EM TEMPO - 29 de junho de 2014

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VENDA PROIBIDA EXEMPLAR DE ASSINANTE PREÇO DESTA EDIÇÃO R$ 2,00 FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700 ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA E ELENCO. ANO XXVI – N.º 8.400 – DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO O JORNAL QUE VOCÊ LÊ MÁX.: 33 MÍN.: 23 TEMPO EM MANAUS Idosos que bebem chá-ver- de regularmente têm menor risco de fragilidade física e incapacidade funcional. Pelo menos é isso que comprova um estudo japonês. Livros e documentários sobre as mobilizações de rua pelo país há 1 ano traçam retrato de movimentos que tiveram par- ticularidades em cidades como Rio e São Paulo. Quem vai a Parintins não resiste ao delicioso bodó, principalmente quando vem mergulhado no tucupi. O pra- to é uma atração à parte do Festival Folclórico. A torcida brasileira respirou aliviada depois de momentos dramáticos. A festa explodiu assim que Jara perdeu o pênalti. Pódio Jornal da Copa D9 Torcida respira aliviada BRASIL LUIZ MAXIMIANO SÃO JÚLIO SALVA BRASIL O Brasil venceu o resistente Chile no primeiro jogo do mata-mata e avança às quartas de final. Foi uma vitória dramática, com empate no tempo normal por 1 a 1. “São” Júlio César fez milagres, se redimiu da falha na Copa do Mundo de 2010 e defendeu duas cobranças de pênaltis, garantindo a vitória brasileira (3 a 2) sobre a “La Roja”. No entanto, o alerta vermelho está ligado. Para conquistar o he- xacampeonato, a seleção precisa melhorar muito. Ontem, foi salva pela sorte. Pódio Jornal da Copa D4 e D5 Júlio César, apontado como responsável pela eliminação do Brasil para a Holanda, na Copa de 2010, se redime ao defender dois pênaltis que colocaram o Brasil nas quartas de final THIAGO BERNARDEES/FRAME James Rodríguez fez mais dois e agora é o artilheiro da Copa com cinco gols DIVULGAÇÃO No retorno do Uruguai ao Maracanã, brilhou a Colômbia, que venceu com dois gols de James Rodríguez. Agora, pega o Brasil, sexta-feira, na semifinal. Pódio Jornal da Copa D6 Colômbia vence e pega o Brasil QUARTAS DE FINAL HOJE É DOMINGO

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EM TEMPO - Caderno principal do jornal Amazonas EM TEMPO

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R$

2,00

FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA E ELENCO.

ANO XXVI – N.º 8.400 – DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO

O JORNAL QUE VOCÊ LÊ

MÁX.: 33 MÍN.: 23TEMPO EM MANAUS

Idosos que bebem chá-ver-de regularmente têm menor risco de fragilidade física e incapacidade funcional. Pelo menos é isso que comprova um estudo japonês.

Livros e documentários sobre as mobilizações de rua pelo país há 1 ano traçam retrato de movimentos que tiveram par-ticularidades em cidades como Rio e São Paulo.

Quem vai a Parintins não resiste ao delicioso bodó, principalmente quando vem mergulhado no tucupi. O pra-to é uma atração à parte do Festival Folclórico.

A torcida brasileira respirou aliviada depois de momentos dramáticos. A festa explodiu assim que Jara perdeu o pênalti. Pódio Jornal da Copa D9

Torcida respiraaliviada

BRASIL

LUIZ

MAX

IMIA

NO

SÃO JÚLIOSALVA BRASIL

O Brasil venceu o resistente Chile no primeiro jogo do mata-mata e avança às quartas de fi nal. Foi uma vitória dramática, com empate no tempo normal por 1 a 1. “São” Júlio César fez milagres, se redimiu da falha na Copa do Mundo de 2010 e defendeu duas cobranças de pênaltis, garantindo a vitória brasileira (3 a 2) sobre a “La Roja”. No entanto, o alerta vermelho está ligado. Para conquistar o he-xacampeonato, a seleção precisa melhorar muito. Ontem, foi salva pela sorte. Pódio Jornal da Copa D4 e D5

Júlio César, apontado como responsável pela eliminação do Brasil para a Holanda, na Copa de 2010, se redime ao defender dois pênaltis que colocaram o Brasil nas quartas de fi nal

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No retorno do Uruguai ao Maracanã, brilhou a Colômbia, que venceu com dois gols de James Rodríguez. Agora, pega o Brasil, sexta-feira, na semifi nal. Pódio Jornal da Copa D6

Colômbia vence e pega o Brasil

QUARTAS DE FINAL

A torcida brasileira respirou aliviada depois de momentos

festa explodiu assim que Jara perdeu o pênalti. Pódio Jornal da Copa D9

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aliviadaA torcida brasileira respirou

aliviada depois de momentos festa explodiu

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H O J E É D O M I N G O

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A2 Última Hora MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

Bois encerram festivalÚltima noite do 49º Festival Folclórico de Parintins traz novidades nas apresentações de ambos os bois-bumbás, Caprichoso e Garantido, que prometem aprofundar ainda mais no universo de cada tema escolhido para este ano

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“Reino das Encantarias” é o subtema para a última noite de espetáculo do boi-bumbá azul

Na última noite do 49º Festival Folclórico de Parintins, hoje, o Caprichoso inicia o

embate e vai revelar os mis-térios da floresta com o “Reino das Encantarias”. O Garantido encerra o festival com a cele-bração da diversidade religiosa do povo brasileiro, resultado da contribuição cultural de indíge-nas e africanos.

Na primeira noite, o bumbá azul e branco deu asas à ima-ginação e povoou a arena com seres encantados e sagrados presentes na memória dos povos nativos. Sempre reverenciando o poder do pajé e suas viagens ao mundo espiritual durante os rituais xamânicos.

A noite foi de reestreia para o veterano Arlindo Júnior no posto de apresentador, da Sinhazinha Karyne Medeiros e a substitui-ção de Edilson Santana, por Júnior Paulain como amo do boi. Além de cenas inusitadas, no compartilhamento da arena entre Arlindo Júnior e o levan-tador David Assayag, “arqui-inimigos” em um passado não muito distante.

A primeira alegoria trouxe criaturas encantadas, acompa-nhada de uma cobra grande, com mais de 20 metros de com-primento, que representava a mediação do sol e lua - conforme a lenda do povo mawé. Além da boiúna, do grande Tupana, o Deus do bem e criador dos primeiros astros, representado por um boneco de cerca de 20 metros de altura, que trouxe consigo a rainha do folclore, Brena Dianná. Outra alegoria que chamou a atenção foi a “Morada dos Encantados”, dos artistas Kennedy Moraes e Ney Meireles. Eles construíram uma árvore rodeada de seres encan-tados. Dela, surgiu a sinhazinha, o amo e o boi, que apareceu na copa da árvore.

Após o surgimento dos itens,

a arena foi tomada por 100 bailarinos, com idade de 8 a 19 anos, do Liceu de Artes do Caprichoso. Esta foi a primeira vez na história do boi que os bailarinos utilizaram sapatilha de ponta no espetáculo.

A coreografia do grupo foi elaborada pelos artistas Irian Butel, Gledson Oliveira, Neta Ri-beiro e Idelin Menenzes. “Nosso desafio maior foi unir o clássico ao popular. A reunião deles prova que a arte não tem fronteira e te emociona”, disse Butel.

A grandiosidade e riqueza de detalhes compuseram a alego-ria do ritual indígena, de Ozeas Bentes. Nela, quatro pajés fu-mavam enormes cachimbos, que se transformavam em gaviões,

lobos e seres encantados. Con-forme o ritual Anag’wag, o fumo é utilizado pelos pajés como uma ponte com os espíritos proteto-res e, assim escolher o padrinho dos recém-nascidos da tribo.

IncidenteUm contratempo sofrido

pela agremiação foi o proble-ma na alegoria que trazia a por-ta estandarte Raíssa Tupinam-bá. Nervosa com o susto, ela foi atendida fora da arena por uma equipe, mas logo retornou para o centro do espetáculo. Há 20 minutos de encerrar o tempo limite, apenas a maru-jada e o apresentador Arlindo Junior permaneciam na arena. O que fez Arlindo conceituar a estreia do boi como uma “apresentação enxuta”.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

COMBATEO novo amo do boi azul, Júnior Paulain, que no ano passa-do era apresentador, aprova a apresentação do bumbá. Ele busca combater o contrário com os versos cada vez mais fortes

Bumbá vermelho e branco revela alegorias que vão desfilar em sua terceira apresentação

Boi Garantido aposta em tocar o coração dos brincantes

Morre o cantor Bobby WomackO cantor americano de soul

music, Bobby Womack, mor-reu nesta sexta-feira (27), aos 70 anos de idade, nos Estados Unidos.

Um representante de sua gravadora, XL Recordings, confirmou a morte à revista americana especializada em cultura, arte e comporta-mento, “Rolling Stone”, mas disse que as causas ainda eram desconhecidas.

Womack tocou guitarra em

gravações de artistas mun-dialmente reconhecidos. en-tre eles, destacam-se nomes como os de Elvis Presley, Are-tha Franklin, Marvin Gaye, Jimi Hendrix e Janis Joplin e, além disso, Bobby Womack foi o autor do primeiro su-cesso da banda inglesa The Rolling Stones, um cover de “It’s All Over Now”.

No ano de 2010, o can-tor participou do projeto Gorillaz, de Damon Albarn,

vocalista do grupo Blur, que coproduziu seu último dis-co “The Bravest Man in the Universe”.

O cantor amerciano es-teve pela primeira vez no Brasil no ano passado. Na ocasião, ele veio como con-vidado a participar do festi-val Back2Black. Neste ano, Bobby Womack tocou no prestigiado festival de jazz da cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos.

SOUL

Três mortes registradas na sextaA aposentada Maria Lui-

sa Nascimento Reis, 89, foi atropelada na tarde de sexta-feira (27), quando ten-tava atravessar a rua Ajuri-caba, no município de Novo Airão (a 115 quilômetros de Manaus). A vitima morreu no local. O motorista fugiu após o acidente e ainda não foi identificado.

De acordo com a Secre-

taria de Justiça e Direitos Humanos (Sejus), um deten-to morreu no início da noite de sexta, dentro do Institu-to Penal Antônio Trindade (Ipat), após uma briga entre presos, pouco depois dos in-ternos terem sido recolhidos de volta às celas. O nome e idade do detento morto não foram divulgados.

O ajudante de pedreiro

Fábio Cardoso da Silva, 29, ‘Nenê’, foi assassinado na mesma noite, na rua Poli-valente, bairro Japiim, Zona Sul de Manaus. Segundo testemunhas, o criminoso desceu de uma motocicleta, disparou quatro tiros e fugiu. A vitima ainda chegou a ser levada para o hospital 28 de Agosto, mas não resistiu aos ferimentos.

POLÍCIA

Efeitos especiais marcam apresentação mística do Caprichoso

De acordo com a pro-gramação divulgada pela agremiação, o primeiro car-ro a ocupar a arena será “Brasilidade”, construído pela equipe do artista An-tônio Cansanção. Seguido da Lenda Amazônica com a alegoria “Naiá, flor das águas”, de Francinaldo Guerreiro. A figura típica regional será representada pelo carro “O Vaqueiro”, de Vandir Santos. E, no quesito ritual indígena, a alegoria “Couro dos Espíritos”, de Jair Mendes Filho, deve ser a última a entrar na arena.

Na noite de estréia, o bumbá vermelho e bran-co defendeu a tolerância e o respeito à fé herdada pelos brasileiros dos pri-

meiros habitantes que co-lonizaram o país, exibindo imagens de Nossa Senhora do Carmo, símbolo de re-ligiosidade da fé católica, acompanhada de Oxalá, entidade presente nas re-ligiões de matriz afro e do Pajé, líder espiritual dos in-dígenas. Da indumentária da santa, surgiu a rainha do folclore, Patrícia de Góes.

Um Boi Garantido “ta-manho família” sobrevoou a arena de carona em um inseto gigante.

A última alegoria foi uma escultura que representava o Pajé dos Pajés e, por pouco, não encostou na es-trutura de ferro do bumbó-dromo. Do carro surgiu o pajé André Nascimento.

Garantindo a ‘brasilidade’

Já na primeira noite, o amo do Garantido, Tony Medeiros, não “refres-cou” para o estreante do contrário e o presenteou com versos satirizando a nova fase de Júnior Pau-lain, como amo. “Foi uma noite muito proveitosa e estamos em busca do bicampeonato”, afirmou emocionado Medeiros.

“Celebração da fé” foi a toada defendida e criada pelo levantador, Sebastião Junior. “Como irei concorrer com música da minha au-toria, fico mais tranqüilo e aliviado. Conheço a música, a letra, sei os traços, dife-rente de ter que decorar”, salientou o artista.

Diferente do boi azul,

que deixou a arena sem pressa, houve momentos que os integrantes do Ga-rantido desconfiaram que o espetáculo poderia ultra-passar o tempo previsto no regulamento, corres-pondente a 2h30. Contudo, a agremiação conseguiu seguir a norma e também abandonou o espaço no tempo previsto.

Ao fim, o coordenador da comissão de arte, Fred Goes, mostrou-se satisfei-to com o resultado. “Não temos como ensaiar este espetáculo todo. Na hora uma coisa ou outra não sai como esperado, mas não considero anormal, o im-portante é que emociona-mos o público”, acredita.

Noite de duelo com versos

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MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 A3Opinião

O brasileiro respeita mais jogador de futebol do que político, por uma questão de fi delidade. É certo que o jogador não tem mais aquele tipo de religiosidade com o seu time – “uma vez Flamengo, sempre Flamen-go”, ou nacionalino, rio-negrense etc. – e está cada vez mais atualizado com as leis do mercado – quem dá mais leva. É o que acontece com o político, quando se aproxima o “campeonato” das eleições.

Não se vê, nunca se viu, embora algum dia ainda se testemunhe, jogador abandonar a disputa se “vender” para o adversário. Não foi à toa que os brasileiros adotaram a fi losofi a da vaca – mascando chicletes e andando – com relação vendas, trocas e aluguéis de políticos e siglas que aconteciam durante a Copa do Mundo. Não se deu a mínima. O índice de quem não sabe em quem votar e de quem não votar em nenhuma hipótese continua alto. Até porque não existe em que ou em quem focar, diferente do futebol, em que o torcedor está sempre de olho e exerce cobrança em cima do lance.

Os cartolas da política seguem o padrão ético da Fifa, que não tem camisa nem torcida organizada que não seja patrocinada pelo dinheiro público. Além de uma arrogância de fazer inveja aos mais impiedosos coronéis de barranco. Quando um jogador sai do Brasil para jogar no primeiro ou no último dos mundos, sabe-se que ele está “vencendo na vida”, sem nenhuma hipocrisia. O político vence na vida, mas sob sigilo de Justiça: ele é eleito na favela, com a feijoada dos amigos, e mais do que de repente, começa a falar em vinho francês, embora ainda tenha a boca suja de açaí.

A Copa do Mundo, ao contrário do que se comenta, não está alienando o povo brasileiro da política. O povo brasileiro está jogando futebol. A política é que sempre esteve divorciada do povo, que já nem pode mais ir aos estádios.

Contexto3090-1017/8115-1149 [email protected]

Para o manauense anônimo que encontrou uma carteira recheada de Euros, documentos e cartões de crédito, no largo São Sebastião durante a farra da Copa e devolveu ao seu dono, um turista canadense.

Politicamente correto

APLAUSOS VAIAS

Estreia no boi

A deputada Rebecca Gar-cia (PP) fez ontem, no bum-bódromo de Parintins, a sua primeira aparição pública ao lado do pré-candidato Eduardo Braga (PMDB-AM), ao governo do Estado.

Passado

Rebecca estava irradian-do felicidade e, se alguma vez teve alguma rusga con-tra o senador, isso é coisa do passado.

Maltratada

Um jornalista ligou para a CONTEXTO e lamentou.

— Dá pena encontrar Parintins assim. A cidade está maltratada e no aban-dono.

Tábua de pirulito

De acordo com o repórter, a ilha está cheia de buracos e poças de lama.

— Aonde a gente vai, os moradores reclamam que a cidade está jogada às traças!

Salve simpatia

O calor humano, a sim-patia e a solidariedade do manauense continuam sendo divulgados no mundo agora.

O texto de uma reporta-gem publicada no exterior cita como exemplo uma cena interessante.

Salve simpatia 2

Um canadense perdeu a

carteira com documentos, cartões de crédito e dinhei-ro, recebeu o objeto de volta em menos de 20 minutos.

O fato surpreendeu a to-dos, inclusive a quem anun-ciou a perda no microfone do largo.

Fascínio

Do zagueiro da Bélgica, Nicolas Lombaerts:

— O Brasil é um país legal. A coisa mais bonita do Brasil é a natureza. Eu gostaria de visitar a Ama-zônia, mas infelizmente não temos tempo de conhecer muitas coisas.

Socialistas

O presidente do Partido Socialista Brasileiro do Amazonas (PSB-AM), Mar-celo Serafim, participou, nesta sexta-feira, em Brasí-lia, do Congresso Nacional dos segmentos do partido que aconteceu na Ala das Comissões da Câmara Fe-deral, durante o dia todo.

Crime genético

Uma companhia de petró-leo e um instituto médico es-tadunidense teriam extraí-do, sem autorização, pelo menos 3,5 mil amostras de sangue de 600 indígenas equatorianos com caracte-rísticas genéticas únicas, segundo uma investigação do governo equatoriano.

O crime aconteceu na dé-cada de 70, mas só agora veio à tona.

DNA vendido

A denúncia foi feira pelo por-tal Vermelho, do partido Co-munista do Brasil (PCdoB).

O Equador ratificou a acu-sação contra as entidades norte-americanas que tam-bém teriam vendido o DNA dos indígenas amazônicos a oito países.

Década de 70

O portal confirma que o presidente equatoriano, Ra-fael Correa, afirmou, no últi-mo dia 20 de junho, que as amostras foram retiradas a partir da década de 1970, “em parceria com uma pe-troleira que operava nestes territórios, a Maxus”.

Acusados

Estão envolvidos no caso a Escola de Medicina da Universidade de Harvard e o americano Instituto Coriell dedicado à pesquisa médica.

Isto é que é

Coca-Cola do Brasil es-pera que a Copa do Mundo deixe como legado a amplia-ção do uso do PET reciclado para 100% de sua produção de garrafas.

Sustentabilidade

A empresa é parceira da Fifa em ações de sustenta-bilidade durante o torneio de futebol.

E desenvolve, pela primei-ra vez no evento, a recicla-gem de todo resíduo descar-tado dentro dos estádios, nas 12 cidades-sede.

Para a Prefeitura de Parintins que, em ple-na a semana de festival folclórico – quando a ilha recebe milhares de turistas —, deixou a cidade abandonada, cheia de buracos e de lixo. Uma vergonha!

Prefeitura de Parintins

O Festival de Parintins não repetiu o sucesso de público dos outros anos.Pode até melhorar, mas até a primeira noite a ilha ainda estava meio

que esvaziada, se comparada aos anos anteriores.Os comerciantes foram os que mais reclamaram:

— Este ano a Copa do Mundo engoliu o boi!

A Copa engoliu o boi

[email protected]

Gente, olha o respeito!

E a Espanha, quem diria, de campeã da Europa e do Mundo, como a Greta Garbo, também acabou em Irajá. Mas isso faz parte do jogo e tem acontecido com as melhores famílias, ou ainda com as melhores seleções.

Neste caso específi co, acho que houve um erro de planejamento que, em longo prazo, veio a ma-nifestar seus resultados somen-te agora, porque somente agora toda a constelação de fatores se juntou, se articulou e gerou a situação a que assistimos.

Como a Alemanha está na moda (e parece que segue em frente na Copa), atrevo-me a dizer que se produziu a “gestalt” que veio para aniquilar o sonho espanhol do bicampeonato.

Há 4 anos, a Espanha formou um time competitivo e logrou faturar o troféu mundial da Fifa. Depois disso, empolgada, sonhou em cen-tralizar em seu território “la crème de la crème” do futebol mundial e começou a importar, literalmente a peso de ouro, o que havia de melhor e mais refi nado mundo afora porque, mesmo enfrentan-do uma crise econômica, ainda é um país do primeiro mundo, com uma população louca por futebol, disposta a lotar os estádios e a sustentar os seus clubes.

Resultado previsível: a Espanha se tornou a Meca visada pelos melho-res jogadores de todo o mundo e passou a apresentar o mais requin-tado jogo, utilizando material impor-tado e esquecendo-se de investir na “prata da casa” e de atentar para a necessidade de formar equipes ge-nuinamente espanholas. Enquanto pôde dispor de todas as estrelas que comprou, faturou os torneios que disputou, inclusive a cobiçada “Champions League”.

Mas eis que chegou a Copa da Fifa, quando cada país pode inscrever

somente jogadores nacionais ou na-turalizados. Nesse momento Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo e tantos outros foram requisitados por seus próprios países e a seleção espanho-la sofreu uma perda de qualidade enorme, precisamente porque não produziu os jogadores nacionais de que iria necessitar. E como não plantou, não pôde colher.

Realmente muito triste o espe-táculo que a Espanha apresentou ao mundo. Não que o mundo não o merecesse, mas a Espanha sim, não merecia dar tamanho vexame.

Ora, direis certamente que outras seleções de larga tradição também decepcionaram pelo desempenho que apresentaram, mas as outras não se encontravam na mesma si-tuação porque não eram detentoras do título mundial e nem tinham a condição de ostentar o rótulo que já foi do Brasil, de abrigar o melhor futebol do mundo.

A Espanha não estava neces-sariamente obrigada a sagrar-se bicampeã mundial, mas estava sim obrigada a desempenhar um papel mais adequado à sua condição no concerto do mundo futebolístico. Pelo menos evitar as goleadas ver-gonhosas e retardar sua eliminação até uma etapa mais à frente.

Como diz a voz do povo, quem logra atingir altos patamares obriga-se a cuidar-se mais, pois lá de cima a queda costuma ser mais trágica.

Sabemos muito bem disso porque em alguns momentos criamos gran-des expectativas que não consegui-mos cumprir. Não dá para esquecer 1966. Nem 1950.

Mas o mundo é uma bola e sempre está a dar voltas. Assim, a Espanha um dia voltará a ser realmente competitiva.

Até lá, vamos lembrar que ela é a pátria de Dom Quixote, o que está longe de ser pouca coisa.

João Bosco Araú[email protected]

João Bosco Araújo

João Bosco Araújo

Diretor Executivo do Amazonas

EM TEMPO

A pedagogia da Copa

[email protected]

Regi

A Espanha não estava necessaria-mente obriga-da a sagrar-se bicampeã mundial, mas estava sim obrigada a desempenhar um papel mais ade-quado à sua condição no concerto do mundo fute-bolístico. Pelo menos evitar as goleadas vergonhosas e retardar sua elimina-ção até uma etapa mais à frente”

DIVULGAÇÃODIVULGAÇÃO

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A4 Opinião MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

FrasePainelBERNARDO FRANCO MELLO (INTERINO)

Candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), turbinou as viagens oficiais para se aproximar do eleitorado do interior. Nos últimos cem dias, ele marcou compromissos em 89 municípios. No mesmo período do ano passado, esteve em apenas 52 cidades. O aumento é de 71%. Há duas semanas, o tucano viajou 880 km só para inaugurar uma unidade de Poupatempo em um shopping de Barretos e voltar à capital. Sua campanha será lançada oficialmente hoje.

Maratona Em um mesmo sábado de março, Alckmin visi-tou sete cidades do interior. Em três delas, entregou apenas um ônibus escolar.

Saindo da toca Apenas 11% dos even-tos oficiais do tucano nos últimos cem dias foram realizados no Palácio dos Bandei-rantes. No mesmo pe-ríodo do ano passado, 20% das solenidades aconteceram na sede do governo.

Consolação Des-pejado da direção do Procon para dar lugar a um afilhadode Cel-so Russomanno (PRB), Paulo Arthur Góes ga-nhará um novo cargo. Será assessor espe-

cial de Alckmin.

Mais um Aliados de Gilberto Kassab (PSD) ainda conside-ram possível arrastar o PV para o palanque do candidato do PMDB ao governo paulista, Paulo Skaf.

Pelo braço O vice-presidente Michel Temer (PMDB) pro-mete rodar o interior do Estado com Skaf. Quer acelerar o enga-jamento de prefeitos e evitar que eles sejam seduzidos pelo gover-nador.

Rede furada O PSB mineiro sofre uma de-bandada de candida-tos a deputado após o anúncio de que terá chapa própria ao go-

verno. O presidente do Atlético-MG, Ale-xandre Kalil, é um dos que dizem ter desisti-do de disputar vaga na Câmara.

Na bronca Os de-putados estaduais do PSB redigiram mani-festo contra a decisão. Eles queriam apoiar o aecista Pimenta da Veiga (PSDB) e acu-sam a cúpula da le-genda de se dobrar a Marina Silva.

O retorno Absolvi-do no julgamento do mensalão, o ex-depu-tado Paulo Rocha (PT-PA) voltará a concorrer ao Senado. Em 2010, ele teve os votos anu-lados por ser conside-rado ficha-suja.

Agenda eleitoral

Contraponto

Em 1998, quando se candidatou ao governo paulista, Paulo Ma-luf prometeu dar carros populares a todos os jogadores da seleção se o Brasil vencesse a Copa.– É uma tradição minha desde 1970 – gabou-se.Após o tricampeonato no México, o então prefeito doou 25 Fuscas aos jogadores e para uma parte da comissão técnica. Tudo com dinheiro público, é claro.– O Maluf foi pé-quente em 70, espero que também seja ago-ra – animou-se o técnico Zagallo, acrescentando que o incentivo também deveria valer para ele.Faltou um detalhe: o Brasil perdeu a final para a França.

Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”

Eu também quero!

Tiroteio

DO DEPUTADO DUDU DA FONTE (PP-PE), em reposta a Alberto Pinto Coelho, que conside-rou antidemocrática a decisão do partido de apoiar Dilma Rousseff .

É interessante ver que na democracia defendida pelo governador de Minas dois diretórios estaduais valem mais do que 25.

No Dia de São Pedro acon-tecem procissões fl uviais para homenagear o mais famoso dos pescadores. Homens e mulheres que se dedicam e vivem desta que é das mais antigas atividades humanas se identifi cam com este Galileu que foi elevado a pedra da Igreja pelo próprio fundador, o Cristo Jesus. Pescadores são homens acostumados às intem-péries, enfrentado tanto as cal-marias quanto os temporais.

São pessoas que sabem convi-ver tanto com a pesca abundante ou com o insucesso de uma pesca frustrada. Conhecem o tempo e as estações, vivem ao ritmo das águas. Acostumados ao silêncio da espera podem ser impulsi-vos e corajosos. Em geral são pobres. Como os garimpeiros e outros coletores. Vendem tudo o que conseguem com um esforço insano e às vezes nada tem em casa para comer. Trabalham in-cansavelmente.

Conheci comunidades de pes-cadores no Solimões que depois de terem feito a limpeza do leito do rio, num trabalho inimaginá-vel e impossível de se descrever, se revezam dia e noite lançan-do as redes, não se importan-do com as condições climáticas. Ultimamente as leis trabalhistas contemplaram os pescadores e durante o período do defeso são considerados desempregados e com direito a receber o seguro. Mas se isto ajuda não diminui as exigências da profi ssão tanto para os que vivem em comu-nidades ribeirinhas quanto para aqueles que passam dias e se-manas nos barcos de pesca, vi-vendo em espaços exíguos e com limitadas condições de higiene e alimentação.

A Organização das Nações Uni-das reconheceu recentemente a

importância da pesca artesanal para a alimentação da huma-nidade, e ainda constatou que grande parte dos pescadores são mulheres. Para quem vive no meio das águas nada mais natural que reconhecer a importância desta imensa legião de pescadores.

Conhecendo a sua vida con-seguimos vislumbrar as razões de Jesus ao transformar Pedro em pescador de homens. Acos-tumado às longas esperas, não desanimaria diante dos fracassos aparentes, nem mesmo os pesso-ais como demonstrou ao se arre-pender de ter negado o mestre. Depois da morte de Jesus volta a pescar, e na atividade retomada encontra o ressuscitado que vai confi rmá-lo na missão. E a sua missão será a de confi rmar seus irmãos na fé, a de incentivá-los na obra evangelizadora, a conservá-los na unidade.

Esta é a missão do papa. É Dia de São Pedro é também Dia do Papa. Nos subterrâneos da Basí-lica dedicada ao pescador estão seus restos mortais. É o fato de ele ter sido sepultado naquele lugar que justifi ca tudo o que foi construído nos últimos séculos. A Igreja católica acredita que Pedro é fundamento, é Pedra de um edifício que se é espiritual é também humano. Obra do Espí-rito, também acontece pela ação de homens e mulheres concretos que são as pedras vivas desta construção.

É bom não esquecer que a his-tória da igreja começa com um punhado de homens e mulheres muito humanos, entre eles um pescador muito parecido com os pescadores de todos os tempos, inclusive os que hoje continuam pacientemente a consertar e lavar redes à margem de toda agitação das grandes metrópoles.

Dom Sérgio Eduardo [email protected]

Dom Sérgio Eduardo Castriani

Dom Sérgio Edu-ardo Castriani

Arcebispo Metropolitano de

Manaus

Dia de São Pedro é também Dia do Papa. Nos subterrâneos da Basílica dedicada ao pescador es-tão seus res-tos mortais. É o fato de ele ter sido sepultado naquele lugar que justifi ca tudo o que foi construído nos últimos séculos. A Igreja Cató-lica acredita que Pedro é fundamento”

Pedro

Olho da [email protected]

A Arena da Amazônia Vivaldo Lima, a Arena Vivaldão, tornou-se tão autossufi ciente que nem os estádios (não arenas) construídos para os treinos das seleções que jogaram em Manaus precisaram ser usados. Os times já chegaram treinados, para não haver atrasos. E os estádios não foram abertos nem para um joguinho inocente para matar o tempo

Nós precisamos de uma reforma política. É preci-so trabalhar para moralizar a questão da política.

Estamos vivendo um momento de muito descrédito da política brasileira. Aos olhos do povo parece

uma coisa vergonhosa. (...) Negar a política é a pior coisa que pode acontecer. A desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta.

Temos que gostar e praticar a política.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente, em discurso a mili-tantes petistas na Bahia, ontem, reconheceu que é preciso fazer

a reforma política que o PT há dois anos no poder não fez.

Norte Editora Ltda. (Fundada em 6/9/87) – CNPJ: 14.228.589/0001-94 End.: Rua Dr. Dalmir Câmara, 623 – São Jorge – CEP: 69.033-070 - Manaus/AM

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DIEGO JANATÃ

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Page 5: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 A5Política

Cenário das eleições no Amazonas está definidoAlianças viabilizadas na semana passada trabalham para uma polarização, mas também podem forçar migração de votos

Herique Oliveira vai disputar o pleito como candidato a vice-governador na chapa de José Melo

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O prazo das convenções partidárias, determi-nado pela Legislação Eleitoral, termina so-

mente amanhã, mas no Amazo-nas o cenário para a campanha eleitoral já está praticamen-te definido. Tudo foi acerta-do nesta semana que passou, com intensas movimentações por parte dos dois principais pré-candidatos ao governo e manobras políticas para ga-rantir apoios e uma sonhada polarização do pleito.

E a tática para neutralizar potenciais adversários deu certo. Quatro aspirantes ao governo - os deputados Chico Preto (PMN), Henrique Oliveira (SDD), Hissa Abrahão (PPS) e Rebecca Garcia (PP) - recuaram de suas candidaturas, após me-ses batendo o pé e garantindo com um discurso único de que sairiam candidatos a qualquer custo. Três deles não resistiram ao cenário e se aliaram, na semana passada, aos pré-can-didatos majoritários José Melo (Pros) e Eduardo Braga (PMDB), contribuindo, dessa forma, à polarização destas eleições.

Essas mudanças foram re-cebidas com ânimo pelo PSB

do deputado Marcelo Ramos, que agora vê mais chances de captar os votos do eleitorado insatisfeito e forçar um possí-vel segundo turno. O socialista homologou sua candidatura ao governo no último dia 20.

Ao grupo peemedebista, aderiram o vice-prefeito Hissa Abrahão e a deputada federal Rebecca Garcia, então pré-can-didatos por seus respectivos partidos. Abrahão anunciou an-teontem que vai disputar na chapa de Braga ao mandato de deputado federal. Rebecca, após um fugaz rompimento de 2 anos com o senador, aceitou ser candidata a vice-governa-dora na aliança.

Enquanto isso, Henrique Oli-veira, que adotava o discurso da renovação e da terceira via no pleito, negociou apoio de seu partido à reeleição de Melo e ainda a vaga de vice-gover-nador na chapa. Já Chico Preto dá sinais de que também deve recuar do projeto majoritário para uma candidatura propor-cional a deputado federal.

Em comum entre Hissa, Rebecca e Henrique estava a busca por se emplacar como candidatos da renovação, con-centrando discursos para cap-tar os votos do eleitorado de-sanimado com a política e que

apresenta desejo de mudanças radicais no governo. Os nomes agora abrigados nos grupos do PMDB e do Pros, partidos antes alvos das críticas dos ex-postulantes ao governo, eram vistos pela comunidade política como capazes de fortalecer a possibilidade de um eventual segundo turno nas eleições.

Otimismo“Não há dúvidas de que os

recuos dessas três pré-candi-daturas podem vir a fortalecer o palanque dos candidatos que permanecem como alternati-vas para o eleitor insatisfeito. Os três (Rebecca, Henrique e Hissa) se apresentavam como a novidade e agora devem ver esse voto migrando para outras candidaturas não associadas a cenários exaustos”, disse o professor de Ciências Sociais e cientista político da Univer-sidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Seráfico.

O recuo destas candidaturas deverá agregar cerca de um minuto à campanha de Marcelo Ramos, aumentando a expo-sição do deputado - lançado em chapa isolada - na TV e rádio para cerca de dois minutos e meio. Ramos admite que a dobradinha PSB/Rede recebeu com ânimo as notícias oficiali-

zadas ao longo da semana que passou. “É óbvio que uma parce-la dos eleitores da Rebecca, do Hissa e do Chico, que desejam mudanças, devem migrar para mim. Nós estaremos no segun-do turno”, prognosticou.

Ramos não ataca as adesões realizadas por falta de suces-so nas negociações partidárias. “Eu lamento as decisões deles. Eram candidaturas de pesso-as jovens, com novas formas de ver e de fazer política, que dariam grande contribuição às eleições. Eu poderia comemorar do ponto de vista eleitoral, mas quem perde com tudo isso é a democracia”, afirmou, enquanto embarcava para Brasília, onde participa neste final de semana de uma maratona de eventos do PSB/Rede nacional.

O sociólogo e cientista polí-tico Mário Barroso, no entanto, afirma que a incorporação dos partidos pode dar mais força à polarização entre Melo e Braga e associar o nome dos candi-datos a políticos que possuem eleitorados diferentes. “Não vai ser tão fácil para outros candi-datos adquirirem os votos des-ses que foram incorporados. Há uma empatia pessoal e fraterna do eleitor com esses nomes, fenômeno que é intransferível”, disse o analista.

Foi um caminho de diver-sas tentativas de composi-ções com o PSDB antes de Hissa, Rebecca e Henrique Oliveira resolverem aderir aos projetos do PMDB e do Pros. O PSDB do prefeito de Manaus, Arthur Neto, foi o principal alvo da deputada, que tentou garantir o apoio dos tucanos aproximando-se do presidenciável Aécio Neves. Mas isso não garantiu Virgílio na aliança, que anun-ciou na semana passada o apoio a José Melo.

Ao lado de Braga, Rebec-ca minimizou os 2 anos em que esteve rompida com o senador. “Nunca deixei de fazer parte desse grupo, es-tive afastada por conta do trabalho”. Os tucanos tam-bém foram alvos de Hissa Abrahão, exonerado do cargo de secretário municipal de In-fraestrutura (Seminf) por Vir-gílio, em dezembro de 2013. “Precisamos estar ao lado de alguém que nos dê valor e que nos trate com respeito”, disse ele, ao declarar adesão

ao bloco de Braga.Do partido aliado aos tu-

canos, Henrique Oliveira já não contava com o apoio de Virgílio e chegou a fazer tentativas de composição com o PSC do presidenciável Pastor Everaldo. Tendo por diversas vezes considerado a chapa “puro sangue”, ele afirmou que a decisão foi baseada na busca por re-presentar o povo. “É escolha para a busca do poder, o poder de ajudar o povo que mais necessita o poder de participar da administração desse Estado”, afirmou.

Negociações fracassaram

DEFINIÇÃONa última quinta-fei-ra, o Pros e o PMDB, partidos que traba-lham pela polarização do pleito definiram o arco de alianças e os respectivos pré-can-didatos a vice para estas elei;cões

A deputada Rebecca Garcia tentou emplacar sua candidatura, mas recuou para ser vice de Braga

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O deputado Chico Preto (PMN) deve recuar de sua candidatura para disputar a Câmara Federal

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Anteontem, o vice-prefeito Hissa Abrahão oficializou o ingresso do PPS ao bloco do PMDB

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RAPHAEL LOBATOEquipe Em Tempo

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Page 6: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

A6 Política MANAUS, SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2014

Cortes deixaram Ita-maraty vulnerávela in-vasões

A vulnerabilidade do Minis-tério das Relações Exteriores, que permitiu recente invasão de hackers, destruiu a con-fi ança nas comunicações da casa. O problema decorre da falta de investimentos e dos constantes cortes de recur-sos ordenados pela presidenta Dilma. Embaixadas e consu-lados agora preferem trocar informações de Estado, re-servadas, por meio de Gmail, Hotmail ou Yahoo, que acham mais confi áveis.

TorniqueteDilma materializa seu pou-

co-caso por diplomatas cor-tando-lhes as verbas, como se pretendesse matar o Ita-maraty de inanição.

Antiga covardiaDiplomatas morrem de

medo de retaliações, e tra-tam os números da pindaíba, na área de tecnologia, como “segredo de Estado”.

Nem a pau, JuvenalO Itamaraty avisou que só

forçado pela Lei de Acesso à Informação dirá os valores destinados ou retirados da sua área de tecnologia.

Amor com amor se paga

O desprezo de Dilma pelos diplomatas é correspondido. Referem-se a ela, no serpen-tário, até por e-mail, com ape-lidos impublicáveis.

Bolsa Família custou R$ 2,1 bilhões só em maio

Em pleno ano eleitoral, o governo Dilma havia distribu-ído até abril R$ 8,45 bilhões a famílias “em condição de pobreza e extrema pobreza”, segundo dados do Portal Transparência. Somados os gastos de maio à conta da

Bolsa Família, o total dispara para R$ 10,54 bilhões. A Bahia, do correligionário petista Ja-cques Wagner, não é o maior Estado, mas foi o que mais recebeu verbas do programa em 2014: R$ 1,36 bilhão.

Ano de gastosSe continuar no mesmo rit-

mo, Dilma deve gastar com o Bolsa Família, no seu último ano de governo, quase o dobro do governo Lula.

Lavanderia BrasilHabituados ao sistema self-

service, comum no exterior, gringos relutam em confi ar as roupas a lavanderias conven-cionais para pegar depois.

Cuco! Coca!Até o relógio vira à esquer-

da na Bolívia. O presidente cocalero Evo Morales mandou trocar os polos Sul-Norte. Já poupa folha de coca.

Fica para depoisO presidente da Câmara,

Henrique Alves (PMDB-RN), sentou em cima da indicação de Bruno Dantas para minis-tro do Tribunal de Contas da União. A votação na Câmara deve fi car para o segundo se-mestre. Dantas é uma indica-ção do presidente do Senado, Renan Calheiros.

Cara feiaNem a animação da União

da Juventude Socialista, du-rante a convenção nacional do PCdoB, conseguiu desfazer a cara amarrada do minis-tro Aloizio Mercadante (Casa Civil).

DislexiaDilma confundiu o nome

do deputado constituinte Haroldo Lima (BA), um dos históricos do PCdoB, e o cha-mou de “Haroldo Silva”. Foi corrigida pela plateia. Lima presidiu a Agência Nacional

de Petróleo.

Hasta la vistaAlívio em Cuba, Fidel já

tem substituto: o jornal ofi -cial do partido comunista, o Granma, anunciou a desco-berta de restos fósseis do período cretáceo, de 100 milhões de anos, na provín-cia Ciego de Ávila.

Jogo duploAliados de José Serra, que

deseja sair para o Senado, veem o dedo do governador Geraldo Alckmin na candida-tura avulsa do PTB. Alckmin trabalharia nos bastidores para manter comando do tu-canato paulista.

Vendendo partidoO presidente do PRB-AL,

Galba Novais, será denuncia-do por traição. O ex-deputa-do Euclides Mello o acusa de se vender ao governo tucano de Alagoas em troca de um cargo na secretaria estadual de Pesca.

Projeto verdeO PV sonha eleger ao

menos quinze deputados, a mesma bancada que tinha antes da crise aberta com a saída da ex-senadora Mari-na Silva, que deixou o partido para a tentativa frustrada de fundar a Rede.

ComilançaO Alvorada e o Planalto re-

servaram R$172,1 mil para renovar a cristaleira: além de panelas, pratos e utensílios diversos para a cozinha mo-derna, terá 10 kits-lavabo, “elegantes, de geometria em movimento”.

À moda da casaMorder ela ainda não mor-

deu. Mas assessores vítimas dos esculachos sussurram nos corredores do Planalto o nome de “Dilma Suárez”.

Cláudio HumbertoCOM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS

Jornalista

www.claudiohumberto.com.br

Já fui tudo que podia ser. Agora quero cui-dar da minha vida”

ROSEANA SARNEY, governadora do Maranhão, sobre o fi m da sua carreira política

PODER SEM PUDOR

O papel de PolidoroEssa história de ser carregado nos braços do povo

dá boas fotos, mas em geral não agrada aos polí-ticos. É incômodo e quase sempre provoca quedas ou machucões, digamos, nas partes ilustres.

Juscelino Kubitscheck resolveu o problema. Con-tratou um crioulo enorme, Polidoro, a quem deu instruções claras de como proceder.

Assim, nas campanhas para governador de Minas ou para presidente, quando JK desembarcava em qualquer lugar, e antes que qualquer eleitor mais entusiasmado o fi zesse, Polidoro metia a cabeça entre as suas pernas, levan-tava-o com jeito e sem difi culdades e gritava:

- Viva o dr. Juscelino!Polidoro é o auxiliar que mais aparece nas fotos de campanha de JK.

Casa decidiu liberar os parlamentares para as convenções partidárias em seus Estados, criando o “recesso branco”

Senado libera servidores para aproveitar ‘feriado’

Com senadores em “recesso branco” liberados para as convenções dos par-

tidos nos Estados e a Copa do Mundo, os servidores do Se-nado também conquistaram um “feriadão” de cinco dias, mesmo sem nenhum feriado oficial no calendário do país. Os funcionários não tiveram expediente na quinta (26) e nem terão na segunda (30) porque há jogos da Copa em Brasília, mas também foram liberados de trabalhar nesta sexta (27).

O Senado optou por não realizar expediente em dias de jogo na capital seguindo recomendação do governo do Distrito Federal para evitar congestionamentos no trân-sito. O modelo também é seguido pelo Judiciário e Exe-cutivo, mas os outros pode-res mantiveram expediente normal hoje.

A justifi cativa do Senado é que a instituição preci-sa passar por uma série de manutenções em sua rede elétrica, por isso aproveita

para liberar servidores em dias com menor fl uxo de tra-balho. Não há expediente na instituição nesta sexta, com estacionamentos vazios e portas fechadas.

Os senadores, que também prometiam realizar uma se-

mana de votações a partir de terça (1), transferiram os trabalhos para o dia 15 de julho. Até outubro, os con-gressistas terão apenas uma semana de trabalhos por mês, liberados para as tradicionais campanhas eleitorais.

Como não há sessões deli-berativas (com votações) no

plenário, não há corte nos salários. Todos fi cam autori-zados a não registrar presen-ça sem perder parte dos R$ 26,7 mil que recebem mensal-mente, mantendo também os demais benefícios -entre eles as cotas mensais que chegam a R$ 44,2 mil para exercício da atividade parlamentar.

É tradição no Congresso re-duzir o ritmo de trabalhos em razão das eleições, mas este ano o “recesso branco” foi antecipado em razão da Copa do Mundo. Desde o dia 5 de junho não há mais votações no Senado. Em julho, os se-nadores entram ofi cialmente em recesso e só retomam normalmente as atividades em outubro.

A folga na Copa tem como objetivo liberar os congres-sistas para assistirem jo-gos, especialmente em suas bases eleitorais. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), justifi cou a pa-ralisia com o argumento de que o Congresso tem que se adequar aos “eventos inter-nacionais” no país.

Servidores do Senado ganharam um “feriadão” de cinco dias por conta das convenções e da Copa

FERIADÃO A folga na Copa tem como objetivo libe-rar os congressitas para assistirem jogos, especialmente em suas bases eleitorais. Presidente do Senado, Renan Calheiros ainda tentou justifi car o ato

LDO será discutida na Câmara NESTA SEMANA

A Comissão Mista de Orçamento (CMO) marcou duas reuniões para a próxi-ma semana, a fi m de votar o relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentá-rias (LDO) de 2015 (PLN 3/14). O primeiro encontro ocorrerá na terça-feira (2), às 14h30; o segundo, na quarta (3), às 15 horas.

O parecer preliminar foi divulgado no mês passado pelo relator, senador Vital

do Rêgo (PMDB-PB). Após a aprovação desse texto, será aberto o prazo para a apresentação de emendas à LDO 2015.

Conforme a Constituição, a LDO deve ser aprovada até 17 de julho pelo Ple-nário do Congresso. Caso contrário, os trabalhos na Câmara e no Senado não poderão ser interrompidos para o recesso parlamentar nas duas últimas semanas

de julho. A oposição já anunciou que pretende se manter em obstrução, na Câmara, para cancelar o recesso.

A LDO é uma lei anual que disciplina a elaboração da proposta orçamentária. A norma traz ainda as me-tas fi scais que o governo pretende alcançar no ano seguinte. No texto, o Execu-tivo propõe salário mínimo de R$ 779,79 para 2015.

DIVULGAÇÃO

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Page 7: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 A7Com a palavra

Como conse-lheira, minha trajetória será pau-tada pela celeridade, transparên-cia e justiça. Sempre vol-tada de for-ma positiva ao enalteci-mento deta casa, seus membros e servidores”

Recém-empossada no cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM),

a contadora e advogada Yara Amazônia Lins Rodrigues dos Santos é a segunda mulher, em 69 anos de história do tri-bunal, a assumir uma cadeira no colegiado.

Com quase 40 anos de atu-ação no TCE-AM, a escolha de Yara pelo governador José Melo (Pros) – por meio de uma lista tríplice - teve como de-terminante a sua experiência no órgão e por merecimento dentre a classe de auditores da instituição. Seu nome foi referendado, por unanimida-de, pela Assembleia Legisla-tiva do Estado (Aleam).

Yara foi nomeada oficial-mente para o cargo em soleni-dade no último dia 17 e, con-forme frisou, pretende atuar na função por muitos anos. Entre as primeiras pautas a serem avaliadas pela nova conselheira está a relatoria das contas da Copa do Mundo e a presidência da Segunda Câmara.

Filha dos tabeliães Terezi-nha de Jesus Lins Rodrigues e José de Araújo Rodrigues, Yara Lins é casada com o médico cardiologista Fausto Vieira dos Santos com quem tem três filhos. Na última sex-ta-feira, a nova conselheira do TCE concedeu entrevista ao jornal EM TEMPO, onde falou sobre sua carreira públi-ca, a presença das mulheres na vida pública e a atuação da instituição nas eleições deste ano.

EM TEMPO - A senhora

é funcionária de carreira do TCE desde 1975. Como foi seu ingresso na insti-tuição?

Yara Lins - Fui nomeada em 31 de outubro de 1975, obedecendo à legislação en-tão vigente. Dentro tribunal exerci diversas funções, entre elas a de técnico de Controle Externo; inspetora de Con-trole Externo e secretária de administração. Em seguida, fui promovida ao cargo de au-ditor-adjunto, atuando como assessora técnica da presi-dência e assessora direta da presidência. No ano de 2002, passei à função de auditor, onde atuei nas relatorias das contas dos gestores públicos do Estado. Por diversas ve-zes, nos últimos anos, exerci a função como conselheira-substituta, tendo direto a voto nas sessões ordinárias.

EM TEMPO - A senhora é a segunda mulher a assumir uma vaga no colegiado do Tribunal de Contas. A pre-sença de mulheres ainda é escassa nessa função, por quê?

YL - A mulher atual tam-bém está voltada para a vida profissional, passando a buscar seu espaço num mer-cado competitivo. Mais inde-pendentes e preparadas, as mulheres passaram a ocupar cargos importantes, ganhan-do espaço nesse segmento.

EM TEMPO - A senhora já foi conselheira convocada de alguns de seus pares, mas agora será de fato e direito. Como será a sua atuação?

YL - Continuarei atuando de acordo com a lei e com a Justiça em todas as causas a mim destinadas.

EM TEMPO - O TCE é um órgão de controle. Como será a sua contribuição para a fiscalização nas ações da instituição?

YL – Irei atuar sempre de acordo com as Constituições Federal e Estadual e com o regimento interno do Tribunal de Contas.

EM TEMPO - O que a

senhora leva como expe-riência de auditora para o cargo de conselheira?

YL - Como auditora fui rela-tora de todas as matérias afe-tas à competência do tribunal, o que me deu conhecimento de causa. Inclusive atuei como relatora das contas do gover-nador no exercício de 2005. Uma pessoa que já atuou, por 12 anos, nas Câmaras e no Tribunal Pleno, já adquiriu a experiência necessária para atuar como titular do cargo.

EM TEMPO - Existe um grau de parentesco seu com políticos da cidade. Como a senhora vai trabalhar sua imparcialidade nesse caso?

YL - Me sinto à vontade para atuar com independên-cia, ética e imparcialidade, principalmente porque fui in-dicada para o cargo de con-selheira dentro do percentual legal da classe de auditor, que é de carreira, previsto constitucionalmente.

EM TEMPO - Há servi-

dores na casa que contes-tam a indicação da senho-ra para o colegiado. Como avalia essa situação?

YL - Desconheço essa in-formação até porque como servidora de carreira conheço a grande maioria dos servido-res, tendo inclusive ido pes-soalmente aos setores para convidá-los à minha posse. Ademais, sempre fui bem quis-ta porque sabedora dos pro-blemas e dificuldades que os nossos servidores enfrentam no dia a dia, sempre procurei defender medidas favoráveis a eles e manterei essa mes-ma postura como conselheira. Um exemplo do que estou falando foi o fato de no ato de minha posse ter havido além da presença maciça de funcionários ativos e inativos, o que demonstra o carinho dos servidores com a minha pessoa, queima de fogos por eles oferecida.

EM TEMPO - Com esse tempo todo no serviço pú-blico, a senhora já pensa em sua aposentadoria?

YL - Não penso nisso. Estou mais voltada aos novos desa-fios do cargo de conselheira que são muitos.

EM TEMPO - Além do serviço prestado, qual a herança que a senhora quer deixar para a Corte de Contas?

YL - Como conselheira, minha trajetória continua-rá pautada pela celeridade, transparência e justiça. Sem-pre voltada de forma positiva ao enaltecimento desta casa, seus membros e servidores, além dos anseios sociais.

A mulher atual tam-bém está voltada para a vida profissional, passando a buscar seu espaço num mercado competitivo. Mais inde-pendentes e preparadas, as mulheres passaram a ocupar cargos impor-tantes, ganhando espa-ço nesse segmento”

FOTOS: DIEGO JANATÃ

‘Minha TRAJETÓRIA SERÁ pautadana CELERIDADE’

Yara LINS

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Page 8: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

A8 Política MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014��������������������������������������������������������

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030

Plataformas para Produção de Petróleo Previstas no Plano de Negócios e Planejamento Estratégico da Petrobras

������������������������������������������������������9 Unidades Concluídas

Cessão OnerosaExcedentes da Cessão Onerosa (ECO)��������������������������������������Unidade Concluída em 2013 com 1º óleo em 2014

Cid. São Paulo ���������������

Cid. Itajaí �����

Cid. Paraty Piloto Lula NE

P-63 Papa-Terra

P-55 Rocandor III

P-58 Norte Pq. �������

P-62 Roncador IV

P-61 Papa-Terra

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ES Águas Profundas

P-71 Iara NW

Revitalização Marlim I

SE Águas Profundas I

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Maromba I

P-72 NE de Tupi

P-73 Entorno de Iara

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

ECO

Espadarte III

SE Águas Profundas II

Revitalização Marlim II

Florim

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������������Lula Alto

Cid. Saquarema Lula Central

P-66 Lula Sul

P-67 Lula Norte

Cid.Caraguatatuba

Lapa

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Tartaruga Verde e Mestiça

P-69 Lula Oeste

P-70 Iara Horst

P-68 Lula Ext. Sul eCO Sul de Tupi

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Cid. Itaguaí Iracema Norte

P-58 Norte Pq. �������

P-62 Roncador IV

P-61 Papa-Terra

TAD Papa-Terra

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Cid. Mangaratiba Iracema Sul

MG

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50m

100m

1.000m

1.000m

1.000m

2.000m

Bacia de Santos

Rota 1 – Mexilhão

Rota 3 – Comperj Rot

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Teca

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Libra

Bacia de Campos

Baleia Anã

Argonauta

Ostra

Abalone

Catuá

NautilusMangangá

Baleia AzulJubarte

Baleia Franca

Cachalote

Caxaréu

Pirambu

Roncador

Albacora Leste

Albacora

Frade

Marlim

Marlim Leste

Marlim Sul

Caratinga / Carimbé

Barracuda

Espadarte

Xerelete

Bonito

Tartaruga VerdeTartaruga Mestiça

MarombaCarataí

Papa-Terra

Iara

Peroba

Sul de Lula

Júpiter

Lula

Tambaú

Pirapitanga

CarapiáMexilhão

Parati

Carcará

Lagosta

BM-S-50

Merluza

Guaiamá

Bem-te-vi

Caramba Sul de Guará

Sapinhoá

Área de Iracema

Uruguá

Tambuatá

Lapa

Baúna

Tubarão

Estrela do Mar

3. Florim

1. Búzios

2. Entorno de Iara

4. NE Tupi

Concessão

Partilha de Produção

Cessão Onerosa

ÁreasExcedentes da

Cessão Onerosa (�������������)

1. Búzios entre 6,5 e 10,0

2. Entorno de Iara entre 2,5 e 4,0

3. Florim entre 0,3 e 0,5

4. Nordeste de Tupi entre 0,5 e 0,7

Tabela: Resolução CNPE nº 1, 24/06/2014

Área do Pré-sal brasileiro

Produzir em média 4,0 milhões de barris de óleo por dia no período 2020-2030, sob titularidade da Petrobras no Brasil e no exterior, adquirindo direitos de exploração de áreas que viabilizem este objetivo.

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E&P

O Governo Federal autorizou no último dia 24 de junho a contratação direta da Petrobras para a produção de volumes excedentes em 4 (quatro) áreas do pré-sal, nos termos da Lei da Partilha de Produção de Petróleo, promulgada em dezembro de 2010, que dispõe sobre a exploração e a produção no pré-sal brasileiro.

Esse volume excedente se somará aos 5 bilhões de barris já contratados em 2010 pela Petrobras sob o regime de Cessão Onerosa. As áreas do pré-sal que terão excedentes contratados são Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi.

Com volume estimado entre 9,8 e 15,2 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), segundo a Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis, essas áreas gigantes possuem baixo risco exploratório.

Sustentabilidade da Produção de Petróleo ���������������������������������õ���������������������

Esta contratação direta representa uma excelente opor-tunidade para a Petrobras, pois se trata de áreas com grande potencial de acumulação de petróleo já conhecido e comprovado pela companhia, a saber:

• Áreas com 17 poços perfurados e 12 testados, com ótimos resultados: 100% de sucesso exploratório, todos com presença de petróleo; e

• Projetos de desenvolvimento da produção em anda-mento, com conhecimento dos reservatórios, das tecno-logias associadas, da disponibilidade de bens e serviços e do excelente potencial de produção de até 35 mil barris por dia por poço.

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• �ão �aver� impacto material na �nancia�ilidade do Plano de �e��cios e �estão 2�1�-2�1�� � cai�a da Petro�ras fec�ou o 1� trimestre de 2�1� com R$ 78,5 bilhões. O bônus de R$ 2 bilhões a ser pago ao governo para ter direito a produzir nestas áreas não exigirá novas captações no ano.

• Complementarmente aos R$ 2 �il�ões, serão desem�olsados R$ 13 �il�ões de 2�15 a 2�1�, a título de antecipação de �leo lucro da União, que não impactam materialmente os indicadores de endividamento da Companhia nesse período, os quais iniciarão sua trajetória de queda com o crescimento da produção de petróleo já em 2014.

• Com a conclusão, at� 2�2�, dos projetos das novas re�narias e f��ricas de fertili�antes, os investimentos da Petro�ras no período 2�21 a 2�3� estarão ainda mais concentrados em ��P� � receita da Compan�ia �car� su�stancialmente maior com a produção de 3,7 a �,2 mil�ões de �arris por dia no �rasil, frente aos atuais 2 mil�ões� �ssim, os indicadores de endividamento permanecerão �em a�ai�o dos limites esta�elecidos pelo Consel�o de �dministração�

A contratação direta do Excedente da Cessão Onerosa, em regime de Partilha de Produção, está alinhada ao Plano Estratégico 2030, aprovado pelo Consel�o de �dministração em 25 de fevereiro de 2�1�, que de�niu como sua escol�a fundamental “Produzir em média 4,0 milhões de barris de óleo por dia no período 2020-2030, sob titularidade da Petrobras no Brasil e no exterior, adquirindo direitos de exploração de áreas que viabilizem este objetivo”.

�mpresas de petr�leo almejam ter acesso a volumes potenciais dessa ma�nitude, a�nal tratam-se de �,� a 15,2 �il�ões de �arris de �leo equivalente, com baixo risco. O acesso aos Excedentes da Cessão Onerosa permite à Petrobras cumprir e até elevar suas metas de produção a partir de 2020, reduzindo os riscos de sua participação em sucessivas campanhas exploratórias na busca de reposição de suas reservas.

�l�m do que, esta contratação direta tra� como importante �enefício a consolidação da indústria nacional� � setor naval �rasileiro, por e�emplo, cresce em maturidade ano ap�s ano e est� preparado para atender as encomendas das atuais e das novas plataformas�

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EconomiaCa

dern

o B

[email protected], DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 (92) 3090-1045Economia B3, B4 e B5

Vinte anosde Plano Real no Brasil

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

Com uma frota de ve-ículos que ultrapassa a marca de 600 mil, conforme dados do

Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (De-tran-AM), Manaus se confi r-ma como mercado promissor para o segmento de lava a jato, que por sua vez são empreen-dimentos que surgem pelos bairros da cidade, em quan-tidades não registradas pelos órgãos competentes.

A busca pela comodidade de ter o veículo limpo está alia-da aos serviços oferecidos pelos empresários do ramo, que investem no diferencial para conquistar a clientela exigente. As alternativas e os preços são sugestivos, e variam com a necessidade de cada proprietário de veículo. A empresária do lava a jato Universitário, localizado na rua Baia, Parque das La-ranjeiras, Zona Centro-Sul, Juliana Braga, 28, confi rma que o mercado na cidade é de fato promissor.

Para ela, os resultados são possíveis aos proprietários de lava a jato comprometidos com as atividades diárias do serviço, um grupo de co-laboradores assíduos e de

boa conduta, além de visão empreendedora para inves-tir em bons equipamentos e preservação do meio ambien-te. “É importante focar na qualidade dos serviços e ter disponibilidade. No primeiro ano não tem lucro, mas, com afi nco dá para se fi rmar no segmento”, avalia.

Juliana e o esposo Alfre-do Assunção, 29, investiram aproximadamente R$ 9 mil para estruturar o empre-

endimento, que é bastante procurado por conta do ho-rário de serviço diferencia-do que oferece aos clientes, em sua maioria, moradores dos condomínios residenciais instalados no bairro. No lava a jato é possível encontrar serviços que variam entre R$ 30 (para carros básicos) a R$ 45 (pick-up). Num serviço

de lavagem completa, carros modelo sedam, por exemplo, são lavados, aspirados e en-cerados por R$ 40.

Com foco nos clientes mais atarefados, o lava a jato uni-versitário abre às 8h e fecha às 23h, nos sete dias da semana. Para suprir a demanda, que segundo Juliana sofreu uma baixa neste mês, por conta do período de férias, ela con-ta com a colaboração de um funcionário fi xo e mais seis prestadores de serviços que trabalham em dois turnos. “Também procuramos estar presentes nas redes sociais e em sites de compra coletiva. O objetivo é tornar o negócio conhecido, e as mídias são uma ótima ferramenta”, ressalta.

Juliana que está no negócio há quatro meses, afi rma que a sobrevivência do negócio depende entre outras coisas, da localidade escolhida para o empreendimento. “Quem qui-ser apostar no segmento pre-cisa procurar um bom ponto. E pela nossa experiência, os lugares próximos a condomí-nios são excelentes. Pelo que observo, uma área da cidade onde existem muitos deles e poucos pontos de lavagem é a na avenida Torquato Tapajós. Penso que ali existe uma de-manda que ainda sofre com a falta de opções”, aponta.

Lava a jatos em Manaus, negócios em crescimentoEmpreendimentos de lavagem de veículos são cada vez mais presentes na cidade, principalmente em região de condomínios

JOELMA MUNIZEspecial EM TEMPO

Entre um posto lava a jato e outro de Manaus, os valores pelo serviço de lavagem de veículos de pequeno porte e os pesados variam de R$ 25 a R$ 300, o que depende da escolha do cliente

FOTOS: DIEGO JANATÃ

Atendimento vip e lanchonete

Investimento em postos lava a jatos variam de R$ 9 mil a R$ 80 e dependem de dedicação

Há mais tempo no mercado, a empresária Andreia Miche-le, 30, é responsável pelo Recife Lava a Jato, localizado no conjunto Cofasa, bairro Nova Esperança, Zona Oes-te. Segundo ela, com investi-mento de aproximadamente R$ 80 mil, o lugar oferece atendimento vip, com sala de espera e lanchonete.

O empreendimento oferece serviços de R$ 25 a R$ 50. O menor valor compreende aos serviços de lavagem e aspira-ção e o maior inclui polimento

com cera e lavagem de motor. Segundo Andreia, a proposta do negócio tem garantido resultados, uma vez que, a média de atendimentos diá-rios é de 30 veículos, entre os de duas e quatro rodas.

No conjunto Vieiralves, Zona Centro-Sul, o lava a jato 1ª Opção Car Wash, atende pelo menos 70 clien-tes por dia. No espaço que passa por obras de amplia-ção, que incluirá sala de espera e lanchonete, tra-balham nove funcionários.

Felipe Pinheiro, 26, e Kleber Santos, 35, são sócios e trabalham para colher os frutos do investimento es-timado em R$ 60 mil.

Localizado na avenida Rio Mar, o 1ª Opção Car Wash funciona todos os dias, das 8h às 19h. “Nossos preços variam entre R$ 25 e R$ 300. O valor depende do que o cliente deseja. Oferecemos desde uma limpeza simples, somente com lavagem e aspi-ração, até polimento com pro-dutos especiais”, explicou.

POSTURAO Código de Posturas do Município (CPM) veda à população manauense a instala-ção de equipamentos destinados a lavagem de veículos ou lava a jatos em logradouros públicos urbanos

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B2 Economia MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

Yamaha traz fabricação da Super Ténéré para o PIMMotocicleta de 112 cavalos conta com motor cilíndrico, controle de tração, freios ABS, piloto automático e computador de bordo

A fabricante de mo-tocicletas Yamaha apresenta a versão 2014/2015 da fa-

mília Ténéré que a multi-nacional passou a fabricar no Brasil, entre elas, a XT 1200Z Super Ténéré, que é de responsabilidade da linha de produção da fábrica ins-talada no Polo Industrial de Manaus (PIM). Com inúmeros diferenciais na nova versão da família, além da Super, a Yamaha lançou a XTZ 250 Ténéré e a XT 660Z Ténéré, as quais ficaram disponíveis em toda rede de revenda Yamaha a partir da segunda quinzena de junho.

A Super Ténéré conta com motor bicilíndrico, com o ganho de dois cavalos na nova versão, que totaliza 112 cavalos. Ela vem com controle de tração, sistema de freios ABS linear (com capacidade de infinitos ajus-tes de pressão hidráulica) adotado para dar suporte à frenagem quando elas de-vem ser feitas bruscamente ou ao encontrar mudanças repentinas de terreno.

A motocicleta, em ambas as versões, conta com nova mesa de alumínio, mais leve, bagageiro triplo e computa-

dor de bordo (que traz in-formações no painel de LCD como o consumo médio e instantâneo de combustível, temperatura do líquido re-frigerante, temperatura de entrada de ar, odômetro to-tal e dois parciais, D-Mode e tomada de 12 Volts).

A altura do banco e do para-brisa é regulável manualmen-

te, dispensando a utilização de ferramentas. O para-brisa foi redesenhado para provi-denciar mais proteção contra o vento e menos poluição sonora. A posição do guidão está 10mm mais próxima ao piloto deixando a pilotagem ainda mais confortável.

Construída para aventura, a versão 2015 tem câmbio de 6 marchas e o sistema ex-

clusivo YCC-T (Yamaha Chip Controlled Throttle) que en-trega um controle otimizado de aceleração e torque, ex-traindo o máximo do tempo de ignição, injeção de com-bustível, providenciando uma resposta suave, trazendo uma sensação de mais controle ao piloto. O Drive “D”-Mode foi recalibrado para providenciar uma diferença mais notável entre o Touring “T”– Mode e o Sport “S”- Mode.

DeluxeNa versão Deluxe, além

de todos os diferenciais de série do modelo, a big-trail da Yamaha conta com sus-pensão eletrônica controla-da no comando situado no guidão, com quatro posições pré-programadas e outras 14 ajustáveis, fazendo a moto se adaptar para cada piloto. Outro diferencial da versão mais completa é o aquece-dor de manopla pensado para também trazer conforto nas condições mais adversas.

A Super Ténéré, também conta com freios ABS e UBS (que permite frear as duas rodas no mesmo instante). Juntos eles oferecem um con-trole excepcional durante a frenagem da motocicleta.

DIVULGAÇ

ÃO

Construída para aventuras, a versão 2015 da Super Ténéré possui câmbio de seis marchas

INPIRAÇÃOHá décadas, Ténéré é sinônimo de modelos robustos, inspiradas na região homônima no meio do deserto do Saara, palco dos primei-ros Rallys Paris-Dakar, a competição off-road mais difícil do mundo

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Page 11: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

B3EconomiaMANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

NOME COTAÇÃO SÍMBOLO DATA DE VIGÊNCIACRUZEIRO 1000 réis Cr$1 *01.11.1942 **02.12.1964 CRUZEIRO NOVO Cr$1000 NCr$1 *13.02.1967CRUZEIRO NCr$ para Cr$ *15.05.1970 **16.08.1984 CRUZADO Cr$ 1000 Cz$1 *28.02.1986CRUZADO NOVO Cz$ 1000 NCz$1 *16.01.1989 CRUZEIRO NCz$ para Cr$ *16.03.1990 CRUZEIRO REAL Cr$ 1000 CR$ 1 *01.08.1993 REAL CR$ 2.750 R$ 1 *01.07.1994

B3EconomiaMANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

Os benefícios viven-ciados pelos brasi-leiros após a implan-tação do Plano Real,

no dia 1º de julho de 1994, são reconhecidos e comemo-rados pelo brasileiro. Pessoas comuns e especialistas no as-sunto são categóricas em re-conhecer o sucesso da moeda, que trouxe tranquilidade para os lares e unidades fabris do país, com o controle da hipe-rinfl ação, ampliação do poder de compra e o aquecimento da produção de bens e serviços.

A realidade dos anos 1980, quando a população era sub-metida a reajustes diários dos preços e empresários fi cavam reféns da “ciranda fi nanceira” para preservar seus investi-mentos mudou com o fi m do congelamento dos preços e do confi sco das poupanças. Entre-tanto, passadas duas décadas da concepção do Real, as preo-cupações com a estabilidade da economia ainda fazem parte da rotina dos principais nomes do empresariado amazonense.

O presidente do Centro das Indústrias do Estado Amazonas (Cieam), Wilson Périco, defende que o modelo é um dos mais corajosos já tomados por go-vernos do mundo. No entanto, ele avalia que precisa ser de fato dominado pelos atuais repre-sentantes políticos, devendo ser uma das principais preo-cupações do próximo governo.

Para ele, o momento é de apreensão, pois, há uma sina-lização evidente de que a atual administração não possui total controle da infl ação. “O governo não consegue se quer atingir as próprias metas de controle in-fl acionário. Uma coisa é prever infl ação de 6%, outra totalmen-te diferente é prever 4,5% e ela bater os 6%”, refl ete.

Na avaliação do presidente da Federação do Comércio do Amazonas (Fecomércio), José Roberto Tadros, as pessoas se habituaram às taxas infl acio-nárias reduzidas e não aceitam mais que essa zona de conforto sofra a mínima ameaça. O em-presário lembra que o distúrbio econômico que antecedeu o Plano Real, e que imperou du-rante o Cruzado, chegou a impor a população uma infl ação de mais de três dígitos.

Outro detalhe importante vivido, durante os confl itos que antecederam o Real, era a

falta de confi ança do mercado internacional em relação ao Brasil. Tadros destacou que a estratégia para se obter essa confi ança, passou tam-bém pelo arrocho fi scal, re-negociação da dívida externa acumulada de forma mais ex-pressiva durante o governo de Juscelino Kubitschek.

“Juscelino foi um grande presidente, mas pagamos um preço pelo progresso erguido durante o seu governo. E para nos recuperarmos, além dos cortes de gastos e redução do tamanho do Estado, o plano real também teve que contar com as privatizações. Agora a economia não tem demonstra-do grande desenvolvimento, e não deve crescer enquanto não forem pensadas políticas cla-ras que lhe sustente de forma efetiva”, analisa Tadros.

Após longo período de intranquilidade, o brasileiro se surpreendeu com o nascimento da nova moeda, que hoje continua bem vista aos olhos de empresários e trabalhadores que cobram do próximo governo mais atenção sobre o plano

JOELMA MUNIZ EEMERSON QUARESMAEquipe EM TEMPO

AÇÚCARA primeira moeda brasileira foi o açúcar, que, em 1614, passou a valer como dinheiro por ordem do governa-dor Constantino Mene-lau. O fumo, o algodão e a madeira também tinham essa função

Antes do Real, o Brasil viveu série de mudanças na unida-de monetária. Começou em 1942 com o Cruzeiro, que substitui a moeda portugue-sa “Real”, comumente cha-mada no plural como “Réis”, durante o Período Colonial.

Vinte e dois anos depois, em 1964, o centavo, que cor-respondia à centésima parte do Cruzeiro foi extinta. Em 1967, o governo instituiu o Cruzeiro Novo como unidade monetária transitória. Três anos depois o país viu retorno do centavo, em 1970, que em 1984 voltou a ser extinto.

Quarenta e quatro anos depois do Cruzeiro, em 1986, o governo instituiu o Cruzado como a nova unidade mone-tária do Brasil, sem o centavo, que foi incluído somente em 1989 pelo Conselho Monetá-

rio Nacional, com a institui-ção do Cruzado Novo.

No ano seguinte, 1990, o governo voltou ao Plano Cruzeiro, mantendo o cen-tavo, quando carimbou as cédulas de Cruzado com as suas devidas equivalências. No mês de agosto de 1993, em substituição ao Cruzeiro, nasceu o Cruzeiro Real, que também contou com a ma-nutenção do centavo.

Para o alívio do brasileiro, em 1994, o governo criou novo plano com o nome da mesma moeda que circulava no Período Colonial. O Real, quando instituído como uni-dade do sistema monetário a partir de 1º de julho da-quele ano, nasceu com R$ 1 equivalendo CR$ 2.750 (dois mil, setecentos e cinquenta cruzeiros reais), à época.

Do Cruzeiro ao Cruzado, o Real

O alívio de viver um pe-ríodo econômico com uma infl ação mais estabilizada é comemorado pelo pre-sidente do Sindicato dos Bancários do Amazonas, Nindberg Santos. O sin-dicalista comentou que a pressão do trabalhador nos anos 1980 era desumana e cruel. Contudo, Nindberg diz que atualmente “mes-mo com o recuo infl acio-nário, os patrões teimam em continuar praticando salários que estão em des-compasso com o atual po-der econômico do país”.

Com uma vida voltada

para as questões econô-micas e políticas, Serafi m Corrêa, que é auditor fi scal, professor e economista for-mado pela Universidade Fe-deral do Amazonas (Ufam), disse que um dos principais legados do plano real é a estabilidade fi nanceira vivenciada pelas famílias brasileiras. “A nova geração não consegue nem mensu-rar o que seus pais e avós viveram. A infl ação é um imposto cruel, sobretudo, para os pobres que tem seus salários ainda mais penalizados com a alta dos preços”, enfatizou.

Salários em descompasso

Desde 1942 até 1993 o país viveu entre o Cruzeiro e o Cruzado

A partir de 1994, a Casa da Moeda passou a imprimir o Real

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NOME COTAÇÃO SÍMBOLO DATA DE VIGÊNCIA

EVOLUÇÃO DA MOEDA BRASILEIRA

* COM CENTAVOS / ** SEM CENTAVOS

Os 20 anos do Plano Real

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Page 12: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

B4 Economia B5MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

O real poder do consumo brasileiroConsumidores amazonenses contam como era a realidade de compra antes e depois da adoção do Plano Real

Após 20 anos da cria-ção do Plano Real, os amazonenses revelam como o cenário de con-

sumo das famílias brasileiras mudou. Conforme os relatos, com o fim da hiperinflação, hou-ve um forte ganho de renda da população, especialmente das famílias mais pobres, as que mais sofriam com a perda do poder aquisitivo e, que passa-ram a comprar mais com a nova moeda.

Antes de 1994, comprar um eletrodoméstico era algo difícil, enquanto que fazer um financia-mento era quase impossível. A população brasileira enfrentava um momento complicado com um regime de alta inflação que fazia os preços dos alimentos e produtos subirem de forma desordenada e desenfreada.

“Era difícil comprar qualquer produto naquela época, pois tudo era caro e não existia cartão de crédito. Só comprava quem tinha muito dinheiro ou crédito nas lojas. Se a pessoa não tivesse o nome limpo na praça, ela não conseguia com-prar nada”, revela o aposentado Laudemio Freire da Silva, 74.

Laudemio diz que apenas um homem “bem de vida” que morava próximo a sua casa tinha TV. De acordo com ele, só conseguiu comprar os eletrodomésticos para sua residência depois que obteve crédito aprovado numa loja de departamento da cidade.

Outro que relata a dificulda-de de fazer compras antes de o real ser a moeda corrente do país é o motorista Raimundo Oliveira Sobrinho, 51. Há 20 anos, quando o Plano Real começou a funcionar, ele era casado e tinha duas filhas, e para sustentar a família, tra-balhava, mas com o dinheiro que ganhava só conseguiu comprar uma geladeira. “Só comprei um aparelho de te-levisão aos 35 anos, depois que o Real já circulava no mercado”, destaca.

Raimundo relata que quase ninguém tinha uma televisão colorida em casa, isso porque poucas pessoas conseguiam comprar e carro nem se so-nhava, visto que só fazia financiamento quem tinha um bom patrimônio, o que dificultava ainda mais as vi-das das famílias mais pobres, uma vez que, o salário míni-mo era pequeno demais.

SILANE SOUZAEquipe EM TEMPO

Nem só os eletrodomés-ticos eram caros. A dona de casa Maristela Socorro Vital dos Santos, 54, conta que havia disputa nos su-permercados por uma lata de leite. “Eu tinha duas filhas pequenas e preci-sava comprar leite para elas. Ficava no corre-corre também. Às vezes, ia ao

supermercado de manhã e tinha leite, já a tarde não tinha mais. Ou o valor ti-nha sido elevado ou estava mais caro”, comenta.

O crédito nas lojas era a melhor forma para as pes-soas conseguirem com-prar algum produto. Ma-ristela conta que comprou alguns eletrodomésticos

com várias prestações, o que encarecia o produto, já que os juros eram al-tíssimos para esse tipo de compra e ainda sofria com a demora na entregar da mercadoria. “Uma vez, disse que o meu fogão havia explodido para ver se eles entregavam logo”, confessa ela.

Produtos eram artigos ‘de luxo’

Com o Real o poder de compra das famílias aumen-tou e houve forte demanda de consumo. Mas, ao longo do tempo, o dinheiro se des-valorizou no mercado.

“Quando o real entrou em circulação, íamos com R$ 10 na feira e comprava frango, farinha, arroz e sobrava di-nheiro. Hoje não dar para comprar quase nada com mesmos R$ 10”, frisa Rai-mundo Sobrinho.

Por sua vez, Maristela dos Santos declara que o Real está desvalorizado em re-lação ao período em que foi implantado. Segundo ela, com R$ 1 comprava ovos e manteiga. Agora com o

mesmo valor, mal compra os ovos. “Se o dinheiro valesse como antes, seria uma mo-eda boa”, defende.

Segundo a economista Mirlene Magalhães, quando o Real foi lançado o valor dele era igual à de um dólar. Mas depois de 4 anos, o governo não teve condições de man-ter o mesmo valor.

“O governo trabalhava com reservas cambias e quanto mais recolhia dóla-res mais entregava Real ao mercado, ou seja, aumentou o volume de reais em circu-lação no país, o que causou a desvalorização do dinheiro. A inflação também influen-ciou”, explica.

Moeda pouco desvalorizada

Troca de unidade monetária favoreceu o consumo no país

Adquirir eletrodoméstico antes do Real era tarefa difícil para pessoas de menor poder aquisitivo

Laudemio Silva realizou sonho da TV nova com Plano Real

DIEGO JANATÃ

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ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

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B4 Economia B5MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

O real poder do consumo brasileiroConsumidores amazonenses contam como era a realidade de compra antes e depois da adoção do Plano Real

Após 20 anos da cria-ção do Plano Real, os amazonenses revelam como o cenário de con-

sumo das famílias brasileiras mudou. Conforme os relatos, com o fim da hiperinflação, hou-ve um forte ganho de renda da população, especialmente das famílias mais pobres, as que mais sofriam com a perda do poder aquisitivo e, que passa-ram a comprar mais com a nova moeda.

Antes de 1994, comprar um eletrodoméstico era algo difícil, enquanto que fazer um financia-mento era quase impossível. A população brasileira enfrentava um momento complicado com um regime de alta inflação que fazia os preços dos alimentos e produtos subirem de forma desordenada e desenfreada.

“Era difícil comprar qualquer produto naquela época, pois tudo era caro e não existia cartão de crédito. Só comprava quem tinha muito dinheiro ou crédito nas lojas. Se a pessoa não tivesse o nome limpo na praça, ela não conseguia com-prar nada”, revela o aposentado Laudemio Freire da Silva, 74.

Laudemio diz que apenas um homem “bem de vida” que morava próximo a sua casa tinha TV. De acordo com ele, só conseguiu comprar os eletrodomésticos para sua residência depois que obteve crédito aprovado numa loja de departamento da cidade.

Outro que relata a dificulda-de de fazer compras antes de o real ser a moeda corrente do país é o motorista Raimundo Oliveira Sobrinho, 51. Há 20 anos, quando o Plano Real começou a funcionar, ele era casado e tinha duas filhas, e para sustentar a família, tra-balhava, mas com o dinheiro que ganhava só conseguiu comprar uma geladeira. “Só comprei um aparelho de te-levisão aos 35 anos, depois que o Real já circulava no mercado”, destaca.

Raimundo relata que quase ninguém tinha uma televisão colorida em casa, isso porque poucas pessoas conseguiam comprar e carro nem se so-nhava, visto que só fazia financiamento quem tinha um bom patrimônio, o que dificultava ainda mais as vi-das das famílias mais pobres, uma vez que, o salário míni-mo era pequeno demais.

SILANE SOUZAEquipe EM TEMPO

Nem só os eletrodomés-ticos eram caros. A dona de casa Maristela Socorro Vital dos Santos, 54, conta que havia disputa nos su-permercados por uma lata de leite. “Eu tinha duas filhas pequenas e preci-sava comprar leite para elas. Ficava no corre-corre também. Às vezes, ia ao

supermercado de manhã e tinha leite, já a tarde não tinha mais. Ou o valor ti-nha sido elevado ou estava mais caro”, comenta.

O crédito nas lojas era a melhor forma para as pes-soas conseguirem com-prar algum produto. Ma-ristela conta que comprou alguns eletrodomésticos

com várias prestações, o que encarecia o produto, já que os juros eram al-tíssimos para esse tipo de compra e ainda sofria com a demora na entregar da mercadoria. “Uma vez, disse que o meu fogão havia explodido para ver se eles entregavam logo”, confessa ela.

Produtos eram artigos ‘de luxo’

Com o Real o poder de compra das famílias aumen-tou e houve forte demanda de consumo. Mas, ao longo do tempo, o dinheiro se des-valorizou no mercado.

“Quando o real entrou em circulação, íamos com R$ 10 na feira e comprava frango, farinha, arroz e sobrava di-nheiro. Hoje não dar para comprar quase nada com mesmos R$ 10”, frisa Rai-mundo Sobrinho.

Por sua vez, Maristela dos Santos declara que o Real está desvalorizado em re-lação ao período em que foi implantado. Segundo ela, com R$ 1 comprava ovos e manteiga. Agora com o

mesmo valor, mal compra os ovos. “Se o dinheiro valesse como antes, seria uma mo-eda boa”, defende.

Segundo a economista Mirlene Magalhães, quando o Real foi lançado o valor dele era igual à de um dólar. Mas depois de 4 anos, o governo não teve condições de man-ter o mesmo valor.

“O governo trabalhava com reservas cambias e quanto mais recolhia dóla-res mais entregava Real ao mercado, ou seja, aumentou o volume de reais em circu-lação no país, o que causou a desvalorização do dinheiro. A inflação também influen-ciou”, explica.

Moeda pouco desvalorizada

Troca de unidade monetária favoreceu o consumo no país

Adquirir eletrodoméstico antes do Real era tarefa difícil para pessoas de menor poder aquisitivo

Laudemio Silva realizou sonho da TV nova com Plano Real

DIEGO JANATÃ

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ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

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Page 14: EM TEMPO - 29 de junho de 2014

B6 País MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

Lei da Palmada desobriga o servidor de denunciar abusoAo sancionar lei que pune maus-tratos a crianças e adolescentes, Dilma vetou artigo que obrigava servidores de delatar casos

A presidente Dilma Rous-seff (PT) sancionou a Lei da Palmada, que proíbe o uso de castigos

físicos como forma de discipli-nar crianças e adolescentes. A decisão foi publicada na edição de sexta-feira (27) do Diário Ofi-cial da União. A norma prevê que familiares, agentes públicos e demais encarregados de cuidar de crianças que descumprirem a lei vão ser encaminhados para programa oficial ou co-munitário de proteção à famí-lia, tratamento psicológico ou psiquiátrico e advertência.

Ainda segundo o texto, a União, os Estados e os municípios de-verão atuar de forma articulada na elaboração de políticas pú-blicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico.

VetoO único veto de Dilma foi ao

artigo 245, que previa multa de três a 20 salários-mínimos para profissionais da saúde, da assistência social, da educação ou qualquer funcionário público que deixassem de “comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conheci-mento envolvendo suspeita ou confirmação de castigo físico, tratamento cruel ou degradante

ou maus-tratos contra criança ou adolescente”.

Ao justificar o veto, a pre-sidente afirmou que ampliar o rol de profissionais sujei-tos à obrigação de comunicar abusos “acabaria por obrigar profissionais sem habilitações específicas e cujas atribuições não guardariam qualquer rela-ção com a temática”.

‘Aplausos’Para Jones Figueirêdo Alves,

desembargador decano do Tri-bunal de Justiça de Pernambuco e diretor nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família, a lei merece “aplausos”. Para que ela seja efetiva, no entanto, é preciso uma “devida gestão de conflitos”, afirma.

Afinal, acrescenta o desem-bargador, existem muitas leis

que protegem a criança, a partir do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente. “A proteção à família, requer, sempre, uma educação continuada do não à violência, sob todas as formas, abstraindo-se a ideia do ‘castigo imoderado’, pela ordem substan-cial da afetividade, como instru-mento de educação”, completa.

PedagogiaPara o advogado Adriano

Ryna, especialista em direito de família, a norma tem função pedagógica e “trata-se de um reflexo da constitucionalização dos princípios que regem as re-lações familiares deste século”. “A profilaxia da violência dentro da esfera familiar é o primeiro passo para reduzi-la em toda a sociedade”, acrescenta.

Sobre o artigo vetado, o ad-vogado Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e fundador da Co-missão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Fede-ral da Ordem dos Advogados do Brasil, afirmou que se trata de um “retrocesso”. “Esse artigo pode-ria gerar a responsabilização de gestores públicos por omissão em denunciar violência contra crianças acabou sendo excluído da legislação”, afirmou.

REPRODUÇÃ

O

Lei federal ampara crianças e adolescentes de castigos físicos usados como forma de disciplina

ARTICULAÇÕESAinda segundo o texto, a União, os Estados e os municípios deverão atuar de forma arti-culada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico

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B7MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 País

FARMABEM

“Se a esmola é de-mais, o santo des-confia” é a frase de alerta em campa-

nha da Organização Não Gover-namental (ONG) contra o tráfico de pessoas 27 Brasil. Para mos-trar a realidade das vítimas nas

cidades-sede da Copa do Mundo, a ONG produziu o documentário R$ 1 – O Outro Lado da Moeda, com depoimentos de mulheres e meninas enganadas por falsas promessas. De acordo com a or-ganização, a maioria dos 27 mi-lhões de escravizados no mundo

é crianças ou jovens. “O tráfico de pessoas tem várias faces, mas na questão sexual, o início da cadeia é a exploração sexual de crianças e adolescentes”, disse a diretora executiva da 27 Brasil, Tatiane Rapini. “Há casos em que o pai vende a própria filha ou a

menina é enganada com falsas promessas, como a de que vai ser modelo”, completou. Pessoas também podem ser traficadas para o trabalho forçado e para a retirada de órgãos, ativida-des que movimentam US$ 32 bilhões por ano.

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AÇÃO

Filme mostra a realidade do tráfico e da exploração sexual

De acordo com uma organização, a maioria dos 27 milhões de escravizados no mundo é crianças ou jovens. Tráfico é denunciado em documentário brasileiro

Documentário mostra vida de exploradas sexualmente

A falta de informa-ção sobre a exploração de crianças e adoles-centes, que é crime hediondo, aumenta a vulnerabilidade de ví-timas. Somada à falta de acesso a políticas públicas, faz com que “acreditem que podem melhorar de vida”. No Brasil, na maioria das vezes, as meninas aca-bam traficadas para ou-tras regiões do país, não necessariamente para o exterior. O fluxo é maior do Norte e Nor-deste para o Sudeste, mas há também do Sul para o Norte.

“Manaus tem um his-tórico de muitas ques-tões (de exploração), inclusive, nas popula-ções ribeirinhas. Nos-sas organizações par-ceiras reportam casos de meninas indígenas que sofrem, são levadas e vendidas, é compli-cado”, acrescenta Ta-tiane. Em entrevista à Agência Brasil, a lider Maria Alice da Silva Paulino, da etnia ka-rapãnam confirmou o problema nas aldeias.

Traficantes usam ‘iscas’ para atrair

Com a exibição do R$ 1 – O Outro Lado da Mo-eda em áreas públicas, a 27 Brasil quer alertar as possíveis vítimas e estimular a sociedade a denunciar às polícias, ao Conselho Tutelar ou ao Disque 100. A entidade indica que são os pró-prios brasileiros o públi-co-alvo da exploração. “É duro dizer isso, mas quem procura essas meninas menores de idade são homens casados, atrás de uma aventura. Ou seja, pessoas normais”, esclareceu Tatiane.

O documentário faz re-ferência a meninas que acabaram exploradas sexualmente por apenas R$ 1, por um pacote de biscoito ou por ofertas como a de uma casa. Já foi exibido em Brasília, no Lixão da Estrutural, em Belo Horizonte, na Fifa Fan Fest e segue em direção a Fortaleza. Chega à cidade-sede da final do campeonato, o Rio, em 11 de julho.

Produtores trazem alerta à população

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B8 Mundo MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

A Organização das Nações Unidas para a Alimenta-ção e Agricultura (FAO) salientou nesta semana

o importante papel das flores-tas na redução da pobreza e na promoção do desenvolvimento, apelando aos governos que apos-tem em políticas que potenciem estas contribuições.

Em relatório apresentado em Roma, por ocasião da 22ª Sessão do Comitê da FAO para as Flores-tas, a organização internacional defendeu que os países devem apostar em políticas destinadas a manter e a potencializar as contri-

buições das fl orestas para os meios de subsistência, a alimentação, a saúde e a energia. Para isso, a FAO defende que os países devem colocar “as pessoas no centro das políticas fl orestais”.

DependênciaO documento, intitulado O Estado

das Florestas do Mundo (Sofo, da sigla em itálico), salienta que “uma parte signifi cativa da população mundial depende, muitas vezes em grande medida, dos produtos fl orestais para satisfazer as suas necessidades básicas de energia, habitação e alguns aspectos de

cuidados de saúde primários”.“Esta edição do Sofo incide so-

bre os benefícios socioeconômicos provenientes das fl orestas. É im-pressionante ver como as fl orestas contribuem para as necessidades básicas e os meios de vida rurais. As fl orestas também sequestram carbono e preservam a biodiversi-dade”, afi rmou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, citado na mesma nota informativa.

No entanto, o relatório concluiu que, em muitos casos, estes benefí-cios socioeconômicos, que passam pela redução da pobreza, pelo de-senvolvimento rural e pela criação

de economias mais verdes, “não são abordados de forma adequada pelas políticas fl orestais”.

AlertasO documento alerta igualmente

que o papel das fl orestas para a segurança alimentar, considerado pela FAO como “essencial”, também é frequentemente esquecido.

“Deixem-me dizer isto clara-mente: não podemos garantir a segurança alimentar ou o desen-volvimento sustentável sem a pre-servação e a utilização responsável dos recursos fl orestais”, reforçou José Graziano da Silva.

Orgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura salienta o importante papel das fl orestas na redução da pobreza e na promoção do desenvolvimento rural

Florestas podem reduzir pobreza, justifi ca a FAOFlorestas podem reduzir

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Dia a diaCade

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[email protected], DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 (92) 3090-1041

A culinária que agita Parintins

Dia a dia C4 e C5

IONE MORENO

O amor em quatro patasEnquanto por todos os cantos da cidade aparecem cada vez mais cães e gatos abandonados por pura insensibilidade ou mesmo crueldade, surgem pessoas que adotam como missão de vida cuidar e dar amor a bichos de estimação

Mauro Gomes com alguns de seus “hóspedes” permanentes: ação em favor de animais abandonados ou maltratados ganhou repercussão nas redes sociais, aumentando a adesão de mais protetores

A triste realidade de caminhar pelas ruas de Manaus e obser-var um cão ou gato

maltratado, muitas vezes machucado e, certamente sem dono assusta pelo es-tado degradante do animal. Ainda que tenham donos, há animais que não escapam de maus tratos, são presos a correntes curtas, deixados em espaço sujo, sem água e sem alimento e até espanca-dos por quem deveria cuidar e amar. E contra estes maus-tratos que entram em ação os “protetores anônimos”, pessoas de bom coração que decidiram estender a mão e oferecer abrigo a esses bichinhos marcados pelo sofrimento. Eles recolhem e cuidam das sequelas do abandono e assim oferecem bem-estar no resto de vida sofrida ainda restadado.

Dando atenção a essa dor, o biólogo Mauro Gomes Magom ganhou notoriedade como “salvador de animais” nas redes sociais: ao saber do caso de um cachorro que havia sido pintado de verde e amarelo, tomou a iniciativa de averiguar o caso no bair-ro Terra Nova, Zona Norte de Manaus. “Fui até o local e não encontrei o cachorro, populares comentaram que o dono havia saído com ele ao saber da repercussão pelo Facebook”, comenta Mauro.

Incomodado, ele diz que retornou ao endereço e flagrou o cão Beethoven pintado com nova pintura em comemoração à Copa do Mundo. “Fiquei sabendo que o cachorro tinha dono, e o próprio havia pintado o animal. Conversei com ele sobre o risco de intoxicação e acionei a polícia. O dono se prontificou a assumir uma

guarda responsável, e no processo o animal está sob a minha vigilância. Eu o en-tendo como dono do animal, e que tem a nova chance de oferecer cuidado”, frisa.

Registrada no Facebook, a imagem teve mais de 3 mil compartilhamentos e 5 mil curtidas. Mauro percebe que ganhou fama na internet com essa boa ação e toda notorie-dade recebida ele transfere a causa. “Fiz porque gosto de animais, não fi z o dever sozi-nho, o 19º Distrito de Polícia deu apoio ao chamado, e a lei se cumpriu neste caso. No meu perfil, fui procurado por diversas pessoas me parabe-nizando pela luta e me orgu-lho por ter motivado tantos pela minha atitude, e tento intensificar minhas ações e por meio delas conscientizar a sociedade”.

MisericórdiaA mesma sociedade que

o aplaudiu não imagina que esse protetor, agora famoso nas redes sociais, nos últimos 6 anos abraçou decisivamente resgate de animais de convívio urbano como missão pessoal. “Na verdade, faço mais regas-tes do que minha capacida-de fi nanceira. Nas minhas redes sociais, diariamente recebo pedidos para ajudar algum animal, são muitos casos. Pena que nem todos consigo resolver”.

DENY CÂNCIOEspecial para o EM TEMPO

PRINCÍPIOAo saber do caso de um cachorro pintado de verde e amarelo por seu dono, o biólogo Mauro Gomes ganhou notoriedade nas redes sociais ao tomar a ini-ciativa de averiguar o caso de maus-tratos

Mas o que leva um cidadão a dedicar tempo, parte de sua renda e muito afeto para resgatar animais abandona-dos e maltratados? Mauro responde que é a retribuição em ver o animal novamente sadio e intervir numa mor-te antecipada. “O que move esta ação é o amor. Quem dera se soubesse o quanto é gratifi cante a consideração que bicho retribui a você, e como ele entendesse a sua intervenção na morte, o carinho que ele te devolve é triplicado. Além disso, contar a história de um sobrevivente não tem preço”, explica.

Provavelmente essa pai-xão vem desde criança cons-truída por um fato conta-do por sua avó. “Parte da infância morei com minha avó numa casa de palafi ta no interior. Cai na água e estava me afogando, e quan-do ela olhou para o rio, eu estava sendo puxando pelo cão para a margem. Isso me fi xou que animal é coisa do bem”, conta.

Nem sempre é fácil, e che-gam a enfrentar difi culdades para salvar os que correm risco de morte, como custo com os cuidados veteriná-rios, afeto e alimentação. O bom é que ele não atua sozinho e conta com a fa-mília, amigos e ex-alunos. “Há 6 anos tenho feito estes socorros, e quando adotei esta missão, reuni minha fa-mília para dar a notícia. Aqui todos amam animais, e nos tornamos uma equipe. No meu carro, tenho aparatos e equipamentos para fazer pe-quenas intervenções. Certa vez, prestei socorro ao gato que estava desfalecendo, fi z

massagem cardíaca, e como não resolveu fi z respiração boca a boca. Não aceitei perder aquela vida”, acres-centa Magom.

“Esse nosso cuidado atraiu outros que amam animais urbanos, até ex-alunos me ajudam. E diariamente man-temos contato e nos reveza-mos na limpeza e alimen-tação, nos titulamos como ‘Patas Love’, somos cidadãos comuns que nos unimos para pagar o preço para salvar a vida destes animais”.

Desde que adotou essa missão, houve muitos so-corros pedidos pelas re-des. O mais marcante foi o clamor pelo resgate de uma cadela abandonada e ferida após ter sido atro-pelada. “Ela foi encontrada debilitada e com o osso da pata exposto. Quando vi a publicação no Facebook, partiu meu coração e fui ao encontro. Hoje, vejo como é gratifi cante ver a Princesa (nome da cadela adotada) sadia e feliz. Ela tem três patas é a nossa estrela”.

Não é apenas a Princesa que foi adotada pela família. Na casa de Magom há vários gatos e cachorros, todos de rua e sem raça defi nida, re-cuperados do abandonado. “Dos gatos que temos, dois são cegos, outro parcialmen-te e um fi lhote nasceu para-plégico. Os cães estavam na rua, desnutridos. Há casos que recebemos, cuidamos e conseguimos doadores; ou-tros aos quais nos apegamos tanto fi cam aqui. Um cão vive pouco, e ninguém o aceitou por ser um animal sem raça e tem como único histórico a sobrevivência da rua”.

Carinho devolvido triplicadoOutra cidadã que afi rma

ter satisfação pessoal em resgatar animais é a empre-sária Jaqueline Canizo. “Ser capaz de fazer o bem e dar carinho e amor traz paz de espírito. A recompensa não é material. A gratidão de um animal curado não dá nem para descrever. Só salvando uma vida pra saber”.

Ela relembra que seu pri-meiro salvamento custou o pagamento da conta de luz: o dinheiro foi usado para o tratamento de um cachorro de porte grande deitado no meio da rua. “Estava no carro a caminho do banco para pa-gar a conta, quando avistei o animal, parei o carro e com a ajuda de pessoas levei numa clínica, onde usei o dinheiro da conta de luz. Infelizmente o animal teve que ser sa-crifi cado, pois estava muito mal. Fiquei arrasada e chorei na clínica veterinária, outros pacientes questionaram se o cachorro era meu. Nunca havia passado por isso, o consolo foi que aliviei o so-

frimento dele”, relembra.Canizo pontua que o ci-

dadão ao adotar um animal deve ter ciência de que se torna responsável pelo seu bem-estar ao formar laços efetivos. “Há 12 anos, com-prei um poodle e observei que ele começou a ter ataques de epilepsia ainda fi lhote. Esta situação me revelou o quan-do eles são dependentes de nós e precisam de cuidados especiais. Eu já tinha tido outros cachorros, mas ele me tocou de forma diferente”.

Essa revelação recebida pela vida do poodle Johnnie motivou Jaqueline a se incluir na luta de fazer valer os direitos dos animais, cons-cientizar a população sobre a posse responsável e esti-mular a adoção de animais resgatados em condições de perigo. ‘‘Há 3 anos, decidi formar a Organização Não governamental (Ong) Com-Paixão, o Johnnie me fez entender o quanto os ani-mais dependem de nós”, diz a fundadora da ComPaixão.

Dar carinho traz paz de espírito

Magom e seus gatos: agregando bichinhos rejeitados

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C2 Dia a dia

Catedral de Parintins pede socorroInfi ltrações nas paredes e falta de segurança na torre são alguns dos problemas que afetam a igreja de Nossa Senhora do Carmo, belo conjunto arquitetônico que se destaca na Ilha Tupinambarana. Fiéis e turistas cobram reparos

Infi ltrações no teto, ima-gens descascando e falta de segurança são as re-clamações dos devotos

que frequentam a catedral de Nossa Senhora do Carmo, a segunda maior do Norte, que é considerada patrimônio cul-tural brasileiro, de acordo com tombamento previsto no artigo 7º do decreto-lei 25/37.

Por ano, o imponente prédio da catedral atrai milhares de devotos de todos os municí-pios do Amazonas durante as festividades da santa em julho, principalmente dos municípios Nhamundá e Boa Vista do Ra-mos, além de turistas o ano intei-ro. O local recebe manutenção e higienização da arquidiocese com frequência, contudo os de-votos reclamam de abandono por parte do Estado. “Todos os anos são milhões para a festa do boi, mas acredito que como a catedral é um patrimô-nio tombado deveria ter mais atenção do governo”, afi rmou uma devota que pediu para não ter o nome revelado.

Para o funcionário público

José Queiroz, 45, a catedral deveria receber mais atenção das autoridades. “Ela conta a nossa história e deveria ser mais bem cuidada pelos nos-sos governantes, assim como o festival dos bois que é um espetáculo lindo e que também deve ter atenção”, afi rmou.

No ano passado, foram in-vestidos no Festival Folclórico de Parintins de R$ 12 milhões do governo do Amazonas, tanto no patrocínio dos bois como na operacionalização da festa.

Não é difícil constatar fun-damento na reclamação dos fi éis. Só é entrar na igreja que é possível perceber a infi ltração prejudicando a pintura das paredes.

A falta de patrulhamento no local também preocupa os frequentadores do local. “Há muitos assaltos no entorno da igreja. Muita gente que vem aqui visitar a catedral acaba sendo assaltado e o policia-mento é raro. Só é ostensivo no período do festival. Não temos segurança nem municipal, nem estadual”, disse a moradora Joana Martins, 47.

Os turistas reclamam tam-bém que a torre com 42 metros

de altura construída ao lado da catedral, fechada este ano para visitação, também não possui por dentro um corrimão específi co para o local, que dê segurança aos visitantes.

Sobre a catedralEm 1960 iniciou a construção

da catedral com a bênção da pedra fundamental. Três anos depois, as obras estavam adian-tadas e foram projetadas pelo engenheiro Giovanni Butori. Em 1977, foram feitas nas paredes interiores pinturas religiosas pelo irmão Miguel Pascal.

O templo mede 75 metros de comprimento por 50 de largura, com 22 metros de altura. Possui sete portas de acesso. No seu interior há mármore nobre tra-zido de Milão, na Itália, e vitral que compõe o altar do Santís-simo e a Cruz da Penitência. Nas colunas distribuídas pela estrutura há representações sacras de santa Teresinha, são Sebastião, são José e santa Rita de Cássia, entre outros.

A torre foi construída em mar-ço de 1980 e possui 42 metros de altura, proprocionando aos visitantes uma visão panorâ-mica da cidade.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

Vista frontal da catedral Nossa Senhora do Carmo, na principal avenida de Parintins: o templo é um dos marcos da ilha dentro e fora do festival e agora tem sua integridade ameaçada

Uma das pinturas da igreja apresenta claros sinais de destruição causada por infi ltrações e falta de manutenção correta: patrimônio cultural, a catedral corre o risco de sofrer mais danos

Infi ltrações em uma das paredes internas do templo religioso: ausência de boa manutenção

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MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 C3

Catedral de Parintins pede socorroFOTOS: IONE MORENO

Uma das pinturas da igreja apresenta claros sinais de destruição causada por infi ltrações e falta de manutenção correta: patrimônio cultural, a catedral corre o risco de sofrer mais danos

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C4 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 C5

Ilha de todas as cores e saboresPara quem chega à Ilha Tupinambarana, a busca por um cardápio diferente pode trazer surpresas, como os pratos feitos pelo chef “Wal”, que retornou à cidade no ano passado e faz sucesso com as receitas que divide com a mãe

Se dentro da arena a atuação dos bumbás é questionável e mo-tivo de disputa acir-

rada, fora dela não tem para ninguém: a linguiça preparada pelo chef Waldenilson Evan-gelista Garcia, 46, “Wal” para os amigos, conquista os mais radicais torcedores.

Com carne, pedaços de ba-con e, claro, segredos preser-vados a sete chaves, é feita a linguiça que já virou preferên-cia na ilha, tal como indica o slogan impresso sobre a porta do estabelecimento: Churras-quinho Kero Mais, “O sabor que virou mania”.

É de um local discreto e im-provisado, na avenida Ama-zonas, que exala o aroma das maravilhas culinárias do chef Waldenilson.

Atraídos pelo cheiro e pela apresentação dos pratos, a clientela disputa as mesas e cadeiras distribuídas pela varanda da casa onde ele mora com a mãe, a sorriden-te dona Irinilda Evangelista Garcia, 75, e o restante da família, enquanto aguardam a preparação do prato.

No local, aberto em 8 de março de 2013, data que fi -cou registrada na memória de

“Wal”, ele começou oferecendo churrasco de carne e de frango. “Tenho peito de frango e carne que não contêm gordura nem muito sal. Tenho preocupação com o preparo e a escolha das carnes. A pessoa escolhe se quer que coloque manteiga ou não”, salientou.

A criação da linguiça, a que-ridinha da clientela, surgiu por incentivo dos amigos e

de olho no gosto dos clientes. “Tinha uma senhora em frente de casa que fazia e meus amigos diziam que era para eu estar há muito tempo aqui. Eu preparo a linguiça corta-dinha e vou acrescentado os segredos. Além de carne, só um pouco de bacon para dar perfume, porque o pessoal não gosta muito. Todo mun-do gostou, ela sai mais que churrasco”, observou.

O apoio ao item principal é dado pelo arroz, macar-rão, farofa, salada, purê de batata e o vatapá. O toque especial fi ca a cargo do “mo-lho diferente”, também in-ventado pelo chef. “Não faço vinagrete, faço um molho di-ferente com tomate, catchup e outros ingredientes. Coloco o molho em cima da carne ou sirvo à parte”, disse.

O profi ssional tem grande preocupação com o visual do prato, para ele é de suma importância que além de sau-dável e gostoso, esteja boni-to. “Quando os clientes veem o prato pronto, se admiram. Tenho preocupação na apre-sentação”, afi rmou.

Os valores de cada uma das “obras de arte” variam de R$ 8 a R$ 9.

Os experimentos do chef parintinenses não param na linguiça. Sempre curioso, “Wal” resolveu inovar e variar o menu aos domingos. Pirarucu a casaca, salpicão, creme de camarão, sufl ê de camarão com requeijão e batata palha, lasanha com creme de frango, fi lé ao molho madeira - substi-tuído às vezes pelo molho bar-bacue, acrescido de azeitonas e passas - servido com arroz primavera. Mas tudo feito com ingredientes diferentes, fruto da experiência do chef.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

FOTOS: IONE MORENO

Problemas de saúde fi-zeram “Wal” voltar para Parintins em 2011. No ano seguinte, retomou o trabalho junto à família em Manaus. Contudo, em 2013, adoeceu no-vamente e, após incen-tivo da mãe retornou à ilha. “Minha mãe disse ‘meu filho, melhor coi-sa que você faz é ficar aqui (em Parintins), em Manaus você é só, quem vai te ajudar? Então, falei para a família que iria embora cuidar dos meus coroas”, lembrou.

Foi aí que dona Irinilda Evangelista Garcia entrou em campo mais uma vez. “Ele foi para Manaus, tra-balhou com uma família 20 anos, eles o fi zeram estudar. Já faz um ano e nove meses que ele voltou. Quando ele adoeceu, eu disse para ele voltar e ele perguntou ‘a senhora garante me ajudar?’. E eu respondi, ‘mas com quem você está falando?’”, questionou a mãe.

De volta à ilha, sob os cuidados da mãe e o incentivo dos amigos, “Wal” – mesmo com certa dúvida - não abandonou a paixão e voltou a criar na cozinha. “Os amigos dis-seram que por aqui não tinha um ‘movimento de comida’, então planejei tudo. Cheguei em janeiro de 2013, e no dia 8 de março e segui os conse-lhos dos amigos e colo-quei tacacá e mungunzá para vender”, disse.

Insatisfeito, o chef ex-perimentou oferecer a freguesia, ainda discre-ta, churrasco. Foi então que a varanda da casa de dona Irinilda come-çou a chamar atenção. “Todo mundo chegava e perguntava se tinha lin-guiça. Ou então, se eu tra-balhava com calabresa. Então percebi que o povo gostava”, observou.

Aos domingos ele pen-sou em variar o cardápio

e dona Irinilda, mais uma vez deu aquele conselho, que só mãe é capaz de oferecer. “Minha mãe deu a ideia de fazer ‘aquelas comidas gostosas’ que eu fazia. Então comecei com lasanha, pirarucu e salpicão”, disse.

A novidade, claro, cau-sou estranhamento da clientela acostumada com o churrasquinho light e a linguiça “sensação da ilha”. “As pessoas pergun-tavam pelo churrasco e eu dizia que tinha apenas prato sortido. Daí elas perguntavam o que era. E eu explicava e dizia que era comida variada que a gente faz uma porção, faz um PF (prato feito). As pessoas pediam para

olhar, eu servia ou fazia para viagem. Preparava tudo e, graças a Deus, deu certo e fui levando, com incentivo dos ami-gos”, apontou.

Com muita simpatia e o dobro de humildade, “Wal” vê ao lado da mãe a varanda cheia de clientes famintos por novidades e por desvendar seus se-gredos culinários.

“Os filhos de cliente sempre vem e dizem: ‘Tio, o senhor não quer passar o segredo do seu molho para nós? Porque a ma-mãe ainda não acertou fazer desse jeito lá em casa’. E, eu digo: ‘É assim mesmo’”, divertiu-se. Afi-nal, o segredo é a alma do negócio.

Uma história de idas e vindas

RECEITACom carne, pedaços de bacon e, claro, se-gredos preservados a sete chaves, é feita a linguiça que já virou referência na ilha, tal como indica o slogan “O sabor que virou mania”

A linguiça especial criada pelo chef de cozinha, com segredos que contribuem para o sabor

“No pirarucu à casaca, por exemplo, eu trabalho com o fi lé fresco e frito no azeite. Todo mundo pergun-ta como consigo fazer com pirarucu fresco”, afi rma “Wal”. Mistérios do chef.

Aos domingos, para pre-parar tudo, ele fi ca cerca de cinco horas na cozinha e conta com o auxílio da mãe. “Ele sempre foi muito bom, sabe lavar, passar, cozinhar, costurar na mão. Sempre foi muito observa-dor, fi cava me vendo em casa fazendo as coisas e depois ia me ajudar. O pai dele foi cozinheiro em um navio de japonês e sabia fazer muitos pratos”, disse a mãe. E, quando o menino começou a “dar pitaco” na cozinha de dona Irinilda... “Achei 10, eu abraço ele”, disse, emocionada.

Ao contrário dos outros 11 irmãos, “Wal”, quan-

do criança, tinha o corpo franzino, era magrinho de-mais, e para o pai - que na época trabalhava como mestre de obra - não teria estrutura física suficiente para trabalhar no setor da construção. Por isso, res-tava ao menino ficar em casa auxiliando a mãe nos serviços domésticos. “Ele pegava receitas em revis-ta e jornal, pedia para eu pedir dinheiro do pai, para a gente comprar ingredien-tes e tentar fazer a receita”, lembra dona Irinilda.

A criança guardava as re-ceitas na memória e fazia, assim como é hoje ainda, do jeito dele. A avaliação das criações fi cava na res-ponsabilidade da família que se reunia nos fi ns de semana. “No domingo, a família grande se reunia e eu cozinhava. Além da mi-nha mãe, meu pai também

era cozinheiro de navio de japonês e eu sempre era curioso e fui aprendendo com ele. Tinha minha tia que sempre fazia doce e mi-nha avó que fazia aquelas merenda gostosas de ‘vó’ e eu ia aprendendo tudo isso”, recordou-se.

O menino cresceu e a intimidade na cozinha só aumentava. “Ele se formou no magistério fez concurso mais nunca foi chamado e gostava de fi car na cozinha. Até que conhecemos uma família na vizinhança. Eu lavava para a senhora e ela ‘se deu comigo’. Um dia, ela me pediu uma pessoa para cozinhar. Eu disse que se ela quisesse, tinha o ’Wal’ que ‘não faz muito não, mas quebra o galho’”, dis-se dona Irinilda. Após esta conversa e aos 17 anos, ’Wal’ trabalhou por 7 anos com essa família.

Cinco horas ‘preso’ na cozinha

A variedade da comida é o que chama atenção quando o assunto é culinária em Parintins

Após a experiência, o aprendiz de chef trabalhou no banco, em um hotel e de-pois voltou a cozinhar para uma família em Manaus. “Eles me incentivaram a estudar. Então fiz o curso de gastronomia no Ciesa”, disse “Wal”.

Em 2007, conseguiu jun-to com uma amiga do curso um estágio em um hotel para adquirir mais expe-riência. Nesse período pe-diram que ele preparasse um cardápio. “Eu disse que faria, então conver-sei com meu subchefe do estágio e ele disse ‘presta atenção no que você vai vendo por aqui que você vai tendo uma ideia’. Daí eu fiz e o coordenador aprovou”, recordou.

Passados os dois me-ses, “Wal” acabou ficando por mais 2 anos. “Já tinha terminado o curso e o es-tágio e voltei para Parin-

tins. Um dia me ligaram do hotel, perguntando se eu estava disponível para trabalhar porque estavam precisando de uma pessoa. Conversei com meus pais e eles disseram ‘se você quiser ir amanhã, já vai logo’”, divertiu-se.

Com 2 anos de trabalho, Wal foi “reconhecido” pela primeira família com quem trabalhou aos 17 anos de idade, dentro do hotel. “Perguntaram-me quanto eu ganhava. E eu respondi ‘segredo de Estado’”, riu.

O chef aceitou a pro-posta e voltou a cozinhar para a família. “Sem-pre cozinhei para eles, e quando tiveram filhos fa-zia comida do aniversário das crianças. Durante a semana, fazia um prato para cada porque sabia o que eles gostavam, eram pratos diferentes todos os dias”, lembrou.

Do estágio ao sucesso

“Wal” e a mãe Irinilda, a grande incentivadora e conselheira de sua trajetória profi ssional: de mãos dadas para o sucesso

APOIOEntre problemas de saúde e viagens entre Manaus e Pa-rintins, “Wal” decidiu fi car na ilha sob os cuidados de dona Irinilda, e hoje o ne-gócio é bem-sucedido na área gastronômica

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Ilha de todas as cores e saboresPara quem chega à Ilha Tupinambarana, a busca por um cardápio diferente pode trazer surpresas, como os pratos feitos pelo chef “Wal”, que retornou à cidade no ano passado e faz sucesso com as receitas que divide com a mãe

Se dentro da arena a atuação dos bumbás é questionável e mo-tivo de disputa acir-

rada, fora dela não tem para ninguém: a linguiça preparada pelo chef Waldenilson Evan-gelista Garcia, 46, “Wal” para os amigos, conquista os mais radicais torcedores.

Com carne, pedaços de ba-con e, claro, segredos preser-vados a sete chaves, é feita a linguiça que já virou preferên-cia na ilha, tal como indica o slogan impresso sobre a porta do estabelecimento: Churras-quinho Kero Mais, “O sabor que virou mania”.

É de um local discreto e im-provisado, na avenida Ama-zonas, que exala o aroma das maravilhas culinárias do chef Waldenilson.

Atraídos pelo cheiro e pela apresentação dos pratos, a clientela disputa as mesas e cadeiras distribuídas pela varanda da casa onde ele mora com a mãe, a sorriden-te dona Irinilda Evangelista Garcia, 75, e o restante da família, enquanto aguardam a preparação do prato.

No local, aberto em 8 de março de 2013, data que fi -cou registrada na memória de

“Wal”, ele começou oferecendo churrasco de carne e de frango. “Tenho peito de frango e carne que não contêm gordura nem muito sal. Tenho preocupação com o preparo e a escolha das carnes. A pessoa escolhe se quer que coloque manteiga ou não”, salientou.

A criação da linguiça, a que-ridinha da clientela, surgiu por incentivo dos amigos e

de olho no gosto dos clientes. “Tinha uma senhora em frente de casa que fazia e meus amigos diziam que era para eu estar há muito tempo aqui. Eu preparo a linguiça corta-dinha e vou acrescentado os segredos. Além de carne, só um pouco de bacon para dar perfume, porque o pessoal não gosta muito. Todo mun-do gostou, ela sai mais que churrasco”, observou.

O apoio ao item principal é dado pelo arroz, macar-rão, farofa, salada, purê de batata e o vatapá. O toque especial fi ca a cargo do “mo-lho diferente”, também in-ventado pelo chef. “Não faço vinagrete, faço um molho di-ferente com tomate, catchup e outros ingredientes. Coloco o molho em cima da carne ou sirvo à parte”, disse.

O profi ssional tem grande preocupação com o visual do prato, para ele é de suma importância que além de sau-dável e gostoso, esteja boni-to. “Quando os clientes veem o prato pronto, se admiram. Tenho preocupação na apre-sentação”, afi rmou.

Os valores de cada uma das “obras de arte” variam de R$ 8 a R$ 9.

Os experimentos do chef parintinenses não param na linguiça. Sempre curioso, “Wal” resolveu inovar e variar o menu aos domingos. Pirarucu a casaca, salpicão, creme de camarão, sufl ê de camarão com requeijão e batata palha, lasanha com creme de frango, fi lé ao molho madeira - substi-tuído às vezes pelo molho bar-bacue, acrescido de azeitonas e passas - servido com arroz primavera. Mas tudo feito com ingredientes diferentes, fruto da experiência do chef.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

FOTOS: IONE MORENO

Problemas de saúde fi-zeram “Wal” voltar para Parintins em 2011. No ano seguinte, retomou o trabalho junto à família em Manaus. Contudo, em 2013, adoeceu no-vamente e, após incen-tivo da mãe retornou à ilha. “Minha mãe disse ‘meu filho, melhor coi-sa que você faz é ficar aqui (em Parintins), em Manaus você é só, quem vai te ajudar? Então, falei para a família que iria embora cuidar dos meus coroas”, lembrou.

Foi aí que dona Irinilda Evangelista Garcia entrou em campo mais uma vez. “Ele foi para Manaus, tra-balhou com uma família 20 anos, eles o fi zeram estudar. Já faz um ano e nove meses que ele voltou. Quando ele adoeceu, eu disse para ele voltar e ele perguntou ‘a senhora garante me ajudar?’. E eu respondi, ‘mas com quem você está falando?’”, questionou a mãe.

De volta à ilha, sob os cuidados da mãe e o incentivo dos amigos, “Wal” – mesmo com certa dúvida - não abandonou a paixão e voltou a criar na cozinha. “Os amigos dis-seram que por aqui não tinha um ‘movimento de comida’, então planejei tudo. Cheguei em janeiro de 2013, e no dia 8 de março e segui os conse-lhos dos amigos e colo-quei tacacá e mungunzá para vender”, disse.

Insatisfeito, o chef ex-perimentou oferecer a freguesia, ainda discre-ta, churrasco. Foi então que a varanda da casa de dona Irinilda come-çou a chamar atenção. “Todo mundo chegava e perguntava se tinha lin-guiça. Ou então, se eu tra-balhava com calabresa. Então percebi que o povo gostava”, observou.

Aos domingos ele pen-sou em variar o cardápio

e dona Irinilda, mais uma vez deu aquele conselho, que só mãe é capaz de oferecer. “Minha mãe deu a ideia de fazer ‘aquelas comidas gostosas’ que eu fazia. Então comecei com lasanha, pirarucu e salpicão”, disse.

A novidade, claro, cau-sou estranhamento da clientela acostumada com o churrasquinho light e a linguiça “sensação da ilha”. “As pessoas pergun-tavam pelo churrasco e eu dizia que tinha apenas prato sortido. Daí elas perguntavam o que era. E eu explicava e dizia que era comida variada que a gente faz uma porção, faz um PF (prato feito). As pessoas pediam para

olhar, eu servia ou fazia para viagem. Preparava tudo e, graças a Deus, deu certo e fui levando, com incentivo dos ami-gos”, apontou.

Com muita simpatia e o dobro de humildade, “Wal” vê ao lado da mãe a varanda cheia de clientes famintos por novidades e por desvendar seus se-gredos culinários.

“Os filhos de cliente sempre vem e dizem: ‘Tio, o senhor não quer passar o segredo do seu molho para nós? Porque a ma-mãe ainda não acertou fazer desse jeito lá em casa’. E, eu digo: ‘É assim mesmo’”, divertiu-se. Afi-nal, o segredo é a alma do negócio.

Uma história de idas e vindas

RECEITACom carne, pedaços de bacon e, claro, se-gredos preservados a sete chaves, é feita a linguiça que já virou referência na ilha, tal como indica o slogan “O sabor que virou mania”

A linguiça especial criada pelo chef de cozinha, com segredos que contribuem para o sabor

“No pirarucu à casaca, por exemplo, eu trabalho com o fi lé fresco e frito no azeite. Todo mundo pergun-ta como consigo fazer com pirarucu fresco”, afi rma “Wal”. Mistérios do chef.

Aos domingos, para pre-parar tudo, ele fi ca cerca de cinco horas na cozinha e conta com o auxílio da mãe. “Ele sempre foi muito bom, sabe lavar, passar, cozinhar, costurar na mão. Sempre foi muito observa-dor, fi cava me vendo em casa fazendo as coisas e depois ia me ajudar. O pai dele foi cozinheiro em um navio de japonês e sabia fazer muitos pratos”, disse a mãe. E, quando o menino começou a “dar pitaco” na cozinha de dona Irinilda... “Achei 10, eu abraço ele”, disse, emocionada.

Ao contrário dos outros 11 irmãos, “Wal”, quan-

do criança, tinha o corpo franzino, era magrinho de-mais, e para o pai - que na época trabalhava como mestre de obra - não teria estrutura física suficiente para trabalhar no setor da construção. Por isso, res-tava ao menino ficar em casa auxiliando a mãe nos serviços domésticos. “Ele pegava receitas em revis-ta e jornal, pedia para eu pedir dinheiro do pai, para a gente comprar ingredien-tes e tentar fazer a receita”, lembra dona Irinilda.

A criança guardava as re-ceitas na memória e fazia, assim como é hoje ainda, do jeito dele. A avaliação das criações fi cava na res-ponsabilidade da família que se reunia nos fi ns de semana. “No domingo, a família grande se reunia e eu cozinhava. Além da mi-nha mãe, meu pai também

era cozinheiro de navio de japonês e eu sempre era curioso e fui aprendendo com ele. Tinha minha tia que sempre fazia doce e mi-nha avó que fazia aquelas merenda gostosas de ‘vó’ e eu ia aprendendo tudo isso”, recordou-se.

O menino cresceu e a intimidade na cozinha só aumentava. “Ele se formou no magistério fez concurso mais nunca foi chamado e gostava de fi car na cozinha. Até que conhecemos uma família na vizinhança. Eu lavava para a senhora e ela ‘se deu comigo’. Um dia, ela me pediu uma pessoa para cozinhar. Eu disse que se ela quisesse, tinha o ’Wal’ que ‘não faz muito não, mas quebra o galho’”, dis-se dona Irinilda. Após esta conversa e aos 17 anos, ’Wal’ trabalhou por 7 anos com essa família.

Cinco horas ‘preso’ na cozinha

A variedade da comida é o que chama atenção quando o assunto é culinária em Parintins

Após a experiência, o aprendiz de chef trabalhou no banco, em um hotel e de-pois voltou a cozinhar para uma família em Manaus. “Eles me incentivaram a estudar. Então fiz o curso de gastronomia no Ciesa”, disse “Wal”.

Em 2007, conseguiu jun-to com uma amiga do curso um estágio em um hotel para adquirir mais expe-riência. Nesse período pe-diram que ele preparasse um cardápio. “Eu disse que faria, então conver-sei com meu subchefe do estágio e ele disse ‘presta atenção no que você vai vendo por aqui que você vai tendo uma ideia’. Daí eu fiz e o coordenador aprovou”, recordou.

Passados os dois me-ses, “Wal” acabou ficando por mais 2 anos. “Já tinha terminado o curso e o es-tágio e voltei para Parin-

tins. Um dia me ligaram do hotel, perguntando se eu estava disponível para trabalhar porque estavam precisando de uma pessoa. Conversei com meus pais e eles disseram ‘se você quiser ir amanhã, já vai logo’”, divertiu-se.

Com 2 anos de trabalho, Wal foi “reconhecido” pela primeira família com quem trabalhou aos 17 anos de idade, dentro do hotel. “Perguntaram-me quanto eu ganhava. E eu respondi ‘segredo de Estado’”, riu.

O chef aceitou a pro-posta e voltou a cozinhar para a família. “Sem-pre cozinhei para eles, e quando tiveram filhos fa-zia comida do aniversário das crianças. Durante a semana, fazia um prato para cada porque sabia o que eles gostavam, eram pratos diferentes todos os dias”, lembrou.

Do estágio ao sucesso

“Wal” e a mãe Irinilda, a grande incentivadora e conselheira de sua trajetória profi ssional: de mãos dadas para o sucesso

APOIOEntre problemas de saúde e viagens entre Manaus e Pa-rintins, “Wal” decidiu fi car na ilha sob os cuidados de dona Irinilda, e hoje o ne-gócio é bem-sucedido na área gastronômica

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C6 Dia a dia

Norte lidera inscrições no EnemSomente o Amazonas tem 184 mil inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio, cujas provas serão aplicadas nos dias 8 e 9 de novembro em todo o território nacional

Os Estados da Região Norte do país re-gistraram um cres-cimento de 27,36%

no percentual de inscritos no Exame Nacional do Ensino Mé-dio (Enem), superando o índi-ce apresentado pelas demais regiões brasileiras. Em todo o Brasil, foram contabilizadas 8.721.946 inscrições.

No Estado do Amazonas, o número de inscritos corres-ponde a 184.864, um índice bem maior se comparado ao de 2013, que registrou 173 mil inscrições.

Segundo a diretora do De-partamento de Políticas e Pro-gramas Educacionais da Se-duc (Deppe), Vera Lúcia Lima, esse aumento considerável no número de inscrições deve-se à intensa divulgação sobre o Enem. “O crescimento do número de inscritos na região norte é decorrente da divulga-ção que foi feita dentro das escolas, que abriram espaço através do acesso à internet para que os alunos pudessem realizar as inscrições, contan-do ainda com o apoio da mídia local”, afi rmou a diretora.

Além disso, o governo fede-ral, por meio do Ministério da Educação (MEC) ampliou para 56 o número de municípios do

Amazonas onde serão aplica-das as provas do Exame Na-cional do Ensino Médio (Enem) em 2014. No ano passado, 43 municípios aplicaram as provas no Estado.

Essa decisão, ainda de acor-do com a diretora Vera Lúcia, contou muito para a evolu-ção do número de inscritos.

“O aumento no número de municípios que aplicarão as provas do Enem infl uencia di-retamente no crescimento das inscrições, fator que favorece, inclusive, os estudantes do interior que não precisarão se descolar de seu município de origem para realizar a prova”, explica Vera Lúcia.

Preparação Na rede pública estadual do

Amazonas, conforme o Depar-tamento de Políticas e Progra-mas Educacionais (Deppe), os alunos são benefi ciados pelo “Aulão do Enem”, que acontece todos os sábados durante o ano letivo, sendo fi nalizado na semana anterior à realização das provas do Enem.

O programa tem a pro-posta de preparar os estu-dantes para as avaliações, sendo disponibilizadas aulas com os conteúdos de cada área de conhecimento que constam no exame, além de simulados para que os par-ticipantes tenham a chance de se preparar e obter um bom desempenho.

ProvasO Enem possibilita, dentre

outros benefícios, o ingresso ao ensino superior e certifi -cado de conclusão do ensino médio, abrindo muitas portas para os estudantes. A evolução nos índices de participação no exame tem apresentado uma evolução signifi cativa no país, sendo registrados 0,2 milhões de participantes (1998) e 8,7 milhões em 2014.

As provas do Enem aconte-cerão nos dias 8 e 9 de novem-bro, iniciando sempre às 13h, pelo horário de Brasília.

EXPLICAÇÃOSegundo a diretora do Departamento de Políticas e Programas Educacionais da Se-cretaria de Estado da Educação (Seduc), Vera Lúcia Lima, o aumento deve-se à intensa di-vulgação sobre o Enem

Norte lidera inscrições no EnemNorte lidera inscrições no EnemNorte lidera inscrições no Enem

Estudantes da rede estadual de ensino do Amazonas: Estado teve 184 mil inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio deste ano, número bem superior ao do ano passado, quando foram registradas 173 mil inscrições no Enem

Juízas tem mais dificuldades

JUSTIÇA

Cerca de um terço das magistradas (29%) con-sidera que enfrenta mais difi culdades no exercício da magistratura que seus colegas homens. De acordo com o Censo dos Magistra-dos, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no fi m de 2013, dos cerca de 10,8 mil magistrados que responderam à pesquisa, apenas 36% são mulheres, embora representem 56% dos servidores.

Apesar de a maioria das magistradas consultadas (87%) considerar impar-ciais os concursos para a magistratura, uma vez su-

perada a fase do ingresso à carreira, 14% delas rela-taram ter mais problemas nos processos de remoção e promoção em relação aos juízes; na Justiça Federal, o índice dobra (28%). No exercício da função, parte das mulheres admitiu que o fato de serem do sexo feminino já proporcionou reações negativas de ju-risdicionados (25%) e de outros profi ssionais do Sis-tema de Justiça (30%).

De acordo com duas em cada três magistradas que opinaram na pesquisa do CNJ, a vida pessoal delas é mais afetada pela carreira

que a dos colegas do sexo masculino. O percentual de juízes que têm fi lhos é ligei-ramente maior (78%) que o das juízas (71%).

PesquisaO objetivo do estudo foi

identifi car o perfi l da ma-gistratura brasileira, razão pela qual o questionário con-sultou os magistrados bra-sileiros sobre informações pessoais e profi ssionais. Dos 16.812 magistrados em atividade no país, 10.796 responderam ao questioná-rio eletrônico proposto pelo CNJ, o que indica índice de resposta de 64%.

De acordo com censo do CNJ, mulheres da magistratura tem mais problemas no trabalho

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO/ARQUIVO EM TEMPO

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MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 C7

Norte lidera inscrições no EnemEDUARDO CAVALCANTE/SEDUC

Distante 778 quilôme-tros de Manaus, o municí-pio de Carauari será con-templado neste segundo semestre de 2014 com um Centro de Educação de Tempo Integral (Ceti). Conduzida pelo governo do Estado a obra educa-cional já tem 87% de suas obras avançadas.

De acordo com o secre-tário de Estado de Edu-cação, Rossieli Soares da Silva, o primeiro Ceti de Carauari contará com 24 salas de aula, laboratório de ciências, laboratório de informática, ambien-tes administrativos, sala para atividades de dança e de música (com aplica-ção de revestimento tér-mico e acústico nas sa-las), refeitório, auditório, campo de futebol, quadra poliesportiva e piscina.

A previsão, segundo o secretário Rossieli Silva, é que o empreendimento edu-cacional seja inaugurado no próximo mês de setembro.

Orçado em R$ 14 mi-lhões, o projeto arquite-tônico é um referencial em educação pública e terá estrutura inteligen-te, com aproveitamento

da iluminação, ventilação natural, além de sistema de segurança eletrônica (com câmeras de moni-toramento) atendendo às normativas de seguran-ça e acessibilidade des-tinada às pessoas com deficiência de natureza física e motora.

Além de Carauari, demais localidades serão contem-pladas com Centros de Educação de Tempo In-tegral. “Dentre as quais: Autazes, Borba, Carauri, Coari, Humaitá, Itacoatia-ra, Manacapuru, Presiden-te Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira, além de Manaus. Em todas estas localidades os trabalhos estão adiantados.

Carauari ganhará novo Ceti

Norte lidera inscrições no EnemNorte lidera inscrições no EnemNorte lidera inscrições no Enem

Estudantes da rede estadual de ensino do Amazonas: Estado teve 184 mil inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio deste ano, número bem superior ao do ano passado, quando foram registradas 173 mil inscrições no Enem

RECURSOSDe acordo com o secretário da Seduc, primeiro Ceti de Ca-rauari contará com 24 salas de aula, labora-tórios de ciências e de informática, sala para atividades de dança e música e outros

Concurso já tem 22 mil candidatosCom o processo de inscri-

ções iniciado no último dia 20 de junho, o concurso público da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) encerrou a primeira semana de cadastro contabilizando 22.240 candida-tos registrados. Com o certame o governo do Estado oferecerá 7.043 vagas para capital e in-terior do Amazonas.

Do contingente de inscrições registradas, 9.518 são para car-gos de nível superior, 6.190 para cargos de nível médio e 6.532 para cargos de nível funda-mental. Conforme a comissão organizadora do certame, os registros realizados via internet devem ser efetivados, mediante o pagamento de taxa de inscri-ção até o dia 17 de julho.

Organizado pela Fundação Getúlio Vagas (FGV), o concur-so público prosseguirá com as inscrições abertas até o dia 16 de julho. Os interessados a concorrer a uma das vagas po-dem realizar suas inscrições no site da FGV: http://fgvprojetos.fgv.br/concursos/seduc-am ou ainda por meio de link disponi-bilizado no portal da Seduc na in-ternet: www.educacao.am.gov.br. Nos mesmos endereços ele-

trônicos foram disponibilizados os editais para acesso.

ProfessoresConforme o secretário de Es-

tado de Educação, Rossieli Soa-res da Silva, o maior contingente de vagas será disponibilizado para o cargo de professor, so-mando 5.495, subdivididas em 4.623 para professores que op-tarem pelo regime de 20 horas semanais e mais 1.322 para professores de 40 horas.

Além de vagas para profes-sores, serão oferecidas 826 vagas para pedagogos, 785 va-gas para o cargo de merendei-ro, 85 vagas para assistentes técnicos, 60 vagas para assis-tentes sociais, 52 vagas para psicólogos, 52 para bibliote-cários, 50 para nutricionistas, 21 vagas para engenheiros, 5 vagas para contadores, 3 para fonoaudiólogos e ainda 2 para estatísticos.

Para os cargos de professor e pedagogo, o salário inicial será de R$ 1.566,90 (para o regime de 20 horas semanais) e de R$ 3.133,80 (para o re-gime de 40h). Para os demais cargos de ensino superior, que abrangem assistentes sociais,

bibliotecários, contadores, estatísticos, engenheiros, fo-noaudiólogos, nutricionistas e psicólogo a remuneração inicial será de R$ 2.350,38.

Para o cargo de assistente técnico (classifi cado como de ensino médio) a remunera-ção será de R$ 1.234,49. Para o cargo de merendeiro (ensino fundamental) será de R$ 1.036,27.

Cronograma – As provas do concurso público serão aplica-das no dia 31 de agosto e serão aplicadas simultaneamente na capital e nos 61 municípios do interior do Estado.

Para os cargos de meren-deiro, além das prova objetiva, ocorrerão provas práticas, que serão realizadas entre os dias 25 de outubro e 2 de novembro de 2014. A divulgação do re-sultado fi nal do concurso com a homologação dos selecio-nados em Diário Ofi cial está prevista para ocorrer no dia 27 de dezembro de 2014.

Conforme o site da FGV, maiores informações sobre o concurso podem ser obti-das pelo telefone 0800-283-4628 e pelo e-mail [email protected].

SEDUC

EDUARDO CAVALCANTE/SEDUC

O cargo de professor é o mais procurado pelos candidatos no concurso da Secretaria de Educação

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C8 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

FCecon implanta ISO 9000Com a melhoria do modelo de gestão, um dos benefícios é que a fundação poderá ser credenciado como hospital de ensino junto aos ministérios da Saúde e da Educação, promovendo ampliação no leque de projetos inseridos na área

A Fundação Centro de Controle de Onco-logia do Estado do Amazonas (FCecon),

órgão vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (Susam), está em fase de implantação de normas da ISO 9000, para melhorias do modelo de gestão. Entre os bene-fícios que serão possíveis, a partir da medida, está o credenciamento, junto aos ministérios da Saúde (MS) e da Educação (MEC), como hospital de ensino, promo-vendo uma ampliação no leque de projetos inseridos nesta área específica.

Segundo o diretor-presi-dente da instituição, pneu-mologista Edson de Olivei-ra Andrade, a expectativa é que o credenciamento como hospital de ensino resulte no aumento do número de residências médicas no hos-pital, já que, atualmente, a maioria das bolsas é paga com recursos do governo do Estado.

“A partir do credenciamen-to, a FCecon passará a re-ceber recursos do governo federal para projetos na área da educação. Inserem-se nes-te contexto as residências médicas, pois, atualmente, apenas algumas recebem incentivos federais”, desta-ca. Ele ressalta, ainda, que a certificação ISO 9000, cujas normas serão implantadas na FCecon até o final deste ano, período em que estima-se que a instituição seja certi-ficada, otimizarão os serviços da instituição e prepararão a fundação para que ela atenda a todos os critérios exigidos para o credenciamento como hospital de ensino.

Hoje, a FCecon dispõe das seguintes residências médi-cas em seu programa: cance-rologia clínica, cancerologia cirúrgica, cirurgia de cabeça e pescoço, mastologia e ra-diologia e diagnóstico por

imagem. As duas últimas foram lançadas este ano de forma inédita no Estado e a ideia é que o programa seja ampliado ainda mais nos próximos anos. “Isso possibi-litará que os acadêmicos de medicina e também de ou-tros cursos, como o de enfer-magem, não precisem mais deixar o Amazonas para se especializarem, aumentando assim o número de profissio-nais no Estado”, frisou.

Visitas técnicasA empresa contratada e que

ficará responsável por traçar o plano de metas e adequa-ções dentro do projeto da ISO 9000 é a M & V Consultoria e Assessoria Empresarial. A

ideia é que, a partir de uma série de visitas técnicas, ini-ciada este mês, além de reu-niões setoriais, seja possível levantar as diretrizes e metas a serem alcançadas para a melhoria dos serviços ofere-cidos e, ainda, os indicadores relacionados aos mesmos.

O padrão do sistema que será implantado será inter-nacional, agregando mais qualidade e ganhos aos serviços ofertados. Inicial-mente, a ideia é que haja investimentos futuros, prin-cipalmente nas áreas de qualificação e treinamento de pessoal, o que será de conhecimento dos gestores após traçado um diagnóstico da unidade hospitalar. A Fundação Cecon passará por um processo de modernização de gestão por meio da ISO 9000, a cargo da M & V Consultoria

FCECON/DIVULGAÇÃO

Voluntários estimulam criançasGACC

Atuar no voluntariado não traz benefícios apenas para quem está recebendo a do-ação, mas principalmente, para quem as pratica. Nessa filosofia, um grupo de fisio-terapeutas e acadêmicos do curso em Manaus oferece atendimento gratuito para crianças em tratamento con-tra o câncer na capital.

O trabalho é coordenado pelo fisioterapeuta Daniel Xavier, que tem sua histó-ria pessoal de luta contra a doença e presidente do Insti-tuto Amazonense de Aprimo-ramento de Ensino em Saúde (Iapes). Atualmente, os vo-luntários atendem crianças do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), que tem sede no Dom Pedro, Zona Centro-Oeste de Manaus.

Para elas, uma chance única de melhorar os movi-mentos e a independência motora, perdida na maioria das vezes devido ao agres-sivo tratamento contra a do-ença. “É muito gratificante ajudar essas crianças que já tem a vida e a rotina bem atingidas por conta da doença. Para nós, o ganho é ainda maior, porque es-tamos fazendo nosso papel humanitário de ajudar ao

próximo”, afirmou.Os atendimentos são fei-

tos aos sábados, com apoio de profissionais fisiotera-peutas e acadêmicos volun-tários. De acordo com Daniel Xavier, o trabalho melhora a qualidade de vida das crian-ças, que têm suas habilida-des de movimento recupe-radas. “Todas as crianças que atendemos já passaram por processos agressivos no tratamento contra o cân-cer. Além da quimioterapia, algumas tiveram membros amputados”, destacou.

Ele destaca que a criança que tem o diagnóstico de câncer e passa pelos trata-mentos vai precisar cons-tantemente da fisioterapia. “Dependendo do tratamen-to, a criança perde algumas funções de movimento, que só podem ser resgatadas com o trabalho fisioterapêu-tico”, disse.

“Algo mais”Para o fisioterapeuta Da-

niel Glória, que também participa da ação voluntá-ria, além da parte técnica, o profissional que lida com a recuperação de crianças atingidas pelo câncer, preci-sa ter algo mais. Ele destaca

que os resultados da fisiote-rapia só serão alcançados de forma satisfatória se o vínculo entre fisioterapeuta e paciente for instalado des-de o início do diagnóstico, de tal forma que seja criada uma relação de confiança e de aceitação ao tratamen-to. “A abordagem deve ser atraente e adequada à faixa etária para que o paciente aceite o tratamento como algo prazeroso, e não como um sacrifício”, disse.

MortesNo Brasil, o câncer já re-

presenta a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, para todas as regiões, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência foi extrema-mente significativo.

Atualmente, em torno de 70% das crianças e adoles-centes acometidos de câncer podem ser curados, se diag-nosticados precocemente e tratados em centros especia-lizados. A maioria deles terá boa qualidade de vida após o tratamento adequadoAção dos voluntários com as crianças do GACC serve como apoio no tratamento da doença

DIVULGAÇÃO

PROJEÇÃOSegundo o diretor-presidente da FCecon, Edson de Oliveira An-drade, a expectativa é que o credenciamento como hospital de ensi-no resulte no aumento do número de residên-cias médicas

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MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 [email protected] (92) 3090-1010

3 É proibido conduzirNo país das highways, o uso do carro patina. Págs. 4 e 5

2 Protestos na prateleiraAs análises, em livros e fi lmes, de junho de 2013. Pág. 3

1 A viagem de Thomas MannE outras 7 indicações culturais. Pág. 2

Do arquivo de Maria Bonomi

4 Todos os gringos são como Mick JaggerDiário do Rio. Pág. 6

5 Xangai, 1974. Pág. 7

Capapintura deDeco Farkas

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E2 MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

Ilustríssima SemanaO MELHOR DA CULTURA EM 8 INDICAÇÕES

LIVRO QUADRINHOS

REPORTAGEM | MENINAS EM JOGOA HQ eletrônica de De Maio e Andrea Dip, da agência

Pública, é fruto de uma reportagem investigativa. Em cinco capítulos, o tema é a rede de exploração sexual de crianças e adolescentes no Ceará em torno do evento da Copa do Mundo.

apublica.org/2014/05/hq-meninas-em-jogo

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Moebius, mantém o clima de onirismo que marca os primeiros, “Na Estrela” e “Os Jardins de Edena”, inspirado nos escritos de Carlos Castañeda. O quarto volume sai no próximo mês; o quinto, previsto para setembro, foi publicado na França em 2001, seguido por um álbum-epílogo.

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LIVRO | THOMAS MANNO volume “Travessia Marí-

tima com Dom Quixote” traz dez ensaios do autor de “Morte

em Veneza” sobre temas como literatura, ética e casamento. A pu-blicação, que integra a série Thomas Mann - Ensaios & Escritos, conta ainda com um diário de viagem e o prefácio do autor para “O Castelo”, de Kafka.

trad. Kristina Michahelles e Sa-muel Titan | Zahar | R$ 49,90 | 168 págs.

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E3MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014

2Os papéis de junho

Política

A arrebentação de mobiliza-ção social no país em junho de 2013 foi acompanhada tam-bém de uma pequena onda edi-torial. Tratam-se não apenas de análises dos movimentos de junho mas de livros que bus-cam discutir questões como as novas formas de ativismo e que, juntos, ajudam a compre-ender o que há de diferente no horizonte político brasileiro.

Embora a maior parte dos estudos sobre junho esteja dispersa em coletâneas e re-vistas acadêmicas, algumas análises de maior fôlego ga-nharam o formato livro. São ainda pouco diversas em com-paração com as dos periódi-cos, mas têm o mérito de já contemplar as particularida-des locais deste fenômeno.

De certa maneira, a emer-gência das mobilizações pode ser traçada a partir da história do Movimento Passe Livre e das revoltas de transporte que têm acontecido regularmente pelo menos desde a chamada Revolta do Buzu, em Salvador, em 2003. De lá para cá, jovens têm, de tempos em tempos, bloqueado ruas das grandes cidades do país exigindo a revogação do aumento das passagens de ônibus.

Por outro lado, particularida-des dos protestos nas diferen-tes cidades do Brasil mostram que é preciso olhar para o que há de específi co em cada lugar. Em comum, vemos apenas os traços gerais de mobilizações marcadas por formas de orga-nização horizontal, pela crítica das instituições representati-vas e pelo emprego de formas de ação direta, como protestos de rua e ocupações.

“Nas Ruas: a Outra Políti-ca que Emergiu em Junho de 2013” [Letramento, 264 págs., R$ 59,90], do antropólogo Pa-trick Arley e do sociólogo Rudá Ricci, tenta explicar o processo que forjou as manifestações de junho de 2013 em Belo Horizonte. Além do registro fotográfi co dos protestos, fei-to por Arley, o livro também resgata os esforços dos ativis-tas que, desde o começo dos

PABLO ORTELLADO

Primeiros balanços dos movimentos

RESUMOConjunto de livros e documentários sobre as mobilizações de rua que eclodiram pelo país há um ano traça retrato de como, apesar de man-terem eixo comum, movimentos tiveram particularidades em cidades como Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Obras também buscam raízes históri-cas de novas formas de ativismo social.

anos 2000, tentam construir um novo movimento social, fora do ciclo de lutas que tinha levado à formação do PT.

O livro narra o surgimento de coletivos de ativistas, fes-tivais de contracultura e ações que misturam arte e política. É nessa tradição que o texto de Ricci enxerga a gênese do junho mineiro.

Se essa tradição contra-cultural um pouco ligada ao anarquismo será a responsá-vel pelas novas formas sociais que fi caram mais visíveis em junho, ela também é respon-sável por suas limitações.

Em Belo Horizonte, o mo-vimento se caracterizou por construir uma bem estrutura-da e relativamente longeva As-sembleia Popular Horizontal, que se dividiu em diversos gru-pos de trabalho para discutir os problemas da cidade.

Ao mesmo tempo em que aprofundou o debate público e construiu uma experiência viva de democracia direta, ela enfrentou obstáculos para converter essa vitalidade co-munitária em mudança por meio das instituições políti-cas, em parte por difi culdade dos manifestantes, em parte por difi culdade dos governos estadual e municipal em reco-nhecer as particularidades das novas formas organizativas do movimento social.

PotênciaNo Rio, o processo foi mais

conturbado e potente na sua desestrutura e multiplicidade, como argumenta o ativista Bruno Cava em “A Multidão Foi ao Deserto: as Manifes-tações no Brasil em 2013 (Jun-Out)” [Annablume, 156 págs., R$ 40].

O movimento carioca se ca-racterizou por ações pontuais e “ad hoc” que produziram ora manifestações multitu-dinárias, ora ações menores, como as ocupações contra o governador Sérgio Cabral ou a Câmara de Vereadores.

Se a experiência de Belo Ho-rizonte após a primeira onda de protestos foi marcada pela organização da Assembleia Popular Horizontal, o pós-ju-nho no Rio se notabilizou por grandes atos em apoio à greve dos professores da rede públi-ca. A mistura de ação sindical e apoio popular parece fazer a ponte entre a ida às ruas de junho de 2013 e as greves de trabalhadores de maio e junho de 2014.

Os protestos de São Pau-lo, por sua vez, destacaram-se pela centralidade da luta contra o aumento das pas-sagens de ônibus e metrô e pelo papel estratégico ocu-pado pelo Movimento Passe Livre. “#VemPraRua” [Breve Companhia/Companhia das Letras, 37 págs., R$ 4,99], e-book de Piero Locatelli, narra em tom de relato jornalístico as vivências do autor durante a campanha contra o aumento das passagens de 2013.

Escrito e lançado ainda no calor dos acontecimentos, o livro do repórter da revista “Carta Capital” tem o mérito de

acompanhar de perto o princi-pal ator político em São Paulo e descrever com um olhar ex-terno, mas ao mesmo tempo simpático, o desdobrar da crise de junho. O livro mostra, dia a dia, como o movimento pre-parou as suas manifestações e como os governos reagiram à crescente onda de insatisfa-ção que levaria à revogação do aumento das passagens.

A leitura conjunta dos três livros mostra como os pro-cessos das diferentes locali-dades estão interligados mas também como cada cidade teve um junho com coloração local. É pena que ainda não tenham surgido análises em livro do processo em Fortaleza, organizado em boa medida ao redor da luta contra a destrui-ção de parte do Parque do Cocó, ou sobre os protestos em Porto Alegre, protagonizados pelo Comitê de Luta por um Transporte Público.

AtivismosOs protestos de junho tam-

bém geraram interesse edi-torial por livros que tentam explicar as novas formas de ativismo. “Black Blocs” [trad. Guilherme Miranda, Vene-ta, 270 págs., R$ 34,90], do sociólogo canadense Francis Dupuis-Déri, é o primeiro título publicado no Brasil analisando com seriedade e de forma sis-temática esse fenômeno.

O livro tenta entender a gênese dos black blocs no movimento social alemão dos anos 1980, sua reconfi -guração durante os protestos contra a Organização Mundial do Comércio em Seattle, em 1999, e sua posterior difusão mundial, de Atenas a São Pau-lo, passando pelo Cairo, pela Cidade do México e por Gêno-va. A obra não apenas narra a história dos primeiros black blocs como retoma as discus-sões em torno dos ativistas que adotavam essa tática e outros atores políticos.

Como o autor deixa claro na introdução, o objetivo não é proteger a tática das críticas, mas fornecer subsídios histó-ricos e conceituais para que o debate possa ser realizado com seriedade.

“Bela Baderna” [trad. Ga-briela Vuolo e Tica Minami, Edições Ideal, 168 págs., R$ 25,90], organizado por Andrew Boyd e Dave Oswald Mitchell, também busca contribuir para o debate em torno de novas formas de ativismo. O volu-me se constituiu como uma espécie de catálogo, reunin-do de maneira sistemática diferentes táticas, princípios e teorias empregadas pelos movimentos que estão na in-terface entre o novo ativismo e a contracultura.

Táticas como o teatro de guerrilha e “fl ash mobs” e prin-cípios como o da não violência e a visibilização são discutidos de maneira objetiva e orien-tada ao sucesso de ações e campanhas ativistas.

O livro traz ainda uma sele-ção de estudos de casos em que essas táticas, princípios e teorias foram postos em prá-

tica – incluída aí uma análise de junho de 2013 no Brasil. Embora seja uma tradução da versão pocket do livro origi-nal norte-americano e a maior parte dos exemplos evocados venham da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, o livro tem o mérito de sistematizar e organizar para o leitor muito do que tem surgido no novo ativismo social.

FilmesPassado um ano, a pro-

dução audiovisual sobre os protestos de junho também começa a vir a público. Um dos primeiros fi lmes lançados foi “A Partir de Agora”, docu-mentário de Carlos Pronzato, disponível no YouTube.

O diretor teve um papel importante na gênese do Movimento Passe Livre com o documentário “Revolta do Buzu” (também no YouTube), que relatava como a revolta espontânea dos jovens do en-sino médio de Salvador contra o aumento das passagens de

ônibus havia sido apropriada pela UNE (União Nacional dos Estudantes) em negociações com a prefeitura. A leitura da revolta de Salvador proposta pelo documentário infl uenciou muito os ativistas de Florianó-polis que fundariam o MPL.

No fi lme sobre junho, Pron-zato segue analisando a tra-jetória do Passe Livre e das mobilizações contra o preço dos transportes e argumenta que estaria ali a origem dos protestos de 2013. O fi lme tem poucas cenas das manifesta-ções e se constrói em torno de depoimentos de ativistas do movimento e de analistas próximos a ele.

Já o fi lme “Junho - O Mês que Abalou o Brasil”, de João Wainer, em cartaz nos cine-mas, se constrói em torno das muitas imagens dos protestos que foram capturadas para a cobertura da “TV Folha”. Em formato de reportagem, o fi lme [produzido pela Folha] também se concentra nos pro-testos de São Paulo e no pro-

tagonismo do MPL, embora, em comparação com o fi lme de Pronzato, contenha maior diversidade interpretativa.

Enquanto no documentário de Pronzato as análises e de-poimentos estão no centro da narrativa, ilustradas por cenas de rua, no documentário de Wainer há um esforço por dei-xar as imagens dos protestos conduzirem a narrativa – e, quando as imagens não são sufi cientes, elas são comple-mentadas por depoimentos.

Além disso, o documentário de Pronzato é um fi lme enga-jado, de movimento, enquanto que o de Wainer busca o equi-líbrio jornalístico.

É preciso ainda aguardar a disposição dos distribuidores para vermos no circuito exibi-dor de cinemas o panorama mais completo da produção audiovisual sobre os protestos de junho, que inclui ainda “20 Centavos”, de Tiago Tambelli, e “Rio em Chamas”, fi lme cole-tivo produzido por Daniel Cae-tano, disponível no Vimeo.

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E4 MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 E5

Urbanismo

RESUMONos EUA, o carro perde espaço não apenas como meio de locomoção, mas também como objeto de desejo e expressão de um certo modo de vida. Demografi a e economia, além da questão ambiental, fazem com que menos jovens tirem cartei-ra de motorista e cidades invistam em sustentabilidade para atrair moradores.

3O declínio de uma paixão

Dois Rolls Royces estão ex-postos, ao lado de duas Ma-seratis, no saguão principal do Tysons Galleria. Os carros fazem parte de uma promoção do centro comercial, vizinho do

RAUL JUSTE LORESILUSTRAÇÃO DECO FARKAS

Poderá o carro tornar-se o novo cigarro?

Tysons Corner Center, que, ao ser inaugurado, em 1968, era o maior shopping do mundo.

Os dois centros de compras são o coração do distrito em-presarial de Tysons Corner, a 18 km de Washington, cerca-dos por sedes de consultorias como KPMG e Deloitte, do banco Morgan Stanley, do jornal “USA Today” e de companhias de tecnologia. Mais de 100 mil pessoas trabalham ali.

Tysons, porém, está em crise. Apesar dos shoppings e dos arranha-céus, poucos querem morar no distrito, que parece uma versão muito mais rica, embora igualmente desolada, da paulistana Marginal Pinhei-ros. Calçadas quase inexisten-tes, prédios separados por es-tacionamentos intermináveis, avenidas congestionadas e viadutos, muito viadutos. Ata-cadões e lojas enormes, caixo-tes fechados à rua, ladeiam as quatro autoestradas que levam ao distrito.

Como para atravessar a Mar-ginal, o pedestre precisa escalar passarelas, passar por entre os carros ou cruzar os estaciona-mentos sem uma única árvore: é raríssimo encontrar alguém

caminhando ali. Só o rio fi cou faltando em Tysons: os dois ria-chos da área foram canalizados e cobertos por asfalto.

O trânsito é o pior da região metropolitana de Washington, que, por sua vez, desbancou Los Angeles como a de pior trânsito em todo o país. Diante desse quadro, empresas discu-tem a conveniência de manter sedes ali.

Se, na última década, a região metropolitana de Washington ganhou quase 1 milhão de no-vos moradores, chegando a 5,8 milhões, Tysons passou de 18 mil habitantes em 2000 para 19 mil no ano passado. Nos últimos dez anos, 20 mil empregos se mudaram de lá, especialmente para o centro de Washington, onde há cafés, restaurantes e calçadas largas – que atraem universitários, recém-formados e casais mais velhos cujos fi lhos já saíram de casa. Gente que vai ao trabalho de bicicleta ou a pé (algo comum a 15% da popula-ção da capital americana).

Retrofi tTysons é vítima do declínio da

cultura das quatro rodas no país que criou a linha de montagem,

o mercado automobilístico de massas, as highways e que, em fi lmes e seriados, glamorizou a vida nos subúrbios. Os proprie-tários de prédios e terrenos dali preparam um bilionário retrofi t para reduzir – quem diria – o espaço para carros e tentar tornar a vizinhança amigável aos pedestres.

A reação do mercado – e Tysons é só um exemplo – tem sido adotar a linguagem de ur-banistas. Jaime Lerner, arquite-to e ex-prefeito de Curitiba que priorizou o transporte coletivo na capital paranaense, chamou o carro de “cigarro do futuro” em seminários organizados pelo “New York Times” e pela Folha. “Você poderá continuar a usar, mas as pessoas se irritarão por isso”, afi rmou.

Depois de décadas em que o modelo curitibano, que privile-gia corredores de ônibus, vem sendo copiado no exterior, é ainda lentamente que ganha adeptos no país, com a adoção de corredores e ciclovias e a discussão de limitar, no Plano Diretor de São Paulo, a oferta de vagas de garagem.

O escritor e empresário aus-traliano Ross Dawson tem opi-

nião parecida à de Lerner. “Um dia as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como era aceitável poluir tanto, da mes-ma forma como hoje pensamos sobre o tempo em que cigarro era aceito em restaurantes, avi-ões e lugares fechados.”

Em um país onde a carteira de motorista é um RG extraofi -cial, 20% dos jovens americanos entre 20 e 24 anos de idade não têm hoje habilitação – e o mesmo vale para 40% dos ame-ricanos de 18 anos. Em ambos os casos, o número de jovens que não dirigem dobrou entre 1983 e 2013, segundo estudo da Universidade de Michigan.

Desde 2001, o número de quilômetros dirigidos nos EUA vem caindo. Na última década, o número de americanos que vai diariamente ao trabalho de bicicleta aumentou 60%, che-gando a 900 mil.

Em várias cidades america-nas, mais de 10% das viagens de casa ao trabalho são feitas a pé ou de bicicleta, como em Boston (17%), Washing-ton (15,2%), San Francisco (13,3%), Seattle (12,6%) e Nova York (11%) – na maior cidade americana, 60% das viagens

são em transporte público.Houve investimentos pesa-

dos para que isso acontecesse. A gestão do prefeito Micha-el Bloomberg em Nova York (2002-13) reduziu pistas para carros na Broadway e na Times Square e criou 450 km de ci-clovias. Mesmo cidades menos densas, como Denver e Houston, criaram redes de bondes moder-nos (como os “tram” alemães e suíços, ou metrôs de superfície) na última década.

O uso do transporte coletivo nos EUA em 2013 foi o maior já registrado desde 1956, se-gundo a Associação Americana de Transporte Público, com 10,7 bilhões de viagens. Foram oito anos de crescimento consecuti-vo, a partir de 2005. O número de viagens em trens urbanos e bondes aumentou acima de 20% só no ano passado em cidades como Salt Lake City (Utah), Austin (Texas), Filadél-fi a (Pensilvânia) e New Orleans (Louisiana).

demografi a Diferentemente do que se possa pensar, o cui-dado com o ambiente não é a principal motivação do refl uxo automobilístico. “Há diversas razões econômicas e demográ-

fi cas que precedem a preocupa-ção ambiental na mudança da relação dos mais jovens ame-ricanos com o carro”, diz Chris-tine Barton, diretora do Boston Consulting Group, empresa de consultoria que coordenou um estudo sobre a crise da paixão americana pelo automóvel.

“Os jovens se casam muito mais tarde e têm menos fi lhos que nos anos 1950 ou 60. O subúrbio americano, idealiza-do para a vida sobre quatro rodas, dependia de famílias numerosas, nas quais o pai ti-nha um emprego para toda a vida”, explica. “Hoje as pessoas mudam de emprego com mais frequência, e os jovens prefe-rem áreas urbanas vibrantes, cercadas de opções de trabalho e entretenimento, com cafés e bares onde possam trabalhar com seu laptop, em vez de viver na lonjura suburbana”.

O olimpo da economia ameri-cana também se deslocou, como atesta a decadência de Detroit, berço da indústria mundial do carro, que encolheu de 2 milhões de habitantes nos anos 1970 a 700 mil hoje e cuja prefeitura está ofi cialmente falida. A Gene-ral Motors, por várias décadas a maior empresa americana, hoje ocupa o sétimo lugar no ranking da revista “Fortune”. No novo topo, encontram-se empresas de tecnologia, como Google e Apple.

Mesmo na cultura pop, já há registros dessa inversão. A Nova York violenta de “Taxi Driver” e de seriados policiais foi substi-tuída pela de personagens que adoram bater perna, de “Sex and the City” a “Friends”. O subúrbio idealizado de antes, com quin-tais e carrões na garagem, virou cenário de famílias problemáti-cas, de “Desperate Housewives” a “A Sete Palmos”.

Mesmo se a questão impacto ambiental não é a central, ela é uma variável na equação.

Aqueles que colocam o as-pecto verde no cerne da opção antiautomóvel não se limitam à superfície do debate. Veícu-los elétricos, por exemplo, não convencem quem chama carro de cigarro do futuro.

“É importante entender que, ainda que sejam veículos com zero emissão de carbono, os carros elétricos poluem”, diz o australiano Dawson. Ele recor-da que, em um grande número de países, a geração de ener-gia elétrica depende de com-bustíveis fósseis. “A poluição continua a acontecer em outra ponta, o que não ocorre com a bicicleta – e muito menos com o transporte coletivo”.

Nos Estados Unidos, 60% das emissões de carbono devidas a meios de transporte vêm dos automóveis – isso signifi ca 20%

de toda a emissão gerada no país. Os carros emitem mais carbono que todas as residên-cias e fazendas americanas juntas, segundo a Agência de Proteção Ambiental.

Em abril passado, pela primei-ra vez em 30 anos, o governo americano criou novas regras para reduzir a emissão de car-bono pelos automotores – a adequação custará às monta-doras US$ 1.000 por veículo, a partir de 2016.

GadgetsPara o jornalista Greg Lindsay,

professor visitante do Centro de Política dos Transportes da Uni-versidade de Nova York, “hoje os celulares tomaram o lugar dos carros como elementos de aventura”. Na opinião de Lind-say, os gadgets são capazes de gerar entusiasmo muito maior do que o suscitado por “um novo modelo de carro qualquer”.

O mercado não tardou em assimilar a tendência: apostar no declínio do carro, de sím-bolo de status a mero meio de locomoção, tornou-se um negócio lucrativo.

Na década passada, em-presas de compartilhamento de veículos, como ZipCar e Car2Go, se popularizaram em grandes cidades americanas. Nesse tipo de serviço, paga-se pelo uso de um veículo por determinado período, ao fi m do qual ele é estacionado em um lugar público, para que outro usuário possa tomá-lo. Esses carros compartilhados, que não servem para impressionar o vizinho, são modestos – mais semelhantes ao típico compac-to europeu que aos espaçosos utilitários americanos.

De todos os negócios surgi-dos dessa nova fase, o mais promissor é o aplicativo Uber, avaliado em US$ 18 bilhões após o último aporte de capital de investidores neste mês, o que faz dele a empresa iniciante mais valiosa do mundo.

O aplicativo, que conecta usu-ários e motoristas cadastrados em seu sistema, foi lançado há quatro anos em San Francisco e, no ano passado, ampliou sua operação para 120 cidades em 38 países (no Brasil, por ora fun-ciona apenas no Rio, segundo o site da start-up).

O carro é chamado pelo apli-cativo, e o usuário pode contro-lar onde o automóvel está cir-culando e quanto tempo levará para chegar. O pagamento da corrida é debitado em um cartão de crédito também registrado no aplicativo, que permite or-ganizar caronas e grupos.

Para Farhad Manjoo, especia-lista em tecnologia do “New York Times”, o Uber pode “alterar a maneira como usamos o trans-

porte tanto quanto a Amazon fez com nosso jeito de comprar”. “Seu sost ware é fácil de usar e uma montanha de dados permi-te localizar a demanda, de forma a reduzir a espera, o tempo de pagamento e, principalmente, a longa busca por estacionamen-to.” Na opinião do colunista, o Uber pode “realizar o sonho” dos estudiosos que sonham em reduzir o índice de propriedade de automóveis”.

Como o pacote mais acessível do Uber, o UberX, já é 30% mais barato que uma corrida de táxi convencional, o serviço tem se popularizado nas cidades americanas.

Taxistas em diversas cidades europeias fi zeram protestos e greves contra o aplicativo, que veem, na prática, como concor-rência desleal. Uma vez que o número de licenças para táxis costuma permanecer inalterado por anos em diversas cidades, o Uber se transformou na pri-meira concorrência de verdade ao táxi tradicional.

“Com menos carros, o custo de vida em áreas urbanas deve ser reduzido, assim como as emis-sões produzidas por milhões de carros procurando estaciona-mento. O espaço hoje ocupado por garagens e estacionamen-tos pode ser realocado para usos mais valorizados, como habitação”, escreveu Manjoo.

Para David King, professor de planejamento urbano na Uni-versidade Columbia, “em mui-tas cidades e até em subúrbios, vem se tornando mais fácil ter uma vida sem carro ou com uso light do automóvel”, diz. “Em vez de um carro por pessoa, poderemos ter famílias inteiras com um só veículo, usando outros compartilhados”.

PolarizaçãoMas, em tempos de polariza-

ção extrema da política ameri-cana, o debate sobre a posse do automóvel se tornou ele tam-bém um tema controverso.

“Ciclovias, cidades mais den-sas, com menos carro e mais calçada, espaço público e trans-porte coletivo estão em alta no nordeste e noroeste america-nos e em quase todas as gran-des cidades do país”, diz Karen Seto, professora de geografi a e urbanização da Universidade Yale. “São as cidades de sempre, de Seattle, Portland e San Fran-cisco a Washington, Nova York, Boston e Chicago”, diz.

“Mas no Texas, no sul, em boa parte do interior e nas cidades pequenas, o subúrbio, as casinhas iguais, a cidade espalhada sem transporte pú-blico, o shopping center e a vida centrada no carro continuam a imperar”, ressalta.

Nas cidades texanas de Ar-

lington e Mansfi eld, na região metropolitana de Dallas, políti-cos ligados ao movimento ultra-conservador Tea Party fi zeram protestos contra a construção de ciclovias, qualifi cando-as como “uma agenda verde im-posta pela ONU” com a inten-ção de “mudar o estilo de vida tradicional americano”.

Pesquisa divulgada no iní-cio do mês pelo instituto Pew comprova essa polarização sobre rodas. Instados a defi -nir como seria “a comunidade ideal”, conservadores respon-deram “cidade pequena” ou “área rural”. Os democratas responderam “cidades”.

“Subúrbios”, apesar de na prática concentrarem mais habitantes que os centros das grandes cidades e que as zonas rurais juntos, não fi caram em primeiro lugar em nenhum dos dois grupos. Apenas 4% dos conservadores disseram que preferem morar em uma cidade; e somente 11% dos democratas em uma área rural.

O estudo do Pew, que ouviu 10.013 pessoas nos EUA, indica que “americanos que vivem em regiões de maioria republicana ou democrata estão vivendo em mundos diferentes em parte porque eles buscam tipos de comunidades muito diferentes,

em termos geográfi cos e so-ciais”, segundo os autores da pesquisa. Os democratas ou que se defi niram como “de esquer-da” preferem uma comunidade “com casas menores, onde seja possível percorrer a pé os traje-tos até lojas, restaurantes e es-colas”. Entre os que se disseram conservadores ou republicanos, a maioria preferiu “casas gran-des” e escolas, restaurantes e lojas “mais distantes”.

“Diversidade étnica e racial” são fatores importantes para determinar o lugar de habita-ção, na opinião de 75% dos democratas – só 20% dos con-servadores concordaram.

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E4 MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 MANAUS, DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 E5

Urbanismo

RESUMONos EUA, o carro perde espaço não apenas como meio de locomoção, mas também como objeto de desejo e expressão de um certo modo de vida. Demografi a e economia, além da questão ambiental, fazem com que menos jovens tirem cartei-ra de motorista e cidades invistam em sustentabilidade para atrair moradores.

3O declínio de uma paixão

Dois Rolls Royces estão ex-postos, ao lado de duas Ma-seratis, no saguão principal do Tysons Galleria. Os carros fazem parte de uma promoção do centro comercial, vizinho do

RAUL JUSTE LORESILUSTRAÇÃO DECO FARKAS

Poderá o carro tornar-se o novo cigarro?

Tysons Corner Center, que, ao ser inaugurado, em 1968, era o maior shopping do mundo.

Os dois centros de compras são o coração do distrito em-presarial de Tysons Corner, a 18 km de Washington, cerca-dos por sedes de consultorias como KPMG e Deloitte, do banco Morgan Stanley, do jornal “USA Today” e de companhias de tecnologia. Mais de 100 mil pessoas trabalham ali.

Tysons, porém, está em crise. Apesar dos shoppings e dos arranha-céus, poucos querem morar no distrito, que parece uma versão muito mais rica, embora igualmente desolada, da paulistana Marginal Pinhei-ros. Calçadas quase inexisten-tes, prédios separados por es-tacionamentos intermináveis, avenidas congestionadas e viadutos, muito viadutos. Ata-cadões e lojas enormes, caixo-tes fechados à rua, ladeiam as quatro autoestradas que levam ao distrito.

Como para atravessar a Mar-ginal, o pedestre precisa escalar passarelas, passar por entre os carros ou cruzar os estaciona-mentos sem uma única árvore: é raríssimo encontrar alguém

caminhando ali. Só o rio fi cou faltando em Tysons: os dois ria-chos da área foram canalizados e cobertos por asfalto.

O trânsito é o pior da região metropolitana de Washington, que, por sua vez, desbancou Los Angeles como a de pior trânsito em todo o país. Diante desse quadro, empresas discu-tem a conveniência de manter sedes ali.

Se, na última década, a região metropolitana de Washington ganhou quase 1 milhão de no-vos moradores, chegando a 5,8 milhões, Tysons passou de 18 mil habitantes em 2000 para 19 mil no ano passado. Nos últimos dez anos, 20 mil empregos se mudaram de lá, especialmente para o centro de Washington, onde há cafés, restaurantes e calçadas largas – que atraem universitários, recém-formados e casais mais velhos cujos fi lhos já saíram de casa. Gente que vai ao trabalho de bicicleta ou a pé (algo comum a 15% da popula-ção da capital americana).

Retrofi tTysons é vítima do declínio da

cultura das quatro rodas no país que criou a linha de montagem,

o mercado automobilístico de massas, as highways e que, em fi lmes e seriados, glamorizou a vida nos subúrbios. Os proprie-tários de prédios e terrenos dali preparam um bilionário retrofi t para reduzir – quem diria – o espaço para carros e tentar tornar a vizinhança amigável aos pedestres.

A reação do mercado – e Tysons é só um exemplo – tem sido adotar a linguagem de ur-banistas. Jaime Lerner, arquite-to e ex-prefeito de Curitiba que priorizou o transporte coletivo na capital paranaense, chamou o carro de “cigarro do futuro” em seminários organizados pelo “New York Times” e pela Folha. “Você poderá continuar a usar, mas as pessoas se irritarão por isso”, afi rmou.

Depois de décadas em que o modelo curitibano, que privile-gia corredores de ônibus, vem sendo copiado no exterior, é ainda lentamente que ganha adeptos no país, com a adoção de corredores e ciclovias e a discussão de limitar, no Plano Diretor de São Paulo, a oferta de vagas de garagem.

O escritor e empresário aus-traliano Ross Dawson tem opi-

nião parecida à de Lerner. “Um dia as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como era aceitável poluir tanto, da mes-ma forma como hoje pensamos sobre o tempo em que cigarro era aceito em restaurantes, avi-ões e lugares fechados.”

Em um país onde a carteira de motorista é um RG extraofi -cial, 20% dos jovens americanos entre 20 e 24 anos de idade não têm hoje habilitação – e o mesmo vale para 40% dos ame-ricanos de 18 anos. Em ambos os casos, o número de jovens que não dirigem dobrou entre 1983 e 2013, segundo estudo da Universidade de Michigan.

Desde 2001, o número de quilômetros dirigidos nos EUA vem caindo. Na última década, o número de americanos que vai diariamente ao trabalho de bicicleta aumentou 60%, che-gando a 900 mil.

Em várias cidades america-nas, mais de 10% das viagens de casa ao trabalho são feitas a pé ou de bicicleta, como em Boston (17%), Washing-ton (15,2%), San Francisco (13,3%), Seattle (12,6%) e Nova York (11%) – na maior cidade americana, 60% das viagens

são em transporte público.Houve investimentos pesa-

dos para que isso acontecesse. A gestão do prefeito Micha-el Bloomberg em Nova York (2002-13) reduziu pistas para carros na Broadway e na Times Square e criou 450 km de ci-clovias. Mesmo cidades menos densas, como Denver e Houston, criaram redes de bondes moder-nos (como os “tram” alemães e suíços, ou metrôs de superfície) na última década.

O uso do transporte coletivo nos EUA em 2013 foi o maior já registrado desde 1956, se-gundo a Associação Americana de Transporte Público, com 10,7 bilhões de viagens. Foram oito anos de crescimento consecuti-vo, a partir de 2005. O número de viagens em trens urbanos e bondes aumentou acima de 20% só no ano passado em cidades como Salt Lake City (Utah), Austin (Texas), Filadél-fi a (Pensilvânia) e New Orleans (Louisiana).

demografi a Diferentemente do que se possa pensar, o cui-dado com o ambiente não é a principal motivação do refl uxo automobilístico. “Há diversas razões econômicas e demográ-

fi cas que precedem a preocupa-ção ambiental na mudança da relação dos mais jovens ame-ricanos com o carro”, diz Chris-tine Barton, diretora do Boston Consulting Group, empresa de consultoria que coordenou um estudo sobre a crise da paixão americana pelo automóvel.

“Os jovens se casam muito mais tarde e têm menos fi lhos que nos anos 1950 ou 60. O subúrbio americano, idealiza-do para a vida sobre quatro rodas, dependia de famílias numerosas, nas quais o pai ti-nha um emprego para toda a vida”, explica. “Hoje as pessoas mudam de emprego com mais frequência, e os jovens prefe-rem áreas urbanas vibrantes, cercadas de opções de trabalho e entretenimento, com cafés e bares onde possam trabalhar com seu laptop, em vez de viver na lonjura suburbana”.

O olimpo da economia ameri-cana também se deslocou, como atesta a decadência de Detroit, berço da indústria mundial do carro, que encolheu de 2 milhões de habitantes nos anos 1970 a 700 mil hoje e cuja prefeitura está ofi cialmente falida. A Gene-ral Motors, por várias décadas a maior empresa americana, hoje ocupa o sétimo lugar no ranking da revista “Fortune”. No novo topo, encontram-se empresas de tecnologia, como Google e Apple.

Mesmo na cultura pop, já há registros dessa inversão. A Nova York violenta de “Taxi Driver” e de seriados policiais foi substi-tuída pela de personagens que adoram bater perna, de “Sex and the City” a “Friends”. O subúrbio idealizado de antes, com quin-tais e carrões na garagem, virou cenário de famílias problemáti-cas, de “Desperate Housewives” a “A Sete Palmos”.

Mesmo se a questão impacto ambiental não é a central, ela é uma variável na equação.

Aqueles que colocam o as-pecto verde no cerne da opção antiautomóvel não se limitam à superfície do debate. Veícu-los elétricos, por exemplo, não convencem quem chama carro de cigarro do futuro.

“É importante entender que, ainda que sejam veículos com zero emissão de carbono, os carros elétricos poluem”, diz o australiano Dawson. Ele recor-da que, em um grande número de países, a geração de ener-gia elétrica depende de com-bustíveis fósseis. “A poluição continua a acontecer em outra ponta, o que não ocorre com a bicicleta – e muito menos com o transporte coletivo”.

Nos Estados Unidos, 60% das emissões de carbono devidas a meios de transporte vêm dos automóveis – isso signifi ca 20%

de toda a emissão gerada no país. Os carros emitem mais carbono que todas as residên-cias e fazendas americanas juntas, segundo a Agência de Proteção Ambiental.

Em abril passado, pela primei-ra vez em 30 anos, o governo americano criou novas regras para reduzir a emissão de car-bono pelos automotores – a adequação custará às monta-doras US$ 1.000 por veículo, a partir de 2016.

GadgetsPara o jornalista Greg Lindsay,

professor visitante do Centro de Política dos Transportes da Uni-versidade de Nova York, “hoje os celulares tomaram o lugar dos carros como elementos de aventura”. Na opinião de Lind-say, os gadgets são capazes de gerar entusiasmo muito maior do que o suscitado por “um novo modelo de carro qualquer”.

O mercado não tardou em assimilar a tendência: apostar no declínio do carro, de sím-bolo de status a mero meio de locomoção, tornou-se um negócio lucrativo.

Na década passada, em-presas de compartilhamento de veículos, como ZipCar e Car2Go, se popularizaram em grandes cidades americanas. Nesse tipo de serviço, paga-se pelo uso de um veículo por determinado período, ao fi m do qual ele é estacionado em um lugar público, para que outro usuário possa tomá-lo. Esses carros compartilhados, que não servem para impressionar o vizinho, são modestos – mais semelhantes ao típico compac-to europeu que aos espaçosos utilitários americanos.

De todos os negócios surgi-dos dessa nova fase, o mais promissor é o aplicativo Uber, avaliado em US$ 18 bilhões após o último aporte de capital de investidores neste mês, o que faz dele a empresa iniciante mais valiosa do mundo.

O aplicativo, que conecta usu-ários e motoristas cadastrados em seu sistema, foi lançado há quatro anos em San Francisco e, no ano passado, ampliou sua operação para 120 cidades em 38 países (no Brasil, por ora fun-ciona apenas no Rio, segundo o site da start-up).

O carro é chamado pelo apli-cativo, e o usuário pode contro-lar onde o automóvel está cir-culando e quanto tempo levará para chegar. O pagamento da corrida é debitado em um cartão de crédito também registrado no aplicativo, que permite or-ganizar caronas e grupos.

Para Farhad Manjoo, especia-lista em tecnologia do “New York Times”, o Uber pode “alterar a maneira como usamos o trans-

porte tanto quanto a Amazon fez com nosso jeito de comprar”. “Seu sost ware é fácil de usar e uma montanha de dados permi-te localizar a demanda, de forma a reduzir a espera, o tempo de pagamento e, principalmente, a longa busca por estacionamen-to.” Na opinião do colunista, o Uber pode “realizar o sonho” dos estudiosos que sonham em reduzir o índice de propriedade de automóveis”.

Como o pacote mais acessível do Uber, o UberX, já é 30% mais barato que uma corrida de táxi convencional, o serviço tem se popularizado nas cidades americanas.

Taxistas em diversas cidades europeias fi zeram protestos e greves contra o aplicativo, que veem, na prática, como concor-rência desleal. Uma vez que o número de licenças para táxis costuma permanecer inalterado por anos em diversas cidades, o Uber se transformou na pri-meira concorrência de verdade ao táxi tradicional.

“Com menos carros, o custo de vida em áreas urbanas deve ser reduzido, assim como as emis-sões produzidas por milhões de carros procurando estaciona-mento. O espaço hoje ocupado por garagens e estacionamen-tos pode ser realocado para usos mais valorizados, como habitação”, escreveu Manjoo.

Para David King, professor de planejamento urbano na Uni-versidade Columbia, “em mui-tas cidades e até em subúrbios, vem se tornando mais fácil ter uma vida sem carro ou com uso light do automóvel”, diz. “Em vez de um carro por pessoa, poderemos ter famílias inteiras com um só veículo, usando outros compartilhados”.

PolarizaçãoMas, em tempos de polariza-

ção extrema da política ameri-cana, o debate sobre a posse do automóvel se tornou ele tam-bém um tema controverso.

“Ciclovias, cidades mais den-sas, com menos carro e mais calçada, espaço público e trans-porte coletivo estão em alta no nordeste e noroeste america-nos e em quase todas as gran-des cidades do país”, diz Karen Seto, professora de geografi a e urbanização da Universidade Yale. “São as cidades de sempre, de Seattle, Portland e San Fran-cisco a Washington, Nova York, Boston e Chicago”, diz.

“Mas no Texas, no sul, em boa parte do interior e nas cidades pequenas, o subúrbio, as casinhas iguais, a cidade espalhada sem transporte pú-blico, o shopping center e a vida centrada no carro continuam a imperar”, ressalta.

Nas cidades texanas de Ar-

lington e Mansfi eld, na região metropolitana de Dallas, políti-cos ligados ao movimento ultra-conservador Tea Party fi zeram protestos contra a construção de ciclovias, qualifi cando-as como “uma agenda verde im-posta pela ONU” com a inten-ção de “mudar o estilo de vida tradicional americano”.

Pesquisa divulgada no iní-cio do mês pelo instituto Pew comprova essa polarização sobre rodas. Instados a defi -nir como seria “a comunidade ideal”, conservadores respon-deram “cidade pequena” ou “área rural”. Os democratas responderam “cidades”.

“Subúrbios”, apesar de na prática concentrarem mais habitantes que os centros das grandes cidades e que as zonas rurais juntos, não fi caram em primeiro lugar em nenhum dos dois grupos. Apenas 4% dos conservadores disseram que preferem morar em uma cidade; e somente 11% dos democratas em uma área rural.

O estudo do Pew, que ouviu 10.013 pessoas nos EUA, indica que “americanos que vivem em regiões de maioria republicana ou democrata estão vivendo em mundos diferentes em parte porque eles buscam tipos de comunidades muito diferentes,

em termos geográfi cos e so-ciais”, segundo os autores da pesquisa. Os democratas ou que se defi niram como “de esquer-da” preferem uma comunidade “com casas menores, onde seja possível percorrer a pé os traje-tos até lojas, restaurantes e es-colas”. Entre os que se disseram conservadores ou republicanos, a maioria preferiu “casas gran-des” e escolas, restaurantes e lojas “mais distantes”.

“Diversidade étnica e racial” são fatores importantes para determinar o lugar de habita-ção, na opinião de 75% dos democratas – só 20% dos con-servadores concordaram.

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A invasão boleira e seu efeito sobre o carioca

Os gringos e a paisagem

Diário do RioO MAPA DA CULTURA

Dezoito dias de Copa: tem-po sufi ciente para o carioca recuperar o tom “blasé” que caracteriza seu comporta-mento como anfi trião. Depois de certo frenesi diante das levas e mais levas de torce-dores (a maioria marmanjos coloridos e barulhentos), que continuam a invadir a cidade, a rotina vai se estabelecen-do. Os gringos viraram todos Mick Jagger.

Explica-se: reza a lenda que, em 1968, o líder do Rolling Stones, então no auge da popularidade, e não o notório pé-frio em que se transformou, aden-trou o Antonio’s, braço dado com a namorada Marianne Faithfull. Ninguém no bar, o mais badalado da época,

deu a mínima. A roda de profi ssionais do copo con-tinuou os trabalhos, como se nada tivesse acontecido. Até que um bebum levan-tou-se, pegou o chapelão psicodélico do Mick e fez um “barata-voa”.

Hoje somos mais educa-dos e ensinamos direitinho o caminho do Corcovado e do Pão de Açúcar. Sem zo-eira. Graças aos deuses do futebol, os turistas trouxe-ram uma alegria e um bom humor que andavam ariscos na cidade.

Todos os destinos, no en-tanto, levam ao Maracanã, palco da fi nal. O velho estádio só existe na fotografi a na pa-rede – e como dói! – mas bem perto dali um pouco do clima verdadeiramente esportivo resiste. Num botequim, que não podia ser em outro lugar. Fundado na década de 1950,

o Bode Cheiroso é um clássi-co, à rua General Canabarro, 218. Quase ninguém o co-nhece pelo nome ofi cial: Bar Macaense. Tampouco serve-se bode no local: o forte são as sardinhas.

As galeras costumam ali se reunir, em confraternização antes e depois dos jogos, na-quela base: “Se você perder, paga as cervejas”. Bigode, garçom já aposentado, criou o mais apreciado “chá de macaco” do Rio, cuja recei-ta é conhaque São João da Barra, licor de mel Dubar, um limão com casca e sem miolo, açúcar e gelo. Tudo batido. Beba sem susto.

O samba contra-atacaParece que, para gostar

de futebol, é preciso ter ou-vido de lata. Das músicas patrocinadas da Copa, não escapa uma.

Sorte que artistas espon-tâneos – como Luciana Ra-bello – ainda insistem. Com 37 anos de dedicação ao choro, a cavaquinista apre-senta o primeiro CD em que aparece cantando, com voz fi rme e afi nada. “Candeia Branca” (Acari Records, R$ 30) é um disco de “samba de regional”, com arranjos de Maurício Carrilho para com-posições de Luciana e letras de Paulo César Pinheiro. Sem pachecadas nem exotismos de sala VIP, é a melhor trilha para o Mundial no Brasil.

No túnel do tempoPor que, no meio de tanto

lixo, nenhum chorinho para nos livrar a cara? O gênero musical carioca por exce-lência acaba de ganhar um estudo defi nitivo. “O Baú do Animal” (Folha Seca, R$ 30, 278 págs.), do bandolinista e

maestro Pedro Aragão, é um volume curioso porque é so-bre outro livro, mais curioso ainda: “O Choro”, de Alexan-dre Gonçalves Pinto, ape-lidado o Animal, publicado originalmente em 1936.

Durante anos o estilo arre-vesado e os estranhos causos relatados pelo Animal foram desconsiderados por pesqui-sadores. Até que Aragão nos presenteasse com análises inéditas que são como a de-cifração de mensagens en-viadas em garrafas pelo túnel do tempo sobre as fontes populares da música mais sofi sticada da cidade.

O último fi lmeA Cinelândia nasceu quan-

do a praça no fi m na ave-nida Rio Branco começou a concentrar as melhores salas de cinema. A partir dos anos 1980, elas foram desapare-

cendo. O Odeon, construído em 1932, é o último dos moicanos. Não se sabe por quanto tempo mais. No iní-cio do mês fechou as por-tas “para manutenção”, e o grupo que o administra não dá previsão para reabri-las. Falta grana.

Foi em suas poltronas que o autor deste diário assistiu não só a inúmeros fi lmes como também a um musi-cal histórico, em 2002: “O Samba é Minha Nobreza”, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com Roberto Silva, Cristina Buarque, Te-resa Cristina, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Marcos Esguleba, entre outros, no palco. Com não menos emo-ção, viu também lá os gols de Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo contra a Inglaterra, na Copa de 2002. Lances lindos, dig-nos do telão.

ALVARO COSTA E SILVA

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5 A guia de Xangai

Arquivo AbertoMEMÓRIAS QUE VIRAM HISTÓRIAS

China, 1974

Era proibido, mas, em 25 de abril de 1974, eu celebrava, em Xangai, a Revolução dos Cravos, que eclodia em Portu-gal. Agregada pelo diploma-ta Azeredo da Silveira, futu-ro chanceler e colecionador entusiasta de meu trabalho, estava em viagem ofi ciosa de representação do Brasil à China, ainda liderada por Mao Tse-tung e Chou En-lai, que visitamos em Pequim. Eu realizava o sonho de buscar as fontes da gravura na xi-lografi a milenar chinesa, a “arte chim da xilo”, confor-me o poema que Haroldo de Campos me dedicou.

Eu tinha recusado uma sala especial na Bienal de São Paulo de 73 e optara por exibir o curta “Detritos”, que fizera com Thomas Farkas, em mais um protesto contra a ditadura, à qual me opus desde o início. Ao receber o prêmio de melhor gravador nacional, aproveitei a pre-sença do marechal Castelo Branco para lhe entregar um documento que pedia a revogação da prisão preven-tiva dos professores Mário Schenberg e Fernando Henri-que Cardoso, entre outros.

Entramos na China a pé, a partir de Hong Kong, como hóspedes espartanos do país. Nosso grupo era bas-tante heterogêneo: médicos, funcionários graduados, Baby Cerquinho (primeira mulher de Caio Prado Jú-nior) e vários empresários. Em Xangai, Ian Schultz (do Banco Francês e Brasileiro) lembrou-me de que estáva-mos hospedados no hotel que tinha sido cenário de “A Dama de Xangai”, de Orson Welles, com Rita Hayworth.

Viajamos de ônibus, trem e avião por todo o espaço permitido. Das paragens sur-preendentes nasceram al-guns de meus trabalhos: da Grande Muralha, a xilografia “Muro Muralha Passo”; do encontro com uma enorme pedra de jade, esculpida por quatro gerações, surgiu “Pe-dra Robat”; na mesma noite em que visitamos Hangzhou (cidade às margens de um lago a cerca de 180 km de Xangai), comecei os de-senhos da litografia “Han-gzhou”, que viria a ser um grande sucesso entre cole-cionadores. Eu não parava de desenhar.

DescobertaApesar do encantamento,

algo não estava dando certo. Eu ali me encontrava para ver a xilografia milenar da China e descobrir como e onde era praticada. Quais os artistas, quais os temas? Silêncio. Os roteiros impos-tos não respondiam. Cer-tamente existiriam vozes e linguagens além do ateliê socializado dos especialis-tas em pássaros, árvores, arados, punhos cerrados etc. Não podia ser só aquilo.

Debaixo do sol do meio-dia, sentei no túmulo de um poeta famoso no cemitério

MARIA BONOMI

de Xangai e anunciei que en-trara em greve de fome. Não me moveria de lá até que pudesse conhecer artistas originais que praticassem a linguagem da tradição de origem chinesa livremente, como eu. Grande rebuliço. Sem entender, os compa-nheiros de viagem se foram para mais uma cerimônia do chá e passeios.

Anoitecia. Eis que surge uma guia uniformizada e, em português (brasileiro) mais do que perfeito, se apresenta como alguém que entendia as minhas so-licitações, prometen-do que tudo faria para me ajudar. Não lembro seu nome, mas apenas o n ú m e r o b o r d a -do na gola em fios de p r a t a : 42. Ti-nha um a s p e c -to con-f i á v e l , t a l v e z a minha idade. Es-co l tou-me para o hotel, de bicicleta, conversando fluentemen-te. Até cantou canções do re-cente Carnaval brasileiro.

Prometeu voltar no dia seguinte. Reapareceu cedo, informando que na-quela tarde eu teria um encontro “privado” com dois artistas gravadores “autores”, jovens mestres “independentes”, os “únicos do país”. Exultei com o re-sultado do meu protesto. Reconhecida, comecei a fa-lar pelos cotovelos sobre o Brasil: estávamos numa dita-dura ferrada, pessoas presas, torturadas, mortas, exiladas e perseguidas, sobretudo ar-tistas e intelectuais. Ela tinha provado ser uma amiga, eu podia me abrir.

Enquanto falava, 42 co-meçou a brincar com as roupas de minha mala. Dis-se-lhe para pegar o que quisesse. Foi discreta, mas levou o quanto pôde ocultar nos bolsos.

Fui conduzida por ela a um local distante, onde me fo-ram revelados Wu Biduan e Gu Yuan (1919-1996) – que

se tornaram grandes mes-tres da xilogravura chinesa –, e aconteceram perguntas e respostas profissionais da mais alta qualidade. Daí re-sultou minha série “Como se Fossem Palavras”, cinco ima-gens xilográficas de ideogra-mas aleatórios. Agradecida, me despedi de 42 prometen-

do lhe enviar discos de Chico e Bethânia.

De volta ao Brasil, fui convi-dada a proferir uma palestra sobre a arte da China contem-porânea no MAM de São Pau-lo, então sob direção de Diná Lopes Coelho. Como é notório, na ocasião fui aprisionada, encapuzada e amarrada sob

mira de revólver e atirada em um carro que percorreu a cidade por horas. Fui parar no quartel da rua Tutoia para os interrogatórios.

No meio da noite, um car-cereiro armado me lançou uma pasta: “Tome e leia. Você vai pegar 30 anos de cadeia”. Em pânico, abri o

documento e pude ler, quase em transcrição literal, todas as confidências que fizera à guia 42 no hotel em Xangai, sublinhando, naturalmente, os detalhes da minha ver-são da situação política e militar do nosso país desde 1964: 42 sempre soube o que queria.

‘Pedra robat’ (1974), xilo-gravura de Maria Bonomi

REPRODUÇÃO

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