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HEITOR DE PAOLA EiXO 00 M Al LATINO-AHERtCANO E A NOVA ORDEM MUNDIAL

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  • HEITOR DE PAOLA

    EiXO 00 MAlLATINO-AHERtCANO

    E A NOVA ORDEM MUNDIAL

  • SUMRIO

    l'RI-1 CIO( )lavo Je* C arva lh o ............................................................................................. 15

    I N T R O D U O .................................................................................................19

    P R IM E IR A P A R T E - U M A Q U E S T O D E M E T O D O L O G IA

    ( AlM I Ul o I I RR( )S Dl M I:T O I) ( )l O G IA 1)1: AVALIAO DAS

    IS Ik A T K .IAS C O M U N IST A S C O M I T ID O S PFLO S SFRV I O S DF

    IN 11 I K . N C IA O C IDLNTA1S..................... ..................... 51

    1 A nova estratgia sovitica de dominao mundial: retorno ao leninismo.....52

    2 As previses de Anatoliy Golitsyn.................................................................. 54

    3 A crise no mundo sovitico aps a morte de Stalin........................................ 56

    4 0 KGB e a desinformatsiya................................................................ ............57

    V A desinformatsiya em ao..............................................................................59

    As principais operaes de desinformao..................................................... 61

    7 0 declnio da C IA ...........................................................................................62

    8. O movimento pela paz mundial..................................................................... 64

    ( A li I I I I ( ) II A NLCLSSIDADh DF LIMA NOVA M FT O D O LO C IA

    1)1 A N A IIS I ........................................... 67

    1 Significado da reorganizao do KGB aps a Perestroika.............................. 682 A nova face da guerra......................................................................................72

    3 Diferenas entre um Partido Comunista e os Partidos democrticos............. 74

    4 Algumas normas de avaliao .........................................................................77

    5 A verdadeira meta comunista: a Nova Classe................................................. 82

  • ( A li I U M ) III A kl V< )l U(,A< X I I I I IIR A I A M < >NI< ) ( ,K \MS( I I A

    I S ( ()| A D I IR A N k lt lR I hs

    1. Antonio Gramsci c a Organizao da Cultura ..............................................85

    2. A influncia da Escola dc Frankfurt................................................................. 95

    3. O Triunfo da Revoluo Cultural Gramcista e da Escola de

    Frankfurt no Brasil......................................................................................... 103

    SEGUNDA PARTE - AS RAZES HISTRICAS DO EIXO DO M A L L A T IN O - A M E R IC A N O : As grandes estratgias com unistas de

    d om n io mundial e suas repercusses na am rica latina

    C A P T U LO IV - PR IM EIRA E SEG U N D A ESTRATGIAS 113

    1. A Primeira Estratgia (1917-1919)............................................................... 115

    2. Segunda Estratgia (1919-1953)................................................................... 115

    C A P T U LO V - O FENSIVAS NA A M R IC A LATINA NA

    SFG U N D A ESTRATG IA .............................. .....................117

    1. Primeira Ofensiva (1919-1943).................................................................... 117

    C A P T U LO VI - IN T I R R IG N O : A SLC U N D A GUERRA M U N D IA L

    I O HM DA ALIAN A TEU TO -SO V IT IC A 121

    C A P T U LO VII - PLR O D O PS-GUERRA I A GUERRA 1 RIA. 127

    1. Segunda Ofensiva (Mundial) (1944-1985)...................................................130

    2. Segunda Ofensiva na Amrica Latina........................................................... 138

    3. A Resposta Revolucionria: A Conferncia Tricontinental de

    Havana e a O L A S ......................................................................................... 144

    4. A Terceira Ofensiva na Amrica Latina: A Luta Armada Revolucionria

    no Continente c no Brasil............................................................................. 147

    5. A luta armada no Brasil................................................................................. 150

    6. A Fbrica de Mitos Produz Conspiraes e Heris...................................... 154

    7. A Participao dos Estados Unidos no Movimento de 6 4 ........................... 154

  • H ( hrlr ( ) ( nlpc iln InKiilcnlo Pinuihct v s Morte do 'I leri

    I\>l>iil.n Allende 157

    ( )pcriio ( oiulor O "Compl Militar Fascista".......................................... 159

    ( AlM I Ul ( ) V III I I l

  • O lll l< )l IM RDM )( ) NA IUR< >PA IX ) I I S I I .22*

    I Al .BA ou U RSA L cm marcha........................................................................ 223

    Q UARTA PARTE - O E IXO LAT IN O -AM ERICAN O E A NO VA O RD EM M U N D IA L

    C APTLII O X IV - A ESTRATGIA D O S GRAN D I S

    BI O C O S REG IO N A IS ......231

    C A P T U LO XV - A "C O M U N ID A D E INTERNAC IO N A L E A NOVA

    O RD EM M U N D IA I 237

    1. Teorias de Conspirao - A "Mo Secreta"?................................................. 2382. A Implementao...........................................................................................240

    C A P T U LO XVI - U M A AL IAN A IM PR( )V V E l M AS RE A l: 245

    1. O Embrio da Aliana.................................................................................. 247

    2. A Idia de uma Unio dc todas as Naes para a Paz e o

    Governo Mundial..........................................................................................249

    3. Wall Street e a Revoluo Bolchevista.......................................................... 251

    4. A Convergncia das Duas Estratgias........................................................... 254

    5. Elo com o presente: Hammer, Gore & C o .................................................... 256

    C A P T U LO XV II AS PR INCIPA IS O R G A N IZA ES C LO BA LISTA S..........259

    1. Woodrow Wilson International Center for Scholars................................... 259

    2. Council on Foreign Relations....................................................................... 261

    3. Trilateral Comission..................................................................................... 264

    4. Dilogo Interamericano................................................................................ 2665. Association of World Federalists.................................................................. 271

    6. A Sblizhntie na O N U .......................................................................................271

    7. As O N G s globalistas.................................................................................... 273

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...............277

  • Grande ou petfueno, moderado ou extremado, lodo rebelde anticapitalista, sem exceo, e um farsante

    no s nas suas atitudes exteriores, mas na base mesma da sua personalidade, na raiz do seu estilo de vida.

    Olavo de Carvalho

  • PREFCIOOlavo dc Carvalho

    Se o jornal eletrnico Mdia Sem Mscara no servisse para mais nada, s o ter revelado aos leitores brasileiros o analista poltico Heitor de Paola j bastaria para justificar sua existncia e torn-la mesmo indispensvel. O homem, de fato, no tem equivalente na "grande mdia" nem - at onde posso enxergar - nas ctedras universitrias, tal a amplitude do horizonte de informaes com que lida em seus comentrios e tal a claridade do olhar que ele lana sobre o vasto, complexo e mvel panorama da transio revolucionria latino-americana, reduzindo a seqncias causais coerentes a variedade dos fatos em que seus colegas - digamos que o sejam - no enxergam seno um caos fortuito ou a imagem projetada de seus prprios sonhos, desejos, preconceitos e temores.

    Na pequena e valente equipe de colaboradores da publicao, remunerados a leite de pato (sim, ns, os ces-de-guarda do capital, no temos capital nenhum, ao contrrio dos pobres e oprimidos que nadam em dinheiro dos ministrios e das fundaes estrangeiras), as felizes coincidncias acabaram por produzir uma diviso de trabalho na qual ningum tinha pensado de incio: se os demais redatores sondam em profundidade certos aspectos especiais, ou investigam para trazer ao conhecimento do pblico fatos que a mdia comprometida ignora por malcia ou por inpcia genuna, no fim vem o Heitor de Paola e articula tudo em grandes esquematizaes diagnosticas que resumem o sentido do jornal inteiro e das quais o jornal inteiro, por sua vez, fornece as provas detalhadas. E uma grande alegria para mim ter sido o pai de um rgo brasileiro de mdia que, malgrado todas as suas limitaes que ningum nega, permanece o nico onde as notcias no desmentem as anlises e as anlises no saem voando para longe das notcias.

  • Na verdade o jornal revelou Heitor de Paola ao prprio Heitor de Paula, roubando-o em parte aos clientes do seu consultrio de mdico e psicanalista e colocando-o diante do caso clnico mais dramtico c desesperador que j passou pelo div de um discpulo (no muito fiel) do Dr. Freud: um continente neurotizado por um intenso tiroteio cruzado de aes camufladas e mentiras ostensivas que ultrapassa imen- suravelmente a capacidade de compreenso da inteligncia popular e a engolfa num abismo de esperanas ilusrias, terrores sem objeto e dios sem sentido.

    Neurose, dizia um outro s da clnica psicolgica, o meu falecido amigo Juan Alfredo Csar Mller, uma mentira esquecida na qual voc ainda acredita. No s uma figura de linguagem. E o resumo compacto de uma ordem causai que a observao clnica confirma todos os dias. O processo tem trs etapas: mentir, ocultar a mentira de si prprio e, por fim, entregar-se produo compulsiva de pretextos, fingimentos e racionalizaes sem fim, os mais postios e contraditrios, para poder continuar agindo com base naquilo que se nega e ao mesmo tempo defender-se desesperadamente da revelao dos motivos iniciais verdadeiros que determinaram o curso inteiro da mutao patolgica.

    Aplicado ao estudo dos processos histrico-polticos, o conceito tem de ser ajustado para dar conta de vrias seqncias neurotizantes simultneas e sucessivas, que, ao entremesclar-se num caleidoscpio de falsificaes, tornam a forma geral do processo totalmente invisvel massa de suas vtimas, ao mesmo tempo do visibilidade hipntica a aspectos isolados e inconexos, artificialmente dramatizados como "problemas urgentes", fazendo com que do mero caos mental se passe s aes arbitrrias e desesperadas que complicam o quadro da vida real at alucinao completa. Diversamente do que acontece na neurose individual, onde o autor e a vtima da mentira so a mesma pessoa, as neuroses coletivas so produzidas desde fora, por grupos de estrategistas e engenheiros so

    ii.

  • ciais que, ao menos num primeiro momento, imaginam poder control- las em proveito prprio, mas que em geral acabam sendo eles mesmos arrebatados pelo movimento dc destruio que geraram: nunca houve grupo de lderes revolucionrios que no acabasse sendo dizimado pela prpria revoluo.

    No meio desse turbilho, alguns indivduos privilegiados conseguem manter-se tona no mar de destroos e enxergar, mais ou menos, a direo do abismo para onde vai a corrente. No por coincidncia, esses observadores realistas so habitualmente recrutados entre aqueles que definitivamente no gostam do curso presente das coisas, mas que, por absoluta falta de vocao poltica, ou por estarem em minoria infinite- simal sem possibilidade de interferir na situao, reagem para dentro, intelectualmente, e no produzem planos dc ao, mas diagnsticos da realidade, sem os quais a simples inteno de agir j seria apenas uma contribuio a mais para a loucura geral.

    Heitor de Paola um desses. No s a experincia clnica que o qualifica especialmente para a funo. A inteligncia analtica da qual ele d algumas amostras notveis neste livro deve algo militncia revolucionria de juventude que o torna a seus prprios olhos um pouco culpado por aquilo que na poca no podia prever mas hoje obrigado a ver. Tanto melhor. Only tbe wounded can beal, diz um provrbio ingls.

    RlCHMOND, VA, 29 DE MAIO l)F 2008

  • INTRODUO

    O bem stif Jo [xw o tem siJo particularm eute

    um lthi fu iu i os tm w os

    Albert Camus

    Tendo sido comunista no passado e pertencido a uma das organizaes clandestinas, a Ao Popular (AP), entre os anos de 1963 e 1968, que abandonei por no concordar com o desencadeamento da "luta armada contra a ditadura", inicialmente exultei com o to propalado "fim do comunismo" com a queda do Muro de Berlin e a derrocada da Unio Sovitica. Mas, conhecedor do sistema por dentro, das formas de atuao, das teorias e da ideologia comunista, da crueldade de seus mtodos de conquista e manuteno do poder, da capacidade de manipulao de mentes e de sua caracterstica amorfa e protica, restaram- me a desconfiana e a perplexidade que cresceram na razo inversa do aumento desta crena entre os liberais e das inmeras demonstraes de regozijo e manifestaes do triunfo capitalista. O livro de Francis Fukuyama, O Fim da Histria e o ltimo Homem, publicado no Brasil em 1992, causou-me mal estar e preocupao desde as primeiras pginas. O autor comea argumentando que "nos ltimos anos, surgiu no mundo todo um notvel consenso sobre a legitimidade da democracia liberal como sistema de governo, medida que ela conquistava ideologias rivais como a monarquia hereditria, o fascismo e, mais recentemente, o comunismo". Fukuyama deve ter dormido durante os anos a que me referirei adiante ou quis aproveitar para faturar alto com o desbara- tamento da URSS. Ou pode t-lo escrito em funo de suas ligaes com o ( oumil on Fortign Relations', pois seus artigos so regularmente

    ' Ao longo do livro o O R ser extensamente estudado

  • publicados pela Foreign A/Jairs e pelo Le Monde Diplomaticjue, duas Bblias da esquerda mundial.

    Esta viso teleolgica da histria de inspirao nitidamente hegelia- no-marxista onde Fukuyama apenas mudou a finalidade do "processo histrico": do estabelecimento pleno do comunismo e das benesses da mxima marxista de a ida um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades, a imagem do cu na Terra apenas mudava para o pleno estabelecimento da liberdade de pensamento e iniciativa. Nada mudara, portanto, no havia nenhum rompimento radical com o pensamento marxista, com a noo absurda da existcncia de um "processo histrico" com meios e fins a atingir, apenas o mesmo estava sendo utilizado para outras finalidades igualmente fantasiosas c onipotentes. Em segundo lugar, a prpria idia de consenso incompatvel com a opo por uma sociedade aberta e livre, onde jamais existe consenso c na qual a discordncia o alimento essencial do debate. Em terceiro lugar, a afirmao era um verdadeiro despropsito num mundo onde mais da metade da populao continuava submetida s atrocidades dos regimes comunistas da China, Coria do Norte, Vietnam, Cuba e em alguns pases do Leste Europeu. Outra grande parcela vivia sob o taco das botas de tiranos assassinos, principalmente na frica. E outra ainda, submetida s teocracias islmicas no menos tirnicas. Fukuyama mostrava ser mais um intelectual "iluminado" idntico aos marxistas, sem nenhum compromisso com a realidade.

    O que mais me impressionou foi exatamente a no ruptura com o esquema intelectual marxista. Talvez porque o autor jamais tenha sido comunista. Quem j o foi, entendeu do que sc trata o comunismo, e saiu, no pode menos do que tornar-se um anticomunista radical rejeitando inclusive, in totum a concepo materialista dialtica da histria. No resta opo mediana, "deixei de ser comunista, mas no sou anti porque seria desconhecer os erros e falhas do capitalismo, da democracia, do

  • laissez faire, que tambm no resolveram problemas graves da humanidade como a misria, a pobreza e a desigualdade". Quem pensa assim no deu passo algum, sua "sada" da ideologia apenas um aulo-engano, continua fisgado pela mesma viso dc mundo que supe ter abandonado. O liberalismo jamais prometeu coisa alguma, apenas a liberdade de cada ser humano defender seus prprios interesses. S que, ao ser bem sucedido, ele beneficia inmeros outros seres. No por ser predestinado, mas por simples conseqncia lgica aumenta o nmero dc empregos e melhora o padro de vida da coletividade.

    Outro ponto fundamental da minha desconfiana do "fim do comunismo" foi a total ausncia de processos contra os facnoras e assassinos ape- ados do poder - com a nica exceo da Romnia, ainda assim dbil - de algo como um Tribunal de Nremberg, leis proibindo definitivamente a divulgao das idias e publicaes comunistas c banindo seus smbolos e bandeiras. Pelo contrrio, as verses marxistas da histria c o revisio- nismo so hegemnicas, bandidos do tipo Fidel, Che, Allende, Sandino, Lamarca, Marighela e outros so entronizados no altar dos heris latino- americanos. como se, ao invs de atacar e destruir a Alemanha, o O c idente tivesse se contentado com "democratiz-la" com a mesma elite da SS e da G EST A PO no poder (Himmler bem que tentou!).

    Camisetas com imagens de Che so vendidas em butiques chics. J imaginaram se tivessem a cara de Adolf Hitler? A Sustica foi banida, embora seu uso pelos nazistas tenha sido um roubo explcito de antigas tradies - dos ndios Hof>i aos Astecas, dos Celtas aos Budistas, dos Gregos aos Hindus - mas a Foice e o Martelo entrelaados, smbolo tipicamente comunista, permanece e at mesmo a bandeira do Exrcito Russo voltar a us-la, sendo que a companhia area russa Aerojlot nunca o eliminou. Enquanto sc exulta pela queda das soi disant ditaduras militares da AmricaI.atina, exalta-se o tirano mor e seus asseclas cubanos. Enquanto a divulgao do Holocausto nazista milhares de vezes repetida e ningum ousa

  • dizer que "o nazismo era at uma boa idia desvirtuada pelo hitlerismo", o que se escuta do comunismo: uma boa e generosa "utopia", deturpada pelo stalinismo. O comunismo ainda no foi atingido e continua uma utopia generosa desvirtuada. Os campos de concentrao nazistas so expostos e execrados, com justia, enquanto o G U LA G 2 permanece conhecido apenas dos interessados na literatura especfica, se tanto nos livros de Solzhenitsyn e outros dissidentes. Hitler, execrado como o maior genocida da histria matou uns 20 milhes, Mao matou 60 e Stalin uns 50 e so adorados. Pinochet foi responsvel pela morte de uns 3.000, largou o poder quando perdeu um plebiscito, Fidel j ultrapassou a cota dos 100.000 mortos (em toda a Amrica Latina e na frica, em Cuba estimam-se 17.000) e h 2 milhes de cubanos exilados, no obstante continua l 49 anos depois.' Quem o execrado? Quem o indmito heri?

    ***

    Uma maneira hipcrita de tentar desmoralizar a opo anticomunista dos ex-comunistas afirmar a respeito dos mesmos que eles nada mudaram, apenas trocaram de lado. preciso esclarecer isto antes de prosseguir. Como, ao longo do livro ao falar da essncia do comunismo, farei inmeras consideraes sobre o assunto, basta aqui citar Viktor Kravchenko.

    Viktor Andreievitch Kravchenko (1905-1966), escreveu suas experincias como agente sovitico no livro / Cbose Freedotn4. Entrou para o

    2 Do russo Glatmoye Llpravletiiye hpravitelno-trudopykb Lagerey i kolonu, Direo Geral dos Campos e Colnias de Correo e Trabalho, do N KVD , Comissariado Popular de Negcios Internos A existncia do G U L A G se tornou conhecida atravs do livro Arquiplago Gulag de Alexander Solzhenitsyn. Embora dissidente de grande importncia sua obra c bastante conhecida e acessvel e deixa de ser comentada aqui.' Quando este livro foi para o prelo Castro j havia se licenciado" e assumia seu irmo Raul. Tudo como dantes no quartel de Abrantes!* Disponvel para download (33 Mb) em http://ia3313l2.us.archive org/0/itcms/icho sefreedomtheO 12 158mbp/ichosefreedomtheO 12158mbp pdf

    http://ia3313l2.us.archive

  • Partido Comunista cm 1929 e participou do processo dc coletiviza- o forada do campo na Ucrnia, na bacia do Don. Inicialmente, ele participara ativamente com muito entusiasmo, mas testemunhou a morte pela fome de milhes de camponeses em nome dos quais se fez a Revoluo ( a Foice do smbolo), o aprisionamcnto do G U L A G ou a execuo sumria dos que esboavam alguma oposio ou compaixo. Os vveres eram acumulados com exclusividade para os prceres do Partido local e os enviados de Moscou. Mostra com crueza o grau de degradao moral e tica, alm da corrupo do processo de pensar, que necessrio para um indivduo assistir e aceitar a morte por inanio de milhares de semelhantes . . . em nome exatamente da melhora de situao dos seus semelhantes - no futuro. preciso atingir um nvel de organizao mental esquizide - dois sistemas mentais incomunicveis - que impea o indivduo de dialogar consigo mesmo e afaste de si as objees morais, ticas ou religiosas que o ameaam com sentimentos de culpa, compaixo e empatia, conduzindo corrupo do prprio processo de pensar, o que torna a verdade cada vez mais persecutria e temida. Como estes dois sistemas incomunicveis no conseguem ser to estanques como seria desejvel, necessrio a reafirmao constante por parte do grupo que partilha ardorosamente a mesma mentira. Por isto, um comunista no existe seno em grupo. Se algum tenta expressar uma verdade num grupo desses desperta imediatamente intenso dio e inveja, e maior coeso do grupo - e da mente de cada um em particular que fica ameaada de uma ciso terrvel - para reforar o delrio megalomanaco e expulsar o carter perturbador da verdade.

    Durante a II Guerra foi nomeado para a Misso Comercial Sovitica em Washington, D. C. e em 1943 pediu asilo poltico. Apesar do pedido dc extradio da U R SS o asilo foi concedido. A publicao do livro gerou intensos protestos por parte de todos os Partidos Comunistas do mundo, principalmente pelo Francs que o acusou de mentiroso no

  • semanrio Les Lettres Franqaises. Kravchenko processou-o por difamao. No julgamento em 1949, apesar da presso irresistvel dos PCs, conseguiu apresentar testemunhas que estiveram presas, como Margrete Buber-Neumann que, quando do Pacto Molotov-Ribbentrop foi entregue aos nazistas e internada em Ravensbrck. Kravchenko ganhou a causa, vindo a morrer por ferimentos a bala de forma misteriosa, mas dada como suicdio.

    Cedo percebi que as organizaes "revolucionrias" no passavam de grupelhos dc filhinhos-de-papai com a vida garantidas que estavam levando de roldo operrios e camponeses os quais depois abandonavam prpria sorte. Fui o responsvel por dois destes casos. Um operrio que "ampliei", e por orientao da AP promoveu uma greve na fbrica na qual trabalhava, foi despedido e no mais conseguiu emprego, sua mulher e filhos o abandonaram, comeou a beber cada vez mais e foi abandonado por todos os "companheiros", eu inclusive. Uma outra

    s Inmeras reunies dc que participei como Vice Presidente da U N E com o Comando Nacional de AP oram realizadas em manses do Morumbi ou dos Jardins, para onde fui levado em carros importados de luxo. Com direito a mordomo e regadas a champanhe trances ou usque 25 anos As militantes de uma organizao "co-irm, a Organizao Revolucionria Marxista Poltica Operria (PO LO P), eram conhecidas como loirssimas, belssimas e riqussimas! Todo sacrifcio pela causa da revoluo proletria pouco!!!'* Ampliao, este termo se aplicava originalmente ao programa permanente de ampliao dc quadros (aumento do nmero dc militantes) Passou a ser usado nos casos particulares c por neologismo sc transformou at cm substantivo: uma 'ampliao'' era um simpatizante cm fase dc teste dc "pureza ideolgica com vistas a conquist-lo para a militncia Alguns nunca chegavam neste ponto e permaneceriam para sempre companheiros dc* viagem e sero os primeiros a serem trucidados pelo regime revolucionrio triunfante porque o choque da realidade os tornaria ferozes opositores pela pcitrp.io dc lerem sido trados.

  • "ampliao" minha foi um lder campons que tambm abandonou a famlia para aderir "luta armada" e do qual nunca mais ouvi falar.

    Todos os militantes eram instigados a abandonar as "noes burguesas de moralidade religiosa" submetendo-as aos imperativos revolucionrios. Assim eram atingidos os princpios do no roubar, no matar e ser sincero nas relaes humanas. Uma das tareias dos militantes era roubar para a causa qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Como eu estudava medicina fui instrudo a roubar material de primeiros socorros e instrumental cirrgico do Hospital Escola, com vistas s futuras necessidades de estabelecer hospitais clandestinos para as aes guerrilheiras - idia delirante que jocosamente passei a chamar de el sueno de Sierra Ma- estra. Como minha formao moral me impedia de dar este passo fui alvo de intensas crticas de desvio ideolgico. Obrigado a uma autocrtica tentei argumentar que o Hospital Escola era uma instituio para o povo que queramos ajudar. E foi a que eu aprendi algo: jamais tentem argumentar com um comunista em termos lgicos! A lgica sempre distorcida para justificar, desonestamente, qualquer coisa. O debate desigual, pois quem tem limites lgicos para argumentar j parte em tremenda desvantagem.

    Um outro fator a influenciar minha deciso foi quando, numa reunio do "Comando Zonal Sul - RS" discutia-se o caso de um militante recm "ampliado" que, por fora de nosso apoio tornara-se presidente de um importante Centro Acadmico e dava mostras de "fraqueza ideolgica" e independncia de pensamento. Passou-se a discutir se num processo revolucionrio aberto, que estava em preparao, algum teria coragem de matar um "companheiro" ou ao menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, at a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto se tornaria inevitvel: numa situao plenamente revolucionria pode

  • chegar

  • co m o di/rm 1 1 .i minha U ira . poi po rte ira cm que passa boi, passa boiada ' ( )u sc c .1 1 foiti ou o abismo c inlimto c catla vez mais a au to indulgncia c ncccssria cm doses crescentes No h argumento racional, provas cicntlicas da charlatanice marxista, comparao dc resultados econmicos, nada - pois todos que esto dentro sabem muito bem disto! S vale a indignao moral, e esta exige que se passe a combater o mal do qual se saiu com todas as foras, no admite neutralidade nem tolerncia. Chamar esta posio de maniquesta outra armadilha do relativismo moral que preceitua que no existe o mal nem o bem e que no podemos julgar nossos semelhantes pelas suas opes ideolgicas. Podemos sim, sc a conhecermos por dentro sabendo do que sc trata. Segundo outro que saiu do inferno, David Horowitz, "contra-revolucionrio um nome para a sanidade moral e a decncia humana, um termo de resistncia para a depredao pica causada por sonhadores" (Politics of Bad Faith) Quando digo que no confio em comunistas sou criticado como intolerante, mas sei muito bem que comunista no tem palavra de honra, s palavra de ordem! O que dito ou feito o que convm 'causa" naquele momento, o que pode mudar qual piuma al vento ("qual pluma ao vento"). sempre misero chi a lei s affida, chi le confida. mal cauto il cuore (e tem sempre um destino miservel aquele que nela confia c\ ingnuo, espera ganhar seu corao") (Verdi, La Donna Mobile - traduo livre).

    Desiludam-se os leitores que acreditam que o comunismo uma utopia, muito menos uma utopia generosa, um idealismo quixotesco. No . Esta "utopia" s serve para atrair c seduzir simpatizantes - chamados por Lenin dc idiotas teis. Suspeito que a substituio no Brasil de idiotas por inocentes teis serve a um propsito: iludir de que algum pode simpatizar inocetitemente com um regime comprovadamentc assassino c gcnocida no mais alto grau. Nunca encontrei um revolucionrio comunista autntico - nem quando eu era um, nem depois - que acreditasse por um segundo sequer na tal "utopia" que eles usam - ns usvamos - para enganar os

    27I N T R O I ) 11C, A O

  • trouxas e im becis e convert-los em idiotas teis I em bro mc de com o

    eram rid icu larizados estes idealistas que serviam de excelente massa de

    manobra! N u n ca houve esta tal de utopia, ou idealism o u tp ico - s

    com o estratgia de doutrinao.

    A razo principal pela qual a maioria das pessoas se deixa enganar pelos embustes comunistas a ignorncia a respeito da essncia do comunismo: ser uma mquina de produo contnua, ininterrupta e eterna de mentiras. Mas pessoas inocentes fazem perguntas ingnuas c bvias como: se to bom l, porque voc no vai para l? Se o comunismo para salvar a humanidade da brutalidade capitalista, porque precisam matar tanta gente? Por que as pessoas que vivem nestes parasos so proibidas de sair para o exterior* - o que jamais aconteceu nas "terrveis ditaduras militares de direita"? Como no h uma resposta racional para tais perguntas simples todos os militantes tm, na ponta da lngua, um "voc no est entendendo nada" e passam a demonstrar como o interlocutor burro, ignorante, tacanho ou est seduzido pela ideologia "burguesa". uma das primeiras coisas que o simpatizante precisa aprender para ser considerado "amplivel". No, inocentes no caem nesta, preciso uma grande dose dc malcia que aos poucos se desenvolver em m-f.

    O primeiro grande falsificador foi Karl Marx cuja viso fraudulenta da Histria, o materialismo histrico', precisava ser provada de qualquer maneira sob pena de ruir toda a estrutura charlatanesca que comeara a inventar. J de incio o comunismo foi baseado numa grotesca falsificao de estatsticas feita pelo prprio Marx para justificar sua idia de que a Revoluo Industrial c o desenvolvimento capitalista tinham

    * Eu ainda estava escrevendo este livro quando, durante o PAN 2007, vrios atletas cubanos | tinham desertado e estavam foragidos ou tinham pedido asilo, repetindo monotonamente o que ocorre em todas competies esportivas, congressos cientficos, turns artsticas, etc. Duvido que algum dos milhares de admiradores de Cuba que na abertura tinham aplaudido de p a delegao tenha mudado de idia.

    28O I I X O 1)0 MAl I A T I N O AMfcRlC A N O

  • p io ia d o .1 s iltu .io e con m ica tios traba lhadores ingleses U m grupo

    dc h isto riad ores reun ido por In e d r ic h von I layek dem onstrou cabalmente esta deturpao Suas concluses foram publicadas no livro ( \i ftiltihsm (inJ tbc Ihsotiins uma defesa do sistema primitivo de fabricao e suas conseqncias econmicas e sociais. Re-interpretacs histricas, como O 1 h liruttnrio Je Lus lionifHirte demonstram cabalmente suas intenes. Nesta obra Marx no somente faz uma interpretao dos acontecimentos de 1848 na Frana luz de suas idias como, retroativa e ironicamente, distorce o ocorrido nesta data cm 1799 quando o tio de Lus, Napoleo, deu o golpe no Diretrio e tornou-se Imperador. Data desta obra a reinterpretao da falcia hegeliana de que a histria se repete: Hegel demonstrou que todos os fatos e personagens de grande importncia na histria do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragdia, a segunda como farsa (Marx, 18 lirutttrio). Seria Marx a representao farscsca dc Hegcl?

    O grande arquiteto da desinformao sistemtica foi Fclix Edmundovi- tch Dzerzhinsky, criador da primeira polcia secreta sovitica, Tcheka. Quando Lenin perguntou, ainda em I9 I8 a Dzerzhinsky, sobre qual a estratgia que deveria ser adotada para influenciar o resto do mundo, recebeu como resposta: "diga sempre o que eles querem ouvir, minta, minta sempre e cada vez mais. De tanto repetir as mentiras elas acabam sendo lomadas como verdades".w A primeira fraude fotogrfica importante de que tenho notcia foi a supresso da imagem de Trotsky ao lado da tribuna de onde Lenin discursava para as tropas na Praa Svierdlov em 1920, obra do sucessor de Dzerzhinsky, Lavrenty Pavlovich Bieria sob as ordens de Stalin.

    9 Esta expresso, levemente modificada, foi copiada por Paul Joseph Goebbels, M inistro da Propaganda e do Esclarecimento do Povo do III Rcich a quem foi atribuda, erroneamente e provavelmente de m-f. a autoria

    29

    I N T R O D U O

  • IN I I RI 111)10

    A hora dc sair lora chegara c felizmente o fiz Restou-me a imensa per plexidade dc como eu poderia ter sido atrado por tal amontoado de mentiras e toliccs propagadas como filosofia e boa cincia econmica. E como tantas pessoas se deixavam tambm iludir. Um ano aps sair da AP formei-me em medicina e no tive mais tempo para pensar muito sobre isto, pois minha ps-graduao exigia enormes esforos dc estudo e pesquisa espccializados, alm de estar recm-casado c precisando de uma penca de empregos. Era o tempo do ento chamado "milagre brasileiro", que depois do revisionismo histrico c da fbrica de mitos dc que tratarei ao longo do livro, veio a ser chamado de "anos de chumbo". No parecia scr esta a opinio do atual Presidente da Repblica quando era um lder sindical ainda no pervertido pelas idias comunistas, pois disse daquele perodo. "Naquela poca, sc houvesse eleies,o Mdici ganhava (...) A popularidade do Mdici no meio da classe trabalhadora era muito grande. Ora por qu? Porque era uma poca de pleno emprego" (Depoimento a Ronaldo Costa Couto em Memria viva do regime militar, citado por Raymundo Negro Torres no livro 1964. A Revoluo Perdida). Talvez seja a nica concordncia que eu tenha com Sua Excelncia: sobrava emprego, no s para metalrgicos, mas tambm para mdicos c outras profisses e o salrio mnimo era respeitvel. Os consultrios viviam cheios dc pacientes particulares cm todas as especialidades clnicas, cirrgicas c psicolgicas. Outro autor que no pode ser propriamente chamado de admirador do regime militar, Elio Gaspari, em A Ditadura Derrotada (pp. 26-27), concorda com Lula - e comigo: "Mdici cavalgava popularidade, progresso e desempenho. Uma pesquisa do IBO PE realizada em julho de 1971 atribura-lhe 82% de aprovao. Em 1972 a economia cresceria 11,9%, a maior taxa de todos os tempos. Era o quinto ano consecutivo de crescimento superior a 9%. A renda per capita dos brasileiros aumentara 50%. Pela primeira vez na histria as exportaes de produtos industrializados ultrapassaram um

    M)() F I X O 1) 1) MAI I A T I N O A. MI R K A N O

  • b ilho dc do la ics D up lica ra a produo dc ao c o consum o dc cncr

    . trip licara a dc veculos, quadruplicara a dc navios A (hoje falccida) Bolsa dc Valores do Rio dc laneiro tivera cm agosto uma rentabilidade dc 4),4%. No eixo Rio - So Paulo executivos ganhavam mais que seus similares americanos ou europeus. Kombis das empresas de construo civil recrutavam mo de obra no ABC paulista com alto-falantes oferecendo bons salrios e conforto nos alojamentos. Um metalrgico par- cimonioso ganhava o bastante para comprar um fusca novo. Em apenas dois anos os brasileiros com automvel passaram de 9% para 12% da populao e as casas com televiso de 24% para 34%".

    C ertamente estes resultados do "capitalismo abjeto" e da "cruel ditadura que nos oprimia", sentidos no prprio bolso, e a segurana que se gozava no Pas onde "polcia era polcia e bandido era bandido" - ningum tinha medo de sair noite cm qualquer cidade do Pas, certa vez, para procurar um marceneiro que nos devia um mvel, subimos eu c minha mulher uma favela num morro em Olaria, a p! - ajudaram em muito a minha "virada" ideolgica, obviamente ainda cm termos exclusivamente prticos.10 Mas comecei a perceber algo estranho, que era o motivo do regozijo de Giocondo Dias, Secretrio Geral do Partido Comunista Brasileiro quando dizia que "uma das maiores alegrias de um comunista ver na boca dos burgueses, nossos adversrios, as nossas palavras de ordem": aos poucos passei a ouvir "os burgueses" usando o linguajar, as doutrinas e palavras de ordem comunistas, minhas velhas conhecidas dos tempos de ativista. A princpio timidamente, mas logo com rapidez, certas expresses que antes eram usadas por comunistas c execradas pelos "burgueses", passaram a ser proferidas pelos ltimos, como igualdade, injustia social, dio aos empresrios e ao lucro. Quanto mais a "pequena burguesia" melhorava de vida graas ao "milagre brasileiro"

    10 Critica-se muito a frase cunhada naquele perodo Brasil. Ame-o ou Deixe-o, sem que ningum se pergunte se em Cuba isto seria, ainda hoje, possvel, ou se seria substituda por Fidel. Ame-o ou Morra!

    III N T R O I H K . O

  • m.m execrava a si mesma, numa reao possivelmente culpada por poderem usulruir condies econmicas nunca dantes imaginadas, como a possibilidade de compra de casa prpria facilitada pelo hoom imobilirio dos anos Mdici.

    A culpa inconsciente pela rpida prosperidade tornava a classe mdia presa fcil para a doutrinao invejosa que transforma inicialmente o linguajar e depois as atitudes e atos das pessoas. Inicialmente foram acusados e depois passaram a se auto-acusar de "privilegiados" ou "elite privilegiada", sem poderem valorizar que o que estavam obtendo era fruto de seu trabalho e no de privilgios esprios. Em parte porque a busca de satisfaes e prazeres sem as correspondentes obrigaes morais a tornava uma classe "postia, desequilibrada, ftil e baseada na ingratido radical para com as geraes anteriores, essa forma de vida produziu uma tremenda acumulao de culpas inconscientes, as quais, no podendo recair sobre os culpados autnticos - que toleram a idia de culpas ainda menos que a da morte - so projetadas de volta sobre a fonte de seus benefcios imerecidos" (apud Olavo de Carvalho). Os que ainda no tinham acesso s boas novas passaram a ser chamados de "des- possudos", "oprimidos", "vtimas da injustia social" e da "concentrao dc renda nas mos dos privilegiados. Esta, contudo, no era a percepo dos operrios tambm beneficiados, mas somente dos filhinhos-de- papai - estudantes e intelectuais, o beautijul people da mdia e da moda. Este dio ao capitalismo resultado da projeo psictica que, "ao negar a realidade manifesta da prosperidade geral crescente, imputa ao capitalismo at mesmo a misria dos pases socialistas" (ibid), como atribuir a culpa da misria de Cuba no explorao de Castro e sua quadrilha, mas ao embargo americano.

    Observe-se a diferena entre algum no possuiraltjo e ser despossudo-, a segunda expresso pressupe uma ao por parte de outro que o "desapossa", ou toma posse do que no lhe pertence, para seu prprio usufruto -

    32O 11X0 I X > MAI I A 7 INC) A Ml ' R l ( A N O

  • p o il.m ln d r .ip iopn .i .io m dehila , dc* loubo ( ) uso do parlic ip io M in

    bm do v c ib o op rnn ii pre ssupe- aao dc* algum que oprim e ( ) que este process

  • conservadorismo ivltoifiado Note sc que apesai dc que conservai nao sc|.i rctroagir, pelo contrrio, como sinnimo que n esquerda usa as palavras conservador e/ou reacionrio. 'Quem domina o passado, domina o presente; quem domina o presente, domina o luturo". George Orwell reconheceu isto ao criar o Ministrio da Verdade ( i 984).

    O controle do futuro absolutamente necessrio para dar garantia s "profecias" dc Marx cm sua rivalidade com Deus e a Bblia: sua obra deveria substitu-la e, portanto, deveria ter suas profecias confirmadas, mesmo que custa de centenas de milhes de mortos. Mikhail Bakunin dizia que "o Sr. Marx no acredita em Deus, mas acredita profundamente em si mesmo. Seu corao contm rancor, no amor. Ele muito pouco benevolente com os homens e sc torna furioso e maldoso quando algum ousa questionar a oniscincia da divindade adorada por ele, quer dizer, o prprio Sr. Marx". Pode-se dizer o mesmo dos marxistas de todos os tempos: no passam de adoradores de si mesmos e de seus delrios dc poder.

    Partindo dc uma observao acurada da mente humana, Marx percebeu - consciente ou inconscientemente - a preferncia da Humanidade por mentiras agradveis a ter que conviver com verdades por vezes dolorosas. Ou pior, a um estado de dvida, o mais temido e rechaado dc todos - embora o nico que pode levar introspeco e ao verdadeiro conhecimento. Substituiu ento o velho lema socialista-a cada um de acordo com seu trabalho - por outro mais agradvel - a cada um segundo suas necessidades. Enquanto o primeiro inclui necessariamente algum esforo, o segundo acena com um estado de coisas paradisaco ou nirvnico no qual todos tero suas necessidades atendidas. A mudana sutil, mas fundamental. A recusa a pensar, a enfrentar as inevitveis dvidas morais que assolam sem cessar o ser humano, impede a pessoa de investigar seu interior e o mundo, e quanto mais cega sc torna cm relao ao mundo, mais interessada em modific-lo sua imagem c semelhana. Ora, exatamente isto que

    34O F I X O 1)0 MAI I A T I N O A M F R K A N O

  • N1.it x sngcic < |u ,iik I< > di/i.i

  • p io do p ovo ', por ou ira droga, materialista e supostam ente dem ons trvel atravs de m eios racionais, mas que, com o bem o dem onstrou Raymond Aron, o pior e mais estupefaciente de todos os pios (O pio dos Intelectuais). irnico que tenha sido um poltico a diagnosticar o grande mal psicolgico do sculo e no as pessoas que deveriam estar mais preparadas para faz-lo: os psicanalistas e psiquiatras. Ronald Reagan apontou que o comunismo "no nem um sistema poltico, nem econmico - uma forma de insanidade - uma aberrao temporria que um dia desaparecer da face da Terra porque contrria natureza humana. Imagino quanta misria causar antes de desaparecer" (Reagan in bis otrn band).

    U M A A D V ER T N C IA N EC ESS R IA

    Antes de prosseguir necessria uma advertncia. Insisti na indignao moral e na introspeco com plena aceitao da culpa porque creio que uma outra tentao se apresenta ao nefito do liberalismo: negar as bases morais e religiosas judaico-crists do liberalismo e cair no extremo oposto, deixando-se seduzir por esquemas to amorais quanto o marxismo, como a pseudofilosofia "Objetivista" de Ayn Rand baseada numa viso do homem como "um ser herico, com o nico propsito moral de conseguir sua prpria felicidade, tendo como sua mais nobre atividade ser produtivo e bem sucedido, e a Razo como seu nico Absoluto"11. E por nefitos quero dizer no somente aqueles que saram do comunismo, mas tambm aqueles que, segundo dizem, "j na adolescncia perceberam que Marx estava errado". A no ser que seja um gnio no entendo como um adolescente possa ter elementos intelectuais suficientes para tal. Estas pessoas tendem a acreditar que o liberalismo fruto da Deusa Razo dos Iluministas e que esta, se bem utilizada, como acreditam

    11 www.aynrand.org

    36O r i X O 1)0 MAl I A T I N O AMI R K A N O

    http://www.aynrand.org

  • U* Io l i i lo , inosd .ii.i que o m m n cam inh o o liberalism o I nganam sc*

    redondam ente, pois a Razo gerou o com unism o, o nazism o c* todas as

    corren tes totalitrias que assolaram os dois sculos passados. A Razo

    desprovida dc* p rincp ios gera, paradoxalm ente, a irrac iona lidade e a in

    sanidade. D esconH o que Fukuyam a um desses seres ilum inados.

    A desinformao no permite ver que, se o liberalismo amoral em si mesmo, ele fruto dc uma moral que o antecede e lhe d forma humana sensvel e s pde sc desenvolver a partir dela. Sem o lento desenvolvimento da tradio ocidental judaico-grcco-crist o homem jamais teria atingido uma concepo de liberdade individual fundada no "conhece a ti mesmo antes de tudo" e no "ama ao prximo como a ti mesmo", que a verdadeira liberdade. Um sistema baseado exclusivamente num aspecto superficial e parcial da mente humana - o egosmo - no pode menos do que sucumbir ao Terror. A negao violenta desta tradio foi o motivo pelo qual o liberalismo evoluiu para o Terror, na Frana, e foi por respeit-la que os Foundin) Fatbers estabeleceram as bases da democracia liberal Americana. Se Adam Smith descreveu desapaixonadamente como sc fazem as riquezas das naes, tambm escreveu uma profunda obra moral, Teoria dos Sentimentos Morais que inicia com a belssima afirmao: "Por mais egosta que se suponha o homem, evidentemente h alguns princpios em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte de outros, e considerar a felicidade deles necessria para si mesmo, embora nada extraia disso seno o prazer de assistir a ela. Dessa espcie a piedade, ou compaixo, emoo que sentimos ante a desgraa dos outros, quer quando a vemos, quer quando somos levados a imagin-la de modo muito vivo." Esta a base da Razo sadia, propriamente racional, e no insana. Acostumamos-nos a denominar as pessoas que assim pensam de liberais conservadores. E aos demais de libertrios.Ao longo do livro pretendo demonstrar ser exatamente esta falta de princpios morais e o desprezo pelos seres humanos que leva

    37

    I N T R O D U O

  • im p ro vve l un io en tre os com un istas e os m cl.u .ip il.iltst.is, term o

    c un had o por ( )lavo dc* C .a rva Ilio para designar aqueles em presrios e banqueiros que, tendo utilizado a concorrncia proporcionada pelo liberalismo para atingirem uma posio na qual esta no mais lhes interessa, querem esmag-la num controle mundial em que evitem ameaas s suas posies de fortuna e poder. Basta ver o exemplo chins: depois de Fukuyama existem os entusiasmados com o que consideram a vitria do capitalismo e do liberalismo na China com o programa um pas, dois sistemas da reforma dc Deng Xiaoping. So na verdade, duas classes, os burocratas governamentais unidos aos novos multibilionrios da franja litornea a eles ligados umbilicalmcntc c um contingente de mais dc um bilho de escravos que no tm o que comer. Chamar este sistema dc liberal s serve para desmoralizar o liberalismo. Desde a dcada de 50 do sculo passado a China um continente dc escravos miserveis, mas esta informao vem sendo sonegada c a desinformao ativa vinha mostrando os "avanos" socialistas do povo. S agora passam a aparecer, certamente j como preparao de um futuro fechamento, com ocorreu com a Nova Po ltica Econmica na URSS, atribuindo ao liberalismo a "desigualdade que tinha sido suprimida com o maosmo.

    O R EC O M E O

    Contudo, todos estes entendimentos no foram suficientes para que eu compreendesse uma nova enxurrada vulcnica que se desenrolava minha volta. Com o Governo Figueiredo, anistia e redemocratizao vista, o verdadeiro entulho autoritrio marxista que tinha submergido na clandestinidade veio rapidamente tona. Perplexo, percebi, inicialmente, como a penetrao marxista tinha sorrateiramente infectado as sociedades psicanalticas s quais eu pertencia. Congressos profissionais passaram a ter como norma o convite a "filsofos" marxistas, cursos de

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    O E I X O 1)0 MAl L A T I N O AMI RI C. ANO

  • pscud* lilosoli.i com I c.uulro Rondeie Carlos Nelson C outinho lor.im oferecidos, colegas lech.ivam seus consultrios para ir ao Calo rccc- Ix t o "maior brasileiro de Iodos os tempos", Lus Carlos Prestes!1' Na educao de meus lilhos j se infiltravam tambm lemas da Teologia da Libertao e interpretaes marxistas da histria.

    C) que acabara no era o comunismo, mas o anticomunismo. Criticar o comunismo ou os comunistas ficara indelevelmente equacionado com defender a "ditadura" e fazia do sujeito um pria. Note-se este pequeno extrato de discusso: uma colega recm chegara de um Congresso de Psicologia Marxista (o que quer que seja isto!) em Havana, um daqueles convescotes convocados para atacar algum ou alguma coisa atravs de manifestos polticos e onde a cincia passa ao longe. Pois dizia ela entusiasmada que haviam "tirado posies" radicais contra a ditadura Argentina (gostaria que me explicassem o que isto tem a ver com Psicologia). Perguntei como se podia falar mal de uma ditadura em Cuba, sede da pior ditadura da histria da Amrica Latina. Resposta: ento voc a favor do genocdio de 30.000 pessoas na Argentina? Conclu que deveria aprender mais e, j folgado de tempo, esforcei-me por entender que coisa era aquela! Alguns fatores ajudaram bastante.

    At a gesto do Professor Jos Carlos de Almeida Azevedo na Reitoria da Universidade de Braslia, o acesso s obras dos autores liberais eram muito mais difceis do que hoje - as editoras estavam todas nas mos de comunistas como Caio Prado Jnior, Enio Silveira e outros, alm de que no havendo Internet era tudo por carta e muito demorado - e eu no sabia nem por onde comear. Foi quando aconteceu a chamada "crise do Departamento de Filosofia da PUC-RJ". Pipocavam nos jornais debates entre Professores no marxistas e a Diretoria do Departamento

    S muito mais tarde vim a saber o porqu de eu no ter percebido nada a tempo: alm da necessria discrio destas atividades durante os Governos Militares, eu tinha sido dado como agente do SN I j que ora preso em 1965 - declarei isto nas entrevistas de admisso aos cursos - e sara ileso e nunca mais tinha sido molestado.

    39I N T R O D U O

  • c . Reitoria sobre a perseguio que vmh.1111 sofiendo csics Professo res O estopim loi a recusa em publicar um trabalho de Miguel Reale O episdio loi relatado em livro do Prolessor Antonio Ferreira Paim - Liberdade Acadmica e Ofco Totalitria - que ao que eu saiba teve poucas edies e teria merecido vrias. A leitura deste debate memorvel, como o denominou o autor, causou-me na poca profunda impresso. No dia 14/03/1979 o Jornal do Brasil - note-se que a mdia ainda no estava dominada, hoje jamais sairia! - publicou uma carta da Professora Anna Maria Moog Rodrigues endereada ao Chefe do Departamento de Filosofia, na qual protestava contra a censura de um texto do Prof. Miguel Reale - A Filosofia como Autoconscincia de um Povo - numa coletnea didtica para a Disciplina Histria do Pensamento. No dia seguinte o JB publica uma carta-resposta do Diretor do Departamento informando que o texto "no fora includo na apostila oficial, face ao carter polmico e controvertido das atividades polticas do autor". Dois dias depois, o JB publicava a carta do Reitor justificando a atitude do Departamento e qualificando de ridculas as alegaes da Professora de haver uma crise na Universidade. Imediatamente a mesma pede exonerao e acompanhada pelo autor do livro que dizia que, "sendo oficialmente reconhecida a censura, no mais poderia permanecer no Departamento".

    O debate se estende por muito tempo, incluindo a tomada de posio de trs prestigiosos jornais (JB, Globo, O Estado de So Paulo) a favor dos demissionrios - bons tempos aqueles em que a imprensa cumpria suas funes! S para ter idia dos ttulos: Filosofia Intolerante (JB), Discriminao Ideolgica (O Globo), A Opo Totalitria dos Intelectuais (Estado), etc. Na brilhante anlise que faz da crise, entre outras preciosidades, o Prof. Paim pe o dedo na ferida: Reale no tinha sido censurado por sua opo integralista de outrora - j que eram aceitos os pensamentos dc outros luminares integralistas como Hlder Cmara, Alceu Amoroso Lima, Roland Corbisier, ctc. - mas sim pelo culturalismo

    40O U X O i x i MAl I A T I N O AMI Rl ( A N O

  • de Rim Ir qur Yoricspondr mais cabal refutao de todo tipo dr totali tansmu", r que "impediu a penetrao, no Brasil, da denominada lilosolia da libertao (...) tendo que se conformar em se apresentar (aqui) com a forma mais restrita de teologia da libertao". ( ) livro uma verdadeira aula de como os marxistas tomam de assalto uma Universidade - ou qualquer instituio - e expulsam todos os demais.

    A tomada de assalto dos meios de comunicao acabou com esta liberdade de publicao. A mdia prolfica, frtil e polmica que tnhamos at ento era combatida como "imprensa burguesa" qual se opunham os jornais "populares", que ningum lia, a no ser os "adeptos", dada a indi- gncia intelectual dos mesmos. Era preciso mudar este estado de coisas e como de nada adiantava o combate limpo e aberto, era necessrio tomar por dentro, minar a criatividade, substituindo-a paulatinamente pela massa amorfa em que a mxima divergncia seja a do "sim" com a do "sim, senhor" cm que todos concordem quanto aos slogans fundamentais, palavras que perderam todo significado, como "justia social", "cidadania", "progressista", "neoliberal" e tantas outras que conhecemos muito bem. No tenho dvidas de que a obrigao de estudar jornalismo para ser profissional de imprensa foi um dos golpes mais duros na criatividade, pois os tais grupos tomaram de assalto as faculdades de jornalismo e passaram a criar uma choldra que nada mais faz do que repetir uns aos outros como temos hoje nos principais rgos de imprensa, rdio e T V no Pas.

    Passei a pesquisar outros livros de autor1' e atravs desses entrei em contato com a Editora da UnB que estava finalmente publicando livros de pensadores liberais e conservadores, da qual me tornei um dos mais vidos compradores. Minha introduo no mundo das diferenas entre sociedades totalitrias e livres se deu atravs de Hanna Arendt e, principalmente, Karl Popper. No entanto, me sentia bastante solitrio,

    M Bibliografia que pode scr encontrada rm Im p 'www cnsavistas or^lilosnlovW asil/paim /biblio him

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    I N T R O D U O

  • pois passe i a falar unia linguagem que ningum entendia, ,ue meus mais

    caros amigos - sabidamente no comunistas - passaram a ine vei com o paranico, principalmente depois de 89, pois o comunismo acabara, todo mundo sabia! A extenso e profundidade da infiltrao gramscia- na, como vim mais tarde a descobrir e tratarei adiante, tinha sido to grande que a linguagem poltica e social estava totalmente unificada, para deleite de Giocondo Dias.

    ***

    Poucos anos depois espocaram em todas as associaes profissionais e de ensino movimentos por maior "democracia", fim da hierarquia com base no desenvolvimento cientfico e no mrito, igualdade para todos. As sociedades de psicanlise foram igualmente afetadas, particularmente aquela qual eu pertencia, a Sociedade Brasileira dc Psicanlise do Rio de Janeiro. A gerao mais velha passou a utilizar os mais jovens para conduzir uma luta que vinha de anos entre eles. O ataque hierarquia deveria ser feito contra os Estatutos, considerados autoritrios por estabelecerem diferentes nveis nos quadros sociais. Alunos, Membros Associados, Membros Titulares e Analistas Didatas (que so os professores, supervisores c analistas dos alunos), progresso baseada estritamente em critrios cientficos, mas explorada pela ala marxista, predominante na gerao mais velha, como puramente poltica, autoritria e fruto da "ditadura". Todos eram ligados direta ou indiretamente ao Partido C o munista Brasileiro. Conseguido seu intento, como seria de esperar, os alunos passaram a mandar e desmandar, sendo os verdadeiros donos do poder. Nada mais insano do que a insanidade se instalar no seio das instituies apropriadas para combat-las. Foi a poca de ouro da esquerda marxista que alimentava o dio entre colegas, chegando a afirmar que era inadmissvel um psicanalista no-marxista! E que se houvesse algum, estava a servio da ditadura militar!

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  • ( lu-gou sc tio i uimilo ilc* levar a I lavana um lubalho cm que, deturpan do toLilmcntc o conceito dc* considerao pc*lo outro Uomuth), delendia a quadrilha dc* narcotraficantes assassinos que* tomou conta dc* Cuba, qualificando o regime como uma "experincia enriquecedora, um Estado serio e bem orientado" com dirigentes verdadeiramente preocupados com a vida e sade fsica e mental de seus reprimidos sditos, permitindo que "crianas atendidas fisiolgica e psicologicamente sc desenvolvam em adultos sadios". Ficava implcito neste trabalho que o povo, ao no reconhecer a bondade extrema dc seus governantes, demonstrava falta de gratido, justificando, portanto, indiretamente, a represso. Chega a dizer que todas as crianas nascidas aps a tomada do poder por Castro so mentalmente sadias, justijicando a necessidade de assistncia psicanaltica apenas para os que nasceram antes disto! A cincia se transformava em poltica rasteira.14

    Na rea da Psiquiatria a doutrinao antipsiquitrica se deu preponderantemente pelo movimento antimanicomial que foi - e - "macia nas escolas de medicina, enfermagem, psicologia e servio social, e em alguns meios "intelectuais". Segundo as palavras da Dra. Iraci Schneidern "hoje em dia, no imaginrio da maior parte das pessoas, a internao psiquitrica sinnimo de tratamento desumano e cruel, e, sobretudo ineficaz". "A doena mental, diziam, era uma fico capitalista e burguesa". "Na verdade, no existia a loucura, que poderia ser vista como uma reao sadia a um sistema que no tolerava manifestaes individuais de liberdade". A loucura era criativa, transgressora, desafiadora do status quo. (Michel Foucault era o livro de cabeceira). A loucura, subversiva', criadora, 'de esquerda', desafiava o Poder constitudo, representado pelo hospital psiquitrico e pela medicao antipsictica, estes de direita'. Freud j estaria superado, entronizava-se Lacan". "A luta antimanicomial foi apenas o pretexto, nada mais do que a mesma poltica de tomada do

    14 Mais detalhes em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid= 3650 e http://www.gradiva.com.br/rhavana htm.15 http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php7sid = 3649

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    I N T R O I H K , O

    http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=http://www.gradiva.com.br/rhavanahttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php7sid

  • poder institucional na rea mdica c|ue ocorria em outias espec lalulades e em todos os estados . "No imaginrio das pessoas, psiquiatria, internao, hospital psiquitrico ( fala-se manicmio), tornou-se o local da violncia e do horror ".

    A verdadeira razo da "superao" de Freud e da entronizao de Lacan est no fato dc que Freud demonstrou que em termos psicolgicos o marxismo incompatvel com a natureza humana. Na XXXV Nova Conferncia Introdutria Freud fala extensamente das diferenas inconciliveis. Destaco especificamente estes trechos: "(O marxismo) prev que no curso de algumas geraes (com as modificaes das condies econmicas) a natureza humana ser alterada e a humanidade conviver harmonica- mente na nova ordem social'' e ' transfere para outro lugar as restries instintivas essenciais sociedade, desvia para fora as tendncias agressivas que ameaam a humanidade e encontram suporte na hostilidade dos pobres contra os ricos e dos fracos contra os fortes. Mas uma transformao da natureza humana como esta altamente improvvel" (p. 180). A observao de 15 anos de aplicao prtica destas idias levou Freud a complementar: "(o regime) criou tal proibio dc pensamento que mais cruel do que as das religies no passado. Qualquer exame crtico da teoria marxista proibido, duvidas sobre sua correo so tratadas como heresias (... ) Os escritos de Marx tomaram o lugar da Bblia e do Coro como fontes de revelao ( ..)".

    No bastava, entretanto, "superar Freud, tambm era necessrio substitu-lo for um farsante, cujos truques lingsticos foram amplamente denunciados como imposturas por Alan Sokal & Jean Bricmont (Impostures Intellectuelles), que demonstram claramente que seus fundamentos matemticos no passam de pura fantasia: "...suas analogias entre psicanlise e as matemticas so as mais arbitrrias que se podem imaginar (..) sem que apresente nenhuma justificao emprica ou conceituai. Finalmente, para aqueles que preferem ostentar erudio e de manipular frases sem

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    O EI XO D O M A L L A T I N O - A M E R I C A N O

  • sentido, pensamos que seus Icxtos s.io suficientem ente el>quentc*s Ao

    m esm o tem po c m uma nova re lig io esotrica, "um 'm isticism o la ic o ,

    onde o discurso no apela nem razo, nem esttica (...) torna-se cada vez mais crp tico - caracterstica comum a muitos textos sagrados - onde o jogo de palavras se combina com uma sintaxe fraturada, servem de base para uma exegese reverenciai dos discpulos ('iniciados). Podem os perguntar, portanto, legitimamente, sc eles no significam a estruturao de uma nova religio". Pois toda a obra de Freud hoje apresentada, principalmente no Brasil - e parcialmente na Frana - por uma traduo lacaniana hermtica que horroriza e alasta as pessoas que querem pensar e que mais parece um balbuciar de bebs, permitindo que se afirme qualquer coisa. Como este livro no sobre psicanlise espero que estas palavras sirvam de demonstrao suficiente. Uma outra influncia nefasta sobre os meios intelectuais a da Escola de Frankfurt, que ser tratada no Captulo V III.

    Andava eu em busca de explicaes que satisfizessem minha perplexidade quando me caiu em mos um livro, O Imbecil Coletivo", de Olavo dc Carvalho. Em seu prlogo o autor diz: "O imbecil coletivo no , de fato, a mera soma de um certo nmero de imbecis individuais. , ao contrrio, uma coletividade de pessoas dc inteligncia normal ou mesmo superior que se renem movidas pelo desejo comum dc imbecilizar-se umas s outras. Se desejo consciente ou inconsciente no vem ao caso: o que importa que o objetivo geralmente alcanado. Como? O processo tem trs fases. Primeiro, cada membro da coletividade compromete-se a nada perceber que no esteja tambm sendo percebido simultaneamente por todos os outros. Segundo, todos juram crer que o recorte minimizado assim obtido o nico verdadeiro mundo. Terceiro, todos professam que o mnimo divisor comum mental que opera esse recorte infinitamente mais inteligente do que qualquer indivduo humano de dentro ou de fora do grupo, j que, segundo uma autorizada porta-voz dessa entidade coletiva, "a psicanlise, com o conceito de

    45I N T R O D U O

  • mconsc icnte, c o m arx ism o, com o dc- id eo lo g ia , estabeleceram limites intransponveis para a crena no poderio total da conscincia autnoma, enfatizando seus limites. Assim, se um dos membros da coletividade mordido por um cachorro, deve imediatamente telefonar para os demais c perguntar-lhes se foi de fato mordido por um cachorro. Se lhe responderem que se trata de mera impresso subjetiva (o que se dar na maioria dos casos, j que altamente improvvel que os cachorros entrem num acordo dc s morder as pessoas na presena de uma parcela significativa da comunidade letrada), ele deve incontinenti renunciar a considerar esse episdio um fato objetivo, podendo porm continuar a falar dele em pblico, se o quiser, a ttulo dc expresso pessoal criativa ou de crena religiosa. Para o imbecil coletivo, tudo o que no possa ser confirmado pelo testemunho unnime da inteligentzia simplesmente no existe. Compreende-se assim por que o mundo descrito pelos intelectuais to diferente daquele onde vivem as demais pessoas, sobretudo aquelas que, imersas na iluso do poderio total da conscincia autnoma, acreditam no que vem em vez de acreditar no que lem nos livros dos professores da U SP#,.,*

    Logo percebi que no estava s e mais: que o autor que escrevera aquelas palavras tinha experincias parecidas com as minhas, possivelmente estivera tambm no mesmo inferno. Eu no me enganara, Olavo fizera parte de um nmero restrito de militantes a servio da mesma causa e por isto era capaz dc entender o que ocorria.

    "A inteligentzia, palavra russa, convm lembrar, no abrange em seu significado todas as pessoas empenhadas em tarefas cientficas, filosficas ou artsticas, mas somente aquelas que falam com freqncia umas com as outras e se persuadem mutuamente de estar colaborando para algo que juram ser o progresso social e poltico da humanidade. (...) caracterstico da nossa baixeza intelectual que, quanto menos algum compreende

    O Imbecil Coletivo I, atualidades inculturais brasileiras, p. 49.

    46

    O I I XO 1)0 MAI l A T I N O AMI R I ( A N O

  • simples cnunciado dc uma idia, mais sc iiilga capacitado a diagnosti car os motivos psicolgicos profundos c ate mesmo inconscientes que teriam levado o autor a produzi-la. Isso tem a indiscutvel vantagem dc desviar a discusso dos terrenos ridos da filosofia, da cincia, etc., para as frteis plancies da psicanlise-de-botequim, onde todo brasileiro se sente um eXpert tanto quanto em tcnica de futebol, economia poltica e mecnica de automveis".17

    Tambm ajudou enormemente meu entendimento a seguinte observao: "O mais curioso, a, que as pessoas deixam de ser marxistas, mas no sabem ser outra coisa, porque tudo o que leram na vida foi com os olhos de Marx. O resultado que esses ex-marxistas continuam raciocinando dentro de um quadro de referncia demarcado pelo materialismo dialtico, pela luta de classes e por todos os demais conceitos clssicos de um marxismo que j no ousa dizer seu nome".

    "Dirijo-me ao que b de melbor no ntimo do meu leitor, no quela sua casca temerosa e servil que diz amm opinio frupal por medo da solido. Fazer o contrrio seria um desrespeito". Em mim atingiu certamente o que h de melhor. Depois de esmiuar a obra de Olavo e seguir seus passos, passei a investigar por mim mesmo, embora mantendo a colaborao e a amizade que se desenvolveu entre ns. Meus conhecimentos sobre Antonio Gramsci eram nulos e sobre a Escola de Frankfurt, escassos. As concluses provisrias destas investigaes que devero se aprofundar o que ponho disposio dos leitores a seguir. Pretendo tambm que este livro permita aos leitores um contato com bibliografia e publicaes que no esto traduzidas para nosso idioma nem divulgadas aqui - e, provavelmente, nunca sero, em funo da hegemonia editorial e miditica esquerdista.

    ***

    17 O Imbecil C oletivo. atualidades inculturais brasileiras, p. 46 e 47.

    47

    I N T R O D U O

  • liste livro baseado em artigos que escrevi para o |ornal eletrnico Sm Mascara (www.midiasemmascara.com.br)IK com vrios acrscimos e modificaes necessrios para dar lorma de livro e complementar com informa- es mais recentes. Por esta razo algumas repeties foram mantidas para no perder o sentido. Como os artigos foram escritos entre 2003 e o primeiro semestre de 2007, muito poder estar superado quando da publicao.

    Aos leitores que quiserem ler um livro politicamente neutro recomendo no passarem daqui. Como j mostrei acima, no possvel neutralidade frente ao totalitarismo e ao genocdio. Este um livro contra todas as formas de totalitarismo, particularmente a que mais nos ameaa no momento, o comunismo. Qualquer crtica neste sentido ser, portanto, ignorada.

    '* A lista desses artigos se encontra no final do livro sob o ttulo Artigos do Autor

    48

    O E I X O D O MAL L A T I N O - A M E R I C A N O

  • CAPTULO II RR< >S 1)1 M l K ) l )O I. (X ; iA DL AVA I.IA O DAS

    LSTRA TLC IA S C O M U N IS T A S C O M E T ID O S PELO S SER V I O S DE IN T EL IG N C IA O C ID EN T A IS

    ( J pessoas bondosas acreditam que pessoas ms podem ser transformadas em boas se as bondosas derem alguma coisa s ms. principalmente ajuda econ

    mica e uma \olherada de 'compreenso' para adoar sua maldade Um hall da infmia (hall of itifamy) poderia ser erguido para acomodar os lderes polticos,

    diplomticos, religiosos, acadmicos e intelectuais que tm fe'em medidas de apaziguamento para evitar a guerra, freqentemente se deparando com uma guerra mais

    fiolenbi ainda como resultado de sua ingenuidade

    Cal Thomas

    Hermann Rauschning (1887-1982), alto prccr nazista, ntimo colaborador, conselheiro e confidente do Fehrer, tendo atingido o posto de Presidente do Senado da Cidade Livre de Dantzig (1933-1934), ao perceber o aimo de terrorismo e chantagem internacional que o regime adotara, foge para o Ocidente c escreve The Revolution of Nihilism - A Wartting to tbe West. O livro foi publicado na Europa em 1938 logo aps a anexao da SuJelettland, regio da ento Tchecoslovquia com populao de origem predominantemente germnica, c em 1939 nos Estados Unidos. Imediatamente considerado pela imprensa o livro mais importante sobre o Nacional Socialismo depois dc Mmt Kampf, mostrou ser tambm proftico. Predisse o Pacto Germano-Sovitico (ver Captulo V I) num momento em que a campanha anti-sovitica pela imprensa oficial alem estava no seu auge. O Ministro da Propaganda e do Esclarecimento do Povo, Paul Joseph Goebbels, vociferava pelo rdio e em artigos no Voelkiscber lieobachter (rgo oficial do Partido Nazista), contra os comunistas como os maiores inimigos da Vaterland e da construo

  • do nacional socialismo Predisse a mvasao da Polm.i r a ancxaao daI )inamarca como um l.siado ttcrc dc Hcrlim l.mbota valorizado pela imprensa. os polticos, com exceo dc Churchill, no lhe deram a devida importncia, to hipnotizados estavam pela Paz a qualquer preo, que os levava a aceitar as promessas do Fehrer. Movimentos pacifistas louvavam Hitler como dirigente pacfico e Churchill como um maldito belicista. Os eternos pacifistas achavam como ainda hoje, que podem apaziguar os tiranos com promessas e concesses, transformar pessoas essencialmente ms e dispostas a matar, em "boa gente". Lenin foi claro ao dizer que os liberais do Ocidente, so "idiotas teis" dos quais fac- limo esconder os verdadeiros objetivos do comunismo.

    A galeria do hall da infmia sugerido por Cal Thomas j deve preencher um edifcio dc vrios andares e cresce dia a dia com os que acreditam que entre os comunistas existem pessoas bem intencionadas e que no dito socialismo "ate que tem coisas boas". O papel cumprido por Raus- chning desta vez coube a alguns dissidentes soviticos ou de outros pases da Cortina de Ferro. Com o mesmo resultado, como veremos.

    f A NO VA ESTRATGIA SO VITICA DE DOM INAO M UNDIAL RETO RN O AO LEN IN ISM O

    Na verdade. eu deixei h muito tempo de dar conselhos a governos de qualquer tipo porque aprendi, ao longo dos anos, que isto uma tarefa extremamente frustrante e ingrata Goremos so notoriamente incapazes de operar na base de polticas ou estratgias de longo prazo Seu processo de tomada de decises t, o mais

    das rezes, reativo, quer dizer, eles sempre reagem a ocorrncias do dia anterior

    Vladimir Bukovsky

    Durante muitos anos Bukovsky tentou alertar os governos americanos de que sua percepo da Russia sempre foi enganosa. Mas desistiu, pois

    52O \ I X O 1)0 MAL l A T I N O A M h R l t A N O

  • "os governos n.io querem resolvei pioblemas, querem se livi.u ileles dc qualquci maneira, e isto no c minha especialidade! Vladimu kons tantinovich Bukovsky um dos mais importantes dissidentes da URSS, autor cie vrios livros e estudos e ativista anticomunista. Foi dos primeiros a denunciar o uso da priso em hospitais psiquitricos - psikbusbkas - de prisioneiros polticos. Ficou 12 anos nas prises soviticas, campos de trabalho e sob tratamento forado cm diversas psikbusbkas. Escreveu, juntamente com o psiquiatra e tambm prisioneiro Semyon Gluzman, um Meintuil Je Psiquiatria para DissiJetites para ajud-los nos interrogatrios Em 1971 conseguiu contrabandear para o Ocidente 150 pginas de documentos comprovando abusos em instituies psiquitricas por razes polticas. Em 1976 foi trocado pelo lder comunista chileno Luis Corvaln e deportado.

    Em 1992 foi convidado por Yeltsin para depor no julgamento da Corte Constitucional Russa para determinar se o PC U S tinha sido uma instituio criminosa e teve acesso a inmeros documentos secretos e escaneou secretamente muitos deles, mandando-os para o Ocidente. Desencantou-se quando percebeu que, o que ele imaginara como um Julgamento de Nrembcrg, s adotou meias medidas e declarou: No conseguindo liquidar de forma cabal o sistema comunista estamos frente ao perigo de integrar o monstro resultante (destes julgamentos) ao nosso mundo. No se chamar mais comunismo, mas ter a maioria de suas perigosas caractersticas. At que sc faa um Julgamento de Nremberg de todos os crimes cometidos pelo comunismo, ele no morrer e a luta no acabar".

    ***

    53

    C . A I M T U t . O I

  • 2 A S l> k l.V IS O B l ) L A N A K ) I I Y ( , ( H . I T S Y N

    ( ) mundo ( idental io itto um lodo, r os fitado Lhitilos on lunhiultii. st- fijui roaram seriamente sobre a natureza das mudtinits tio muiulo comunista No

    estamos testemunhando a morte do comunismo, mas uma nora o/ensira esbatiftcade desinformao

    Anatoliy Colitsyn

    Certamente o mais importante de todos os desertores foi Anatoliy Colitsyn, agente graduado do KGB, nascido na Ucrnia em 1926. Foi membro do Komsomol (Juventude Comunista) desde os 15 anos c tornou- se membro do Partido Comunista em 1945, imediatamente absorvido pelo KG B onde permaneceu at emigrar para o Ocidente em 1961, aps percorrer todos os passos dentro dos servios dc contra-informao. Fez parte do chamado KGB Intento, um departamento super secreto de planejamento estratgico de cuja existncia nem mesmo os agentes ordinrios do KG B tinham conhecimento. Formou-se pela Escola Militar de Contra-Espionagem, pela Universidade de Marxismo-Leninismo e por correspondncia na Escola de Altos Estudos Diplomticos. Exilado nos EUA, passou a estudar atentamente as interpretaes ocidentais das ocorrncias no mundo comunista e verificou que os servios dc informao, como a C IA e o Ml6 britnico, estavam completamente equivocados, vindo a publicar em 1984, seu primeiro livro Neu> Lies for OU. A histria de Colitsyn entre 1961 e o lanamento do livro, que no tem tanto interesse para o presente livro, pode ser encontrada no artigo de Edward Jay Epstein, Tbrougb tbe Looking Glass. Precisando dc ajuda para publicar seu primeiro livro, Golitsyn procurou William F. Buckley, edi-

    1 http://www.edwardjayepstein.com/archived/looking.htm traduzido pela redao de Midia Sem Mscara em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5909&language=pt e http://www mdiasemmascara com.br/artigo php?sid=5912&language=pt.

    54O L I X O D O MA l L A T I N O A M E R I C . A N O

    http://www.edwardjayepstein.com/archived/looking.htmhttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5909&language=pthttp://www

  • (o i tia revista c onst rv.ulota N iitioiuil k tvuw e seu ped ido lo i rei usado'

    I sla recusa por um dos maiore s conservadores am ericanos quase jogou

    por u rra a possib ilidade de v ir a ser pub licado.

    A seguir, escreveu inmeros memorandos para a CIA, denunciando a estratgia comunista que no estava sendo percebida porque o Ocidente usava mtodos superados de avaliao. Golitsyn previu inclusive a queda do Muro de Berlin, a "abertura" sovitica e outros eventos. Pelas razes expostas por Epstein e porque os servios de inteligncia no podiam admitir seus erros, suas informaes foram no geral ignoradas. Como os acontecimentos confirmaram suas predies cm 94%, segundo Mark Riebling no livro Wedtje. The Secret War hetween the FBI and CIA (Alfred A. Knopf, 1994), publicou em 1990 The Perestroika Deceplion, onde explicao intento secreto por trs da estratgia leninista das falsas reformas e progresso em direo democracia dos pases comunistas. Na opinio de William F. Jasper, Editor Senior do The New American e co-Editor do The Soviet Analyst\ Golitsyn provavelmente o mais importante desertor sovitico que j chegou ao Ocidente porque ele revelou os detalhes de .uma estratgia de dissimulao^ de longo prazo da qual o Ocidente no tinha nenhum conhecimento at ento.

    Neste livro baseio-me essencialmente nas anlises dc Golitsyn acrescentado outras fontes e minha experincia pessoal, ao aplic-las ao caso do Brasil e da Amrica Latina.

    ***

    : Jeffrey Nyquist, Grtwd Dcaption, http //www worldnctdailyxom/mws/arUdc asp?ARTl(.LE_ ID = 24 16 2.* http://reformed-theology.org/html/issue07/perestroika_01 .htrn4 Existem em Portugus vrias tradues para deception: engodo, fraude, simulao, ardil, fingimento. Em termos militares significa ' provocao proposital de ecos faisos em radar inimigo"

    55( A P T U l O I

    http://reformed-theology.org/html/issue07/perestroika_01

  • i /\ ( RISl: N O iW UN IH ) M )V IT I( U X O D O MAl I AT I N O A M K RIC A N O

  • i ( ) K( ,li I. A DIMNI-i )RMATSIYAA liderana do K(ili manteve suas posies {aps o sucessor dc uma linhagem de servios secretos (G PU , N VD , N K V D ) que se iniciou pela Tcheka7 fundada por Fliks Edmundovitch Dzerzhinsky nos albores do regime bolchevista.

    A desinformao, Desinformatsiya, difere da propaganda convencional porque suas verdadeiras intenes so secretas e as operaes sempre envolvem alguma ao clandestina. O conceito sovitico de desinformao, desenvolvido dos princpios leninistas, o de que a "desinformao significa a disseminao de informao falsa ou provocativa". Mas como praticada pelo KGB, desinforrpao mais complexo e amplo do que isto. Inclui a distribuio dc documentos, cartas, manuscritos e fotografias forjadas, a propagao de rumores enganosos e maliciosos e inteligncia errada, ludibriar os visitantes quando visitando os pases comunistas, e aes fsicas para fabricar efeitos psicolgicos. Estas tcnicas so usadas de forma variada para influenciar a poltica dos pases estrangeiros, romper as relaes entre as naes, minar a confiana das populaes em seus lderes c instituies, desacreditar indivduos e grupos que se opem s polticas comunistas, enganar a respeito de suas

    6 Komitet Gosudarstviennoy Biezopasnosti (Comit dc Segurana do Estado) - para histrico, ler de Paulo Diniz Zamboni http://www.midiasemmascara.com.br/artigo. php?sid= 1688.7 Das duas letras cirlicas, - | tche] e - [ka] do nome em Russo da Comisso Extraordinria Pan-Russa para a Represso da Contra-Revoluo e a Sabotagem

    57

    (. AP TUl O I

    http://www.midiasemmascara.com.br/artigo

  • reais in tenes e, aos visitantes estrangeiros, escondei as reais condi

    es de vida nos pases comunistas Muitas vezes serve para esconder atos destrutivos do prprio KCB.

    As organizaes secretas de inteligncia, desde a Tcheka at 1959, possuam um Escritrio de Desinformao. Naquela data, ano da reorganizao do K C B (ver Captulo II), foi criado um departamento completo, conhecido como Departamento D do Primeiro Diretrio O primeiro diretor foi o General Ivan Ivanovich Agayants. Asctico, solene e puritano, possua um carter cruel. Depois da sua morte passou a ser o Departamento A do Diretrio de Assuntos Exteriores c, aumentado sensivelmente de tamanho e poder, passou a atuar com mais freqncia no exterior.

    Em 1984 o ex-agente do KC B exilado, Yury Biezmenov explicou, em entrevista concedida a C. Edward GriffinK que o KG B s empregava 15% dos seus esforos cm "espionagem" tradicional. O restante era destinado a "medidas ativas" e de "influncia": um processo dc desmoralizao e lavagem cerebral dos ocidentais feito de forma to gradual e ininterrupta que, ao fim do processo, as pessoas submetidas a elas agiam como se fossem agentes anticapitalistas ou ao menos antiamericanos. O processo levava no mnimo trs geraes para dar resultado. O "dar resultado" significava cooptar um nmero to grande de simpatizantes (conscientes ou no do processo) que, quando esta gerao galgasse posies de poder e controle dentro da sociedade, o processo se auto- alimentava, criando mais c mais "simpatizantes".1* A profundidade da "es- tampagem mental" obtida era tal que, usando as palavras de Biezmenov,

    8 Disponvel em http://la3.blogspot.eom/2007/05/cnando-inimigos-dentro-de-casa- ex.html

    Exemplo clarssimo disto foi a vaia recebida pela Delegao Americana ao PAN 2007 e os aplausos 5 Cubana. Totalmente irracional porque, se fossem perguntados em qual dos dois pases prefeririam morar, certamente escolheriam o vaiado, ou permanecer aqui

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    O L I X O 1)0 MAl I A T I N O AMI k l ( A N O

    http://la3.blogspot.eom/2007/05/cnando-inimigos-dentro-de-casa-

  • "argumentos, nem m esmo a verdade, serviriam para abrir os olhos destes indivduos Mesmo que se mostrasse um campo de concentrao em pleno lime ionamento a toda esta gente, eles nem assim iriam (inalmente acreditar Conheo muitos indivduos que visitando a URSS, mesmo sabendo que todos seus passos eram controlados pela diviso turstica do KBG , a httourist, voltaram maravilhados e acreditando piamente que tiveram total liberdade de locomoo e que os lugares proibidos o eram para "sua segurana pessoal"! Lembro de um meu conhecido, comunista, com quem eu comentara entusiasmado ter estado no Centro Espacial Lyndon Johnson, em Houston, Texas, onde se podia entrar na Sala de Controle das Misses Espaciais e assistir aos trabalhos. Tempos depois, voltando dc Moscou, ele desdenhosamente me disse que tinha feito o mesmo. Eu perguntei, sabendo que era proibido ir at l, se ele tinha ido a Baikonour, onde ficava o centro espacial sovitico, e ele respondeu que no, fora em Moscou mesmo, isto , ele tinha visitado um museu do espao, onde nada acontece. Mesmo assim ele no se convenceu!

    ***

    5. A D ES IN FO R M A T S IY A EM A O

    Os principais padres de desinformao levados a efeito logo aps a reestruturao em 1958 foram:

    Fraqueza e Evoluo, consistiu em subestimar publicamente o poder comunista e aplacar os temores dos seus adversrios por meio da criao de falsas crises e divulgao de fraquezas e dissidncias no mundo comunista.

    Fingimetto e Fora: se um regime comunista fraco, a desinformao esconde a crise e suas dimenses, enfatizando outras reas ou problemas

    59

    C A P T U L O I

  • (loi exatamente na lase de transio, quando estava enlraquei ida, que a URSS lanou, com enormes sacrifcios, o seu Programa Espacial), cm outros momentos, quando est traco, finge grande fora que no tem (Ver Crise dos Msseis em Cuba, Captulo V II).

    Criao Je falsas divergncias entre pases comunistas e ocultao das verdadeiras adiante me referirei ao falso conflito sino-sovitico da dcada dc 60, enquanto as verdadeiras tenses entre os dois pases, ocorrida na fase de transio entre a morte dc Stalin e a "normalizao" com a posse dc Khrushchov e as "denncias dos crimes de Stalin" no XX Congresso do PCUS, foi completamente ocultada. A aplicao deste padro no interior de cada partido comunista constitui as falsas dissenses c "rachas", no Brasil, os exemplos mais recentes foram a dissidncia do P-SOL e os ataques do M ST e da C U T ao PT

    Uso de falsos desertores, Je agentes duplos e Je agentes infiltraJos: uma vez que um falso desertor seja aceito como genuno, a posio dominante do KCB no interior da organizao alvo fica demonstrada. A segurana de seus agentes infiltrados est garantida.

    Guerra assimtrica: embora no denominada assim por Golitsyn tem sido fartamente utilizada. Entende-se este conceito, inspirado na "Arte da Guerra" de Sun-Tzu, em dar tacitamcnte a um dos lados beligerantes o direito absoluto de usar dc todos os meios de ao, por mais vis e criminosos, explorando ao mesmo tempo os compromissos morais e legais que amarram as mos do adversrio. O exemplo mais gritante da atualidade pode ser estudado na guerra entre Israel e os terroristas Palestinos: enquanto aos ltimos tudo permitido e aceito - mesmo os brutais assassinatos de crianas e civis inocentes cm bares ou discotecas - dos primeiros espera-se que conduzam uma espcie de "guerra de cavalheiros" c, quando reagem com mtodos adequados, infinitamente menos violentos, so execrados como assassinos cruis. Mais reccntemente, at mesmo as desavenas entre

    60

    O 11X0 1)0 MAl I A T I N O AMI Rl ( A N O

  • os palestinos so noticiadas com a velada inteno de culpar Isiarl I: i (om isso de Diretos Humanos cia O N U - oiule esto l.bia, C.uba e outros exemplares delensores dos direitos humanos - decidiu (2007) que somente Israel continuar a ser investigado. A Carta dos Direitos do Homem, da O N U , outra preparao para a guerra assimtrica: a U R SS e os demais pases comunistas jamais pretenderam segui-la, enquanto a usavam para acusar o Ocidente, principalmente os Estados Unidos, de atentados aos "direitos humanos". No Brasil atual a situao clara quanto ao da polcia sobre a bandidagem: os ltimos tudo podem, a polcia tem que trat-los com carinho e todos os cuidados; a defesa do Estatuto da Criana e da Adolescncia tambm usada no mesmo sentido, assim como a ridcula maioridade penal somente aos 18 anos.

    ***

    6. AS PR IN C IPA IS O PERA ES DE DESINFORM AO

    Sero apenas citadas as principais operaes de grande envergadura, sem entrar em detalhes.

    1. Disputa URSS X Iugoslvia: a condenao" de Stalin por josip Broz Tito"

    2. A falsa evoluo dentro da URSS em direo democracia: abandono da ditadura do proletariado" e sua substituio pelo "Fstado de todas as pessoas' Pretensas lutas

    internas pelo poder e a criao de movimentos falsamente dissidentes

    3. A "disputa e ciso' Sovitico*Albanesa

    4. A falsa ciso Sino-Sovitica

    5. A "independncia" Romena: o rompimento de Nicolae Ceausescu

    61( AP TUI (> I

  • M iH i li.im.ulu Viu i Nosirnko tomou um c .mmlm errado e sc- cmlmi Ihou locla Para satisfazer burocratas nervosos que queriam encerrar a investigao, pessoal no especializado recebeu a tareia de reabilitar' Nosicnko (i e , qualific-lo oficialmente um desertor genuno c confivel) e isto mesmo depois que ele j tinha desacreditado a si mesmo completamente. Para acreditar na autenticidade dc No- sienko, a C IA teria dc aceitar a idia de que o "KG B verdadeiramente operava segundo procedimentos diferentes daqueles descritos por todos os outros desertores" (anteriores e posteriores). Em termos da grande estratgia russa, a lenda de Nosienko foi usada para afirmar que Golitsyn estava mentalmente doente, que suas previses e anlises eram paranicas c sem valor13.

    O resultado dramaticamente descrito por Nyquist1: "O povo americano olha em volta e se pergunta por que os ambientalistas esto to fortes, por que o capitalismo est sob assalto e os direitos de propriedade rural no so mais seguros. Tentam descobrir por que tantos professores esto ensinando marxismo nas escolas e universidades. Alguns no podem entender por que nossos lderes polticos insistem em mais cortes no oramento militar e continuam a negociar com os gangsteres de Beijing e Moscou. (...) A resposta mais simples c: ns fomos subvertidos, infiltrados, ludibriados e manipulados pelos comunistas c esquerdistas. Estvamos to ocupados com nossas carreiras e satisfaes pessoais que nem nos demos conta. E agora nosso pas tem suas prprias estruturas comunistas ocultas (ou nem to ocultas)".

    ***

    13 Jeffrey Nyquist ( J A Mito e Histria, traduzido htip://www.midiascmmascara.com.br/ artigo. php?sid = 5845M The Grand Decef>tion, http://www.worldnetdaily.cc)m/news/articlc.asp?ARTICLE_ll3^24362

    63

    C AP TU I O I

    http://www.midiascmmascara.com.br/http://www.worldnetdaily.cc)m/news/articlc.asp?ARTICLE_ll3%5e24362

  • H ( ) A l( )VIM I:N 'I'< ) I *1:1.A PAZ M U N I)lAl

    A guerra de morte entre lomunismo e ntpitahsrno e inevihivel I lo/r. irrhimrnlr no estamos sufic icntemente fortes Nosso tempo Jrtfaia e/n mnte ou trinta Para vencer precisamos Jo elemento surpresa, a burguesia Jever ser amotteiuL

    anestesiaJa, por um falso senso Jc segurana Um Jnt comearemos a espalhar o mais teatral movimento pacifista que o munJo ja' riu Faremos inacreditveis concesses. Os pases capitalistas, estpidos e decadentes cairo na armadilha oferecida pela possibilidade de fazer noros amigos e mercados, e cooperaro na

    sua prpria destruiro

    Dmitri ManuilskvTutor de Nikita Khrushchov na Escola Lenm de Guerra Poltica, em iv it

    Um pacifista um sujeito que alimenta um crocodilo.na esperana de ser comido por ltimo

    Sir Winston Churchill

    A campanha sovitica pela paz foi outro lance genial. Note-se que Ma- nuilsky falara em 1931 em "vinte ou trinta anos. Exatamente quando comeou o movimento dos "povos amantes da paz", na dcada de 60. mais uma amostra de como a estratgia comunista sempre foi de longo prazo.

    Quem no quer paz? A Humanidade, cansada de duas guerras mundiais que ceifaram vrios milhes de vidas, estava preparada para uma campanha ativa desta natureza. Lentamente foi-se construindo a imagem da URSS como o farol para os "pases amantes da paz", pois desejava apenas que lhes deixassem construir em paz a nova sociedade socialista. O alvo principal era a intelectualidade ocidental, particularmente a norte- americana, com a finalidade de provocar naquele Pas uma diviso que ameaasse sua prpria sobrevivncia. No resto do mundo serviu para convencer as populaes de que o capitalismo era o motor das guerras, enquanto o comunismo era essencialmente pacfico. A guerra passou a ser vista s pelos seus aspectos econmicos - e at hoje alguns acreditam nesta balela! - como os confrontos imperialistas inevitveis entre pases

    64

    O I I XO 1)0 MAl . I ATI K O AM h RIC A N O

  • /(,i/m,/s - que t o iK iih i.ii.io enquanto o cap ita lism o 1 1 . 1 0 for an iqu ilado

    l.i as guerras dos "pases am antes da paz contra os capitalistas e as dos

    "m ovim entos de libertao naciona l" ou a insurreio dos "m ovim entos

    sociais", so guerras justas - em oposio s anteriores, injustas - pois se

    destinam a salvar a hum an idade das prprias guerras, libertando-a das

    am arras do cap ita lism o.

    Lenin em 1922 j dizia que: "O objetivo final da paz simplesmente chegar ao controle mundial comunista". Em 1952 Stalin complementou: "A paz ser preservada e reforada se o povo tomar a causa da paz em suas mos e defend-la at