito de educação não

formal e a proposta de novas categorias para definir as experiências que acontecem para além

da escola, neste trabalho, utilizamos a classificação tripartite de educação: formal, não formal

e informal. Optamos por essa classificação já que tem sido a forma de nomeá-la no campo

acadêmico brasileiro, através das investigações, de trabalhos apresentados em seminários,

congressos e reuniões, assim como em artigos em revistas e livros, dos pesquisadores do país.

2.1.1 Contextualização da Educação não formal

A educação não formal surgiu e começou a se expandir, no mundo ocidental, a partir

dos anos 1960 e 1970 (TRILLA, 2008; GOHN, 2008), num contexto econômico, político,

social e educacional influenciado por um momento particular, de crises: do modelo capitalista,

das instituições governamentais, do sistema escolar e do modelo tradicional de família.

Dessa forma, objetivando a compreensão de experiências não formais, é necessário

analisar o que tem acontecido na realidade mundial e brasileira, com os seus modelos

econômicos e sua influência na vida social, política e cultural.

Bresser Pereira (2009) afirma que as sociedades modernas ocidentais são capitalistas e

têm se organizado em Estados-Nação soberanos. Mas o relacionamento entre o mercado e o

Estado tem sido diferente, segundo os modelos de produção adotados pelos diferentes países.

Dos modelos existentes, têm sido hegemônicos, no último século, o Estado de Bem-Estar

Social, passando para o Estado neoliberal e, atualmente, tem sendo debatido, por diferentes

autores, sua implementação ou não em cada realidade.

O Estado de Bem-Estar Social propôs uma complementariedade entre o Estado e o

mercado, entre democracia e sistema capitalista, no qual o Estado, através de suas

intervenções, fomenta o desenvolvimento social e econômico dos países (BRESSER

27

PEREIRA, 1997; 2009). No que refere ao mercado econômico, se aprofunda o fordismo,

pensado desde um modelo de administração keynesiano8, e se estabelece o crescimento do

mercado interno e a substituição das importações. O Estado se apresenta como o regulador da

economia, gerando políticas protecionistas, proporcionando o bem-estar dos trabalhadores,

fornecendo saúde, educação, seguridade social, salário mínimo, entre outras. Incorporam-se

novos direitos sociais aos políticos e civis já existentes (TORRES, 1995).

Embora as formas de intervencionismo estatal tenham sido implementadas de

diferentes formas nos países, Harvey (1992, p. 130) assegura que:

Mas notável é a maneira pela qual governos nacionais de tendências ideológicas

bem distintas – gaullistas, na França, trabalhistas na Grã-Bretanha, democrata-

cristão, na Alemanha Ocidental etc. – criam tanto um crescimento econômico estável

como um aumento dos padrões materiais de vida através de uma combinação de

estado de bem-estar social, administração econômica keynesiana e controle de

relações de salário. É claro que o fordismo dependia da assunção pela nação-Estado

– como Gramsci previra – de um papel muito especial no sistema geral de

regulamentação social.

A partir dos anos 1970, esse modelo de economia e de Estado entrou em crise,

propondo-se o neoliberalismo como alternativa econômica, social, política e cultural.

O papel do Estado se reconstruiu, diminuindo-se a sua intervenção na economia, na

regulação do mercado e na garantia dos direitos sociais estabelecidos décadas passadas,

transformando-se num Estado gestor.

O neoliberalismo, na América Latina, ganhou impulso durante as últimas ditaduras

militares em todo o território, e se estabeleceu definitivamente nos anos 1990, por meio dos

tratados de livre comércio, como a ALCA. Esse modelo econômico é caracterizado pela

abertura das barreiras de diferentes investidores com capital estrangeiro, por meio da

estimulação dos créditos e benefícios, pela privatização de bens e serviços estatais, pela

redução do gasto público e pela flexibilização do trabalho. Segundo Torres (1995, p. 108),

o propósito deste pacote de políticas públicas é, a curto prazo, a redução do tamanho

do déficit fiscal e o gasto público, da inflação e das taxas de câmbio e tarifas. A

médio prazo, o ajuste estrutural baseia-se nas exportações como um motor para o

desenvolvimento. Neste sentido, as políticas de estabilização ajuste estrutural

buscam liberar o intercâmbio internacional, reduzir qualquer distorção na estrutura

de preços, terminar com as políticas protecionistas e, consequentemente, facilitar o

predomínio do mercado nas economias latino-americanas.

8 “Modalidade de intervenção do Estado na vida econômica, com a qual não se atinge totalmente a autonomia da

empresa privada, e que prega a adoção, no todo ou em parte, das políticas sugeridas na principal obra de Keynes,

A teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936). Tais políticas propunham solucionar o problema do

desemprego pela intervenção estatal, desencorajando o entesouramento em proveito das despesas produtivas, por

meio da redução da taxa de juros e do incremento dos investimentos públicos” (SANDRONI, 1999, p. 324).

28

Os distintos programas e políticas públicas, na América Latina, são propostos,

controlados e financiados por diferentes planos e estratégias de organismos internacionais,

como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, por meio de diferentes

reuniões, orientações e programas, que abordam não só o plano econômico, senão também o

político, cultural, educacional, social, entre outros; tendo, em cada país, diferente influência e

efeito. Segundo Torres (1995), um dos elementos principais para se entender o

desenvolvimento da política neoliberal é a globalização do capitalismo, que gera uma

restruturação da economia mundial e propõe a globalização desta, e da tecnologia, ciência e

cultura, construindo uma nova estrutura no mercado do trabalho e na cotidianidade social.

Gohn (1999) afirma que a globalização econômica é um novo sistema de poder, que cria

novas formas de dominação.

Com o neoliberalismo como modelo econômico, se instaura uma nova ideologia, que

permeia toda a sociedade. Valores como consumismo: individualismo, competência, a

eficiência e eficácia, flexibilidade, entre outros, são propostos como necessários para se

adaptar ao novo mundo. Mundo no qual, segundo Frigotto (2003), se estabelece uma nova

organização social denominada sociedade de conhecimento, na qual a formação começa a ser

imprescindível para desenvolve-se nela. Druker (1999), por sua vez, adverte que o novo

profissional precisa de habilidades cognitivas e competências que lhe permitam transformar

criativamente as diferentes informações em conhecimento e, assim, poder resolver problemas

e melhorar a qualidade do seu trabalho.

Segundo Anderson (1997), o neoliberalismo economicamente fracassou, mas foi um

sucesso social, político e ideológico.

Algumas das consequências desse modelo hegemônico, na América Latina, foram o

aumento na brecha entre classes sociais, que gerou mais desigualdade e exclusão nos povos; o

aumento dos índices de pobreza e desnutrição; o aumento da privatização do ensino; a

exploração dos trabalhadores; a corrupção nos governos; entre outras. Borón (1997, p. 43)

analisa o legado do neoliberalismo como ideologia dominante e afirma que ele tem produzido

una sociedad heterogénea y fragmentada, surcada por profundas

desigualdades de todo tipo clase, etnia, género, religión, etc. que fueron

exacerbadas con la aplicación de las políticas neoliberales. Una sociedad de

“los dos tercios”, o una sociedad “a dos velocidades”, como suele ser

denominada en Europa, porque hay un amplio sector social, un tercio excluido y

fatalmente condenado a la marginación y que no puede ser “reconvertido”

laboralmente ni insertarse en los mercados de trabajo formales de los

capitalismos desarrollados. Esta creciente fragmentación de lo social que

29

potenciaron las políticas conservadoras fue a su vez reforzada por el

formidable avance tecnológico y científico y su impacto sobre el paradigma

productivo contemporáneo.

Neste contexto de mudanças econômicas, culturais, sociais e educacionais, Gohn

(1999) explica que a educação é uma área fundamental por duas razões, por um lado, já que,

com ela, é possível enfrentar os desafios propostos pela globalização, numa sociedade do

conhecimento e com o avanço da tecnologia; por outro, por se tratar de uma ferramenta para

promover o acesso aos excluídos aos direitos de cidadania. Assim, propõe começar a entender

a educação como um conceito amplo, que abarca diferentes espaços, formais e não formais.

A Educação ganha importância na era da globalização porque o elevado grau de

competitividade ampliou a demanda por conhecimento e informação [...]. A

Educação ganha também centralidade nos discursos e políticas sociais porque

competirá a ela ser um instrumento de democratização, num mercado de escolhas e

oportunidades (GOHN, 1999, p. 12).

Trilla (2008) também afirma que a educação é fundamental neste novo contexto,

Segundo ele, foi nos anos 1970 que começaram a existir diferentes discursos pedagógicos que

reconheceram o limite da escola para abordar todas as necessidades exigidas à educação. O

autor, ao analisar o contexto real no qual surgiram as diferentes experiências fora da escola,

expõe que diferentes fatores econômicos, sociais, tecnológicos, entre outros, geram novas

necessidades educacionais e, com elas, novas práticas pedagógicas não formais para satisfazê-

las. Entre esses fatores, descrevem-se sete:

- O crescente aumento da demanda de educação em face da incorporação de setores

sociais tradicionalmente excluídos dos sistemas educacionais convencionais

(adultos, idosos, mulheres, minorias étnicas etc.);

- Transformações no mundo do trabalho [...];

- Ampliação do tempo livre [...];

- Mudanças na instituição familiar em outros aspectos da vida cotidiana [...];

- Presença crescente dos meios de comunicação de massa na vida social,

evidenciando a real onipresença da ação educativa e a necessidade de ampliar a

atenção pedagógica antes centrada quase exclusivamente na escola, bem como a

pertinência de rediscutir até mesmo sua função;

- Desenvolvimento de novas tecnologias, que permitem conceber processos de

formação e aprendizagem, à margem dos sistemas presenciais da escolaridade

convencional;

- Crescente sensibilidade social para a necessidade de implementar ações educativas

em setores da população em conflito, socioeconomicamente marginalizados,

deficientes etc., seja como aspiração de avanço na justiça social e no Estado de

Bem-Estar, seja buscando a pura funcionalidade do controle social (TRILLA, 2008,

p. 19).

30

Outro dois fatores, segundo Gohn (2008), que influenciaram na construção destas

experiências educacionais foram as diferentes contribuições de pesquisadores na área

educacional e as diferentes conferências internacionais, promovidas pela ONU e pela

UNESCO, e os documentos9 produzidos nestas, nos anos 1990, que promoveram um novo

olhar sobre a educação, abrindo o campo para outras experiências fora da escola.

Resumindo, os fatores que influenciaram na construção da educação não formal

podem derivar-se da crise do capitalismo, da globalização econômica e cultural, das mudanças

no campo do trabalho, do avanço tecnológico, da construção de uma sociedade da informação

e conhecimento. Assim também como o aprofundamento da desigualdade e a exclusão social,

a ampliação dos direitos da cidadania, a crise da escola, as transformações na instituição

familiar, a ampliação do tempo livre, o aporte pedagógico de diferentes acadêmicos,

educadores e documentos internacionais realizados.

Nesta época de mudanças econômicas, social, cultural e politico existem espaços de

resistência que surgem da critica do sistema capitalista e busca a transformação do mesmo a

través de diferentes ações. Assim na educação existem experiências contra hegemônicas que

criam tensões dentro do proposto pelo neoliberalismo.

Freire (2003, p. 29) ao falar do neoliberalismo e a globalização nós diz que:

Uno de los grandes desafíos que tenemos que afrontar hoy es esta confrontación con

esta ideología inmovilista. No hay inmovilismos en la historia. Siempre hay algo que

podamos hacer y rehacer. Ustedes habrán visto que la globalización aparece como

una especie de entidad abstracta que se creó a sí misma de la nada y frente a la cual

nada podemos.

Os fatores apresentado que se desenvolveram durante os últimos quarenta anos

abarcam todos os espaços da vida humana e todas as classes sociais. Neste contexto coloca-se

a educação num lugar central na cotidianidade das pessoas, necessitando-se de outras

propostas educacionais, além das formais construídas historicamente para a função de

formação dos sujeitos.

2.1.2 Pedagogia Social e a educação não formal no Brasil

9 Declaração mundial sobre educação para todos (1990) e Plano de ação para satisfazer necessidades básicas da

aprendizagem (1990).

31

De acordo com as contribuições de Silber (2007), desde uma perspectiva crítica, a

Pedagogia pode ser definida como uma disciplina que tem como campo de estudo a educação.

Esta constrói um saber teórico-prático mediante a reflexão e a análise de práticas educativas,

que pensam critérios de intervenção sobre a prática com o fim da formação.

Contiene así la pedagogía la doble tarea de teorización e intervención. (SILBER,

2000). La educación se localizaría en la dimensión más reflexiva, teórica y

comprensiva de la pedagogía y la intervención y la formación en la dimensión más

propositiva, normativa, operativa, esperanzadora y utópica. Pero ambas dimensiones

son indisolubles y sólo la finalidad de profundizar el análisis reconoce la

diferenciación (SILBER, 2007, p. 5).

Já Pimenta (2012) argumenta que a Pedagogia é uma ciência que tem como objeto de

estudo e exercício profissional a prática social da educação, sendo abordada também por

outras ciências devido à sua complexidade.

Outro autor que nos ajuda a pensar a Pedagogia é Libâneo (1998, p. 30), que afirma se

tratar de:

[...] um campo de conhecimento sobre problemática educativa na sua totalidade e

historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O

pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos

sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e

metodológicas da ação educativa.

Dois enfoques se podem distinguir nesta multiplicidade de experiências educacionais.

Temos, por um lado, a Pedagogia escolar com seu campo de estudo específico, a educação

escolar (LIBÂNEO, 1998), por outro, a Pedagogia Social centrada nas experiências

educativas não formais. Da Silva (2009, p. 23) destaca que,

os contornos iniciais da Pedagogia Social circunscrevem o universo conhecido como

educação não formal: as práticas educativas desenvolvidas por movimentos sociais,

organizações não-governamentais, programas e projetos sociais, sejam públicos ou

privados.

No Brasil, tem se procurado discutir a Pedagogia Social desde o pensamento

decolonial10

, já que ainda se apropria de um conceito já existente, na Europa, para reconstruir

desde uma visão latino-americana. Percebe-se, assim, a necessidade da construção de saberes

10 Propõe um giro epistêmico que questiona o pensamento e a construção do saber desde um olhar

colonial/eurocêntrico. Propõe, como forma de resistência, a abertura para um pensamento alternativo que

reivindique os conhecimentos, pensamentos, posicionamentos de aqueles que têm sido historicamente oprimidos.

Saberes construídos desde uma visão latino-americana e à sua história (MIGNOLO, 2005).

32

sobre essa temática, desde o contexto, a realidade, as práticas educacionais brasileiras.

Segundo Ribas Machado (2010), as concepções de Pedagogia Social no mundo são muito

diversificadas e se fundamentam em diferentes compreensões de sociedade, tendo como

objetivo a mudança ou a conservação da mesma, propondo distintas metodologias, práticas e

discussões na área. Segundo o autor, são apresentadas quatro perspectivas para esse conceito:

A primeira é chamada de ajuda à juventude, que compreende a ideia de que a

Pedagogia Social deve ocupar-se dos aspectos educativos, profissionais e culturais

relativos à juventude; a segunda é o entendimento da área como higiene social, em

que são enfatizadas questões sobre ajudar os grupos em suas necessidades sociais,

sem nenhuma outra preocupação; a terceira perspectiva é referente à ideia da

Pedagogia Social como fator de emancipação, advinda da Escola de Frankfurt, que

se entende como liberação das limitações impostas pela divisão de classes; e a quarta

perspectiva diz respeito à concepção positivista da Pedagogia Social que apenas

considera fatos sociais comprovados cientificamente, ou seja, as questões de valores,

normas e finalidades da educação compreendem algo subjetivo que não dizem

respeito à cientificidade almejada, não sendo, portanto, considerados (RIBAS

MACHADO, 2010, p. 145).

Segundo Caliman (2010, p. 345), as primeiras práticas de Pedagogia Social começam

nos anos 1970, com as experiências de alfabetização de adultos, movimentos de educadores

de rua, os movimentos sociais, entre outras.

A dimensão prática da educação social que não ocorre necessariamente “nas

instituições de ensino e pesquisa” sempre foi muito intensa no Brasil, sobretudo a

partir dos anos 1970. A dimensão teórica da educação social, que há pouco mais de

uma década parecia uma lacuna, passa a ser uma realidade a partir do esforço de

sistematização teórica da pedagogia social no Brasil [...].

Então, embora já existam experiências no campo da Pedagogia Social no Brasil,

começa a se aprofundar o campo teórico em 2005, com a organização do Congresso

Internacional de Pedagogia Social e sua posterior realização em 2006, em São Paulo, quando

diferentes pesquisadores e educadores sociais procuraram a legitimação dessa área

educacional como campo de conhecimento, formação profissional e acadêmica11

. Caliman

(2010, p. 363) afirma que a Pedagogia Social que se está construindo no país se aproxima a

uma concepção emancipadora dos sujeitos, a qual denomina pedagogia social crítica.

Uma versão da Pedagogia Social crítica vê a educação social não exatamente como

uma resposta às necessidades emergentes, a partir de ações compensatórias, mas sim

a partir de ações propositivas e preventivas, acionadas antes mesmo que os

11

A primeira tese de doutorado no campo da Pedagogia Social foi a de Maria Stella Graciani (1998), intitulada

Pedagogia Social da rua, com orientação do Prof. Dr. Moacir Gadotti, pelo Programa de Pós-graduação da USP.

33

problemas aconteçam, através da solidariedade e da responsabilidade social dos

cidadãos.

Identifica-se como umas das principais referências o educador Paulo Freire, embora

este não tenha utilizado o conceito Pedagogia Social, sua concepção político-pedagógica de

educação é reconhecida como a base para pensar e analisar as experiências e conhecimentos

construídos na área, desde uma perspectiva de transformação social e esperança.

Graciani (2014), ao definir a Pedagogia Social, reflete sobre a realidade brasileira, a

qual afirma que é um elemento básico para se entender a sua constituição. Pondo ênfase nos

efeitos gerados pelo sistema capitalista neoliberal, reconhece, como temas principais, a

pobreza, a exclusão social e a desigualdade. Assim, explica que a exclusão social, econômica,

cultural, política e educativa de um setor da população, junto com a promoção de uma

sociedade consumista e individualista, fizeram surgir diferentes práticas socioeducativas

transformadoras, que abriram passo ao campo de estudo, intervenção e formação em

Pedagogia Social:

Visando transformar as condições de opressão existentes na sociedade, a Pedagogia

Social se caracteriza como uma ciência transversal aberta às necessidades populares

que busca enraizar-se na cultura dos povos para, dialeticamente, construir outras

possiblidades [...] (GRACIANI, 2014, p. 20).

Segundo a autora, a Pedagogia Social contrapõe-se a todo modelo assistencialista, e

propõe um trabalho coletivo entre educadores e educandos, baseado em quatro dimensões: a

democrática, que faz referência ao empoderamento de todos os sujeitos como protagonistas

das diferentes práticas sociais e educativas; a participativa, centra-se no respeito pela

contribuição da cada pessoa, fomentando uma visão pluralista; a solidária, que promove a

construção coletiva de saberes, entrelaçando conhecimentos técnicos, populares e científicos;

e a transformadora, que procura construir um projeto político-pedagógico em conjunto.

Dessa forma, o projeto político-pedagógico da Pedagogia Social:

- Precisa nascer da realidade vivida pela comunidade;

- Deve favorecer um processo educativo no qual a análise, a interpretação e a crítica

promovam o confronto entre os vários possíveis pontos de vista dos educandos;

- Possibilita a elaboração das atividades de acordo com os anseios, propostas e

estratégias sugeridas pelos educandos;

- Promove a vivência de diferentes atividades que suscitam a curiosidade pelo

aprender;

- Organiza a ação educativa no tempo e espaço disponível, levando-se em conta as

necessidades sentidas;

- Fomenta o trabalho cooperativo entre os educadores, de modo que estes assumam

o papel de investigadores da realidade circunscrita da comunidade onde se insere;

34

- Provoca a interação e a integração entre educadores, educandos e o objeto do

conhecimento no bojo do contexto com sentido e significado para todos os

envolvidos no processo educativo (GRACIANI, 2014, p. 50).

Em resumo, o projeto político-pedagógico pode ser sintetizado em quatro

características gerais: vários saberes; investigação permanente; atenção ao cognitivo, ao

afetivo e à corporeidade; e, por último, o planejamento participativo, o trabalho coletivo e a

avaliação emancipatória.

A autora explica que educador social é um participante fundamental na construção do

projeto e do trabalho coletivo, o qual define como um sujeito político imerso nas diferentes

práticas educativas, que procuram gerar confiança, em cada sujeito, de sua capacidade para

construir conhecimentos, com prazer e sucesso. O papel do educador social pode se explicar

como um mediador entre o educando e o conhecimento, que assume a intervenção pedagógica

e a diretividade desse processo, com propostas claras do trabalho pedagógico. Esclarece que

todo educador deve ser consciente que esse processo não é harmônico, nem linear, senão que

se encontra cheio de conflitos e contradições, tendo-se a necessidade de uma formação

continuada. Ela explica que o trabalho dos educadores sociais não só precisa de concorrências

técnicas especiais, senão também de solidariedade humana e compromisso com o educando e

com os colegas com os quais trabalha, apostando na capacidade de criação do grupo. Dessa

forma, todos são protagonistas do processo de aprendizagem, gerando uma relação dialógica

entre ambos.

Segundo a autora, a Pedagogia Social propõe formas de fazeres particulares, as quais

se assentam numa metodologia dialética, que procura um processo contínuo de teorização

sobre as práticas, para poder refletir criticamente sobre elas e as transformar, tendo em conta o

contexto social no qual se encontra. Assim, a Pedagogia Social parte da realidade na qual

tanto educadores como educandos se encontram comprometidos cultural, social e

politicamente com um projeto que tenha, como fim, a emancipação humana e humanizante

dos sujeitos. O educador social e o educando assumem a realidade como complexa e tentam

construir uma posição crítica frente à situação social, econômica, política, cultural e educativa

do país, podendo analisar e refletir sobre as causas que geram a exclusão e a desigualdade

social, para lutar contra elas, desde uma concepção político-pedagógica freireana e orientados

por um projeto de transformação social. Segundo Graciani (2014, p. 21):

Caracterizada como um projeto radical de transformação política e social, ela

objetiva a superação da ingenuidade, da passividade, da descrença e da resignação

por parte dos educandos e promove a criticidade, a militância, a esperança e a utopia

35

de um país mais justo socialmente, no qual todos são sujeitos históricos capazes de

ocupar a vida política em seu sentido mais amplo e irrestrito.

Em suma, a Pedagogia Social é campo de conhecimento das Ciências da Educação,

que procura teorizar e refletir desde e sobre as diferentes práticas desenvolvidas nas

experiências de educação social, popular e comunitária, além de orientar e mudar as mesmas.

No Brasil, é um campo acadêmico e profissional que se encontra em processo de construção,

que se define desde uma perspectiva crítica e emancipadora, sendo um dos campos de atuação

a educação não formal, com seus próprios objetivos, metodologias, sujeitos e territórios.

Procura, ainda, a construção de um projeto político-pedagógico coletivo e transformador da

sociedade; assim como diferentes espaços de debate e sistematização, como congressos,

encontros e a publicação de artigos e livros da temática apresentados por pesquisadores e

educadores sociais.

2.2 Formação inicial e continuada do(a) pedagogo(a) e seus campos de atuação no

Brasil

A formação humana, segundo Lizarraga Bernal (1998), é consequência da prática

cotidiana das pessoas, gerada em diferentes espaços da vida, nos quais os seres humanos

desenvolvem a sua subjetividade, através de diferentes ações e pensamentos influenciados

pelo poder. Mas esses espaços não sempre são iguais, a cotidianidade vem mudando

continuamente pelos efeitos do neoliberalismo e da globalização, e, com eles, os espaços que

nos formam, podendo ser intencionais ou não, ou seja, formais, não formais ou informais.

[…] el proceso formativo no se reduce a la escuela, ni exclusivamente a los procesos

cognitivos. Sino más bien, lo vemos desde la perspectiva de Gramsci en el sentido

de que todas las instituciones sociales cumplen funciones pedagógicas. Es decir, tal

proceso se da en el conjunto de espacios donde discurre la vida del individuo, sus

interacciones, sus prácticas (tanto del pensamiento como de las acciones)

(LIZARRAGA BERNAL, 1998, p. 157).

A educação tem um papel fundamental na formação dos sujeitos. Na formação

sociocultural, os espaços intencionais que influenciam não se reduzem às experiências

escolares, existindo outros além dos seus muros; quanto à formação natural, o autor afirma

que é informal e espontânea. Dito de outro modo, a formação é um atributo natural do sujeito,

mas que, por suas limitações, tem a necessidade de aprofundar-se com intervenções

36

intencionais de diferentes pessoas, instituições e organizações, o que se pode chamar de

formação sociocultural.

Em suma, a formação humana gera-se através da articulação de processos sócio-

históricos e individuais. Segundo Lizarraga Bernal (1998, p. 161), “los primeros operan como

procesos condicionales y los segundos como procesos de especificación de la formación del

individuo”. Nesse processo, a educação formal, não formal e informal tem um rol elementar.

Então a educação pode ser entendida, como a define Libâneo (2012, p. 13), “enquanto

prática, a educação é a atuação sobre a formação e o desenvolvimento do ser humano, em

contextos sócio históricos e em condições materiais e sociais concretas”. Dessa forma, o

pedagogo pode ser compreendido como um dos profissionais que tem a tarefa da formação

intencional dos sujeitos na sociedade ocidental, ante a nova realidade econômica, social,

política, cultural e educacional.

Assim, esse profissional deve conhecer o que acontece nos diferentes cenários

educativos, como sugere Libanêo (1998, p. 38): “O curso de Pedagogia deve formar o

pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional qualificado para atuar em vários campos

educativos para atender demandas socioeducativas de tipo formal e não-formal e informal,

decorrentes de novas realidades [...]”.

Franco (2002) afirma que a formação do pedagogo deve abordar a complexidade da

Pedagogia, sendo seu objeto de estudo a práxis educativa, num curso próprio. Mas o conceito

de Pedagogia e, com ele, o curso nas instituições de educação superior se transformam,

influenciados pelo contexto sócio-histórico, determinando-se os campos de atuação dos

profissionais da Educação e sua formação inicial, que se refletem nos documentos curriculares

nas diferentes épocas no Brasil.

Por isso, conhecer o que tem acontecido no curso de Pedagogia no Brasil, desde sua

criação, em 1939, até a última legislação vigente, proclamada em 2015, é um elemento para

analisar em que espaços têm atuado o pedagogo e qual tem sido a sua formação em cada

momento histórico e na atualidade, para se desenvolver como tal.

Saviani (2008) explica os diferentes períodos no curso de Pedagogia, desde seus

começos, com o Decreto-Lei no. 1.190, pelo qual se criam, na Faculdade Nacional de

Filosofia, quatro seções nas quais se encontrava a de Pedagogia, e uma seção especial

denominada Didática, no contexto de diferentes reformas no Brasil. O curso de Pedagogia

formava bacharel em três anos, e o diploma de licenciado seria outorgado aos alunos que

fizessem mais um ano, por meio do curso de Didática (esquema 3+1). O autor descreve as

disciplinas dos cursos, dentre eles, o de Pedagogia:

37

1º ano: complementos da Matemática; História da Filosofia; Sociologia;

Fundamentos Biológicos da Educação; Psicologia Educacional;

2º ano: Psicologia Educacional; Estadística Educacional; História da Educação;

Fundamentos Sociológicos da Educação; Administração Escolar;

3º ano: Psicologia Educacional; História da Educação; Administração Escolar;

Educação Comparada; Filosofia da Educação (SAVIANI, 2008, p. 39).

Aqueles que se formassem como bacharéis em Pedagogia só precisavam cursar mais

duas disciplinas, Didática Geral e Didática Especial, para receberem o diploma de licenciados

no curso de Didática, já que esse curso de um ano era conformado por essas duas didáticas,

por Fundamentos Biológicos da Educação, Psicologia Educacional, Administração Escolar e

por Fundamentos Sociológicos da Educação.

Esse curso tinha o objetivo de formar quadros técnicos e administrativos e professores

normais, os quais ministrariam diferentes disciplinas. Nesse caso, o bacharel e o licenciado

formariam parte do sistema formal educacional, trabalhando nele em diferentes atividades.

Esse currículo e as funções do pedagogo sofreram algumas alterações em 1962, com o

Parecer no. 251, de autoria de Valnir Chagas, e, segundo Saviani (2002), o currículo continuou

sendo generalista, mas englobou a formação de bacharel e licenciado, sendo quatro os anos de

duração e tendo que se realizar sete disciplinas no total, cinco obrigatórias e duas opcionais.

As primeiras eram Sociologia Geral e da Educação, Psicologia da Educação, Administração

Escolar e Filosofia da Educação. As opcionais eram onze: História da Educação, Métodos e

Técnicas de Pesquisa Pedagógica, Biologia, Higiene Escolar, Cultura Brasileira, Currículos e

Programas, Educação Comparada, Teoria e Prática da Escola Média, Técnicas Audiovisuais

de Educação, Introdução à Orientação Educacional e Estatística.

Nesse parecer, assim como no anterior, se formaria um profissional identificado com a

dimensão técnica, preparado para o mercado de trabalho, para atuar nas escolas e com

quadros técnicos e administrativos.

Foi no ano de 1968, em um contexto diferente devido às mudanças do sistema político

e econômico provocadas pela ditadura civil militar no país, que se efetuou a Reforma

Universitária, que organizou o funcionamento do Ensino Superior. Com ela, uma posterior

mudança nos cursos de Pedagogia, com o Parecer no. 253/69, de autoria também de Valnir

Chagas, o qual outorgaria o título de licenciado com alguma orientação. Assim, o pedagogo

poderia atuar como professor do Ensino Normal, além de ser especialista em atividades, como

supervisão escolar, administração escolar, orientação educacional e inspeção escolar, criando-

se habilitações específicas, que o aluno deveria selecionar para orientar a sua formação e seu

38

futuro campo profissional. Saviani (2008) descreve o currículo e as disciplinas comuns (sendo

Sociologia Geral e da Educação, História da Educação, Psicologia da Educação, Didática e

Filosofia da Educação) e as correspondentes a cada orientação:

1. Orientação Educacional: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau;

Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º Grau; Princípios e Métodos de

Orientação Educacional; Orientação Vocacional; Medidas Educacionais;

2. Administração Escolar, para o exercício nas escolas de 1º e 2º graus: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º

Grau; Princípios e Métodos de Administração Escolar; Estatística Aplicada à

Educação;

3. Supervisão escolar, para o exercício nas escolas de 1º e 2º graus: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º

Grau; Princípios e Métodos de Supervisão Escolar; Currículos e Programas;

4. Inspeção Escolar, para o exercício nas escolas de 1º e 2º graus: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º

Grau; Princípios e Métodos de Inspeção Escolar; Legislação do Ensino;

5. Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Metodologia do Ensino de 1º Grau; Prática de

Ensino na Escola de 1º Grau (estágio);

6. Administração Escolar, para o exercício na escola de 1º grau: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Administração da Escola de 1º Grau;

Estatística Aplicada à Educação;

7. Supervisão Escolar, para o exercício na escola de 1º grau: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Supervisão da Escola de 1º Grau; Currículos

e Programas;

8. Inspeção Escolar, para o exercício na escola de 1º grau: Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1º Grau; Inspeção da Escola de 1º Grau; Legislação do

Ensino (SAVIANI, 2008, p. 47).

Nesse currículo se definiram, então, quais seriam as áreas de atuação dos pedagogos e

quais seriam as práticas nesses espaços escolares durante a formação, por meio dos estágios

supervisionados.

Este parecer foi o que ficou vigente até além da LDB de 1996, sendo transformado

somente em 2006, após anos de debate entre educadores, durante as décadas de 1980 e 1990,

com diferentes visões sobre a formação e atuação dos pedagogos e com múltiplas tentativas

de transformação e reformulação dos cursos de Pedagogia no Brasil, na procura da identidade

do pedagogo e de sua formação inicial e continuada.

Pimenta (2002) afirma que a formação inicial está vinculada aos contextos de trabalho

do futuro do profissional, nos quais a teoria e a prática se relacionam dialeticamente. Assim, o

pedagogo tem a necessidade de conhecer o que acontece nesses diferentes cenários

educacionais.

Frente a essa situação na qual os espaços de atuação se ampliam, o curso de Pedagogia

na universidade muda e começa a abordar diferentes conteúdos relacionados à pluralidade de

práticas educativas, considerando o proclamado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

39

Nacional no Brasil (1996), que prevê, no seu artigo 1º, que a educação tem em conta vários

processos que se desenvolvem na família, nas instituições de ensino, nos movimentos sociais

e nas organizações da sociedade civil, entre outros. Isso se reflete nas competências para o

egresso do curso de Pedagogia dispostas nas Diretrizes para o curso de Pedagogia, na

Resolução CNE/CP 1/2006 e no Parecer CNE/CP nº. 5/2005, que apresentam, como espaços

de atuação, os formais e aqueles que se dão além da escola.

Sendo a docência a base da formação oferecida, os seus egressos recebem o grau de

licenciados(as) em Pedagogia, com o qual fazem jus atuar como docentes na

Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e em disciplinas

pedagógicas dos cursos de nível Médio, na modalidade Normal e de Educação

Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras em que disciplinas

pedagógicas estejam previstas, no planejamento, execução e avaliação de programas

e projetos pedagógicos em sistemas e unidades de ensino, e em ambientes não-

escolares (Parecer CNE/CP nº. 5/2005, p. 10).

Embora a docência seja apresentada como a base da formação, na Resolução CNE/CP

no. 1/2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em

Pedagogia, no artigo 4º, se desenvolvem as atividades que a compreendem, estabelecendo não

só contextos formais senão também não escolares:

I- Planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas

próprias do setor da Educação;

II- Planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos

e experiências educativas não escolares;

III- Produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo

educacional, em contextos escolares e não escolares (Resolução CNE/CP no. 1,

2006, p. 2).

A docência não se reduz a diferentes técnicas e metodologias de ensino, mas

compreende desde um olhar amplo, sendo um ato educativo intencional que tem como

objetivo promover a aprendizagem dos sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento

humano. Conforme essa concepção, o licenciado em Pedagogia será apto para trabalhar em

espaços escolares e não escolares, com o propósito de construir uma sociedade mais justa,

equânime e igualitária.

O graduando em Pedagogia trabalha com um repertório de informações e

habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja

consolidação, será proporcionada pelo exercício da profissão, fundamentando-se em

interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância

social, ética e sensibilidade afetiva e estética. Esse repertório deve se constituir por

meio de múltiplos olhares, próprios das ciências, das culturas, das artes, da vida

cotidiana, que proporcionam leitura das relações sociais e étnico-raciais, também

dos processos educativos desencadeados (Parecer CNE/CP nº. 5/2005, p. 6).

40

A fim de consolidar a formação inicial dos pedagogos, a organização curricular é

dividida em três núcleos – o de estudos básicos, o de aprofundamento e diversificação de

estudos e o de estudos integradores –, sendo a carga horária total do curso de 3.200 horas

(compreendendo 2.800 horas de espaços áulicos, seminários, realização de pesquisas, visitas a

instituições educacionais e culturais, entre outras; 300 horas de estágio supervisionado, que

poderão se realizar no Ensino Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na Educação

Profissional, na Educação de Jovens e Adultos, em reuniões de formação pedagógica, em

disciplinas pedagógicas do Ensino Médio na modalidade Normal, e em espaços de educação

não escolar, como forma de garantir a experiência de exercício profissional nos diferentes

âmbitos nos quais poderá atuar num futuro; e 100 horas de atividades teórico-práticas de

aprofundamento).

A aplicação dessas diretrizes curriculares e a estrutura proposta por elas, segundo os

documentos, respeitam a diversidade nacional e a autonomia pedagógica de cada instituição

que oferece o curso de Pedagogia, dando o espaço para a construção de projetos pedagógicos

que promovam uma formação inicial baseada no conhecimento de práticas e teorias

educacionais, regionais como nacionais, dependendo dos interesses e necessidades locais.

O projeto pedagógico do curso de Pedagogia deverá contemplar, fundamentalmente:

a compreensão dos processos de formação humana e das lutas históricas nas quais se

incluem as dos professores, por meio de movimentos sociais; a produção teórica, da

organização do trabalho pedagógico; a produção e divulgação de conhecimentos na

área da educação que instigue o licenciado em Pedagogia a assumir compromisso

social (Parecer CNE/CP nº. 5/2005, p. 12).

Assim, se consolida a formação inicial do pedagogo, centrada no estudo e na prática

do trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não escolares com a docência como

base, a qual procura, devido às exigências no mundo atual, conectar esta com a formação

continuada, que, segundo Gadotti (2011), abarca não só a aprendizagem de novas

metodologias e técnicas, senão a reflexão, pesquisa, ação, descoberta, revisão e construção

teórica sobre a prática realizada no dia a dia nos diferentes âmbitos de atuação.

Considerando o curso de Pedagogia como uma licenciatura, acompanhamos novas

orientações a ele a partir da Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, que estabelece as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial no nível superior e a formação

41

continuada12

. Esse documento define a educação desde um olhar amplo, com processos

formativos que acontecem em diferentes espaços, como a família, o trabalho, na convivência

humana, nas instituições de ensino, nas organizações da sociedade civil, nos movimentos

sociais etc.

Assim, no artigo 12 inclui a educação formal e a não formal ao determinar que:

Os cursos de formação inicial de professores para a educação básica em nível

superior, em cursos de licenciatura, organizados em áreas especializadas, por

componente curricular ou por campo de conhecimento e/ou interdisciplinar,

considerando-se a complexidade e multirreferencialidade dos estudos que os

englobam, bem como a formação para o exercício integrado e indissociável da

docência na educação básica, incluindo o ensino e a gestão educacional, e dos

processos educativos escolares e não escolares, da produção e difusão do

conhecimento científico, tecnológico e educacional, estruturam-se por meio da

garantia de base comum nacional das orientações curriculares (Resolução no. 2,

2015, p. 11).

Assim como nas Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia, de 2006, a Resolução

nº. 2, de 1º de julho de 2015, define três núcleos como organizadores curriculares: o núcleo de

estudos de formação geral; o núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos das áreas

de atuação profissional; e o núcleo de estudos integradores para enriquecimento curricular. O

mínimo de 3.200 horas de trabalho acadêmico foi o mesmo nas duas resoluções, mas

distribuídos de forma diferentes, sendo: 400 horas de prática como componente curricular,

2.200 horas de atividades formativas, 200 horas de atividades teórico-práticas de

aprofundamento e 400 horas dedicadas ao estágio supervisionado.

Ao analisar os três documentos (Resolução CNE/CP no. 1/2006, o Parecer CNE/CP nº.

5/2005 e Resolução nº. 2/2015) que estruturam a formação inicial no curso de Pedagogia,

observa-se que, na última resolução, diminuíram-se as horas de atividades formativas e de

atividades teórico-práticas de aprofundamentos. No entanto, aumentou-se em 100 horas o

estágio supervisado, passando de 300 horas a 400 horas, e foram adicionadas 400 horas de

prática como componente curricular.

Desde a criação do curso de Pedagogia, em 1939 (Decreto-Lei no. 1.190), e suas

posteriores transformações, em 1962 (Resolução no. 251) e em 1969 (Parecer n

o. 253), às

Diretrizes Curriculares de 2006 e de 2015, contemplaram-se as demandas e necessidades

atuais, que, até o momento, tinham sido pouco atendidas, “no sentido de que os estudantes de

Pedagogia sejam também formados para garantir a educação com vistas à inclusão plena, dos

12

As diretrizes curriculares são produto de um processo de debates ao interior do ensino superior do Brasil. Na

data de apresentação desta pesquisa havia uma incerteza quanto a sua implementação, devido as mudanças

acontecidas no governo em 2016.

42

segmentos historicamente excluídos” (Parecer CNE/CP nº. 5/2005, p. 5). Estes documentos

foram os primeiros a ampliar a visão, o campo educativo, a formação do pedagogo e seus

espaços de atuação como profissional da Educação, incorporando, nos diferentes documentos,

a educação não escolar como espaço para ser conhecido através da teoria e a prática, abrindo

um novo campo de intervenção e pesquisa pedagógica, e criando saberes sobre os mesmos.

Essas novas orientações legais ao curso de Pedagogia refletiram-se sobre o campo de

atuação desse profissional. Nesse sentido, diante do atual contexto econômico, social, cultural

e político, surgiram novos cenários para as práticas pedagógicas.

Acompanhamos a diversificação dos espaços tradicionais, que têm a função da

formação e socialização. A cidade passa a ser reconhecida como um ambiente onde diferentes

experiências educacionais são construtoras do social, expandindo-se os contextos de

aprendizagem que influenciam na formação da identidade das pessoas que vivem diariamente

no mundo atual, onde os pedagogos e pedagogas podem atuar.

Libâneo (2010) descreve os campos de atuação pedagógica, baseado em Beillort, que

define duas esferas, uma escolar e outra extraescolar. Na primeira, desenvolve outras três

esferas: as atividades de docência em diferentes níveis de ensino; os trabalhos como

especialistas de ações educativas (gestores, supervisores pedagógicos, coordenadores,

orientadores educacionais etc.); e os especialistas que atuam em atividades educacionais

paraescolares em órgãos públicos, privados e públicos não estatais. Na segunda, determina

dois pontos: os profissionais se desenvolvem sistematicamente em diferentes atividades não

escolares, em órgãos públicos, privados e públicos não estatais (formadores, animadores,

instrutores, consultores, técnicos etc.); e os outros, que ocupam parte de seu tempo nelas.

Essas duas esferas são os âmbitos nos quais o pedagogo pode se desenvolver

atualmente como profissional. Libâneo (2002, p. 79) explicita, em uma lista, todos os espaços

existentes:

- Sistemas escolares e escolas;

- Movimentos sociais, organizações comunitárias;

- Mídias, incluindo o campo editorial, vídeo etc;

- Áreas de saúde (projetos de prevenção, difusão científica para fins educativos,

assistência social etc.);

- Empresas;

- Sindicatos;

- Instituições culturais, de lazer e turismo para várias faixas etárias (clubes

recreativos, colônias de férias, clubes de leitura, bibliotecas móveis, oficinas

artísticas, museus, férias ciências, monumentos urbanos, brinquedotecas, cinefóruns,

atividades variadas de difusão cultural etc.);

- Atendimento de alunos com necessidades específicas;

- Outros campos em que se lida com comunicação e internalização de saberes e

modos de ação.

43

Então, nessa variedade de espaços é que poderá atuar o pedagogo, é por isso que,

como se explicou, sua formação começa a incluir seus conteúdos e práticas. Embora os

documentos curriculares não definam quais são os espaços, só os denominam espaços não

escolares, os diferentes projetos pedagógicos dos cursos de Pedagogia no Brasil devem incluir

disciplinas e estágios supervisados nesses múltiplos espaços não formais.

O trabalho de Gomes e Eiterer (2010), A inserção no mercado de trabalho dos

egressos do curso de Pedagogia da FaE/UFMG: 2003 a 2005, publicado na revista

Educação em Foco, afirma que, para esse período, ainda eram poucos os pedagogos que

tinham ocupado cargos fora da escola. Assim, as autoras dessa pesquisa explicam que, do total

da mostra, 75% trabalhavam em espaços escolares e 25% em espaços não escolares. Esses

espaços foram descritos como: empresas, agências bancárias, instituições filantrópicas,

projetos sociais e ONGs.

Na sociedade contemporânea, amplia-se o conceito de educação, podendo-se encontrar

experiências formais, não formais e informais, nas quais diferentes agentes podem intervir,

entre eles, os pedagogos. Estes têm ampliado seu campo de atuação que, até os anos 1980 e

1990 tinha sido reduzido ao ambiente escolar, diversificando os espaços de exercício

profissional em diferentes âmbitos e, com ele, a mudança da formação inicial e a necessidade

de uma formação continuada em serviço.

2.3 O que dizem as pesquisas sobre a educação não formal

Realizamos um levantamento das produções com a temática estudada, a atuação e

formação de pedagogos que trabalham em espaços não formais, com o objetivo de conhecer o

que se tem investigado sobre o objeto de estudo. Para isso, optou-se por pesquisar os bancos

de teses e dissertações de duas instituições, a CAPES e o IBICT, para obter informações sobre

as investigações realizadas em um período de dez anos, de 2004 até 201413

. Realizamos

também uma pesquisa dos artigos apresentados nas reuniões nacionais da ANPED nos últimos

dez anos.

13

No período de desenvolvimento da pesquisa, verificamos que o banco de teses e dissertação da CAPES

encontrava-se em período de atualização, estando disponíveis somente as pesquisas do ano 2011 e 2012, sendo

as mesmas que se tinham achado no repertório do IBICT, tendo, neste banco, as pesquisas publicadas até 2014.

44

Para os levantamentos, recorremos da utilização de cinco descritores: Educação não

formal; Educação não escolar; Educação além da escola; Pedagogo não escolar e Espaço não

escolar, que ajudaram na pesquisa bibliográfica dos documentos de teses, dissertações e

artigos e na análise dos mesmos, que será desenvolvida nas seções seguintes.

45

2.3.1 Mapeamento e análise das teses e dissertações do banco de teses da IBICT de

2004 a 2014

O IBICT é um órgão nacional de informação dependente do Ministério de Ciência,

Tecnologia e Inovação, criado em 1954, como IBBD (Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentação), tendo alterado seu nome para o atual em 1976. Na sua página da web,

oferece informação para a pesquisa por meio de uma Biblioteca Digital de Teses e

Dissertações, onde podem se encontrar diferentes trabalhos de investigação defendidos no

país.

Para realizar o levantamento das teses e dissertações do banco de dados do IBICT,

selecionamos os dez anos anteriores ao último ano de pesquisas. Assim, desde o ano de 2004

até 2014, foram encontrados 75 trabalhos com os descritores: Educação não formal; Educação

não escolar; Educação além da escola; Pedagogo não escolar e Espaço não escolar – divididos

da seguinte forma:

Gráfico 1: Número de pesquisas segundo descritores

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.ibict.br (2016)

Foram localizadas 67 pesquisas com o descritor Educação não formal, quatro com o

descritor Pedagogo não escolar, duas com Espaço não escolar, duas com Educação não

escolar e não foram encontradas pesquisas com o descritor Educação além da escola.

01020304050607080

Ed

uca

ção

não

-fo

rmal

Ed

uca

ção

não

-e

sco

lar

Ed

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ção

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Esp

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ola

r

LEVANTAMENTO TESES E DISSERTAÇÕES IBICT-2004 a 2014- Descritores

N° de Pesquisas

46

Podemos observar que a maioria utiliza o conceito educação não formal, terminologia que

tem sido utilizada pelos pesquisadores que têm publicado os livros de referência na temática

no Brasil.

Dessas 75 pesquisas, uma quantidade significativa corresponde aos programas de pós-

graduação com mestrado, já que 84% são trabalhos de dissertação, sendo só 16% pesquisas de

teses de diferentes programas de doutorado.

Gráfico 2: Pesquisas segundo programas de pós-graduação

16%

84%

Doutorado

Mestrado

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.ibict.br (2016)

Quanto aos anos em que foram defendidas essas teses e dissertações não existe uma

tendência de crescimento ou decrescimento. Observou-se que, nestes dez anos, foram

realizadas entre cinco ou seis pesquisas no país sobre a temática, tendo uma diferença em

2009, com 15 investigações, e 13 em 2014. Embora tenha existido essa quantidade de

trabalhos defendidos nesses anos, consideramos que ainda são poucas as pesquisas sobre

educação não formal no Brasil.

47

Gráfico 3: Número de pesquisas segundo ano de defesa

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.ibict.br (2016)

Estes 75 trabalhos de dissertação e teses foram defendidos desde 2004 até 2014 e

correspondem a 26 universidades diferentes, sendo que a UNICAMP apresentou 18 trabalhos

e a USP teve 9 trabalhos. As duas foram as universidades com maior quantidade de pesquisas

desenvolvidas. Note-se que só duas das investigações se encontram situadas no Estado de

Minas Gerais, uma feita pela UFLA e outra do Instituto de Pesquisas Municipais (IPM), em

Belo Horizonte.

24 5 6 5

15

6 5

86

13

Ano2004

Ano2005

Ano2006

Ano2007

Ano2008

Ano2009

Ano2010

Ano2011

Ano2012

Ano2013

Ano2014

LEVANTAMENTO TESES E DISSERTAÇÕES IBICT- 2004-2014- Anos depublicação

N° de pesquisas

48

Gráfico 4: Número de pesquisas segundo instituição

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.ibict.br (2016)

Em suma, são 75 os trabalhos que se acharam no banco de teses e dissertações do

IBICT, de 2004 ate 2014, com a temática educação não formal. Destes, a maioria corresponde

a programas de pós-graduação de mestrado, de 26 diferentes universidades do Brasil, não

existindo, ainda, pesquisas de mestrado ou doutorado na Região dos Inconfidentes que

tenham, como temática, a educação não formal, a atuação e a formação de pedagogos nesses

espaços.

Devido à quantidade de pesquisas, neste levantamento, vamos analisar as quatro

pesquisas que abordam a temática dos pedagogos na educação não formal, sendo três de

mestrado e uma de doutorado.

A primeira foi defendida em 2006, na Universidade Federal de Alagoas, por Maria

Derise Fireman. A dissertação foi intitulada O trabalho do pedagogo na instituição não

escolar, e foi orientada pela Profª. Drª. Maria do Socorro Aguiar Oliveira Cavalcante. A

pesquisa teve o objetivo de analisar a formação dos pedagogos e o seu campo de atuação fora

da escola. Para isso, analisou bibliografia e documentos legais e realizou um trabalho de

campo entrevistando pedagogos que trabalhavam em educação não formal. Concluiu que sua

formação não fornece amplos conhecimentos para atuar nesses espaços.

49

A pesquisa de doutorado, defendida no mesmo ano, por Lourdes Maria Bragagnolo

Frison, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com orientação da Profa.

Drª. Maria Helena Menna Barreto Abrahã e co-orientação da Profa. Drª. Leda Lísia Franciosi

Portal. Intitulada Autorregulação da aprendizagem: atuação do pedagogo em espaços não

escolares, analisou quais são os princípios, características e fases da autorregulação da

aprendizagem presentes na atuação dos pedagogos em espaços educacionais não formais.

Através de um estudo de casos múltiplos, realizou a coleta de dados por meio de entrevistas

semiestruturadas.

Em 2009, foi apresentada, por Terezinha de Jesus Amaral da Silva, a dissertação

intitulada A contribuição do pedagogo em espaços fora da escola, com orientação da Profª.

Drª. Ilzeni Silva Dias, da Universidade Federal do Maranhão. Essa investigação analisou as

contribuições dos pedagogos na execução de políticas e atividades desenvolvidas pela

Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social, em São Luís. Para isso, verificou o

contexto político, social econômico no qual se fundavam os diferentes programas da

secretaria por meio da realização de entrevistas semiestruturadas com as pedagogas que

trabalhavam no setor.

A última das pesquisas, de autoria de Tatiane de Fátima Wanze Ler Meireles,

intitulada O desafio do pedagogo nos espaços de educação não formal, foi defendida na

Universidade Metodista de São Paulo, com orientação da Prof.ª Drª. Marília Claret Geraes

Duran, em 2012. Essa dissertação, situada desde as mudanças da globalização, aborda a

ampliação do campo de atuação dos pedagogos na educação não formal e sua trajetória

formativa. Analisou a bibliografia sobre a temática e realizou o trabalho de campo por meio

de entrevistas semiestruturadas com três pedagogas e uma coordenadora que trabalhavam

numa ONG com sede em São Paulo.

2.3.2 Mapeamento e análise dos trabalhos apresentados nos encontros da ANPED de

2005 a 2015

A ANPED é uma associação criada em 1978, que reúne os professores e estudantes

dos programas de pós-graduação stricto sensu em educação do Brasil, assim também como os

pesquisadores da área, com o fim de promover o desenvolvimento do ensino e pesquisas em

educação com os princípios de liberdade, participação democrática e justiça social. Essa

50

associação realizava reuniões anuais, sendo agora bianuais, como um espaço de debate e

aperfeiçoamento de seus membros. As temáticas, artigos e conclusões apresentadas nesses

encontros são socializados através de sua página na web.

Para fazer o levantamento dos trabalhos apresentados nas reuniões da ANPED nos

últimos dez anos, de 2005 até 2015, foram selecionados dois grupos de trabalho relacionados

à temática desta pesquisa, o 6 (Educação popular) e o 8 (Formação de professores). Os

descritores utilizados foram Educação não formal; Educação não escolar; Educação além da

escola; Pedagogo não escolar e Espaço não escolar. Nesses grupos, foi encontrado um total de

cinco trabalhos correspondentes aos anos de 2007, 2011 e 2015, apresentados nas seguintes

tabelas.

Tabela 1: Trabalhos apresentados na ANPED GT 6 (2005-2015)

GT 6 Educação popular

Descritor

Reunião/Ano

Educação

não formal

Educação

não escolar

Educação

além da

escola

Pedagogo

não escolar

Espaço não

escolar

28ª 2005 0 0 0 0 0

29ª 2006 0 0 0 0 0

30ª 2007 2 1 0 0 0

31ª 2008 0 0 0 0 0

32ª 2009 0 0 0 0 0

33ª 2010 0 0 0 0 0

34ª 2011 0 0 0 0 0

35ª 2012 0 0 0 0 0

36ª 2013 0 0 0 0 0

37ª 2015 0 0 0 0 0

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.anped.org.br (2016)

51

Tabela 2: Trabalhos apresentados na ANPED GT 8 (2005-2015)

GT 8 Formação de professores

Descritor

Reunião/Ano

Educação

não formal

Educação

não escolar

Educação

além da

escola

Pedagogo

não escolar

Espaço não

escolar

28ª 2005 0 0 0 0 0

29ª 2006 0 0 0 0 0

30ª 2007 0 0 0 0 0

31ª 2008 0 0 0 0 0

32ª 2009 0 0 0 0 0

33ª 2010 0 0 0 0 0

34ª 2011 1 0 0 0 0

35ª 2012 0 0 0 0 0

36ª 2013 0 0 0 0 0

37ª 2015 1 0 0 0 0

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora a partir de http://www.anped.org.br (2016)

No grupo de trabalho de Educação popular pesquisado no período de tempo de 2005 a

2015, com o descritor Educação não formal foram encontrados dois trabalhos e com o

descritor Educação não escolar um. Não foram localizados resultados com os descritores

Educação além da escola, Pedagogo não escolar e Espaço não escolar14

.

Um dos trabalhos achados denomina-se O formal e o não formal na trajetória

formativa de educadoras de jovens e adultos na perspectiva da educação popular, de Ana

Cláudia Ferreira Godinho, da UNISINO. Nela, a autora apresenta a pesquisa na qual estudou a

relação entre a educação formal e não formal na formação dos educadores da escola pública

de jovens e adultos, desde a perspectiva da educação popular e sua identificação com o campo

educacional popular. Para desenvolver essa pesquisa, realizou observações e entrevistas

semiestruturadas com quatro educadoras da EJA. No final do trabalho, expõe os desafios dos

educadores da EJA desde a perspectiva da educação popular na formação continuada em

serviço.

O outro trabalho achado com o denominador não formal é de Ercília Maria Angeli

Teixeira de Paula, da UEPG, intitulado Dilemas e contradições de projetos de educação não

formal com a educação popular: reflexões sobre práticas e saberes. Nele, a autora analisa as

propostas curriculares de três projetos sociais que trabalham com jovens e adultos de classes

populares no interior de Paraná e as implicações sociais desses projetos para os sujeitos que

14

Todos os trabalhos foram apresentados no ano 2007, na 30ª Reunião Anual de ANPED, com a temática

“ANPED: 30 anos de pesquisa e compromisso social”.

52

participam. Nas considerações finais, argumenta que a educação não formal é um campo em

construção e, embora a educação não formal se apoie nos princípios da educação popular, na

prática, os projetos estavam voltados para o assistencialismo. Discute também a falta de apoio

do Estado e da sociedade civil e os desafios da formação dos educadores.

O trabalho correspondente ao descritor Educação não escolar, de autoria de Dinora

Tereza Zucchetti e de Eliana Perez Gonçalves de Moura, da FEEVALE, intitulou-se

Educação não escolar e universidade: necessárias interlocuções. Debateu o caráter educativo

das experiências de educação não escolares e o desafio da formação dos educadores que se

desenvolvem como profissionais nesses espaços do campo social. A pesquisa se baseou na

investigação de duas instituições que trabalham com crianças e jovens socialmente

vulnerabilizados, centrando-se na formação em serviço dos educadores. Também refletiu

sobre a universidade e sua relação com os projetos de educação não escolar, dada através de

diferentes projetos de extensão, assim como o desafio de formar profissionais aptos para essas

atividades e ampliar as pesquisas sobre essa temática.

No período de tempo pesquisado na ANPED, de 2005 até 2015, no grupo de trabalho

denominado Formação de Professores, localizamos dois trabalhos com o descritor Educação

não formal (dos anos de 2011 e 2015) sendo negativo o resultado com os descritores

Educação não escolar, Educação além da escola, Pedagogo não escolar e Espaço não escolar.

O trabalho apresentado na 34ª reunião, de 2011, que tinha como tema a Educação e

justiça social, foi de autoria de Lisandra Marisa Príncepe e de Marli Eliza Dalmazo Afonso de

André e se intitulava Necessidades formativas de educadores que atuam em projetos de

educação não formal. Nesse texto, as autoras apresentaram uma pesquisa feita pela PUC-SP,

que teve o objetivo de conhecer a formação dos educadores que trabalham em espaços não

formais, assim como as necessidades formativas destes e os desafios que enfrentam na

cotidianidade. Para isso, realizaram um estudo de caso em duas ONGs no município de São

Paulo, coletando os dados através de observações e entrevistas semiestruturadas aos

educadores das instituições. Esse trabalho refletiu sobre a ampliação do conceito de Educação

e a formação continuada dos educadores contextualizada nos espaços e realidades particulares

de cada projeto de educação não formal.

O outro texto foi apresentado na 37ª ANPED, em 2015, por Cristina Andréa Vianna

Prudêncio, representando a UESC e se denominou A perspectiva curricular CTS nos estágios

curriculares realizados em espaços de educação não formal: contributos para a formação de

licenciandos em Ciências Biológicas. Nele, se analisou a influência, na formação dos

licenciados em Ciências Biológicas, do estágio curricular desenvolvido em espaços não

53

formais, por meio da observação e participação em projetos de extensão. Como campo da

pesquisa, foram selecionados os estudantes do Estágio Curricular II numa universidade

estadual do sul da Bahia. A intenção da autora foi estudar como essa experiência pode

aprofundar a formação de alunos críticos e de futuros professores comprometidos com a

sociedade.

Os dois trabalhos descrevem e refletem sobre experiências particulares de diferentes

cidades e Estados, elaborando um estudo de caso que permitem a aproximação com o que

acontece na formação em espaços de educação não formal, desde âmbitos além da escola até

o Ensino Superior. Na pesquisa de documentos realizada nas páginas da web correspondentes

a cada reunião da ANPED destes últimos dez anos, desde 2005 até 2015, não se acharam

trabalhos que investigaram a formação inicial e continuada dos pedagogos que atuam em

espaços não formais.

Ao observar o quadro e a descrição dos trabalhos apresentados nas últimas dez

reuniões da ANPED, é possível se verificar a escassa produção sobre a temática e a

inexistência de um grupo de trabalho que aborde a educação não formal. Nas pesquisas

apresentadas, verificou-se que a maioria trabalha sobre a formação de quem participa desses

variados espaços fora da escola, centrando-se na formação continuada, mas nenhuma

investigação aborda a especificidade da atuação e formação dos pedagogos que se

desenvolvem como profissionais nas experiências de educação não formal.

54

3 O PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa tem sido desenvolvida numa abordagem qualitativa de enfoque

interpretativo. Segundo Bogdan e Biklen (1994), é uma metodologia que se interessa mais

pelo processo do que pelo resultado, tentando retratar a perspectiva do sujeito participante,

através da obtenção de dados descritivos, que serão coletados pelo pesquisador introduzindo-

se de forma direta na situação estudada, e logo analisados de forma indutiva. “Os

investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar

em consideração as experiências do ponto de vista do informador” (BOGDAN; BIKLEN,

1994, p. 51).

Numa primeira etapa, nos meses de julho a outubro de 2015, fizemos o estado da arte

da temática a ser pesquisada referente à educação não formal no Brasil, aprofundando-nos

sobre a formação e a atuação de pedagogos e pedagogas nesses espaços. Segundo Ferreira

(2002, p. 258), esta etapa da pesquisa é definida:

(...) como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio de

mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do

conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados

e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que

condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado,

publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de

seminários. Também são reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter

inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca

investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em cada

trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser analisado.

Naquele momento, realizamos uma pesquisa bibliográfica da temática, começando por

um levantamento no Banco de Teses e Dissertações da CAPES e no IBICT, para obter

informações sobre as investigações realizadas num período de dez anos, de 2004 até 2014,

sobre a atuação e formação dos pedagogos e pedagogas em espaços educativos não formais.

Também fizemos uma revisão dos trabalhos apresentados nas reuniões da ANPED, no

período de 2005 até 2015, em dois grupos de trabalho, Educação Popular e Formação de

Professores.

Naquele período, procurou-se, ainda, ampliar a bibliografia teórica com outros

pesquisadores brasileiros e latino-americanos, referentes à temática, para conhecer o que

vinha sendo pesquisado e debatido até a atualidade.

55

Numa segunda etapa, para a coleta de dados, se começou por procurar os espaços

educacionais não formais na Região dos Inconfidentes, durante o mês de agosto. Por não

haver um registro de todos eles na Secretaria de Educação, pesquisou-se no Conselho dos

Direitos da Criança e do Adolescente, em Ouro Preto, na Universidade Federal de Ouro Preto,

perguntou-se para referências educacionais e culturais da região, moradores e pesquisou-se na

internet para obter maiores informações sobre os espaços de educação não formal.

Após essa pesquisa, começamos o contato com as instituições não formais achadas,

para conhecer o seu trabalho, objetivos, a população com a qual trabalham e a existência ou

não de pedagogo ou pedagoga trabalhando no local.

Logo, selecionamos aquelas que possuíam projetos educacionais e sociais, que

trabalhavam com crianças e jovens e que tinham pedagogos ou pedagogas em seu quadro de

profissionais. Localizamos um total de seis espaços educacionais não formais da cidade de

Ouro Preto e Mariana, onde trabalham, ao todo, oito pedagogas.

Com o levantamento dos espaços da Região dos Inconfidentes orientados ao trabalho

com crianças e jovens, onde atuam profissionalmente pedagogos e pedagogas, realizamos um

segundo contato, no mês de novembro de 2015. O objetivo foi aplicar um questionário

(APÊNDICE A), previamente elaborado, segundo Chizzotti (2009, p. 55):

O questionário consiste em um conjunto de questões pré-elaborados, sistemática e

sequencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o

objetivo de suscitar dos informantes respostas por escrito o verbalmente sobre

assunto que os informantes saibam opinar ou informar.

Os questionários foram aplicados às pedagogas nos locais de educação não formal

onde desenvolvem suas atividades. Em todos os espaços não formais fomos muito bem

recebidas pelas pedagogas e, para a maioria delas, era a primeira vez que participavam de uma

pesquisa desde que trabalhavam na educação não formal. Sempre estiveram muito dispostas a

responder todas as perguntas e nos convidaram a conhecer os projetos educacionais onde

trabalhavam. Para muitas, isso representou uma possibilidade para que elas fossem

visibilizados pela comunidade e pela universidade. Assim, através das respostas das

profissionais, conhecemos o perfil das pedagogas e os espaços onde trabalham.

Numa terceira etapa, nos meses de maio e junho de 2016, realizamos entrevistas

semiestruturadas15

, com um roteiro de perguntas previamente elaborado16

(APÊNDICE B),

15

Realizamos sete das oito entrevistas estipuladas, já que, durante a pesquisa, uma das pedagogas foi

desvinculada de seu cargo, sendo negativa a resposta ao convidá-la a participar dessa etapa.

56

com o fim de analisar e conhecer, em maior profundidade, as profissionais, sua atuação e sua

trajetória formativa. Nesse sentido, Silveira (2007, p. 118) propõe:

[...] olhar as entrevistas como eventos discursivos complexos, forjados não só pela

dupla entrevistador/entrevistado, mas também pelas imagens, representações,

expectativas que circulam – de parte a parte – no momento e situação de realização

das mesmas e, posteriormente, de sua escuta e análise.

As entrevistas semiestruturadas ocorreram nos locais de educação não formal onde

cada pedagoga trabalhava, combinando-se a data e horário do encontro com antecedência.

Estas foram gravadas17

e logo transcritas18

, o que possibilitou uma maior facilidade para

poder analisar o seu conteúdo. As entrevistas tiveram um tempo de duração entre 30 minutos

até uma hora. Durante o período de entrevistas, a necessidade de muitas das pedagogas de dar

visibilidade ao seu trabalho, a especificidade de atuar em um espaço de educação não formal e

os desafios que têm, permitiram que pudessem falar em profundidade da sua formação e

atuação. Algumas das perguntas também foram a possibilidade para refletirem sobre sua

prática cotidiana nos projetos educacionais, assim como sobre sua formação inicial,

consistindo, dessa forma, como um processo de formação continuada.

Os nomes das pedagogas foram mudados, tendo nomes fictícios, segundo o acordado

no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C), assinado por todas elas.

Além das entrevistas, neste mesmo período, tivemos momentos de vivências para

conhecer o trabalho pedagógico das pedagogas, nos espaços educacionais. Estas foram

realizadas no dia da entrevista ou dias após ela, com o fim da imersão nos espaços onde

trabalham as profissionais.

Para analisar todo o material, primeiramente, se sistematizou a informação coletada

nos questionários, com o objetivo de conhecer o perfil geral das pedagogas que trabalham nos

espaços de educação não formal na Região dos Inconfidentes, dividido em três grandes

grupos: dados gerais, formação acadêmica e atuação profissional.

Esses grupos também foram utilizados para a análise do conteúdo das entrevistas. Nas

respostas das pedagogas, utilizamos os conceitos-chave que se dividiram em quatro grupos,

para uma melhor análise: formação inicial e continuada; atuação profissional; saberes da

educação não formal; e desafios no trabalho nesses espaços. Logo, tomando em conta os

16

Antes de realizar as entrevistas com as pedagogas dos espaços de educação não formal, realizamos um teste do

roteiro para analisar as perguntas construídas. Assim, algumas delas foram reformuladas, segundo os objetivos

desta pesquisa. 17

Das sete entrevistas realizadas, seis foram orais e uma escrita, por pedido de uma das pedagogas. 18

As entrevistas foram transcritas pela pesquisadora.

57

objetivos gerais e específicos da pesquisa, organizamos duas grandes categorias de análise

que se reduziram a dois grandes grupos – pedagogo(a) da educação não formal: formação

inicial e continuada; e atuação do(a) pedagogo(a) na educação não formal, que serão

apresentados em profundidade no capítulo a seguir.

58

4 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOS (AS) PEDAGOGOS (AS) NA EDUCAÇÃO NÃO

FORMAL

Neste capitulo apresentaremos e analisaremos os dados coletados através dos

questionários e entrevistas semi-estruturadas realizadas com as Pedagogas dos espaços de

educação não formal. Estas foram feitas no período de Novembro de 2015 e Junho de 2016,

em Mariana e Ouro Preto, cidades da Região dos Inconfidentes.

Através dos dados levantados por estes instrumentos procuramos conhecer quem são

os pedagogos e as pedagogas que atuam nestas instituições, como foi a sua formação e os

desafios e especificidades de sua atuação profissional.

4.1 O perfil dos(as) pedagogos(as)

Nesta seção analisaremos o perfil dos pedagogos e pedagogas que trabalham como

profissionais nos espaços de educação não formal selecionados. Através do questionário

preenchido pessoalmente, pudemos definir quem são os pedagogos e as pedagogas que atuam

nessas instituições, como foi a sua formação e sua atividade profissional na atualidade.

Neste caso, foram selecionadas oito pedagogas que atuam em espaços de educação não

formal, que são projetos educacionais e sociais desenvolvidos com crianças e jovens na

Região dos Inconfidentes, no Estado de Minas Gerais.

59

Mapa 1: Estado de Minas Gerais (Brasil)

Fonte: Adaptado do IBGE. Mapa político de Minas Gerais (2016)

Mapa 2: Região dos Inconfidentes

Fonte: Adaptado do IBGE. Mapa político de Minas Gerais (2016)

60

No primeiro bloco, após a identificação do participante, a pergunta relacionada ao

gênero, com um espaço para que elas preenchessem o que desejassem, a totalidade das

pedagogas respondeu “feminino”. Essa porcentagem reforça a teoria sobre a feminização do

trabalho educativo (YANNOULAS, 1993) e, embora as pesquisas centrem-se na tarefa

docente em espaços escolares, através deste estudo, podemos afirmar que, nos âmbitos não

formais, acontece o mesmo fenômeno.

Do grupo das pedagogas participantes, quatro têm entre 41 e 50 anos de idade, duas

entre 31 e 40 anos, uma de 25 a 30 anos e, finalmente, uma não respondeu à pergunta. Em

resumo, as pedagogas são todas mulheres de diferentes idades, embora a metade tenha mais

de 41 anos.

Em relação à formação inicial, perguntamos sobre o seu curso de graduação, sendo

todas licenciadas em Pedagogia. Os anos de começo do curso são diferentes, como mostra o

Gráfico 5: nos períodos de 2000-2002; 2003-2005; 2006-2008 será um 25%, no período de

2009- 2011 12, 50%, e finalmente, uma das pedagogas não respondeu, já que não lembrava o

ano.

Assim, podemos afirmar que a metade das pedagogas ingressou no curso de Pedagogia

regido pelo Parecer no. 253, vigente desde o ano de 1969, e a outra metade sobre as novas

Diretrizes Curriculares do ano de 2006 (Resolução CNE/CP no. 1/2006), onde se incorporou a

educação não formal como possível espaço de atuação para os pedagogos e pedagogas.

Gráfico 5: Ano de início do curso de Pedagogia

25,00%

25,00%25,00%

12,50%

12,50%

2000-2002

2003-2005

2006-2008

2009-2011

Não responde

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

61

Os anos de finalização também são diferentes, sendo 37,50% em 2005-2007; a mesma

porcentagem para o período de 2008-2010; e 12,50% em 2011-2013 e 2014-2016.

Gráfico 6: Ano de conclusão do curso de Pedagogia

37,50%

37,50%

12,50%

12,50%

2005-2007

2008-2010

2011-2013

2014-2016

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Ao analisar estes dois gráficos e os questionários, conclui-se que as pedagogas

permaneceram por cinco anos no curso de Pedagogia, nas diferentes instituições onde foram

alunas, embora o período de tempo estipulado para a obtenção do grau seja de quatro anos,

segundo as resoluções e pareceres do ano 1969 e 2006.

Conforme podemos identificar no Gráfico 7, a seguir, as instituições de ensino

superior frequentadas pelas participantes foram, na maioria (63%), privadas, tais como

Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), Faculdade FINOM e Faculdade Santa

Rita. Entre aquelas que frequentaram universidades públicas, em um total de 37%19

, tivemos

pedagogas cursando a Universidade Federal de Viçosa, a Universidade Federal de Ouro Preto

e a Universidade Federal de Espírito Santo.

Esses dados de nossa pesquisa, ao apresentar uma maior porcentagem de egressos de

universidade particular do que em pública, convergem com o que acontece nos cursos de

Pedagogia no Brasil. Segundo os dados obtidos na Sinopse Estatística da Educação Superior –

19

O curso de Pedagogia na Universidade Federal de Ouro Preto foi criado no ano 2008, período em que 63% das

pedagogas participantes da pesquisa já tinham começado seus estudos.

62

Graduação (INEP, 2013), é maior o número de instituições particulares que oferecem o curso

de Pedagogia, sendo um total de 841, contra 154 instituições públicas. Esse mesmo estudo nos

revela que, nas universidades particulares, 77.078 alunos concluíram o curso de Pedagogia,

sendo um número menor, 18.933 alunos, os egressos do ensino público.

Gráfico 7: Instituição de ensino superior

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Já em relação às cidades onde realizam seu curso de Pedagogia, 50% correspondem à

cidade de Mariana; 25% à Viçosa; 12,50% à Conselheiro Lafaiete e a mesma porcentagem

para Vitória-ES, sendo esta última a única que não corresponde ao Estado de Minas Gerais,

como indica o seguinte gráfico:

37%

63%

Pública

Particular

63

Gráfico 8: Cidade da instituição de ensino superior

50,00%

25,00%

12,50%

12,50%

Mariana-MG

Viçosa-MG

Vitoria-ES

Conselheiro Lafaiete-MG

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Para poder aprofundar na formação das pedagogas e na educação não formal,

perguntamos a elas se tinham feito disciplinas com essa temática. Só a metade respondeu

positivamente, como demostra o Gráfico 9. Dessas quatro pedagogas, três começaram seus

estudos após as novas Diretrizes Curriculares, que estabelecem conteúdos de educação não

escolar; e uma das pedagogas começou antes dessas mudanças.

Dentro das disciplinas, se enumeraram as seguintes: Práticas Pedagógicas;

Movimentos Sociais e Educação; Educação de Jovens e Adultos; Jogos Teatrais; e Terceiro

Setor – estando todas dentro da temática da educação formal, embora nenhuma leve esse

nome ou algum semelhante, como educação não escolar ou educação além da escola.

64

Gráfico 9: Disciplina realizada no curso de Pedagogia com temática de educação não

formal

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Quanto ao estágio realizado em espaços de educação não formal, os dados foram

diferentes: 62% realizaram estágio em instituições não escolares e 38% não efetuaram

práticas nessas instituições não escolares.

Dos 62% que responderam positivamente, 37,2% começaram seus estudos regidas

pelas Diretrizes Curriculares de 2006, que estabelecem um período de estágio supervisionado

em espaços de educação não formais, de modo que, do total de pedagogas participantes na

pesquisa, que começaram após 2006, só uma não teve essa oportunidade.

Da porcentagem restante, 24,8% realizou seus estudos quando esse estágio curricular

não era obrigatório, embora fosse ofertado em seus cursos de graduação.

50%50%

Sim Não

65

Gráfico 10: Estágio Supervisionado em espaços de educação não formal

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Ao analisar as porcentagens dos Gráficos 9 e 10, inferimos que podem ter sido

influenciadas a partir das propostas curriculares que apresentam diferentes áreas de atuação

dos pedagogos e pedagogas, assim como nos apresenta Pimenta (2002), que afirma que a

formação inicial está vinculada aos futuros contextos de trabalho.

No caso das profissionais que tinham realizado seus estudos quando era vigente o

Parecer no. 253/69, não fizeram disciplinas relacionadas, porque, como explicamos, sua

formação estava centrada em habilitações específicas, como a orientação educacional,

administração escolar, supervisão escolar e inspeção escolar – todas orientadas ao trabalho em

espaços escolares. Diferente é a formação daquelas que realizaram seus estudos após 2006,

quando o olhar sobre o campo educacional ampliou-se, incorporando, como área de atuação,

espaços formais como não formais.

Segundo os dados dos questionários analisados, os trabalhos de conclusão de curso da

licenciatura em Pedagogia abordaram diferentes temáticas, como teatro na universidade,

literatura infantil, temas transversais, o lúdico na alfabetização e disciplina e indisciplina no

ensino. Três profissionais, no entanto, não responderam esta pergunta alegando que já não se

lembravam do tema.

Para conhecer mais a formação das pedagogas que trabalham nos projetos

educacionais selecionados, indagamos sobre sua formação após a graduação. Só uma delas

não realizou algum curso de pós-graduação, representando o porcentual de 13%.

62%

38%

Sim Não

66

Gráfico 11: Pedagogas que realizaram curso de pós-graduação

87%

13%

Sim

Não

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Os cursos de pós-graduação realizados pelas pedagogas têm, como temática, em

42,86% dos casos, área de Inspeção, Orientação e Supervisão Escolar; com 14,29% cada,

temos tanto Psicopedagogia como Educação Especial, Pedagogia da Informática e Gestão na

Sala de Aula, como demostra o Gráfico 12. Analisando essa formação das participantes

identificamos que 50% estão vinculadas com a atuação no espaço escolar, enquanto as demais

formações podem ser classificadas tanto como formal ou não formal.

67

Gráfico 12: Curso de pós-graduação

14,29%

42,86%14,29%

14,29%

14,29% Psico-pedagogia

Inspeção, Orientação eSupervição escolar

Educação Especial

Pedagogia da Informática

Gestão na Sala de aula

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Assim como as instituições onde cursaram a graduação, as participantes realizaram o

curso de pós-graduação, em maioria, em instituições privadas, num total de 86%, sendo que o

restante, 14%, cursou em instituições públicas, como observaremos no Gráfico 13, a seguir.

68

Gráfico 13: Instituição de ensino superior: curso de pós-graduação

14%

86%

Pública

Particular

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Quanto ao ano em que iniciaram o curso de pós-graduação, 28, 57% o fizeram em

2006-2008. No período de 2009-2011, foram 42, 86% e, nos restantes, 2012-2014 e 2015-

2017, foram 14,29%, respetivamente.

Gráfico 14: Ano de início do curso de pós-graduação

28,57%

42,86%

14,29%

14,29%

2006-2008

2009-2011

2012-2014

2015-2017

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

69

As porcentagens do ano de finalização para o período de 2007-2009 e de 2010-2012

foram de 28,57%, para os anos 2013-2015, 42,86% concluíram seus estudos de pós-

graduação, como demostra o Gráfico 15.

Gráfico 15: Ano de finalização do curso de pós-graduação

28,57%

28,57%

42,86%2007-2009

2010-2012

2013-2015

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Quanto às temáticas dos trabalhos apresentados para concluir seus estudos de pós-

graduação, os temas foram diversos e muitas continuaram pesquisando sobre o mesmo tema

de seu trabalho de conclusão de curso da licenciatura em Pedagogia. As temáticas das

pesquisas das pedagogas foram: dificuldades na aprendizagem; o papel do supervisor escolar;

planejamento de aula diário; Piaget; o lúdico na alfabetização; a inclusão do deficiente

auditivo; e, finalmente, uma das profissionais não respondeu afirmando que não se lembrava

do título do trabalho.

Em resumo, neste bloco de perguntas pudemos conhecer a formação acadêmica das

licenciadas em Pedagogia e sua formação após a graduação, focalizando na educação não

formal. Assim, descobrimos que nem todas as pedagogas tiveram disciplinas e estágio com a

temática da educação fora da escola. Essas profissionais fizeram o curso em cinco anos, em

instituições do Estado de Minas Gerais e do Espírito Santo, públicas e particulares, sendo

estas últimas em maioria. Já em relação aos temas pesquisados no final do seu curso,

encontramos uma variedade deles.

70

Quanto à sua formação após a graduação, uma grande porcentagem continuou seus

estudos em cursos de pós-graduação em diferentes anos, sendo que seis das pedagogas o

fizeram em instituições particulares e só uma delas cursou em uma instituição pública. Com

esses cursos de pós-graduação receberam diferentes títulos e especializações e desenvolveram

trabalhos com objetos de estudo de pesquisa dentro e fora da escola.

No terceiro bloco do questionário aplicado abordamos a atividade profissional das

pedagogas, para conhecer seu trabalho e o espaço onde trabalham hoje. Em relação ao tempo

de atuação, percebemos que, do grupo de participantes, 50% atuam como pedagogas no

período de 0 a 5 anos; três delas, 37%, de 5 a 10 anos; e uma, 13%, respondeu que há mais de

20 anos atua como profissional. Como podemos observar, a maioria está entre o início de sua

carreira e a estabilização, segundo o ciclo da vida profissional proposto por Huberman (2000).

De acordo com este autor, existe um ciclo na carreira dos professores, conforme os anos de

trabalho, que se divide em diferentes etapas, que não devem ser tomadas como estáticas.

Essas etapas são nomeadas como início da carreira, estabilização, diversificação ou

questionamento, serenidade e distanciamento afetivo e, por fim, a etapa de fase de

desinvestimento, recuo e interiorização.

Analisando os anos de trabalho das participantes da pesquisa, a maioria encontra-se na

etapa de início da carreira, que é desde o primeiro ano até o terceiro, e se caracteriza pela

descoberta, exploração e socialização profissional. Nessa fase, o educador está entusiasmado,

mas, diante da complexidade da tarefa docente, confronta-se com o distanciamento entre a

formação inicial e a vida do trabalho.

Já outro grupo das pedagogas está na fase de estabilização, que compreende desde três

aos seis anos de trabalho. Nessa fase, destaca-se o sentimento de competência, consolidação e

autonomia no fazer pedagógico. Durante essa etapa, observa-se a construção da identidade

profissional.

71

Gráfico 16: Anos de atuação como pedagoga

50%

37%

13%

0 a 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

15 a 20 anos

mais de 20 anos

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Os espaços educacionais onde aturam as pedagogas são diferentes, sendo que todas já

trabalharam na educação formal, na escola e na universidade, e também em outros espaços da

educação fora do âmbito escolar, como: educação artística, bibliotecas, educação especial,

empresas e hospitais.

Depois de conhecer suas trajetórias, indagamos sobre seu trabalho específico na

educação não formal na atualidade. O trabalho de três pedagogas é na educação especial, duas

trabalham na educação artística, uma em uma biblioteca, outra em um centro de recreação e a

última em uma casa lar. Todos esses projetos educacionais que se desenvolvem em espaços

não formais correspondem a uma das esferas de atuação dos pedagogos e das pedagogas, são

atividades fora da escola.

Esses espaços estão relacionados com algumas das áreas de abrangência propostas por

Gonh (1999) já apresentadas, das quais podemos distinguir a educação para a vida, a

capacitação para o trabalho, a aprendizagem de conteúdos escolares e a aprendizagem dos

direitos dos sujeitos enquanto cidadãos.

72

Gráfico 17: Espaço de não formal onde trabalham as pedagogas

3

2

1 1 1

EDUCAÇÃO

ESPECIAL

EDUCAÇÃO

ARTÍSTICA

BIBLIOTECA CENTRO

RECREAÇÃO

CASA LAR

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Quanto aos municípios da Região dos Inconfidentes onde as pedagogas atuam, 50%

trabalham em Mariana e as outras 50% em Ouro Preto, estando localizados em diferentes

bairros dessas cidades.

Gráfico 18: Municípios onde trabalham as pedagogas

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

50%50%Mariana-MG

Ouro Preto-MG

73

Segundo o Gráfico 19, os cargos que ocupam as pedagogas nestes espaços de

educação não formal são diferentes, embora a metade, quatro profissionais, atue como

pedagoga; uma, 12,5%, é coordenadora pedagógica; outra, também representada por 12,5%, é

coordenadora; outra, 12,5%, é auxiliar de biblioteca; e a última, com a mesma porcentagem

que as demais, é assessora da presidência (área pedagógica). Assim, afirmamos que todas as

licenciadas em Pedagogia atuam em funções pedagógicas, sendo contratadas para essas

tarefas, embora as nomeações utilizadas sejam diferentes em cada espaço que atuam.

Gráfico 19: Cargos ocupados pelas pedagogas

50,00%

12,50%

12,50%

12,50%

12,50%

Pedagoga

Coordenadora Pedagógica

Coordenadora

Auxiliar biblioteca

Assesoria Presidência-área

pedagógica

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Analisando o tempo que trabalham na instituição não formal, a maioria indicou que

trabalha entre 0 a 5 anos, tendo o percentual de 75% correspondente a seis profissionais. Entre

as demais, 12,5% atua de 5 a 10 anos; e a outra, que também representa 12,5% da amostra, de

15 a 20 anos, correspondente a uma pedagoga.

74

Gráfico 20: Anos que trabalham no espaço de educação não formal

75,00%

12,50%

12,50%

0 a 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

15 a 20 anos

mais de 20

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Considerando as horas que trabalham nestes espaços, a maioria, 87,50%, trabalha entre

30-40 horas semanais; somente uma pedagoga (12,50%) trabalha 35 horas durante 10 horas

por semana.

75

Gráfico 21: Horas semanais trabalhadas no espaço de educação não formal

12,50%

87,50%

10-20 horas

20-30 horas

30-40 horas

mais de 40 horas

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Quanto às horas que trabalham, 63%, seis pedagogas, indicaram que não trabalham em

outro espaço educacional na sua semana. Enquanto 37% responderam que prestam serviço em

outros âmbitos, descritos como universidade, eventos culturais e educação especial.

Gráfico 22: Trabalho além do espaço não formal no qual atuam

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

37%

63%Sim

Não

76

Em nosso roteiro de perguntas, indagamos sobre as experiências anteriores à educação

não formal e a maioria respondeu que sim, representando 75% das pedagogas; uma delas,

25%, respondeu que não tinha participado em espaços não escolares.

Gráfico 23: Experiência prévia em educação não formal

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Assim, as pedagogas indicaram que trabalharam em espaços de educação não formal

de 0 a 5 anos (42,86%), correspondente a seis profissionais; duas participantes, 28,57%,

responderam ter de 5 a 10 anos de experiência; e a mesma quantidade delas tem mais de 15

anos, sendo parte desse trabalho com experiências além da escola. De modo geral, a maioria

das pedagogas trabalha recentemente nesses espaços e esse fenômeno nos faz confirmar o que

apresentamos anteriormente, já que o campo da Pedagogia Social e a educação não formal

estão em construção.

75%

25%

Sim

Não

77

Gráfico 24: Anos trabalhados em espaços de educação não formal

42,86%

28,57%

28,57%

0 a 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

mais de 15 anos

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Em suma, as profissionais participantes atuam como pedagogas de 0 a 10 anos,

estando entre o início da sua carreira e a estabilização, segundo as etapas da carreira dos

educadores propostas por Huberman (2000). Quanto aos espaços não formais onde atuam

atualmente, poderiam definir-se como: educação especial, educação artística, biblioteca,

centro de recreação e casa lar, situados nos municípios de Ouro Preto e Mariana, na Região

dos Inconfidentes, no Estado de Minas Gerais.

As pedagogas trabalham em diferentes cargos, nos espaços de educação não formal já

nomeados, indicados por elas como: pedagoga, coordenadora pedagógica, coordenadora,

auxiliar de biblioteca e assessoria da presidência (área pedagógica). Quanto ao tempo que

trabalham nesses cargos, a maioria trabalha de 0 a 5 anos e entre 30 a 40 horas semanais;

sendo, para quase todas, seu único trabalho.

Para finalizar, a maioria das pedagogas já tinha atuado em experiências de educação

não formal, antes de trabalhar nas instituições onde têm um cargo atualmente.

Esta seção permitiu conhecer o perfil das pedagogas que atuam em projetos

educacionais na Região dos Inconfidentes e trouxe informações relevantes para continuar

analisando a formação dos profissionais em Educação e o trabalho que elas realizam nos

espaços de educação não formal.

4.2 Formação inicial e continuada das pedagogas da educação não formal

78

Nesta seção apresentaremos as análises dos dados recolhidos através das entrevistas

semiestruturadas preenchido com as pedagogas participantes da pesquisa20

. Tais entrevistas

tiveram o objetivo de aprofundar nossos conhecimentos sobre as pedagogas e sua formação

inicial e continuada em serviço a partir da “voz” das mesmas. Os dados permitiram também

identificar a atuação desenvolvida por elas nos espaços de educação não formal onde

trabalham.

A título de suporte ao leitor, apresentamos, a seguir, dois quadros sintéticos sobre os

espaços de educação não formal e participantes da pesquisa.

20

As entrevistas foram realizadas entre os meses de maio e junho de 2016, nas cidades de Ouro Preto e Mariana.

79

Quadro 1: Perfil dos espaços de educação não formal

Espaço de

educação não

formal

Ano de

criação

Cidade Pedagoga(s) Atividades

Biblioteca

2008 Mariana 1 Empréstimo de livros, oficinas

temáticas, exibições de filmes e

disponibilização de computadores.

Centro Recreação

2000 Mariana 1 Atividades sócio -educativas,

recreativas, esportivas e ofícios.

Educação especial 1990 Mariana 1 Oficinas artes, artesanato, ofícios

e alimentação.

Casa Lar 1997 Mariana 1 Oficinas de artesanato,

informática e apoio escolar.

Educação especial 1982 Ouro Preto 2 Oficinas artesanato, informática,

sorvete, horta e esportes. Terapia

ocupacional, atendimento com

fisioterapeuta e fonoaudiólogo

Escola especial. Escola de pais.

Educação artística 1968 Ouro Preto 2 Oficinas de arte, ofícios,

artesanato, conservação e

restauração.

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

80

Quadro 2: Perfil das pedagogas

Nome da

Pedagoga

Anos Espaço de

educação não

formal onde

trabalha

Pós-

graduação

Tempo que

trabalha no

espaço de

educação não

formal

Horas

semanais que

trabalha

Carmen 25 Biblioteca Não 0-5 anos 40 horas

Maria 40 Centro Recreação Sim 0-5 anos 30 horas

Elis 50 Educação especial Sim 0-5 anos 40 horas

Marisa 48 Educação artística Sim 0-5 anos 35 horas

Gal 37 Educação artística Sim 0-5 anos 40 horas

Rita 41 Educação especial Sim 5- 10 anos 10 horas

Clara s/r Educação especial Sim 15-20 anos 30 horas

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora (2016)

Esta ultima tabela nos auxiliará na identificação dos participantes das entrevistas que

tiveram seus nomes modificados a fim de preservar seu anonimato. Após a transcrição, leitura

e releitura dos dados das entrevistas, organizamos em dois grupos: 1) Pedagogo(a) da

educação não formal: formação inicial e continuada e 2) Atuação do(a) pedagogo (a) na

educação não formal.

- Pedagogo(a) da educação não formal: formação inicial e continuada

Como explica Lizarraga Bernal (1998), a formação humana se constitui da articulação

entre processos sócio-históricos e individuais. Nesse processo, a educação formal e não

formal são fundamentais na formação dos sujeitos. Sendo assim, há também um papel

importante aos pedagogos e pedagogas, que são uns dos profissionais que têm a tarefa da

formação intencional dos seres humanos na sociedade ocidental.

Ao discutir, ao longo desse trabalho, a existência de uma multiplicidade de espaços

educacionais onde os pedagogos e pedagogas podem intervir, a formação dos mesmos precisa

abordar a complexidade da Pedagogia e seu objeto de estudo da práxis educativa (FRANCO,

2002). Acompanhamos esse enfoque no curso de Pedagogia nas instituições superiores do

Brasil a partir das Diretrizes Curriculares da formação inicial de pedagogos e pedagogas

81

(Parecer CNE/CP nº. 5/2005; Resolução CNE/CP no. 1/2006), ampliando os espaços onde

poderão atuar ao obter o grau de licenciados(as) em Pedagogia. Faz-se, então, a inclusão de

disciplinas e estágios supervisionados que abordem diferentes campos educacionais tanto na

educação formal como na não formal.

Recorremos à entrevista com as participantes da pesquisa, as pedagogas que atuam em

projetos educacionais e sociais na Região dos Inconfidentes, a fim de aprofundar sobre sua

formação inicial e continuada, partindo dos dados obtidos dos questionários.

Ao analisar as respostas sobre a sua formação inicial e como tinham começado o

curso, notamos que, para a maioria das pedagogas, foi uma necessidade determinada pelo

local de trabalho onde atuavam como professoras. Clara afirmou que:

Quando foi nessa época surgiu, através do governo estadual, uma lei que todos os

profissionais da Educação que não tivessem cursado ou Magistério Superior – que

esse Magistério que a gente tinha era de nível médio –, quem não tivesse ou

Magistério Superior ou a Pedagogia tinha que ingressar até me parece o 2000. E os

que não tivessem, principalmente os funcionários como eu, que eram da rede

estadual, automaticamente, poderiam perder a função. Então eu fiz nessa época […]

(Clara, s/r).

Embora não tenha sido a sua escolha, Elis refletiu que a formação inicial no curso de

Pedagogia foi um desafio, mas ampliou seus conhecimentos acadêmicos e abriu novos

caminhos na sua vida profissional.

E a Pedagogia foi uma necessidade de ter curso superior, naquele momento, ter um

curso superior, e foi assim, um ganho muito grande na minha vida profissional (Elis,

50 anos).

Segundo as participantes, essa formação tinha contribuído muito para os seus trabalhos

nas diferentes funções na escola, no entanto, não havia acrescentado ao seu trabalho na

educação não formal. Considerando que os dados dos questionários tinham revelado que a

metade das pedagogas tinha feito disciplinas com temáticas da educação não formal,

decidimos nos aprofundar sobre esse tema perguntando se as disciplinas de educação não

formal que tiveram durante seu curso de Pedagogia lhes ofereceram subsídios para trabalhar,

hoje, na educação não formal. Segundo Maria, embora tenha afirmado que houvesse realizado

disciplinas e estágio na educação não formal, a sua formação ficou mais voltada para os

conteúdos escolares:

Mas são poucas as disciplinas, porque, dentro da grade curricular da faculdade,

mesmo eles não te ampliam. É muito restrito mesmo, do que é a escola. Então é

82

muito pouco do que é falado para você, o que você estuda dentro da faculdade, o que

seria o trabalho fora. Você tem alguns estágios, mas agora ela é muito mínima. Então

acaba que, quando você tem essa opção, ou você vem para o serviço, que, às vezes,

nem é sua escolha. Aí você acaba meio perdido nisso, porque você não consegue

estudar na faculdade mesmo, a parte prática, né? (Maria, 40 anos).

Aquelas que tiveram a oportunidade de ter disciplinas com a temática de educação não

formal analisaram que as mesmas foram superficiais e não contribuíram, de fato, com o

trabalho com a educação não formal. Assim como Clara nos disse:

Não. Eu acho que nem para aqui, nem para... Eu acho assim, a Pedagogia, ela é

muito conteudista. Então é assim, ela te dá, te ajuda muito, por quê? Quando eu

assumi a supervisão daqui, eu peguei no processo assim super difícil. Eu tive que

pegar e regulamentar a instituição toda. Fazer propostas pedagógicas, regimento

interno, não existia essa documentação. Calendário, ficha de avaliação, tudo o que

você acha de pedagógico na instituição eu fiz. Logo que eu entrei, comecei a fazer o

processo pedagógico. Então eu acho que a Pedagogia é um curso bom sim, ele te

ajuda muito, porque ele é conteudista e você tem que ler e entender. Então a

instituição, quando entrei, e hoje, você depende muito de fazer relatórios. Igual já fiz

aqui a proposta pedagógica da escola, de Educação Infantil, do Ensino Fundamental,

do EJA Anos Inicias, e do Centro de Atendimento Especializado. Então você tem

que ler, porque se você não lê, você não sabe que está fazendo. Então assim, eu acho

que é um curso, para esta instituição, ele não me ajudou em nada (Clara, s/r).

Em estudo desenvolvido por Gatti (2009) foi possível identificar que as mudanças

curriculares no curso de Pedagogia trouxeram uma dispersão curricular devido à amplitude de

atribuições para estes profissionais, exigindo um grande rol de disciplinas. Rita, ao lembrar

sobre a sua formação inicial, refletiu sobre isso e disse:

Hoje que tem essa exigência, mas, no meu curso, eu não tive, nem ouvido falar sobre

essa questão. Tive uma disciplina lá, mais muito rápida e falou muito pouco (Rita,

41 anos).

Gatti (2009), ao debater em forma particular sobre a educação não formal no seu

estudo sobre a formação dos pedagogos e pedagogas no Brasil, explica que, frente à inclusão

da educação não escolar dentro do currículo, os diferentes projetos pedagógicos nas

universidades começaram a incorporar disciplinas com essa temática como eletivas, com o

fim de cumprir a demanda. A pedagoga Carmen afirmou não ter realizado disciplinas

optativas com o nome de educação não formal, mas sim com a temática:

Não havia uma disciplina específica com essa temática, mas cursei disciplinas

optativas como Raça, Etnia e Educação; Gênero e Educação; e Movimentos Sociais

e Educação, que me mobilizavam a rever a educação além da sala de aula.

Principalmente na disciplina Movimentos Sociais e Educação, nos foram mostradas

83

alternativas de educação não formal, como acontecia nos assentamentos do MST,

por exemplo (Carmen, 25 anos).

As diferentes respostas das participantes revelaram que, embora tenham estudado

temáticas de educação não formal no seu curso de Pedagogia, elas foram trabalhadas de modo

superficial.

Pimenta (2002, p. 78), em seu estudo sobre os pedagogos, faz essa análise e nos diz:

Quanto à formação de profissionais da educação para atuar em contextos não

escolares, trata-se de uma demanda cada vez mais forte na sociedade. É acentuada a

consciência atual da importância da atuação dos profissionais no âmbito de práticas

socioculturais que envolvem processos pedagógicos não formais e informais no

plano coletivo e comunitário.

Existe uma demanda crescente de formação para trabalhar como pedagogos e

pedagogas em espaços não escolares, e essa demanda tem sido apresentada pelo curso de

Pedagogia nas suas Diretrizes Curriculares. No entanto, percebemos que, nos projetos

pedagógicos de cada uma das universidades, ainda há um distanciamento entre o prescrito e a

prática. Como podemos observar no discurso das pedagogas que trabalham nos projetos

educacionais e sociais na Região dos Inconfidentes, são poucas as disciplinas que tiveram que

abordaram a temática de educação não formal, sendo estas, na maioria das vezes, ofertadas

como disciplinas eletivas.

Segundo as participantes, elas sentem falta de uma formação específica para o

desenvolvimento como pedagogas no seu trabalho cotidiano nos espaços não formais, já que

não tiveram uma formação teórica que contribuísse para uma práxis educacional

transformadora.

Embora as pedagogas expliquem que foi superficial a sua formação sobre espaços de

educação não formal, ao continuarem com o seu relato, revelaram que o Estágio

Supervisionado foi uma das disciplinas fundamentais para a construção de saberes sobre a

educação não formal durante o curso de Pedagogia.

Como analisamos anteriormente, das 3.200 horas de formação propostas nas Diretrizes

Curriculares do curso de Pedagogia, de 2006 (Parecer CNE/CP nº. 5/2005; Resolução

CNE/CP no. 1/2006), havia 300 horas de Estágio Supervisionado, ampliando-se a quantidade

de horas para 400, em 2015 (Resolução nº. 2, de 1º de julho de 2015).

Quanto aos estágios, estes podem ser desenvolvidos no Ensino Infantil, nos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, na Educação Profissional, na Educação de Jovens e Adultos,

84

em reuniões de formação pedagógica, disciplinas pedagógicas do Ensino Médio na

modalidade Normal e em espaços de educação não escolar21

. Assim, Maria nos explicou que:

A gente tem, no meu curso também, no curso de Pedagogia também tínhamos os

estágios. E eu tive também estágios em instituições não escolares (Maria, 40 anos).

Segundo Pimenta e Lima (2012), historicamente na formação inicial, em diferentes

cursos na universidade, contrapôs-se a parte das disciplinas identificadas com a teoria com os

estágios reconhecidos sempre com a parte prática, o que deu menor importância a estes

últimos, o que se reflete num menor espaço na carga horária curricular, assim como o

recebimento de um financiamento menor.

Mas, na atualidade, diferentes olhares sobre o estágio se apresentam, com concepções

diferentes sobre a teoria e sobre a prática e a relação entre elas. Por um lado, temos a

concepção na qual a teórica e a prática são autônomas e contrapostas entre si; por outro,

aquelas que acham que a teoria e a prática são indissociáveis.

Para compreender em profundidade estas concepções de estágio recorremos àquelas

apresentadas por Pimenta e Lima (2012). Do primeiro grupo explicaremos duas perspectivas:

a prática como imitação de modelos e a prática como instrumentalização técnica.

Segundo a perspectiva a prática como imitação de modelos, os alunos baseariam a sua

aprendizagem da profissão nos estágios na observação e na imitação de bons professores, que

serviriam de modelo. As autoras advertem que, embora muitas vezes se aprenda através da

observação e da procura de referentes para o exercício profissional como educadores, existem

limites nessa perspectiva. Já que o conceito de bom professor é polissêmico, para cada ser

humano será diferente o que constitui um bom professor. Além disso, a observação do mesmo

tem que ser acompanhada por uma apreensão crítica dos modelos, ideias, hábitos,

metodologias, valores, comportamentos do profissional ao que observa.

Segundo Pimenta e Lima (2012, p. 36), essa perspectiva não valoriza a formação

intelectual de um profissional e reduz sua atividade educacional ao prático.

O estágio então, nessa perspectiva, reduz-se a observar os professores em aula e

imitar esses modelos, sem proceder a uma análise crítica fundamentada teoricamente

e legitimada na realidade social em que o ensino se processa. Assim, a observação se

21

Como exemplo, apresentamos o que se propõe no Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia da UFOP.

Segundo Jorge, Martins e dos Santos (2015), são propostos seis estágios nos quais a maioria das horas está

destinada à atuação na Educação Infantil e Fundamental (Anos Iniciais), sendo menos do 50% da carga total.

Logo, 40% é reservado para a atuação em Ensino Médio e Normal, e, por último, 20% em espaços de educação

não formal. Segundo essas autoras, estes últimos espaços não são a prioridade na formação inicial de pedagogos

e pedagogas.

85

limita à sala de aula, sem análise do contexto escolar, e espera-se do estagiário a

elaboração e execução de “aulas-modelo”.

A outra perspectiva deste grupo é nomeada pelas autoras como a prática como

instrumentalização técnica, a qual se baseia na aprendizagem de técnicas para o

desenvolvimento profissional, com a crença que conhecer as técnicas e metodologias

necessárias para o exercício da docência será suficiente.

Pimenta e Lima (2012, p. 37) criticam essa perspectiva, afirmando que é igual à

anterior, já que reduz o estágio às práticas, neste caso, vinculando-as com as técnicas. Nessa

perspectiva, consideram que não é necessário o conhecimento científico, sem contemplar a

complexidade da prática educacional.

Essa compreensão tem sido traduzida, muitas vezes, em posturas dicotômicas em

que teoria e prática são tratadas isoladamente, o que gera equívocos graves nos

processos de formação profissional. A prática pela prática e o emprego de técnicas

sem a devida reflexão podem reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou

uma teoria desvinculada da prática.

Segundo as autoras, o mito de técnicas e metodologias no qual a aprendizagem e o

desenvolvimento dessas habilidades instrumentais é fundamental para o êxito dos resultados

na educação, não só está presente nos estudantes e professores, mas também nas políticas

governamentais de formação continuada. Estas financiam propostas de formação partindo

desse pressuposto.

Já a partir da concepção que entende a prática como indissociável da teoria, Pimenta e

Lima (2012) expõem duas perspectivas, estágio: aproximação da realidade e atividade

teórica e o estágio como pesquisa e a pesquisa no estágio.

Para descrever a primeira, as autoras recorrem às contribuições de Pimenta e

Gonçalves (1990, p. 45), que definem que o propósito do estágio “é propiciar ao aluno uma

aproximação à realidade na qual atuará”. Assim, se introduz a discussão da práxis, já que o

estágio será uma atividade teórica de conhecimento, reflexão e intervenção na realidade

educacional, para transformar a mesma. Essa perspectiva procura superar a dicotomia entre a

teoria e a prática, entendendo a complexidade de cada experiência educacional, os

participantes e as instituições envolvidas nesse processo.

Por último, a perspectiva que considera o estágio e sua relação com a pesquisa, já que

é um espaço que possibilita um momento para formar os estudantes como pesquisadores, mas

também é um espaço objeto de estudo para futuras investigações. Segundo Pimenta e Lima

(2012, p. 46),

86

a pesquisa no estágio, como método de formação de futuros professores, se traduz,

de um lado, na mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos

contextos onde os estágios se realizam; por outro, e em especial, se traduz na

possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador

a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam, ao mesmo

tempo, compreender e problematizar as situações que observam.

Assim, vemos que existem diferentes concepções de estágio, uma na qual existe uma

dicotomia entre a prática e a teoria, e outra na qual a teoria e a prática são indissociáveis, e

dentro de cada uma delas, há diferentes perspectivas que permitem que possamos entender o

estágio como um fenômeno complexo. Não podemos afirmar que essas perspectivas têm

acontecido em diferentes épocas, senão que podem conviver, já que cada projeto pedagógico,

nos cursos de Pedagogia, se posicionam de forma diferente.

Ao analisar as entrevistas, identificamos que o estágio supervisionado, realizado por

cinco das pedagogas entrevistadas, se revelou como a disciplina com a qual se construíram

conhecimentos sobre a educação não formal e, em muitos casos, foi por meio dele que

descobriram que podiam atuar nesses espaços.

Um exemplo disso foi revelado pela pedagoga Marisa, que afirmou que o estágio foi,

como explica Pimenta e Gonçalves (1990), uma aproximação com a realidade que poderia

atuar, conhecendo e refletindo, à luz das teoria, mais sobre esse espaço de educação.

Olha, na verdade, é o seguinte, a que mais eu trabalhei foi mesmo quando tive

Estágio não formal. Que aí que a gente desperta, desperta, inclusive, onde é que

tem? Onde é isso? Entendeu? Acho que a gente fica tão ligado a tantas pedagogias e

tantas pessoas, tantos teóricos falando, que a gente não se dá conta. (Marisa, 48

anos).

Nesta mesma concepção de estágio, Carmen afirmou que foi através dos estágios que

começou a gostar do trabalho em espaços não escolares.

Fiz estágios e desenvolvi projetos de extensão universitária. Foram eles oficinas de

Filosofia na Escola Família Agrícola Paulo Freire, no município de Acaiaca-MG;

desenvolvimento de oficinas de teatro em escolas de tempo integral nos municípios

mineiros de Teixeiras e Viçosa; desenvolvimento de oficinas de teatro na UFV. Esses

espaços foram muito bons para mim, por meio deles é que pude perceber que eu

realmente gosto de espaço extraclasse. A extensão universitária tem um papel

decisivo nesses casos, pois ela proporciona aos estudantes de graduação experiências

muito ricas que, acredito eu, nenhuma teoria dos livros poderia suprir (Carmen, 25

anos).

Em outras situações, foi através do estágio que a participante se aproximou dos

profissionais e instituições para analisar as ações que se realizam como exigência do curso de

87

Pedagogia, o qual tem a finalidade de que os alunos conheçam e se preparem para um futuro

espaço de inserção profissional. Rita nos confessou que trabalhava como pedagoga no espaço

não formal onde fez seu estágio quando era aluna do curso de Pedagogia.

Eu fiz estágio. Quando eu fiz estágio, fiz na escola regular e fiz aqui. Eu fiz aqui,

mas nunca pensei que, um dia, ia voltar para trabalhar. Fiz porque, dentro do estágio,

tinha uma parte que era, você tinha que fazer 30 horas na educação inclusiva. Então

eu fiz aqui. Mas quando eu fiz, em nenhum momento, pensei que poderia voltar para

trabalhar. Aí aconteceu, a vida da gente é assim (Rita, 41 anos).

Ao analisar as respostas dos questionários e da entrevista podemos observar, enquanto

a formação inicial, que a porcentagem de pedagogas que afirmam terem realizado disciplinas

de educação não formal (50%) é menor do que aquelas que fizeram estágios supervisionados

(62%). Ao aprofundar e conhecer mais sobre a sua formação, as participantes indicam que

este último foi o espaço dentro do currículo do curso de Pedagogia que possibilitou a

construção de saberes sobre a educação não formal. Segundo Pimenta e Lima (2012, p. 48),

“[...] na valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento

por meio de reflexão, análise e problematização dessa prática”.

Assim, através da inserção no futuro espaço onde poderiam atuar, na disciplina de

Estágio Supervisionado, as pedagogas conheceram um possível espaço de trabalho e

construíram saberes sobre a educação não formal.

Segundo Imbernon (1989), a formação inicial é insuficiente para formar os futuros

docentes, enquanto conhecimentos gerais e específicos, assim também como nos princípios

pedagógicos e científicos para desenvolver sua tarefa profissional. Como pudemos observar

no que diz respeito à formação na temática em educação não formal na formação das

pedagogas que trabalham na Região dos Inconfidentes, ela foi superficial.

Garcia (1999) adverte que a formação inicial não pode se conceber como um produto

acabado, senão como a primeira fase de um processo de desenvolvimento profissional, longo

e diferenciado. Desse modo, entendemos a formação dos pedagogos e pedagogas como um

processo continuado que começa na formação inicial e continua após essa fase.

Objetivando compreender os diferentes desafios que acontecem na vida profissional, a

formação continuada pode dar-se em qualquer etapa da trajetória dos pedagogos e pedagogas:

no início da carreira, na estabilização, na diversificação ou questionamento, na serenidade e

distanciamento afetivo, e na etapa de fase de desinvestimento, recuo e interiorização. Assim,

Cunha (2003, p. 368) define a formação continuada como:

88

Iniciativas de formação que acompanham a vida profissional dos sujeitos. Apresenta

formato e duração diferenciada, assumindo a perspectiva de formação como

processo. Tanto pode ter origem na iniciativa dos interessados como pode inserir-se

em programas institucionais. Nesse último, os sistemas de ensino, universidades e

escolas são as principais agências de tais tipos de formação.

Essa concepção sobre a formação continuada surge da superação de visões diferentes

da formação.

Nesse sentido, Hypolitto (1999) explica as diferentes visões da formação em serviço, a

primeira que desenvolvera foi a nomeada reciclagem, que foi utilizado na educação nos 1980

para definir a atualização pedagógica para obter melhores resultados. Segundo o autor, surgiu

uma forte crítica pela utilização desse termo para falar sobre seres humanos.

Outra concepção é a de treinamento, que se refere à ideia de uma repetição mecânica

para aprender automaticamente uma técnica. Há também uma crítica às visões de

aperfeiçoamento, que tem o sentido de tornar perfeito aquele que ainda não o é. Segundo o

autor, essa concepção está distante dos objetivos da formação continuada dos docentes.

Por outro lado, descreve a concepção definida como atualização, nomeação que

considera que o pedagogo e a pedagoga estariam desatualizados e que, por meio de um curso,

atualizariam seus saberes, sem refletir sobre como estes novos conhecimentos poderiam

aportar a sua prática cotidiana. Por último, analisa a ideia de capacitação, utilizada desde os

anos 1960, influenciada pelas teorias de Recursos Humanos, baseando-se no objetivo central

da qualificação dos docentes através de cursos, encontros, seminários.

Mas, como explica Nóvoa (1997), a formação não ocorre por meio da acumulação de

cursos, conhecimentos ou metodologias, se constrói por meio de um processo de reflexão

crítica sobre as práticas educacionais cotidianas e da reconstrução da identidade pessoal.

Portanto, superando esses modelos de formação continuada apresentados por Hypolitto

(1999), podemos defini-la, desde a pedagogia crítica, segundo Gadotti (2011, p. 41) como:

[…] a formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão,

pesquisa, ação, desconstrução, organização, fundamentação, revisão e construção

teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em novas

receitas pedagógicas ou aprendizagem das ultimas inovações tecnológicas.

Portanto, na formação continuada, o educador e a educadora são protagonistas,

analisando e refletindo sobre suas práticas cotidianas nos diferentes espaços onde atuam, para,

de forma criativa, transformá-los.

Ao analisar os dados coletados nos questionários e entrevistas das pedagogas que

trabalham em espaços de educação não formal, observamos que as fontes de formação

89

continuada são diversas. Um exemplo disso é o caso da pedagoga Maria, que explicou que,

por sua própria conta, começou a fazer algumas pesquisas sobre instituições não formais:

E eu também fiz algumas pesquisas sobre o trabalho de pedagogos nas instituições

não escolares. Então aí eu visitei algumas instituições, aqui em Mariana mesmo,

trabalhei em projetos sobre como seria o trabalho do pedagogo e, nessas pesquisas,

eu fui traçando algumas coisas. Até hoje também preciso melhorar, porque, às vezes,

você precisa renovar seu trabalho, né? Então você vai renovando através de buscas

mesmo, de pesquisa, de modelos que você tem de trabalho lá fora (Maria, 40 anos).

Maria afirmou que uma das fontes para a sua formação após o curso de Pedagogia

foram outras experiências existentes na cidade e outros educadores e educadoras. Por sua vez,

Elis explicou que ela foi procurando por meio de cursos e seminários aprender mais sobre o

seu trabalho.

E aí, quando fui fazer esse trabalho, eu fui correndo, lógico que não tinha internet,

nem essas coisas, não tinha na minha casa. Mas fiz pesquisas em Belo Horizonte,

como uma turma, fui fazer um trabalho para mim, vários cursinhos (Elis, 50 anos).

Também, muitas vezes, as pedagogas têm a função de planejar e realizar diferentes

seminários ou cursos de formação continuada com os colegas com os quais trabalham.

Porque a gente tem que ter ferramentas, agora o pessoal não quer. Eu vejo isso assim,

a gente fica muito triste aqui, porque a gente tenta. Eu já dê aula de pedagogia, de

projetos, de planejamento [...] (Marisa, 48 anos).

Outra das fontes são os mesmos funcionários e participantes do espaço de educação

não formal, tendo formações fora da instituição, por meio de seminários, mas também no

interior. Gal explicou que:

Mas agora a gente está sempre fazendo capacitações, sabe? Participando em

seminários. Então a formação, ela é interna mesma. Todo o interessante que tem a

Presidência passa para a gente e a gente está buscando, mesmo fazendo por aqui,

participando para ter mais conhecimentos (Gal, 37 anos).

Por último, podemos afirmar que um dos desafios para as pedagogas que trabalham na

educação não formal é achar fontes de informação com essa temática específica da educação

não formal, seja por meio de livros, artigos e pesquisas, ou em seminários e cursos.

Tanto que eu estou procurando sobre não formal, e tem muita pouca coisa. E muito é

de agora, não tem de 30 anos, 60 anos atrás. Não existe, por isso, eu acho que é

difícil (Marisa, 48 anos).

90

Portanto, podemos concluir que, quanto à formação continuada das pedagogas que

atuam na educação não formal na Região dos Inconfidentes, são diferentes as fontes para

refletir sobre suas práticas nos espaços de educação não formal e transformá-las. É preciso

construir conhecimentos a partir de diferentes cursos, seminários, sujeitos, instituições e

projetos, além de suas próprias experiências educacionais. A formação ocorre também através

da relação com outros e outras, por meio de diferentes informações e culturas e saberes e

através de si mesmo em um processo de autoformação. Sobre este ultimo Nóvoa (1997, p.13)

explica que:

A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos

professores os meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de

auto-formação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um

trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à

construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional.

Assim, as pedagogas são protagonistas na formação continuada, valorizando a sua

atuação e a construção de saberes por meio de sua prática e da reflexão crítica sobre a mesma,

deixando do lado a concepção de pedagogos, pedagogas e docentes como consumidores de

saberes, para reconhecê-los como produtores dos mesmos.

Segundo Tardif (2002), o saber docente é plural, desvalorizado e estratégico. Plural, já

que se compõe de vários saberes de diferentes fontes. Por sua vez, é um saber desvalorizado,

porque existe uma divisão profunda entre dois grupos, a comunidade científica, definida como

produtora de saberes, e a comunidade docente, transmissora dos mesmos. “[...] o saber dos

professores que aí atuam parece residir unicamente na competência técnica e pedagógica para

transmitir saberes elaborados por outros grupos” (TARDIF, 2002, p. 35). Essa divisão e

oposição não permitem valorar os saberes construídos pelos pedagogos e pedagogas, embora

esses dois grupos tenham funções socialmente estratégicas igualmente importantes.

Entretanto, a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de

transmissão dos conhecimentos já constituídos. Sua prática integra diferentes

saberes, com os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o

saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos

coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares,

curriculares e experienciais (TARDIF, 2002, p. 36).

Estes quatro saberes expostos por Tardif (2002) são definidos como os saberes da

formação profissional, que são aqueles que podem ser nomeados como pedagógicos,

transmitidos pelas instituições de formação superior. Também existem os saberes

91

disciplinares, que correspondem aos diferentes campos de conhecimento e também são

aprendidos na formação inicial e continuada. Os saberes curriculares, “correspondem aos

discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e

apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos de cultura erudita

e de formação para a cultura erudita” (TARDIF, 2002, p. 38). Por último, explica os saberes

experienciais, que são aqueles que se constroem no trabalho cotidiano, que os educadores e

educadoras produzem para compreender e dominar a sua prática.

Será neste último saber que focalizaremos. Ao ampliar a definição sobre os mesmos o

autor afirma que:

Pode-se chamar de saberes experienciais o conjunto de saberes atualizados,

adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que não provém

das instituições de formação nem dos currículos. Estes saberes não se encontram

sistematizados em doutrinas ou teorias. São saberes práticos [...] e formam um

conjunto de representações a partir das quais os professores interpretam,

compreendem e orientam sua profissão e sua prática cotidiana em todas suas

dimensões (TARDIF, 2002, p. 49).

Quando o autor indaga aos professores e professoras sobre seus saberes e sua relação

com os saberes da formação profissional, disciplinar, curricular ou experiencial, a maioria

aponta, no seu discurso, para os últimos, aqueles que são construídos na prática. Analisando

os discursos das pedagogas que trabalham na educação não formal na Região dos

Inconfidentes, concluímos o mesmo. Por exemplo, Gal e Carmen nos explicaram que:

Aqui, querendo ou não, é não formal, né? Aí eu acho que não, muito pouco. Agora

mesmo eu estou aprendendo a partir da vivência e dos cursos que estive te falando.

E, assim, alguma coisa eu consigo trazer da sala de aula. Porque, querendo ou não,

aqui também tem aula, tem professores, é não formal, mas tem coisas que lembram a

escola. Uma escola de arte, claro, diferenciada por causa disso. Mas tem alunos, tem

problemas de alunos, como tem na escola regular. Então, muita coisa acaba

importando da escola mesmo. Então, muita coisa que eu consigo trabalhar é de

minha vivência (Gal, 37 anos).

É na prática que entendemos os desafios da profissão docente e nos espaços não

formais de ensino compreendemos que as dimensões da aprendizagem são muito

amplas e que precisam ser exploradas (Carmen, 25 anos).

Então será através dos saberes experienciais que se constituem os fundamentos da

profissão do pedagogo ou pedagoga. A prática torna-se um momento de aprendizagem, no

qual os pedagogos, tanto de espaços formais como não formais, retomam criticamente os

outros saberes adquiridos (da formação profissional, disciplinares e curriculares), conservando

aqueles que são de utilidade para o seu trabalho cotidiano.

92

Na conversa com Marisa, ao perguntar sobre os saberes necessários para a educação

não formal, ela refletiu sobre a utilidade do conhecimento na prática:

Olha eu acho que o conhecimento... Em nível prático, quando você mais lida com

eles você vai ter conhecimento. Porque se você não sabe, vai buscar saber. Então eu

acho que é a partir da prática que a gente vai usar. Agora, conhecimento, acho

importantíssimo essa coisa social, sabe? Até o histórico mesmo, de onde que a gente

vem, das coisas que a gente faz, ou então onde é a região dos meninos, e pais, de

onde estão vendo. Então eu acho assim, um reconhecimento do local, da vida, né?

Da família desses meninos. E a questão mesmo teórica, assim do social (Marisa, 48

anos).

Neste fragmento, a pedagoga indica um conhecimento em nível prático, relacionado ao

trabalho cotidiano, e um conhecimento teórico relacionado aos saberes “do social”, que

aprendeu na sua formação inicial e que pode ajudá-la no seu trabalho (indicou, nesse grupo,

disciplinas como Psicologia, Psicologia Coletiva, Arte e Pedagogia).

A relação entre a teoria e a prática nem sempre é a mesma, depende das diferentes

concepções, algumas que as contrapõem ao priorizar a teoria sobre a prática, ou vice-versa,

mas também algumas que acham que a prática e a teoria são indissociáveis.

Essa última é definida como práxis, segundo Vásquez (1968, p. 108), como:

[...] uma atividade material, transformadora e ajustada a objetivos. Fora dela, fica a

atividade teórica que não se materializa, na medida em que é atividade espiritual

pura. Mas, por outro lado, não há práxis como atividade puramente material, isto é,

sem a produção de finalidades e conhecimentos que caracteriza a atividade teórica.

Segundo este autor, a práxis é uma atividade, mas nem toda atividade é práxis. A

práxis é uma atividade humana consciente, que tem o propósito de transformar um objeto ou

sujeito. Ela existe duas vezes, num primeiro momento, na consciência com um resultado

ideal, e, logo, o resultado real, tentando adequar o primeiro ao segundo. Então toda atividade

humana tem um fim, que é produzido pela consciência e prefigura idealmente o resultado real

que gostaria obter, e o qual se revela com a produção de conhecimentos (conceitos, hipóteses,

teorias). Vásquez (1968, p. 251) afirma:

Así pues, la actividad de la consciencia, que es inseparable de toda verdadera

actividad humana, se nos presenta como elaboración de fines y producción de

conocimientos en íntima unidad. Si el hombre aceptara siempre el mundo como es y

si, por otra parte se aceptara a sí mismo en su estado actual, no sentiría la necesidad

de transformar el mundo ni de transformarse él a su vez.

93

Então, a atividade humana prática e a atividade humana teoria não se contrapõem,

senão que as duas são necessárias para transformar objetos, sujeitos e a si mesmo, criando

novos. Assim, a produção de conhecimentos e as ações têm relação através dos fins que o ser

humano se propõe. Segundo Pimenta (2012, p. 105), “a atividade teórica é que possibilita de

modo indissociável o conhecimento da realidade e o estabelecimento de finalidades para a sua

transformação. Mas, para produzir tal transformação, não é suficiente a atividade teórica; é

preciso atuar praticamente”.

Já a educação, esta é uma prática social que precisa de um conhecimento teórico para

se desenvolver, o que ocorre através da práxis. Segundo Freire (2005), a reflexão e a ação são

constitutivos da práxis e fundamentais para a transformação do mundo e do ato educacional,

mas ele adverte que ambas estão condicionadas sempre pela realidade em que está o ser

humano. Assim, define que, sem a reflexão crítica sobre a prática, a teoria pode virar

palavrearia e a prática, ativismo.

Em educação, a práxis gera-se através da relação dialética entre teoria e prática, o quer

dizer que, deixando ao lado as certezas, o pedagogo e a pedagoga refletem criticamente sobre

a sua prática educacional cotidiana, buscando transformá-la, criando novos caminhos. Assim,

a educação é um ato criativo.

Na educação não formal podemos concluir que isso acontece, as pedagogas indicam

que aprendem na sua prática, refletindo sobre ela e se ajudando através de diferentes leituras,

procurando novas informações e, finalmente, construindo novos conhecimentos e projetos,

com os quais melhoraram a sua prática. Clara nos disse:

Então o que eu aprendi aqui, foi com meu trabalho, fui com que fui quebrando

cabeça, fui buscando, fui fazendo errando. E tudo eu faço com cautela, com muito

cuidado. Porque escrever é difícil. Então você vai fazer um relatório dum aluno... E

tem que ler, tem que buscar, eu faço muito projeto. Para a área administrativa, tanto

é que tem vários projetos que eu já fiz que foram agraciados. Então tudo isso

depende, de que tem que ler muito, tem que buscar informação (Clara, s/r).

Freire (1996) indica que é necessário ter compromisso com o ato educativo e com os

sujeitos que participam das experiências educacionais, tendo em conta o contexto no qual

estão inseridos. Assim, tendo como convicção de que mudanças são possíveis, Elis também

afirmou que aprendeu a trabalhar na educação não formal através da prática, e assim foi

conhecendo pouco a pouco o contexto no qual estava inserido o espaço de educação para além

da escola.

94

Foi tudo na prática. Tudo assim, onde é que tenho que buscar o arroz, onde tenho

que bater para buscar um leite, onde tenho que ir para buscar uma doação. E fui

visitando as casas, todas as casas eu fui: “Oi, eu sou a nova coordenadora”. Porque,

para ter os pais aqui, é muito difícil, e essa é uma outra barreira. Transporte e a

frequência de pais aqui, é muito. Então fui batendo nas casas, levar para um menino

(Elis, 50 anos).

Também um dos aspectos da práxis exigidos, segundo Freire (1996), é o diálogo com

outros pedagogos e pedagogas, com educadores sociais, com todos os funcionários do projeto

educacional, assim também com as crianças, jovens e adultos que participam, com estudantes

em formação, e com diferentes atores sociais. Ter humildade para escutar todos é uma

possibilidade para criar novos conhecimentos ao refletir sobre a prática do dia a dia, que,

muitas vezes, por tempos e urgências de outras atividades, fica relegada.

A pedagoga Maria explicou que, no projeto educacional no qual trabalha, recebe

muitas estagiárias e a presença e a conversa com elas é um momento para pensar e repensar

sua prática e os objetivos do espaço de educação não formal. Assim, considera esse momento

de interação com estudantes em formação como um momento de aprendizagem sobre a

educação não formal.

E quando vêm os estagiários, porque aqui a gente acolhe muitos estagiários. Então

eles procuram muito instituição para estágio. Então é um pouquinho motivador,

porque você começa como pedagoga, a gente começa a refletir a prática pedagógica.

E isso também acaba acendendo a chaminha da motivação, da esperança. Então a

gente começa a caminhar também com muita mais gente. Para a instituição é ótimo

quando vem estagiários, porque a gente repensa nossa prática pedagógica aqui

(Maria, 40 anos).

Ao analisar as entrevistas das pedagogas participantes da pesquisa, considerando tanto

a sua formação inicial, continuada, como a sua atuação, podemos concluir que é na práxis, ou

seja, na reflexão crítica sobre a prática cotidiana com o fim de transformá-la, que se

constroem, de forma criativa, os saberes necessários para atuar em espaços de educação não

formal.

4.3 Atuação das pedagogas da educação não formal

Entendemos a educação como um campo amplo, complexo e heterogêneo, no qual

existe uma multiplicidade de espaços educacionais, tanto formais como não formais, onde os

licenciados em Pedagogia poderão atuar. Como explicamos anteriormente, segundo as

95

Diretrizes para o curso de Pedagogia (Resolução CNE/CP no. 1/2006 e o Parecer CNE/CP nº.

5/2005), se definem os espaços de atuação destes profissionais como sendo: a Educação

Infantil, os Anos Iniciais do Ensino Fundamental e disciplinas pedagógicas dos cursos de

nível médio, na modalidade Normal e de Educação Profissional e em ambientes não escolares.

Dessa forma, modificando os espaços de atuação dos pedagogos e pedagogas,

ampliam-se as experiências educacionais para além da escola, ligados a uma multiplicidade de

âmbitos e com diferentes objetivos.

Como pudemos observar no trabalho de campo, diferentes são os espaços onde as

pedagogas atuam: educação especial, educação artística, centro de recreação, casa lar e

biblioteca. Tais espaços refletem a diversidade e heterogeneidade de experiências que podem

ser nomeadas como não formais.

Segundo a afirmação de Gohn (1999), os objetivos desses espaços também podem ser

diferentes: educação para igualdade e diversidade cultural; educação contra qualquer tipo de

discriminação; educação para a liberdade; para os direitos; educação para a justiça social; e

para o exercício da cultura. Esses objetivos podem estar refletidos nos diferentes projetos

sociais dos participantes da pesquisa, em seus documentos e em suas práticas cotidianas.

O que estes projetos sociais têm em comum é a característica de ser um espaço

educacional para além da escola onde trabalha uma ou mais pedagogas. Como analisamos nos

dados dos questionários, pudemos observar que a atuação da maioria delas é recente, já que

75% trabalham nesses espaços entre 0 a 5 anos. Para a mesma porcentagem, não foi a

primeira vez que trabalhavam em outros espaços de educação não formal.

Ao indagar mais sobre este último resultado nas entrevistas, descobrimos que ter

trabalhado antes na educação não formal foi uma experiência significativa, para,

posteriormente, apoiar a decisão de atuar como pedagoga nesses projetos sociais. Carmen, ao

responder sobre sua decisão, explicou-nos:

Como disse anteriormente, trabalhava em projetos sociais na minha cidade natal e

sempre gostei disso. Confesso que nunca gostei de estar no espaço físico da escola

ou sala de aula (Carmen, 25 anos).

A pedagoga Marisa também adverte que, antes de estudar no curso de Pedagogia, já

participava de espaços de educação não formal:

Na verdade, eu sempre trabalhei com alguma coisa que está relacionada à arte,

cultura e educação. Então eu já trabalhava em espaços não formais. Então sempre

trabalhei na área de oficinas, de coordenação de oficinas (Marisa, 48 anos).

96

Clara relata que começou sendo funcionária no espaço de educação não formal onde

trabalha atualmente e que, ao receber o grau de licenciada em Pedagogia, foi convidada a

ocupar o posto de pedagoga.

Quando eu vim para aqui, assumi numa turma de estimulação à tarde. Quando

cheguei, não tinha formação acadêmica. [...] Quando eu fui atuar como pedagoga, eu

comecei meu trabalho, praticamente deu uma continuidade (Clara, n/r).

Também descobrimos que o tempo de trabalho semanal é significativo, já que metade

delas trabalha durante 40 horas semanais e um quarto das pedagogas em 30 horas semanais.

Para 63% delas, este espaço é o único trabalho.

Quanto aos cargos que ocupam nesses espaços de educação não formal, encontramos

diferentes formas de nomeá-las ao contratá-las para funções pedagógicas, tais como:

pedagoga, coordenadora pedagógica, coordenadora, auxiliar de biblioteca e assessoria da

presidência (área pedagógica). Embora a nomenclatura mais utilizada seja pedagoga, podemos

pensar que essa heterogeneidade se dê pelo fato de que esse cargo tenha sido criado

recentemente para as instituições de educação não formal. Nesse caso, não existe

documentação unificada, como nos espaços escolares, onde se definem o cargo e as funções a

serem desenvolvidas pelos pedagogos nos espaços de educação não formal.

Mas também podem ser as características próprias da educação não formal, uma vez

que não existe um modelo único a seguir. Os projetos educacionais da educação não formal

são contextualizados e adaptados às necessidades dos participantes e sua realidade. Por isso,

nos projetos, são mais flexíveis os tempos, espaços e metodologias utilizadas para

desenvolver as atividades e cumprir com os propósitos estabelecidos. Também não existe uma

única forma de nomeação do cargo como pedagoga, nem de processo seletivo para ocupar o

trabalho.

Em suma, as profissionais atuam como pedagogas dos espaços de educação para além

da escola, tendo influenciado na sua decisão de ocuparem esse cargo o fato de terem

trabalhado anteriormente em experiências de educação não formal, sendo, para mais da

metade das pedagogas, seu único trabalho e ocupando entre 40 e 30 horas semanais.

Concluímos também que não existe uma forma consensual, entre os diferentes projetos

sociais, de se nomear os cargos ocupados pelas pedagogas.

97

Para indagar sobre este cargo e aprofundar o conhecimento sobre a atuação das

profissionais nos espaços de educação não formal, pesquisamos sobre as funções das

pedagogas nestes projetos sociais.

Segundo as Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia (Resolução CNE/CP no.

1/2006), nos espaços da educação não formal poderão ser realizadas a seguintes atividades:

planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de experiências não

formais. Todas essas funções são centradas nas possíveis tarefas de caráter pedagógico a

serem desenvolvidas.

Na fala das pedagogas, pudemos observar que as funções das mesmas se centram na

coordenação pedagógica, acompanhando aos educadores e educadoras, assim como das

crianças e os jovens, planejando os projetos sociais e na execução dos mesmos.

Relacionado à coordenação pedagógica, algumas pedagogas afirmam que:

Então, assim, a gente também ajuda na coordenação. Então toda a parte da

coordenação é também coisa das pedagogas. A gente, além de olhar planejamento

dos professores, acompanhar aos meninos na sala, a gente também faz a parte de

organização (Rita, 41 anos).

Como essa coisa mesmo de o que assunto que vai ser: como é que se vai programar

o esquema, quais são os professores que são mais habilitados para dar aquele tipo de

coisas, mesmo a coordenação administrativa, se tem alguma coisa que influencia a

pedagogia, eu entro (Marisa, 48 anos).

Nessa função, as pedagogas também organizam as reuniões de planejamento com os

educadores e muitos desses espaços de reunião foram criados pelas pedagogas quando

começaram a trabalhar nesses locais. Maria aclarou:

Então, a gente tem reuniões pedagógicas e administrativas, que é uma coisa que eu

implantei também né? (Maria, 40 anos).

Para as pedagogas, esses espaços são âmbitos para coordenar e organizar o

planejamento semanal e mensal na educação não formal. Gal e Rita, em suas falas,

descreveram como é o trabalho cotidiano e qual é sua participação.

Nós somos o setor pedagógico e a gente trabalha ajudando mesmo os professores,

diretamente orientando, fazendo reuniões periódicas de planejamento. No Ofícios,

que é o programa de formação para jovens a partir de 14 anos, que é o programa de

arte, restauro e ofícios, lá se realizam reuniões semanais, todas as sextas-feiras, a

gente faz a reunião com os professores para estar planejando a próxima semana.

Então a gente planeja dia a dia, nessa reunião de sexta-feira. Dia a dia da próxima

semana, todas as atividades, conteúdos, como é que vai ser trabalhado, né? Cada

conteúdo, o material que vai ser utilizado, em cada aula, qual professor vai ficar

98

responsável por qual atividade dentro daquele conteúdo, dentro daquele tema. No

Núcleo de Artes, a gente também faz reuniões quinzenais, lá as reuniões são

quinzenais. Para ver também as dificuldades que o professor está tendo, dos cursos,

dentro da sala mesmo, com os alunos (Gal, 37 anos).

Nessa parte todinha, em questão de horários, de cumprir horários, de olhar o

professor, de ver se o aluno se está desenvolvendo. De olhar se está o espaço limpo.

De olhar se as coisas estão dando certo! Tem um planejamento geral e tem

planejamento que vai surgindo. A gente vê algumas datas comemorativas, que a

gente tem costume de comemorar. E, fora disso, a gente vai criando algumas coisas

no caminho, que vão acontecendo (Rita, 41 anos).

Também na coordenação atribuem-se atividades, como o planejamento anual. O

trabalho das pedagogas costuma ser em conjunto com o de sua equipe, e começa desde os

primeiros dias do ano, quando criam a proposta pedagógica que se projeta para o trabalho que

se realizará no futuro.

E hoje, aqui, a minha parte na área da Pedagogia, eu oriento muito, são os

planejamentos. Planejamento de 2016, em janeiro, sentei e já montamos tudo o que

vamos fazer. Tudo o que nós vamos fazer durante o ano. Atividades durante a

semana (Elis, 50 anos).

Em suma, podemos observar que, inerente à função de coordenação pedagógica que

desenvolvem as pedagogas nos espaços de educação não formal, a atividade da organização e

desenvolvimento de reuniões pedagógicas e administrativas com os educadores e funcionários

são fundamentais. Estas têm o objetivo de planejar o que acontecerá na semana, no mês e no

ano e têm sempre em conta os participantes dos projetos sociais e os objetivos de cada espaço

de educação não formal para pensar em conjunto as atividades, conteúdos e tempos nos quais

serão desenvolvidas. Funciona também como um espaço de apoio e acompanhamento de

todos os participantes do projeto, para pensarem as problemáticas, demandas e os logros.

Outra atuação do pedagogo na educação não formal refere-se às atividades de

acompanhamentos da educadora e/ou do educador, respeitando, escutando-os e oferecendo

orientações para ajudá-los no seu trabalho cotidiano. As pedagogas Maria e Gal disseram:

Vejo as oficinas, como está sendo a metodologia, como está lá dentro, como é que

você trabalha com artes diversas. Se trabalha com artes marciais, com esportivo,

dança, música, é diferente do que você realmente tem na grade escolar curricular:

Português, Matemática. Então aqui você tem que respeitar como o que o professor

faz sua metodologia. Aí você faz uma intervenção, recomendação, né? E uma

supervisão, né? Do que está trabalhando dentro, do que tem que ser para criança e

adolescente. Então, faço todo esse acompanhamento (Maria, 40 anos).

E a gente está sempre acompanhando também as aulas. Tanto no Ofícios, quanto no

Artes, a gente está sempre acompanhando as aulas. Então qual é a demanda que se

99

tem no dia a dia, né? Além dessas reuniões, que são de planejamento, qualquer

dúvida do professor no dia a dia, a gente conversa. A gente tenta ajudar o professor,

buscando soluções para problemas diários mesmo, que sempre acontecem,

principalmente no Ofícios, porque são adolescentes (Gal, 37 anos).

No acompanhamento também se reflete na ajuda e orientação de outros funcionários

nos espaços de educação não formal.

Além de dar um apoio à secretaria em relação aos registros. Porque aqui a gente não

tinha registro, então, desde que eu cheguei aqui, eu sempre mostro a necessidade,

faço orientação para ter essa questão de registros, de matrículas, registros de fichas

de acompanhamento. E também a coordenação, sempre sou um apoio à coordenação

com problemas de indisciplina ou se precisa de uma orientação pedagógica (Maria,

40 anos).

As pedagogas participantes também afirmaram que, em seu trabalho cotidiano,

também acompanham as crianças e jovens que participam nos projetos sociais. A

aproximação ocorre através da escuta e do conhecimento do que acontece com eles e sua

realidade, e também sobre o que acham das atividades e objetivos dos espaços de educação

não formal. Um exemplo disso é o que Maria e Gal explicaram:

Sim, eu sempre procuro uma aproximação assim muito grande com os adolescentes

e crianças. Porque acho que o trabalho é com eles. Então eu procuro aproximação,

conhecê-los, né? Saber com quem você está lidando, o que você está atendendo.

Então sempre me envolvo com os adolescentes, procuro saber se eles estão gostando

também das atividades, quais oficinas estão fazendo (Maria, 40 anos).

Então sempre tem um jovem que não quer fazer a aula, tem jovem que quer sair

cedo, tem jovens que brigam. Então a gente está sempre assim, a gente tem demanda

a semana inteira, quase todos os dias, tem alguma coisa, né? Para a gente estar

vendo, para estar conversando, tanto com os professores, como com os alunos (Gal,

37 anos).

Na função de coordenadoras pedagógicas, as profissionais não só acompanham os

educadores, educadoras, funcionários, crianças e jovens. Também trabalham no

relacionamento com a comunidade e com os pais de quem participam, procurando fazer com

que eles sejam parte dos espaços de educação não formal. Todas as pedagogas afirmam

organizar e planejar as reuniões de pais, assim como Clara e Gal, que explicaram que criaram

um espaço para ajudar os pais na sua tarefa.

A gente faz também reunião com os pais, o trabalho com os pais também, né? As

reuniões com os pais são duas vezes ao mês. [...] Para chamar mesmo a família para

participar (Gal, 37 anos).

100

Esses programas sou eu que faço. O centro de convivência, também a escola de pais.

Esse dá uma ajuda aos pais, um direcionamento e acompanhamento de direitos e

deveres. Esse processo tudo, sou eu que faço (Clara, s/r).

Esse espaço para pais surgiu através, como explica Gohn (2008), das três fases na

construção dos educadores que trabalham na educação não formal. A pedagoga Clara e sua

equipe diagnosticaram uma necessidade dos jovens e seus pais, de como eles poderiam se

relacionar e acompanhar os processos de aprendizagem deles. Por isso, geraram a proposta de

uma escola de pais, desenvolvendo diferentes atividades nesse espaço e promovendo a

participação dos mesmos.

Em conclusão, podemos observar que as atividades de acompanhamento das

pedagogas se desenvolvem com os diferentes participantes dos espaços de educação não

formal: educadores, educadoras, funcionários, crianças, jovens, pais e toda a comunidade do

território. Esta ocorre no cotidiano, através da escuta, do diálogo e do respeito pelo outro, por

meio de diferentes estratégias, propostas e encontros, promovendo a participação de todos.

Além das atribuições de organização do planejamento, coordenação de reuniões,

acompanhamento de todos os que participam no projeto social e educacional, as pedagogas

desenvolvem a tarefa de formação continuada dos educadores e educadoras, abordando

diferentes temáticas necessárias para o trabalho diário nesses espaços. No entanto,

reconhecem que, nessa atividade, muitas vezes, existem dificuldades para desenvolvê-la.

Porque a gente tem que ter ferramentas, agora o pessoal não quer. Eu vejo isso

assim, a gente fica muito triste aqui, porque a gente tenta. Eu já dei aula de

pedagogia, de projeto, de planejamento simples, planejamento que você faz assim

Não, mas eu falei que sou insistente. E outro dia falei com eles (Marisa, 48 anos).

Então é isso que a gente tem que estar buscando, mais conhecimento, porque a gente

está auxiliando aos professores. A gente sente também que os próprios professores

têm uma deficiência, uma necessidade de aprendizagem também com a gente. Então

a gente está buscando juntos. Essas reuniões onde a gente faz planejamento, a gente

procura estudar também juntos para a gente estar melhorando, né? Para a gente estar

adquirindo maiores conhecimentos (Gal, 37 anos).

As pedagogas colaboram desenvolvendo diferentes oficinas. Carmen explicou que sua

atividade centra-se na execução das oficinas com as crianças e jovens.

Preparo o espaço com a ajuda do motorista do caminhão, dispondo mesas e cadeiras

pelo espaço externo e organizando o espaço interno. Com a chegada das crianças e

jovens, primeiramente, era disponibilizado o empréstimo e devolução dos livros, em

seguida, contava uma história e desenvolvia uma atividade baseada no livro ou

101

disponibilizava brinquedos que também fazem parte do acervo do espaço (Carmen,

25 anos).

Por outro lado, Marisa explicou-nos que, além de outras atividades pedagógicas, tem

“sua turma” de crianças com quem trabalha numa oficina.

Agora aí eu tenho meus meninos. [...] São duas turmas, a gente separa. Eu dou aula

numa, e estou com meus meninos. Que coisas! Hoje a coordenadora, falou: “Eu não

sabia que era assim”. E eu falei: “Então pode saber”. A gente coloca, divide, a gente

brinca, a gente está fazendo um móbil cada um. E os meninos vão fantasiados

(Marisa, 48 anos).

Como temos explicado com base em diferentes autores (GOHN, 2008; TRILHA,

2008), uma das caraterísticas principais da educação não formal é a construção de projetos

educacionais e sociais de forma participativa, propostas que tenham em conta o contexto,

valores, saberes e pertencimentos da comunidade local. Na coordenação e desenvolvimento

dessa tarefa, as pedagogas explicam que têm um lugar muito importante. Tanto nas entrevistas

como nas observações, pudemos concluir que todas as profissionais participam e coordenam

esse processo de construção de propostas. A respeito do seu trabalho, Maria nos disse:

Ele é pedagogo em qualquer lugar, não é? Então, e até o trabalho dele, às vezes, é

até muito mais árduo, vamos dizer, vamos falar assim que é muito mais os desafios

quando ele está fora das instituições escolares. Porque ele tem muito mais trabalho

não feito, porque tem que organizar todo o serviço com uma estrutura que não

existe. Então ele tem que se espelhar em outras coisas em relação ao pedagógico,

tem que buscar parcerias. Então é toda uma questão de trabalho mesmo. De desafios

( Maria, 40 anos).

Nessa afirmativa, Maria reflete sobre o lugar de pedagoga nos espaços de educação

não formal e explica as diferenças que ela encontra com o trabalho na instituição escolar. Na

educação não formal, está tudo por ser construído e as pedagogas que participam da pesquisa

têm um papel fundamental nessa tarefa. Assim, Marisa relatou sua chegada ao projeto:

Quando eu cheguei aqui, achei isso um escândalo. Porque tudo separado, cerâmica

era uma coisa, vidro era outra, era muito mais artesanato. Aí nós entramos com

projeto de contextualizar em diferentes temas. Então se você fosse trabalhar com

temas, você pode com várias técnicas. Mas o tema tem que prevalecer. Então a gente

começou com confraternização (Marisa, 48 anos).

Como exemplo, Clara relatou todos os projetos nos quais foi participando e criando

novas propostas com diferentes objetivos. Embora, no seu relato, ela tenha explicado que foi

102

ela que realizou o projeto, ao indagar mais, esclareceu que propôs os projetos, mas foi com a

participação dos funcionários e da comunidade que foram desenvolvidos.

Eu faço projetos e programas pedagógicos, por exemplo, a gente propõe uma

proposta pedagógica. Nós temos a fábrica de sorvete e picolé, a fanfarra, nós temos

centro tecnológico, que são programas que são direcionados. E eu faço outros

programas que são vinculados à proposta. Porque a proposta da fanfarra não é solta,

ela tem um programa, ela se encaixa com a proposta pedagógica. Esses programas

sou eu que faço. [...] A cobertura da quadra de esportes, o piso daqui, a fisioterapia

toda equipada, todas as salas têm materiais, tem uma piscina que está em obra. Esse

é um projeto meu também, que a parte de hidroterapia, para atender à tarde. Tem um

projeto de cadeiras de rodas que está aí para apresentar. Tem o centro tecnológico,

também foi um projeto meu. Tem outros que nem lembro! Então esses projetos

todos, todos que tem dentro da instituição hoje, é projeto meu (Clara, s/r).

Além de ter uma participação fundamental na construção e no desenvolvimento dos

projetos pensados em cada espaço de educação não escolar, são as pedagogas que escrevem

os relatórios, os projetos e sua avaliação, assim como outros documentos que estão

relacionados à aprendizagem dos participantes, ao desenvolvimento das reuniões e outros

solicitados por outras instituições.

A gente passa os planejamentos, aí tem os planos de aula do educador, que eu

sempre estou olhando também. Aí tem a frequência com que o educador faz, que aí

eu sempre estou ajudando, de vez em quando. Então é essa questão pedagógica

mesmo. Além de fazer documentações, quando é necessário, em relação ao

pedagógico, também faço. Registros de tudo isso, mais é comigo mesmo esse

trabalho pedagógico (Maria, 40 anos).

Faço relatório, quando a gente tem problema de acompanhamento com aluno, sou eu

que vou ao conselho tutelar (Clara, s/r).

Outras tarefas são desenvolvidas pelas pedagogas em seu trabalho cotidiano. Ao

observarmos seus trabalhos e também com as entrevistas, percebemos que são elas que

organizam diferentes passeios e datas comemorativas. Rita explicou como é esse processo:

Agora mesmo vamos ter a festa junina, e já começaram a trabalhar. E aqui fora, a

gente começou a fazer todo o planejamento: que dia vai ser a festa, que vai ter a

festa, que precisa para cumprir isso. E vai fazer que a coisa aconteça. Tem todo um

planejamento que ele sai daqui, e se adapta fora e vão ser dividido as funções, cada

um pega sua função e vai desenvolvendo. E aí a festa acontece (Rita, 41 anos).

Quando as pedagogas responderam sobre sua função, relataram uma multiplicidade de

atribuições para seu cargo, muitas relacionadas com o pedagógico e outras não. Assim,

desenvolvem atividades, como a coordenação dos espaços não formais; organização do

planejamento; coordenação de reuniões pedagógicas com os educadores e educadoras;

103

coordenação e organização das reuniões com os pais; acompanhamento dos educadores,

funcionários, crianças, jovens e pais; coordenação do trabalho dos educadores e educadoras;

formação continuada e capacitação de educadores e educadoras; construção de projetos

pedagógicos e propostas educacionais; redação de relatórios; organização de eventos e

festivos; e coordenação de trabalho com estagiários.

Além dessas tarefas, as pedagogas realizam tarefas administrativas, como a elaboração

e o desenvolvimento do edital de estagiários, assim como sua seleção. Em outros casos, são

elas que recebem os estagiários de diferentes cursos da universidade.

Mas, por exemplo, agora a gente está, a gente vai tentar, está aberto, a gente já

escolheu mais estagiários. Todo o processo do edital, até o processo seletivo, até a

última etapa eu e a outra pedagoga fizemos. Aí eu fiquei fazendo o edital, de

inscrições, todo por minha conta. Depois a outra pedagoga pegou para organizar

(Marisa, 48 anos).

Também são as pedagogas as responsáveis pela busca de verba para o financiamento

dos projetos. Todas as pedagogas alertaram que a maior dificuldade nos espaços de educação

não formal é o financiamento do mesmo e todas as ações que elas têm que realizar para obtê-

lo. Para isso, procuram diferentes estratégias, desde convênios com órgãos públicos e

privados, ou organizando atividades para arrecadar dinheiro. Clara e Elis nos disseram que:

Além desse material, eu faço projetos para arrecadar fundos para a melhoria daqui.

Por exemplo, tem dois contêineres que eu fiz pedido para Samarco, estão aí” (Clara,

s/r).

E hoje a parte financeira para pagamento de funcionário, é muito pesado, muito

caro, então que nós fazemos. Nós estamos correndo atrás de um convênio de

prefeitura e, agora em abril, nós conseguimos nove parcelas, para a gente ver se

consegue (Elis, 50 anos).

Nesses espaços, além das funções pedagógicas que se desenvolvem, às vezes, é

necessário interferir na questão nutricional também. Sobre isso, Rita comentou:

O dia a dia da instituição. A questão da merenda, que vá servir na merenda, a gente

faz o cardápio. Até se necessitar na cozinha. A gente está sempre. A gente faz o

pedido de merenda. Então, assim, o pedagogo é que está em tudo (Rita, 41 anos).

Também exercem outras funções administrativas que surgem no dia a dia para garantir

o desenvolvimento e o funcionamento das atividades e os objetivos dos projetos sociais. Clara

explicou-nos que também assume a função na direção por falta de funcionários.

104

E, atualmente, desde o ano passado, nós somos duas pedagogas, uma responde pelo

turno da manhã e noite e a outra pela tarde. E a instituição, desde o ano passado,

desde 30 de novembro, nós estamos sem direção pedagógica, então nós também

estamos pela direção também! Clara, s/r.

A todas estas atividades se adiciona a limpeza e outras tarefas necessárias para que o

espaço seja apto para desenvolver as oficinas e projetos sociais.

De olhar se está o espaço limpo. De olhar se as coisas estão dando certo! (Rita, 41

anos).

Na entrevista com as pedagogas, todas afirmaram que, para trabalhar na educação não

formal, também devem cumprir funções do serviço social. Observamos que, em muitos dos

projetos sociais, não existe um profissional que tenha essa formação e é por isso que são elas

que realizam essas tarefas. Além disso, as pedagogas relataram que a maioria trabalha com

crianças e jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade social e isso faz com que

aprendam a lidar com essa realidade social. Relataram ser necessário criar projetos e

estratégias para poder trabalhar propostas que aportem, como explica Gohn (2008), a

reconstrução do tecido social existente e, em muitas oportunidades, a transformação da

realidade dos sujeitos. As pedagogas Maria e Clara explicaram:

Eu acho que, como você está numa área social, então acho que você tem que saber

lidar com o público que você atende. Então aqui você tem que atender crianças e

adolescentes, na situação de vulnerabilidade social, então você tem questão de

drogas, tem questão de sexualidade, tem a questão de família também. Eles trazem

problemas de casa, o convívio de casa, então tem que observar mais. Eles têm uma

carência de conversa, de falar o que está passando em casa. Então são essas questões

que você trabalha (Maria, 40 anos).

Às vezes, faço com a assistente social, às vezes, sozinha (Clara, s/r).

Então, às funções pedagógicas já descritas somam-se outras atividades, como a

procura de verba para o financiamento dos projetos, a elaboração e desenvolvimento do edital

de estagiários, a organização e execução da alimentação realizada nos espaços de educação

não formal e a coordenação com outras instituições da comunidade.

Assim, concluímos que as pedagogas que atuam na educação não formal, além de

terem funções pedagógicas, desenvolvem funções administrativas e funções da assistência

social.

Mas, nesta multiplicidade de tarefas que realizam para a sua função como pedagogas,

reflete-se um fenômeno que permeia o mundo do trabalho de um modo geral e

105

particularmente no trabalho docente. Oliveira (2006) explica que a reestruturação produtiva,

que se aprofunda desde os anos 1990, teve consequências nas condições de trabalho docente

no Brasil e na América Latina, que se relacionam com processos de flexibilização e de

precarização do trabalho dos educadores.

Essas modificações se intensificam com a consolidação do modelo econômico

hegemônico, o neoliberalismo, que trouxe consequências e mudanças em nível econômico,

cultural, social, político e educacional. Neste último campo, um dos resultados foram as novas

demandas na educação escolar e a ampliação das experiências de educação não formal.

Segundo Oliveira (2006), na educação escolar, as reformas implementadas se

basearam em propostas para a educação orientada ao trabalho e para a educação dirigida para

a gestão ou disciplina da pobreza. Essas reformas se refletiram na expansão do sistema

educacional e, segundo a autora, isso gerou uma sobrecarga no trabalho dos educadores, que,

muitas vezes, se encontram como responsáveis de outras tarefas para além das funções

pedagógicas. Oliveira (2006, p. 1.132) explica que:

O professor, diante das variadas funções que a escola pública assume, tem de

responder a exigências que estão além de sua formação. Muitas vezes, esses

profissionais são obrigados a desempenhar funções de agente público, assistente

social, enfermeiro, psicólogo, entre outras. Tais exigências contribuem para um

sentimento de desprofissionalização, de perda de identidade profissional, da

constatação de que ensinar às vezes não é o mais importante.

Essa restruturação no trabalho docente, que amplia as funções pedagógicas

tradicionais que os educadores e educadoras tinham nas escolas, traz como resultado a

intensificação do seu trabalho, porque o profissional necessita responder por novas

exigências. Segundo Oliveira (2006), esse fenômeno gera desgaste, insatisfação, insegurança

e desamparo, já que os docentes acham que não têm uma estrutura, desde as condições de

trabalho como de sua formação, para desenvolver as novas funções impostas.

Como podemos deduzir, também na educação não formal as pedagogas têm uma

multiplicidade de atividades para sua função pedagógica, e a esta se adicionam outras

funções. Essa situação pode dever-se também à restruturação do trabalho geral, que, além de

reestruturar o trabalho pedagógico nas escolas, o reestrutura nas práticas de educação não

formal. Ao escutar as pedagogas, todavia, observamos que esta não é a única razão. Clara, por

exemplo, nos explicou sobre essa situação:

Então minhas funções aqui são muitas. Porque, na escola comum, a pedagoga já tem

várias funções, e aqui acontece que ele tem que se desdobrar mais (Clara, s/r).

106

Nesse relato, a pedagoga aclara que, na educação não formal, tem ainda mais funções.

Também percebemos isso ao analisar outros excertos das participantes, que já temos citado,

como a fala de Maria, que indicava que uns dos desafios na educação não formal é o fato de

haver muito trabalho não feito e, assim, a pedagoga ter que intervir e construir projetos e

propostas com os outros da instituição.

Então podemos entender que a multiplicidade de atividades para sua função

pedagógica, como as funções administrativas e da assistência social, pode estar relacionada à

restruturação do trabalho docente e às próprias caraterísticas da educação não formal. A

pedagoga Maria explicou:

Você não tem um modelo a seguir. Aí na educação [escolar] você vem com uma

agenda própria, você sabe como que você vai fazer, seus passos, vários seguimentos

e aqui não. Como você não tem outra referência, aqui no serviço social eu não tenho

referência de pedagogo, de trabalho de pedagogo dentro da instituição. Então aí

ficou meio que difícil quando cheguei. Tive alguns desafios. Que até hoje a gente

tem (Maria, 40 anos).

Como explicitamos anteriormente, a educação não formal acontece numa diversidade

de âmbitos, existe uma multiplicidade de objetivos e de conteúdos já que estes são

contextualizados e adaptados às necessidades dos participantes e à sua realidade. Os tempos,

metodologias e espaços utilizados para desenvolver as atividades e cumprir com os propósitos

estabelecidos são mais flexíveis. Quanto ao financiamento, este provém de órgãos públicos e

privados, nacionais e internacionais.

Com relação aos educadores, segundo Gonh (2008), reconhecesse que são um

elemento estratégico nas experiências coletivas proposta pela educação não formal. Nesse

caso, as pedagogas têm um papel fundamental na construção de propostas participativas, que

partem do território onde intervém, gerando processos educacionais tendo em conta o

contexto. Assim, existem outras atividades que necessitam de sua intervenção, embora não

sejam pedagógicas.

A situação de executar uma multiplicidade de atividades, muitas vezes, também

acontece devido ao fato de que, nos projetos sociais e educacionais, não existem outros

profissionais para além da pedagoga, além de, em alguns casos, faltar funcionários. Este

último fato, muitas vezes, é provocado pela falta de recursos financeiros ou por não crer ser

necessário aumentar o numero de profissionais dentro do projeto. Gal enfrenta esta situação e

a descreveu:

107

Da experiência que eu tenho. A gente tem uma demanda muito grande de trabalho,

entendeu? É tudo muito diferente, então sua cabeça tem que estar sempre assim:

desliga de uma e se liga no outro. [...] E o ideal seria ter três pedagogas, porque aí

você consegue ficar mais tempo, participar de todos os processos e dar um...

acompanhar melhor. E não ficar cada dia em um, às vezes, começa a fazer o trabalho

num e vai para outro, aí na hora que você volta, já esquece, já tem que começar de

novo. Ou você não lembra onde você parou, né? Então, às vezes, fica algumas coisas

assim, fica muita pendência. Ficam algumas coisas pendentes por causa dessa

deslocação, desse deslocamento e esse número reduzido de funcionários. Eu era

sozinha. É uma loucura, sabe? Você sente que não tem como. Você começa um

trabalho e aí você tem que largar, ir para um outro. A gente desliga tudo. [...] Aí

você pensa na demanda daquele, resolve o que ficou pendente do outro. Então tem

vezes que uma fica meio assim, sabe? Impossibilitada de resolver as coisas, com a

demanda que é grande. E o número de funcionários é pequeno. Esse é um dos

desafios, que a gente tem aqui (Gal, 37 anos).

Em conclusão, segundo os dados coletados, as pedagogas que trabalham na educação

não formal têm funções diferentes em relação àquelas que atuam na escola, já que são espaços

diferentes. Mesmo assim, este último espaço se vê influenciado pela reestruturação no

trabalho docente, como explica Oliveira (2006). Além dessa razão, existem outras, como ser a

única profissional no espaço de educação não formal e a falta de funcionários, o que também

influencia na carga de funções e atividades que desenvolvem.

Ainda quanto ao trabalho das pedagogas na educação não formal, outra das situações

que elas atravessam, além da multiplicidade de atividades que desenvolvem, é a indefinição

de sua função. Podemos inferir que isso se deve ao fato de que a educação não formal é um

campo em construção e que a atuação de pedagogos e pedagogas nesses espaços é recente.

Por outro lado, ainda não existem documentos legais ou textos que sistematizem quais são as

funções que devem ser desenvolvidas por pedagogos e pedagogas nesses espaços de educação

não formal. Segundo uma das pedagogas que participou da pesquisa, essa situação, muitas

vezes, dificulta sua intervenção nos projetos sociais e educacionais onde atua:

Porque você não tem uma estrutura, então, quando eu vim para trabalhar... Então até

os mesmos coordenadores não sabiam ao certo o que seria minha função. Até para

saber qual seria minha função eu tive que pesquisar bastante. Aí eu fiz um modelo

do que é o que seria o trabalho de pedagogo dentro da assistência social dentro dos

projetos (Maria, 40 anos).

Podemos concluir que a pedagoga da educação não formal tem uma multiplicidade de

funções pedagógicas, de assistência social e administrativa. Para cada uma dessas funções,

realizam uma variedade de atividades, como a coordenação dos espaços não formais,

organização do planejamento, coordenação de reuniões pedagógicas com os educadores e

educadoras, coordenação e organização de reuniões com os pais, acompanhamento dos

108

educadores, funcionários, crianças, jovens e pais, coordenação do trabalho dos educadores e

educadoras, formação continuada e capacitação de educadores e educadoras, construção de

projetos pedagógicos e propostas educacionais, redação de relatórios, organização de eventos

e festivos, coordenação de trabalho com estagiários, procura de verba para o financiamento

dos projetos, elaboração e desenvolvimento do edital de estagiários e a organização e

execução das diferentes orientações alimentares realizadas nos espaços de educação não

formal, assim como a coordenação com outras instituições da comunidade.

Essa situação, como explica Oliveira (2006), reflete um fenômeno que permeia o

mundo do trabalho, particularmente no trabalho docente. Mas outras das razões são as

próprias características da educação não formal e o trabalho dos educadores, como também a

indefinição da função do pedagogo e da pedagoga, já que a educação não formal é um campo

recente e em construção.

Nessas funções, as pedagogas destacaram a importância do trabalho coletivo para que

os projetos educacionais e sociais sejam desenvolvidos com a participação de todos os

sujeitos que participam destes espaços de educação não formal.

Nessa direção, Streck et al. (2014, p. 113) afirmam que o vocábulo participação é

utilizado em diferentes sentidos, mas explicam que não é possível prescindir de três atributos:

a) Possibilidade de cada um e cada uma expressar sua palavra e ser ouvido(a) pelos

outros;

b) Condições de organizar-se para a construção coletiva de projetos definidos por

meio da cooperação;

c) Objetivo de uma sociedade mais justa.

Segundo Freire (1996), é fundamental que, na construção de propostas educacionais, a

relação dialógica exista entre todos os sujeitos. Assim, propõe-se gerar uma relação

pedagógica horizontal entre todos os participantes, com o fim de que a construção do

conhecimento seja de forma coletiva através da ação e a teoria. Para o autor, isso exige o

reconhecimento do ser inacabado, o respeito pela autonomia do educando, a escuta e o

respeito pelo saberes do outro, a disponibilidade para o diálogo, a competência profissional e

generosidade, a corporificação das palavras pelo exemplo, o rechaço de qualquer forma de

discriminação, a humildade, tolerância e luta pelos direitos dos educandos.

Analisando o seu trabalho nestes espaços de educação não formal, todas as pedagogas

afirmam a necessidade de que o mesmo seja construído coletivamente, de trabalhar com o

outro e aprender com ele, como podemos observar em diferentes entrevistas.

109

Tem que ser coletivo, tem que ser humano, tem que ter várias qualidades. E além de

tudo tem que aceitar o diferente, porque, se você não aceita o diferente, não

consegue ficar aqui dentro. Porque aqui tudo, o tempo tudo é diferente (Clara, s/r).

Vai trabalhar aqui, tem que aceitar o outro como ele é. Se você aceita o seu próximo

como ele é, é aqui que é a casa, é aqui. Aqui é um para o outro, é um para o outro.

Nós aprendemos o tempo tudo com eles. Todos nós, voluntários aqui, todos nós que

trabalhamos aqui, todos, as monitoras, a cozinha, todos. A gente aprende muito, de

relações (Elis, 50 anos).

Gohn (2014) reconhece que as ações coletivas são uma das caraterísticas principais da

educação não formal, que se traduz na construção de projetos participativos e nas ações

coletivas e o compartilhamento. Assim, a pedagoga Marisa nos disse:

Agora acho que passa um pouco por, eu não acho tanto, porque acho que o coletivo,

nesse aspecto do não formal, é muito mais forte do que individual. Então acho que

tem uma coisa de psicologia coletiva, de terapia, e de arte mesmo (Marisa, 48 anos).

Para gerar o trabalho coletivo nos espaços não formais, podemos observar diferentes

estratégias, como a que explica Maria:

Então nós temos nossa reunião com pautas, uma vez por mês, para fortalecer a

equipe de trabalho (Maria, 40 anos).

Além das reuniões com toda a equipe que trabalha nos projetos, em todos os espaços,

se propõe, como metodologia, o desenvolvimento de oficinas.

E nessa socialização, o que trabalhamos respeito, solidariedade, trabalhamos o

prazer de estar juntinhos, trabalhos em grupo, muitas oficinas (Elis, 50 anos).

Essa estratégia metodológica de oficinas é definida por Ander-Egg (1999, p. 14)

como:

Aplicado el concepto de taller a la pedagogía, su alcance es el mismo: en lo

sustancial se trata de enseñar y, sobre todo, de aprender mediante la realización de

“algo” que se lleva a cabo conjuntamente. Es un aprender haciendo en grupo.

Esse mesmo autor explica os princípios pedagógicos das oficinas. Primeiro, define o

princípio de aprender fazendo, quando os conhecimentos se constroem na prática concreta,

relacionando-a com a teoria. Ou seja, os conhecimentos não são dados ou entregues aos

educandos por uma aula teórica, senão pela busca da reflexão sobre ação realizada em

conjunto.

110

O segundo princípio é a utilização de metodologias participativas. Embora cada um

dos participantes tenha seu papel, o educador ou a educadora já não são os protagonistas, mas

compartilham o espaço de aprendizagem com os educandos. Assim, se criam atividades

cooperativas que são propostas por meio de metodologias participativas nas quais todos se

envolvem.

O terceiro princípio é que as oficinas se baseiem na pedagogia das perguntas e não das

respostas, de forma a desenvolver, em todos os participantes, uma atitude de curiosidade

indagadora. Marisa, uma das pedagogas participantes da pesquisa, relata como trabalha nas

oficinas e exemplifica sobre a pedagogia das perguntas e diz:

Então, o tempo todo eles me perguntam e o tempo todo eu volto à pergunta para

eles. Então assim, descobrir quais são as alternativas de resposta (Marisa, 48 anos).

Para Ander-Egg (1999), o quarto princípio sobre a oficina como metodologia está

relacionado às oficinas que tendem a um trabalho interdisciplinar e ao enfoque sistemático.

Segundo o autor, essas propostas educacionais facilitam a articulação de disciplinas e as

perspectivas profissionais, entendendo o caráter complexo e multifacetado da realidade.

O quinto princípio enfatiza a relação entre os educadores e educadoras e os educandos,

como já explicamos, em que ambos são protagonistas. Assim, se propõe a superação da

hierarquia entre os participantes, embora cada um deles tenha diferentes funções, mas dentro

de uma horizontalidade.

Segundo o autor, o sexto princípio caracteriza a oficina como globalizante e

integradora da sua prática pedagógica, já que exige um pensamento integrador. Nela, os

conhecimentos são adquiridos desde múltiplas perspectivas e relacionados com

conhecimentos anteriores e da própria realidade dos sujeitos.

O sétimo princípio está relacionado com o trabalho grupal, ou seja, nas oficinas existe

a necessidade de construir os conhecimentos de forma coletiva.

O último princípio, para Ander-Egg (1999), é que essa metodologia de trabalho

fomenta a interação entre a docência, a investigação e a prática.

Serra (s.d.) é outro autor que explica a importância das oficinas como metodologia

alternativa para o trabalho coletivo. Nessa forma de trabalho, os participantes constroem o

conhecimento cooperativamente, considerando a teoria e a prática.

O intercâmbio de ideias e a escuta das outras pessoas têm um espaço primordial, sendo

todos sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem. Isso ocorre sem a imposição de

nenhuma pessoa, sem certezas, e dando-lhes espaço à criatividade e à curiosidade indagadora

111

como requisitos fundamentais para a construção e reconstrução dos diferentes saberes.

Garante-se, assim, a participação e a reflexão permanente de todos os membros da oficina, na

busca do saber.

Portanto, inferimos que, na educação não formal e na atuação das pedagogas nesses

espaços, o trabalho coletivo é uma das caraterísticas. Ele deve ocorrer através de diferentes

estratégias, como descrevemos, por meio da utilização da metodologia de oficina em todos os

projetos, diferentes reuniões e espaços de confraternização, assim como na construção dos

projetos educacionais e sociais nos quais participam todos os sujeitos. Apesar disso, ainda não

reconhecemos um trabalho coletivo entre as pedagogas de diferentes espaços de educação não

formal, no intercâmbio de experiências ou trabalho conjunto.

Mas também aprender a trabalhar coletivamente é um desafio para as pedagogas,

como outros desafios que se apresentam, como a valorização de seu trabalho e dos espaços

não formais onde atuam.

Segundo Oliveira (2006), a valorização dos educadores pode se refletir no

reconhecimento da carreira, na remuneração e na formação. Mas, como explicamos, a

reestruturação do trabalho influenciou sobre a restruturação do trabalho docente e sua

valorização. Uma das consequências foi o aumento de funções para os educadores e

educadoras, assim como o aumento da responsabilidade. Além disso, as condições de

emprego foram alteradas, evidenciando-se, muitas vezes, na precarização do trabalho.

Na educação não formal, as pedagogas reconhecem que seu trabalho é desvalorizado.

Segundo um dos relatos, as pedagogas explicam que isso acontece com o não reconhecimento

da carreira e por trabalharem fora do espaço escolar. Assim, Maria disse:

Porque na educação, todos os pedagogos que estão lá têm plano de carreira. Então

tem plano de carreira para os pedagogos e eu não tive direito de inclusão, porque

estou em outra secretaria. Então até o próprio município ainda não valoriza essa

questão do pedagogo, não interessa onde o pedagogo vai trabalhar, né? Ele é

pedagogo em qualquer lugar, não é? [...] Aí eu vejo que, nesse sentido, é a

desvalorização mesmo do serviço do pedagogo fora da educação escolar (Maria, 40

anos).

Podemos inferir que a desvalorização se reflete no não reconhecimento da carreira,

mas, como temos analisado, na formação aligeirada ou reduzida nas temáticas de educação

não formal. Somado a isso, as condições objetivas de trabalho, como, por exemplo, as

condições dos espaços, os materiais didáticos ou o financiamento do mesmo, devido às

características próprias da educação não formal.

112

Também a pedagoga Maria, participante de nossa pesquisa, advertiu, em seu relato,

que, muitas vezes, nem é reconhecido o seu trabalho, por ainda ser reduzida a atuação do

pedagogo ao espaço não escolar.

Os desafios é a questão mesmo do pedagogo num espaço não escolar, esse mesmo é

o desafio. Que muita gente pensa que você vai vir aqui dar aula, que ser pedagogo

numa instituição vai dar aula. Aí já tem que falar que não é escola, então a aceitação

do pedagogo são os desafios, o reconhecimento que você não tem com sua função

pedagógica fora da escola. Que, hoje em dia, ainda muitas pessoas acreditam que o

pedagogo tem que estar na escola mesmo, né? Então não vê que o campo de trabalho

se ampliou, que também está nas instituições sociais e em vários campos de

trabalho. E aí você tem que, o tempo todo, saber o que que você é, qual é sua função

(Maria, 40 anos).

Assim, podemos observar que as pedagogas que atuam na educação não formal

sentem-se desvalorizadas por razões que estão relacionadas com a restruturação do trabalho e

que afetam a todos os educadores tanto do âmbito formal como não formal. Além disso,

outras razões têm a ver com as caraterísticas da educação não formal e o não reconhecimento

da ampliação dos espaços de atuação dos pedagogos e pedagogas.

Não só sentem que o trabalho das profissionais é desvalorizado, senão também os

espaços e projetos de educação não formal. Uma das razões é que a educação escolar tem sido

o âmbito hegemônico no qual se desenvolve a educação das pessoas. Mas, na atualidade,

como temos explicado, esse campo amplia-se e, com ele, os espaços de atuação das

pedagogas. Elis indicou que, muitas vezes, esses espaços, para os pedagogos, são o que

sobrou como possibilidade de trabalho e emprego e não como escolha:

Então como era do Estado, a gente não escolhia, era a sala, era como se fosse:

“Sobrou! Ah, então eu quero. Ah, não tem perfil.” Antes era assim. Então, quando

sobrou, eu sempre fui muito apaixonada com isso, sabe? Eu falo que eu gosto muito

do paparico, paparicar, não é paparicar que não é tirar as regras não (Elis, 50 anos).

Para finalizar, Marisa enfatizou a estigmatização e a desvalorização do espaço de

educação não formal onde ela trabalha.

Eu vou te falar com sinceridade, o Ofícios tem o fato de ser o pior, o menos

organizado, o longe, o de difícil acesso, o problemático. Sabe? Então existe, é um

desafio todos os dias. Mas, em compensação, os meninos não querem ir embora

(Marisa, 48 anos).

Concluímos que a atuação das pedagogas da educação não formal tem outras funções

para além das pedagógicas, como as administrativas e as da assistência social. Para cada uma

dessas funções realizam uma multiplicidade de atividades. Segundo as participantes, para

desenvolver essas atividades, priorizam o trabalho coletivo, promovendo a participação de

113

todos os participantes dos projetos sociais e educacionais, através da utilização da oficina

como metodologia e das reuniões de equipe. Ao indagar mais sobre sua atuação, as pedagogas

afirmam que, muitas vezes, sentem, por diferentes razões, que seu trabalho e os projetos nos

quais se desenvolvem são desvalorizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve o objetivo de indagar sobre a formação e atuação das pedagogas

que trabalham na educação não formal, junto com crianças e jovens, na Região dos

Inconfidentes. Partimos da compreensão de educação como um conceito amplo, complexo e

heterogêneo, que pode acontecer em diferentes âmbitos, diversificando-se os espaços de

atuação dos(as) pedagogos(os)

Assim, quatro perguntas acompanharam toda a pesquisa: Como surge e se desenvolve

a educação não formal no Brasil? Quem são os pedagogos e pedagogas que trabalham nos

espaços não formais na Região dos Inconfidentes? Como tem sido a formação dos pedagogos

e das pedagogas que atuam nesses espaços além da escola? Como tem sido a atuação dos

pedagogos e das pedagogas que trabalham em projetos educacionais e sociais com crianças e

jovens na Região dos Inconfidentes?

A partir dessas perguntas, desenvolvemos a pesquisa, junto com oito pedagogas que

atuam em seis espaços de educação não formal nas cidades de Mariana e Ouro Preto. Por

meio da escuta das vozes das profissionais, assim como da observação do seu trabalho

cotidiano, pudemos aprofundar o conhecimento sobre a formação inicial e continuada das

mesmas, como de sua atuação nesses espaços.

Ao começar, definimos o conceito de educação não formal desde a perspectiva de

diferentes autores (COOMBS, 1968; TRILLA, 1985; 1992; 1993; 2008; AFONSO, 1992;

TORRES, 1992; LIBÂNEO, 1999; GOHN, 1999; 2006; 2010), entendendo que essas

experiências de educação surgiram a partir dos anos 1970, quando começaram a existir

diferentes discursos pedagógicos que reconhecem que, por diferentes fatores econômicos,

sociais, tecnológicos, entre outros, geram-se novas necessidades educacionais e, com elas,

novas práticas pedagógicas não formais para satisfazê-las.

Ao indagar mais sobre o conceito, achamos diferentes críticas ao mesmo (TRILLA,

2008; BRUSILOVSKY, 1992; SIRVENT, 2006), devido ao fato dele ser uma categoria com

114

escasso valor explicativo, já que, como temos abordado, ele não permite entender o sentido

das práticas educacionais em profundidade, tampouco conhecer se possui objetivos

democráticos ou conservadores.

Como explicam Brusilovsky (1992) e Sirvent (2006), este conceito define-se pela

negativa, que expõe uma contraposição entre a educação escolar e aquela que está fora,

desconhecendo as relações existentes entre ambas. Além disso, esta referência negativa gera a

desqualificação e a desvalorização das práticas não formais, como afirmaram as pedagogas

participantes de nossa pesquisa.

Assim, tentar definir a educação desde uma conotação negativa é não reconhecer sua

complexidade e heterogeneidade. Acreditamos que existem outras formas de denominar essas

experiências que acontecem fora do âmbito escolar e Sirvent (2016) propõe denominá-las

educação para além da escola, explicando que cada uma dessas experiências tem diferentes

graus de formalidade.

Esta proposta tenta ter uma visão global sobre o fenômeno educacional e analisa a

especificidade de cada uma das experiências para além da escola, deixando para trás a

nomeação negativa. Para compreender cada uma delas, se utilizam três dimensões que

explicam o grau de formalidade: a sociopolítica, ou seja, que grau de relacionamento existe

com o Estado, desde o legal e o administrativo; a institucional, que se refere ao tipo de

instituição, seus fins e objetivos; e a dimensão do espaço de ensino e aprendizagem.

Em suma, devido ao campo da educação não formal ser um campo heterogéneo, cada

prática educacional, poderá ser analisada considerando essas dimensões e podendo definir o

grau de formalidade em cada uma delas. Ou seja, desde o institucional, o sociopolítico e o

espaço de ensino e aprendizagem.

Apesar das concepções de alguns autores (AFONSO 1992, LIBÂNEO 1999),

afirmarem que a educação não formal apresenta baixo grau de formalidade, através desta

pesquisa foi possível perceber a existência de graus de formalidade diferentes a partir das

experiências das participantes.

Podemos, assim, reconhecer a complexidade de cada uma das experiências para além

da escola, deixando ao lado um conceito que define essas experiências num enfoque negativo.

Como pudemos perceber, no Brasil, a Pedagogia Social, definida desde um olhar

decolonial, é um dos campos que aborda o estudo das práticas de educação para além da

escola. Esse campo de estudo, intervenção e formação é um campo em construção, baseado

no pensamento de Paulo Freire e se posiciona por meio de uma perspectiva emancipadora dos

sujeitos. Ele procura a construção de um projeto político-pedagógico coletivo e transformador

115

da sociedade, assim como diferentes espaços de debate e sistematização, como congressos,

encontros, artigos e livros da temática apresentados por pesquisadores e educadores sociais.

A partir dessas perspectivas, entendemos que o campo de educação não se focaliza só

no escolar, senão que existem outras práticas de educação para além da escola. Com a

ampliação do campo da educação, inferimos que o campo de atuação dos pedagogos e

pedagogas também se amplia com a diversificação dos espaços onde estes devem se

desenvolver profissionalmente, embora o campo hegemônico ainda seja o sistema educativo.

Por meio da pesquisa, confirmamos que existem pedagogas na Região dos

Inconfidentes que trabalham em espaços de educação não formal, no qual participam crianças

e jovens. Em nossa pesquisa, tivemos contato com oito profissionais que atuam em seis

espaços definidos como: educação especial, biblioteca, educação artística, casa lar e centro de

recreação. Embora os espaços de atuação sejam diferentes, encontramos um perfil e

características em comum, que as uniam as participantes da pesquisa.

Ao definir o perfil das pedagogas, concluímos que a maioria são mulheres entre 31 e

50 anos, que realizaram o curso de licenciatura em Pedagogia. Por serem mulheres,

reforçamos a teoria da feminização do trabalho na educação, fenômeno que acontece tanto em

espaços escolares como não formais.

Ao analisar os questionários, entrevistas e observações, pudemos concluir que a

formação das pedagogas foi desenvolvida em diferentes instituições de distintas cidades do

Brasil, na sua maioria particulares. Este dado reflete o que acontece em nível geral no país, já

que estudos anteriores revelam que é maior o numero de licenciados e licenciadas em

Pedagogia que têm finalizado seu estudos em instituições particulares.

Ao indagar sobre a formação das pedagogas, e como temos discutido ao longo desse

trabalho, há uma multiplicidade de espaços educacionais onde os pedagogos e as pedagogas

podem intervir, portanto, sua formação precisa abordar a complexidade desses espaços.

Segundo os documentos do curso de Pedagogia nas instituições superiores do Brasil, a

partir das Diretrizes Curriculares da formação inicial de pedagogos e pedagogas (Parecer

CNE/CP nº. 5/2005 e Resolução CNE/CP no. 1/2006 e Resolução nº. 2, de 1º de julho de

2015), tem se ampliado os espaços onde poderão atuar os profissionais. Faz-se, então, a

inclusão, nos textos prescritos, de disciplinas e estágios supervisionados que abordem

diferentes campos educacionais tanto na educação formal como na não formal.

Na pesquisa, pudemos afirmar que a formação dos participantes nos cursos de

Pedagogia se encontra voltada para conteúdos de temáticas relativas ao sistema educativo,

116

sendo superficial e insuficiente a formação nas disciplinas e os conhecimentos construídos na

temática de educação não formal.

Esse dado foi levantado a partir do questionário preenchido pelas pedagogas

participantes no qual só a metade tinha realizado disciplinas da educação não formal, como na

fala das mesmas quando explicaram que as disciplinas realizadas não contribuíram para as

suas intervenções nos projetos educacionais da educação não formal onde trabalhavam no

momento de realização da pesquisa.

No entanto, percebemos que, nas Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia, ainda

há um distanciamento entre o prescrito e a prática. Segundo Gatti (2009), com as mudanças

no currículo, a partir de 2005, quando se ampliaram as atribuições para os pedagogos e

pedagogas, se gerou uma dispersão curricular que passou a exigir um grande rol de

disciplinas. Em muitos casos, foram adicionadas como eletivas para cumprirem com as

normativas, como nas disciplinas com a temática de educação não formal.

Assim concluímos que a Universidade não consegue através de seus currículos

contribuir de forma efetiva na formação inicial de pedagogos (as) para atuar nestes espaços.

Segundo as participantes, elas sentem falta de uma formação específica para o

desenvolvimento como pedagogas no seu trabalho cotidiano nos espaços da educação não

formal já que não tiveram uma formação teórica que contribuísse na práxis educacional

transformadora.

Embora as pedagogas tenham relatado que foi superficial a sua formação sobre

espaços de educação não formal, concluímos que o Estágio Supervisionado foi uma disciplina

fundamental para a construção de saberes sobre a temática durante a sua formação inicial.

Segundo as Diretrizes Curriculares, os estágios podem ser desenvolvidos no Ensino

Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na Educação Profissional, na Educação de

Jovens e Adultos, em reuniões de formação pedagógica, em disciplinas pedagógicas do

Ensino Médio na modalidade Normal e em espaços de educação não escolar. O estágio pode

ser definido desde duas diferentes concepções, uma na qual existe uma dicotomia entre a

prática e teoria, e outra na qual a teoria e a prática são indissociáveis, sendo no interior de

cada uma dessas diferentes perspectivas que entendemos o estágio como um fenômeno

complexo.

Através da pesquisa, podemos inferir que foi por meio dos estágios nos espaços de

educação não formal que as pedagogas participantes construíram os conhecimentos sobre a

área e, em muitos casos, descobriram que podiam atuar nesses espaços. Estes se constituíram

117

em espaços de reflexão sobre as observações e prática desenvolvida nos diferentes espaços de

educação não escolares ofertados.

Considerando que a formação inicial é só uma etapa na formação dos pedagogos, ao

indagar sobre a formação após o curso de Pedagogia, reconhecemos que a formação

continuada não ocorre por meio da acumulação de cursos, conhecimentos ou metodologias,

mas se constrói por meio de um processo de reflexão crítica sobre as práticas educacionais

cotidianas e da reconstrução da identidade pessoal.

Assim, constatamos que a formação continuada das pedagogas que trabalham na

educação não formal na Região dos Inconfidentes se desenvolveu por meio de diferentes

fontes, como cursos de pós-graduação, seminários, livros, artigos, pesquisas, no contato com

os funcionários e participantes do espaço não formal, em suas próprias experiências

educacionais.

Portanto, podemos concluir que a formação continuada das pedagogas que atuam na

educação não formal se desenvolve por meio da reflexão sobre suas práticas nos espaços de

educação não formal, por meio de diferentes fontes. Assim, ocorre também por meio da

relação com outros e outras, através de si mesmas em um processo de autoformação, e por

meio de diferentes informações, culturas e saberes, com o fim de transformar a sua atuação e

prática cotidiana.

Ou seja, as pedagogas são protagonistas de sua formação continuada, deixando ao lado

a concepção dos educadores e educadoras como consumidores de conhecimentos, para

entendê-los como produtores de saberes por meio de sua prática e da reflexão crítica sobre a

mesma.

Assim, os docentes constroem seus próprios saberes, que, como temos explicado e

segundo Tardif (2002), são plurais, desvalorizados e estratégicos. Estes podem se dividir em

quatro grupos: da formação profissional, disciplinar, curricular ou experiencial. A maioria das

entrevistadas apontou, em suas falas, para os últimos, aqueles construídos na prática.

Analisando a fala das pedagogas que trabalham na educação não formal na Região dos

Inconfidentes concluímos que os saberes da educação não formal são construídos na práxis,

sendo a educação um ato criativo. Então será por meio dos saberes experienciais que se

constituirão os fundamentos da profissão do pedagogo ou pedagoga. A prática torna-se um

momento de aprendizagem, no qual os pedagogos, tanto de espaços formais como não

formais, retomam criticamente os outros saberes adquiridos (da formação profissional,

disciplinares e curriculares) e, a partir deles, constroem novos conhecimentos para

transformarem e se desenvolvem na sua prática cotidiana, por meio da escuta e do diálogo.

118

Em suma, a formação inicial das pedagogas na educação não formal pode se definir

como superficial e insuficiente para atuar nos espaços de educação não formal, embora este

seja um âmbito no qual, de acordo com as Diretrizes Curriculares, poderá trabalhar ao obter o

grau de licenciado em Pedagogia. Já o Estágio Supervisionado em espaços não escolares é

uma disciplina na qual se têm construído os saberes sobre a temática e, em muitos casos,

representa o espaço no qual o estudante toma conhecimento da existência de projetos da

educação não formal.

Quanto à formação continuada, podemos concluir que se desenvolve por meio da

reflexão sobre suas práticas nos espaços de educação não formal, por meio de diferentes

fontes. Identificamos que as pedagogas da educação não formal constroem seus saberes na

práxis, por meio da interação com os outros e de diferentes fontes, com o fim de transformar a

seu trabalho cotidiano.

Nesta pesquisa também indagamos sobre a atuação das pedagogas em espaços de

educação não formais na Região dos Inconfidentes. A partir dos questionários, entrevistas e

observações, pudemos concluir que, para a maioria das profissionais, esse trabalho é recente.

Para 75% das participantes, foi significativo ter participado de uma experiência educacional

na educação não formal anteriormente e isso contribuiu para a decisão de, no momento da

entrevista, estarem trabalhando nesse campo.

Também pudemos inferir que, embora todas sejam licenciadas em Pedagogia, o cargo

que ocupam é designado de diferentes formas, tais como: pedagoga, coordenadora

pedagógica, coordenadora, auxiliar de biblioteca e assessoria da presidência (área

pedagógica). Essa heterogeneidade de nomeações pode se dever ao fato de que, nas

instituições de educação não formal, o cargo tenha sido criado recentemente. Além disso,

ainda não existe uma documentação comum, que defina o cargo e as funções a serem

desenvolvidas nos espaços de educação não formal. Esse fenômeno tem gerado o

desenvolvimento de uma multiplicidade de funções e uma indefinição das atividades a ser

realizadas.

Assim, as pedagogas na educação não formal relataram uma multiplicidade de

atribuições para seu cargo, muitas relacionadas com o pedagógico e outras com funções

administrativas e da assistência social.

Elas desenvolvem atividades como a coordenação dos espaços não formais;

organização do planejamento; coordenação de reuniões pedagógicas com os educadores e

educadoras; coordenação e organização de reuniões com os pais; acompanhamento dos

educadores, funcionários, crianças, jovens e pais; coordenação do trabalho dos educadores e

119

educadoras; formação continuada e capacitação de educadores e educadoras; construção de

projetos pedagógicos e propostas educacionais; redação de relatórios; organização de eventos

e festivos; e coordenação de trabalho com estagiários. Somam-se outras atividades, como a

procura de verba para o financiamento dos projetos; a elaboração e desenvolvimento do edital

de estagiários; a organização e execução da parte de alimentação realizada nos espaços de

educação não formal; e a coordenação com outras instituições da comunidade.

Concluímos que essa multiplicidade de tarefas que realizam em sua função como

pedagogas reflete um fenômeno que permeia o mundo do trabalho e, particularmente, o

trabalho docente, as próprias caraterísticas da educação não formal e a indefinição de sua

função. Podemos inferir que isso se deve ao fato de que a educação não formal é um campo

em construção e a atuação de pedagogos e pedagogas nela é recente.

Embora seja um campo em construção, inferimos que, para a maioria das pedagogas

participantes, este é seu único trabalho, e todas dedicam entre 30 e 40 horas semanais de

trabalho nela. Sendo seu trabalho principal, as profissionais reconhecem a desvalorização de

sua atuação, que se reflete no não reconhecimento da carreira, nas condições objetivas de

trabalho, no pensamento de que o trabalho na educação se reduz ao escolar e na formação

aligeirada ou reduzida nas temáticas de educação não formal.

Ressaltamos ainda a desvalorização dos espaços de educação não formal.

Para finalizar, observamos que, nessas funções, as pedagogas destacaram a

importância do trabalho coletivo para que os projetos educacionais e sociais sejam

desenvolvidos com a participação de todos os sujeitos que participam desses espaços de

educação não formal, ou seja, se faz importante trabalhar com o outro e aprender com ele por

meio de reuniões e oficinas como metodologia principal no trabalho cotidiano.

Em suma, podemos definir que a atuação das pedagogas em espaços de educação não

formal é um espaço em construção. Essas profissionais desenvolvem funções pedagógicas,

administrativas e de assistência social e, para cada uma delas, há uma multiplicidade de

atividades.

Por último, podemos inferir que, por diferentes razões, o seu trabalho é desvalorizado,

assim como os espaços de educação não formal onde atuam.

Reconhecendo a lacuna sobre a temática da educação não formal, como demonstramos

na pesquisa, este trabalho buscou aprofundar e construir conhecimentos sobre os pedagogos e

pedagogas que trabalham em experiências educacionais para além da escola. Procurou ser um

aporte para repensar a formação inicial atual dos futuros e futuras licenciados e licenciadas

em Pedagogia, assim como contribuir na reflexão sobre a atuação das profissionais neste

120

âmbito. Permitiu, a partir das vozes das participantes da pesquisa, construir novos saberes

sobre a temática no Brasil e na América Latina.

Percebemos também, através desta pesquisa, a necessidade da formação de um

coletivo de pedagogas da educação não formal, com o fim de debater ainda mais sobre o sua

atuação e compartilhar suas experiências, sendo uma forma de visibilizar o seu trabalho.

121

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127

APÊNDICES

APÊNDICE A: Roteiro do questionário

APÊNDICE B: Roteiro da entrevista

APÊNDICE C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

128

APÊNDICE A: Roteiro do questionário

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Prezada(o) Pedagoga(o),

Este questionário faz parte de uma pesquisa sobre a Formação e atuação de pedagogos(as)

em espaços além da escola, que está sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação /

Mestrado em Educação, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Dessa forma,

precisamos da sua colaboração para desenvolvermos o presente estudo, respondendo às

questões propostas abaixo.

Informamos ainda que a sua identidade será mantida em sigilo, caso seja de sua vontade.

Desde já agradecemos a sua colaboração.

____________,____ de ____________ de 2015.

Célia Maria Fernandes Nunes

Professora do PPGE-UFOP - Orientadora da pesquisa

María Florentina Lapadula

Mestranda em Educação - UFOP

Instituto de Ciências Humanas e Sociais - Departamento de Educação

Rua do Seminário, s/n, Centro, Mariana/MG

Fone: (31) 3557-9410 e-mail: [email protected], [email protected]

129

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

PROJETO: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DE PEDAGOGOS(AS) EM ESPAÇOS

NÃO FORMAIS

Dados pessoais

1) Nome:

2) Telefones:

3) e-mail:

4) Gênero:

5) Idade:

Formação acadêmica

6) Nível superior

a. Curso:

b. Ano de início: Ano de conclusão:

c. Nome da instituição:

d. Pública Particular

e. Tema do Trabalho Conclusão de Curso:

f. Fez disciplina(s) com a temática educação não formal? Sim Não

g. No caso afirmativo, como se denominava(m) essa(s) disciplina(s)?

h. Fez estágio num espaço educativo além da escola? Sim Não

7) Pós-graduação

a. Curso:

b. Ano de início: Ano de conclusão:

c. Nome da instituição:

d. Pública Particular

e. Tema do Trabalho Dissertação/Tese:

130

Dados profissionais

8) Tempo de atuação profissional como pedagogo(a):

0-5 anos 5-10 anos 10-15 anos 15-20 anos mais de 25 anos

9) Em que espaços educativos você atuou?

10) Instituição de educação além da escola onde trabalha atualmente:

11) Município onde trabalha:

Acaiaca Diogo de Vasconcelos Itabirito Mariana Ouro Preto

12) Cargo que ocupa na instituição:

13) Anos que trabalha nessa instituição:

0-5 anos 5-10 anos 10-15 anos 15-20anos mais de 25 anos

14) Horas semanais trabalhadas nessa instituição:

10 horas 15 horas 20 horas 25 horas

30 horas 35 horas 40 horas mais de 40 horas

15) a. Antes desta instituição, trabalhou numa experiência educativa além da escola?

Sim Não

b. Em caso afirmativo, há quantos anos trabalha em espaços educativos além da escola?

0-5 anos 5-10 anos 10-15 anos mais de 15 anos

16) a. Além da instituição, trabalha atualmente em outro espaço educativo?

Sim Não

b. Em caso afirmativo, em que outro espaço educativo trabalha?

17) Gostaria de participar da segunda etapa da pesquisa (entrevista)? Sim Não

131

APÊNDICE B: Roteiro da entrevista

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Espaço de educação não formal

1) Que atividades são desenvolvidas neste espaço de educação não formal?

2) Quais são os objetivos dessas atividades e desse espaço?

3) Quem participa dessa instituição?

4) Poderia me contar um pouco sobre como surgiu esse espaço?

5) Como é o financiamento desse espaço de educação não formal?

Formação acadêmica

6) Como foi a sua formação em Pedagogia? Por que escolheu estudar Pedagogia?

7) Fez disciplinas com a temática educação não formal?

8) Como essa disciplina lhe ofereceu subsídios para atuar hoje nessa área?

9) Além dessas disciplinas, que outras disciplinas do curso de Pedagogia ofereceram

subsídios para atuar na educação não formal? Por quê?

10) Durante sua formação fez estágio em educação não formal? Onde? Como foi sua

experiência no estágio no espaço de educação não formal?

11) Realizou mais alguma formação continuada após o curso de graduação?

12) O que te motivou a continuar estudando?

Atuação profissional

13) Em quais espaços você trabalhou como pedagoga?

14) Como veio a trabalhar na área de educação não formal?

15) Que funções cumpre nesse espaço?

16) Qual acha que são os principais desafios e especificidades de trabalhar na área?

17) Quais saberes você acha que são necessários para atuar na educação não formal?

132

APÊNDICE C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,______________________________________________________________, pedagoga

da _______________________________________________________ fui convidada pelos

pesquisadores María Florentina Lapadula (mestranda em Educação) e Célia Maria Fernandes

Nunes (orientadora da pesquisa), a participar da pesquisa que está sendo realizada sobre a

formação e atuação das pedagogas que trabalham na educação não formal na Região dos

Inconfidentes. Concordo em participar da pesquisa fornecendo informações por meio de

questionários e entrevistas que serão aplicados.

Fui informada que todas as informações por mim passadas serão sigilosas e, ao serem

utilizadas, usarão um nome fictício para prezar a minha identidade. Além disso, posso, em

qualquer momento, desistir de participar da pesquisa, se julgar necessário. Sinto que fui

esclarecido(a) em relação à proposta de participar da pesquisa e concordo em participar

voluntariamente, uma vez que reconheço a importância e as possíveis contribuições que ela

poderá trazer para a formação e a profissão do pedagogo.

________________________________________________________

Pedagoga

______________________________, _______ de _____________________ de 2016

Atenciosamente,

Célia Maria Fernandes Nunes

Orientadora da pesquisa - [email protected]

María Florentina Lapadula

Mestranda em Educação - [email protected]

Instituto de Ciências Humanas e Sociais - Departamento de Educação

Rua do Seminário, s/n, Centro, Mariana/MG

Fone: (31) 3557-9410