Educação, trabalho e juventude: o Programa Jovem Cidadão. CONSAD/paineis... · Painel 42/165...

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III Congresso Consad de Gestão Pública EDUCAÇÃO, TRABALHO E JUVENTUDE: O PROGRAMA JOVEM CIDADÃO Bianca Briguglio Emily Hozokawa Laís Schalch

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III Congresso Consad de Gestão Pública

EDUCAÇÃO, TRABALHO E JUVENTUDE: O PROGRAMA JOVEM CIDADÃO

Bianca Briguglio Emily Hozokawa

Laís Schalch

Painel 42/165 Sistema de avaliação das políticas de inserção no mercado de trabalho: resultados e opções metodológicas

EDUCAÇÃO, TRABALHO E JUVENTUDE: O PROGRAMA JOVEM CIDADÃO

Bianca Briguglio Emily Hozokawa

Laís Schalch

RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar os dados preliminares da pesquisa quantitativa realizada com os jovens egressos de 2006 a 2008 do Programa Jovem Cidadão: Meu Primeiro Emprego. Esta pesquisa foi realizada pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) a pedido da SERT a fim de apreender os resultados do Programa relacionados ao estágio realizado nas empresas que foram mediados pela SERT. O objetivo central da pesquisa concentra-se na percepção dos jovens sobre o mundo do trabalho e, especialmente, as transformações em suas trajetórias pessoais em função da vivência no trabalho e conhecer como se deu o estágio, no sentido de captar desvios de pressupostos presentes no Programa. Da mesma forma, busca-se apresentar a importância da escolarização para esse segmento da população e a intencionalidade em dar prosseguimento aos estudos formais. Avaliar as formas de atendimento do programa, também constitui objetivo específico desta pesquisa, com ênfases nos aspectos: aprendizados e motivação gerados para a busca de ocupação, emprego e/ou renda.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 03

OBJETIVOS............................................................................................................... 05

METODOLOGIA........................................................................................................ 06

O JOVEM E O MERCADO DE TRABALHO.............................................................. 08

QUEM SÃO OS PARTICIPANTES?.......................................................................... 10

INSERÇÃO EM ATIVIDADES GERADORAS DE RENDA........................................ 15

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA.................................................................................. 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 21

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 23

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INTRODUÇÃO

A minha vontade de estudar e trabalhar aumentou, eu antes não tinha consciência

do valor das coisas, hoje sou mais controlado. (jovem participante do Programa)

A estruturação de políticas públicas voltadas ao emprego e à formação

profissional tem sido um eixo orientador da Secretaria do Emprego e Relações do

Trabalho do estado de São Paulo, doravante denominada SERT, desde 1996. Tal

construção tem visado abarcar políticas específicas para setores da economia, a

exemplo das câmaras setoriais, em um período marcado pela reorganização da

produção e da economia, mas também programas de qualificação profissional e

outros ainda capazes de possibilitar a inserção no mercado de trabalho. No âmbito

desta última modalidade inscreve-se o Programa Jovem Cidadão: Meu Primeiro

Trabalho, voltado para a intermediação de estágios de jovens oriundos das escolas

públicas do estado de São Paulo. Instituído em 27 de abril de 2000, por meio do Decreto no 44.860 e

reformulado em 11 de dezembro de 2008 pelo decreto no 53.807, o Programa tem

seus pressupostos pautados pelos dados sobre desemprego, reveladores das

contradições presentes no mercado de trabalho que, por um lado, demanda

experiência profissional prévia e, por outro, privilegia a contratação de pessoas cada

vez mais jovens.

O Programa é destinado aos estudantes com idade entre 16 a 21 anos,

regularmente matriculados e que apresentem frequência comprovada no ensino

médio ou nos cursos médios técnicos, ambos vinculados ao sistema público de

ensino estadual. O escopo desta política é proporcionar a este jovem a primeira

oportunidade de experiência profissional no mercado de trabalho.

Concretizado em 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo,

seus objetivos convergem para a captação de vagas no mercado de trabalho para

esse segmento da população. Para além desta função, a SERT concede bolsa

auxílio individual mensal também denominada de bolsa estágio com valor

equivalente a R$ 65,00, além de seguro de acidentes pessoais e de vida. Do lado da

empresa, a bolsa é complementada mediante ao pagamento de R$ 1,89/hora,

transporte diário integral e jornadas diárias compreendidas entre 4 e 6 horas.

4

Os contratos são firmados pelo período de 6 meses, com possibilidades

de ser estendido por igual período.

É parte integrante dos objetivos do Programa abarcar a dimensão do

aprendizado didático-pedagógico, bem como da prática profissional. Estes são

previstos em documento especialmente gerado para esse fim, via a assinatura das

partes do Termo de Compromisso, além da interveniência obrigatória da instituição

de ensino a qual o estudante estiver vinculado.

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OBJETIVOS

A Aline de antes era imatura, não tinha planos, hoje eu sou mais madura, mais dedicada à família,

ao trabalho, estou mais preparada com mais experiência em enfrentar o mercado de trabalho.

(jovem participante do Programa)

A pesquisa realizada visava conhecer a caracterização socioeconômica

dos jovens participantes ou não do Programa e, fundamentalmente, coletar dados

referentes às relações de trabalho por eles vivenciadas durante o estágio, bem como

saber se o estágio realizado guardava relação com o curso realizado e ou grau de

escolaridade. A intenção era conhecer em que medida as empresas fazem uso da

força de trabalho vinculada ao estágio como forma de reduzir custos com pessoal ou

se nestas há uma dimensão formativa do jovem, via vivência no trabalho.

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METODOLOGIA

Antes eu era mais triste e inseguro para procurar emprego, hoje sou uma pessoa mais segura.

(jovem participante do Programa)

A partir de (2004) constata-se que o termo juventude permite margens de

compreensão muito diversas, estas também transformadas pela própria dinâmica

social e econômica no mundo. Convencionalmente, no Brasil, adota-se o grupo

etário compreendido entre 15 e 24 anos e observa-se que em outros países há uma

tendência para ampliar tal arco, dadas as dificuldades enfrentadas pelos jovens para

ingresso no mercado de trabalho. Assim, a compreensão do termo é estendida

visando considerar ainda ‘jovem’ os estudantes universitários. Contudo, Abramo

ressalta a premência em inscrever dentro do conceito as histórias pessoais destes

jovens, as quais podem alterar o sentido de um termo:

Diversas instituições de pesquisa (como IBGE e IPEA), (...) têm usado esse recorte, sem deixar de alertar para a necessidade de sempre relativizar tais marcos, uma vez que as histórias pessoais, condicionadas pelas diferenças e desigualdades sociais de muitas ordens, produzem trajetórias diversas para os indivíduos concretos (Abramo, 2004, p.45)

Nesta pesquisa o termo ‘jovem’ é atrelado à presença na escola, mais

especificamente no ensino médio, posto que o Programa visa intermediar a

colocação de jovens em empresas disponíveis a abrigar programas de estágio, de

caráter formativo para esse público.

A metodologia de pesquisa que informa os dados aqui apresentados foi

de caráter quantitativo, aplicada por meio de questionário padronizado, via

entrevistas domiciliares realizadas por profissionais especialmente capacitados para

esse fim. As amostras foram subdivididas em dois grupos, que totalizaram 2.044

entrevistas, quais sejam:

� Jovens que permaneceram 6 meses no Programa, entre 2006 e 2008; e

� Jovens que permaneceram 12 meses no Programa, no mesmo período.

Além desses grupos amostrais foram, ainda, realizadas entrevistas junto

aos jovens cadastrados no Programa, que, contudo, não foram selecionados para o

estágio. A esse grupo deu-se o nome de “grupo de controle”.

7

Somaram-se a estes outros dados coletados: 371 jovens foram

entrevistados por telefone. Estes pertenciam a um grupo de desistentes do estágio

em período inferior a 180 dias. Objetivava-se, junto a este grupo, analisar,

especialmente, as razões de abandono do Programa.

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O JOVEM E O MERCADO DE TRABALHO

Antes eu não trabalhava e agora trabalho com carteira assinada, antes eu não fazia porque não sabia e não tinha interesse em aprender.

(jovem participante do Programa)

É possível afirmar que há um desafio permanente no âmbito do Programa

Jovem cidadão: meu primeiro emprego, qual seja: realizar a colocação de jovens no

mercado de trabalho sem, contudo, fazer dessa inserção uma forma de flexibilizar as

relações de trabalho existentes no Brasil. Isso porque as empresas, frente às

necessidades de competitividade no mercado, fazem uso do estágio, dos processos

de terceirização etc como forma de redução de custos com pessoal. Dessa forma, a

dimensão da primeira vivência no mundo do trabalho pode ficar comprometida face

às urgências do sistema produtivo.

Nesse sentido, a presente pesquisa procurou captar a visão dos jovens

sobre o uso de expedientes contrários aos pressupostos vigentes no Programa, ou

seja, em que medida a dimensão formativa do trabalho esteve presente nas

atividades laborais exercidas.

Tratando-se de segmento que convive com índices elevados de

desemprego, cabe aqui procurar elucidar tal fenômeno, bem como as causas desta

situação. Segundo o DIEESE e Fundação SEADE, na Região Metropolitana de São

Paulo em 2005, a taxa de participação no mercado de trabalho do jovem entre 16 e

24 anos, em 2005, era de 77% em contraposição à população acima de 25 anos que

era de 69%. Entretanto, a taxa de desemprego era mais de duas vezes superior

entre os jovens quando comparada à taxa de desemprego para os demais

desempregados com faixa etária superior a 25 anos (Tabela 1).

Tabela 1: Distribuição das taxas de participação e de desemprego dos jovens de 16 a 24 anos e da população total acima de 25 anos de 2005 (em %)

Região metropolitana

Taxas de participação Taxas de desemprego

Jovens de 16 a 24 anos

População total acima de 25

anos

Jovens de 16 a 24 anos

População total acima de 25

anos

São Paulo 77 69 30 12

Fonte: Convênio DIEESE/Seade, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração própria

9

Estes dados já respondem que não é apenas a elevação da

escolaridade que impulsiona esta entrada, pois, como já apresentado, os jovens

apresentam taxas de escolaridade mais elevadas. Fatores como condição familiar

deste segmento da população também devem ser considerados nas políticas

públicas voltadas à inclusão no mercado de trabalho, aspecto destacado pelo

Programa Jovem Cidadão em suas diretrizes, direcionando suas ações à

população de jovens em situação de vulnerabilidade social.

Os dados supracitados evidenciam que os jovens procuram uma

ocupação no mercado assim como o grupo da População Economicamente Ativa

(PEA). No entanto, apreende-se que estes se encontram em situação de

“desvantagem” em relação às demais frações etárias, na busca por oportunidades.

Isto em decorrência da demanda, por parte das empresas, por profissionais com

maior experiência profissional e vivência no mundo do trabalho. Dados da pesquisa

realizada reforçam tal percepção, posto que este dado surge de forma significativa

entre parcela significativa dos jovens: estes alegam que buscaram o programa a

fim de adquirir experiência de trabalho.

O programa Jovem Cidadão: meu primeiro emprego parte do

pressuposto que a principal causa do emprego juvenil seja a falta de experiência

profissional e sua ação se dá no sentido de auxiliar no processo de agregar

aprendizado profissional, não somente de caráter técnico, mas também sobre as

relações no ambiente de trabalho, ganho responsabilidade nas ações tomadas,

aprender a trabalhar em equipe, relacionar-se com os colegas de trabalho,

aprender a organizar e a dimensionar o tempo na realização de múltiplas tarefas,

aprender a planejar e compreender instruções. Diversos são os saberes

compreendidos na chamada “experiência”, somado ao conhecimento adquirido

sobre as funções que se vai exercer.

Os processos de escolarização não podem ser desconectados da

conjuntura mais geral da sociedade brasileira. Frigotto (2001) ao analisar as

articulações entre a educação e a estrutura de classes reafirma a tendência que os

filhos da classe trabalhadora frequentam a escola pública e estas configuram

situações bastante diferenciadas das vivenciadas pelos filhos da classe média.

O debate crítico sobre a desqualificação do ensino deve permear as

análises sobre os jovens, posto que estes enfrentam as dificuldades na obtenção

de postos de trabalho mais estáveis, marcados pela precariedade nas relações

de trabalho.

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QUEM SÃO OS PARTICIPANTES?

As pessoas tinham muita paciência para me ensinar, tive muita atenção de todos e eles me tratavam como se eu estivesse há muito tempo lá dentro por isso foi muito bom.

(jovem participante do Programa)

Dados da pesquisa realizada informam que o público do Programa Jovem

Cidadão é majoritariamente feminino, sendo que mais de 50% são mulheres,

considerando os grupos amostrais de egressos do programa que permaneceram 6

ou 12 meses. No entanto, apreende-se que a evasão das mulheres é mais

expressiva entre os egressos de 6 meses do programa: 63% feminino e 37%

masculino (Tabela 2).

Tabela 2: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo sexo (em %)

Sexo Egressos: participação de 6

meses

Egressos: participação de 12 meses

Feminino 63 54

Masculino 37 46

Total 100 100

A evasão feminina deve ser aspecto de interesse particular por parte das

políticas públicas, levantando-se a hipótese que esta se dá, em grande medida, em

função da gravidez precoce. A despeito deste tema não ter sido objeto específico da

presente pesquisa, registra-se um número expressivo de jovens que declararam ao

longo da pesquisa ‘hoje sou mais madura porque hoje tenho minha filha para criar’.

As informações obtidas indicam novos objetos de pesquisa no que tange às relações

sociais de sexo e à construção do feminino, no caso expressa pela maternidade. Um

deles diz respeito à observação de um aspecto, nesta pesquisa, que reforça as

conclusões de inúmeras outras: a responsabilidade pela maternidade surge apenas

entre as meninas e não há registro nos dados coletados da mesma manifestação

por parte dos jovens. Apreende-se que há uma lacuna importante para o exercício

de políticas públicas integradas, no que tange à orientação sobre a maternidade

entre os jovens.

11

Pesquisa realizada pelo DIEESE em 2006 “A ocupação dos jovens nos

mercados de trabalho metropolitanos”, constatou que a inserção de jovens no

mercado de trabalho se dá de forma distinta entre os gêneros. A desigualdade de

oportunidades é verificada entre as mulheres, em todas as regiões metropolitanas

analisadas pelo DIEESE (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador)

e também no Distrito Federal, na qual a proporção de jovens ocupadas é inferior à

dos homens da mesma faixa etária de 16 a 24 anos. Tal dado pode ser explicado

por fatores econômicos, sociais e culturais. Observando esses mesmos dados

apenas a cidade de São Paulo, constata-se que a distribuição dos jovens ocupados

é de 55% e 45%, respectivamente do gênero masculino e feminino.

A partir dessa distribuição indicada pelo DIEESE é possível explicar a

razão pela qual as jovens constituem a maioria no público do Programa Jovem

Cidadão. Devido a menores chances de absorção pelo mercado, estas buscam

alternativas de inserção, via estágio oferecido pelo programa, a fim de ampliar sua

experiência profissional, adquirir uma renda e ter oportunidade de conciliar trabalho

e estudos.

Ficando claro que a desigualdade para os jovens na entrada no mercado

de trabalho depende de diversos fatores como as relações sociais (de classe, de

gênero, de etnia, geracional) e os de escolaridade e qualificação profissional

(Segnini, 2000).

Entre os jovens que participaram do programa, mais de 60% declararam

que não estão estudando atualmente, tanto os egressos que participaram 6 meses

quanto aqueles que participaram 12 meses (Tabela 3).

Tabela 3: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Situação de Estudo (em %)

Estudando Atualmente?

Egressos: participantes 6

meses

Egressos: participantes 12

meses

Sim 33 34

Não 67 66 Total 100 100

12

Dentre os que responderam afirmativamente sobre estar estudando no

momento da entrevista – 33% dos egressos participantes 6 meses e 34% dos

egressos participantes 12 meses – é interessante observar que há uma diferença

significativa entre os dois grupos de entrevistados. Enquanto que entre os egressos

que participaram por 6 meses do programa 45% estavam cursando o ensino médio

regular. Esse percentual cai para 28% entre os que participaram 12 meses do

programa. Estas proporções são invertidas ao observar que apenas 29% dos

egressos de 6 meses estão, hoje, cursando o ensino superior, ao passo que 51%

dos egressos de 12 meses estão cursando o ensino superior, vale dizer que ambas

as porcentagens referem-se à escola privada (Tabela 4).

Tabela 4: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Escolaridade entre aqueles que estão estudando atualmente (em %)

Escolaridade Egressos: participantes 6

meses

Egressos: participantes 12

meses

Ensino médio regular 45 28 Ensino médio profissionalizante ou técnico

17 19

Cursinho pré-vestibular (1) (1) Ensino superior / 3o grau – escola pública

5 (1)

Ensino superior / 3o grau – escola privada

29 51

Não sabe / não respondeu (1) 0 Total 100 100

(1) A amostra não comporta a desagregação para essa categoria.

A maioria dos jovens que participaram do programa e que declararam não

estar trabalhando no momento da realização da pesquisa – praticamente 7 em cada

10 egressos nos dois grupos amostrais, concluíram o ensino médio regular, ambos

perfazem um total de 59%, conforme pode ser observado na Tabela 5.

13

Tabela 5: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Escolaridade entre aqueles que não estão estudando atualmente (em %)

Escolaridade Egressos participantes de 6

meses

Egressos participantes de

12 meses Ensino médio regular completo 92 94

Ensino médio regular incompleto 4 (1)

Ensino médio profissionalizante ou técnico completo/incompleto

3 (1)

Cursinho pré-vestibular 0 0 Ensino superior / 3o grau – escola pública ou privada completo/incompleto

(1) (1)

Total 100 100

(1) A amostra não comporta a desagregação para essa categoria.

De acordo com a Pesquisa de Condições de Vida (PCV) de 2006,

realizada pela Fundação SEADE, 65% dos jovens, com idade entre 18 e 24 anos,

concluíram o ensino médio, 17% ainda frequentavam o ensino fundamental e 18%

estavam fora da escola com no máximo o fundamental completo. Em contrapartida

14% destes jovens nessa faixa etária frequentavam o ensino superior, ou seja, uma

parcela significativa (51%) não ingressou no ensino superior, apesar de concluído o

ensino médio.

Os números da presente pesquisa indicam que o público do Programa

Jovem Cidadão: Meu Primeiro Emprego são ligeiramente superiores em relação aos

da PCV: entre os que permaneceram por 6 meses no Programa 34% cursam o

ensino superior, seja ele privado ou público, enquanto que o outro grupo (12 meses)

apresenta um total de 51% cursando o nível superior de ensino. Já a PCV indica que

a média nacional é de que apenas 14% dos jovens entre 16 e 24 anos cursam o

ensino superior.

Este pode ser um indicativo de que o estágio realizado no programa

incentivou uma parcela, ainda que pequena, – lembrando que apenas 33 e 34% dos

participantes estão estudando hoje – a continuar os estudos.

14

Renda familiar

A presente pesquisa constatou que os jovens participantes do Programa

Jovem Cidadão, em ambos os grupos amostrais, apresentam, majoritariamente,

renda familiar equivalente a até três salários mínimos (Tabela 6). Somado a este

dado, apreende-se que metade dessas famílias é composta por quatro ou mais

pessoas, agravando, ainda, o sustento familiar. Esse dado é relevante para o debate

da sociedade de classes, cujos filhos das classes mais favorecidas se inscrevem no

mercado de trabalho de forma diferenciada em relação aos das classes populares.

Estes últimos não possuem o mesmo acesso à educação, além dos cursos extra-

curriculares, que viabilizam a obtenção de postos de trabalho melhor remunerados e

de maior prestígio social (Venco, 2009).

Tabela 6: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu Primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Renda Familiar (em %)

Egressos: Participação de 6

meses

Egressos: Participação de 12 meses

Até R$1.530,00 (3 SMs)1 59 58

Mais de R$ 1531 (mais de 3 SM) 41 42

Total 100 100

1 Valor do salário mínimo nacional (R$510,00) vigente a partir de dezembro de 2009.

15

INSERÇÃO EM ATIVIDADES GERADORAS DE RENDA

Adquiri experiência profissional e consegui ser efetivado no mesmo local de trabalho do estagio.

Dentre os entrevistados mais da metade obteve emprego após o estágio

realizado, via o Programa Jovem Cidadão: um percentual de 53% entre os

participantes até 6 meses e 60% entre os que permaneceram por 1 ano estavam

trabalhando no momento da realização da entrevista. No entanto, é importante

ressaltar que estavam fora do mercado de trabalho 42% dos egressos que

participaram por 6 meses do programa e 37% dos egressos que participaram 12

meses do programa.

Tabela 7: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo situação atual de trabalho (em %)

Está trabalhando Egressos: participantes 6 meses

Egressos: participantes 12 meses

Sim 53 60

Não 47 40

Total 100 100

Vale dizer que a inserção destes jovens no mercado de trabalho se deu de maneira

bastante positiva, ou seja, observa-se, em ambos os grupos, que 7 em cada 10

jovens inscreveram-se em relações formais de trabalho (Tabela 8).

Tabela 8: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo tipo de trabalho (em %) Tipo de Trabalho Egressos:

participantes 6 meses

Egressos: participantes 12

meses Empregado assalariado com carteira assinada 71 74 Empregado assalariado sem carteira assinada 22 15

Empregado do setor público (1) (1)

Trabalhador por conta própria para empresa ou para população em geral

3 3

Outros 3 7 Total 100% 100%

A despeito de a inserção ocorrer de maneira formal, os salários recebidos por 60%

da população é de 1,5 salário mínimo. (Tabela 9)

16

Tabela 9: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Rendimentos Mensal do Trabalho (em %) Faixa salarial Egressos: Participação

de 6 meses Egressos: Participação

de 12 meses até 510,00 (1) 32 34 de 511,00 a 766,00 (de 1 a 1 e meio) 36 42 de 767,00 a 1020,00 (1 e meio a 2) 13 16 mais de 1022,00 (mais de 2) 4 4 Não sabe/ não respondeu. 14 5 Total 100 100

17

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA

Antes eu era um molecão, irresponsável, chegava sempre atrasado

em escola e no estagio. Hoje aprendi o que é responsabilidade e

quero correr atrás do que é melhor para mim. (Participante do Programa)

A pesquisa buscou realizar uma avaliação do Programa, uma vez que

desde sua criação não houve qualquer estudo capaz de mensurar o alcance de

determinados objetivos, especialmente ouvindo aqueles que usufruem desta política

pública.

A percepção dos jovens sobre o Programa é bastante satisfatória, uma

vez que pouco mais de 9 em cada 10 o consideraram “bom” e “ótimo” (91% entre os

jovens que ficaram no Programa por 6 meses) e praticamente a totalidade entre

aqueles que permaneceram por 1 ano no programa: 96%.

As respostas “ruim” ou “regular” não chegam a totalizar 10% do total das

respostas entre as duas amostras, o que indica uma avaliação excelente do

Programa, assim como grande satisfação por parte dos egressos (Tabela 10).

Tabela 10: Distribuição dos Egressos – Participantes do Jovem Cidadão: Meu primeiro Emprego por 6 e 12 meses, segundo Avaliação do Estágio (em %)

Avaliação do Estágio Egressos:

participação de 6 meses

Egressos: participação de 12

meses

Ruim 2 1

Regular 7 3

Bom 35 23

Ótimo 56 73

Não sabe / Não respondeu (1) (1)

Total 100 100

Dentre os motivos pelos quais o jovem procurou o Programa Jovem

Cidadão, mais de 50%, tanto entre os egressos 6 quanto os de 12 meses afirmam

que foi por estar em busca de uma experiência de trabalho.

18

Os jovens conheceram o Programa, principalmente, por meio de parentes

e amigos (43%) e, em segundo lugar, por meio da escola (32%). Este último veículo

preferencial de divulgação do Programa.

Tabela 11: Como soube do Programa (em %) Pela escola 32

Pelo site 7

Por intermédio de parentes / amigos 43

Por meio de outros Programas 6

Outro meio. 12

23 *

Não sabe / não respondeu *

* Valores inferiores a 1%

Grande parte dos participantes revela conhecimento sobre o órgão

implementador do Programa: 75% reconhecem o governo do estado de São Paulo

como promotor do Programa; 7% atribuem o Programa diretamente à Secretaria do

Emprego e Relações do Trabalho; 3% ao Ministério do Trabalho e Emprego, 7% à

Prefeitura Municipal. Ou seja, aglutinando as respostas apreende-se que os jovens

atribuem ao poder público a iniciativa de intermediar o estágio profissionalizante e às

empresas 1%.

Tabela 12: Órgão promotor do Programa (em %) Governo do Estado de São Paulo 75

Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – SERT

7

Governo Federal / Ministério do Trabalho / Educação e ou o

3

Prefeitura 6

Empresas 1

Outros 3

Não sabe / não respondeu 5

Total 100

Buscou-se avaliar a qualidade do atendimento ao cidadão, via

informações prestadas e contatos estabelecidos. Observa-se que o Programa é

melhor avaliado no que diz respeito ao primeiro contato e aos esclarecimentos sobre

o mesmo, conforme pode ser verificado nas Tabelas 13 e 14:

19

Tabela 13: Avaliação: primeiro contato com o Programa (em %)

Ótimo 36

Muito bom 24

Bom 40

Ruim *

Muito ruim *

Não se aplica *

Não sabe/não respondeu *

Total 100

*valores inferiores a 1%

Tabela 14: Avaliação: esclarecimentos sobre o Programa (em %)

Ótimo 34

Muito bom 26

Bom 37

Ruim 2

Muito ruim *

Não se aplica *

Não sabe/não respondeu *

Total 100

Segundo os entrevistados, o Programa poderia fornecer informações mais

precisas no que diz respeito à vaga propriamente dita. Essa constatação é baseada

na avaliação boa, mas decrescendo o número de respostas mais positivas, à medida

que o assunto é relativo aos detalhes do posto de trabalho, especialmente direitos

intrínsecos à vaga e ou orientações relativas à entrevista (Tabela 15).

Tabela 15: Avaliação: procedimentos comportamentais na entrevista e direito ao seguro acidentes pessoais (em %)

Ótimo Entrevista Seguro

Muito bom 27 22

Bom 20 15

Ruim 35 35

Muito ruim 5 7

Não se aplica * *

Não sabe/não respondeu 1 1

Total 100 100

20

Configurava-se como parte da avaliação do Programa na presente

pesquisa, conhecer as alterações individuais em relação ao trabalho, apreendidas

pelos próprios. É possível afirmar que nestes quesitos os jovens lograram um maior

grau de autonomia e sentem-se melhor preparados para a busca de um novo

emprego. Tal constatação apóia-se pelos expressivos percentuais relativos às

seguintes situações:

Tabela 16: Ganhos de autonomia, após o estágio (em %) Busca por

emprego Atitudes no ambiente de

trabalho

Formas de gerar renda

Elaboração do

currículo

Direitos como

cidadão

Atitudes nos processos de

seleção Conheço totalmente

32 49 26 47 33 76

Conheço Muito 51 45 41 41 39 21

Conheço Pouco 16 6 24 11 25 3

Desconheço totalmente

* * 9 * 3 *

Constata-se por meio da observação dos dados contidos na Tabela 16

que a percepção sobre as atitudes a serem empreendidas nos processos de seleção

são as que apresentam maior conhecimento por parte dos entrevistados:

praticamente 8 em cada 10 declararam conhecer totalmente o procedimento nessas

situações.

Os dados revelam que o Programa pode incorporar novos tipos de ação

junto a essa população, como oferecer formação específica, particularmente no que

diz respeito aos direitos vinculados ao estágio, a exemplo dos esclarecimentos

relativos à lei do estágio. Praticamente 1/3 declarou conhecer pouco ou desconhecer

o tema.

Exemplo de tal constatação ilustra a reformulação baseada na veiculação

de informações relativas à lei do estágio: entre os entrevistados 52% declararam

trabalhar acima de 30 horas semanais.

21

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa ofereceu uma oportunidade para conhecer o mercado de trabalho e hoje posso procurar uma outra oportunidade de trabalho que

me acrescente muito mais e fazer uma faculdade.

A análise da política pública referente à inserção no mercado de trabalho

por jovens oriundos das escolas públicas estaduais paulistas constituiu o objeto

desta pesquisa.

As categorias analíticas privilegiadas para este artigo visaram retratar a

caracterização socioeconômica desse segmento da população; o papel do estágio

profissionalizante como fator de alteração das dinâmicas pessoais desses jovens; as

relações de trabalho que se estabelecem em situações de vínculos empregatícios

efêmeros; e a avaliação do Programa.

Reafirmando os estudos sobre escolarização e busca por programas

públicos de diversas naturezas, as mulheres estiveram à frente também deste

programa: praticamente 6 em cada 10 participantes do programa eram do sexo

feminino.

A perspectiva da escolarização futura foi enfocada nessa pesquisa e

reforça debates acerca do ensino público. Pelo lado da oferta e do acesso aos

cursos universitários, persiste, ainda, o ingresso de um segmento da população

oriunda do ensino privado. E, por outro lado, o debate sobre o direito ao ensino

básico de qualidade.

Esta pesquisa revelou que mais de 6 em cada 10 jovens participantes do

Programa Jovem cidadão não dá continuidade aos estudos em função de: ‘precisar

trabalhar’ e ‘não tenho recursos financeiros para custear os estudos’. Ambas as

respostas indicam a percepção dos jovens quanto à necessidade de precisar pagar

pelo ensino superior. Vale ressaltar que menos de 2% dos entrevistados

responderam que não tinham interesse em dar continuidade aos estudos.

Pelo lado do trabalho, os jovens entrevistados lograram inserção no

mercado de trabalho com índices elevados: 39% integram o mercado formal de

trabalho, outros 10% trabalham sem a carteira assinada e pouco menos de 2%

exercem atividade autônoma.

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Foi possível observar que o estágio pode se constituir como ferramenta

importante para os jovens vivenciarem a dinâmica do mercado de trabalho, relativa

mais estritamente aos processos de seleção. Os dados obtidos revelam que este

segmento da população encontrou na vivência profissional informações relativas às

atitudes importantes no momento da entrevista, como preparar um currículo e, de

forma não tão unânime, sobre seus direitos como cidadão que teve acesso a uma

vaga de estágio.

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REFERÊNCIAS

ABRAMO, Helena Wendel. Condição juvenil no Brasil contemporâneo. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo. Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. São Paulo: Cortez, 2001. ______. Juventude, trabalho e educação no Brasil: perplexidades, desafios e perspectivas. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo. Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa e a sociedade. São Paulo: Boitempo, 2002. POCHMANN, Marcio. Juventude em busca de novos caminhos no Brasil. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo. Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto insuficiente. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 2, Jun. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0102-88392000000200011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 fev. 2010. TANGUY, Lucie. Les promoteurs de la formation en entreprise. Travail et Emploi, no 86. Paris, abr. 2001. VENCO, Selma. As engrenagens do telemarketing: vida e trabalho na contemporaneidade. Campinas: Arte escrita, 2009.

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AUTORIA

Bianca Briguglio – Mestranda do Programa de Ciências Sociais Aplicadas à Educação, Faculdade de Educação da Universidade de Campinas. Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Assistente técnica da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Endereço eletrônico: [email protected] Emily Hozokawa – Graduanda do Programa de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo. Consultora da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP). Endereço eletrônico: [email protected] Laís Schalch – Socióloga, mestranda do Programa de Literatura da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Consultora da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP). Endereço eletrônico: [email protected]