EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A … · diversas atividades que o espaço agrário...

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UNIVERSIDADE DE BRASILIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A INSERÇÃO DO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA, EGRESSO DO IFRS- CAMPUS SERTÃO Gladomir Arnold Brasília, 2011

Transcript of EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A … · diversas atividades que o espaço agrário...

UNIVERSIDADE DE BRASILIA

FACULDADE DE EDUCAO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

MESTRADO EM EDUCAO

EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A

INSERO DO TCNICO EM AGROPECURIA, EGRESSO DO

IFRS- CAMPUS SERTO

Gladomir Arnold

Braslia, 2011

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UNIVERSIDADE DE BRASILIA

FACULDADE DE EDUCAO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

MESTRADO EM EDUCAO

EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A

INSERO DO TCNICO EM AGROPECURIA, EGRESSO DO

IFRS- CAMPUS SERTO

Gladomir Arnold

Dissertao apresentada banca examinadora

como requisito parcial para obteno do ttulo

de Mestre em Educao, rea de concentrao

Polticas Pblicas e Gesto da Educao

Profissional e Tecnolgica, do programa de

Mestrado Acadmico em Educao da

Faculdade de Educao da Universidade de

Braslia, sob a orientao do prof. Dr. Luis

Afonso Bermdez

Braslia, 2011

3

4

UNIVERSIDADE DE BRASILIA

FACULDADE DE EDUCAO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

DISSERTAO DE MESTRADO

EMPREENDEDORISMO RURAL: UM ESTUDO SOBRE A INSERO DO

TCNICO EM AGROPECURIA, EGRESSO DO IFRS- CAMPUS SERTO

Gladomir Arnold

BANCA:

____________________________________________

Prof. Dr. Luis Afonso Bermdez (Orientador)

_________________________________________ __Prof Dr. Fernanda R. Nascimento (UnB/Planaltina)

________________________________________ Prof Dr . Olgamir Francisco de Carvalho (UnB)

___________________________________________ (Membro suplente Prof. Dr. Bernardo Kipnis UnB)

BRASILIA DF

AGOSTO - 2011

5

DEDICATRIA

Aos meus pais, Romilda e Armindo (em

memria) Arnold, pelo apoio e incentivo em

todas as minhas decises. A minha esposa

Roseli, pela ajuda e compreenso na

caminhada.

Aos meus filhos Jean e Marta, pelo dilogo

constante e amor incondicional.

6

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar presente em todos os momentos de minha vida;

A minha famlia, pelo apoio e incentivo durante o perodo de mestrado;

Aos meus colegas de trabalho que colaboraram, e me incentivaram em momentos difceis;

A Direo do IFRS- Serto pelo apoio prestado;

Aos amigos e amigas que sempre se fizeram presentes;

Aos Professores e Servidores Tcnico-administrativos da UnB, pelo carinho;

Aos Professores do Programa de Ps-Graduao em Educao, pelas contribuies para o

meu aprendizado;

Ao professor Dr. Luis Afonso Bermdez, pelo privilgio que me concedeu ao aceitar

orientar meu trabalho;

Aos Alunos egressos do Curso Tcnico em Agropecuria do IFRS Serto, que colaboram

com este trabalho.

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RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi apresentar um estudo sobre a insero do tcnico em

agropecuria egresso do IFRS- Campus Serto no empreendedorismo rural. Foi utilizado

o mtodo de estudo de caso, e os dados da pesquisa foram levantados a partir da aplicao

de questionrio, entrevista e visita. A pesquisa bibliogrfica foi fundamental para dar um

embasamento terico e analisar o conjunto de mudanas que ocorre no setor agropecurio,

onde o produtor precisa desenvolver competncias empresariais e caractersticas

empreendedoras. A capacidade de empreender est relacionada s caractersticas do

indivduo, aos seus valores, ao modo de pensar e agir. Pode ser considerado empreendedor

rural aquele egresso que criou uma empresa agropecuria ou atua nesta rea buscando

alternativas inovadoras. Observa-se tambm a importncia do meio rural para o Brasil, que

contribui para o desenvolvimento econmico e social do pas, e que este desenvolvimento

passa pela capacitao das pessoas. Neste sentido citamos as polticas pblicas que podem

representar o desafio a um novo caminhar na produo e democratizao do conhecimento.

Promover a transio entre a escola e o mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos

com conhecimento, habilidades gerais e especficas para o exerccio de atividades

produtivas. Citamos ento o plano de expanso da oferta de educao profissional da rede

federal, mediante a criao de novas unidades de ensino e a ampliao das existentes.

Observa-se, com esta pesquisa, que os egressos esto atuando como empreendedores

rurais, inovando e buscando alternativas tecnolgicas, gerenciais e organizacionais, com

isso buscando contribuir para a permanncia do homem no campo e tambm incentivando

um desenvolvimento da agropecuria regional. Foi salientado sobre as dificuldades

enfrentadas e a importncia em se dar mais nfase para o assunto no IFRS- Campus Serto,

sendo sugerido que se oferea a disciplina e cursos de empreendedorismo rural, para

despertar o interesse e melhor preparar o aluno.

Palavras-chave: Empreendedorismo Rural - Educao Profissional Agropecuria.

8

ABSTRACT

The aim of this research is to present a study about the inclusion of technical agriculture -

egress of IFRS-Campus Serto - in rural entrepreneurship. We used the method of case

study and survey data were gathered from a questionnaire, interview and visit. The

literature was essential to give a theoretical basis and review all the changes occurring in

the agricultural sector where farmers need to develop enterprise skills and entrepreneurial

characteristics. The ability to undertake is related to the characteristics of the individual, its

values and way of thinking and acting. Can be considered , entrepreneur rural that egress

who created an agricultural company or working in this area seeking innovative

alternatives. It was also noted the importance of rural areas in Brazil, which contributes to

the economic and social development of the country, and this development is the

empowerment of people. In this regard we must mention the public politics that may

represent a challenge to a new path in the production and diffusion of knowledge. Promote

the transition between school and work, empowering youth and adults with knowledge and

general and specific skills performance of productive activities. We quote then the plan of

expanding the supply of federal vocational education through the creation of new teaching

units and expansion of existing ones. It is observed that with this research, the graduates

are serving as rural entrepreneurs, innovating and seeking alternative technological,

managerial and organizational issues, thereby contributing to man's stay on the field and

also promoting sustainable development. It was noted the difficulties faced and the

importance of giving more emphasis to the subject in the IFRS-Campus Serto, and

suggested that the school offers the subject and courses in entrepreneurship rural to

development, to arouse interest and better prepare the students.

Keywords: Rural Entrepreneurship - Vocational Education - Agriculture.

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LISTA DE ABREVIATURAS

IFRS Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia- Rio Grande do Sul.

GEM Global Entrepreneurship Monitor.

IBQP Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade.

SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas.

SOFTEX - Sociedade Brasileira Para Promoo da Exportao de Software

TEA Taxa de Empreendedorismo em Estgio Inicial.

SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural.

MPE Micro e Pequena Empresa

MEC Ministrio da Educao e Cultura.

SM Salrio Mnimo.

LDB Lei de Diretrizes Bsicas.

PDE Plano de Desenvolvimento da Educao.

EPT Educao Profissional e Tecnolgica.

PROEJA Programa de Educao de Jovens e Adultos

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional.

EAFS Escola Agrotcnica Federal de Serto.

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LISTA DE TERMOS TCNICOS

Agropecuria - Termo que envolve as atividades agrcolas e pecurias.

Espao Agrrio - rea ocupada com a produo agropecuria

Empresa Rural - Entidade produtiva estabelecida no meio rural.

Empreendedorismo Rural Empresa com atividade relacionada ao meio rural.

Empresa comercial Aquela que pratica a compra e venda de produtos e servios, atravs

do ato de comrcio e tendo por objetivo o lucro.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Nmero de Docentes e Tcnicos Administrativos e Titulao- IFRS Campus

Serto .................................................................................................................................. 57

TABELA 2: Habilitao, Qualificao e Especificaes.................................................... 58

12

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Unidade Escolar ........................................................................................... 57

13

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 Questionrio ......................................................................................................... 94

Anexo 2 Localizao do IFRS- Campus Serto ................................................................. 96

Anexo 3 Fluxograma do Curso Tcnico em Agropecuria .............................................. 101

14

SUMRIO

1 INTRODUO ........................................................................................ 16

1.1 Problema .................................................................................................. 18

1.1 Problema................................................................................................... 18

1.2 Justificativa............................................................................................... 19

1.3 Hiptese ................................................................................................... 20

1.4 Objetivos ................................................................................................. 20

1.4.1 Geral ..................................................................................................... 20

1.4.2 Especficos ........................................................................................... 20

2 EMPREENDEDORISMO ....................................................................... 21

2.1 Aspctos Conceituais ............................................................................. 21

2.2 O Empreendedorismo Rural no Brasil .................................................... 28

2.3 Administrao do Empreendimento Rural .............................................. 31

2.4 Empreendedorismo e Desenvolvimento Regional .................................. 35

2.5 A Educao, o Trabalho, as Polticas Educacionais e Suas Implicaes na

Realidade Escola ........................................................................................... 41

3 METODOLOGIA .................................................................................... 53

3.1 Caracterizao do IFRS- Campus Serto ................................................ 55

3.1.1 O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia - Rio Grande do

Sul Campus Serto ..................................................................................... 55

3.1.2 Servidores do IFRS- Campus Serto e Formao ................................ 57

3.1.3 O Curso Tcnico em Agropecuria ...................................................... 57

3.1.4 Justificativa e Objetivos do Curso ....................................................... 58

3.1.5 Objetivos .............................................................................................. 59

3.1.5.1 Objetivos Gerais ................................................................................ 59

3.1.5.2 Objetivos Especficos ........................................................................ 60

15

3.1.6 Perfil Profissional de Concluso dos Egressos do Curso .................... 61

3.1.6.1 Perfil Profissional da Habilitao ..................................................... 61

3.1.7 Aspectos Especficos da Habilitao ................................................... 61

3.2 Definio da Populao ........................................................................... 62

3.3 Plano Amostral ........................................................................................ 64

3.4 Levantamento de Dados .......................................................................... 64

4 A INSERO DO EGRSSO DO IFRS CAMPUS SERTO NO

EMPREENDEDORISMO RURAL ......................................................... 67

4.1 A Viso dos Egressos do IFRS- Campus Serto Que Esto Atuando Como

Empreendedores Rurais................................................................................. 70

4.2 Consideraes Finais ............................................................................... 84

5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................... 89

6 ANEXOS ................................................................................................... 94

16

1 INTRODUO

A agropecuria, a partir do incio deste milnio, inseriu-se num novo e diferente

cenrio, passando por um processo de mudanas polticas para o setor. Dessa forma precisa

reagir com as variveis externas, assim denominadas porque so geradas no macro

ambiente, mas com grande interferncia no processo de decises internas.

Ao mesmo tempo necessita estabelecer processos administrativos que possibilitem

a gesto do seu negcio de forma racional, eficiente e eficaz, como condio de alcanar

objetivos propostos sejam eles de lucratividade, crescimento, sobrevivncia,

sustentabilidade.

As rpidas transformaes do mercado, as inovaes tecnolgicas, o volume de

informaes produzidas anualmente, tornam indispensveis que os empreendedores

baseiem suas aes em informaes concretas, ou seja, faam um gerenciamento que

permita tomar decises com base em fatos e dados, que so importantes no histrico da

empresa.

As mudanas decorrentes do processo de globalizao, no Brasil podem gerar a

vulnerabilidade da economia, a fragmentao do tecido social, a excluso e o desemprego.

Nesta direo, o fortalecimento da agropecuria pode colaborar para a incluso social, o

desenvolvimento econmico e a elevao dos ndices de capital social.

Atualmente, tem-se observado uma tendncia a adoo de sistemas econmicos

ancorados em negcios altamente produtivos. O empreendedorismo um dos movimentos

mais importantes da histria recente, e se consolida nas aes empreendedoras que

viabilizam que os trabalhadores rurais introduzam produtos e servios inovadores,

ampliando assim, as fronteiras tecnolgicas e criando novas formas de trabalho abertos a

novos mercados locais e globais.

O empreendedorismo passa a ser grande fonte para se fomentar agentes nas

diversas atividades que o espao agrrio proporciona. Que se soma s questes que

envolvem, desde a sobrevivncia das pessoas que vivem nesse espao at a produtividade,

a rentabilidade e a competitividade que possam ser geradas pelas empresas rurais.

17

Alguns autores definem empreendedorismo e segundo Chr (2008), um

empreendedor algum que se apercebe de uma oportunidade e cria uma organizao para

perseguir; aqueles que integram recursos em combinaes nicas que geram lucro;

descobrir e desenvolver oportunidades de criar valor atravs da inovao.

O empreendedorismo rural pode ser considerado como uma das alternativas para a

agropecuria. A situao que se busca contar com empresas comerciais no campo, ou

seja, aquela que pratica a compra e venda de produtos e servios, atravs do ato de

comrcio e tendo por objetivo o lucro. Para tanto, o produtor rural precisa desenvolver as

necessrias competncias empresariais e desenvolver caractersticas empreendedoras.

A capacidade de empreender est relacionada s caractersticas do indivduo, aos

seus valores, modo de pensar e agir. Dessa maneira, os empreendedores podem contribuir

para o desenvolvimento econmico. Promovendo o rompimento da economia em fluxo

circular para uma economia dinmica, competitiva e geradora de novas oportunidades. No

entanto, em relao ao desenvolvimento rural, imprescindvel que se invista na pesquisa

e extenso agropecuria para aumentar a eficincia dos sistemas sustentveis, bem como

torn-los acessveis aos produtores rurais.

O presente trabalho considera como empreendedor rural aquele egresso que criou

uma empresa no setor agropecurio, est dando seqncia a um empreendimento familiar,

enfim esta atuando em algum ramo do agronegcio buscando alternativas inovadoras,

fazendo com que os negcios sobrevivam e prosperem em ambiente econmico e de

mudanas.

O fortalecimento da agropecuria pode ajudar a solucionar vrios problemas sociais

brasileiros, como a fome, o xodo rural, a violncia, etc. Este fortalecimento pode ser

obtido atravs de polticas pblicas voltadas para o desenvolvimento regional,

oportunizando inovaes tecnolgicas e tornando o agronegcio mais eficiente e

competitivo.

A prosperidade de uma nao ou de uma regio depende tambm da educao, e ai

citamos o papel fundamental da formao profissional oferecida pelos Institutos Federais.

Assim, o problema central deste estudo consiste em verificar o envolvimento dos

tcnicos em agropecuria, bem como o alcance do empreendedorismo para a agropecuria

e para o desenvolvimento rural regional.

18

Temos conscincia que a prosperidade de uma nao ou de uma regio depende da

educao e de um conjunto de polticas pblicas. Como as famlias rurais esto preparando

seus filhos e as escolas preparam os jovens para o mundo do trabalho no campo.

Na maioria dos pases em desenvolvimento e desenvolvidos nos ltimos anos tem

ocorrido um grande interesse em relao educao e o mercado de trabalho. Nesse

sentido, ocorreram reformas importantes no sistema educacional e capacitao para o

trabalho.

O ambiente das empresas tem se modificado em relao aos parmetros que exigem

uma harmnica conjugao entre si: inovao tecnolgica, estrutura e pessoas e a prpria

matriz educacional.

A educao profissional deve viabilizar a aquisio de instrumentos que habilitem

os trabalhadores a dominar tecnologias, desenvolvendo a criatividade, liderana, a

persistncia, a capacidade de negociao e a empatia necessria para atuarem na sociedade

como atores e criadores.

O IFRS- Campus Serto est localizado na regio Norte do RS, e recebe alunos de

vrias regies do estado e do Brasil. Estes alunos so, na grande maioria filhos de

produtores rurais vindos de grandes, mdias e pequenas propriedades e exercem as mais

variadas atividades agropecurias. A caracterstica da escola agrcola e oferece curso de

formao tcnica em agropecuria desde seu incio em 1969.

1.1 Problema

Como o tcnico em agropecuria, egresso do IFRS- Campus Serto, est atuando

no empreendedorismo rural?

19

1.2 Justificativa

A gerao e disseminao da informao tm tudo a ver com o desenvolvimento

sustentvel. Os proprietrios rurais precisam de conhecimento especfico para entrar no

mercado, crescer e se destacar e, muitas vezes, eles no sabem bem onde encontr-lo. Com

a globalizao, a educao profissional considerada um dos principais instrumentos para

o desenvolvimento de um pas ou regio, e para as recentes polticas brasileiras, as escolas

tcnicas so pilares estratgicos para alcanar este objetivo.

Esse estudo buscou analisar a atuao dos egressos examinando em que consiste

esse caminho trilhado. Tal proposio implica no apenas uma determinada forma de

rearticular as relaes entre formao geral e formao especfica, mas tambm uma srie

de mudanas, tendo em vista as novas demandas por qualificao profissional, cujos

efeitos sobre a educao brasileira so objeto de preocupao.

Em nossos dias o trabalhador precisa ser mais flexvel, verstil e capacitado para

acompanhar a evoluo tecnolgica. Estudos indicam os requisitos fundamentais: bom

senso, habilidade em transferir conhecimento de uma rea para outra, facilidade para se

comunicar e entender o que lhe est sendo comunicado, capacidade de trabalhar em grupo.

Alguns estudos apontam a contribuio do empreendedorismo para o

desenvolvimento regional. Em virtude disso, instituies de ensino e rgos

governamentais, em especial, promovem aes para o desenvolvimento do perfil

empreendedor dos indivduos.

As escolas precisam estar em sintonia com a populao atendida, considerando os

arranjos produtivos locais, atendendo tambm as demandas regionais, justificando os

investimentos realizados.

O agronegcio brasileiro, assim como outros setores da economia tem passado por

transformaes, em geral, relacionadas a tecnologias. Essa transformao tem levado

produtores da agropecuria a procurarem novas formas de produo, resultando na grande

dinamizao no setor. No entanto, as crescentes pesquisas relacionadas s capacidades

empreendedoras no meio rural necessrias implantao dessas tcnicas, ainda mostram

grandes oportunidades de expanso do assunto.

20

preciso incentivar a permanncia do homem no campo; promover vrias

discusses sobre alternativas tecnolgicas, gerenciais e organizacionais, sob a tica da

gesto empresarial; estimular a criatividade e a capacidade para a resoluo de problemas e

o encontro de alternativas econmicas viveis para o homem do campo; construir uma

viso de futuro, detalhada em um plano de desenvolvimento de negcios; fornecer

conhecimentos para o produtor rural planejar e gerir seu prprio negcio, dando um novo

enfoque a sua vida pessoal, familiar e profissional.

1.3 Hiptese

O tcnico em agropecuria, egresso do IFRS- Campus Serto est atuando no

empreendedorismo rural, buscando alternativas para o desenvolvimento agropecurio,

motivados com os excelentes resultados obtidos.

1.4 Objetivos

1.4.1 Geral

Compreender a participao do tcnico em agropecuria, egresso do IFRS- Campus

Serto na rea do empreendedorismo rural.

1.4.2 Especficos

a) Identificar o nvel de envolvimento de egressos do curso agropecurio do IFRS-

Campus Serto com o empreendedorismo rural;

21

b) Identificar a motivao do egresso para atuar no ramo do empreendedorismo

rural.

c) Recomendar ao IFRS Campus Serto, adequaes na forma de atuao, no

sentido de intensificar e aperfeioar o ensino do empreendedorismo.

2 EMPREENDEDORISMO

2.1 Aspectos Conceituais

O estudo do empreendedorismo tem atrado maior interesse nos ltimos anos,

principalmente em virtude da sua forte relao com o desenvolvimento regional. Com

intuito de promover o comportamento empreendedor, unem-se governos, instituies de

ensino e afins; investindo esforos e grandes quantidades de recursos financeiros.

A primeira dificuldade que se depara a quem pretende estudar empreendedorismo

consiste na definio do objetivo de estudo: o que e como devemos definir o

empreendedorismo.

Embora seja um tema amplamente discutido nos dias atuais, seu contedo, varia

muito de um lugar para outro, de pas para pas, de autor para autor. O empreendedorismo

recebeu fortes contribuies da psicologia e da sociologia, o que provocou diferentes

definies para o termo e, como conseqncia, variaes em seu contedo, embora tenha

como origem pesquisas em economia.

O psiclogo americano David Mac Clelland, comeou os estudos sobre

empreendedorismo, atravs de uma pesquisa realizada na dcada de 60 em 15 pases, que

reuniu caractersticas chamadas empreendedoras, sendo seguido este estudo por Louis

Filion (1991) que desenvolveu o conceito de Empreendedor como sendo aquele que cria,

desenvolve e realiza a sua prpria viso de futuro, que torna seus sonhos realidade.

O empreendedorismo um revoluo silenciosa, que ser para o sculo 21 mais do

que a revoluo industrial foi para o sculo 20 (Timmons, 1990).

22

Segundo Cunha (2004), a palavra empreendedor, imprehendere, tem origem no

latim medieval, antes do sculo XV e significa tentar empresa laboriosa e difcil, ou

ainda, pr em execuo.

Ser empreendedor significa, acima de tudo, ter capacidade de realizar coisas novas,

pr em prtica ideias novas, e empiricamente empreendedorismo costuma ser definido

como processo pelo qual indivduos iniciam e desenvolvem novos negcios.

Segundo Dolabela (1999) empreendedorismo envolve qualquer forma de inovao

que tenha uma relao com a prosperidade da empresa. Um empreendedor pode ser uma

pessoa que inicie sua empresa, como algum comprometido com a inovao de empresas

j constitudas, fazendo com que os negcios sobrevivam e prosperem em ambiente

econmico e de mudanas (culturais, sociais, geogrficas)

Para Drucker (1974) empreendedorismo : prtica; viso de mercado; evoluo, e

diz ainda:

O trabalho especfico do empreendedorismo numa empresa de negcios

fazer os negcios de hoje serem capazes de fazer o futuro,

transformando-se em um negcio diferente [...] Empreendedorismo

no nem cincia, nem arte. uma prtica.

Analisando a viso de Buamol (1990) para quem o mais importante no a

quantidade de empreendedores de uma economia. a sua distribuio entre diferentes

atividades: inovao ou busca de rendas ou at crime organizado. As recompensas que a

sociedade oferece para cada uma destas atividades, leva a crer que os empreendedores se

distribuam entre elas, afetando assim o crescimento da produtividade.

Empreendedorismo um fenmeno cultural e segundo Dolabela (1999),

[...] fruto dos hbitos, prticas e valores das pessoas. Existem famlias

mais empreendedoras do que outras, assim como cidades, regies, pases.

Na verdade aprende-se a ser empreendedor pela convivncia com outros

empreendedores [...] o empreendedor aprende em um clima de emoo e

capaz de assimilar experincia de terceiros.

Existem duas formas de encarar a questo do empreendedorismo. A primeira

negativa e est associada aos que buscam liberdade, no querem mais ter patro, porm

23

mais tarde iro perceber que as responsabilidades sero maiores, com jornada de trabalho,

frias, etc.

A segunda que o motivo para empreender est ligado necessidade de realizao,

o desejo de marcar sua biografia com orgulho, com suas vises de futuro. Muitos

candidatos a empreendedor, segundo Chr (2008), tm o propsito de mudar de ares,

respirar outros ambientes de negcios, talvez motivados por uma experincia malsucedida

naquele setor ou pela lembrana amarga da demisso. Por alguma razo, pretendem deixar

para trs uma experincia vivida em certo ramo para testarem negcios realmente novos

em suas vidas.

Uma grande maioria das pessoas dispostas a empreender no tem uma ideia

concreta do ramo, ento pesquisam quais os melhores negcios e as tendncias de

mercado. O conjunto de pessoas e informaes, os clientes, fornecedores, prestadores de

servios e demais profissionais envolvidos direta e indiretamente no negcio, as

competncias funcionais desenvolvidas e o conhecimento sobre o ramo de negcios em

que trabalhou compe sua zona de conforto.

Segundo Chr (2008 p. 50), estimular a busca de oportunidades a partir do conjunto

de suas experincias anteriores significa reduzir seu risco. Para tanto, so teis as

investigaes a partir das cadeias produtivas de seu maior conhecimento. Buscar

oportunidades fora de sua zona de conforto, por outro lado enseja maior risco. Essas

oportunidades so consideradas como o conjunto de necessidades de mercado atendidas de

forma insuficiente e/ou imperfeita.

preciso buscar caminhos para investigar oportunidades e neste sentido Chr

(2008 p.59) cita 10 fontes de oportunidades que podem inspir-los na escolha do ramo a

empreender:

1. Problemas enfrentados por pessoas fsicas e jurdicas;

2. Escassez de recursos, servios e bens;

3. Atenta observao do cotidiano;

4. Ateno as seus hobbies;

5. Pesquisas de opinio e testes de mercado;

6. Revistas de negcios;

7. Viagens ao exterior;

8. Produtos introduzidos por trading companies;

24

9. Novas tecnologias;

10. Ateno s tendncias.

Os problemas sempre existiram e sempre existiro, porm h sempre uma ou mais

solues por trs desses problemas, as quais ensejam potenciais oportunidades. O

empreendedor descobre os problemas que as pessoas e as empresas vivenciam e passa a

trabalhar em busca de solues.

possvel verificar vrias situaes em que a escassez , ao mesmo tempo, vil,

por seu intrnseco malfico, e mocinha, pela oportunidade que enseja ao empreendedor.

fcil perceber escassez de todos os tipos ao nosso redor, tais como energia, gua, servios,

etc.

Segundo Arnold (2009),

O planejamento de produto envolve decises sobre os produtos e servios

que uma empresa vai comercializar. Um produto ou servio uma

combinao de caractersticas tangveis e intangveis que uma empresa

espera que os clientes iro aceitar e pelas quais estaro dispostos a pagar

determinado preo. O planejamento de produto deve decidir o segmento

de mercado a ser atendido, o nvel de desempenho esperado e o preo a

ser cobrado, devendo tambm fazer uma estimativa do volume esperado

de vendas.

O cotidiano das pessoas esconde oportunidades de melhoria. O empreendedor pode

buscar alternativas para que nossos afazeres dirios sejam mais geis, eficientes,

prazerosos, prticos e produtivos.

Os nossos hobbies esto associados as nossas habilidades e melhores experincias,

contribuindo para se empreender com sucesso.

A respeito de ramos de negcio e pesquisa de opinio, algumas entidades

disponibilizam informaes gratuitas sobre anlise de comportamento do consumidor,

questes ticas, tnicas, culturais e religiosas. Estatsticas e indicadores polticos, sociais e

econmicos tambm esto disponveis.

25

As revistas de negcios so fontes de informaes atualmente bem diversificadas, e

a grande maioria disponibiliza na internet ferramentas para pesquisar por assunto e so

fontes interessantes para buscar oportunidades desde que usadas de forma inteligente.

Conhecer lugares e povos diferentes inspiram nossa criatividade, e as viagens ao

exterior podem ampliar o repertrio de informaes e conhecimentos.

Segundo Chr (2008 p. 71), as mais atuantes trading companies tm bom transito

com operadores logsticos, bancos, governo e facilidades para estabelecer outros contatos,

por essa razo podem facilitar e viabilizar seu ingresso em dado mercado.

Produtos e servios inditos podem indicar que inovao e tecnologia andam de

braos dados, comprovando que as novas tecnologias podem ensejar oportunidades de

negcios.

importante olhar e interpretar que as tendncias ensejam oportunidades de novos

negcios no caso de empreendedores capazes de se marcar essas tendncias com seus

produtos e servios inovadores.

O consrcio internacional GEM (Global Entrepreneurship Monitor) fundado pela

britnica London Business School e pelo americano Babson College, mede o nvel de

atividade empreendedora no mundo desde 1999. No Brasil, o Instituto Brasileiro da

Qualidade e Produtividade (IBQP) o responsvel, desde o ano 2000, pelas informaes

coletadas e publicadas sobre o tema. O SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e

Pequenas Empresas) tambm integra o grupo GEM desde 2000 onde participa como

parceiro na realizao, disseminao dos resultados e articulao com organizaes

nacionais, valorizando o perfil empreendedor do cidado brasileiro, bem como outras

instituies nacionais.

Segundo Machado (2010) a importncia da atividade empreendedora que inova e

traz nova riqueza economia, gerando emprego e atendendo a necessidades sociais, est

amplamente evidenciada. Os estudos do GEM confirmam essa constatao, revelando os

que empreendem, seja pelo motivo que for, so aqueles que buscam a inovao e almejam

o crescimento de seu negcio, os que realmente contribuem para o crescimento e evoluo

social.

O Brasil na corrida pela liderana dos mercados globais, apesar de se destacar como

possuidor de uma populao empreendedora, precisa buscar ainda alguns avanos

26

considerados crticos para que a verdadeira fora do empreendedorismo possa cumprir o

seu papel de transformao e inovao.

O desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil comea a emergir a partir da

dcada de 90, com a criao de entidades voltadas para o setor como o SEBRAE e

SOFTEX.

No Brasil, segundo Machado (2010), a consolidao da estabilidade econmica e a

manuteno do regime democrtico tm criado oportunidades para novas conquistas da

atividade empreendedora. A taxa de empreendedorismo em estgio inicial (TEA) nacional

foi a mais alta da srie histrica da pesquisa GEM desde 2001. Em termos absolutos, o

Brasil possui cerca de 33 milhes de pessoas desempenhando alguma atividade

empreendedora.

No Brasil, a pesquisa GEM apresentou mdia de 13% de sua populao

economicamente ativa empreendendo durante os primeiros dez anos, na edio de 2009

registra a taxa de 15%, mostrando um crescimento da atividade. A pesquisa tambm

mostra que em 2009 o percentual maior de mulheres empreendedoras (53%) do que

homens (47%), sendo a primeira vez que a proporo do empreendedorismo feminino por

oportunidade supera o masculino na mesma condio.

Para o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil h uma preocupao com

a criao de empresas duradouras e a diminuio da taxa de mortalidade das empresas

existentes. Isto se deve principalmente necessidade das empresas brasileiras em aumentar

a competitividade, manter-se no mercado com reduo de custos, na tentativa de

estabilizao da economia brasileira diante do processo de globalizao.

Conforme pesquisas do GEM no Brasil houve um aumento da capacitao dos

trabalhadores e um ambiente mais propcio a novos negcios diminuindo o ndice de

mortalidade das empresas, principalmente a partir dos benefcios de Lei Geral da Micro e

Pequena Empresa, que j se encontra em seu terceiro ano de existncia.

Segundo (Machado 2010) esta edio do GEM analisa, entre vrios fatores, os

impactos do auge da crise mundial, em 2009. Uma das conseqncias disso a queda no

ndice de empreendedores por oportunidade (os que tm vocao ou enxergam nichos de

mercado) Na pesquisa anterior, para cada dois empreendedores por oportunidade havia um

por necessidade. Hoje, a razo de 1,6 para 1. Mas ao mesmo tempo curioso observar

27

que entre os empreendimentos nascentes houve aumento entre os que so motivados por

oportunidade.

Conforme o (IBQP, 2004), descreve algumas condies que afetam o

empreendedorismo:

1 Apoio Financeiro. Avalia a disponibilidade de recursos financeiros

disponveis para a criao ou sobrevivncia dos negcios. Tambm

examina os tipos e a qualidade do apoio e o entendimento da comunidade

financeira sobre empreendedorismo.

2 Polticas Governamentais. Avalia at que ponto as polticas

governamentais regionais, e nacionais, refletidas ou aplicadas em termos

de tributos e regulamentaes, so neutras ou encorajam ou no o

surgimento de novos empreendimentos.

3 Programas Governamentais. Avalia a presena de programas diretos

para auxiliar novos negcios, em todos os nveis de governo nacional,

regional e municipal.

4 Educao e Capacitao. Avalia at que ponto a capacitao para a

criao ou gerenciamento de novos negcios incorporada aos sistemas

educacionais formais e de capacitao em todos os nveis (ensino

fundamental, mdio, superior e profissionalizante e cursos de ps-

graduao, alm de cursos especificamente voltados a

empreendedorismo/negcios)

5 Pesquisa e Desenvolvimento. Avalia em que medida Pesquisa e

Desenvolvimento levam novas oportunidades empresariais e se estas

esto disponveis ou no para novas empresas.

6 Infra-estrutura Comercial e Profissional. Avalia a disponibilidade, o

custo e a qualidade dos servios de contabilidade, comerciais ou outros

servios de ordem legal e tributria, bem como de instituies que

permitam ou promovam a criao de novos negcios ou a sobrevivncia

de negcios em crescimento.

7 Acesso ao Mercado e Barreiras Entrada. Avalia at que ponto os

acordos comerciais so inflexveis e imutveis, impedindo que novas

empresas possam competir e substituir fornecedores, prestadores de

servios e consultores existentes.

28

8 Acesso infra-estrutura Fsica. Avalia a acessibilidade e a qualidade

dos recursos fsicos, incluindo: telefonia, correio, internet, energia, gua,

esgoto e outros servios de utilidade pblica; transporte terrestre, areo e

martimo; reas e espaos; custo para aquisio ou aluguel de terrenos,

propriedades ou espaos para escritrio.

9 Normas Culturais e Sociais. Avalia at que ponto normas culturais e

sociais encoraja ou no aes individuais que possam levar a novas

maneiras de conduzir negcios ou atividades econmicas que, por sua

vez, levam a uma maior disperso em ganhos e riquezas.

Com o aumento do desemprego no Brasil tem aumentado o nmero de pessoas a

buscarem novas formas de sobrevivncia, muitas vezes iniciando novos negcios, sem

possuir experincia no ramo e usando economias pessoais. A criao de novos negcios

tem se intensificado com a popularizao da internet. Existem ainda os que herdam

negcios familiares e do continuidade a empresas j existentes.

Este conjunto de fatores incentivou a discusso a respeito do empreendedorismo no

Brasil, com nfase em:

- Pesquisas acadmicas sobre o assunto;

- Criao de programas especficos para o pblico empreendedor.

2.2 O Empreendedorismo Rural no Brasil

O Brasil rural tem sofrido grandes transformaes tecnolgicas, sociais,

econmicas e polticas nos ltimos anos, o que tem tornado o agronegcio brasileiro um

dos setores mais dinmicos da economia brasileira. Pouco se tem discutido sobre a questo

empreendedora no contexto rural, embora o setor seja um dos principais responsveis pela

sustentao da economia nacional.

O agronegcio brasileiro produz um supervit anual expressivo na balana de

exportaes. Significa que, se essa fosse a nica atividade econmica do Pas, o Brasil

estaria no comrcio exterior entre os dez maiores do mundo. Esse setor da economia

29

nacional responsvel, h dcadas, pelo significativo crescimento que vem, projetando o

Brasil como um dos maiores exportadores de gros do mundo.

Hoje vrios gestores brasileiros acreditam que a soluo para muitos problemas

sociais brasileiros, (desemprego, incluso social, habitao, melhorias na qualidade de

vida), pode estar no meio rural.

Para que isso se concretize e se tenha bons resultados necessrio que o produtor

rural seja um bom gerente, saiba aplicar bem os recursos, entenda sobre legislao, meio

ambiente e tecnologia, pois estes entre outros fatores fazem parte de uma boa gesto.

Hoje o Brasil rural precisa ser visto de maneira diferente, no apenas como aquele

espao voltado atividade agropecuria, mas como uma nova dimenso socioeconmica,

cuja principal inovao ocorre pela oferta de bens considerados como no tangveis de

novos produtos. Essas mudanas trazem consigo um conjunto de exigncias sobre o agente

no processo de deciso-ao, quer seja na conduo do negcio agropecurio, quer na

explorao de novas oportunidades que surgem a partir de uma nova dinmica nas relaes

cidade-campo e campo-cidade.

Segundo Veiga (2002), as chances de desenvolvimento regional rural no Brasil

esto ligados capacidade de empreendedorismo, que possibilita a gerao de empregos.

Os estados brasileiros mais empreendedores no meio rural so: Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Paran e So Paulo.

Conforme ressalta Souza (1992), a atividade agrcola possui caractersticas prprias

que a diferencia das outras atividades econmicas pertencentes a outros setores da

economia. Essa diferenciao se d tanto pelos aspectos relativos natureza da produo

quanto pelas relaes e interdependncias no contexto do agronegcio entre fornecedores,

compradores e o protagonista da produo, que o produtor rural. A produo pode

depender da sua tomada de deciso, assim como a qualidade do alimento que chega at a

mesa do consumidor final.

A grande maioria dos agricultores no escolhe sua profisso, ela vem como um

legado, transcendendo de gerao em gerao, carregada de uma forte afetividade em

relao terra herdada dos avs, dos pais e transmitidas aos filhos. Esses aspectos no tem

mudado para os agricultores, mas o que preocupa so as mudanas em relao s

exigncias nas tomadas de decises e aes na conduo do agronegcio. Caso essas

30

exigncias impostas ao produtor, notadamente pelo mercado, no sejam atendidas, a

sobrevivncia da atividade agrcola pode ficar comprometida.

Segundo Cella (2002), o objetivo primordial do produtor rural permanecer no

campo, ou seja, dentro do agronegcio, mantendo a idia bsica de maximizao dos

lucros. Para que esse objetivo seja alcanado em tempos de globalizao, se faz necessrio

que o produtor rural seja empreendedor e utilize as ferramentas administrativas o mais

corretamente possvel.

O meio rural brasileiro tem que se preocupar cada vez mais com as mudanas

econmicas que esto ocorrendo, tanto a nvel nacional como internacional, e para

acompanhar estas inovaes torna-se necessrio a organizao dos processos

administrativos nas propriedades. O produtor rural precisa desenvolver uma viso

administrativa especializada com enfoque gerencial para organizar e administrar o seu

sistema de produo. Diante disso, a capacitao dos produtores rurais no, que diz respeito

a administrao das propriedades, tornou-se ferramenta capaz de oferecer aos produtores

subsdios administrativos para adoo ou planejamento de implantao de novas

tecnologias.

Relacionado a essas demandas no meio rural, o empreendedorismo como campo de

estudos nos ltimos anos, tem ampliado seu escopo de anlise, incluindo o meio rural. Um

exemplo disso so as publicaes em setores antes poucos estudados, como caso do

empreendedorismo rural.

Juntamente com as recentes pesquisas, o empreendedorismo rural, tem se

transformado em programas de incentivo ao desenvolvimento do empreendedor rural. Um

exemplo o programa Empreendedor Rural, uma iniciativa do Senar Servios Nacional

da Aprendizagem Rural em parceria com o SEBRAE e federaes de agricultores,

sindicatos rurais e prefeituras (EMPREENDEDOR RURAL, 2007).

Segundo Veiga (2002), para maximizar a competitividade sistmica do

agronegcio, seu segmento primrio formado pela agricultura, pecuria, silvicultura e

pesca dever minimizar custos de produo e transao dos gneros e matrias primas

que so transferidos para o segundo elo, formado por indstrias de transformao,

exportadores, atacadistas ou centrais de compras das redes de varejo. A corrida tecnolgica

exigida por essa necessria reduo de custos impe uma especializao das fazendas, que

31

logo torna redundante a maior parte da mo-de-obra no qualificada, aumentando o xodo

rural.

2.3 Administrao do empreendimento Rural

Estamos chamando de empresa rural o complexo famlia-fazenda, cujos recursos

so dedicados produo agropecuria, sem necessariamente assumir personalidade

jurdica. O objetivo do proprietrio-operador desta unidade produtiva (empresrio)

maximizar o valor presente do patrimnio lquido da empresa. Em geral o proprietrio o

empresrio. Mas este termo representa a unidade de tomada de deciso que pode ser o

fazendeiro, sua esposa, qualquer dos filhos ou scios, ou uma combinao destes. E, em

ltima instncia, aquele que assume a responsabilidade pelas conseqncias das decises

normalmente trabalha com membros de sua famlia nas tarefas comuns da fazenda, pelo

menos parcialmente.

Nunca antes neste pas se falou tanto em empreendedorismo, inovao,

desenvolvimento sustentvel e outros termos semelhantes como nos ltimos anos.

O crescimento populacional, o desenvolvimento de novas tecnologias, a reduo da

lucratividade, a perda da competncia so temores constantes numa economia globalizada

e fazem com que o ambiente empresarial sofra mudanas constantes.

Segundo (DUCKER, 2002) em poucas dcadas, a sociedade se reorganiza muda

sua viso de mundo, seus valores bsicos, sua estrutura social e polticas, suas artes, suas

instituies fundamentais. Cinqenta anos depois, h um mundo novo. E as pessoas jovens,

ento, nascidas no conseguem nem imaginar o mundo em que seus avs viveram e no

qual seus pais nasceram, (DRUCKER, 2002, P.15).

Nas condies atuais, a sobrevivncia e o crescimento dos empreendimentos

agropecurios dependem em grande parte da capacidade administrativa.

Segundo (CAMPOS 1994) esta a caracterstica da era em que vivemos; empresas

at ento aparentemente inexpugnveis podem, devido as rpidas mudanas, ter sua

sobrevivncia ameaada. Todos ns conhecemos exemplos no Brasil e no exterior. por

esse motivo que a preocupao atual da alta administrao das empresas em todo mundo

32

tem sido desenvolver sistemas administrativos suficientemente fortes e geis, de tal forma

a garantir a sobrevivncia das empresas.

Ao planejar suas atividades o administrador da empresa rural, estar reduzindo a

margem de erros e racionalizando o processo, alcanando resultados satisfatrios ou

estabelecidos de acordo com a sua necessidade e realidade.

Inserido neste contexto o administrador necessita enxergar seu empreendimento de

forma sistmica, analisando o contexto existente de fora para dentro, permeando as

relaes entre o seu negcio e o ambiente identificando obstculos, caminhos,

oportunidades e ameaas.

A literatura nos conta que as primeiras preocupaes na rea da administrao rural

surgiram nos Estados Unidos e na Inglaterra, juntamente com o processo de modernizao

da agricultura. Os economistas e os agrnomos foram os primeiros a atuarem nesta rea.

Mais tarde outros pases, como a Frana tambm se interessaram por esta questo.

Tambm comearam as preocupaes com relao mercadologia, poltica agrcola,

estrutura das propriedades rurais, etc.

No Brasil a maioria das propriedades ou fazendas administrada pelo proprietrio

ou por algum membro de sua famlia, que geralmente no possuem a qualificao

necessria para a funo.

Atualmente, a rea tcnica est recomendando tratar a propriedade rural como

empresa rural, principalmente como forma de valorizao da atividade, porm existem

diferenas que devem ser levadas em consideraes na parte administrativa.

A agricultura usa fatores de produo de vrios setores, sendo caracterstica

fundamental o uso da mo de obra familiar e o trabalho administrativo do proprietrio, que

geralmente no so remunerados diretamente.

A famlia tem seguramente influncia nas decises administrativas, de sorte que a

separao das funes administrativas das demais na empresa rural to simples quanto

fora do setor agrcola.

A maior parte das empresas rurais ainda transmitida de pais a filhos atravs de

heranas. Esta repartio geralmente representa em custos causando conseqncias

econmicas e financeiras. Transmisses por herana tendem a ocorrer em fases de relativa

estabilidade, conseguida aps muitos anos de experincias administrativa do proprietrio.

33

Com a diviso geralmente o novo proprietrio encontra dificuldades na parte

administrativa por falta de experincia.

Na maioria dos casos, entre herdeiros, resulta em uma reduo no tamanho da

empresa de cada um. Uma vez dividida, cada parte tenta sobreviver como empresa

independente, iniciando assim novo ciclo.

Nas condies atuais, a sobrevivncia e o crescimento da empresa rural dependem

em grande parte da capacidade empresarial.

O planejamento uma atividade inerente humanidade. Todos planejam suas

atividades individuais ou grupais, porm nem sempre atingem plenamente os objetivos

propostos por no ser uma atividade racionalmente organizada.

Os objetivos sero dentre outros maximizar a renda; tornar as empresas mais

eficientes e rentveis pela criao de economia de escala; fornecer conhecimento das

diferentes opes de atividades e meios de produo bem como da estimativa de seus

resultados, de modo a facilitar a tomada de decises. (Hoffamam, 1987).

Para tomar decises o sujeito necessita de conhecimento mais amplo, profundo e

dinmico possvel do objeto de interferncia; dos meios e instrumentos a serem

empregados na ao, dos fins ou objetivos visualizados, bem como de suas exigncias e

conseqncias e finalmente do prprio centro de decises.

Alguns princpios bsicos que devem ser levados em considerao pelo centro de

deciso durante o processo de planejamento: finalidades do planejamento, universalidade

ou integralidade, continuidade, objetividade ou neutralidade, coerncia ou unidade,

previsibilidade, racionalidade, participao, viabilidade econmica, viabilidade tcnica,

viabilidade poltica e institucional, economicidade, espao, tempo, volume do plano e o

instrumental de planejamento.

As tomadas de decises, baseadas em conhecimentos tcnico-administrativos, o

mais atualizados possveis sero relevantes para o sucesso do empreendimento.

O planejamento um esforo humano, conjunto e organizado, para, modificando a

sociedade, acelerar o ritmo de desenvolvimento da coletividade. Ele formulado

sistemtico e devidamente integrado expressando uma srie de propsitos a serem

realizados dentro de determinado prazo, considerando as limitaes impostas pelos

recursos disponveis, bem como as metas prioritrias definidas.

34

Embora existam diferentes definies do que seja planejamento ou planificao,

esta , antes de tudo, a formulao sistemtica de um conjunto de decises, devidamente

integrado, que expressa os propsitos de um indivduo, grupo ou associao de indivduos

e condiciona os meios disponveis para alcan-los, atravs do tempo. (Hoffmann, 1987).

A agricultura moderna exige empreendedor rural com conhecimento de finanas,

pois com a globalizao, fenmeno derivado da cincia e das tecnologias modernas, est

aumentando a competio nos mercados, inclusive nos da agricultura. Com o aumento

dessa competio e conseqente reduo das margens de lucro, as empresas tm que

procurar formas administrativas mais eficientes para continuarem no mercado ou para

crescer.

Segundo Cella e Peres (2002), em economia, admite-se que o agricultor, como

qualquer outro empresrio do meio urbano-industrial, conduza sua propriedade com o

objetivo de maximizar os lucros. De fato, mesmo que a inteno do empresrio seja outra,

os modelos econmicos indicam que ele deve acabar se comportando como tal, dadas as

condies de competio que prevalecem nos mercados de produtos da agropecuria. Isto

quer dizer que o produtor rural procura obter a maior lucratividade possvel, tendo em vista

os recursos naturais, humanos, fsicos e financeiros disponveis.

A boa gesto das finanas torna necessrio um sistema de controle das receitas e

das despesas com as diferentes atividades. Ainda, a anlise dos resultados financeiros

revela a situao presente da empresa rural, possibilitando delimitar as estratgias futuras a

serem perseguidas, ou mesmo, se a empresa deve ou no continuar com determinada

atividade produtiva.

E citam Cella e Peres (2002), que a importncia dada rea financeira tambm

revela certas caractersticas pessoais do bom produtor rural: viso sistmica da sua

atividade empresarial, conhecimento dos riscos envolvidos com cada deciso, capacidade e

habilidade em reunir e analisar as alternativas existentes no mercado financeiro.

O bom empreendedor rural precisa ter atitudes pr-ativas, na gesto dos recursos

prprios e tambm na busca de recursos financeiros junto a terceiros, tendo habilidades

para negociar prazos e valores com os agentes financeiros do mercado. A viabilidade e a

implantao de estratgias produtivas, comerciais e de recursos humanos, necessitam de

um sistema financeiro controlado, que possibilite ao empreendedor rural trabalhar dentro

de um horizonte oramentrio planejado.

35

2.4 Empreendedorismo e Desenvolvimento Regional

Na nova concepo de desenvolvimento econmico, o espao deixa de ser

contemplado simplesmente como suporte fsico das atividades e dos processos

econmicos. Ele passa a valorizar os territrios, as relaes entre seus atores sociais, suas

organizaes concretas, as tcnicas produtivas, o meio ambiente e a mobilizao social e

cultural (MARINELLI e JOYAL, 2004). Neste contexto termos como capital social,

empreendedorismo e territorialidade passam a centralizar as discusses acadmicas

buscando o desenvolvimento econmico local.

As atuais polticas de emprego e de dinamizao da economia colocam nfase no

fomento da cultura, empresarial, ou seja, no esprito empreendedor como uma das

principais vias para atacar o problema do desemprego e da revitalizao empresarial.

O empreendedorismo deixou de ser uma atividade vista como urbana ou dos

grandes centros econmicos e comerciais e passa a estar presente com toda fora, tambm

no meio rural, apesar do pensamento equivoco a respeito da economia rural como se ela

pudesse se restringir agropecuria e, na melhor das hipteses, ao agronegcio, pois

ferramentas para a profissionalizao j est ao alcance de todos, basta a utilizao correta

e a vontade de mudar.

As novas ruralidades, define o autor, aproveitam e expandem novas funes e

atividades no campo, integrando e envolvendo as famlias rurais e o resgate do patrimnio

cultural local em conjunto com o poder pblico e a iniciativa privada. a conhecida

pluriatividade do campo, como classificado esse novo momento no meio rural brasileiro

(SILVA, 1997)

Com a globalizao surge uma crescente competitividade, o que tem provocado

necessidade de se rever paradigmas de gesto e formas de insero num ambiente

turbulento e mutvel que influencia todos os setores da economia, e tambm os

empreendimentos rurais. Nessas atividades, o tradicionalismo reinante pode ser

considerado um fator de (in) sucesso de acordo com as prticas de gesto adotadas,

principalmente quelas ligadas as pessoas e suas relaes sociais.

O produtor rural passou a ser um empreendedor e prestador de servios,

trabalhando diretamente na fabricao e comercializao de seus produtos. A relevncia

36

desse tipo de atividade pode ser constatada, na medida em que isto se reverte em novas

oportunidades de trabalho e renda, pois, nesses casos, a economia local ativada atravs da

diversificao de novas formas de trabalho no campo.

Schneider (2003), ressalta ainda que as novas atividades rurais esto desenvolvendo

a mentalidade do empreendedorismo rural, provocando uma clara mudana do modo de

encarar a pluriatividade no campo, pois no passado, as atividades no-agrcolas no eram

consideradas como fatores relevantes para o aumento da gerao de renda e do nvel de

emprego no campo.

Este novo momento do meio rural brasileiro faz com que a pluriatividade seja uma

estratgia altamente positiva para a manuteno das famlias rurais no campo, de maneira

digna e sustentvel, diminuindo o fluxo migratrio da populao do campo rumo cidade.

Esta mo-de-obra passa a trabalhar em atividades com maior nvel de remunerao, onde

so agregados novos valores de produo e consumo, trazendo benefcios reais gerao

de emprego e renda no campo.

Destaca-se tambm a importncia do meio rural para o Brasil, que contribui para o

desenvolvimento econmico e social do Pas; um espao para desenvolvimento de

territrios, considerando os municpios e regies, porque associaes de municpios, que

podem ser caracterizadas atravs de agroplos e consrcios intermunicipais, ou clusters,

que tenha qualquer iniciativa identificada como de desenvolvimento do territrio. Temos

os Arranjos Produtivos Locais Estratgicos, os agroplos, as cadeias produtivas, no caso o

agronegcio, indstria, artesanato, comrcio e servios, que so reas que compem o

desenvolvimento econmico.

Segundo Schumpeter (1982), o desenvolvimento econmico est fundamentado em

trs fatores principais: as inovaes tecnolgicas, o crdito bancrio e o empresrio

inovador. Este empresrio inovador capaz de empreender um novo negcio, mesmo sem

ser dono do capital. A capacidade de empreender est relacionada s caractersticas do

indivduo, aos seus valores e modo de pensar e agir.

Roque e Vivam (1999) evidenciam que produtores rurais em suas bases agrcolas,

assim como todos os outros setores da economia nacional, devem abrir suas propriedades

para uma forma de gerenciamento que exige produtos/servios e estratgias empresariais

compatveis com os novos padres vigentes. A percepo para um melhor aproveitamento

37

do ambiente rural permite a introduo de novas atividades que garantem outras fontes de

renda para o produtor e, conforme o caso, a agregao de valores aos seus produtos.

A agricultura o principal agente propulsor do desenvolvimento comercial e,

conseqentemente, dos servios nas pequenas e mdias cidades. Basta um pequeno

incentivo agricultura para que se obtenham respostas rpidas nos outros setores

econmicos, ou seja, mais empregos, mais impostos arrecadados e desenvolvimento social

e econmico.

O desenvolvimento de qualquer setor da economia em geral e do agronegcio em

particular passa pela capacitao das pessoas. Cada vez a educao tem o papel de criar

condies no s para o entendimento da realidade, mas das formas como interagir com ela

e da avaliao dos resultados desta interferncia.

A rapidez das alteraes tecnolgicas fez surgir nas empresas de diferentes pases a

necessidade de flexibilidade qualitativa da mo-de-obra. Acompanhar e at antecipar-se s

transformaes tecnolgicas que afetam permanentemente a natureza e a organizao do

trabalho tornou-se primordial.

Essa transformao no aceita as rotinas nem as qualificaes obtidas por imitao

ou repetio, o que faz surgir necessidade do desenvolvimento de competncias

evolutivas articuladas com o saber-fazer mais atualizado.

Pode-se dizer que o desenvolvimento rural passa a se configurar como uma

alternativa para mudar o rumo dos processos de desenvolvimento se utilizando novos

meios para enfrentar a desigualdade e promover a sustentabilidade.

Algumas pesquisas indicam que importante a identificao das principais

caractersticas que determinam o perfil do empreendedor-rural, competncias profissionais

e pessoais, tais como: liderana, viso sistmica da sua atividade empresarial,

conhecimento dos riscos envolvidos com cada deciso, capacidade e habilidade em reunir

e analisar as alternativas existentes no mercado financeiro, conhecimento da cadeia

produtiva, poder de negociao, comunicao, etc.

O agronegcio brasileiro, assim como outros setores da economia tem passado por

transformaes, em geral, relacionadas a tecnologias. Essas transformaes tem levado

produtores da agropecuria a procurarem novas formas de produo, resultando na grande

dinamizao no setor. No entanto, as crescentes pesquisas relacionadas s capacidades

38

empreendedoras no meio rural necessrias implantao dessas tcnicas, ainda mostram

grandes oportunidades de expanso do assunto.

Moderno, eficiente e competitivo, o agronegcio brasileiro pode ser uma atividade

prspera, segura e rentvel. Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar

abundante e quase 13% de toda gua doce disponvel do planeta, o Brasil tem 388 milhes

de hectares de terras agricultveis frteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhes

ainda no foram explorados. Esses fatores fazem do pas um lugar de vocao natural para

a agropecuria e todos os negcios relacionados suas cadeias produtivas. O agronegcio

hoje a principal locomotiva da economia brasileira.

O enfoque do agronegcio essencial para retratar as profundas transformaes

verificadas na agricultura brasileira, nas ultimas dcadas, perodo no qual o setor primrio

deixou de ser um mero provedor de alimentos in-natura e consumidor de seus prprios

produtos, para ser uma atividade, integrada aos setores industriais e de servios.

O conceito de agronegcio contempla a viso sistmica das cadeias produtivas

agroindustriais, envolvendo todos os segmentos abrangidos nos setores de insumos

materiais (sementes, mudas, fertilizantes, corretivos, agrotxicos, mquinas e

equipamentos e etc.). O setor da produo rural propriamente dito, o setor de

transformao (industrializao), o setor de distribuio e comercializao, bem como o

ambiente institucional (aparato legal) e organizacional (pesquisa, extenso e ensino,

entidades de classe, cooperativas, agentes financeiros) que do suporte aos ambientes

produtivo e de negcio.

H muitas possibilidades reais e emergentes de gerao de renda para a populao

rural, porem a necessidade de melhoria na implementao de polticas pblicas.

Segundo Campanhola (2000) a descentralizao e fortalecimento das

representaes locais oferecem uma nova perspectiva para o desenvolvimento rural.

Permitem um enfoque regional, que leva em considerao as dimenses espaciais do

desenvolvimento e o delineamento de solues localmente compatveis. Em complemento,

entidades do governo local podem se constituir na fora motora dos esforos de

desenvolvimento.

E Abramovay (2003) coloca que nos territrios urbanos ou rurais que podem

ser implantadas as polticas voltadas a mobilizar as energias necessrias a que a pobreza

seja significativamente reduzida, por meio do fortalecimento do empreendedorismo rural

39

de pequeno porte. A vitria sobre a pobreza depende, antes de tudo, do aumento das

capacidades produtivas e da insero social em mercados dinmicos e competitivos dos

milhes de famlias cuja reproduo social se origina em seu trabalho por conta prpria.

O alargamento dos horizontes contidos nesta proposio s pode vir de uma poltica

nacional que estimule a ampliao dos veculos sociais localizados dos que esto em

situao de pobreza e este o sentido maior da

Abordando, mesmo de forma rpida, uma considerao geral sobre o conceito de

territrio na atualidade. Esta considerao diz respeito a algumas concepes de territrio

muito presentes na Geografia, segundo Sposito (2004): uma natural, uma individual e uma

espacial. A concepo naturalista do territrio (territrio clssico), muito difundida, tem

justificado historicamente, e ainda hoje, as guerras de conquista atravs de um imperativo

funcional que se sustenta como natural, mas em verdade, construdo socialmente.

A concepo do territrio do indivduo pe em evidencia a territorialidade, algo

extremamente abstrato, o espao das relaes, dos sentidos, do sentimento de pertena e,

portanto da cultura. O territrio, neste caso, assume diferentes significados para uma

comunidade islmica, para uma tribo indgena, para uma famlia que vive numa grande

metrpole ou, ainda, entre pessoas dentro de cada grupo social.

E a ultima concepo que confunde os conceitos de territrio e de espao, este o

principal conceito geogrfico. Portanto, antes de definirmos o conceito de territrio deve-

se abordar o de espao. Assim, tomando-se um quadro referencial da geografia brasileira, o

conceito de espao, ou espao geogrfico, segundo Milton Santos, seria aquele formado

por um conjunto indissocivel, solidrio e tambm contraditrio, de sistemas de objetos e

sistemas de aes, no considerados isoladamente, mas como quadro nico no qual a

histria se d (1999 p51)

O grande desafio das polticas de desenvolvimento territorial melhorar as

capacidades produtivas e as condies de acesso aos mercados dos empreendedores de

pequeno porte, cujo objetivo bsico estimular um ambiente em que a cooperao social

localizada amplie o poder competitivo dos que hoje se encontram em situao de pobreza,

abrindo o caminho para inovaes tecnolgicas e organizacionais.

Podemos considerar alguns componentes essenciais para o empreendedorismo

rural: uso do poder de compra; interiorizao das polticas de desenvolvimento das MPE

rurais (Fundamental para o desenvolvimento equilibrado dos territrios); acesso ao crdito;

40

apoio ao associativismo, cooperativismo e da economia solidria; polticas de qualidade e

produtividade das MPE; acesso a infra-estrutura; acesso inovao em tecnologias e

processos, os segmentos que participam desse processo: agroindstria, agricultura de

sequeiro, agricultura irrigada, pecuria, pesca e aqicultura, atividades no agrcolas no

espao rural: indstrias auxiliares das atividades agrcolas, artesanato, ecoturismo e

turismo rural e reciclagem.

A capacidade de empreender est relacionada s caractersticas do indivduo, aos

seus valores e modo de pensar e agir. Dessa maneira, os empreendedores so responsveis

pelo desenvolvimento econmico. Promovendo o rompimento da economia em fluxo

circular para uma economia dinmica, competitiva e geradora de novas oportunidades. No

entanto em relao ao desenvolvimento rural, imprescindvel que se invista na pesquisa e

extenso agropecuria para aumentar a eficincia dos sistemas sustentveis, bem como,

torn-los acessveis aos produtores rurais. Tambm importante o envolvimento dos

tcnicos em agropecuria, bem como o alcance do empreendedorismo para a agropecuria

e para o desenvolvimento rural.

Segundo Zuin e Queiros (2006) a cultura do empreendedorismo

considerada por muitos como a sada mais vivel para resolver o problema do desemprego

e da misria no campo e na zona urbana. certo tambm que para a implantao e

frutificao dessa cultura, haver necessidade da criao e adequao de polticas pblicas

para suportar os investimentos iniciais dos negcios, de programas de capacitao

especficos, segundo a vocao de cada regio do pas e da parceria da educao na

formao de cidados empreendedores desde as primeiras series do ensino fundamental.

Desta forma, se esta ajuda inicial for bem planejada e implantada, poder refletir

diretamente no desenvolvimento econmico e social do pas, por meio do aumento dos

postos de trabalho, da melhoria na qualidade de vida das pessoas e do menor gasto pblico

com segurana urbana e rural.

O desenvolvimento de qualquer setor da economia em geral e do agronegcio em

particular, est ligado a capacitao das pessoas. Cada vez a educao tem o papel de criar

condies no s para o entendimento da realidade, mas das formas como interagir com ela

e da avaliao dos resultados desta interferncia.

41

2.5 A Educao, o Trabalho, as Polticas Educacionais e Suas Implicaes

na Realidade Escolar

A histria da educao brasileira, desde o perodo colonial, est relacionada aos

aspectos histrico-sociais da sociedade e a educao estabelece uma estreita relao com o

contexto social dominante, adequando-se aos seus objetivos.

Assim, a educao, no incio de nossa histria, era extremamente elitizada, s

tinha acesso a ela pessoas da classe dominante, seu contedo era desinteressado e

destinado a dar cultura geral a uma minoria de privilegiados socialmente.

Surge, ento, a educao profissional, que uma educao interessada em formar

mo de obra barata e qualificada para o mercado de trabalho. Nesse sentido as

reivindicaes para a universalizao da educao bsica e para o ensino profissionalizante

visam o aumento da produtividade industrial para a valorizao do capital.

Na associao entre trabalho-educao surgiu o tipo de escola interessada no

trabalho. Uma escola, que perdeu muito de sua essncia de formadora de seres livres e

pensantes e automatizou o ensino com o objetivo inicial de atender s exigncias de um

mercado capitalista.

A Educao tomou e toma caractersticas e funes especficas em cada etapa

histrica, e como, em decorrncia de novas exigncias histrico-sociais, vai se

modificando.

Como ressalta a autora Romanelli (1997)

Para uma economia de base agrcola (...) sobre a qual se assentavam o

latifndio e a monocultura (...) a educao realmente no era considerada

como fator necessrio (...) Foi somente quando essa estrutura comeou a

dar sinais de ruptura que a situao educacional principiou a tomar rumos

diferentes. (1977, p.45)

O marco inaugural do ensino tcnico no Brasil foi em1909 com o objetivo do

disciplinamento, do aprender a fazer para executar trabalhos manuais para a coroa

portuguesa. Ao longo da histria a educao profissionalizante carrega o estigma de ser

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higienizadora da sociedade por ser destinada aos menos favorecidos, com a ideia de incluir

pessoas, que, de uma forma ou de outra, eram marginalizadas pela sociedade e que tinham

pouco discernimento intelectual como comprova a seguinte frase: Quem pensa manda

fazer, quem faz no pensa.

Neste contexto, a educao da classe trabalhadora no Brasil, at 1930, no era

valorizada uma vez que o trabalho manual tinha uma conotao negativa, era considerada

uma atividade aviltante relacionada pobreza e escravido. Herana cultural que, ainda

hoje, em nossa sociedade, tem uma tendncia em considerar o trabalho manual dissociado

do intelectual e menos importante.

Segundo CARVALHO (2003) a trajetria da educao profissional nos permite,

assim, demonstrar que esta modalidade do sistema educativo sempre esteve atrelada aos

interesses econmico-sociais do pas e que a absoro dos novos conceitos no tem

alterado esta premissa, tendo sido realizado, apenas, a atualizao de uma mesma

concepo. Ela evidencia, ainda, que o dualismo da educao, conforme os segmentos

sociais, a marca fundamental desse tipo de formao. (2003, p. 79)

O elemento trabalho est diretamente relacionado educao profissionalizante,

uma vez que, este tipo de educao tem como objetivo principal preparar o educando para

o mercado de trabalho, para a empregabilidade.

Segundo Souza (2002) ao tratarmos de formao para o trabalho,

inevitavelmente estaremos estabelecendo uma interface entre trabalho e educao. (2002,

p. 15)

No decorrer da histria do capitalismo pode-se constatar que o prprio conceito de

trabalho tem sofrido importantes alteraes, conseqncia da disputa capital e trabalho pela

hegemonia da sociedade.

O que determina a subordinao real do trabalhador ao capital a forma de

organizao das foras produtivas e de regulao das relaes de produo fundadas na

apropriao privada do trabalho excedente, requisito essencial para a extrao de mais-

valia, gerador de valor de uso, caracterstica principal do processo de trabalho capitalista.

O mundo capitalista precisa da escola interessada no trabalho que possa formar

seres que atendam aos objetivos traados por ele, que incorporem valores especficos deste

sistema, sem question-los. Os educandos devem ser preparados para serem protagonistas

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de um espetculo ao qual eles no tero o direito de assistir, apenas proporcionar condies

aos outros de usufrurem.

Neste sentido Saviani (2006) afirma ser o trabalho que define a essncia humana.

Isso significa que no possvel ao homem viver sem trabalhar. J que o homem no tem

sua existncia garantida pela natureza, sem agir sobre ela transformando-a e adequando-a

as suas necessidades, o homem perece. Da, o adgio: ningum pode viver sem trabalhar.

No entanto, o advento da propriedade privada tornou possvel classe dos proprietrios

viverem sem trabalhar, viver do trabalho alheio. (2006,p.5)

Na histria da educao profissional, as oportunidades escolares para o povo,

normalmente, surgem para suprir uma necessidade de formao de mo de obra em nveis

mais ou menos elevados conforme comenta: Neves (1994) que a complexidade da diviso

social do trabalho exige, pois, no s a expanso da escolaridade mnima para alm do

nvel fundamental de ensino, mas tambm a multiplicao de campos de saber a serem

aprofundados. Multiplicam-se conseqentemente os centros de pesquisa e de difuso

cientfica, ampliando sua abrangncia para um conjunto maior da populao. A escola

socializa-se progressivamente, redefinindo ao mesmo tempo suas funes tradicionais

ideolgicas e socializadoras, passando a ter como finalidade principal a formao tcnica e

comportamental de um novo tipo humano capaz de decifrar os novos cdigos culturais de

uma civilizao tcnico-cientfica. (1994, p. 20)

Souza (2002) entende que assim, ao redefinir o papel da escola no mundo

contemporneo, direcionando-a para a formao tcnica e comportamental de um novo

tipo de homem. Que possa atender aos requisitos necessrios s exigncias de crescente

racionalizao do trabalho e das relaes sociais de produo, o modo de produo

capitalista comporta, enquanto lei a ele emanasse, o avano do patamar cientfico e

tecnolgico da formao do conjunto da fora do trabalho. (2002, p.31)

Nessa perspectiva, a escola, como forma de atender ao mercado de trabalho e ter o

reconhecimento da sociedade, abre mo do ensino propedutico, no deixando de ministr-

lo, mas o descuidando e o relegando a um segundo plano em detrimento do ensino tcnico,

que priorizado, justificando que os conhecimentos tcnicos que asseguraro ao

educando uma colocao no mercado de trabalho.

Teoricamente, a educao tem papis diversos, depende de quem a ministra, tanto

ela pode formar um cidado consciente dos seus direitos e deveres, como um alienado. A

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educao deveria ser um instrumento de emancipao individual e social e que desse

nfase aos aspectos humanitrios, o ser em detrimento do ter. Esta nem sempre a posio

do educador, que, s vezes, age inconscientemente, devido sutileza ideolgica que est

por trs dos mecanismos sociais que o induzem a ter comportamentos que desabonam seu

papel de educar para um mundo mais justo e com mais igualdade social.

Para Souza (2002) a educao, por sua vez, enquanto poltica social do Estado

capitalista, tm respondido de modo especfico s necessidades de valorizao do capital,

ao mesmo tempo em que tem se constitudo num instrumento de emancipao da classe

trabalhadora, atravs do efetivo acesso ao saber socialmente produzido.(2002, p. 51)

A valorizao do capital mencionada por Souza, se faz sentir na Escola na medida

em que os aspectos formativos so pouco valorizados, dando-se maior importncia aos

aspectos puramente tcnicos.

Para abordar o tipo de escola ideal para a classe trabalhadora segundo Gramsci,

pode-se partir da seguinte frase deste intelectual italiano: Lembrar que antes do operrio

existe o homem, que no deve ser impedido de percorrer os mais amplos horizontes do

esprito, subjugado mquina. (Souza, 2002, p.61.).

O homem o nico ser que tem condies de moldar seu comportamento atravs

de mecanismos sociais. Um desses mecanismos a educao, que definida por Souza

como: um processo de aquisio de conhecimentos necessrios ao homem no seu

intercmbio com a natureza e com os outros indivduos. (Souza, 2002, p.59). Na

concepo de valorizao do homem a educao dever estar a seu servio, auxiliando-o

na realizao pessoal e profissional. A educao no se dar em somente uma fase da vida

do ser humano ela ser um processo, e, por isso, ocorrer gradativamente, isto , em todos

os nveis de escolaridade. Os conhecimentos adquiridos desta forma serviro para o

homem relacionar-se melhor com o mundo, no mbito social, econmico, profissional e

poltico e dominar a tecnologia, usando-a como um bem para melhorar a humanidade.

Para GRAMSCI (1991) a escola unitria ou de formao humanista ou de cultura

geral deveria se propor tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de t-los

levado a certo grau de maturidade e capacidade, criao intelectual e prtica de certa

autonomia na orientao e na iniciativa. (1991, p.121)

Nas dcadas de 80 e 90, houve muitas reformas educacionais na Amrica Latina,

que geraram transformaes na educao tcnico-profissional, desde a aprendizagem de

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ofcios manuais at a formao de quadros superiores. Essas transformaes tm

determinantes externos aos sistemas educacionais e so de carter poltico, social e

econmico. Como determinantes polticos aparecem: a ampliao da educao, estendendo

a escolarizao para alm do perodo obrigatrio e a possibilidade de transferir alunos

entre diferentes tipos de cursos. Como determinantes sociais: a presso das camadas menos

favorecidas para o ingresso no ensino mdio, bem como a ampliao da escolarizao das

mulheres. Por ltimo, os determinantes econmicos que resultam da incorporao de novas

tecnologias, que mudam rapidamente, na produo de bens e servios, bem como nas

organizaes pblicas e privadas, das quais a informtica a mais generalizada.

O Brasil, alm de sofrer a presso de mecanismos internacionais e estar submetido

a processos sociais e econmicos idnticos aos de outros pases da Amrica Latina, ainda,

enfrenta lutas internas de foras progressistas e conservadoras na formulao ou

reformulao de polticas educacionais adequadas a um desenvolvimento mais harmnico,

justo e igualitrio da sociedade.

Pela vasta gama de reformas educacionais que ocorreram em nosso pas, procurar-

se- discorrer, de forma sinttica, sobre as que mais se salientaram, como o caso da Lei

5692/71, que correspondeu a uma concepo pedaggica calcada num modelo em vigor

nos EUA. Esta lei fundiu o ensino primrio ao 1 ciclo do ensino mdio, instituindo um

novo ensino de 1 grau, obrigatrio para todos, com oito anos de durao. As quatro

ltimas sries seriam profissionalizantes. Para o 2 grau, universal e compulsoriamente

profissional, a idia era de habilitar os alunos como tcnicos ou auxiliares de tcnicos.

Com essa poltica a educao geral perdeu muito espao em detrimento da

profissionalizante o que prejudicou a educao como um todo e, ainda, esta reforma no

teve sucesso, principalmente, devido falta de recursos financeiros, e a carncia de pessoal

qualificado nas redes pblicas de ensino. Surgiu, ento, a lei 7044/82 para reorientar a lei

de onze anos antes, e estabelecer a funo propedutica do ensino de 2 grau.

A poltica educacional implementada a partir de 1995 reservou um lugar especial

ao ensino tcnico, porque alm de suprir a necessidade econmica da formao

profissional de nvel mdio, como exigncia do desenvolvimento tecnolgico, diagnosticou

que as escolas tcnicas federais teriam se transformado em alternativa de ensino mdio

gratuito e de boa qualidade para jovens de classe mdia que estariam interessados em

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prosseguir os estudos em um curso superior que no tivesse nenhuma relao com o curso

tcnico realizado.

Com as mudanas ocorridas nos anos 90 verificou-se, mais uma vez, a tentativa de

separao entre a educao geral-propedutica e a educao tcnico-profissional. Esta

situao conflitiva s foi atenuada pela exigncia de que o curso tcnico somente poder

certificar alunos que tenham tambm concludo o ensino mdio. E nos cursos seqenciais a

nfase para estudantes que no conseguirem acesso aos cursos superiores.

A LDB/96, que teve uma trajetria conturbada at sua aprovao, acabou sendo

aprovada e deixou muitas brechas para se lanarem leis e decretos. Uma caracterstica a

concepo marcadamente profissional do ensino mdio, cujas finalidades incluem a

preparao para o trabalho. Os contedos e avaliaes sero organizados de tal forma que,

ao final do ensino mdio, o educando demonstre domnio dos princpios cientficos e

tecnolgicos que presidem a produo moderna.

O Decreto 2.208/97 imps um conjunto de reformas educao profissional no

pas, sendo a principal delas a separao estrutural entre o ensino mdio e o tcnico. Esta

reforma, por no ter partido da vontade e da necessidade dos docentes da rede de ensino,

teve pouca aceitao e est sendo, gradativamente, substituda pelos mtodos tradicionais.

No ano de 2002 o Ministrio da Educao anunciou que a educao profissional

seria reconstruda como poltica pblica, corrigindo distores de governos anteriores.

Entre essas correes, estava a revogao do Decreto 2.208/97, restabelecendo-se a

possibilidade de integrao curricular dos ensinos mdio e tcnico.

Diante destes anseios deveria haver uma reviso profunda da atual LBD e no uma

lei especfica para a educao profissional. O fato que isso no ocorreu, o que se viu foi o

inverso, e houve uma fragmentao iniciada internamente no prprio Ministrio da

Educao, que posteriormente tomou algumas medidas que comprovaram a poltica de

integrao no seria prioridade.

A Poltica de Educao Profissional do MEC objetiva (Brasil 2009) promover a

transio entre a escola e o mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos com

conhecimentos e habilidades gerais e especficas para o exerccio de atividades

produtivas. Apesar de entender a educao profissional, integrada s diferentes formas de

educao, ao trabalho, cincia e tecnologia, com o objetivo de garantir ao cidado o

direito a permanente desenvolvimento de aptides para a vida produtiva e social, o foco da

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educao profissional so as novas exigncias do mundo do trabalho, explicitadas de

acordo com as reas profissionais e os perfis de competncias estabelecidos nas Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educao Profissional de Nvel Tcnico.

Temos conscincia que a prosperidade de uma nao ou de uma regio depende da

educao e de um conjunto de polticas pblicas.

A gerao e disseminao da informao tm tudo a ver com o desenvolvimento

sustentvel. Os proprietrios rurais precisam de conhecimento especfico para entrar no

mercado, crescer e se destacar e, muitas vezes, eles no sabem bem onde encontr-lo. Com

a globalizao, a educao profissional considerada um dos principais instrumentos para

o desenvolvimento de um pas ou regio, e para o governo brasileiro as escolas tcnicas

so pilares estratgicos para alcanar este objetivo. Alguns estudos apontam a

contribuio do empreendedorismo para o desenvolvimento regional. Em virtude disso,

instituies de ensino e rgos governamentais, em especial, promovem aes para o

desenvolvimento do perfil empreendedor dos indivduos.

Derrubar as barreiras entre o ensino tcnico e o cientifico, articulando trabalho,

cincia e a cultura na perspectiva da emancipao humana deve ser um dos objetivos dos

institutos. Sua orientao pedaggica assentada no pensamento analtico e na formao

profissional mais abrangente e flexvel voltada para o mundo do trabalho e menos para a

formao de ofcios, em um profissionalizar-se mais amplo que abra infinitas

possibilidades de reiventar-se no mundo e para o mundo, princpios estes validos inclusive

para as engenharias e licenciaturas. Temos de construir uma instituio inovadora ousada

com um futuro em aberto e capaz de ser um centro irradiador de boas prticas, articulando-

se com as redes pblicas de educao bsica.

A poltica de Expanso da Rede Federal surge em um contexto instaurado

semelhana da poltica educacional britnica, conforme Trevisan (2001) no qual o

investimento na formao de mo-de-obra visava descentralizao da responsabilidade

do Estado, direcionando principalmente tal atividade para o terceiro setor, impedindo as

escolas tcnicas federais de crescerem como demonstrado claramente na lei n 8.948/94: a

expanso da oferta de educao profissional, mediante a criao de novas unidades de

ensino por parte da Unio, somente poder ocorrer em parceria com Estados, Municpios,

Distrito Federal, setor produtivo ou organizaes no-governamentais, que sero

responsveis pela manuteno e gesto dos novos estabelecimentos de ensino.

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No havia nessa poca a vinculao da educao profissional com a educao

bsica, a o carter utilitarista e modular estava posto. Por outro lado, representantes de

movimentos sindicais, acadmicos e outras esferas da sociedade civil clamavam por uma

educao integral e pela democratizao do acesso amplamente em mbito nacional. Essa

mobilizao se desenvolveu e repercutiu em todo o incio do governo atual, em 2003, at

que em 18 de novembro de 2005, foi promulgada a lei que modifica apenas uma palavra da

lei anterior, o suficiente para permitir a Expanso que hoje testemunhamos.

A expanso da oferta de educao profissional, mediante a criao de novas

unidades de ensino por parte da Unio, ocorrer, preferencialmente, em parceria com