EmfocoN111 Standard CadernoA - site.ucdb.br · Orgulho para o avô Poty ... usar as frases típicas...

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Ano VIII - Edição Nº 116 Campo Grande, MS - fevereiro de 2009

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Ano VIII - Edição Nº 116Campo Grande, MS -fevereiro de 2009

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Em Foco – Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Univer-sidade Católica Dom Bosco (UCDB)

Ano VIII - nº 116 – Fevereiro de 2009 - Tiragem 3.000

Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicaçãonão representam o pensamento da Instituição e são de respon-sabilidade de seus autores.

Chanceler: Pe. Lauro Takaki ShinoharaReitor: Pe. José MarinoniPró-reitoria de Ensino e Desenvolvimento: ConceiçãoAparecida ButeraPró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação: Hemerson PistoriPró-reitoria Extensão e Assuntos Comunitários: Luciane Pinhode AlmeidaPró-reitoria de Pastoral: Pe. Pedro Pereira BorgesPró-reitoria de Administração: Ir. Raffaele Lochi.

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Editorial

O perfil dos caras da

música regional

Marcelinho e a profecia do vovô Poty

Ana Maria Assis

Tocar violão, 11anos. Na mesma ida-de em que se mudoudo Rio de Janeiro, ci-dade natal, paraGuia Lopes da Lagu-na, em Mato Grossodo Sul, onde anosdepois se tornariauma referência emmúsica instrumentale regional. MarceloLoureiro, o instru-mentista que, mesmocarioca, vive de fazermúsica regional dequalidade para MatoGrosso do Sul.

A mãe Maria He-lena Loureiro contaque o filho, semprequietinho, assistia àsreuniões de amigosque costumava fazerem sua casa. Quan-do havia música, láestava Marcelinho,sentado escutando,prestando atenção.“Por ele ser reserva-do e tímido, quandoo via ouvindo asmúsicas e a gritaria

Coordenador do curso de Jornalismo: Jacir Alfonso Zanatta

Jornalistas responsáveis: Jacir Alfonso Zanatta DRT-MS 108,

Cristina Ramos DRT-MS 158 e Inara Silva DRT-MS 83

Revisão: Cristina Ramos, Oswaldo Ribeiro e Inara Silva.

Edição: Cristina Ramos, Inara Silva e Jacir Alfonso Zanatta

Repórteres: Ana Maria Assis, Bruna Lucianer, Camila Cruz,Cláudia Basso, Ederson Almeida, Edilene Borges, EvellynAbelha, Helton Verão, José Luiz Alves, Júlia de Miranda,Juliana Gonçalves, Kleber Gutierrez, Luciana Brazil, Mag-na Melo, Naiane Mesquita, Pedro Martinez, Priscilla Peres,Rogério Valdez, Sarah Isernhagen, Tatiana Gimenes, VictorBarone e Wanessa Derzi.

Projeto Gráfico e tratamento de imagens: Designer - MariaHelena Benites

Diagramação: Designer - Maria Helena Benites

Impressão: Jornal A Crítica

Em Foco - Av. Tamandaré, 6000 B. Jardim Seminário, CampoGrande – MS. Cep: 79117900 – Caixa Postal: 100 - Tel:(067)3312-3735

Em Foco on-line:www.jornalemfoco.com.br

Home Page universidade:www.ucdb.br

E-mail:[email protected]@yahoo.com.br

* Este jornal foi produzido sob as antigas regras da ortografia.

dos meus amigos lá em casanão imaginava que teria essedom”, afirma a mãe, que sótem qualidades a dizer do fi-lho, mesmo em duas horas deconversa.

Quando ainda estava noRio de Janeiro, até os 11 anos,Marcelo ouvia o violão dosamigos de sua mãe, que eramnaturais de Mato Grosso. Nasférias visitava seu avô, quemorava em Guia Lopes, e látambém ouvia música regio-nal e respirava cultura, era oprimeiro neto homem, o avôredobrava atenções e o acon-selhava, influenciando no seugosto musical e nos seus so-nhos de menino.

Orgulho para o avô PotyLoureiro, que também tocavaviolão, Marcelo ministrava au-las aos 13 anos, em Jardim. Seuavô Poty teve derrame, ficouparaplégico, não mais tocou.Foi como se o neto tivesse ain-da conquistado mais inspira-ção com o acontecido. MariaHelena conta que nessa época,era Marcelo quem alegrava seupai, tocando as músicas que elejá não podia tocar.

O avô, que deu o primei-ro violão do neto, que ensi-

nava músicas, que mergulhouna vida de Marcelo desde me-nino para mostrar a ele a pai-xão que o acompanha atéhoje, e que, mesmo depois doderrame, assoviava para acom-panhar o neto, faleceu quan-do o instrumentista tinha 14anos. “Marcelo ficou uns doisanos quieto, traumatizado,não aceitou a morte do avô,se afastou de tudo e mergu-lhou na música”, explica suamãe Maria Helena.

Sua primeira música gra-vada foi Mercedita, no CDPantanal em 2000. Apesar deMercedita ser uma músicaconsagrada no Estado e reco-nhecida nas mãos de Marce-lo Loureiro, uma música quemarcou sua paixão que virouprofissão chama-se LaCunparsita. Graças a essamúsica ganhou o primeiroviolão do avô Poty, violão queestá guardado como relíquiaaté hoje, assim como os bonsamigos.

Mesmo depois de anosmorando em Campo Grande,tendo uma vida profissionalexigente, Marcelo Loureiromantém as amizades de infân-cia. Quando vai a Guia Lopes

não esquece de visitar os ve-lhos amigos. Fiel, reservado,comportamento tão peculiarquanto seu dom. Talvez por ter o ouvido tão aguçado, Mar-

celo não gosta de barulho, deaglomerações, sua festa é suacasa, seu lar, sua família.

Amanda Loureiro, suairmã mais nova, fala que o ir-mão é um palhaço. “ O Mar-celo joga futebol também! Eleadora, destrói”, acrescentaAmanda. Quando a mãe Ma-ria diz que uma das princi-pais qualidades do filho é apontualidade e a disciplina,Amanda reclama que Marce-lo sempre demora quandotem de ir buscá-la em algumlugar. “Ele me deixa esperan-do, esse que é o defeito dele”.Com 17 anos ela diz que podecontar com o irmão, que mes-mo ela sendo um pouco fe-chada e ele reservado, elesconversam e se dão bem.

Marcelo Loureiro já tocoucom a consagrada HelenaMeireles, e gravou o CD Ge-rações ao lado do Elinho, ve-terano do bandoneon. O anode 2008 foi marcado peloshow no Parque das NaçõesIndígenas, no projeto Canta

Brasil, onde Marcelo to-cou no mesmo palco queAdriana Calcanhoto. Nessedia, os campo-grandenses co-nheceram o jeito carismáticoe contador de histórias deMarcelo Loureiro. Ele se sol-tou e brincou imitando suaavó Maria, mãe de sua mãe,uma paraguaia que adoraquando o neto fala dela. “Noquêro, no quêro, no quêro”,de tanto Marcelo imitar suaavó, em sua casa costumamusar as frases típicas delacomo gírias.

Calmaria, inspiração,dom, timidez, revelar a per-sonalidade de alguém assimé um mistério. Quando se tra-ta de um artista, uma surpre-sa. O destino está cumprin-do a profecia do avô Poty. “Elevai ser um instrumentista fa-moso, que vai tocar pelo mun-do todo”.D e s p e r t a r - Loureiro se encantava com as rodas de violão nas festas de família e as músicas que seu avô tocava no violão

Estamos de voltae embalados ao somda música regional.Neste Em Foco Es-pecial os estudan-tes de jornalismoda Universidade

Católica Dom Bosco(UCDB) exercitaram umtexto jornalístico gostosode ler, com enfoque noser humano: o perfil. Estetipo de reportagem tem aintenção de revelar deta-

lhes da vida de persona-gens ao público, sejamelas célebres ou comunspessoas, mas que tenhamrelevância à sociedade.Acompanham os perfisletras compostas pelos

artistas ou interpretadas

por eles.Quem der o play na lei-

tura do Em Foco vai seenvolver na poesia e mú-

sica de nossos artistas.Ao todo 22 homens e

mulheres foram perfila-dos e representam um

pedacinho de nossas vá-rias gerações de prata da

casa, dos roqueiros aosvioleiros. Pessoas que de

poesia e notas musicaisconstróem um celeiro de

diferenças e semelhan-ças, inspirados nas bele-

zas pantaneiras ou nasvias largas da Capital

Morena.

Seja no jeito de ser do

povo de nossa terra, ounas inconsciências das

culturas que formaramsuas histórias, os artistas

regionais de Mato Gros-so do Sul teceram com

capricho a música queconquistou cada geração

de MS.Nossos pais rodopia-

ram no salão ao som deDélio e Delinha (ainda ro-

dopiam), os trintões assis-tiram a shows inesquecí-

veis do Bando do VelhoJack (ainda assistem), e

hoje a moçada pula no pal-co descontrolada para can-

tar junto com Maíra da

banda Dimitri Pellz. Por

isso este Em Foco é paratodos os tipos de leitores,

que devem encarar estegrupo de perfis como uma

das infinitas listas de mú-sica que podem ser quei-

madas juntas em um CD,ou baixadas no seu player,

quem sabe para os maisnostálgicos, gravadas em

uma fita cassete. A músi-ca regional de Mato Gros-

so do Sul é assim, comosó a música permite, anár-

quica, sem ordem ou de-sordem. Depende do seu

gosto, é só fazer seuplaylist, nas próximas pá-

ginas está o nosso.

Foto: Alexis Prappas

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C a r r e i r a -Dos 83 anos de vida, 51 deles foram passados em cima do palco, encantando

Foto: arquivo pessoal João Paulo

Evellyn Abelha

“Minha visita é minha fa-mília”, a frase dita já no fim daentrevista não foi uma surpre-sa. José Pompeu, nome de ba-tismo de Delio, desde o inícioda conversa mostrou-se umapessoa intensamente acolhedo-ra. Músico por natureza, nãose recorda ao certo quando co-meçou a cantar ou tocar, lem-bra-se que já na infância canta-va, tocava violão e cavaquinhosó de ‘orelhada’ como ele pró-prio define. Nascido em VistaAlegre, distrito de Maracaju,viveu dias de dor e alegria paracompor a letra que embala seus83 anos de vida.

Antes mesmo de tomar amúsica como profissão, Delioainda tem outro ofício, quealiás tem muito orgulho dedizer. “Eu tenho uma profis-são que eu adoro, eu souafiador de ferramentas”. Hojedevido a um problema de vi-são não trabalha tanto quantoantes, mas afirma que já afiouum alicate para ninguém bo-tar defeito. E foi afiando fer-ramentas que conseguiu man-ter-se até que a música lhe ren-desse algum lucro.

Sua trajetória musical co-meçou quando conheceu

Delinha, com quem foi casa-do durante 20 anos. Primosem primeiro grau, no mesmoano em que se casaram forampara São Paulo tentar a sorte ea tentativa deu certo. Com ape-nas cinco dias na cidade jáestavam cantando na rádioBandeirantes, mas nem tudofoi tão fácil. Até se estabiliza-rem, Delio conta que eles mo-raram de aluguel em um‘porãozinho nojento’ e anda-vam em uma ‘baga velha e se-rena’. Foi nesse período queaconteceu um dos fatos maismarcantes de sua vida, quan-do uma dupla sertaneja mui-to famosa da época gravou umfilme e usou uma de suasmúsicas como trilha sonora.Suas composições tornaram-se conhecidas, a maioria gra-vada no estilo rasqueado eadmiradas pelo seu conteúdo.

“Conversando com umprofessor doutor, ele viu umaletra do meu pai, um trechoque fala: essa corda plangen-te. Aí ele falou: plangente, deonde seu pai tirou essa pala-vra?”, conta João PauloPompeu, um dos três filhos deDelio. Para João a maior quali-dade de seu pai é ser compo-sitor, já que ele estudou so-mente o primeiro ano do pri-

mário, acredita que o fato éobra divina. Delio também crêque isso seja um dom de Deus,batizado na igreja evangélicaé um homem de fé. Já Delinhao define como uma boa pes-soa, honesto e ‘quando é ami-go, é amigo’, mesmo depois dodivórcio afirma que mantémuma relação amigável. Provadisso são os 51 anos de du-pla.

Levando a vida com bom-humor peculiar, ao falar desua personalidade diz ser con-vencido, caridoso e um pou-co bravo, defeito que procurasuperar. Atualmente Deliomora no bairro José Abraão econta ser popular entre os vi-zinhos, “Sou o bom vizinho,gosto de ser, a vizinhança aquime adora e a mulher às vezesfica até com uma coceirinha nacanela porque todo mundo mebeija, me abraça e eu agradotodo mundo”.

Há alguns anos sofreu comum câncer no pulmão, mas securou, e hoje pode dançar,uma das coisas que gosta defazer. Além disso, é vaidoso,aprecia uma boa produção,frutos de seu perfeccionismo.Adora tomar um cafezinho,em sua mesa sempre tem umagarrafa de café quente, prontaa acompanhar uma conversacom essa figura da música sul-mato-grossense.

Naiane Mesquita

“Oh jardineira porque es-tás tão triste, mas o que foique te aconteceu?” Foi assim,ainda na infância que Dela-nira Gonçalves, conhecidaapenas como Delinha, come-çou a cantar. Sempre com umjeito simples, ela conseguiuconstruir uma das mais

“Eu ensinei ela a tocar vio-lão, com um mês que eutava ensinando ela já tavatocando na rádio. Ela tinhamuita vocação, muito boavontade. Então ela é uma

Ela é a chama ardente do calor

P r ó x i m o s -Mesmo após a separação conjugal, Delio e Delinha mantiveram a parceria na música regional

Me n i n a - Com mais de cinco décadas de carreira , Delinha mantém a energia de sua juventude

talentosas carreiras sul-mato-grossenses no final dadécada de 50, em companhiado seu primo e esposo JoséPompeu, o Delio.

Na época, São Paulo erao destino dos principais ar-tistas do Brasil, portanto,em 1958 logo após o casa-mento, a dupla vai para acapital paulista à procura do

sucesso. Apesar da saudadeque motivaria a volta a Cam-po Grande nos anos 60,Delinha afirma que gostavade morar em São Paulo. “Eugostei de São Paulo, porqueeu gosto de ser assim muitoindividual, lá ninguém to-mava conta da vida de nin-guém, então você não tinhaamigos, mas também nin-

guém tomava conta da suavida”.

Com um estilo pantanei-ro, que envolvia desde apolca paraguaia, a guaraniae o rasqueado, Del io eDelinha gravaram seu pri-meiro disco em 1959, levan-do-os rapidamente ao pri-meiro LP. A influência nascomposições vêm de berço.“A gente ouvia muito, meupai que cantava muito”, con-ta Delinha.

“Nosso amor é compara-do com o sol e com a lua.Quando eu chego você sai adistancia continua”. A fraseanterior foi retirada da mú-sica “O sol e a Lua” do dis-co homônimo e logo após aseparação conjugal da dupla.“Foi uma carreia, se fosse pramim começar tudo de novoeu não começaria, porque foimuito difícil, pobre, graças aDeus logo deu um sucessi-nho, tudo, mas ganhar di-nheiro mesmo que é bom, sópra ir sobrevivendo”, afirmaDelinha.

O único filho do casal,João Paulo segue os passosdos pais e afirma que ape-sar da carreira Delinha sem-pre procurou ser presente.“A minha mãe foi pra mimmeu pai e minha mãe. Sevocê acha que ela canta bem,ela cozinha mil vezes me-lhor. Ela é uma pessoa mui-to assim autêntica, o que elaacha ela fala”, afirma JoãoPaulo. O ex-marido Delioconta que apesar de mando-na, Delinha sempre foi boacozinheira e batalhadora. Po p -Delinha fez carreira em SP, no final da década de 50

Meigo e inteiro feito de amor

Ele é o Sol

Um dos maiores astros regionais de MS, Delio vive uma vida tranquila na Capital, sem esquecer da música

Foto: arquivo pessoal João Paulo

Foto: arquivo pessoal João Paulo

Foto: arquivo pessoal João Paulo

mulher trabalhadora,muito dedicada comas coisas dela, o reli-cário nosso tá tudocom ela, troféu, disco,tudo”, afirma Délio.

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C o r a g e m -Miska não contou com o apoio do pai para seguir sua alma de artista, no entanto tem uma carreira repleta de sucesso

Ederson Almeida

Cantora, artistaplástica e apresenta-dora de TV, EmilceThomé Gomes, artis-ticamente conhecidacomo Miska nasceuem Campo Grande,em 1958, é casada,mãe de quatro filhosdo primeiro casa-mento. Formou-seem Comunicação Vi-sual, na PUC-RJ eatualmente trabalhacomo locutora e apre-sentadora da TVE -Regional de MatoGrosso do Sul.

Já em sua infânciatinha como certa suaatuação no campodas artes mesmo queesta idéia a princípionão agradasse a opi-nião de seu pai. “En-quanto ele fosse vivoeu não seria uma ar-tista”, relembra Mis-ka.

Mulher de perso-nalidade forte traz emseu sangue um espí-rito guerreiro, que secamufla em seus ex-

pressivos e marcantes olhosazuis, mas que em momentoalgum se conflita com sua sen-sibilidade e envolvimento pro-fundo com a arte.

Miska vê na arte uma mis-são dada a pessoas que têmdeterminadas habilidades eque estas devem ser utilizadasnão somente em benefíciospróprios, mas principalmen-te em favor do próximo. E re-sume a arte, a música, comouma grande responsabilidadepor se tratar de algo que mexecom os sentimentos das pes-soas.

Edgar Mancilla, seu mari-do, conta que ficou extasiadocom sua beleza antes mesmode conhecê-la mas de perto eque com o tempo teve o pra-zer de descobrir os seus atri-butos culturais como o canto,a pintura e a tecelagem. “Hojeposso compartilhar de pertoo que é ser um artista da ter-ra”.

Para Edgar que também émúsico e que divide o palcocom Miska, já há algum tem-po estar ao seu lado é poderdesfrutar história, arte, cultu-ra e beleza e mais que tudo agrande alma de uma pessoaque não tem medo de ser feliz

e que se aventura na vida semmedos, sem receios, semprepor um mundo melhor.

Integrantes do grupo Tro-vadores do Tempo ao qualMiska, atualmente pertence eClaudinei Pecois - ProdutorExecutivo - TV Brasil Panta-nal (TVE) e Professor de RTV- UCDB a descrevem comouma pessoa empreendedora ede muita garra e que faz de suaarte o principal instrumentode seu trabalho. “Sempre temalgo bom acontecendo ao seuredor, ou será que tudo o queela faz é muito bom, tenho cer-teza que a segunda opção é averdadeira”, afirma Pecois.

Quanta gente tantaDe pioneira coragemQue te buscou, “TerraSanta”Com festa e dor na bagagem

Quem foi que expulsou oíndioQuem lutou com o ParaguaiQuem derrubou a mataQuem cultivou cultivar

Quem ganhou umlatifúndioQuem veio pra trabalharViu tanto trecho de CampoGrandeGrande de admirar

Quem não te viu BonitoAs águas claras de um rioUm peixe, um tucano, umaonçaTatu onde é que tu tá

Tanta gente, quantaHoje sorri no teu coloNem sabe da história tantaVivida neste teu solo

Maria Cláudia pôs o bloco na rua

e encanta MS com voz singularPedro Martinez

Maria Cláudia, desdesempre parecia destinada ase ligar profissionalmentecom a música. Nascida emRibeirão Preto, interior deSão Paulo, já gostava de apa-recer. Na infância, segundoela mesma disse, aproveitoubastante. “Eu era baguncei-ra, falava demais em sala deaula”. Nessa época aindadançava ballet e ouvia mú-sica, sem nem imaginar queum dia viveria daquilocomo ganha pão. Até que umdia, no auge da infância, nomeio de uma viagem, o paie mãe dela comentaram algoque depois se tornaria umarealidade. “Estávamos pas-seando de carro e no rádiotocava “Eu Quero é BotarMeu Bloco na Rua” e eu can-

tava junto. Meu pai se viroupra minha mãe e disse: Essamenina tem voz boa....Quegraça, não?” - contou MariaCláudia.

É, a família, a qual ela con-siderava o lastro da vida foiquem ajudou a despertar ogosto da música na menina quecomeçou a estudar piano aosseis anos de idade e que ou-via a mãe cantar Chico Buar-que, fatos que ela considera serum bom começo para umapessoa que queira conhecer eentender boa música.

E a música significa muitopara ela. “A música é um meiode levar às pessoas, amor, paz,força , fé, esperança, reflexão”,revelou com entusiasmo.

Na adolescência, o caráteralegre e de facilidade em fazeramizade que Maria Cláudia ti-nha só fez confirmar que seu

Terra Santa, carambola,Casa grande, amor farpadoEstrela cadente, planeta vênus,Luz reluzente, um deles sou euTinha madrugadaHavia um cantarSeria lua cheia?

São coisas do olharPé de sonho, Pega-pega,Pirilampo, Coração de ventoTinha madrugadaHavia um cantarSeria lua cheia?São coisas do olhar

destino era mesmo animar aspessoas com a música. “Umadas coisas que eu sempre ad-mirei nela foi a dedicação eanimação com as coisas queela tinha. Principalmente coma música. Ela tinha prazer evontade em se aperfeiçoar pelamúsica”, disse Rosana Puga,amiga de adolescência.

No primeiro grupo que elacantou já ganhou fãs antesmesmo de fazer sucesso. “AMaria Cláudia tem uma gran-de qualidade que é a capaci-dade de se focar totalmente àmúsica e estudar bastante”,disse Lúcia de Freitas.

E essas qualidades não sóconquistaram amigos, mastambém conquistaram MarcosMendes, o marido e parceiromusical de Maria Cláudia.“Ela tem infinitas virtudes, elaé o máximo” – avaliou.

Foto: Arquivo

Foto: Ederson AlmeidaTrovadora

Despertar da arte na infância

Miska:Missionáriada arte

M u t a n t e - A bailarina bagunceira deu lugar à cantora parceira de Marcos Mendes

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Júlia de Miranda

Grita, roda, dança, soltaos cabelos e contagia.Pulsante. Seu nome signifi-ca inteligência. Quando che-ga ela orna, pisa no palco ecausa uma euforia sonoraque junto com o som sinuo-so dos instrumentos faz sen-tir uma abstração concreta darealidade. Tem presença, che-ga e acontece, é como dançarcom fogo, agarre na mão delae deixe-se levar. Seu nome:Maíra Espíndola.

Nascida e criada em Cam-po Grande. Vinte e noveanos. Teve uma infância nor-mal, não apanhou muito,sempre bem tratada. Não erade muitos amigos, mesmoassim feliz. Mestre em ob-servar formigas, mas não ascomia. Gosta de como os fa-tos estão marcados na memó-ria.

Foto: arquivo pessoal

Namora um sujeito comnome de nobre que é parcei-ro nos palcos (também divi-diram um programa de rádio,o saudoso Microfonia da FMRegional), com suas baquetasque pesam como chumbo,numa batida explosiva e rít-mica, como no compasso davida a dois. Começou quan-do ainda nem tinham nasci-do, suas mães, amigas desdea gravidez. A correria domundo moderno os afastou.Reencontro na escola, aindacrianças. Outro desencontro,e novamente aos 20 anos osdois se cruzam na faculdade,daí não mais os limites geo-gráficos os separam.

Formada em Rádio e TVcomo a própria diz, “trabalhono que aparecer”, diverte-se.Algumas escolhas a levampara outras, como um ciclosem fim. Se classifica comoDesigner, tem uma capacida-de de transformação na vidaprofissional. Um bico aqui,outro ali, ela joga com o tem-po a seu favor.

Como a Camaleoa de Cae-tano Veloso, uma mulher deAtenas de Chico Buarque, aCapitu de Machado de Assisou Giulietta Masina deFellini, Maíra é várias em uma

só, única, de uma autêntici-dade invejável. “Ela é forte efeminina, autêntica, que impli-ca na coragem de não abrirmão das coisas que gosta, eubusco ser assim”, declara aamiga, fã e jornalista ManuelaBaren.

Mulher do rock, com seusvestidos curtos, botas, cami-setas, visual pin-up às vezesretrô. Sedutora, assume o pos-to de musa da banda DimitriPellz. Fêmea sonhadora quedá voz e alma nesse universode riffs, polca fronteiriça emuito rock n’ roll.

Uma muher com cara demenina que odeia fazer listas,tem paixão pelo cinema e ad-mira Quentin Tarantino. Re-ferências: a avó e toda a famí-lia, amigos, Clint Eastwood,ritmos latinos, o vocabulárioe sotaque dos gaúchos, a pa-lavra “altivez”, clows, terapiado sono, Julio Cortázar, circoe o estudo involuntário e ob-cecado das histórias pessoaisdas outras pessoas. Gosta doscineastas Federico Fellini eDavid Lynch, este último“para manter uma certa distân-cia do que chamamos de rea-lidade”, reflete.

No seu auto-retrato, Maírapoderia ser um esboço de um

retrato de Picasso,daqueles bem ra-ros, de uma moçaolhando pela jane-la o horizonte, ouentão uma festa co-lorida nas telas deMiró. Se sua vidafosse um filme se-ria Amacord, deFederico Fellini.Uma música, MySweet Lord, doGeorge Harrison, ese tivesse um gos-to, seria o de vi-nho. Ainda alertaque essas respos-tas mudam de diapara dia.

“Provavelmenteeu também voumorrer, conta logo asua história”, elacanta a letra de Ban-dido, hit certeiroem um show dabanda. Maíra é tãoviva, intensa comidéias que transbor-dam num carismaque vem de berço.Se alguma revolu-ção está próxima,no palco do DimitriPellz começou faztempo.

Ú n i c a -No palco Maíra hipnotisa com sua performance bomba

S e r - A autenticidade de Maíra é uma das características admiradas pelos amigos e fãs da banda

Foto: flickr.com

Foto: flickr.com

E l a - Com a banda Dimitri Pellz Maíra encontrou parceria para mostrar seu ‘carisma que vem de berço”

Foto: flickr.com

Tangueiro, ladinoO cavalo... as quatro arriada,

O chapéu já não cabe mais.Bandido, villano.

Se a vida foi difícil assim,

Foi pra você, também pra mim.Veja minhas mãos sangrando,

Meu coração partido.Bandido, bandido, bandido.

No contra-luz lá vem ele

Queimando meus olhos pra sempre.No contra-luz lá vem ele

Queimando meus olhos pra sempre.

Provavelmente eu também vou morrer.Não se perca por besteira,

Manhãna dissipa el fardo, Bandido.

Conta logo tua históriaPra esse homem que diz:

Parado, bandido.Parado, bandido.

CoraçãoSelvagemde Maíra

Carisma

Como uma mulher de Lynch ela mantém o real distante

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Edilene Borges

“Eu sentei ali, não sei, masacho que cantei umas três horasseguidas”. Esse é Jose GeraldoFerreira, de 55 anos, cantor, co-nhecido como Zé Geral, umadas pessoas mais influentes nacultura sul-mato-grossense. Ge-ral por que, segundo ele, cantade tudo.

Um homem simples, que falamuito e com convicção, deixan-do a impressão às vezes de sa-ber muito mais do que diz. Compensamento espiritual não temmedo de nada e sua religião é anatureza. Acredita que uma dascoisas mais importantes da vidaé a palavra. Embora ninguém emsua família seja músico, apren-deu a gostar de música ouvindosua mãe cantar enquanto reali-zava os serviços domésticos, emuma época que só existia o rá-dio.

Nasceu em Minas Gerais e hávinte anos reside em CampoGrande. “Eu lembro assim dointeriorzinho, uma fazendinhabem no meio do mato, eu gosta-ria de estar lá ainda”, relembra.Mudou-se com os pais paraAtibaia, interior São Paulo embusca de uma vida melhor,quando tinha uns cinco anos. Lápassou o resto da infância e umaparte da adolescência. “Minhainfância foi moldada de muitaalegria, muitas crianças, numlugar saudoso, bonito pracaramba, pacífico. Eu nadava norio, pegava fruta no pé, umascoisas que hoje é um luxo”,relembra emocionado.

Não gostava de estudar, noentanto, sempre gostou de leitu-ra. Uma de suas aventuras de cri-ança era roubar morangos emAtibaia. Era tão ativo que já que-brou quase todas as partes do cor-po e cortou a língua ao meio.

Quando tinha uns sete anos,indo para a escola, passou emfrente de uma loja e se encantoucom um violão que estava à mos-tra. Pediu para os pais, mas eraimpossível comprá-lo, a famíliajá estava grande e não tinha con-dições. A vontade de adquirir oinstrumento era tão grande quea única saída seria trabalhar. Aprimeira tentativa foi de venderos doces caseiros que sua mãefazia, mas a vergonha não dei-xou então os compadres de seuspais arrumaram um empregopara Zé no jornal “O Atibaien-se”, fato que mudou sua vida.Nessa época, em 1960, tinhaapenas dez anos e sua função erafazer a faxina do Jornal.

Com o primeiro salário com-prou o violão tão desejado eaprendeu a tocar sozinho. Comojá era alfabetizado, nas horas va-gas pegava o jornal para ler, mui-to observador, fazia exatamentecomo os revisores, circulava os

erros e acima escrevia a corre-ção. Mesmo com a pouca idadefoi promovido ao cargo de revi-sor, onde aprendeu a trabalharcom tipografia. Admite que temum dom para escrever e os ras-cunhos que guarda, dão para es-crever um livro, talvez esse sejao projeto de seu futuro.

Na praça em que jogava bolaquando adolescente descobriuuma roda de músicos e come-çou a levar seu violão foi ali queaprendeu as primeiras notas.Atualmente dá aulas de violão,o que ajuda na renda mensal, eensina seus alunos com ummétodo próprio.

Casou pela primeira vez naBahia, onde iniciou a faculdadede psicologia, mas não concluiu.Hoje sua filha mais velha,Sheiyla, tem 34 nos e mora emBarcelona na Espanha. O filho,David é professor de inglês e tra-dutor em São Paulo, formado emOxford. Casado pela segundavez, Zé tem um filho de onzemeses, José Victor. “Ele é que tásustentando a gente, meu filhoé de mais, ele é lindo, inteligen-te pra caramba e gosta de músi-ca”, fala com orgulho.

Zé Geral já viajou por quasetodo Brasil, tem pensamentospróprios e não simpatiza muitocom a política. Uma vez até jo-gou fora seu título de eleitor. Veiopara Campo Grande trazido poruma ex-namorada e se apaixo-nou pela cidade. “Uma das coi-sas que me prendeu aqui foi amanga, aqui tem muita, eu jácontei 38 tipos”. A primeira im-pressão, porém não foi boa, nãogostou da música, já na segun-da, descobriu que a cidade ti-nha algo que lhe chamava aten-ção. Aqui se profissionalizou erecebeu a carteirinha oficial demúsico.

Vive desta arte e do Sarau,

um encontro de músicos que elepromove uma vez por semanana sua casa, tira a renda para osustento da família, mas o di-nheiro do mês é incerto. Apesardisso não deixa de ser feliz.

Com um CD lançado, outrogravado, sem previsão de lança-mento e composições que ren-dem mais alguns, Zé só tem umafrustração, a de ser o que é e nãoser valorizado. Não se intimidaem dizer que cansou de man-dar projetos para fundação decultura, que jamais foram apro-vados. Há pouco tempo foi con-vidado a participar do ProjetoSom da Concha, convite esteque partiu de uma amiga,freqüentadora do sarau e mem-bro da Fundação de Cultura deMato Grosso do Sul, no entan-to, na hora da seleção dos pro-jetos, como em muitas outrasvezes, o projeto de Zé não foiaprovado, segundo a organiza-ção por que faltou enviar recor-tes de jornal sobre ele, provan-do que era o Zé Geral.

“Eu sou muito importantepara a cultura, mas não levei umrecorte de jornal e fiquei exclusodaquilo, eu fiquei muito bravo”,desabafa.

Contudo, não desiste de suacarreira e com esse jeito de serconquista quem está a sua vol-ta. É tão querido que não conse-gue dizer quem são seus melho-res amigos, faltam dedos paranomeá-los. Um destes é CelitoEspíndola que também é um dosgrandes nomes da música emnosso Estado. “O Zé é uma pes-soa, uma figura inteiramente re-levante para o cenário culturalSul-Mato-Grossense. Com o sa-rau, que resiste a muitas coisascomo falta de recursos, tem ge-rado resultados incríveis comsua persistência. Ele é admirá-vel”, afirma Celito.

C a r r e i r a - Zé Geral tem composições próprias e um CD pronto para ser lançado

C o m p r o m i s s o s - O artista vive da música e dá aulas de violão para aumentar a renda

Na terra do boi...na terra do boi...Na terra do boi, quem me trouxe,Se por amor, já se foi

Na terra do boi...na terra do boi...Na terra do boiOutra me trouxe e é você que me tem

Na terra do boi... na terra do boi...Na terra do boiSe quer saber, nem boi eu vi

Um dia eu vi um sóAtravessar a “Afonso pena”Furioso atrás de um homem velho,Me deu penaA sorveteria, as mesas e cadeiras,Um inferno no obelisco

Ele reúne artistas em encontro semanal em sua casa

O homem queinventou o Sarau

Confraternização

Foto: Edilene Borges Foto: Edilene Borges

Foto: Edilene Borges

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José Luiz Alves

Alguém que escorrega emum palco diante de seu pú-blico e se levanta em nome dorock and roll. Mais do quesuas características, o baixistada banda O bando do VelhoJack, Marcos Yallouz, é umapessoa que se define por açõese influências, como as bandasZZ Top, Lynyrd Skynyrd efoi capaz de nomear sua filhaem homenagem à cançãoLayla, de Eric Clapton(sua fi-lha se chama Leila).

Nascido no Rio de Janei-ro em 1968, Marcos é casadoe apaixonado por sua famí-lia, pela música e é analistade sistema. Veio a CampoGrande para trabalhar e parainfluenciar a vida de inúme-ros roqueiros da capital sul-mato-grossense.

Colega de Marcos Yallouzno início da trajetória do Ban-do do Velho Jack, o tecladistaGilson Rocha Júnior tem me-mórias do tempo em que con-viveram. “Ele sempre foi omais organizado da banda eera o cara que cuidava daagenda e do caixa do grupo”,relembra Gilson. “Uma vez agente tocou em Bonito e oMarquinhos cortou o dedono ventilador de teto. Mesmoassim ele tocou com o dedoenrolado com curativo”, com-pleta o tecladista.

Amigo de Yallouz há 15anos, o vocalista RodrigoTozzetti conheceu o baixistaenquanto Marcos se apresen-tava pela banda Blues Band.“Já acompanhava as apresen-tações dessa banda e ia a en-

saios. Era fã e amigodo guitarrista FábioBrum. Ele (Marcos)entrou na Blues Bandpouco depois queveio do Rio de Janei-ro. Íamos aos mesmoslugares, independen-temente dos shows enão foi difícil fazeramizade”, explica.“Temos uma compati-bilidade que vai alémda música. Mesmo senão estivéssemos to-cando juntos, tería-mos amizade”, com-plementa Tozzetti.

A forte conexãoentre Yallouz e o rocknão o ilude. “Souanalista de sistemas edaí vem praticamen-te toda a minha ren-da. Rock’n’Roll clás-sico é efetivamentepor amor”, diz Mar-cos. Ele se definecomo “organizado epontual”, característi-cas que já lhe causa-ram problemas deconvivência eensinamentos. “Hojejá sou mais relaxadoquanto a isso. Temuma frase que usocomo lema. Quandoesqueço dela e falodemais, acaba algodando errado. A fra-se é: Temos dois ou-vidos para ouvirmais, dois olhos paraver mais e apenasuma boca para falarmenos”, profere Mar-cos Yallouz.

Luciana Brazil

“Independente da situa-ção pessoal, quando desçodo palco, é sempre com bomastral. O show é sempre le-gal, muito bom”. Mesmoquando há problemas, técni-cos ou pessoais, Rodrigo ga-rante que não há nada quetire o prazer de fazer o showe ao terminar as apresenta-ções sempre deixa o palcocom uma boa energia.

Bom profissional e músi-co de coração, que até mes-mo os fãs mais distantes per-cebem, Rodrigo é voz e gui-tarra de uma das bandasmais conhecidas do Estado,com renome nacional e in-ternacional, Bando do VelhoJack. Descendente de italia-nos, Rodrigo Tozzetti, de 34anos, me recebeu em sua casadepois do trabalho, já comum violão na mão.

Logo na entrada de suacasa pude ver uma de suaspaixões, as motos. A HarleyDavidson, nada silenciosaquando ligada, já levouRodrigo para muitos lugarese inúmeras viagens, a maiordelas foi para Tiradentes emMinas Gerais, onde rodoumais de 3,4 mil quilômetros.

Nascido no dia 12 de agos-to em Santos, morou até os11 anos na cidade paulista,depois se mudou com a famí-lia para Campo Grande. Osfamiliares voltaram para o li-toral de São Paulo, masRodrigo continuou morandona cidade onde tem uma bri-lhante carreira musical.

Começou na música umpouco sem querer, com 17anos de idade. Comprou

uma guitarra e com apenasum mês e meio de aula deviolão no currículo, decidiuparar as aulas e passou en-tão, a tirar tudo de ouvido.“Até os onze anos de idadeeu ouvia o que todo mundoouvia, mas depois de ter as-sistido o primeiro Rock inRio tudo mudou”, conta ele.

Começou a tocar em umabanda chamada Saigon, masantes de chegar ao Bando doVelho Jack, passou aindapela banda Medarock e tam-bém tocou durante um tem-po em bares. Foi caminho-neiro durante o tempo queficou afastado da música,um período de três anos.

Para ele, o Brasil é umpaís onde os formadores deopinião são minoria e estãosendo massacrados. “Aque-les que têm um teor musicalbaixo não são formadores deopinião, não precisam ana-lisar, discordar, estes nãoformam nada. Hoje em diaquanto mais podre melhor,quando falamos em música”,afirma Rodrigo.

Ansioso, ele diz ser re-servado e religioso. Espíri-ta, ele afirma que já foi maispraticante do que hoje emdia. Com a política se envol-ve pouco. “Não consigo versinceridade. Eles falam en-tre linhas, não gosto disso”.

Suas influências são PaulRodgers, Mark Farner eSteve Marriott. A relaçãocom os fãs é a melhor possí-

Pa r a d o x a l -Na anarquia do mundo do rock ele se mantém adepto da disciplina e pontualidade

A voz e a guitarra do bando

vel, conta Rodrigo. “O fã derock te vê como alguém queestá propagando a ideologiadele, tudo acontece de umaforma bem respeitosa”.

Rodrigo não tem o costu-me de compor. “Componhoquando é preciso, quandovamos gravar um CD, aí saiocorrendo”

Quer ter filhos, casar, masquero que tudo aconteça na-turalmente. “Não levo vidade solteiro, sou bem tranqüi-lo. Gosto de ficar com meusamigos, com a namorada,quando estou namorando. Senão for pra levar a sério o na-moro, eu prefiro nem me re-lacionar. Gosto de dar aten-ção e de receber atenção.”

Carlos Roberto Silva, oamigo e motorista da bandafala que o vocalista Rodrigoé espirituoso e brincalhão.“Ele é um pouco saudosis-ta, gosta de rock antigo, anos70 e 60. É um bom profissi-onal, trabalha direito, gostadas coisas bem feitas .”Carlos conta que ele é umcara reservado. “Ele é fecha-do quando se trata da vidapessoal”.

O baixista da banda,Marcos Yallouz, contaque Rodrigo é um gran-de amigo, alguém comquem se pode contar.“Muito amigo, muito ir-mão, muito camarada.”Quando entrou na ban-da em 98, Rodrigo en-frentou muita pressão eMarcos lembra que elefoi persistente paraagüentar a situação.“Quando o Rodrigo en-trou na banda ele tevemuita garra para conti-nuar, pois não foi fácilsubstituir o Batata, Fa-ziam muitas compara-ções, mas ele foi persis-tente,” diz Marcos

“Não estouro comcoisas importantes,apenas com coisassimples. Quando seique é sério, tento pen-sar que se eu não man-tiver a calma será bempior. Mas se eu trope-çar em uma pedrapode ter certeza quevou chutá-la de no-vo”, afirma entre ri-sos.Pa u l i s t a - Tozzetti chegou a Campo Grande aos 11 anos de idade e aqui cresceu na música

Apaixonado

Marcos Yallouz é baixista do Bando do Velho Jack, sobrevive como analista de sistemas e da paixão pela música

O mais organizado dos roqueiros

Foto: Arquivo

Foto: www.obandodovelhojack.com.br

Quanto tempo faz,Já não lembro mais,Das noite em claro quepassei,Tentando dormir,Pra ver se eu sonhava comvocê,Passam as horas,Sinto medo,O frio tomou o meu cora-ção por inteiro,Agora tanto faz,Não me importo mais,Não me esqueci de comoeram seus beijos,

Cai a noite,Como se fosse uma pri-são,Uma prisão pro meu co-

ração,Sei que usei,Palavras erradas,Achando que elas nun-ca dariam em nada,As horas já não passam,Mais tão rapidas comoquando eu tinha você,

Vou beber, beber atécairMas que clichê da soli-dão,Melhor seria então as-sistir,A um bom filme na te-levisão,Quando eu abri a portae não viVocê chegar, sentei aliEsperando você voltar

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D u p l a - Nando canta na noite deCampo Grande desde os 17 anos(acima). A parceria musical comAmérico completa 20 anos (ao lado).

Foto: Renan Portes

Camila Cruz

Para falar de umcantor renomado doEstado é preciso pri-meiro relembrarsuas raízes e os ca-minhos percorridospara chegar até aon-de Luis FernandoOliveira Sanchik, oNando, da dupla demúsicos regionaisAmérico e Nando,chegou. Nascido ecriado no bairroAmambaí, em Cam-po Grande, Nandoconheceu seu par-ceiro da música e deamizade quandoainda era muito pe-queno e brincavacom os amigos devizinhança, e a par-tir daí construiu suahistória de vida comimensa humildade.

Considerado o“ovelha negra da fa-mília”, Nando des-cobriu o seu dompara a música ain-da muito jovem,quando começou a

cantar no coral da es-

cola municipal onde estuda-va. “Não existia ninguém daminha família que tinha tidoo mínimo contato com a mú-sica. No início não recebi ne-nhum apoio deles para se-guir a carreira musical, porser uma profissão mal vistae mal remunerada”, contouNando.

Seu parceiro e amigoAmérico Yule Neto mudou-se de bairro e, por algunsanos, perderam contato.Nando então, aos 17 anos,decidiu iniciar sua carreiracomo músico e começou atocar sozinho na noite cam-po-grandense. Por um acasodo destino, os amigos reen-contraram-se e suas afinida-des os uniram novamente.Esta união deu fruto ao reco-nhecimento do talento noEstado, dos amigos que com-pletam este ano, 20 anos decarreira.

Para Américo, a dupla sóchegou até aqui por insistên-cia e confiança que deposita-vam um no outro e pelo ta-lento florescente dos canto-res. “Uma das maiores pro-vas de nossa amizade foiquando fomos chamadospara irmos à São Paulo, pela

promessa de um produtor, equando chegamos lá vimosque não era nada do que pen-sávamos. Passamos muitasdificuldades em um lugarcompletamente desconheci-do e nossa amizade nos deuforça para seguir nosso ca-minho. O Nando pra mim émais que um companheiro detrabalho e um amigo, ele éum irmão”, revelou o com-panheiro de Nando.

Um dos momentos im-portantes na vida de Nandofoi a presença de seu únicofilho, João Antonio Audi deOliveira Sanchik, com 18anos, no palco, tocando em2007 contra-baixo com a du-pla. Pai sistemático e quegosta das coisas em seu de-vido lugar, Nando criou Joãosempre com muita dedica-ção e companheirismo.“Meu pai é uma pessoa que

eu posso contar em tudo naminha vida. Ele é sempremuito parceiro, faz festa co-migo, me ajuda e me cobrabastante. Como moramos sóeu e ele a gente se ajuda,sempre que ele acorda, seucafé da manhã já está namesa”, contou João, que além

de ser muito orgulhoso,apresenta o mesmo dommusical que o pai. Hoje elenão toca mais, pois se dedi-ca ao trabalho e à faculdadede administração que estácursando.

Nando revela que é pos-sível sim viver da música re-

gional , principalmentequando se faz o que gosta,porém a informática e a con-tabilidade são também suaspaixões, que completam acarreira desse grande cantor,que fez e ainda faz a histó-ria musical de Mato Grossodo Sul.

Seo João bom coraçãoolha a vida à lhe ensinarnesses tempos de amarguragesto simples no tratar e o olhar de canduraSeo João bom coraçãoa verdade no gostaré fiél até a vista escurasó não deixa de sonhar quando desfila aformosura

Abre logo as portas do barpara o povo ouvir o cantarSeo JoãoSeo João bom coraçãoo que mais pode te agradarse não descansar da vida durauma tarde pra pescar que o cansaço a noitecura

Abre logo as portas do barpara o povo ouvir o cantar

Seo João

Eu sonhei que estava acordadoAcordei e estava dormindoIsso aconteceu de verdade comigo naquelamanhã de domingoSeo JoãoSeo JoãoSeo João bom coração

Simplicidade e serenidade

marcam trabalho de AméricoWanessa Derzi

A afinidade entre a músi-ca e o Américo iniciou nostempos de coral na escola,quando tinha 11 anos. Nessaépoca deu os primeiros pas-sos para o mundo musical enão fazia idéia de que isso fa-ria parte de sua vida para sem-pre. Compôs a primeira mú-sica aos 15 anos, inspiradopor uma menina que gostava.Foi até a casa de Nando, umamigo da escola. “O Nandofalou que música legal, vamostocar junto, e nessa brincadei-ra não paramos mais.”

Profissionalmente faz 20anos de carreira, com uma vozserena e muita simplicidade,compara o seu trabalho como

um prestador de serviços, assimcomo um encanador, ou umpedreiro, ou seja, um operárioda música, foi a melhor deno-minação que encontrou para nãoparecer melhor que ninguém.

Na adolescência Américotinha que trabalhar de dia, epreferiu largar os estudos parapoder tentar a carreira de mú-sico. Uma banda da escola oconvidou para ser o vocalista.Depois do convite Américonão dormiu à noite, estavaentusiasmado, parecia real-mente ter encontrado um ca-minho. No dia do primeiroshow teve certeza de sua es-colha. Quando terminou detocar uma música, uma meni-na foi na direção dele e lhedeu um beijo. Após outra

música veio outra menina lhebeijar... e mais outra. Américorelembra deste momento entremuitas risadas. “Não é menti-ra, é sério, foi daí que tive acerteza que estava na profissãocerta”, sorri.

Américo junto com Nando,já tocou na festa de Barretosem São Paulo, tem CDs divul-gados na Itália e Inglaterra, epossui notório reconhecimen-to em cidades do Sul do paísMas no início Américo preci-sou ultrapassar inúmeras bar-reiras para continuar na mú-sica. “Teve muito mais pesso-as dizendo não do que sim”,relembra o músico que foi in-sistente e hoje tem papel rele-vante na música regional deMato Grosso do Sul.

R e g i o n a l i s m o - Com modéstica, o artista se define como um prestador de serviços, assim como qualquer outro trabalhador. Na adolesência abriu mão dos estudos para se dedicar à música

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Carreira iniciada na adolescência

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Wanessa Derzi