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  • ELISNGELA MARIA ALVES DE OLIVEIRA ROCHA

    ANDRADE

    FATORES DO PENSAMENTO SISTMICO COMO

    POTENCIALIZADORES DE SUCESSO DE PROJETOS DE

    SOFTWARE NO SETOR PBLICO

    1 Edio

    http://

  • FATORES DO PENSAMENTO SISTMICO COMO POTENCIALIZADORES DE SUCESSO DE PROJETOS DE SOFTWARE

    NO SETOR PBLICOElisngela Maria Alves de Oliveira Rocha Andrade

    Capa: Jos Airton de Oliveira Rocha JniorEditor Chefe: Igor Adriano de Oliveira ReisConselho editorial: EDIFSProjeto grfico e diagramao: Thiago Guimares Estcio

    ISBN: 978-85-68801-13-0

    Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorizao expressa da autora e do editor

    2016 by Elisngela Maria Alves de Oliveira Rocha Andrade

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) A553f Andrade, Elisngela Maria Alves de Oliveira Rocha

    Fatores do pensamento sistmico como potencializadores de sucesso

    de projetos de software no setor pblico. [recurso eletrnico] / Elisngela

    Maria Alves de Oliveira Rocha Andrade. - Aracaju: IFS, 2016.

    vi, 148 p.: il.

    ISBN: 978-85-68801-13-0

    1. Engenharia de software. 2. Gerenciamento de projetos. 3. Sucesso

    de projetos. I. Ttulo.

    CDU: 004.41Ficha catalogrfica elaborada pela Direo Geral de Bibliotecas do IFS

    Editora IFSAv. Jorge Amado, 1551 - Loteamento Garcia Bairro Jardins - Aracaju / SE.

    CEP.: 49025-330 TEL: 55 (79) 3711-3222E-mail: [email protected].

    Publicado no Brasil 2015

  • Ministrio da Educao

    Instituto Federal de Educao, Cincia eTecnologia de Sergipe

    Presidente da RepblicaDilma Roussef

    Ministro da EducaoRenato Janine Ribeiro

    Secretrio da Educao Profissional e TecnolgicaMarcelo Machado Feres

    Reitor IFSAilton Ribeiro de Oliveira

    Pr-reitora de Pesquisa e ExtensoRuth Sales Gama de Andrade

  • Solange, minha me, exemplo de perseverana e dedicao que sempre me incentivou e deu foras para ultrapassar obstculos em buscar do melhor, e Yasmin, minha filha, que ilumina a minha vida e me motiva a querer ser melhor a cada dia.

  • Agradeo ao IFS pela oportunidade de tornar esse trabalho pblico e acessvel, com qualidade.

  • APRESENTAO

    Este livro fruto da Dissertao de Mestrado Profissional apresentada em maio de 2012, pela autora, Ps-Graduao em Cincia da Computao do Centro de Informtica da Universidade Federal de Pernambuco, sob o ttulo Fatores do Pensamento Sistmico como Potencializadores de Sucesso de Projetos de Software no Setor Pblico, orientada pelo Professor Hermano Perrelli de Moura.

    Aplicar o pensamento sistmico na gesto de projetos transcender disciplinas de gerenciamento como um conjunto de artefatos, processos e controle de indicadores. atuar sobre os pressupostos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade, considerando inclusive a recursividade entre eles. Com a nova forma de percepo da realidade, na qual o principal foco o conhecimento, as demandas por competncias que ultrapassem as questes puramente tcnicas so notveis e essenciais. Alm do saber fazer, o saber ser essencial para enfrentar o mundo globalizado e informacional. Este livro versa sobre fatores do pensamento sistmico, ligados ao comportamento do gerente, que potencializam o sucesso dos projetos de software, no setor pblico. Refere-se uma pesquisa aplicada, exploratria, com abordagem predominantemente qualitativa. O cenrio definido por organizaes pblicas cujos softwares desenvolvidos so ferramentas de apoio s atividades fins, tais como TJSE, UFS, IFS, DATAPREV, TRT, TJPE. No universo da pesquisa participam diretores e coordenadores, gerentes de reas de sistemas, analistas de sistemas e programadores. proposta uma verticalizao das caractersticas do gerente apoiando-se nos comportamentos da mente sistmica, uma vez que a aplicao do pensamento sistmico ao gerenciamento de projetos permite entender como diversas variveis relacionam-se na estrutura complexa que envolve processos e prticas gerenciais.

  • SUMRIO

    CAPTULO 1 UMA PESQUISA EM GESTO DE PROJETOS DE SOFTWARE ........................................10CAPTULO 2 PENSAMENTO SISTMICO ............................14TEORIA DOS SISTEMAS ..............................................14PRINCPIOS BSICOS DA DINMICA DE SISTEMAS ..... 14ORGANIZAES COMO SISTEMAS ABERTOS .............. 20PENSAMENTO SISTMICO: UM PARADIGMA DA CINCIA .................................................................................. 23PRINCPIOS E CARACTERSTICAS DO PENSAMENTO

    SISTMICO ............................................................................. 33

    CAPTULO 3 GESTO DE PROJETOS EM ORGANIZAES PBLICAS .......................................41GESTO NO SETOR PBLICO ............................................ 41COMPETNCIAS INDIVIDUAIS ........................................... 48GESTO DE PESSOAS NO SERVIO PBLICO ............... 50

    CAPTULO 4 SUCESSO DE PROJETOS DE SOFTWARE ...................................................................53PROJETO DE SOFTWARE ................................................... 53GESTO DE PROJETOS ....................................................... 57FATORES DO SUCESSO ...................................................... 59MONTAGEM E DESENVOLVIMENTO DE EQUIPES DE PROJETOS DE SOFTWARE NO SERVIO PBLICO ...... 67PENSAMENTO SISTMICO E O SUCESSO DE PROJETOS DE SOFTWARE ...................................................................... 69

    CAPTULO 5 EM BUSCA DOS FATORES DE SUCESSO NO SETOR PBLICO ....................................................76UNIVERSO DA PESQUISA ................................................... 77O TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SERGIPE E A

  • SETIC ...................................................................................... 77A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE E O CPD ...... 79OUTRAS ORGANIZAES PBLICAS .............................. 80SUJEITOS DA PESQUISA ..................................................... 84TCNICA DE PESQUISA ...................................................... 85COLETA E VERIFICAO DOS DADOS ............................. 86ANLISE E INTERPRETAO DOS DADOS ..................... 88

    CAPTULO 6 FATORES QUE AFETAM O SUCESSO DO PROJETO DE SOFTWARE ....................................98CARACTERSTICAS COMPORTAMENTAIS DO BOM GESTOR ..................................................................................99FATORES QUE POTENCIALIZAM O SUCESSO DO PROJETO DE SOFTWARE ...................................................................... 104FATORES LIMITANTES DE SUCESSO DE PROJETO DE SOFTWARE ............................................................................108PENSAMENTO SISTMICO COMO POTENCIALIZADOR DE

    SUCESSO DE PROJETO DE SOFTWARE ......................... 117

    CAPTULO 7 O QUE FICOU E CAMINHOS A SEGUIR ..........................................................................126

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    APNDICE A ROTEIRO PARA ENTREVISTA

    APNDICE B QUESTIONRIO

    APNDICE C GRAU DE IMPORTNCIA DAS CARACTERSTICAS DO GESTOR

    APNDICE D QUADROS DA CATEGORIZAO

  • CAPTULO 1 UMA PESQUISA EM GESTO DE PROJETOS DE SOFTWARE

    A realidade da rea de Tecnologia da Informao (TI) hoje dispe de: recursos tecnolgicos com facilidade, pessoal qualificado, abundncia de mo-de-obra, grandes incentivos a novos projetos, e, alm de ter-se a garantia de qualidade dos produtos, quer-se tambm a qualidade dos servios e da gesto da TI. Neste nterim, estudos da Engenharia de software sobre aspectos scio-tcnicos referem-se ao sucesso de projetos de software como assunto ainda imaturo, mas bastante interessante aos profissionais da rea. Mansur (2009) discorre que o gerenciamento de projetos no assunto novo, pois durante os anos 70 e 80 ele foi bastante debatido. A TI ainda tem uma elevada taxa de insucesso nos projetos estimada entre 70% a 90%. Esta situao levou a rea de tecnologia a buscar diversas formas de gerenciamento, atravs de novas metodologias, frameworks e melhores prticas tais como Project Management Body of Knowledge (PMBoK), Control Objectives for Information and related Technology (Cobit), Information Technology Infrastructure Library (ITIL). Estes guias de gerenciamento apontam itens potenciais para obteno do sucesso do projeto e elencam atividades dos gerentes, inclusive aquelas norteadas por caractersticas pessoais como organizao, comunicabilidade, delegabilidade, flexibilidade, motivao, objetividade, pr-atividade e transparncia.

    Haggerty (2000) afirma que alguns dos fatores que influenciam o sucesso de projetos so o perfil do gerente, suas habilidades e competncias. Shenhar e Wideman (2000) e Pereira (2007) aprofundam a investigao sobre a influncia dos fatores pessoais no sucesso de projetos. Verifica-se que algumas caractersticas do gerente interferem nos seguintes antecedentes de sucesso do projeto de software: Aprendizagem, Capacidade de Gerenciamento, Confiana, Controle de Interferncias, Eficcia, Eficincia, Maturidade da Equipe, Moral da Equipe, Realizao de Mudanas, Planejamento, Reteno da Equipe e Sinergia (PEREIRA, 2008).

    Dada a importncia, um novo apndice foi adicionado quarta verso do PMBoK para adotar as principais habilidades interpessoais usadas por um gerente de projetos (PMI, 2008). E, visando nortear o desenvolvimento

  • profissional dos gerentes de projetos, h ainda o Project Manager Competency Development (PMCD), do PMI (Project Management Institute).

    A gesto de projetos dotada de caractersticas que seguem a teoria dos sistemas, pois so organizaes humanas. Vasconcellos (2009) afirma que Os pressupostos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade constituem em conjunto uma viso de mundo sistmica, assim pode-se entender que estas tambm so caractersticas da gesto de projetos. Carvalho (2009) entende que a aplicao do pensamento sistmico ao gerenciamento de projetos permite ao gerente a capacidade de enxergar o sistema complexo que envolve sua gesto e os fatores crticos que ameaam e favorecem a mesma. Ou seja, possvel entender como diversas variveis se relacionam para formar a estrutura complexa que envolve todos os processos e prticas gerenciais.

    Diante do exposto, mostra-se interessante relacionar o potencial do pensamento sistmico na gesto de projetos, podendo inclusive inferir a influncia de fatores ligados ao perfil do gestor sobre gerenciamento do projeto e seu sucesso; o que remete ao seguinte problema: Que fatores do pensamento sistmico potencializam o sucesso de projetos de software no setor pblico?

    Mtodos para obter o sucesso do projeto um tema bastante estudado atualmente tambm na rea de tecnologia da informao. E dentre os itens potenciais para obteno desse sucesso, esto as boas prticas da gerncia de projetos, influenciadas inclusive por caractersticas pessoais do gerente, cujas algumas podem ser definidas como sistmicas, tais como comunicabilidade, comprometimento e motivao. Assim, o desenvolvimento desta pesquisa promove um melhor entendimento da contribuio de fatores sistmicos relacionados ao perfil do gerente para a obteno do sucesso dos projetos de software. Substancialmente o problema foi analisado em rgos pblicos, uma vez que grande o interesse de alcanar o sucesso de projetos com a equipe estabilizada no rgo. Esta equipe a que compor uma gama de projetos futuros, e por isso as relaes com o recurso humano devem ser cuidadosamente tratadas para potencializar o sucesso. Nesse mbito a abordagem sistmica est diretamente associada leitura da complexidade do raciocnio, do domnio ou da supervenincia da emoo nas decises humanas e dos estmulos deciso eficaz. Busca-se a melhoria da capacidade das pessoas de se desenvolver, criar equipes cooperativas e ser eficazes na soluo de problemas simples ou mais complexos (VALENA, 2011).

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    Ainda, a pesquisa suscita uma maior percepo da autora, no ambiente de trabalho, quanto influncia das caractersticas pessoais no cotidiano profissional, relacionadas ao pensamento sistmico, uma vez que a autora trabalha diretamente com projeto de software, e foi funcionria das duas instituies que fazem parte do cenrio da pesquisa.

    O objetivo geral identificar fatores do pensamento sistmico, ligados ao comportamento do gerente, que potencializam o sucesso dos projetos de software, no setor pblico.

    Os objetivos especficos so: 1- Descrever os conceitos do pensamento sistmico; 2- Elencar caractersticas sistmicas que delineiam o perfil de um

    gerente; 3- Identificar fatores potenciais de sucesso de projeto de software,

    relacionados ao comportamento humano, mais precisamente do gerente de projetos;

    4- Estabelecer a relao entre comportamentos sistmicos do gerente de projetos e o sucesso de projetos;

    5- Investigar os fatores potenciais de sucesso de projeto no setor de desenvolvimento de sistemas em rgos pblicos;

    De acordo com Lakatos e Marconi (2006) o mtodo um conjunto das atividades sistemticas e racionais que, com maior segurana e economia, permite alcanar o objetivo [...] traando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decises do pesquisador.

    O caminho escolhido para atingir os objetivos foi: 1 - realizar uma reviso da literatura sobre fatores que influenciam sucesso de projeto de software, 2- relacionar possveis fatores pessoais com abordagem do pensamento sistmico que potencializem o sucesso de projetos de software, 3 realizar uma pesquisa de campo, em abordagem quantitativa e qualitativa, buscando relacionar os fatores pessoais da abordagem sistmica e o sucesso dos projetos e, 4 - diante dos resultados, elaborar anlise conclusiva com estabelecimento da relao entre comportamentos sistmicos do gerente de projetos e os fatores que potencializam o sucesso do projeto de software.

    Segundo a classificao da rea de conhecimento elaborada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq)1, esta

    1- Principal agncia destinada ao fomento da pesquisa cientfica e tecnolgica e formao de recursos humanos para a pesquisa no Brasil.

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    pesquisa pertence grande rea Cincias Exatas e da Terra, rea Engenharia de Software. Conforme sua finalidade, uma pesquisa aplicada. Gil (2010) comenta que estas pesquisas so voltadas aquisio de conhecimentos com vistas aplicao numa situao especfica. No que se refere aos objetivos, este estudo pode ser classificado como sendo exploratrio. Para Rodrigues (2006) a pesquisa exploratria uma pesquisa inicial, preliminar, cujo principal objetivo aprimorar ideias, buscar informaes sobre um determinado assunto ou descobrir um problema para estudo. Considerando a natureza dos dados, a abordagem utilizada predominantemente qualitativa, que preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece anlise mais detalhada sobre as investigaes, hbitos, atitudes, tendncias de comportamento. (LAKATOS e MARCONI, 2006).

    O cenrio definido por organizaes pblicas cujos softwares desenvolvidos so ferramentas de apoio s atividades fins. No universo da pesquisa participam os seguintes atores: diretores e coordenadores, gerentes de reas de sistemas, analistas de sistemas e programadores. Foi utilizada a amostra no probabilstica, voluntria e intencional.

  • CAPTULO 2 PENSAMENTO SISTMICO

    O pensamento sistmico envolve a capacidade de perceber o todo integrado, ou seja, compreender como as diversas partes se relacionam para formar o todo.

    Este captulo tem por intuito apresentar o referencial terico alusivo ao pensamento sistmico. Destarte, so apresentados contedos extrados da literatura referentes Teoria dos Sistemas, descrevendo os princpios bsicos da dinmica de sistemas e contextualizando as organizaes como sistemas abertos. Em seguida, o pensamento sistmico expresso como um paradigma da cincia. E, para finalizar a seo, so explanados os princpios e caractersticas desse modo sistmico de refletir.

    Teoria dos sistemasNa cincia dos sistemas existem duas tendncias bsicas: a tendncia

    organicista, destacada por Bertalanffy que est associada sua Teoria Geral dos Sistemas; e a tendncia mecanicista que est associada Teoria Ciberntica do matemtico Norbert Wiener. A ciberntica prope a construo de sistemas que reproduzem os mecanismos de funcionamento de seres vivos atravs de autmatos simuladores de vida ou mquinas cibernticas, assim mostra-se mecanicista por causa dessa associao com sistemas artificiais. J a associao com os organismos ou sistemas naturais sociais e biolgicos trata a Teoria Geral dos Sistemas como organicista (VASCONCELLOS, 2009).

    No mbito da tendncia organicista, vale ressaltar a influncia da cincia da ao, que tem por objetivo de pesquisa e conhecimento, sobretudo normativo, a ao humana os comportamentos humanos deliberados. Trabalha essencialmente com a intencionalidade, que pode ser direcionada para a ao humana comunicativa e apreciativa (VALENA, 2011).

    Para este trabalho, mostra-se importante conhecer os princpios bsicos da dinmica de sistemas, e entender as organizaes como sistemas abertos.

    Princpios bsicos da dinmica de sistemasPara Valena (2011), a Teoria dos Sistemas bem apresentada por Wilber2e

    2- K. Wilber, Sex, Ecology and Spirituality: the Spirit of Evolution (Boston: Shambhala, 1995);

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    Morin3 quando definem os princpios da dinmica de sistemas e da teoria da complexidade. Wilber chama a teoria da dinmica de sistemas de Cincia da Totalidade e comenta sobre 20 princpios bsicos dessa cincia da evoluo, que afirmam: a realidade no composta de coisas ou processos, nem de todos nem de partes, mas sim de todos/partes, ou seja, hlons, e antes que um tomo seja tomo, um hlon, so todos que existem dentro de todos, e certo que alguma coisa existe e que certos processos existem, mas cada um deles e todos so hlons, podendo tentar discernir o que todos estes hlons tm em comum quando eles interagem quais so suas leis ou padres ou tendncias, ou ainda hbitos.

    Somados em categorias e subcategorias, so os 20 princpios de Wilber:1. A realidade como uma totalidade composta de hlons, que so

    todos simultaneamente partes de outros todos, ilimitados superior e inferiormente.

    2. Cada hlon capaz de preservar sua individualidade e sua totalidade particular ou autonomia (autoadaptao).

    3. Como parte de um todo, o hlon deve se adaptar ou se acomodar com outros hlons, registrando os outros hlons e descobrindo seu ambiente existencial (autoadaptao).

    4. O hlon capaz de emergir de nveis anteriores, autotransformando-se (autotranscendncia).

    5. O hlon tambm se decompe, depois de uma autotranscendncia (autodissoluo).

    6. Os hlons emergentes so novos; suas propriedades e qualidades no so estritas aos componentes que o formaram e por isso, suas descries no podem ser reduzidas s de suas partes componentes.

    7. Os hlons emergem holarquicamente. Ou seja, hierarquicamente, ordenamente numa srie todos/parte. TodosX so compostos por PartesX, mas no vice-versa.

    8. Aps a transcendncia, o novo hlon emergente inclui os hlons predecessores e adiciona o seu novo cdigo (forma ou totalidade), preservando os hlons que o formam mas desconsiderando a separao ou isolamento.

    9. As partes estabelecem as possibilidades do todo; o todo estabelece as probabilidades das partes. O todo alm das partes, mas no

    3- E. Morin, Inteligncia da complexidade, (So Paulo: Peirpolis, 1999).

  • viola os padres das partes. 10. Uma hierarquia superficial ou profunda de acordo com o seu

    nmero de nveis, e o escopo ou amplitude do nvel referente ao seu nmero de hlons.

    11. A cada nvel sucessivo de evoluo, aumenta-se a profundidade e diminui-se a amplitude.

    12. O espectro da evoluo um espectro de conscincia. O grau de conscincia de um hlon maior quando for mais profundo (maior transcendncia).

    13. Se um hlon for destrudo, destroem-se todos os superiores e nenhum inferior.

    14. As holarquias coevoluem. Os hlons evoluem com seu ambiente inseparvel.

    15. O micro se correlaciona com o macro em todos os nveis de sua profundidade.

    16. Existe evoluo atravs da crescente complexidade;17. Evolui-se com a crescente diferenciao/integrao.18. A evoluo se move atravs da crescente organizao/estruturao.19. Quanto maior a profundidade de um hlon, maior sua a autonomia

    relativa, ou seja, a capacidade de preservao em meio s flutuaes ambientais.

    20. O cdigo ou a estrutura profunda do hlon influencia o seu desenvolvimento no tempo e no espao.

    Valena (2011) comenta sobre princpios-guias para pensar a complexidade, e baseado nas concluses de Morin na obra Inteligncia da complexidade, so definidos princpios-guias para pensar a complexidade e se conclui que: no simplesmente um pensamento que elimina a certeza pela incerteza, a separao pela inseparabilidade, que elimina a lgica para permitir todas as transgresses; mas se deve fazer um ir e vir incessante entre as certezas e as incertezas, o elementar e o global, o separvel e o inseparvel; tambm utiliza a lgica clssica e seus princpios, sabendo que, em certos casos, preciso transgredi-los. Ento no questo de abandonar os princpios da ordem, separabilidade e lgica, mas de integr-la numa concepo mais rica, articulando os princpios de ordem e desordem, de separao e juno, de autonomia e dependncia, que esto em dialgica no universo.

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    Valena (2011) apresenta uma sntese dos princpios dos sistemas, para as dimenses humanas, da biologia cultura, contidos na obra de Maturana e DAvila4, que so:

    1. O prprio existir (humano) ocorre como uma distino do observador que surge em sua reflexo sobre seu sentir no distinguir.

    2. Tudo que dito dito por um observador a outro observador (ser humano) que pode ser ele mesmo.

    3. Tudo que um observador faz como ser humano surge de acordo com regularidades e coerncias operacionais que se conservam em todos os instantes e circunstncias durante o viver. No h acaso no suceder do viver.

    4. O observador surge com sua reflexo de seu prprio operar na observao.

    5. O ato de reflexo ocorre no operar do observador, como um processo do viver que amplia recursivamente a compreenso do viver, da conscincia de si e das aes prprias da contnua mudana gerada pela reflexo recursiva, e ocorre no ato de soltar a certeza de que se sabe o que se acredita que se sabe.

    6. Vivemos tudo como vlido no momento de viv-lo. Contudo no sabemos o que vivemos como vlido, uma vez que depois confirmaremos isso como uma percepo ou o invalidaremos como uma iluso em relao a outra experincia que se acha vlida nesse instante, mas que est sujeita s mesmas condies.

    7. O mundo que vivemos em cada instante o resultado de tudo que ns seres humanos fazemos, pensamos que podemos fazer, ou que no podemos fazer, ou que poderamos ou no fazer no curso do viver, em nosso operar reflexivo de observadores que vivemos no conversar.

    8. O curso evolutivo dos seres vivos, e em especial do ser humano, surge momento a momento no viver e guiado por preferncias, gostos, desejos, realizao e conservao do bem-estar no viver.

    9. Cada vez que num conjunto de elementos comeam a se conservar certas relaes, abre-se espao para que tudo mude em torno das relaes que se conservam.

    10. Uma unidade composta determinada em sua estrutura distinguida

    4- Habitar humano em seis ensaios de biologia-cultural. So Paulo: Palas Athena, 2008.

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    pelo observador quando tudo o que ocorre com ela refere-se s coerncias operacionais e relacionais de seus componentes.

    11. Como observadores, distinguimos unidades simples e unidades compostas ou sistemas. As simples surgem quando distinguidas como totalidades onde no feita separao de componentes. As compostas surgem na distino como totalidades decompostas em componentes que operam em propriedades prprias da unidade.

    12. Os componentes de uma unidade composta no so componentes em si ou por si mesmos, so elementos que surgem na distino como componentes participantes nas relaes de composio de uma unidade composta.

    13. O observador distingue organizao de uma unidade composta como a configurao de relao entre os seus componentes, que se conserva mesmo com mudanas estruturais e que define a sua identidade de classe como totalidade.

    14. A organizao de uma unidade composta constituda de componentes e relaes entre eles que fazem desta unidade particular um caso particular de uma classe.

    15. Uma unidade composta tem sua identidade de classe conservada quando o meio que a contm e com o qual interatua s desencadeia mudanas estruturais que conservam sua organizao. Essa relao chamada de acoplamento estrutural, e o mbito dinmico de encontro da unidade com o meio chamado de nicho.

    16. Uma unidade composta existe e opera em dois mbitos (ou dois domnios de existncia disjuntos): no mbito de seus componentes e no mbito como totalidade em interaes no meio que a contm.

    17. Uma unidade composta (ou sistema) opera em sua dinmica interna de acordo com suas coerncias estruturais do momento, num fluir de mudanas sem alternativas e numa dinmica estrutural que ocorre como um contnuo presente.

    18. Ns, seres humanos, existimos num contnuo presente cambiante; e o cosmos que explica as coerncias operacionais do viver do observador como um contnuo presente cambiante num contnuo trnsito evanescente.

    19. Uma organizao sistema fechado uma unidade composta cujos elementos que interatuam entre si, e que quando se atua sobre um

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    deles, atua-se sobre todos.20. A organizao que define a identidade de classe de um ser vivo a

    autopoiese. Um ser vivo s vive enquanto conserva sua autopoiese. Essa a lei da conservao da autopoiese.

    21. Para viver, necessrio conservar a relao de adaptao entre o ser vivo e o meio. Essa a lei da conservao da adaptao ou lei da conservao do acoplamento estrutural.

    22. Como sistemas determinados em nossa estrutura, ns, seres vivos, existimos num presente contnuo em contnua mudana estrutural.

    23. A mudana ocorre congruentemente num ser vivo e no meio que o contm, se as mudanas estruturais desencadeadas pelas interaes recursivas conservarem a autopoiese do ser vivo e sua relao de adaptao ao meio em seu nicho.

    24. Ns, seres humanos, fazemos sempre o que queremos fazer, mesmo quando dizemos o contrrio.

    25. O modo particular de viver dos seres humanos o conversar. Tudo ocorre em redes de conversaes, e se convive em coordenaes de fazeres e emoes.

    26. O resultado de um processo no opera nem pode operar como fator para o incio do processo que lhe d origem.

    27. O operar do observador na conversao reflexiva que distingue seu prprio operar ocorre como um viver na contnua conservao da ampliao recursiva da compreenso do prprio viver, da conscincia de si e das aes efetivas prprias do fluir do viver no presente de contnua mudana que essa mesma reflexo recursiva gera guiada em cada instante pelo emocionar que surge na conservao desse modo de viver.

    Dessa forma, entendem-se seres humanos e seus relacionamentos como sistemas cujos elementos e suas interaes so interligados ao meio e devem coexistir harmonicamente para que as mudanas aconteam congruentemente. O viver um contnuo presente cambiante com sucessivas mudanas que geram reflexes no agir e conversar. E ento o observador age por influncia das emoes e das recursivas reflexes de outras observaes vividas.

    A seguir, tem-se uma breve apresentao sobre o relacionamento humano, em forma de organizaes, sob a tica da teoria dos sistemas, especificando-a como um sistema aberto.

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    Organizaes como sistemas abertos O conceito de sistema aberto adapta-se a todas as coisas vivas que mantm

    relaes com o meio ambiente. Um sistema um conjunto de elementos ou subsistemas, dinamicamente inter-relacionados, desenvolvendo uma atividade ou funes para atingir um ou mais objetivo/propsitos.

    Um sistema funciona como um todo organizado logicamente, o que demonstra o aspecto da totalidade que possui. As organizaes so sistemas de papis desempenhados pelas pessoas (CHIAVENATO, 2000). As organizaes funcionam como sistemas abertos, j que elas esto em um processo contnuo e incessante de trocas e intercmbio com o ambiente. As organizaes so vistas como sistemas dentro de sistemas. E como sistema, apresenta:

    Entradas (inputs): so constitudas por recursos humanos, financeiros e materiais necessrios ao funcionamento do sistema.

    Operaes ou processamentos: representa a etapa de transformao dos recursos em produtos ou servios, por meio da tecnologia e do conhecimento.

    Sadas (outputs): compreendem as mercadorias, servios e realizaes que contribuiro para alcanar os objetivos ou propsitos do sistema.

    Retroao ( feedback): o mecanismo responsvel pela promoo do equilbrio e da estabilidade do sistema, possibilitando a homeostasia (equilbrio dinmico do sistema).

    Subsistemas: so as partes do sistema em que se desenvolvem as atividades interdependentes e interatuantes. Nas organizaes, essas partes so especializadas e interligadas por uma rede de comunicao.

    As organizaes so sistemas abertos que se relacionam com o ambiente externo: elas retiram da insumos, que, uma vez processados, so devolvidos ao ambiente na forma de produtos e/ou servios.

    Enquanto os sistemas fechados como mquinas e equipamentos - se conectam com o ambiente de maneira previsvel e mecnica, por meio de entradas e sadas perfeitamente conhecidas, e que tem um comportamento previsvel e predeterminado. Os sistemas abertos interagem dinamicamente com o ambiente atravs de uma multiplicidade de entradas e sadas que no so exatamente conhecidas e nem obedecem s relaes diretas de causa e efeito.

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    As organizaes como sistemas abertos apresentam as seguintes caractersticas:

    Importao e exportao: a organizao importa continuamente do ambiente os recursos, materiais e energias necessrios para abastecer suas operaes e exporta continuamente para o ambiente os produtos ou servios que produz. Nenhuma estrutura social autossuficiente ou autocontida.

    Homeostasia: a tendncia de o sistema aberto permanecer em um equilbrio dinmico. A homeostasia garante a estabilidade e o estado firme do sistema apesar de todas as variaes que ocorrem no ambiente.

    Adaptabilidade: a mudana na organizao do sistema, na sua interao ou nos padres requeridos para conseguir um novo e diferente estado de equilbrio com o sistema externo, mas por meio do seu status quo interno.

    Morfognese: a capacidade que os sistemas abertos tm de modificar a si prprios de maneiras estruturais. uma decorrncia da adaptabilidade do sistema aberto ao seu ambiente. A organizao pode modificar continuamente a sua constituio e estrutura para melhorar o alcance de seus objetivos.

    Entropia negativa ou Negentropia: a entropia um processo pelo qual todas as formas organizadas tendem a exausto, desorganizao, desintegrao e, por fim, morte. Para sobreviver os sistemas abertos se reabastecem de insumos e energia alm de suas necessidades bsicas no sentido de manter indefinidamente sua estrutura organizacional por meio da entropia negativa.

    Sinergia: representa um esforo simultneo de vrias partes ou subsistemas da organizao em benefcio da mesma funo. A sinergia um efeito multiplicador das partes fazendo com que o resultado de uma organizao seja diferente da soma de suas partes ou de seus insumos. O resultado do todo pode ser maior do que o de suas partes.

    Segundo Chiavenato (2000), de todas as teorias administrativas, a Teoria de Sistemas a menos criticada, pelo fato de que a perspectiva sistmica parece concordar com a preocupao estrutural-funcionalista tpica das cincias sociais dos pases capitalistas de hoje. A organizao como um sistema aberto pode

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    ser representada pela Figura 1. A teoria dos sistemas desenvolveu os conceitos dos estruturalistas e behavioristas, pondo-se a salvo das suas crticas. As caractersticas da teoria administrativa baseada na anlise sistmica so as seguintes:

    1. Ponto de vista sistmico: A organizao visualizada como um sistema constitudo de cinco parmetros bsicos: entrada, processo, sada, retroao e ambiente;

    2. Abordagem dinmica: Alm de considerar a estrutura esttica de uma organizao, adicionada nfase sobre o processo de interao entre as partes da estrutura;

    3. Multidimensional e multinivelada: A organizao deve ser vista em ngulo micro (nvel de sociedade, comunidade ou pais) e macroscpico (por unidades internas). Todos os nveis devem ser considerados alm da interao entre suas partes.

    4. Multimotivacional: Um ato pode ser motivado por muitos desejos ou motivos. As organizaes existem porque seus participantes esperam satisfazer vrios objetivos atravs dela. Estes objetivos no podem se reduzir a um objetivo, como o lucro.

    5. Probabilstica: Explicam-se muitas variveis em termos preditivos e no com certeza.

    6. Multidisciplinar: So utilizados conceitos e tcnicas de diversos campos de estudo, como a Sociologia, Psicologia, Economia, Ecologia, pesquisa operacional etc.

    7. Descritiva: Descreve as caractersticas das organizaes e da administrao. No normativa e prescritiva. Procura compreender os fenmenos organizacionais e deixa ao administrador a escolha de objetivos e mtodos.

    8. Multivarivel: Um evento pode ser causado por numerosos fatores que so inter-relacionados e interdependentes. Fatores causais podem ser afetados por influncias que eles prprios causaram atravs da retroao.

    9. Adaptativa: A organizao e seu ambiente so vistos como interdependentes em um contnuo equilbrio dinmico, rearranjando suas partes quando necessrio em face da mudana. Focaliza os resultados (output) da organizao em vez da nfase sobre o processo ou as atividades da organizao.

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    Figura 1 - A organizao como um sistema aberto.Fonte: Chiavenato, 2000.

    A abordagem sistmica uma teoria geral da administrao que cobre amplamente todos os fenmenos organizacionais, sendo uma sntese integrativa dos conceitos clssicos, neoclssicos, estruturalistas e behavioristas. A perspectiva sistmica mostra que a organizao deve ser administrada como um todo complexo, pois o valor produzido atravs do efeito sinrgico. Os recursos humanos, materiais e financeiros quando considerados fatores de produo geram riqueza atravs da sinergia organizacional (CHIAVENATO, 2000).

    Chiavenato (2000) conclui que perceber sistemicamente a organizao considera o paradoxo conhecer as partes para poder conhecer o todo, e ao mesmo tempo, conhecer o todo para poder conhecer as partes. Assim, necessrio reconhecer a circularidade nas explicaes simultneas do todo pelas partes e das partes pelo todo. Ambas essas colocaes so complementares, sem que nenhuma possa anular os aspectos antagnicos e concorrentes da outra.

    Pensamento sistmico: um paradigma da cinciaPensamento uma forma de processo mental ou faculdade do sistema

    mental. No Dicionrio Aurlio da lngua portuguesa refere-se ao ato ou efeito de pensar, ou seja, formar ou combinar ideias; refletir; raciocinar; meditar. Tambm se refere ao poder de formular conceitos, e ao produto intelectual de um determinado indivduo, grupo, pas ou poca. Atravs do pensar, os seres

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    modelam o mundo, interagindo de forma mais efetiva e de acordo com seus desejos, planos e metas. Podem ser associados ao pensamento os conceitos e processos de cognio, sencincia, conscincia, e imaginao. Dentre outras denominaes, o pensamento pode ser classificado em:

    Pensamento autista e realista: proposto por Eugen Bleuler, tem como base a relao com o ambiente interno e externo. Autista: caracterizado pelas atividades internas no controladas por condies externas, fantasias. Realista: rigorosamente controlado pela realidade externa.

    Pensamento de produo, reproduo e verificao: Donald Olding Hebb props a separao entre pensamento de produo, e Norman Maier distinguiu pensamento produtivo e reprodutivo. Produtivo: consequncia da integrao de experincias previamente no relacionadas, gerando um novo conhecimento. Reprodutivo: aplicao de experincias previamente adquiridas que conduzem a uma soluo potencialmente correta em nova situao de impasse. Verificativo: objetiva verificar e comprovar os novos conhecimentos.

    Pensamento intuitivo, analtico e sinttico: proposta de Jerome S. Bruner, e tem como base a origem do pensamento. Intuitivo: usa a intuio do indivduo, cujo raciocnio inconsciente. Analtico: utiliza a decomposio do todo em partes mais simples, para serem mais facilmente explicadas ou solucionadas, e assim que as partes so entendidas, possvel entender o todo. Sinttico: utiliza a funo de um fenmeno em um sistema maior para explicar as partes menores.

    Pensamento dedutivo e indutivo. Dedutivo: forma de raciocnio onde se alcana a concluso a partir de uma ou vrias premissas. Indutivo: baseia-se na concepo de que se algo certo em algumas ocasies, o ser em outras similares, mesmo que seja observvel. O dedutivo parte do geral para o particular, e o indutivo parte do particular para o geral. O mtodo cientfico dedutivo foi proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz, e o mtodo cientfico indutivo foi proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hume.

    Pensamento criativo: utiliza-se da criao ou modificao de algo, inserindo novidades, ou seja, a produo de novas ideias para criar ou modificar algo existente.

    Pensamento sistmico: uma viso completa de mltiplos elementos com suas diversas inter-relaes. Sistmico deriva da palavra sistema, o que indica a necessidade de perceber o mundo de uma forma inter-relacionada.

    Pensamento crtico: examina a estrutura dos raciocnios, e tem uma vertente analtica e avaliativa. Tenta superar o aspecto mecnico do estudo da lgica.

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    Com foco na evoluo da cincia, podem-se citar como predominantes os pensamentos linear-cartesiano, complexo e sistmico.

    O princpio do pensamento linear-cartesiano reducionista, no qual a natureza como objeto de estudo atomizada, reduzida aos seus elementos mensurveis. Busca compor uma cincia universal da ordem e da medida, incluindo projeto de estender esse padro de racionalidade a todos os domnios do saber, do universo fsico ao mundo social, poltico e tambm moral. Os objetos de estudo so fragmentados em suas partes constituintes. (VASCONCELLOS, 2009)

    O pensamento linear-cartesiano fundamenta o paradigma da cincia tradicional, referida por Vasconcellos (2009) ao conjunto de trs pressupostos (simplicidade, estabilidade, objetividade) e de suas diversas manifestaes. Tambm chamada por alguns de cincia clssica ou cincia moderna (desenvolvida na Idade Moderna, a partir do sculo XVII). A Figura 2 mostra algumas caractersticas desses pressupostos.

    Figura 2 - Paradigma da cincia TradicionalFonte: Vasconcellos, 2009.

    O pressuposto da simplicidade est baseado na crena em que preciso

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    separar as partes para entender o todo. Essa separao chamada disjuntiva, que cinde o que est ligado; so estabelecidas categorias, para, em seguida, proceder-se classificao dos objetos ou fenmenos, ento concebidos como entidades delimitadas e separadas umas das outras, procedendo tipologia dos elementos constitutivos desse todo, a fim de estabelecer uma universalidade de categorizao. Tambm se refere anlise e sntese, que operam tanto em fenmenos naturais, dividindo e identificando constituintes fsicos, como em fenmenos mentais, dividindo um conceito em subconceitos subjacentes que o suportam e o reconstituem (COSTA, 2007). Nesse mbito, Cunha (2006) interpreta que a reduo outra operao em busca da simplicidade, que unifica o que diverso. Ao encontrar um fenmeno complexo, o cientista busca sua reduo a outro fenmeno mais simples e j bem mais compreendido.

    O pressuposto da estabilidade reside na crena em que o mundo estvel e que nele h repeties com regularidade. Assim, numa concepo de mundo organizado, as leis de funcionamento, simples e imutveis, podem ser conhecidas, e, segundo essas leis, procura-se conhecer as relaes funcionais entre variveis, de forma clara e inequvoca, por meio de experimentao. Nesse pressuposto, residem outros, como os da determinao e o da previsibilidade dos fenmenos (COSTA, 2007).

    No mbito do pressuposto da objetividade, estabelecida a crena de que possvel conhecer o mundo tal como ele na realidade, sendo a objetividade o critrio essencial do pensamento cientfico (CUNHA, 2006). Para tanto, considerado que no mundo tudo acontece, real e existe independente de quem o escreve. Cabe apenas ao observador atingir uma representao da realidade que seja a melhor possvel e descobrir se essa realidade nica, pois dever existir uma nica descrio, uma melhor ou nica verso, um universo, que corresponde verdade sobre essa realidade (VASCONCELLOS, 2009).

    O paradigma da cincia tradicional, atravs do pensamento linear-cartesiano se desenvolveu e se estabeleceu nas cincias fsicas e exatas, tornando-se modelo de cientificidade. Os fsicos atuavam baseados nos pressupostos da simplicidade, estabilidade e objetividade, e obtinham sucesso, explicando o mundo fsico e desenvolvendo tecnologias sofisticadas que modificavam cada vez mais as relaes do homem com a natureza (VASCONCELLOS, 2009).

    J nas cincias biolgicas sempre se encontrou mais dificuldade, reconhecendo a insuficincia do modelo tradicional para uma abordagem cientfica da natureza viva, provavelmente encontrando mais obstculos quanto

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    ao pressuposto da estabilidade de seu objeto de estudo (VASCONCELLOS, 2009).

    Definidas como um ramo da cincia, as cincias humanas tinham um paradoxo: seu objeto, o homem, o sujeito do conhecimento. E para abordar o homem cientificamente, onde a cincia trata dos objetos e no do sujeito do conhecimento, as cincias humanas deveriam ignorar sua caracterstica de sujeito conhecedor, que o faz humano, e consider-lo objeto. E assim havia a aproximao da filosofia que elaborava teorias sobre o sujeito do conhecimento. Com as convices de que existe distino polar entre o ser humano e a natureza; de que os fenmenos humanos so de natureza subjetiva; e de que o cientista social no pode separar-se dos valores que informam sua prtica; estabelece-se definitivamente a ruptura entre cincias da natureza (objetivas) e cincias do homem. Mas ainda h contradies, como a necessidade de fracionar o homem em ser social e cultural, e ser biolgico, alm de precisar quantificar essa frao (VASCONCELLOS, 2009).

    Considerando ento as dificuldades de trabalhar com os modelos cientficos disponveis, os fenmenos humanos eram muitas vezes avaliados como no cientficos e as cincias humanas eram tidas como atrasadas em relao s cincias naturais. Assim, costuma-se chamar as cincias humanas de soft sciences e as naturais de hard sciences. O Quadro 1 resume as diferentes situaes em relao s trs dimenses do quadro de referncia do paradigma da cincia tradicional.

    Quadro 1 - Paradigma da cincia Tradicional.

    Cincias fsicas Cincias biolgicas Cincias humanas

    Simplicidade Tranquilo Difcil Difcil

    Estabilidade Tranquilo Especialmente difcil Difcil

    Objetividade Tranquilo Tranquilo Especialmente difcil

    Fonte: Vasconcellos, 2009

    As cincias fsicas adotaram facilmente os trs pressupostos epistemolgicos; as cincias biolgicas adotaram facilmente o pressuposto da objetividade, e tiveram problemas com simplicidade e especialmente a estabilidade; j nas cincias humanas houve problemas em relao aos trs pressupostos e especialmente o da objetividade. Observando esses trs eixos, Vasconcellos (2009) distingue os avanos dos pressupostos:

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    Da simplicidade para o da complexidade: reconhece-se que a simplicidade obscurece as inter-relaes dos fenmenos do universo, e que imprescindvel lidar com a complexidade em todos os nveis, considerando ento a contextualizao dos fenmenos e o reconhecimento da causalidade recursiva;

    Da estabilidade para o da instabilidade do mundo: reconhece-se que o mundo est em processo de tornar-se, verificando ento a indeterminao, imprevisibilidade de alguns fenmenos, e assim a irreversibilidade e incontrolabilidade desses;

    Da objetividade para o da intersubjetividade na constituio do conhecimento do mundo: percebe-se que no existe realidade independente de um observador, que o conhecimento cientfico construo social. Assim o cientista admite autenticamente o multirreversa: mltiplas verses da realidade, explicadas em diversos domnios lingusticos.

    Nesse avano, Cunha (2006) exprime a noo de que, do pressuposto da simplicidade para a complexidade, reside o reconhecimento de que imprescindvel ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os nveis, uma vez que a simplificao obscurece as inter-relaes de fato existentes entre todos os fenmenos do universo, resultando em uma atitude de contextualizao dos fenmenos e o reconhecimento da causalidade recursiva.

    O pensamento complexo implica na compreenso que o conhecimento, qualquer que seja ele, sempre limitado, e no oferece garantia de compreenso completa e definitiva da realidade em suas mltiplas dimenses (COSTA, 2007).

    O tema da complexidade vem sendo estudado fortemente h quatro dcadas, sendo tema de colquios, livros e outros eventos e publicaes, a exemplo do colquio As Teorias da Complexidade, motivado pela obra de Henri Atlan, na Frana em 1984, e as publicaes de Morin. Segundo Atlan, o desenvolvimento das cincias da informao comeou a fornecer os meios no s para se colocar a questo de que feita a complexidade?, como para tentar responder a ela. Ele comenta que a complexidade seria o objeto privilegiado das cincias no sculo XX. Morin se dedicou questo da complexidade significativamente, o que pode ser observado atravs de seus diversos escritos, a exemplo dos livros Cincia com Conscincia (1982) e Introduo ao Pensamento Complexo (1990) e a Conferncia Epistemologia da Complexidade, publicada nos anais do Encontro Internacional e Interdisciplinar Novos paradigmas, cultura e subjetividade

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    (1991). Aps tantas discusses, reconhece-se que a complexidade no , como se acreditava, uma propriedade especfica dos fenmenos biolgicos e sociais, tornando-se, portanto, um pressuposto epistemolgico transdisciplinar (VASCONCELLOS, 2009).

    A fsica visava dissipar a aparente complexidade dos fenmenos, a fim de revelar uma ordem simples a obedecer, e usa a matematizao que lhe constitutiva (VASCONCELLOS, 2009). Mas se descobriu, por exemplo, na dinmica, a complexidade macrofsica e a complexidade microfsica, dos tomos e dos astros (VASCONCELLOS, 2009). Ento, a complexidade no uma propriedade especfica dos fenmenos biolgicos e sociais, e assim torna-se um pressuposto epistemolgico transdisciplinar. A fsica ainda trata trs aspectos da complexidade que remetem aos trs novos pressupostos epistemolgicos, sendo: 1 a questo da contradio (onda/corpsculo), atravs dos pesquisadores Planck, Einstein e Bohr, implicando no pressuposto da complexidade; 2 a questo da desordem (molecular), com o pesquisador Boltzman, implicando no pressuposto da instabilidade e 3 a questo da incerteza, de Heisenberg, relacionado ao pressuposto da intersubjetividade. vlido ressaltar que se tratando de cincia novo-paradigmtica, no h compartimentao total, pode-se distinguir uma inter-relao recursiva entre os trs pressupostos epistemolgicos do novo paradigma (VASCONCELLOS, 2009).

    Associado a uma postura construtivista (coconstruo da realidade, por consenso entre observadores, na linguagem), o pressuposto da subjetividade tambm est relacionado a desenvolvimentos contemporneos da ciberntica. Heins Von Foerster, um importante fsico e ciberntico, que construiu na dcada de 1950 o primeiro megacomputador, trouxe para a ciberntica a necessidade de reconhecimento da participao do cientista nas pesquisas, e era preciso a ciberntica aplicar a si mesma os seus princpios, sendo ento a Ciberntica da Ciberntica, ou a Ciberntica de Segunda Ordem. A viso de segunda ordem aquela em que o observador de um sistema se observa observando, onde a sua relao com o sistema tambm objeto de observao. Vasconcellos (2009) comenta sobre a importncia da linguagem na constituio da atualidade quando afirma que tudo que dito, dito por um observador a um observador, e ento evidenciada a conexo no trivial entre observador, linguagem e sociedade, isto , uma relao tridica fechada, onde se necessita dos trs para ter cada um dos trs (VASCONCELLOS, 2009).

    Com a viso geral sobre o novo paradigma da cincia, possvel associar

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    diversos termos aos os novos pressupostos, como exibido na Figura 3.

    Figura 3 - Paradigma da cincia contempornea emergenteFonte: Vasconcellos, 2009.

    Relacionando esse novo paradigma s cincias, pode-se afirmar que nas cincias fsicas e biolgicas, os cientistas no tm se mostrado sensveis s novas colocaes, especialmente a relacionada intersubjetividade. Nas cincias humanas, alguns cientistas parecem estar satisfeitos que agora veio das hard sciences algo que eles acham s confirmar o que j pensavam e faziam. Neste nterim, Vasconcellos (2009) comenta que, aps anos, ainda vlido afirmar que somente poucos tomaram plena conscincia de toda a extenso dos efeitos das revolues cientficas ocorridas no decorrer dos ltimos cem anos.

    Um profissional que vive v o mundo e atua nele as implicaes de ter assumido para si os pressupostos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade pode ser considerado um profissional sistmico. Deve ter o

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    olhar do observador o observador como parte do sistema. Vasconcellos tem usado o quadro da Figura 4 para sugerir que os diversos conceitos utilizados na cincia possam se articular, de forma sistmica. Uma vez que, distinguir as conexes e articulaes tambm uma caracterstica da forma sistmica de pensar (VASCONCELLOS, 2009).

    Figura 4 - Trs dimenses num nico novo paradigma da cincia.Fonte: Vasconcellos, 2009.

    Na viso de Vasconcellos (2009), o pensamento sistmico um pensamento contextual, um pensamento processual, e o pensamento sistmico novo-paradigmtico tambm um pensamento relacional, no sentido de estar necessariamente relacionado ao sujeito/observador.

    Contextualizar significa ver o objeto existindo no contexto. Para Vasconcellos (2009), contexto no significa simplesmente ambiente, mas se refere s relaes entre todos os elementos envolvidos, e as operaes lgicas consequentes so de distino e conjuno permitindo ver a complexidade organizada. Trata-se de promover uma articulao, sem reduzir ou eliminar as diferenas.

    Segundo Costa (2007) a noo de que apenas o objeto se modifica cede espao para a considerao de que no s objeto muda, mas observador tambm, e estes se modificam por meio de um nmero infinito de probabilidades em influncias mtuas. Esta instabilidade demonstra o mundo em processo, um

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    universo de possibilidades passveis de atualizao, dependendo das eleies de opes e das redes de relaes que se estabeleam em um determinado tempo.

    J o pressuposto da intersubjetividade, explica Vasconcellos (2009), reside na constituio do conhecimento cientfico do mundo ser uma formulao social, em espaos consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. A cincia trabalha com mltiplas verses da realidade, admitindo uma realidade multiversa. Exige que o observador reconhea sua participao no processo e se observe observando.

    Considerando a relao tridica dos conceitos complexidade, instabilidade e intersubjetividade, Vasconcellos (2009) apresenta uma prtica de desenvolvimento da viso sistmica na equipe, por exemplo, durante a discusso de um projeto: 1 - Observar as relaes de todos no grupo: relaes intracategorias, extracategorias e intercategorias; 2 - No usar verbo ser, o que forar o uso do estar que prope reflexo de: motivos da ocorrncia do fenmeno, perspectivas de mudanas, contribuies do observador; 3 - Evitar dizer no, propondo a viso prpria, respeitando a validade de todas as opinies, assim elabora hiptese integradora e potencializa o prosseguimento da conversao. A Figura 5 relaciona as prticas com a trade do pensamento sistmico a fim de manter uma mente sistmica.

    Figura 5 - Como manter uma mente sistmica.Fonte: Vasconcelos, 2009.

    Cunha (2006) expressa a noo de que o pensamento sistmico significa pensar em termos de conexes, relaes, contexto, interaes dos elementos de um todo; de ver coisas em termos de redes, teias e comunidades. Como pensamento analtico, significa desconstruir algo para poder entend-lo, pensamento sistmico quer dizer coloc-lo no contexto de um todo maior, levar o indivduo a conhecer (ou reconhecer) mudanas (real ou potencial), crescimento

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    e desenvolvimento, e ver o mundo em termos de sistemas interconectados, envolvendo conhecimento de Ciberntica (padres de controle e comando) e prticas de como lidar com situaes complexas e estruturas dinmicas.

    Princpios e Caractersticas do pensamento sistmicoA noo de sistema (social, educacional, econmico, biolgico, ecossistema)

    aplica-se tanto clula como empresa, ecologia ou economia. Uma abordagem comum que permite compreender melhor e descrever a complexidade organizada a abordagem sistmica.

    Diferentemente da abordagem analtica, que estuda o todo dividindo suas partes constituintes de forma estanque, a abordagem sistmica engloba a totalidade dos elementos do sistema estudado e se apoia na noo de sistema, entendido, segundo Vasconcellos (2009), ao mesmo tempo, como mais que a soma de suas partes e menos do que a soma de suas partes, encerrando uma contradio lgica. Primeiramente, quando o sistema maior que a soma das partes, a sua organizao faz surgir qualidades prprias, que no existiam fora dela, tais como emergncias constatveis empiricamente, porm no dedutveis logicamente. Para o sistema menor que suas partes, a organizao prpria do sistema impe constries inibitrias das qualidades prprias s partes.

    A abordagem sistmica ultrapassa e engloba a abordagem ciberntica, cujo objetivo principal o estudo das regulaes dos organismos vivos e das mquinas. Distingue-se da Teoria Geral dos Sistemas, cujo objetivo consiste em descrever e englobar, em um formalismo matemtico, o conjunto dos sistemas encontrados na natureza. Afasta-se, igualmente, da Anlise de Sistema, cujo mtodo s representa ferramentas de abordagem sistmica que, usada isoladamente, conduz reduo de um sistema em seus componentes e em interaes elementares. Ento, a abordagem sistmica no se relaciona com uma abordagem sistemtica. Esta consiste em abordar um problema ou efetuar uma srie de aes de maneira sequencial, detalhada, nada deixando de fora ou esquecendo algum elemento. Abordagem sistmica , pois, uma revoluo no modo de pensar que ultrapassa a simples descrio dos sistemas da natureza. Constitui um mtodo e regras de ao complementar, porm no oposta abordagem analtica (COSTA, 2007). Uma viso geral dessas abordagens apresentada no Quadro 2.

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    Quadro 2 - Abordagem Analtica e Abordagem Sistmica.

    Abordagem Analtica Abordagem Sistmica

    Isolar: concentra-se nos elementos Liga: concentra-se nas interaes dos elemen-tos

    Considera a natureza das interaes Considera os efeitos das interaes

    Apoia-se na preciso dos detalhes Apoia-se na percepo global

    Modifica uma varivel por vez Modifica os grupos de variveis, simultanea-menteIndependente da durao: os fenmenos con-

    siderados so reversveis Considera a durao e a irreversibilidade

    A validao dos fatos realiza-se pela prova experimental no quadro de uma teoria

    A validao dos fatos realiza-se pela com-parao do funcionamento do modelo com a

    realidadeModelos precisos e detalhados, mas dificil-

    mente utilizveis na ao

    Modelos insuficientemente rigorosos para servir de base aos saberes, mas utilizveis na

    deciso e na aoAbordagem eficaz quando as interaes so

    lineares e fracasAbordagem eficaz quando as interaes so

    no lineares e fortes

    Fonte: Costa, 2007

    O paradigma sistmico tem em sua essncia a Teoria Geral dos Sistemas, visando descrio das propriedades dos sistemas abertos ao equilbrio. O sistema um todo, um complexo de elementos em interao, no qual as propriedades formais so as seguintes: toda mudana ao nvel de um dos elementos provoca mudanas ao nvel do sistema; o todo mais do que a soma das partes: existem efeitos cumulativos complexos ligados ao funcionamento do prprio sistema, efeitos no redutveis soma dos elementos do sistema. Esses elementos so qualificados de propriedade emergentes; a finalidade no pode ocorrer por uma lgica causalista linear; as interaes remetem a uma causalidade circular, caracterizada por crculos complexos de retrocontrole ( feedback); e a manuteno do equilbrio do sistema, a homeostasia, o resultado de um equilbrio dinmico e no de um estado de imobilidade (COSTA, 2007).

    As caractersticas supramencionadas so ricamente interpretadas quando contextualizadas com os princpios da dinmica de sistemas de Ken Wilber, e os princpios dos sistemas, paras as dimenses humanas, de Humberto Maturana.

    Sendo alguns citados anteriormente, so parte dos grandes autores com obras relacionadas s teorias ligadas ao pensamento sistmico: Norbert Wiener com a obra Cybernetics publicada em 1948, Ludwing von Bertalanffy com a publicao de General Systems Theory em 1968, Ken Wilber e sua obra Uma

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    teoria de tudo, de 2003, Humberto Maturana em parceria com Francisco Varela com a obra De mquinas e seres vivos. Autopoiese, a Organizao do Vivo em 1997, em parceria com Ximena DAvila com Habitar Humano em 2008, dentre outros. Um dos maiores autores do pensamento sistmico Edgar Morin, com a obra Inteligncia da Complexidade de 1999. Ainda so importantes as obras de Jay Forrester, a exemplo de Industrial Dynamics (1961) e Urban Dynamics (1969), de Peter Senge com A Quinta Disciplina em 1990, Pensamento sistmico: caderno de campo, organizado por Aurlio Andrade em 2006, e Pensamento Sistmico: o novo paradigma da Cincia, de Maria de Vasconcellos em 2002. Estes autores realizaram diversas outras publicaes, no citadas aqui, mas que certamente contribuem significativamente para o entendimento e aplicao do Pensamento Sistmico.

    O interesse pelo pensamento sistmico, especialmente no Brasil, est relacionado fortemente obra de Peter Senge, que simplificou e popularizou a questo da aprendizagem organizacional, sendo um dos maiores best sellers de administrao. Ademais contribuiu notavelmente com a criao da Society for Organization Learning (SOL), de atuao mundial, que leva os profissionais a se debruarem sobre a questo da aprendizagem e mudana nas organizaes atravs de uma leitura transdisciplinar (VALENA, 2011).

    Para Senge (2009), a importncia do pensamento sistmico, que ele chama de quinta disciplina, est na compreenso dos fenmenos e realidades complexas, criando modelos diagnsticos que detectam os modelos mentais das pessoas e como elas percebem uma realidade complexa, mediante o uso dos arqutipos sistmicos. As cinco disciplinas definidas por Senge, para a aprendizagem organizacional consistem, simplificadamente, em: 1 domnio pessoal aprender a expandir as capacidades pessoais para criar resultados almejados, e propiciar ambiente organizacional que estimule o desenvolvimento pessoal de todos em direo de seus ideias; 2 modelos mentais identificar, refletir, descrever e esclarecer continuamente, melhorar a viso de mundo, verificar como moldar atos e decises, rever modelos mentais e ajust-los realidade; 3 viso compartilhada estimular o compromisso do grupo desenvolvendo imagens compartilhadas do futuro e elaborar princpios e diretrizes que permitiro alcanar esse futuro; 4 aprendizagem em equipe desenvolver as habilidadesn pessoais e coletivas de conversao e raciocnio compartilhados a fim de superar a soma dos talentos individuais; e 5 pensamento sistmico analisar e compreender a organizao como um sitema integrado, apreciando

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    com uma nova linguagem para descrever, compreender e atuar sobre foras e inter-relaes que modelam o comportamento dos sistemas.

    O pensamento sistmico, para Senge (2009) a disciplina sistematizadora e integradora das demais, dando consistncia e forma a todas as outras, quando interligadas. Este pensamento pode ser avaliado atravs de seu nvel de complexidade, a saber:

    reativo foca exclusivamente nas respostas aos estmulos dos eventos;

    adaptativo comportamento preventivo agregado habilidade de predies considerando tendncias

    criativo capacidade de compreender e modificar os modelos mentais que provocam as tendncias;

    generativo raciocnio e comportamento intervetor sobre o nvel da viso partilhada, que nasce das vises comuns implcitas nas estruturas dos modelos mentais.

    De acordo com Valena (2011) e Andrade e associados (2006), as mudanas provocadas pelo uso do pensamento sistmico remetem essencialmente s caractersticas:

    1. Das partes para o todo A totalidade refere-se ao interesse nas caractersticas do todo integrado e dinmico, que esto nos relacionamentos entre as partes, entre elas e o todo, e entre o todo e outros todos. Prope-se a ateno aos princpios bsicos de organizao e a busca pelo equilbrio entre tendncias opostas, como anlise e sntese.

    2. Dos objetos para os relacionamentos Um objeto ou parte do objeto um padro abstrato numa teia de relaes com alguma estabilidade, e que est permanentemente coevoluindo por meio de interaes.

    3. Das hierarquias para as redes O pensamento em rede importante visto que a realidade tende a ser uma rede tnue, mvel, flexvel e instvel de relacionamentos. O processo de conhecimento tece teia de descries construdas em rede, de forma que a metfora do conhecimento como edifcio vai sendo substituda pela metfora da rede. Assim, as descries do mundo acabam por formar uma rede interconectada de concepes e de modelos.

    4. Da causalidade linear para a circularidade A causalidade circular

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    fator essencial para a compreenso do comportamento e da sustentao dos sistemas complexos, considerando-se o ambiente contextual. Busca-se um entendimento integral da realidade por meio das relaes circulares de causa e efeito, conhecidas por feedback, loops ou enlaces de retroalimentao (ampliao e equilbrio), em vez de apenas por meio de relaes lineares de causa e efeito.

    5. Da estrutura para o processo preciso um duplo reconhecimento: que a estrutura de um sistema complexo influencia fundamentalmente o funcionamento de seus processos, e que os processos fundamentais estabelecem padres de organizao que se materializam em estruturas. Assim, entende-se que a rede inteira de relacionamentos vista como intrinsecamente dinmica, pois a estrutura uma manifestao dos processos subjacentes.

    6. Da metfora mecnica para a metfora do organismo vivo e outras no mecnicas H nfase nas metforas orgnicas, vivas, sistmicas, em substituio s mecnicas, uma vez que utilizam conceitos como: contexto, ambiente, relaes, mutualidade, fluxos, fronteiras permeveis, processos, desenvolvimento e evoluo, que so essenciais no mundo cada vez mais interconectado e em mudana.

    7. Do conhecimento objetivo para o conhecimento textual e epistmico Percebe-se que h objetividade na pesquisa cientfica quanto ao mtodo, porm a teia especfica de relacionamentos a ser investigada e suas fronteiras dependem vastamente da subjetividade, dos interesses, das crenas e dos paradigmas de quem selecionou. Assim, observa-se a necessidade de mudana de postura sobre o processo de observao e de conhecimento, suscitando a tendncia da cincia para heurstica, interpretao, hermenutica, e definio democrtica das situaes.

    8. Da verdade para as descries aproximadas Atravs da modelagem, considera-se que as concepes e teorias so limitadas e aproximadas, no devendo buscar a verdade, mas buscar as descries aproximadas teis dentro de um contexto.

    Da quantidade para a qualidade Como as propriedades dos objetos so dependentes de contextos, relaes, formas e padres, as mensuraes precisam

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    de uma contextualizao na teia maior de relacionamento, sendo necessria flexibilidade, envolvendo visualizao e mapeamento. Isso exige uma postura mais qualitativa e condicionada do que quantitativa e comparativa.

    Do controle para cooperao, influenciao e ao no violenta Reconhecendo os padres de comportamento, entende-se que a evoluo depende de um equilbrio dinmico entre competio e cooperao. Este metaprincpio de coevoluo vlido para todos os fenmenos da natureza, especialmente para os sistemas vivos. Assim, deve haver a organizao da complexidade, e no a transferncia do controle. Os sistemas humanos hierrquicos que trabalham com controle unilateral so insustentveis, devendo-se imitar a natureza, considerando tendncias autoafirmativas e integrativas.

    A Figura 6 ilustra os dez princpios supracitados e os trs pressupostos do pensamento sistmico.

    Figura 6 - Princpios e pressupostos do pensamento sistmico.Fonte: A autora.

    Em sua obra Aprendizagem Organizacional, Valena (2011) comenta que

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    a disciplina do pensamento sistmico tem como objetivos principais tornar mais claras as inter-relaes, as causas estruturais e os processos de mudanas para lidar com a complexidade dinmica e alavancar mudanas. Apresentados por Senge (2009) e por Valena (2011), alguns princpios e pressupostos que embasam o uso do pensamento sistmico como um conjunto de conhecimentos e instrumentos so:

    Holismo modo de perceber os outros, a si mesmo e o mundo como partes interdependentes, e responsveis pelos prprios problemas;

    Interligao habilidade de relacionar causalidade e influncia entre eventos, mesmo havendo distncia de ocorrncia, tempo e espao;

    Influncia da estrutura no comportamento compreenso da causalidade estrutural na influncia e no controle dos comportamentos e eventos, e percepo de padres de estrutura que gerem processos de reforo e balanceamento;

    Resistncia ao sistema percepo da tendncia dos sistemas resistirem s tentativas de mudanas de comportamento, e que paliativos provocam retorno e/ou ampliao dos problemas futuramente.

    Alavancagem criao de situaes que permitam ampliar objetivos e experimentar diferentes estratgias de ao, a partir de novas vivncias pessoais, compreendendo que alteraes nas estruturas crticas tm efeito significativo e duradouro.

    Carvalho (2009) discorre que os cientistas e gerentes podem concordar sobre um mtodo para realizar uma investigao, mas o encadeamento de relaes a ser considerado e os limites dependem significativamente do arcabouo individual do proponente. Destarte, com o objetivo de reduzir esta subjetividade, Valena (2011) defende que a linguagem deve se preocupar com o que observvel, descritivo, de modo a poder estabelecer concluses reflexivas e manter as conversaes compreensivas. E complementa:

    A ideia que a linguagem sistmica ajude a tornar mais completas, abrangentes e profundas as percepes das pessoas, de modo que passem a ver o mundo como se fosse um organismo vivo, identificando, na sua complexidade, os vrios subsistemas, bem como a dinmica existente em cada fenmeno (VALENA, 2011).

    Atravs da linguagem sistmica, fatores relevantes no sistema, chamados de

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    variveis, numa determinada leitura so interligados, e contextualizadas numa gramtica prpria. Propicia a viso do todo, identificando qualquer situao de forma integrada, atravs de crculos de causalidade.

    Neste contexto, percebe-se a amplitude do uso do pensamento sistmico em diferentes reas e momentos na sociedade cada vez mais dinmica. Sobre o primeiro dos princpios, o da totalidade ou do holismo, Chiavenato corrobora quando explica:

    O holismo ou abordagem holstica a tese que sustenta que a totalidade representa mais do que a soma de suas partes, como os organismos biolgicos, sociedades ou teorias cientficas. [...] O todo no deve ser comparado com agregaes aditivas. Por essa razo, no vemos apenas as linhas e pontos numa figura, mas configuraes isto , um todo , e no ouvimos sons isolados numa cano, mas a cano em si mesma. (CHIAVENATO, 2000)

    Valendo-se do possvel uso do pensamento sistmico nas diversas cincias, seus conceitos tambm podem ser aplicados Gesto de Projetos de Software (GPS) que um segmento da Engenharia de Software. Esta aplicao foco do presente trabalho, mais especificamente sobre o sucesso de projetos de software, que apresentado no captulo 4, para um eficiente delineamento do problema tratado na investigao.

    A seguir sero mostrados pontos relevantes sobre a gesto de projetos em organizaes pblicas, de acordo com alguns autores, com a inteno de conhecer a realidade do servio pblico e verificar mais adiante as possveis influncias do pensamento sistmico nessa seara.

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    CAPTULO 3 GESTO DE PROJETOS EM ORGANIZAES PBLICAS

    A busca de uma nova abordagem para a administrao pblica tem sido um desafio constante entre aqueles que de alguma forma gerenciam ou lideram uma equipe de trabalho em rgo pblico. Neste nterim, a informao, o conhecimento e as transformaes inerentes conjuntura global tm papel fundamental na gesto de projetos de sucesso em qualquer empresa, principalmente na pblica, foco desta pesquisa.

    A pesquisadora Di Pietro (2001) afirma que rgo pblico uma unidade que congrega atribuies exercidas pelos agentes pblicos que o integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado. O provimento dos cargos para este rgo pblico d-se somente por concurso pblico obedecendo aos critrios legais. A Lei n. 2.148 menciona que:

    Funcionrio Pblico a pessoa legalmente investida em cargo pblico e que mantenha com o Estado vnculo de profissionalidade de natureza administrativa e no contratual. J o Cargo Pblico, o conjunto de atribuies e responsabilidades permanentes cometidas a um funcionrio, que, mediante lei, seja criado com denominao prpria, nmero certo e vencimento a ser pago pelo Estado (1977, Art.2, Ttulo I).

    Gesto no setor pblicoHassounah (1997) comenta sobre estudos que indicam caractersticas

    distintivas das organizaes e gerncias pblicas em relao ao setor privado. Dividem-se em trs categorias:

    1. Fatores ambientais: Por no possuir indicadores tais como preos, lucros,

    participao no mercado, o processo de tomada de deciso diferenciado, e assim ainda baixo o incentivo para se reduzir custos, aumentar a eficincia e melhorar o desempenho operacional;

    A presena de inmeros instrumentos legais, do poder legislativo ou da hierarquia executiva, estabelece limitaes a

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    nvel operacional, estimula a proliferao formal de controles administrativos e introduz fontes externas de autoridade e de influncia com grande fragmentao entre as mesmas;

    A presena de influncias polticas externas determina diversos mecanismos a serem adotados durante a tomada de decises, tais como barganha poltica, lobby, grupos de interesse e presso atravs da opinio pblica, alm de estabelecer a necessidade de se obter suporte poltico para que se possa implementar as aes desejadas.

    2. Interao entre as Organizaes e o Ambiente: Os bens ou servios pblicos produzidos pelas organizaes

    pblicas no so facilmente transferidos para o consumo a preo de mercado;

    A participao da sociedade se configura como mandatria, uma vez que o governo possui poderes nicos e muitas vezes o nico provedor de um determinado bem ou servio;

    As atividades governamentais frequentemente exercem um grande impacto na populao e possuem alto significado simblico.

    3. Funo, estrutura e processos das organizaes: Difcil avaliao de desempenho organizacional devido

    multiplicidade de objetivos existncia de metas conflitantes; Gerentes do setor pblico exercem funo politizada, expem-

    se mais ao meio poltico, enfrentam frequentemente situaes de crise e so desafiados a acomodar relaes polticas com funes gerenciais / operacionais;

    As limitaes institucionais e influncias polticas externas podam a autonomia e a flexibilidade dos gerentes para tomada de decises;

    Os nveis mais altos de gerncia pblica tendem a burocratizar processos de reviso e aprovao, e usam mais frequentemente regulamentos formais para controlar os nveis subordinados;

    A alta rotatividade de gestores pblicos devido a eleies ou nomeaes provoca dificuldades maiores para a implementao de estratgias e inovaes;

    Existe a percepo no setor pblico de que a relao entre

  • desempenho profissional e incentivo mais fraca do que a existente no setor privado, uma vez que estudos indicam que funcionrios pblicos se sentem administrativamente limitados quanto aos termos de incentivos extrnsecos tais como salrio, promoo e ao disciplinar.

    Funcionrios pblicos valorizam mais a oportunidade de servir populao do que meramente a existncia de incentivos monetrios; entretanto, os nveis de satisfao ao trabalho e de engajamento organizacional so menores no setor pblico que no privado.

    Considerando as peculiaridades das organizaes pblicas, notvel a necessidade de emergir para uma modernidade na gesto. Em busca de avanos, a gesto pblica tem aplicado diversas aes reformistas como programas governamentais e redefinio de eixos estratgicos.

    Inmeras iniciativas baseadas em conceitos de qualidade total tm sido desenvolvidas para se melhorar o desempenho das organizaes governamentais na prestao de servios populao. O envolvimento nestas iniciativas foi estimulado pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), lanado em 1990. Mais recentemente, Programa Nacional de Apoio Modernizao da Gesto e do Planejamento dos Estados e do Distrito Federal (Pnage) e o Programa de Modernizao do Controle Externo dos Estados e Municpios Brasileiros (Promoex) priorizaram a reconstruo da administrao pblica em suas variveis vinculadas ao planejamento, aos recursos humanos, sua interconexo com as polticas pblicas e ao atendimento dos cidados. Para Abrucio (2007), a ao reformista da gesto pblica considera as questes centrais para a modernizao do Estado brasileiro, sendo propostos quatro eixos estratgicos: profissionalizao, eficincia, efetividade e transparncia/accountability; que esto explicados abaixo.

    Alusivo profissionalizao da burocracia, h cinco questes importantes que devem nortear a modernizao administrativa. A primeira se refere reduo dos cargos em comisso, minimizando brechas para a corrupo. A segunda a profissionalizao do alto escalo governamental, com escolha atravs de processo transparente, divulgando o currculo e com controle

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    ininterrupto. interessante tambm trazer profissionais do mercado e da academia para oxigenar a administrao pblica e incorporar novas tcnicas e conhecimentos, o que j vem sendo feito, mas tais escolhas poderiam ser mais transparentes e mesmo competitivas. A terceira questo refere-se redefinio e fortalecimento das carreiras estratgicas de Estado. Um quarto aspecto referente profissionalizao diz respeito ao aumento do investimento em capacitao dos servidores pblicos. E, a construo de um novo relacionamento entre o Estado e os sindicatos dos servidores pblicos completa o quadro da profissionalizao. Neste quesito, a questo mais premente a regulamentao do direito de greve, dando-lhe um carter mais prximo da negociao coletiva, com direitos e deveres mtuos para o governo e para os funcionrios (ABRUCIO, 2007).

    O segundo eixo estratgico o da eficincia. Neste nterim, uma questo-chave a mudana na lgica do oramento, caracterizada pelo descompasso entre o planejamento mais geral de metas e a forma como a pea elaborada e executada anualmente. Um instrumento com grande potencial para elevar a eficincia governamental no Brasil o governo eletrnico, tornando mais transparente a escolha dos fornecedores ou executores de servios pblicos, e que deve permitir ainda um acompanhamento da execuo de tais despesas, em tempo real. A eficincia, alm de reduzir gastos governamentais, pode otimizar os recursos disposio do Estado e dos cidados. V-se que polticas de desburocratizao podem reduzir os custos das atividades estatais e, tambm, melhorar a vida da populao, reduzindo seus custos de transao para obter servios pblicos. Refora-se que desburocratizar no s aumenta a eficincia como tambm combate a corrupo e, principalmente, coloca os cidados em p de igualdade (ABRUCIO, 2007).

    A efetividade outro eixo fundamental para uma viso de gesto de longo prazo, uma vez que as polticas pblicas cada vez mais tm seu desempenho avaliado pelos resultados efetivos que trazem aos cidados. A gesto por resultados hoje a principal arma em prol da efetividade das polticas pblicas. Nesse sentido, preciso orientar a administrao pblica por metas e indicadores. A lgica segmentada das polticas pblicas deve tambm se transformar. Para tanto, aes intersetoriais e programas transversais devem ser priorizados. Deve-se tambm aumentar o entrosamento entre os nveis de governo, uma vez que os entes locais executam as aes, mas precisam de colaborao horizontal e vertical para ter sucesso. Ademais, deve-se fortalecer a regulao dos servios pblicos, ressaltando que regular bem significa no s garantir o carter pblico

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    dos servios, mas tambm a sua qualidade (ABRUCIO, 2007).Aumentar a transparncia e a responsabilizao do poder pblico constitui o

    ltimo eixo estratgico desta proposta de reformas, pois a administrao pblica brasileira ser mais eficiente e efetiva quando puder ser cobrada e controlada pela sociedade. Para tanto deve haver transparncia e punio dos envolvidos em corrupo. Tribunais de contas, conselhos de polticas pblicas e ouvidorias precisam cumprir seus papis institucionais efetivamente, e tambm necessrio mudar o atual sistema poltico, pois atualmente os partidos so muito distantes dos cidados, e parte significativa das legendas constitui apenas um veculo eleitoral para polticos personalistas, consubstanciado no troca-troca partidrio (ABRUCIO, 2007).

    Para ocorrer uma modernizao democratizadora preciso criar entidades sociais independentes que aumentem e disseminem o conhecimento sobre as aes e os impactos dos programas governamentais, principalmente entre acadmicos, intelectuais e, universidade, pois vlido tanto para entender de forma sistemtica e sistmica as polticas pblicas, quanto para repassar populao, de maneira acessvel, indicadores e alternativas de polticas (ABRUCIO, 2007).

    Considerando as teorias administrativas, a Teoria da Burocracia caracteriza-se por uma abordagem descritiva e explicativa. Diferente das teorias normativas e prescritivas que se preocupam em estabelecer como o administrador deve lidar com as organizaes, o modelo burocrtico atm-se em descrever, analisar e explicar as organizaes, a fim de que o administrador escolha a maneira apropriada de lidar com elas, levando em conta sua natureza, tarefas, participantes, problemas, situao, restrio etc., aspectos que variam intensamente (CHIAVENATO, 2000).

    A burocracia uma forma de organizao humana que se baseia na racionalidade, isto , na adequao dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a mxima eficincia possvel no alcance desses objetivos (CHIAVENATO, 2000).

    As consequncias desejadas pela burocracia resumem-se na previsibilidade do funcionamento da organizao no sentido de obter a maior eficincia, e so obtidas a partir das caractersticas especficas do modelo burocrtico. Ademais, foi observada a existncia das consequncias imprevistas que levam ineficincia e s imperfeies, conhecidas como disfunes da burocracia. Toda disfuno o resultado de algum desvio ou exagero em cada uma das caractersticas

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    do modelo burocrtico. Para ilustrar, caractersticas do modelo burocrtico e disfunes da burocracia so apresentadas pela Figura 7.

    Figura 7 - Caractersticas e disfunes da burocracia.Fonte: Chiavenato, 2000

    Percebe-se que as disfunes da burocracia so enaltecidas pelos leigos, e por isso segundo o conceito popular, a burocracia entendida como uma organizao onde o papelrio se avoluma, impedindo solues rpidas ou eficientes, alm de ser relacionada ao apego dos funcionrios aos regulamentos e rotinas, causando ineficincia organizao. Porm os cientistas tm dado nfase aos resultados positivos e s funes da organizao burocrtica.

    No h um tipo nico de burocracia. Existem graus variados de burocratizao, que so determinados por dimenses. As empresas so portadoras de caractersticas do modelo burocrtico em diversos graus das dimenses da burocracia que variam independentemente. Os graus de burocratizao podem ser contextualizados atravs da Figura 8.

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    Figura 8 - Os graus de burocratizao.Fonte: Chiavenato, 2000.

    A necessidade de fortalecer a imagem do servio pblico junto sociedade e de reorientar os mecanismos de gesto para resultados tem provocado iniciativas voltadas para a reduo das diferenas entre mercado de trabalho pblico e privado. Neste sentido, Marini (2005) comenta sobre algumas tendncias no ambiente do emprego pblico:

    Um diferencial competitivo a gesto do capital intelectual, que se d atravs da mecanizao ou externalizao do trabalho menos qualificado. Passa do homo faber para o homo sapiens;

    Flexibilidade dos regimes atravs da reconfigurao das jornadas de trabalho, estimulando novas modalidades de trabalho virtual e distncia; para atender a incorporao massiva das mulheres no mercado, a compatibilizao da vida profissional com a pessoal, e aumentar a capacidade de adaptao.

    Desafio de reconverso laboral para o governo, uma vez que h a reduo do emprego nos nveis operacionais e assim cresce a demanda por trabalho qualificado;

    Diversidade e flexibilidade dos contratos de trabalho, com redefinio e descentralizao dos locais de trabalhos substituindo

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    a uniformidade e a padronizao, tpicas da era industrial.

    Competncias IndividuaisEm um contexto da nova economia, onde a moeda corrente a informao

    e o modelo de negcios faz uso das redes e das facilidades de comunicao, observa-se que a base da sociedade e dos profissionais o conhecimento. Assim, espera-se que os indivduos sejam universalmente instrudos e demonstrem ter diversas habilidades que o tornem aptos a enfrentarem este novo modelo de mercado de maneira criativa e empreendedora.

    Maria Odete Rabaglio explica o que considera os trs ingredientes da competncia:

    Conhecimentos para o cargo: refere-se necessidade que o cargo tem de formao acadmica, conhecimentos tcnicos, especialidades. Nessa etapa da competncia, no se exige prtica, apenas formao e pr-requisitos necessrios ao cargo.Habilidades: experincia, prtica, domnio do conhecimento. [...]Atitude: valores, emoes, sentimentos expressos atravs do comportamento humano, que, por meio de uma metodologia, torna possvel identificar o perfil comportamental necessrio para cada cargo. (RABAGLIO, 2008)

    Outros classificam como as trs dimenses da competncia: conhecimentos (o saber), habilidades (o saber fazer) e as atitudes (o saber ser ou querer fazer).

    Com efeito, pode-se afirmar que a competncia est vinculada capacidade de realizar algo mediante a utilizao de alguns recursos. Esses recursos so os conhecimentos, as habilidades e as atitudes, adquiridos por meio de formao e experincias de vida. Como j mencionado, o conhecimento est relacionado quilo que se sabe. As habilidades quilo que se sabe fazer. E as atitudes, quilo que se quer fazer.

    Estudos abordam um conjunto de competncias associadas a posturas que auxiliam no levantamento do perfil esperado pelo indivduo em organizaes que atuam em servios da nova economia. Entende-se por competncia uma caracterstica que engloba diferentes traos de personalidade, habilidades e conhecimentos, influenciados pela experincia, capacitao, educao, histria familiar e aspectos demogrficos peculiares pessoa. As competncias de um indivduo so, portanto, formadas por um conjunto de fatores que podem ser influenciados, inclusive, pelo meio em que a pessoa est inserida.

    Os estudos de Man e Lau (2000) categorizam as competncias em seis reas

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    distintas de comportamento: competncia de oportunidade, de relacionamento, conceituais, administrativas, estratgicas e de comprometimento. Alm disso, existe uma competncia de equilbrio trabalho/vida pessoal.

    So elas: 1 - A competncia de oportunidade est relacionada capacidade de reconhecer convenincias. Nesta competncia entra a percepo de potencial para melhores resultados, por exemplo. 2 - As competncias de relacionamento tm a ver com o saber fazer relacional, ao n