ELISÂNGELA LEITE A trajetória de Abdias...

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A trajetória de Abdias Nascimento Quando se fala de cultura negra não se pode esquecer o nome de Abdias Nascimento. Uma pessoa à frente de seu tempo, que lu- tava contra toda forma de discriminação ra- cial, com uma trajetória incansável. Abdias deixou um vasto legado, como obras que se encontram no Instituto de Pesquisas e Estu- dos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). PÁGINA 4 71 ANO VI. NOVEMBRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. Helena Edir integra a direção da Redes da Maré e não se furta a contar histórias e episódios que viveu por ser uma mulher negra. “Uma vez um rapaz, que não me conhecia, deixou o copinho de café cair no chão e eu estava chegando na sala naquela hora. Ele olhou para mim e disse: vá buscar um pano de chão para limpar essa sujeira. E eu respondi: tem pano na copa. Você pode ir pegar para limpar. Sabe o que é? Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção”. PÁGINAS 8 E 9 DIVULGAÇÃO IPEAFRO ELISÂNGELA LEITE Documentário preserva memória das avós negras As protagonistas do filme "As griottes da Maré" são mulheres que chegaram à Nova Holanda ainda nos anos 1970, sem saber se sequer ficariam por lá. Passados os anos, elas continuam morando ali, comparti- lhando o dia a dia com filhos, netos, bisne- tos e até tataranetos. PÁGINAS 6 E 7 As mulheres negras são as que ganham menos PÁGINA 11 Intolerância: maioria dos casos é contra religiões afro-brasileiras PÁGINA 12 A violência contra jovens e adolescentes negros PÁGINA 13 A denúncia da discriminação racial ELISÂNGELA LEITE EDIÇÃO ESPECIAL MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA

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A trajetória de Abdias NascimentoQuando se fala de cultura negra não se pode esquecer o nome de Abdias Nascimento. Uma pessoa à frente de seu tempo, que lu-tava contra toda forma de discriminação ra-cial, com uma trajetória incansável. Abdias deixou um vasto legado, como obras que se encontram no Instituto de Pesquisas e Estu-dos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). PÁGINA 4

71ANO VI. NOVEMBRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO.

Helena Edir integra a direção da Redes da Maré e não se furta a contar histórias e episódios que viveu por ser uma mulher negra. “Uma vez um rapaz, que não me conhecia, deixou o copinho de café cair no chão e eu estava chegando na sala naquela hora. Ele olhou para mim e disse: vá buscar um pano de chão para limpar essa sujeira. E eu respondi: tem pano na copa. Você pode ir pegar para limpar. Sabe o que é? Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção”. PÁGINAS 8 E 9

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Documentário preserva memória das avós negrasAs protagonistas do filme "As griottes da Maré" são mulheres que chegaram à Nova Holanda ainda nos anos 1970, sem saber se sequer ficariam por lá. Passados os anos, elas continuam morando ali, comparti-lhando o dia a dia com filhos, netos, bisne-tos e até tataranetos. PÁGINAS 6 E 7

As mulheres negras são as que ganham menos PÁGINA 11

Intolerância: maioria dos casos é contra religiões afro-brasileirasPÁGINA 12

A violência contra jovens e adolescentes negros PÁGINA 13

A denúncia da discriminação racial

ELIS

ÂN

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A LE

ITE

EDIÇÃO ESPECIAL

MÊS DA CONSCIÊNCIA

NEGRA

UMA INICIATIVA:

Redes de Desenvolvimento da Maré

DIRETORIA:

Andréia Martins Edson Diniz Nóbrega Júnior Eliana Sousa Silva Helena Edir

APOIO:

16 Associações de Moradores da Maré

Observatório de Favelas

Conexão G

Luta pela Paz

Vida Real

REALIZAÇÃO:

R. Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda - Maré Rio de Janeiro - RJCEP: 21044-242Telefone: (21) 3105-5531

(21) [email protected]

PARCERIA:

OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM A OPINIÃO DO JORNAL.

PERMITIDA A REPRODUÇÃO DOS TEXTOS, DESDE QUE CITADA A FONTE.

EDITOR EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL Marcílio Brandão(Mtb – 1076 / PE)

EDITOR ASSISTENTEHélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

JORNALISTAS COLABORADORAS

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FOTÓGRAFA

Elisângela Leite

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Mórula_Oficina de ideias

IMPRESSÃO

Folha Dirigida

TIRAGEM

50 mil exemplares

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ELEIÇÕES

EXPEDIENTE

humor | André de Lucena

Um menino capturado durante uma das incursões de tropas coloniais contra Palmares, anos depois, vi-

ria a ser o rei do Quilombo. Zumbi nasce-ra livre, provavelmente em 1655, mas de-pois de aprisionado foi entregue ao padre português Antônio Melo. Aprendeu a ler e escrever português e latim. Aos dez anos tornou-se coroinha do padre. Mas aos quinze anos fugiu e voltou ao Quilombo. Em 1678, o então chefe dos Palmares, seu tio Canga-Zumba, fez acordo de paz com o governo de Pernambuco. Zumbi reagiu e rompeu com ele. E foi aclamado rei de Palmares. A partir daquele momento, ele comandou a resistência à escravidão du-rante 17 anos. Morreu em 1695, no dia 20 de novembro, data que hoje representa o dia da consciência negra. Nesta edição do Maré de Notícias, em homenagem à memória de Zumbi, vamos saber mais das condições da população negra do Brasil. Vamos entender um pouco por que, nos últimos 20 anos, o Brasil teve iniciativas para reduzir das desigualda-des sociais e raciais, mas fracassou. As desigualdades persistem, negros e ne-gras ocupam postos de trabalho mais precários, ganham menos, estudam me-nos e morrem mais cedo, uma grande parcela vítima de assassinatos quando ainda estão na faixa etária dos 15 aos 29 anos. E ainda são perseguidos por cau-sa de suas crenças. Vamos também co-nhecer melhor aspectos da cultura negra pouco divulgados no Brasil. Esperamos que tenham todos uma boa leitura.

EDITORIAL Da favela à Câmara Municipal

A cidade do Rio de Janei-ro, nas eleições deste ano, conseguiu renovar em 35%

os seus representantes no Legis-lativo. Dos 51 vereadores eleitos, 18 vão ocupar, em 2017, as vagas de vereadores que não se reele-geram. Para 17 deles, é o primei-ro mandato. É o caso de Marielle Franco, que conquistou o quin-to lugar entre os mais votados: 46.502 votos. Engajada na luta pe-los Direitos Humanos e criada no bairro da Maré, Marielle, hoje, aos 37 anos, é socióloga, com mestra-do em Administração. Neste mês da consciência negra, ela fala ao Maré de Notícias sobre sua tra-jetória e como pretende atuar a favor da mulher, dos direitos de negras e negros e da favela.

Entrevista a Thamyra Thâmara

MN - Como moradora de favela que chegou à universidade, que importância teve essa experiên-cia na sua trajetória consideran-do esse momento que se lança na política como vereadora?MARIELLE - Como favelada e ne-gra, chegar em lugares onde não se espera a nossa presença sempre foi um desafio. É difícil estar na univer-sidade sem ter os recursos que mui-tos dos colegas têm, é desigual de verdade. Tive que trabalhar, estudar e cuidar da minha filha ao mesmo tempo. Enquanto meus colegas só precisavam estudar, fazer cursinhos de línguas e conhecer o mundo. Na política, a história se repete com al-guns ingredientes a mais, enfrenta-mos o machismo e campanhas mi-lionárias que colocam as favelas em um esquema de troca de votos por favores. Ou seja, a minha trajetória trouxe a experiência de estar no lu-gar em que essa sociedade desigual, racista e machista não espera ou não quer que eu esteja.

MN - Antes da sua candidatura para a Câmara Municipal, você coordenou a Comissão de Di-retos Humanos na Assembleia Legislativa, como assessora do deputado Marcelo Freixo. Como era seu trabalho lá?MARIELLE - O trabalho na Comis-são é muito árduo, mas também muito de gratificante. Atendemos desde famílias inteiras sem con-dições mínimas de sobrevivência a pessoas que perderam seus en-tes queridos. Foi ali que aprendi que dor nenhuma é maior que a outra. Não temos o direito de hie-rarquizar a dor. Dor é dor e ponto. Na Comissão compreendi o papel da mulher na resistência, na luta pelo direito de seus companheiros e filhos viverem. Já que a maio-ria dos atendimentos são para as mulheres. As famílias chegam ali depois que todos os seus direitos foram desrespeitados.

MN - Quais os projetos que preten-de levar ao legislativo municipal?MARIELLE - As nossas principais ações legislativas serão nos campos

da política para as mulheres, negri-tude e favela. Queremos garantir a maior inclusão das mulheres e da juventude de favela no mercado de trabalho e em cargos de chefia. Os temas relacionados à educação e à primeira infância também estão no nosso rol de prioridades.

MN - E a questão da discrimina-ção da população negra e afro-descendente, como pretende tra-balhar no seu mandato?MARIELLE - O assassinato da ju-ventude negra e a intolerância às religiões de matriz africana são práticas resultantes do racismo. Milhares de jovens entre 16 e 29 anos são mortos e centenas de templos religiosos são atacados, por ano. Vamos estimular a cria-ção de editais e orçamento para a cultura negra de rua como roda de samba, o jongo, a capoeira, o rap e o funk. Além de fiscalizar o cumprimento da Lei 10.639/03 que tornou obrigatório nas esco-las o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira no Brasil.

MN - Como uma vereadora pode contribuir para a redução das de-sigualdades, considerando que as favelas e as periferias são regiões que sofrem com estereótipos e preconceitos que acabam refle-tindo nas políticas públicas?MARIELLE - O que existe é a uti-lização da política como trampo-lim pessoal, por isso a favela se torna alvo fácil de políticos cor-ruptos que buscam seus próprios privilégios. E muitos entram na política para que os pobres con-tinuem pobres e os ricos conti-nuem ricos. E a favela é alvo de políticas públicas que não aten-dem a real necessidade. O que é mais importante: um teleférico ou saneamento básico? Essa de-cisão deveria ser da população e não de políticos e empresá-rios trancados em um gabinete fechado. É isso que temos que mudar. A nossa ideia é que as políticas públicas sejam pensa-das com e para as pessoas, prin-cipalmente nas favelas.

As nossas principais ações legislativas serão nos campos da política para as mulheres, negritude e favela”MARIELLE FRANCO

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MILITANTE

Uma trajetória de luta pela cultura negraHÉLIO EUCLIDES

Quando se pensa em cultura negra no Brasil logo nos remetemos a luta do

ativista Abdias Nascimento pelo povo afrodescendente. Uma pessoa à frente de seu tempo, que lutava contra toda forma de discriminação racial, com uma traje-tória incansável. Abdias deixou um vasto legado, como obras que se encontram no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro--Brasileiros (IPEAFRO). Após sua morte, a esposa e cofundadora do IPEAFRO, Elisa Larkin, continua a trajetória de luta pela igualdade racial.

Muito jovem Abdias já se revelava questionador das desigualdades raciais. No exército resistiu ao racismo e foi ex-pulso por não aceitar entrar pela porta dos fundos. Indo morar fora do país, na Bolí-via e na Argentina, entrou em contato com muitas experiências no campo das artes, em especial com o Teatro de Puebla. Vol-tou em 1941 para o Brasil e quando che-gou em São Paulo foi preso à revelia pelo Exército indo para o presídio do Carandi-ru. Abdias não se calou e fundou o Tea-tro dos Sentenciados, o qual os detentos faziam apresentações uns para os outros. Dentro do presídio criou o Jornal Interno. Este falava da política penitenciária, num período que ainda se pensava no local para recuperáveis. Lá entrevistou presos e escreveu dois livros, ainda inéditos.

Em 1944, criou o Teatro Experimental do Negro que trouxe a cultura negra para o povo. Nesse período os negros e as ne-gras não podiam ficar na platéia. O lugar reservado no teatro era na faxina. Ele des-naturalizou a ideia de teatro só para os brancos. “No combate ao racismo, para ele, não há divisão entre política e cultu-

ra. Lutava contra a discriminação, e sua bandeira era a integração. Ele combatia o estereótipo do negro pobre, sujo e bêba-do. Os atores se apresentavam em grande estilo. Traziam a bandeira da luta contra a discriminação nacional e cultural. Preser-vavam a própria cultura”, relata Elisa.

Em 1945, fez um manifesto contra o ra-cismo, conseguindo a adesão de todos os partidos, visando influir na Constituinte de 1946. Mas o texto não foi incluído na re-dação final da Constituição. Em 1949, re-alizou uma conferência em preparação ao primeiro congresso negro. Escreveu o livro “Revoltado”, em que mostra a necessida-de do Museu de Arte Negra, do qual assu-miu a curadoria em 1955.No mesmo ano, no Congresso Eucarístico Mundial, propôs um Cristo negro, e incentivou artistas a perceber que na arte moderna brasileira a presença da cultura africana era neces-sária. Numa tendência de encontro entre a

Europa e a África, Abdias se propôs a dis-cutir o assunto começando a colocar suas ideias nas suas próprias pinturas.

Exilado em 1968, no período do AI-5, Abdias fez exposição nos Estados Unidos. Com o retorno ao Brasil, atuou pela rede-mocratização do país. Criou com Leonel Brizola, no PDT, uma secretaria interna dos movimentos negros, responsável pelo combate ao racismo. O pensamento de Abdias é que o negro seja o autor da mu-dança. No ano de 1981, fundou o IPEA-FRO na PUC-SP. Em 1983, foi eleito único deputado federal negro, com o lema de que o racismo lesa a humanidade. Propôs projetos de ação compensatória, o ensi-no africano nas escolas, criação das cotas para o ensino superior e mercado de tra-balho, mas nada foi aprovado. Só em 1996, que o assunto voltouà tona. E um ano de-pois foi eleito senador da República.

No Rio de Janeiro, Abdias foi por duas vezes Secretário de Estado, de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasi-leiras e de Direitos Humanos e Cidada-nia. Abdias durante toda a sua vida le-vou ao mundo a denúncia do racismo. Ele lançou diversas publicações que mostram que o Brasil precisa avançar na questão racial.

IPEAFRO e Abdias hojeO IPEAFRO, hoje localizado no Rio de

Janeiro, no bairro da Glória, tem o papel de preservar o acervo documental, que reúne obras de artes de Abdias e artis-tas negros. O trabalho é constante para a preservação, com atividades de micro-filmagem e catalogação para a organiza-ção e divulgação do acervo. Parte dessas obras que se encontram no Instituto vai para São Paulo onde ocorre, até 15 de janeiro, a Ocupação Abdias Nascimento. Um dos pontos altos da festa será o lan-çamento da reedição do livro: "O genocí-dio do negro brasileiro".

Elisa Larkin e a cultura negraÀ frente do IPEAFRO, a doutora em psi-

cologia e mestre em direito e em ciências

sociais, Elisa Larkin, mostra com orgulho o seu grande trabalho na parede, o qual denomina de a linha do tempo dos povos africanos. Elisa destaca que a sociedade, de modo geral,sempre associa a cultura erudita ao europeu, mas omite o conhe-cimento dos africanos. “Meu trabalho é trazer informações que ajude a superar essa ideia. A linha do tempo dos povos africanos insere o erudito ao negro, apa-ga aquela história de que o negro come-çou como escravo e não tem nada mais no passado, algo reduzido”, acentua. Para ela, o negro trouxe a cultura lúdica e co-nhecimento com o divino, algo de filoso-fia. “Eles chegaram aqui ao Brasil trazen-do a sua própria cultura”, resume.

A pesquisa mostra que na África nasceu à base da cultura erudita. Elisa coloca que

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Abdias criou o teatro experimental do negro, trouxe a cultura negra para o povo e quebrou o teatro só para brancos

Elisa Larkin e a linha do tempo dos

povos africanosA filosofia é de origem africana, mas não se pensa nisso”ELISA LARKIN

os gregos foram à África buscar conhe-cimento e isso enriqueceu a civilização, por volta de 4.500 antes de Cristo. Segun-do Elisa, nesse período começa a cultura negra. “Em alguns desenhos mostram o faraó egípcio branco, de uma África do Norte, isso é balela. A África é negra, tem a miscigenação, mas é africano. Se teve a ideia que a embarcação portuguesa veio em nossas terras primeiro, só que não ti-nham sofisticação nenhuma, os egípcios tinham bem antes embarcações de papi-ro, algo criado na África”, exalta.

Quando abrimos alguns livros de his-tória, se apreende o mundo a partir da Grécia, nos quais os egípcios medem a altura das pirâmides pela sombra delas. O que se percebe uma construção com conhecimento geométrico e matemáti-co. “As pirâmides não surgiram sozinhas, tem toda uma história, se não é tudo ane-dota”, frisa. O trabalho feito pela Elisa é dividido quadro a quadro, começa em 4.500 anos antes de Cristo e dividido a cada 500 anos, até o século atual. “A li-nha do tempo impressa ficou com qua-tro metros e meio de comprimento, e o que conhecemos dos negros, na parte da escravidão tem apenas 29 centímetros. É muito pequeno, isso é achar que o africa-no sempre foi escravizado, e esquece-se de buscar a história de sabedoria desse povo, em todos os tempos”, explica.

“O Buda é negro, os indianos tem origem africana, em 2.000 anos antes de Cristo já tinha escultura negra. Se pensa sempre na história construída por brancos e louros, e não se lembra de Otelo de Shakespeare, que era ne-gro. A própria Luzia, a primeira bra-sileira tinha o perfil negro”, comenta. Elisa acredita que op ovo asiático não estava sozinho há séculos atrás, a po-pulação negra estava presente. “Ocor-reu à construção da tecnologia, do pro-gressoe da organização política. A tribo não vive isoladamente, os negros eram impérios maiores do que os romanos. A linha do tempo do africano no mundo é um suprimento didático”, conclui.

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Heranças negras na

MaréDocumentário registra memória das avós da Nova Holanda

DOCUMENTÁRIO

Num lindo e calorento fim de tarde de outubro de 2016, o barco segue de-vagar pelas águas margeadas, de um

lado, pela Linha Vermelha, e de outro, pela Ilha do Fundão, enquanto Maria Vitória de Jesus, 74 anos, e Durvalina Pacheco de Souza, 86 anos, avistam não muito longe a terra que escolheram para viver há mais de quatro décadas. Ali, diante de uma plateia reverente, a dupla batizada carinhosamen-te de "avós da Maré" rememora histórias de seus primeiros momentos na Nova Ho-landa, quando, não muito raro, as mesmas águas que embalam o passeio daquela tar-de invadiam suas casas de madeira.

Entre sorrisos e cantorias, Vitória e Dur-valina falam do ontem e de hoje, da falta de água potável que era o pior tormento dos primeiros moradores da Maré, dos precon-ceitos contra os negros, mas também de suas rezas e dos dias melhores que chegaram ao lado de suas famílias na mesma Nova Ho-landa. Tudo que elas dizem é registrado pela

equipe da Escola de Cinema Olhares da Maré (ECOM). Trata-se do último dia de filmagem do documentário "As griottes da Maré", da qual Vitória e Durvalina são protagonistas ao lado de mais duas senhoras negras como elas - Marta Maria dos Santos Melo, 55 anos, e Maria de Lourdes dos Santos da Silva, 75 anos - que também chegaram na primeira leva de moradores da Maré.

O curta metragem é um dos pontos finais de um projeto da Redes da Maré que, ao lon-go de 2016, celebrou e refletiu sobre a pre-sença negra nas comunidades da região, do passado até os nossos dias, com uma série de debates, encontros, oficinas, seminários e cursos. Oficialmente, o "Heranças negras na Maré" termina no dia 20 de novembro, não por acaso, Dia da Consciência Negra, com atividades que começam dois dias antes, no Centro de Artes da Maré, mas seus frutos e suas histórias não vão parar por aí.

"Heranças negras na Maré" é mais uma iniciativa do Núcleo de Memória e Identida-

presente da Maré, inclusive com os depoi-mentos de moradores antigos à disposição.

Griot é o nome dado por africanos às pessoas que contam histórias ou cantam músicas, preservando de forma oral as tra-dições de seus povos. As protagonistas do filme "As griottes da Maré" são mulheres que chegaram à Nova Holanda ainda nos anos 1970, sem saber se sequer ficariam por lá. Passados os anos, elas continuam morando ali, compartilhando o dia a dia com filhos, netos, bisnetos e até tataranetos, como é o caso de Durvalina, que se orgulha de ter 4 filhos (o quinto já faleceu), 19 netos, 31 bis-netos e 3 tataranetos. Aos 86 anos e ainda na ativa como costureira, a única reclama-ção de Durvalina é justamente a falta de as-sistência médica 24 horas na Maré:

"Quando cheguei aqui, vinda de Minas Gerais, não havia calçada e nem asfalto, era mato e um grande valão. Tudo melho-rou muito, só falta um posto médico que nos atenda quando for preciso", diz ela.

Já Vitória chegou à Nova Holanda com três filhos pequenos e uma na barriga, vin-da do Morro da Catacumba, na Lagoa, de

onde foi removida com outros moradores, numa das muitas remoções de favelas da Zona Sul carioca entre os anos 1960 e 1970. A princípio, seria apenas uma passagem pela Maré, mas ela acabou ficando:

"Era para irmos para a Cidade de Deus, mas achei muito longe e consegui trocar minha ficha para Manguinhos. No meio tempo, como já estávamos na Nova Holan-da, acabamos ficando. Aqui as casas eram de madeira, germinadas. Aos poucos, fo-mos trocando a madeira por alvenaria, fa-zendo um cômodo por vez", lembra Vitória, que na maior parte da vida trabalhou como doméstica mas hoje está aposentada.

Essas e muitas outras lembranças da Maré de outros tempos embalaram encon-tros regulares das avós da Nova Holanda durante os últimos meses, na sala do Núcleo de Memória e Identidade. "O chá com as avós" foi um dos carros-chefes do "Heran-ças negras na Maré", iniciativa coordenada por Tereza Onã, que saiu do papel após ter sido contemplada em edital da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, e contou com o apoio fundamental de par-ceiros como Galpão Bela Maré, Observató-rio de Favelas, Anistia Internacional, Projeto Afrobetizar e ONG Luta pela Paz. Tereza es-teve à frente de uma equipe da qual tam-bém fizeram parte os pesquisadores Thais de Jesus, Higor Antônio e Henrique Gomes.

"As avós são personagens muito simbóli-cas do território Maré, onde grande parte da população é negra. São figuras estruturantes de suas famílias, mulheres que, muitas vezes, lideraram ou ainda lideram suas famílias, sustentáculos e referências dentro de suas casas. Como nossa proposta maior no projeto é discutir o afrocentrismo, ou seja, mostrar o negro como sujeito da História, nada melhor

"Quando cheguei aqui, vinda de Minas Gerais, não havia calçada e nem asfalto, era mato e um grande valão. Tudo melhorou muito, só falta um posto médico que nos atenda quando for preciso",

Durvalina Pacheco de Souza, 86 anos

Momento da gravação dos depoimentos das avós Durvalina e

Maria Vitória pela equipe da Escola de Cinema Olhares da Maré

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de da Maré (NUMIM), que está sob os cuida-dos do diretor da Redes da Maré Edson Diniz e que desde 2010 vem trabalhando intensa-mente pelo resgate do passado das 16 comu-nidades que formam a Maré e seus reflexos no presente, envolvendo um grupo consi-derável de moradores e pesquisadores. Um trabalho em grande parte baseado em regis-tros orais de personagens emblemáticos da região, pessoas que foram vitais e fizeram a diferença nas comunidades em que escolhe-ram viver há décadas. Um projeto de longo prazo, que já gerou dois livros sobre as for-mações de Nova Holanda, Morro do Timbau e Parque Maré, frutos da coleção "Tecendo Redes de Histórias da Maré", e que agora tem tudo para se espalhar, ainda mais, através das histórias das avós de Nova Holanda, re-gistradas no documentário recém-finaliza-do. A sala do Núcleo de Memória e Identida-de, ao lado da sede da Redes da Maré, já está equipada para receber pesquisadores inte-ressados em entender melhor o passado e o

do que escutar as avós negras falarem, conta-rem suas histórias, como estivessem contan-do suas lembranças para os netos", diz Tere-za. "Uma cidade democrática, sem racismo e preconceito, tem que mostrar a contribuição da cultura negra, ressaltando sua importância para a construção da identidade local."

Nos últimos meses, a programação do "Heranças negras na Maré" foi intensa e envolveu participantes de outros projetos da Redes da Maré. Houve uma série de ofi-cinas de confecção de bonecas abayomi – bonecas negras artesanais feitas com pano – com professores da Espaço de Desenvol-vimento Infantil Cleia Santos de Oliveira, participantes do projeto Maré de Sabores, alunos do Preparatório para o Ensino Médio e moradores da chamada Cena de Crack da Rua Flávia Farnese, que já são acompanha-dos regularmente por uma equipe multidis-ciplinar da Redes. Houve ainda um semi-nário sobre machismo e igualdade, em 26 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, no Centro de Artes da Maré, que reuniu, entre outros, a jornalista Flávia Oliveira, a lutadora de artes marciais Tamires e Bieta DJ.

"A maior beleza do 'Heranças negras na Maré' é que está misturando pessoas de diferentes projetos, se espalhando e mostrando o que não está nos livros di-dáticos. Infelizmente, só vemos os negros nos livros apanhando como escravos e em datas como 13 de maio e 20 de no-vembro, Dia de Zumbi dos Palmares. As oficinas de abayomi, por exemplo, revi-sitam uma tradição dos navios negreiros, onde as mães, para distrair seus filhos na-quele inferno, começaram a fazer bone-cas com pedaços de panos arrancados de suas próprias roupas", completa Tereza.

As avós são personagens muito simbólicas do território Maré, onde grande parte da população é negra. São figuras estruturantes de suas famílias, mulheres que, muitas vezes, lideraram ou ainda lideram suas famílias, sustentáculos e referências dentro de suas casas”TEREZA ONÃ

EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 76 EDIÇÃO 69 | SETEMBRO 2016

Racismo e desigualdade no BrasilComo a discriminação da população negra historicamente enraizada no modelo socioeconômico impede a redução da desigualdade

DISCRIMINAÇÃO

O trabalho social sem-pre mobilizou a mi-neira Helena Edir

Vicente pela melhoria da qualidade de vida na comu-nidade onde vive e contra as

de Belo Horizonte. Ela veio para o Rio de Janeiro, aos 20 anos, em 1970. E em 1974 pas-sou a residir na Nova Holanda, na Maré, por ficar mais perto da empresa onde trabalha-

precários e os menores salários. E num momento de crise, como agora, são ainda os mais atingidos pelo desemprego.

A Organização das Nações Unidas, a ONU, atesta que entre 94 e 2014 o Bra-sil tomou iniciativas para reduzir as de-sigualdades sociais e raciais, mas de-clara que o país fracassou na tentativa de mudar a realidade de discriminação contra a população negra. Em seu rela-tório sobre Direito de Minoria, concluído ainda no primeiro semestre deste ano, diz que “lamentavelmente, a pobreza continua tendo cor”: das cerca de 16 mi-lhões de pessoas que vivem na extrema pobreza no país, mais de 70% delas são “afro-brasileiros”. E os salários médios dos negros são mais de duas vezes mais baixos. Mesmo com projetos como Bol-sa Família, “a desigualdade continuou”. Para os pesquisadores da ONU, o mito da democracia racial, que, durante mui-to tempo, levou ao entendimento de que “marginalização da população negra” era apenas uma questão de classe, impediu o enfrentamento de questões como o pre-conceito contra o afro-brasileiro.

Para o economista e Coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, His-tóricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da UFRJ, autor de obras importantes como “500 anos de solidão: Ensaio sobre as desigualdades raciais no Brasil”, Marcelo Paixão, o racismo neste

“Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção de uma instituição”, Helena Edir Vicente, Diretora da Redes da Maré

va, em São Cristóvão. Era um tempo difícil, não tinha água, a luz elétrica era precária e Helena não correu da luta.

Hoje Helena Edir integra a direção da Redes da Maré e não se furta a contar histórias e episódios que viveu por ser uma mulher negra. “Uma vez um rapaz, que não me conhe-cia, deixou o copinho de café cair no chão e eu estava che-gando na sala naquela hora. Ele olhou para mim e disse: vá buscar um pano de chão para limpar essa sujeira. E eu res-pondi: tem pano na copa. Você pode ir pegar para limpar. Sabe o que é? Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de di-reção de uma instituição”.

De fato, pesquisadores têm mostrado que o senso comum no Brasil, a partir de papeis definidos e estratificados no sistema socioeconômico na-cional, se espanta ao encontrar mulheres negras no comando de uma empresa ou institui-ção, como se espanta também ao encontrar homens brancos que estejam na condição de trabalhadores domésticos ou diaristas. E estudos feitos re-gularmente pelo Departamen-to Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Dieese, reforçam que Helena Edir tem razão. As negras e negros têm os empregos mais

desigualdades. Ainda jovem atuava nos segmentos orga-nizados da Igreja Católica, na cidade natal, Conselheiro La-fayete, uma das mais antigas do estado, a cerca de 100 km

país tem caráter estrutural: “A marca ra-cial das pessoas é uma variável decisiva no processo de classificação social. Ou seja, as pessoas são constantemente va-lorizadas, ou desvalorizadas, de acordo com a cor de sua pele, tipo de cabelo e traços faciais que revelem sua ancestra-lidade. Isto vale para o acesso aos meca-nismos de mobilidade social e aos direi-tos sociais coletivos. Por exemplo, para pessoas socialmente identificadas como negras (os pretos e os pardos, tal classi-ficados pelo IBGE) a taxa de desemprego costuma ser maior e a remuneração no trabalho costuma ser pior que o das pes-soas brancas. Em grande medida estas dimensões dialogam com os diferentes ciclos de desvantagens que aquelas pes-soas vão acumulando ao longo de suas vidas. Finalmente, considerando o peso relativo dos negros na população brasi-leira, 52%, tais processos acabam impac-tando nossa pirâmide social e o formato assumido pelas desigualdades sociais no país. Estes são alguns dos motivos que me fazem apontar que as desigualdades raciais são estruturantes das assimetrias sociais”, afirma Marcelo.

A afirmação do Coordenador do La-eser da UFRJ remete luz sobre a discri-minação enraizada e pobreza que pesam sobre a população negra brasileira que se revelam em estatísticas repetitivas e de-tentoras de um certo cinismo histórico:

“A marca racial das pessoas é uma variável decisiva no processo de classificação social. As pessoas são constantemente valorizadas, ou desvalorizadas, de acordo com a cor de sua pele, tipo de cabelo e traços faciais que revelem sua ancestralidade”, Marcelo Paixão, Coordenador do Laeser da UFRJ

O recente sistema de cotas raciais, ado-tado por universidades federais e diversos concursos em redes públicas de ensino, aumentou o número de estudantes negros na educação superior e em escolas de ex-celência. Mais ainda é insuficiente e preci-sa ser expandido para outras áreas, como o Judiciário, por exemplo. “As políticas de ação afirmativa têm seu fundamento no tratamento desigual a pessoas desiguais visando justamente a redução destas de-sigualdades em termos sociais, econômi-cos e políticos. Elas podem ser adotadas pelo setor público e privado. E onde foram adotadas acabaram tendo um impacto positivo em termos das reduções das de-sigualdades de gênero e racial. Portanto, as ações afirmativas, somadas a outras medidas visando a redução das desigual-dades e das injustiças sociais, são instru-mentos valiosos no sentido da construção de uma nova sociedade fundada em valo-res mais fraternos e igualitários”, conclui o economista Marcelo Paixão.

64% 77% 15% 8%dos jovens negros não completam

o ensino fundamental

de jovens e adolescentes,

de 15 a 29 anos, assassinados no Brasil são negros

dos juízes brasileiros são

negros

apenasapenas

dos deputados na Câmara Federal são

negros

Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção de uma instituição”HELENA EDIR VICENTE, diretora da redes da maré

8 9

ARTIGO TRABALHO

Dia de conhecer a história e reverenciar tradição e cultura

Mulher negra ainda é mais discriminada no trabalhoHomens brancos ganham mais que mulheres brancas, mulheres brancas ganham mais que homens negros. E mulheres negras ganham menos que todos.

THAMYRA THÂMARA

Cento e dezoito anos após a abo-lição da escravatura no Brasil, os negros e negras ainda continuam

discriminados na sociedade. Eles têm mais dificuldades de ingresso ao merca-do de trabalho, sofrem com as oportuni-dades desiguais em relação aos brancos, dificilmente chegando a cargos de che-fia e de destaque nas empresas. Mais da metade dessa população ainda está nas atividades informais.

No mercado de trabalho, a Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014 aponta a permanência de grandes desigualdades de gênero e raça no Brasil, atingindo especialmente as mulheres negras. O aumento do de-semprego impactou mais profundamen-te o grupo de mulheres e homens ne-gros do que os brancos. Assim, homens e mulheres que se declaram negros re-presentam 60,3% de todo o aumento de desemprego gerado entre 2013 e 2014. Em 2014, o Brasil possuía 2,4 milhões de mulheres negras desempregadas e 1,2 milhão de homens brancos na mes-ma situação. Apenas 31,3% das mulheres negras ocupadas com 16 anos ou mais, em 2014, possuíam carteira assinada, taxa muito inferior ao percentual de ho-mens, na mesma situação, uma década antes. Os homens brancos ainda rece-bem rendimentos 60% superiores aos das mulheres negras. Nos cargos dire-tivos, apenas 10,8% delas ocupam estes

FLÁVIA OLIVEIRA

Foi Abdias Nascimento, líder negro brasileiro mais importante do século XXI, morto em 2011, o ícone da luta

para o Brasil instituir o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. O que para tantos não passaria de uma data a mais no inchado calendário de memórias nacionais, para o escritor, artista plástico, teatrólogo, professor, político e ativista, era a possibilidade de o país tomar conhe-cimento e reverenciar a resistência dos ne-gros à escravidão. Foi assim que o dia mor-te de Zumbi dos Palmares, 321 anos atrás, tornou-se contraponto à História oficial, que apresenta a abolição como concessão da Princesa Isabel aos africanos escraviza-dos e festeja o 13 de maio de 1888.

Palmares – hoje parte de União dos Pal-mares, município da Zona da Mata de Ala-goas – foi o maior, mais duradouro e mais organizado quilombo já implantado nas Américas. Durou um século, até 1694, e chegou a ter 30 mil habitantes. Hoje, na área quilombola remanescente vivem menos de duas dezenas de famílias. Zumbi tornou-se formalmente herói nacional em 1997. Dez anos depois, foi inaugurado o memorial que reproduz em tamanho real edificações do antigo quilombo e homenageia, além dele, Aqualtune, Gamba-Zumba e Dandara, líde-res igualmente importantes do território.

Todo ano, no dia 20 de novembro, gru-pos de religiosos de matriz africana, capo-eiristas, militantes e turistas sobem a Serra da Barriga para, a 500 metros de altitude, festejar orixás, ancestrais, tradição e cultu-ra afro-brasileiras. Nos bancos escolares, o país trata superficialmente do legado dos africanos trazidos à força do continente natal. É reflexo do modelo de colonização ancorado na depreciação dos outros po-vos, indígenas inclusive, pelos portugue-

cargos. “Há décadas a mulher negra vem sendo apontada como aquela que expe-rimenta a maior precariedade no mer-cado de trabalho brasileiro”, afirma a Coordenadora do Centro de Estudos das Relações do trabalho e Desigualdade – CEERT, Cida Bento.

As mulheres negras são ainda mais dis-criminadas por questões étnicas e de gê-nero. Larissa Neves, estudante de psicolo-gia, conta que quando tinha 18 anos con-seguiu emprego como recepcionista numa empresa multinacional, mas acabou tendo que sair por não aguentar mais ataques e piadas preconceituosas por ser negra. “Na época eu estava começando meu proces-so de transição, tinha parado de relaxar o cabelo e cortei ele bem curtinho. Quando ele começou a crescer começaram a dizer que minha aparência não era compatível com o trabalho, me questionaram se eu não iria relaxar o cabelo. Até que um dia eu estava na sala e começaram, além de fazer piada, a colocar objetos do escritó-rio na minha cabeça”.

Histórias como essas acontecem todos os dias e é preciso denunciar. Atos de dis-criminação por raça e cor são considera-dos crimes no Brasil, desde 1989. Pela lei, está sujeito à pena de dois a cinco anos de prisão quem, por discriminação de raça, cor ou religião, impedir pessoas habilita-das de assumir cargos no serviço público ou se recusar a contratar trabalhadores em empresas privadas. Existem muitas formas de denunciar. É possível prestar queixa nas delegacias comuns e nas es-pecializadas em crimes raciais como a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi-RJ).

Por outro lado, estudo publicado pelo IBGE mostra que, nos últimos 10 anos, quase triplicou o percentual de negros e negras no Ensino Superior, devido a po-líticas afirmativas como as cotas para ne-gros na universidade. Entretanto, segundo Cida Bento, negras e negros, continuam pressionando o mercado de trabalho em busca de inserção. E nos meios digitais, Cida denuncia: “nas grandes corporações, por exemplo, já não têm muitas mulhe-res, mas negras não têm. Nos comitês de diversidade dessas corporações não tem mulher negra, não tem representação. Isso coloca muitos conceitos em xeque, porque as mulheres negras não avançam em sua agenda de forma alguma”, finaliza.

ses. Sem a data comemorativa, saberíamos ainda menos sobre a contribuição dos ne-gros na economia, na cultura, na fé, na lín-gua, nos hábitos, na formação da nação.

Os Estados Unidos transformaram em feriado a data de nascimento do reverendo e ativista Martin Luther King Jr., assassina-do em 1968. Desde os anos 1980, o país para toda terceira segunda-feira de janei-ro em homenagem ao líder do movimento pelos direitos civis dos negros. Cinco anos atrás, em Nova York, assisti a uma cerimô-nia gospel em que o pastor dedicou par-te do discurso à importância da data. Ele lembrava aos fiéis que o feriado próximo não deveria ser desperdiçado com chur-rascos e compras, mas aproveitado como

momento de reflexão em família sobre as conquistas obtidas e os desafios que ainda espreitam a comunidade negra americana.

A recomendação se adequa perfeita-mente ao 20 de novembro no Brasil. O feriado de Zumbi deve servir às reflexões sobre a atuação dos negros pela liberdade, ao debate sobre a importância dos africa-nos na construção do país e à celebração da identidade racial. Mais de um século após o fim da escravidão, os negros ainda estão em desvantagem nos indicadores de renda, educação, saúde, trabalho, habita-ção, pobreza. Fundamental é não perder de vista o quanto ainda será necessário ca-minhar para tornar real a igualdade plena entre os brasileiros de todas as cores.

O feriado de Zumbi deve servir às reflexões sobre a atuação dos negros pela liberdade”FLÁVIA OLIVEIRA

Mulheres negras e o trabalho

2.4Milhões

Desemprego

em 2014 10,8%Ocupam cargos

diretivos

31,3%trabalham com

carteira assinada

10 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 EDIÇÃO 68 | AGOSTO 2016 11

Discriminação na infância e adolescência

No Brasil, 54% das crianças são negras e indígenas, segundo o IBGE. A mes-

ma pesquisa mostra que em cada grupo de 100 crianças brancas, 37 vivem em condições de pobreza, enquanto que entre crianças ne-gras e pardas, em cada 100, 61 vivem nessas condições. Uma ou-tra pesquisa, feita pelo Unicef em parceria com o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da UERJ, revela que o número de negros e pardos com idade até 19 anos assassinados é 3 vezes maior do que o de brancos com as mesmas idades. O estado que tem a maior população negra no país é a Bahia. De lá, o Maré de Notícias ouviu a Coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef – para Bahia e Sergipe, Helena Oliveira. Abaixo, a opinião da especialista, a partir de tópicos distintos.

Entrevista a Hélio Euclides

DesigualdadeO Brasil alcançou progressos

significativos na melhoria da vida de suas crianças nas últimas dé-cadas. Contudo, isso ainda não está acontecendo para todas as crianças, especialmente quando observamos situação de meninos e meninas indígenas, negras e as crianças quilombolas. Um mode-lo de desenvolvimento que faz o enfrentamento à pobreza, porém acirra as desigualdades entre gru-

A luta contra a intolerância religiosa

Os grupos mais atingidos pela intolerância religiosa são os de matriz africana

Todos os anos, num final de semana de setembro, a orla de Copacabana é toma-da por milhares de pessoas de todos os

credos, de todas as religiões, candomblecistas, umbandistas, católicos, judeus, muçulmanos, wiccanos, budistas, kardecistas, seguidores do santo daime, hare krishnas, evangélicos, ciga-nos, ateus e agnósticos. Elas se reúnem para participar do que já ficou consagrado como a “Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa”.

A iniciativa foi do Babalaô Ivanir dos San-tos, de 61 anos, um destacado militante da de-fesa dos direitos da população negra e contra a discriminação racial. A caminhada, que este ano teve a sua nona edição, é uma resposta ao crescente número de casos de intolerância re-ligiosa, no Rio de Janeiro e no Brasil.

Especialistas dizem que os dados coletados no país sobre intolerância religiosa são de dez fontes e não dialogam. Isso deixa claro que não há uma base nacional de informações sobre a intolerância e que muitos casos não chegam à opinião pública. Só no Disque 100, principal canal de ouvidoria de denúncia de violações dos Direitos Humanos, mantido pelo Gover-no Federal, o número de caso pulou de 15, em

2011, quando o serviço incluiu o atendimento às vítimas de intolerância, para 556, em 2015.

No Rio de Janeiro, nos últimos 4 anos, cerca de 70% dos casos de intolerância religiosa foram contra as religiões de matriz africana, segundo o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos do governo do estado, que é responsável pelo atendimento às vítimas. “Aqui no estado o número de casos não tem diminu-ído, a Comissão de Combate à Intolerância Re-ligiosa e a própria caminhada têm contribuído para fique tudo mais explícito, cresceu muito a reação à intolerância, aumentaram as denún-cias nas delegacias, mas a perseguição às religi-ões de matriz africana continua”, ressalta Ivanir.

Para o Babalaô, a situação nas escolas públi-cas é muito preocupante. Muitas vezes o agressor é o próprio professor. “As crianças de candom-blé, da umbanda são obrigadas a ler trechos da bíblia e quando revelam que são de religião de matriz africana são perseguidas, não podem es-tar com seus colares. A escola pública não pode ensinar religião. Tem que ser laica. É para ensinar cultura, conhecimento, filosofia”, defende Ivanir.

Ivanir levanta uma questão que também é con-testada por educadores e pesquisadores em textos

acadêmicos ou em revistas especializadas em educação. A doutora em Educação, Stela Guedes Caputo, autora do livro “Educação nos Terreiros”, pondera que se a Constituição Brasileira é laica, ou seja, não estabelece nenhuma religião oficial e ga-rante a liberdade de culto,“como pode estabelecer o ensino religioso nas escolas públicas?”

Educadores ainda atentam para outros ques-tionamentos que podem ser feitos a partir dessa visível contradição da Constituição de 1988. O ensino religioso para os estudantes é facultativo. Mas a escola pública brasileira não é obrigada a oferecer outras atividades pedagógicas àqueles alunos que não querem assistir às aulas de reli-gião. Isso não impede a implantação de um pro-grama de ensino religioso?Como garantir que um professor de religião não imponha a sua crença a seus alunos? Ou então agir com preconceito con-tra aqueles que não o seguem? Uma outra questão é a diversidade religiosa. Como contemplar todos os grupos com um programa de ensino religioso?

Os questionamentos de educadores, pesqui-sadores, professores e religiosos ao ensino de religião na escola pública são os mais diversos. Para o líder do movimento, que surgiu no Rio de Janeiro em 2008 e leva todos os anos milhares de pessoas a caminhar do Posto 6 de Copacaba-na ao Leme, em defesa da liberdade religiosa, o babalaô Ivanir dos Santos, o que se reivindica é ensino público laico e de qualidade e um Plano Nacional de Combate à Intolerância.

INFÂNCIA

pos. Ao vivenciar esse cotidiano de desigualdade, a criança tem a percepção de que negros, brancos e indígenas ocupam lugares dife-rentes na sociedade. Por isso, tor-na-se fundamental uma ação que desconstrua essa percepção, con-tribuindo dessa forma para mudar a realidade. É fundamental que todos se beneficiem, igualmente, dos progressos alcançados.

Preconceito na vida infantilO racismo causa efeitos na vida

de toda e qualquer criança ou ado-lescente. Estudos na área de edu-cação infantil revelam que, ainda na pequena infância, a criança já percebe diferenças na aparên-cia das pessoas, cor de pele, por exemplo. A responsabilidade dos adultos é muito importante, neste momento, evitando explicações ou orientações preconceituosas.

A pobreza Pobreza não é o maior proble-

ma, mas sim a desigualdade acen-tuada por uma cultura do racismo nas relações entre os diferentes grupos. Sejam eles homens e mu-lheres, homo e heterossexuais, pre-tos e brancos, indígenas, judeus, entre outros. Nós adultos temos uma responsabilidade com o que dissemos e reproduzimos para as nossas crianças. Crianças não nas-cem racistas. Elas tão somente re-produzem o que lhes é ensinado ou visto como comum e naturalizado.

Violência contra adolescentes

Dentre a mais trágica face das violações de direitos estão os homicídios sistemáticos de ado-lescentes. Apenas em 2013, mais de 10 mil adolescentes foram as-sassinados. Além disso, na maior parte dos casos, não se conhecem os autores desses crimes, porque falta investigação, o que gera um ciclo de impunidade que alimenta uma onda crescente de violência. O que observamos é o número de mortes de adolescentes e jovens, um dos maiores do mundo, ultra-passando inclusive as estatísticas de países em situação de guerra e conflitos armados.

Políticas públicasNas últimas décadas, o Brasil

avançou na garantia dos direitos de meninos e meninas. Muitas políticas e programas universais foram e têm sido implementados demostrando melhoria na média

dos indicadores de saúde, educa-ção e assistência. Para se ter uma ideia, em 1991, a maioria dos mu-nicípios do País (85%) estava no nível “muito baixo” do Índice de Desenvolvimento Humano Muni-cipal (IDHM) – que analisa indica-dores de saúde, educação e renda. Passados mais de 20 anos, apenas 0,6% dos municípios se mantêm nessa faixa e mais de 70% já apre-sentam um IDHM médio ou alto (1). No entanto, há ainda impor-tantes desafios a superar para que os direitos de crianças e adoles-centes brasileiros, especialmen-te os mais vulneráveis, sejam de fato garantidos. Nas últimas duas décadas, todos os indicadores re-lacionados à educação avança-ram no País, que está próximo de assegurar 100% das crianças no ensino fundamental. No entanto, ainda existem mais de 3 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola e 75,4% dos meninos e meninas de até 3 anos fora da creche.

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As crianças de candomblé, da umbanda são obrigadas a ler trechos da bíblia e quando revelam que são de religião de matriz africana são perseguidas, não podem estar com seus colares. A escola pública não pode ensinar religião. Tem que ser laica”BABALAÔ IVANIR DOS SANTOS

RELIGIÃO12 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 13

PROGRAMAÇÃO

18 de novembro, a partir das 17h

MOSTRA MARÉ SEM FRONTEIRAS

Exposição dos trabalhos das oficinas do

Maré Sem Fronteiras. Azulejaria, Teatro

Cia Marginal, Oficina de fotografia Mão

na Lata e Oficina Livre de Bike.

local: Centro de Artes da Maré

Rua Bitencourt Sampaio, 181 - Maré

Rio de Janeiro - RJ, 21044-040

10 de dezembro, a partir das 10h

FESTA DE ENCERRAMENTO LONA DA MARÉ 2016

Música, gincanas, oficinas,

graffiti, teatro, atividades

e apresentações circenses.

Dias 19 e 20/nov às 18h • Espetáculo com a Pulsar Cia Dança,

formada por bailarinos portadores e não portadores de deficiência, tem como objetivo causar no espectador um olhar diferenciado em relação à multiplicidade dos indivíduos a partir da estética da dança.

De 28/11 a 03/12 • Exposição "Outros Registros" em

parceria com Lab Criativo: uma instalação sonora que aborda criticamente o impacto da violência policial em nossa cidade.

03/12 • Encerramento do projeto Mulheres Ao

Vento, com apresentação de dança e debates sobre temas relacionados a africanidade e feminismo.

10/12 • Apresentação dos espetáculos de

encerramento do Programa Teatro em Comunidades.

OFICINAS

PROJETO NENHUM A MENOS Alfabetização e Letramento, Música e Jogos Educativoshorário: De Segunda à Sexta-feira de 15h às 18hlocal: Biblioteca Popular da Maré Jorge Amado (Lona da Maré)faixa etária: 06 à 14 anos

OFICINA DE DANÇA HIP HOP horário: Terça-feira de 19h às 20h30local: Lona Cultural da Maré

OFICINA LIVRE DE BIKE(MARÉ SEM FRONTEIRAS)Quartas-feiras de 14h às 17hlocal: Lona Cultural da Maré

OFICINA DE DANÇA STILETTO(MARÉ SOBRE SALTOS)horário: Sábado de 12h às 15hlocal: Lona Cultural da Maré

OFICINA DE VERÃO:OFICINA DE STENCIL COM NATA FAMÍLIAdata: de 28 de novembro à 09 de dezembro horário: Segunda à sexta-feira, de 14h às 18hclassificação: a partir de 12 anos

inscrições na secretaria da lona cultural da maré

DICAS CULTURAIS

Meu black é lindo simBELEZA

Meu cabelo sempre foi muito volumoso e isso me incomodava de uma

tal forma... Era um saco ouvir o tempo inteiro que eu parecia um leão.

Eu só saía com ele preso. Uma vez, minha tia estava fazendo escova no

cabelo da minha prima e quis fazer também. Passei tanto tempo sen-

tada na cadeira e no final o meu cabelo ficou tão horrível, que decidi

não alisar mais por todo o trabalho que daria. Ainda que fizesse escova

todos os dias, nunca ficaria o "liso perfeito". Então, era melhor ficar

com o meu cabelo sempre preso mesmo. Sempre passei químicas e

mais químicas no cabelo para tirar o volume dele. E, então, de tantas

químicas diferentes começou a cair e ficar laranja (com a uma química

muito forte). Eu cortava, passava química de novo, e de novo, de novo...

Um dia pensei: "chega! não quero mais usar nada no meu cabelo". Ob-

viamente, essa decisão não veio assim do nada, né? Na época, conheci

duas pessoas que me fizeram conhecer mais outras pessoas. No final,

todas essas pessoas, sem me dizer nada, apenas sendo quem elas são

e tendo o cabelo que tem, serviram de espelho para mim. A tão famo-

sa referência. Lembro que pensava "como fulana tem coragem de sair

com esse cabelo?(...) se ela pode, eu também posso" - Pronto! Eu respi-

rei fundo e disse "corta tudo!". Fiquei com o cabelo "joãozinho" (como

chamamos aqui quando se corta o cabelo bem curtinho).

Eu antes não me enxergava como negra, eu sempre me reconheci como moreninha, mulata, marrom bombom. Fui me assumir negra já com uns quatro meses de cabelo natural. Alguém escreveu que não dá para en-frentar o racismo quando você ainda odeia o seu cabelo crespo e sua pele negra. O racismo nos convence ao auto ódio e passamos a odiar nós mesmas e nossos semelhantes, por sermos diferentes dos padrões esté-ticos estabelecidos pela sociedade. Alisamos os cabelos na tentativa de sermos aceitos. É importante aceitarmos nossas belezas e entendermos que não somos nós negras e negros que precisamos mudar para sermos aceitos. A cultura é que precisa mudar e nos respeitar!

THAMYRA THÂMARA

É comum vermos nos úl-

timos anos nas redes sociais depoimentos

de jovens negros e negras que estão cansa-

dos de serem discriminados por suas características físicas quando andam na rua, quan-do fazem uma entrevista de emprego ou quando passeiam no shopping. Jovens negros e negras que vem recriando suas próprias definições de bele-

za, usando cabelo crespo para cima, tranças, turbantes colori-dos e roupas de estampas afros cada vez mais fazendo referên-cia à estética afro-brasileira. No facebook estão histórias de meninas e mulheres sobre seus processos de transição de cabelo alisado para cabelo natural. Histórias que se mul-tiplicam e inspiram tantas ou-tras. E não foi diferente para Larissa Neves, 22 anos, que há quatro anos usa o cabelo natural e para Raissa Teixeira, 18 anos, que há dois anos tam-bém aderiu ao modelo.

Larissa Neves

Raissa Teixeira

Mulheres ao VentoOficinas de danças combinadas com temas

como feminismo, gênero, sexualidade, diversi-dade e racismo, inspiradas em Oya, um orixá, que, segundo a mitologia Yorubá, é uma deida-de (dinvidade) que comanda os raios e os ven-tos. É o que propõe o projeto Mulheres ao Vento.

São duas turmas compostas exclusivamente por mulheres, uma delas na faixa etária de 15 a 29 anos e outra com idade acima dos 30 anos. Não foi exigido experiência prévia de dança!

Ao longo de 4 meses, os grupos vêm ex-perimentando diferentes ritmos das danças populares brasileiras, como o samba e jongo, além de dialogar com a dança contemporâ-nea. A ideia é poder compartilhar o processo

de criação de movimentos que são estimula-dos e vivenciados junto com as professoras Andreza Jorge e Simone Alves, ambas forma-das em Licenciatura em Dança pela Universi-dade Federal do Rio de Janeiro e com muita afinidade com os temas discutidos.

As turmas, com 15 alunas cada, realizam um encontro semanal com duração de duas horas, um grupo trabalha no Centro da Maré e outro na sala de dança da Redes da Maré.

As participantes contam ainda com uma ajuda de custo e ao final do período vão apre-sentar o resultado das experiências construí-das coletivamente. A apresentação de encer-ramento será no sábado, 3 de dezembro, no Turma do “Mulheres ao Vento”, em atividade

Centro de Artes da Maré, um evento voltado para os temas relacionados à africanidade e feminismo, com mesa de debate, performan-ce, exposição fotográfica e muita música.

14 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016 15

ESPAÇO ABERTO

ENVIE SUA POESIA, FOTO, RECEITA OU PIADA. ESSE ESPAÇO É [email protected]

NOVA COLUNA

A partir da edição de dezembro, O Maré de Notícias vai ter uma nova coluna, chamada “Somos da Maré, Temos Direitos”, destinada a responder perguntas dos moradores da Maré, que tiverem dúvidas sobre o que é legal e ilegal nos procedimentos e abordagens policiais. Se você tem alguma dúvida nesse sentido, envie já a sua questão para o endereço [email protected].

PROBLEMAS DE LÓGICA

Solução

www.coquetel.com.br © Revistas COQUETEL

9

Resolva o passatempo, preenchendo o quadro. Coloque S (sim) em todas as afirmações e complete com N (não) os quadrinhos restantes (veja o exemplo). Para isso, use sempre a lógica, a partir das dicas.

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No mundo da música

Júlio e outros dois homens es-tão felizes por trabalhar com o que mais gostam: a música. Cada homem toca um ins-trumento diferente. A partir das dicas a seguir, descubra o nome de cada homem, o instrumento que toca e há quanto tempo está vivendo à custa da música.

1. Júlio toca guitarra profissionalmente.

2. Um dos homens trabalha tocando bateria há dois anos.

3. Mário vive com o que ganha tocando seu instrumento há três anos.

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No mundo da música

Júlio e outros dois homens es-tão felizes por trabalhar com o que mais gostam: a música. Cada homem toca um ins-trumento diferente. A partir das dicas a seguir, descubra o nome de cada homem, o instrumento que toca e há quanto tempo está vivendo à custa da música.

1. Júlio toca guitarra profissionalmente.

2. Um dos homens trabalha tocando bateria há dois anos.

3. Mário vive com o que ganha tocando seu instrumento há três anos.

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POESIA

CARTAS DO LEITOR

COLONIZAÇÃO (LUSA)por: S.M.

DIFICULDADESDIÁRIAS DE UM CADEIRANTEpor: Bira Carvalho, morador da Nova Holanda, fotógrafo e cadeirante.

O cadeirante tem sempre dificultada a mobilidade, não é fácil chegar ao médico, escola, ou área de lazer, a vida não é plena. Existe sempre uma dependência de alguém da família, o que afeta até a renda. O deficiente muitas vezes fica preso a algum espaço, longe das ruas, é difícil até chegar a Bonsucesso. Não é a deficiência que o isola, é a cidade que o restringe de viver. Ela é cidade maravilhosa para quem? Uma coisa simples que é ir ao banheiro, se torna um problema. Desejo oportunidade para todos.

Após atravessar o atlântico, CabralViu alguém falar de vegetais rentáveis,E logo os “Lusos” empilham as árvoresElevando assim a economia de Portugal.Em seguida veio a extração mineral,Marcando a “História” com crimes incontáveisMas deu aos britânicos milhões de vantagensPelo apoio militar a família real.Adentrando as selvas dos índios nativos,Os lusos chicoteiam os negros cativosDando aos açoites uma desculpa qualquer.Eis da história o descolorido prefácio,Até que sob a batuta de Bonifácio,Pedro ecoa no Ipiranga seu grito de fé.

16 EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016