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Aula 1: As glândulas e suas secreções
Objetivos: Definir glândulas e discriminar suas secreções.
As glândulas são compostas por células que secretam substâncias as quais
podem ter um papel protetor ou podem atuar na comunicação célula-célula.
As glândulas são classificadas em dois principais tipos: exócrinas e endócrinas
(Figura 1.1). As glândulas exócrinas secretam líquidos através de um ducto na
superfície epitelial do corpo. Já as glândulas endócrinas secretam hormônios
diretamente na circulação sanguínea. Os tipos de glândulas de um indivíduo podem
variar não somente com as espécies, mas também durante vários estágios do
desenvolvimento.
As glândulas agem como uma unidade, ou seja; existe uma atividade combinada
das diversas células secretoras. A secreção freqüentemente acontece em condições
basais, mas ao receber um estímulo, a glândula pode aumentar ou diminuir sua secreção.
Diferentes estímulos podem modular a atividade glandular: neurotransmissores,
hormônios, a presença de alimentos no tubo digestório, a presença de predadores, o
aumento do volume e da osmolaridade plasmática, o aumento da glicose sanguínea, e
outros. Entretanto, algumas glândulas somente apresentam atividade secretora ao serem
estimuladas. A glândula nasal de pássaros, por exemplo, normalmente está inativa, e
após a ingestão de água salgada, ela se torna ativada.
Como mencionado anteriormente, as secreções podem ter ações importantes
para as células. As células epiteliais secretam o muco na sua superfície, o qual forma
uma barreira protetora ao redor das mesmas. Além disso, outras células secretam
substâncias sinalizadoras, que atuam a diferentes distâncias, facilitando a comunicação
célula-célula. Entre estas secreções podemos citar: secreção autócrina (atua sobre a
própria célula secretora), secreção parácrina (atua em células vizinhas), secreção
endócrina (atua em alvos distantes), secreção exócrina (liberada na superfície celular)
(Figura 1.2).
As secreções exócrinas
a) Feromonas
As feromonas são secreções exócrinas produzidas pelos animais (peixes,
formigas, abelhas, etc.) e que estão envolvidas em diversas funções fisiológicas.
Nos insetos, por exemplo, as feromonas são usadas para identificar membros da
mesma colônia. Nas colônias de formigas, as feromonas têm papel na agregação
social, atividade sexual, definição de castas, marcação de pistas, no controle das
operárias, para indicar presença da rainha e até mesmo a quantidade de alimento.
Nas abelhas as feromonas de Nasanov auxiliam na orientação espacial das
operárias e rainha (localização da colônia). Além disso, quando presentes nas
fezes das rainhas virgens impedem a agressividade das operárias. Já as
feromonas das glândulas dorso abdominal, inibem o desenvolvimento do ovário
nas operárias e a formação de celas reais.
Certos invertebrados marinhos (estrelas-do mar) liberam feromonas junto com
os gametas, o que induz a desova e a liberação de esperma. Existem também
feromonas utilizadas com a finalidade de repelir os predadores. As glândulas
aromáticas das jaritatacas produzem um almíscar que é muito desagradável aos
seus predadores.
Em peixes (peixe-dourado, peixe-zebra), alguns hormônios ou seus produtos do
metabolismo, atuam como feromonas. Após a ovulação da fêmea do peixe-
dourado, a água tem hormônios que pode induzir comportamento sexual dos
machos da mesma espécie.
b) A saliva
A saliva presente na boca humana é uma complexa mistura de constituintes
inorgânicos (íons sódio, potássio, cálcio, cloreto, fósforo, fluoreto, bicarbonato),
e orgânicos, tais como, proteínas (mucina, amilase, lípases, calicreína,
imunoglobulinas e albumina). Podemos destacar várias funções da saliva:
Preparação do bolo alimentar
Lubrificação (boca e regiões vizinhas)
Confere umidade a mucosa bucal
Limpeza e solvente
Digestiva (enzimas digestivas)
Excretora (chumbo, iodeto, mercúrio, enxofre, uréia, antibióticos, narcóticos,
vírus HIV, raiva, gripe)
Agressiva (cuspe)
Sistema tampão (bicarbonato)
Proteção (controla a flora bacteriana)
A saliva é formada como uma secreção primária (isotônica em relação ao sangue)
nos ácinos, e durante sua passagem pelos ductos sofre modificação, tornando-se uma
solução hipotônica em relação ao sangue (perda de sódio e cloreto) (Figura 1.3). Nas
condições de repouso, o fluxo de saliva é baixo, sendo usada para manter a boca
úmida. Entretanto, alguns fatores podem modificar o fluxo de saliva. A desidratação,
o medo e o estresse, inibem a secreção salivar, via inibição do sistema nervoso
parassimpático. Já o olfato, a náusea, e a presença do alimento na boca, estimulam a
produção de saliva (Figura 1.4).
c) O glicocálice e o muco
A membrana plasmática de todas as células secretam o glicocálice, um revestimento
de superfície, composto por glicoproteínas e polissacarídeos. Este revestimento
protege a membrana celular e cria um microambiente que modula os mecanismos de
filtração e difusão. Além disso, o glicocálice ajuda no reconhecimento célula-célula.
O muco é produzido pelas células caliciforme presentes nos epitélios. Ele tem função
de proteção em diferentes espécies. No peixe-bruxa, o muco é produzido após uma
situação de estresse, protegendo-o de predadores. Já nos pulmões dos mamíferos, o
muco produzido nas vias aéreas, é impulsionado pelos cílios em direção à boca. O
muco prende sujeiras e bactérias, afastando estes agentes da superfície pulmonar.
O muco (gel de polímero) é secretado e estocado junto com outras substâncias dentro
das vesículas secretoras das células caliciformes. Dentro dos grânulos protetores, as
fitas de mucina que compõem o muco, se encontram condensadas. Quando ocorre
um aumento do pH dentro da vesícula, ocorre a exocitose do muco (liberação
explosiva)(Figura 1.5).
d) Glândula da seda de invertebrados
A seda das aranhas é produzida por glândulas fiandeiras, localizadas na porção
inferior do abdome. Os fios de seda são utilizados para: fazer reboque, teias, túneis, e
estojos para ovos. A principal função é a captura de presas, tais como insetos ou
outros pequenos animais. Com a vibração das teias, as aranhas são capazes de
detectar a posição e natureza da presa. Além de utilizar a seda na confecção de teias,
as aranhas produzem filamentos de seda, que são arrastados atrás delas, como um
reboque.
Os filamentos de seda produzidos pelas glândulas fiandeiras (abdominais) consistem
em cristais de queratina inseridos em uma matriz de aminoácidos. Normalmente, os
filamentos são rígidos e quebradiços, mas se tornam flexíveis quando ficam
molhados.
Cada aranha tem muitas glândulas de seda, cada uma produz um tipo diferente e
único de seda (Figura 1.6). Algumas vezes as aranhas revestem os filamentos com
fungicidas e bactericidas, para prevenir que microorganismos consumam as teias.
Mecanismo de síntese, armazenamento e transporte de secreções
Existe uma polaridade quanto aos mecanismos de síntese, armazenamento e
secreção, isto é, cada etapa ocorre em um local da célula. Normalmente, as secreções
protéicas são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso, depois passam o
retículo endoplasmático liso e finalmente migram para o complexo de Golgi. Dentro
do complexo de Golgi, algumas proteínas são modificadas quimicamente. A partir da
rede trans-Golgi (RTG), as vesículas secretoras se movem para a superfície celular,
onde acontece a inserção das proteínas na membrana apical ou basolateral (Figura
1.7).
As secreções ocorrem mediante à estimulação celular. Por exemplo, em células
nervosas neurosecretoras, o estímulo desencadeia potenciais de ação (PA) que se
propagam através dos axônios, causa um aumento da concentração de cálcio
intracelular e leva a liberação de neurotransmissores. Da mesma forma, em células
exócrinas ou endócrinas, o cálcio, é o principal agente segretagogo (Figura 1.8).
AUTOAVALIAÇÃO:
1) Defina secreção autócrina, parácrina, endócrina e exócrina.
2) Descreva as funções da feromonas em diferentes espécies.
3) Secreções exócrinas, como a saliva, sofrem transformação em sua composição
química antes de serem secretadas. Explique que tipo de alteração ocorre na
saliva ao passar pelo ducto.
4) O cálcio é um íon importante em vários processos fisiológicos, como contração
muscular, liberação de neurotransmissores na fenda sináptica e também na
secreção glandular. Explique o mecanismo de ação do cálcio como segretagogo.
Aula 2: Os Sistemas Neuroendócrinos
Objetivo: Entender o que é o sistema neuroendócrino, e identificar as
neurosecreções. Conhecer as alças de regulação neuroendócrina-endócrina.
O sistema neuroendócrino é formado por neurônios especializados em sintetizar,
estocar e secretar diferentes neuro-hormônios (“seus neurotransmissores”) no sangue.
Um questionamento importante que devemos fazer é: quem apareceu primeiro o
sistema neuroendócrino ou o endócrino? Ao considerarmos a evolução e presença do
sistema nervoso ao longo das espécies, podemos responder que o sistema
neuroendócrino apareceu primeiro. Os neurônios secretores parecem estar presentes
em todos os invertebrados e vertebrados. Eles foram identificados no sistema
nervoso de invertebrados e vertebrados muito antes que o conceito da neurosecreção
de hormônios fosse descrito.
De uma forma generalizada, nos neurônios do sistema neuroendócrino, ocorre a
síntese de neuro-hormônios no corpo neuronal, logo após, o neuro-hormônio é
transportado através do axônio, para finalmente ser liberado no órgão neurohemal
(terminação axonal + capilares) (Figura 2.1). O órgão neurohemal facilita a difusão
do neuro-hormônio para dentro do sistema vascular. Invertebrados apresentam uma
variedade de órgãos neuro-hemais. Os poliquetas, por exemplo, apresentam uma
estrutura neurohemal primitiva na base do gânglio cerebral. Já em insetos, os axônios
das células neurosecretoras, localizadas na porção posterior do gânglio cerebral, são
responsáveis pelo transporte do hormônio juvenil até os vasos sanguíneos dorsais do
órgão neuro-hemal. Em moluscos gastrópodes e cefalópodes, existem órgãos neuro-
hemais na periferia dos sistemas nervoso central e periférico. Alguns axônios dos
neurônios neurosecretores, se estendem até órgãos periféricos (túbulos renais), onde
liberam seus neuro-hormônios (Figura 2.2A). Por outro lado, os mamíferos
apresentam três tipos de células neurosecretoras no hipotálamo: neurônios
neurosecretores do núcleo paraventricular; do núcleo supraóptico e neurônios
neurosecretores, cujos axônios terminam nos capilares da eminência média. Os dois
primeiros tipos de neurônios (paraventricular e supraóptico) têm axônios muito
longos, que terminam nos capilares fenestrados da hipófise posterior (neurohipófise),
onde liberam seus neuro-hormônios. Por outro lado, a neurosecreção que é liberada
nos capilares da eminência média, é transportada pelo sistema porta-hipofisário até a
hipófise anterior (adenohipófise). (Figura 2.2B).
De forma similar ao arco reflexo que estudamos no sistema nervoso, onde a
estimulação de células sensoriais leva a uma resposta efetora a partir de um
motoneurônio, no sistema neuroendócrino e endócrino ocorrem alças tipo arco
reflexo (Figura 2.3). A alça neuroendócrina de primeira ordem, é aquela na qual ao
estimular um órgão sensorial, ocorre a liberação de neuro-hormônios pelos neurônios
do sistema nervoso central (SNC), os quais atuaram sobre órgãos efetores. Na alça
neuroendócrina de segunda ordem, a via reflexa é um pouco maior, pois ao estimular
os órgãos sensoriais, as neurosecreções produzidas no SNC atuam sobre uma
glândula endócrina, a qual liberará um hormônio que agirá sobre um órgão alvo. E
finalmente, na alça neuroendócrina de terceira ordem, a neurosecreção dos neurônios
SNC, ativam a secreção hormonal de glândulas endócrinas, a qual levará a uma
ativação de uma segunda glândula endócrina, cujo hormônio levará a resposta efetora
final. Veja abaixo exemplos de processos fisiológicos que envolvem arcos reflexos
de primeira, segunda e terceira ordem:
a) Alça reflexa de Primeira ordem:
• Inibição desenvolvimento reprodutivo em anelídeos
• Controle pigmentos da retina em crustáceos
• Ocitocina e vasopressina
b) Alça reflexa de Segunda ordem:
• Controle da muda nos insetos pela ecdisona:
Neuro-hormônio cerebral (protoracicotropina)
Estimula secreção ecdisona (glândula protorácica)
c) Alça reflexa de Terceira ordem:
• Síntese de testosterona nos testículos e a espermatogênese
GnRH (neurônios do Hipotálamo)
LH e FSH (secretadas pelas células endócrinas da adenohipófise)
Testosterona (produzida pelas células Leydig do testículo)
Age nas células de Sertoli favorecendo a espermatogênese
AUTOAVALIAÇÃO:
1) O que é um órgão neuro-hemal?
2) Descreva os tipos de células neurosecretoras no hipotálamo de mamíferos.
3) Em forma esquemática, desenhe as alças reflexas de primeira, segunda e terceira ordem,
que envolvem o sistema neuroendócrino e endócrino.
Aula 3: As glândulas endócrinas e seus hormônios
Objetivo: Diferenciar a glândula endócrina da exócrina e identificar os diferentes
hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas.
As glândulas endócrinas evoluíram a partir de células dispersas, que pouco a pouco
foram agregando-se, e formando tecidos endócrinos discretos e compactos, como a
glândula adrenal. Com a evolução percebemos que os hormônios não se
modificaram, mas sim a função que cada qual exerce.
As glândulas endócrinas secretam os hormônios diretamente na corrente sanguínea,
modulando vários processos fisiológicos relevantes. Os hormônios são definidos
como uma substância química secretado por uma célula ou grupo de células, no
sangue, para ser transportada a um alvo distante, exercendo seus efeitos em baixas
concentrações. Os hormônios podem ser classificados de acordo com sua
constituição química em: peptídeos (insulina), esteróides (testosterona) e derivados
de aminoácidos (hormônios da tireóide) (Tabela 3.0).
A identificação da função das glândulas endócrinas começou a ser desvendada em
1849, por estudos clássicos de A. A. Berthold, nos quais ele observou que frangos
castrados, desenvolviam cristas e barbelas pequenas, além de apresentarem canto
fraco, pouco interesse pelas galinhas, pela luta. Entretanto, ao recolocar os testículos
na cavidade abdominal, os frangos voltavam a exibir características sexuais e
comportamento masculino normal (Figura 3.1).
Diferentemente das glândulas exócrinas, as glândulas endócrinas não apresentam
ducto em sua estrutura Além disso, os hormônios são produzidos pelas glândulas
endócrinas, sem que haja uma modificação de sua composição química, isto é, não
há formação de um líquido primário, como acontece nas glândulas exócrinas. Por
outra parte, existem vários tecidos endócrinos contêm mais de um tipo de célula
secretora, cada uma elaborando um hormônio diferente. Por exemplo, o pâncreas, é
um órgão endócrino composto por células alfa (produzem glucagon), células beta
(produzem insulina) e células D (produzem somatostatina).
Diferentemente dos neurotransmissores que sinalizam rápido a pequenas distâncias,
os hormônios sinalizam mais lentamente a grandes distâncias. Além disso, o sistema
endócrino é importante para a regulação de funções do corpo, pois sua ação é
mantida por minutos, horas ou dias. As principais glândulas endócrinas dos
mamíferos e seus respectivos hormônios podem ser visualizados no quadro 3.0.
De uma forma resumida, podemos citar como ações do sistema endócrino:
• Digestão e funções metabólicas
• Osmorregulação e excreção
• Metabolismo do cálcio
• Crescimento
• Reprodução
AUTOAVALIAÇÃO:
1) Diferencie glándula exócrina e glándula endócrina.
2) Como se classificam os hormônios de acordo com sua estrutura química. Dê
exemplos.
3) Descreva de uma forma resumida as funções exercidas pelas secreções
endócrinas e cite um hormônio associado a respectiva função.
Aula 4: O sistema endócrino nos invertebrados
Objetivo: Identificar os sistemas endócrinos dos invertebrados, e descrever suas
principais funções fisiológicas.
O sistema endócrino de invertebrados é predominantemente neurosecretor. Nos
invertebrados superiores observamos um aumento na complexidade, no que se refere
não só ao número de neuro-hormônios e hormônios clássicos, mas também na
diversidade de funções. De forma generalizada, nos invertebrados inferiores (cnidários,
platelmintos) os neuro-hormônios estão envolvidos com a regulação de processos
morfogenéticos, tais como; desenvolvimento, crescimento e maturação gonadal.
Controle endócrino de funções mais complexas, tais como, desenvolvimento e
ovoposição, osmoregulação, controle da frequência cardíaca, dos níveis de metabólitos
na hemolinfa, e mudança de coloração, é descrito em invertebrados mais superiores
(anelídeos, moluscos e artrópodes). Este aumento de funções endócrinas nestes animais
está intimamente associado a um maior desenvolvimento do sistema circulatório, o que
favorece a rápida e eficiente distribuição dos hormônios pelo corpo.
A) Nemertinos X Nematódeos
Dentro dos invertebrados inferiores a primeira descrição de células endócrinas, aparece
nos órgãos cerebrais dos nemertinos. Nestas células, as secreções neuroendócrinas estão
envolvidas em funções, tais como: desenvolvimento das gônadas e balanço osmótico.
Já em nematódeos, as neurosecreções estão diretamente associadas à ecdise (troca) da
cutícula (Figura 4.1).
B) Anelídeos
Nos anelídeos, de uma forma geral, a neurosecreção está envolvida nos
processos de desenvolvimento, crescimento, regeneração e maturação gonadal. Nos
anelídeos poliquetas, os neurônios neurosecretores presentes no gânglio cerebral,
gânglio supraesofágico e gânglio cadeia ventral, liberam suas neurosecreções nos
órgãos hemais, e ao alcançarem as glândulas infracerebrais, promoverão a epitóquia,
processo de alterações morfológicas, que levam o indivíduo a passar da forma imadura
para a forma madura (epitóquia/reprodutiva) (Figura 4.2). Durante a epitóquia as
principais modificações sofridas pelos poliquetas são: alterações na forma da cabeça,
apêndices cefálicos modificados, grandes olhos, alterações parápodes e redução dos
palpos e tentáculos. Além de controlar a epitóquia, os neuro-hormônios cerebrais dos
poliquetas retardam a maturação das células sexuais e induzem o crescimento de
oócitos.
Nos anelídeos oligoquetas, as células neurosecretoras localizadas nos gânglios
cerebral e subesofágico, produzem neuro-hormônios cujas principais funções são:
diferenciação do trato gonadal, a vitelogênese (formação gema), o desenvolvimento de
características secundárias sexuais, a osmoregulação e o controle da glicemia
(Lumbricus).
C) Moluscos
Muitos moluscos são hermafroditas, ou seja, apresentam ambos os sexos. Nos
prosobrânquios, por exemplo, as células neurosecretoras sintetizam neuro-hormônios
que estão envolvidos com a reprodução e com o revezamento sexual, ou seja, há uma
fase inicial na qual os indivíduos são machos e outra mais tardia, quando atuam como
fêmeas.
Os moluscos da classe Opistobrânquios, são hermafroditas, e liberam um hormônio,
chamado hormônio ovulatório que atua nos processos de ovulação, transporte,
fertilização e fixação do ovo a um substrato.
Além dos opistobrânquios, todos os caramujos pulmonados são hermafroditas. O
hermafroditismo acontece de forma sucessiva nos stylomatóforos, com a fase masculina
precedendo o estágio feminino. As células gonadais se diferenciam em células
masculinas sob a influência de uma secreção dos gânglios cerebrais (CG) e dos
tentáculos ópticos (OT). O início da atividade reprodutora masculina é iniciada pela
liberação deste neuro-hormônio que inibe o desenvolvimento sexual feminino e
promove a diferenciação das células sexuais masculinas. No caso do sistema reprodutor
feminino, o hormônio (DBH) liberado pelo corpo dorsal (DB), o qual está sob controle
neural do gânglio cerebral (CG), promove a vitelogênese, a diferenciação das células
sexuais e dos órgãos sexuais secundários femininos (Figura 4.3A). Nos basomatóforos,
o hormônio do corpo dorsal (DBH) promove o desenvolvimento células sexuais
femininas, a vitelogênese, e o desenvolvimento dos órgãos sexuais acessórios
femininos. Já as células caudo-dorsais (CDC) liberam o hormônio dorsal (CDCH) que
promove a ovulação, a ovoposição, e o comportamento de deposição do ovo. A secreção
dos lobos laterais tem um papel na maturação das células sexuais masculinas,
provavelmente através da estimulação da secreção de neuro-hormônios a partir das
células neurosecretoras (NSC) (Figura 4.3B).
Nos cefalópodes, as glândulas ópticas produzem hormônios gonadotrópicos que tem
como função:
Desenvolvimento dos ductos reprodutivos masculinos
Produção de espermatóforo
Desenvolvimento dos órgãos sexuais femininos
Mobilização de aminoácidos
O sistema endócrino dos moluscos não só atua na função reprodutora, mas também no
crescimento (desenvolvimento somático e da concha), metabolismo (armazenamento de
glicogênio) e osmoregulação (aumento da diurese, aumento da reabsorção iônica renal e
na permeabilidade hídrica corporal).
D) Crustáceos
O sistema endócrino dos crustáceos, assim como de outros invertebrados, é
composto por células neurosecretoras e glândulas endócrinas clássicas. As áreas neuro-
hemais são mais desenvolvidas nas lagostas, camarões, caranguejos, isópodes e
anfípodes.
O gânglio cerebral dos crustáceos apresenta uma morfologia e a localização das
células neurosecretoras muito variável. O tentáculo óptico contém várias áreas
neurosecretoras, os órgãos X. A glândula do sinus localizada no tentáculo óptico é um
órgão neurohemal, que interage com axônios neurosecretores do lobo óptico e do
cérebro. Além desta glândula, o órgão pós-comissural e o órgão pericárdico também são
órgãos neuro-hemais (Figura 4.4). O hormônio inibidor da muda (MIH) é liberado na
glândula sinus, e sua secreção é regulada pelo neurotransmissor serotonina.
Além de neurônios neurosecretores, os crustáceos também apresentam glândulas
endócrinas clássicas. O órgão Y está localizado no segmento maxilar ou das antenas, e é
composto por células que são muito similares as células secretoras de esteróides dos
vertebrados. Esta glândula endócrina (órgão Y) é responsável pela secreção do
hormônio indutor da muda (β ecdisona). Localizado na região anterior ao órgão Y,
situa-se o órgão mandibular, o qual é composto de células secretoras de lipídeos, como
o metil farnesoato (precursor do hormônio juvenil).
O ovário é outra glândula endócrina, responsável pela secreção de hormônios
esteróides que controlam a diferenciação de características sexuais secundárias
femininas.
Em síntese, nos crustáceos as principais funções endócrinas das células
neuroendócrinas e das glândulas endócrinas clássicas são:
Regeneração
Frequência cardíaca
Osmorregulação
Atividade neuronal
Níveis de metabólitos sanguíneos
Dispersão pigmento
Controle da muda
D.1) A Muda
A muda é outro processo fisiológico no qual há participação dos hormônios. O
exoesqueleto rígido dos crustáceos e de outros artrópodes limita o crescimento destas
espécies, e por esta razão, devem periodicamente descartar seu exoesqueleto, processo
conhecido como ecdise (ou muda). O ciclo completo da muda, não envolve somente a
ecdise, mas também eventos metabólicos nas fases que anteriores e posteriores à muda.
A primeira fase do ciclo da muda é a proecdise, na qual a epiderme começa a
separar do exoesqueleto, através da dissolução da camada membranosa do exoesqueleto.
Muitos nutrientes e minerais são reabsorvidos do exoesqueleto velho, para serem
reincorporados no novo exoesqueleto. Após a ecdise, muitos crustáceos ingerem o
exoesqueleto liberado, com o objetivo de reciclar os nutrientes e minerais. Nesta fase,
também acontece a atrofia dos músculos dos segmentos das patas.
Na ecdise, o esqueleto velho é descartado e o animal emerge com um exoesqueleto
plástico e pálido, o qual será estendido pela reabsorção de água e expansão da
hemocele. Durante a próxima fase, a metaecdise, é formada a endocutícula do
exoesqueleto, há um depósito de cálcio no novo exoesqueleto e acontece a hipertrofia
dos músculos das patas. Durante a anecdise, período inter-muda prolongado, acontece o
armazenamento das reservas energéticas (glicogênio e lipídeos), nas glândulas
intestinais e nos músculos (Figura 4.5).
Embora a muda esteja sob controle hormonal (hormônio inibidor e hormônio
indutor da muda), outros fatores externos podem influenciar este processo:
• Intensidade luminosa
• Temperatura
• Fotoperíodo
• Salinidade
• Umidade ambiental
• Disponibilidade de alimentos
D.2) A mudança de cor
Muitos crustáceos apresentam capacidade para mudar de cor. Este comportamento os
torna aptos a adaptar-se à ambientes coloridos ou de sombra. Por exemplo, o camarão,
Crangon vulgaris, pode adaptar à ambientes de cor branca, preto, cinza, amarelo,
vermelho, ou laranja. Entretanto, outras espécies apenas podem mudar apenas sua
sombra de luz para escuro.
A cor e a mudança de cor estão associadas aos pigmentos encontrados em células
especializadas chamadas cromatóforos. Estas células se localizam na epiderme e
também em tecidos profundos, tais como; gônadas, intestino e cordão nervoso. Os
cromatóforos denominados monocromáticos contem apenas um tipo de pigmento: os
melanóforos, por exemplo, tem o pigmento negro/marrom, os leucóforos têm pigmento
branco, os eritróforos têm pigmento vermelho, e os xantóforos, pigmento amarelo. Os
cromatóforos policromáticos contêm mais de um pigmento. Por exemplo, os eritróforos
de decápodes têm pigmento vermelho e azul. Os cromatóforos de diferentes cores,
podem se associar e, serem percebidos como policromáticos, estes são denominados
cromatossomas (Figura 4.6). A alteração morfológica das cores é um processo lento,
devido à modificação quantitativa no número, tipo e distribuição de cromatóforos. Um
exemplo, de mudança morfológica de cor envolve a deposição de pigmento ou
carotenóides da dieta no exoesqueleto. Por outro lado, a alteração fisiológica da cor se
deve a movimentação dos pigmentos nos cromatóforos; a dispersão ou agregação do
pigmento potencia ou torna escuro o efeito colorido do cromatóforo.
Os cromatóforos são controlados por hormônios originados na hemolinfa, que tem ação
antagônica. Existe o hormônio dispersor do pigmento vermelho e o hormônio
concentrador do pigmento vermelho, e da mesma forma ocorrem hormônios
antagônicos para outros pigmentos (branco e preto).
E) Insetos
Com relação ao padrão de desenvolvimento, os insetos podem ser divididos em
hemimetabólicos (metamorfose incompleta) e holometabólicos (metamorfose completa)
(Figura 4.7). O ciclo vital dos hemimetabólicos se inicia com o desenvolvimento do ovo
num estágio de ninfa imatura. A ninfa cresce e passa por várias mudas, trocando seu
exoesqueleto velho por um novo e macio. O estágio final é o estágio adulto. O
desenvolvimento dos holometabólicos é mais complexo. O ovo se transforma em larva
(larva de mosca ou lagarta), que desenvolve através de vários estágios. A larva é
especializada em comer. O último estágio transforma a larva em pupa, um estágio
dormente, no qual ocorre a reorganização interna que levará a fase adulta. O adulto não
se parece com a pupa, e corresponde ao estágio reprodutor.
O desenvolvimento dos insetos é controlado por hormônios, sendo que alguns deles são
produzidos por células neurosecretoras. O hormônio pró-torácicotrópico (PTTH) é
produzido por células neurosecretoras da pars intercerebralis do cérebro, cujos axônios
passam pelo corpus cardiacum e terminam no corpus allatum. Após sua liberação no
sangue, o PTTH ativa a glândula pró-torácica, a qual sintetiza o hormônio da muda,
ecdisona α. A ecdisona α é convertida posteriormente em ecdisona β. Outro hormônio
liberado a partir das células neurosecretoras é o hormônio da eclosão. Os terminais
axonais destas células se localizam na corpora cardíaca. O bursicon é também
produzido por células neurosecretoras presentes no cérebro e cordão nervoso. Tanto o
hormônio da eclosão quanto o bursicon são responsáveis pela promoção da fase final do
processo de muda. O hormônio juvenil é sintetizado e liberado a partir da corpora allata
(glândula não neural) (Figura 4.8). O hormônio juvenil (JH) associado à ecdisona
β, promove a retenção das características imaturas da larva, ou seja, adia a metamorfose
completa. A concentração do hormônio juvenil é mais alta na fase inicial da vida da
larva, e no estágio adulto desaparece da circulação. A concentração aumentará quando o
inseto alcançar a fase adulta reprodutiva. Nos machos de alguns insetos, ele (JH)
promove o desenvolvimento dos órgãos sexuais acessórios, e em fêmeas induz a síntese
de gema e maturação dos ovos.
Durante o crescimento e desenvolvimento dos insetos, a epiderme passa por algumas
alterações, incluindo a produção de nova cutícula. A ecdisona atua na epiderme,
iniciando a produção esta nova cutícula, a partir do desprendimento da cutícula velha
(apólise). A cutícula velha é digerida por enzimas presente no líquido da muda. Em altas
concentrações do JH, uma cutícula nova, do tipo larva é formada. O desprendimento da
cutícula da pupa (ecdise) é desencadeado pelo hormônio da eclosão. Finalmente, o
bursicon regula o endurecimento e o escurecimento da nova cutícula (Figura 4.9).
As interações do hormônio juvenil (em diferentes concentrações) com a ecdisona,
liberada da glândula pró-torácica, regulam a metamorfose dos insetos holometabólicos.
O inseto permanecerá como larva, enquanto a concentração do hormônio juvenil
permanecer alta. Quando o hormônio juvenil diminui sua concentração, a larva muda
para o estágio de pupa. A exposição ao frio induz a secreção de ecdisona, que, na
ausência do JH, levará a pupa ao estágio adulto (Figura 4.10).
Além de atuar na metamorfose, o hormônio juvenil (JH) tem um papel no controle da
reprodução dos insetos. Ele tem um efeito gonadotrópico nos ovários, sendo importante
para a maturação dos oócitos. Em alguns insetos a secreção ovariana de ecdisteróides
está sob controle do JH. Entretanto, o principal órgão alvo do hormônio juvenil é a
gordura corporal. Ele é responsável pela produção de proteínas vitelogeninas. O
desenvolvimento do ovo no mosquito Aedes depende de estímulos ambientais (comida e
eclosão), e também de três hormônios: o hormônio juvenil, o hormônio esteróide
(ecdisteróide) e o hormônio neurosecretor de desenvolvimento do ovo (EDNH). O
hormônio juvenil (JH) sintetizado pela corpora allata, promove o comportamento
alimentar e de cópula, o desenvolvimento do folículo e sensibilizará a gônada a
responder ao EDNH. Após a ingestão alimentar, o EDNH é liberado e estimula o ovário
a sintetizar ecdisona. A ecdisona induzirá a síntese de vitelogeninas a partir da gordura
corporal. O JH promoverá a captação de vitelogenina pelos oócitos (Figura 4.11).
AUTOAVALIAÇÃO:
1) Em invertebrados inferiores as neurosecreções estão envolvidas em que
processos fisiológicos?
2) Nos anelídeos poliquetas, a neurosecreção induz ao processo de epitóquia. O que
é epitóquia?
3) Nos caramujos pulmonados o hermafroditismo é muito comum. Descreva as
células e hormônios envolvidos na diferenciação sexual masculina e feminina.
4) O órgão Y dos crustáceos é uma glândula endócrina. Qual sua função
fisiológica?
5) O processo de muda nos crustáceos é caracterizado por diferentes fases. Cite as
fases e descreva o que acontece em cada uma.
6) Qual a diferença entre cromatóforos policromáticos e cromatossomas?
7) Diferencie insetos holometabólicos de hemimetabólicos.
8) Com relação ao desenvolvimento dos insetos, descreva:
Os diferentes tipos de hormônios, onde são produzidos e quais suas
funções.
Aula 5: O sistema endócrino nos vertebrados
Objetivos: Entender a evolução morfofuncional das diferentes glândulas endócrinas,
assim como conhecer a diversidade de funções de seus respectivos hormônios.
O desenvolvimento do sistema endócrino dos vertebrados pode ser imaginado a partir
de um ancestral hipotético. Existem três principais áreas que sofreram modificações
evolutivas no sistema endócrino dos vertebrados: o sistema nervoso (hipotálamo), o
intestino e os tecidos nefrogênicos. Em lampréias, há uma ampla distribuição de células
neurosecretoras. Entretanto, em vertebrados inferiores há poucos grupos destas células.
Na neurohipófise, encontramos um grupo de células neurosecretoras que produzem
neuro-hormônios peptídicos, como a ocitocina. Outro grupo de células neurosecretoras
localizadas no hipotálamo anterior controla as secreções de órgãos endócrinos epiteliais
(adenohipófise). Um terceiro grupo e células neurosecretoras formam a glândula pineal.
O quarto grupo de células neurosecretoras da região caudal da medula são as células de
Dahlgren presentes em elasmobrânquios e a urófise de peixes teleósteos. Analisando o
ancestral hipotético podemos observar que a neurohipófise se originou do assoalho
cerebral, já a adenohipófise da bolsa de Rathke. A maioria das glândulas endócrinas,
dos vertebrados, teve sua origem no intestino. Por outro lado, os tecidos nefrogênicos se
desenvolveram na glândula interrenal de vertebrados inferiores, ou no córtex da
glândula adrenal de mamíferos (Figura 5.1).
Ao longo da evolução surgiram glândulas novas: a glândula ultimobranquial de
elasmobrânquios e a glândula paratireóide dos teleósteos. Outras glândulas foram
extintas: a urófise que secreta urotensina em teleósteos e os corpúsculos de Stannius,
órgãos associados ao rim de teleósteos, e que secreta hipocalcina (reabsorção cálcio).
5.1) O eixo hipotálamo-hipófise
O hipotálamo integra a informação sensorial dos centros cerebrais superiores, e controla
as funções viscerais devido a secreções neuroendócrinas. Por outro lado, a hipófise
apresenta uma porção anterior (adenohipófise) e uma porção posterior (neurohipófise).
Há uma diversidade estrutural e organizacional da adeno e neurohipófise ao longo da
evolução filogenética (Figura 5.2).
5.1.1) A Neurohipófise
Os hormônios secretados pela neurohipófise são octapeptídeos. Os primeiros hormônios
identificados foram a vasopressina arginina e a ocitocina. Os octapeptídeos
denominados básicos têm função como antidiuréticos. Os octapeptídeos denominados
neutros apresentam função similar a ocitocina (Figura 5.3A). A ocitocina liberada pela
neurohipófise promove a contração das células mioepiteliais do útero e ejeção do leite.
Em síntese, as principais funções dos octapeptídeos são: como anti-diuréticos, na
contração uterina e ejeção leite (Figura 5.3B). Entre os vertebrados há uma grande
variedade na distribuição filogenética dos hormônios octapeptídeos básicos e neutros
(Figura 5.4). Em mamíferos adultos predomina a arginina vasopressina (AVP), em
porcos a lisina vasopressina (LVP) e o AVP, e em camundongos a vasopressina lisina
(LVP). A fenipressina é sintetizada em marsupiais. A arginina vasotocina (AVT) tem
diferentes funções nos vertebrados:
• Em Pássaros e répteis: antidiurético (diminui a taxa filtração glomerular).
• Em Anfíbios: promove a recaptação de água pela pele, diminui filtração,
aumenta a reabsorção tubular e diminui o fluxo urinário.
5.1.2) A adenohipófise
Os hormônios hipofisiotrópicos do hipotálamo regulam as secreções das células da
glândula adenohipófise (figura 5.5). Entre os hormônios sintetizados pela adenohipófise
podemos citar:
• Hormônio estimulador da tireóide (TSH)
• Hormônio estimulador do folículo (FSH)
• Hormônio luteinizante (LH)
• Hormônio do crescimento (GH)
• Prolactina
• Hormônio adrenocorticotrópico (ACTH)
O hormônio estimulador da tireóide tem sua ação primária sobre a glândula tireóide. Ele
promove a captação de iodo pela tireóide, a síntese de tireoglobulina e liberação de
tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). O TSH também induz aumento no tamanho e
número de células foliculares da tireóide.
Os hormônios gonadotrópicos, FSH e LH, têm suas ações restritas a poucas células
alvo. O FSH está envolvido primariamente com a gametogênese, e o LH com
esteroidogênese. Nas células de Sertoli dos testículos há receptor para FSH, o qual
promove o desenvolvimento do espermatozóide. Já o LH estimula as células de Leydig
a secretarem testosterona. No ovário, o FSH atua nas células granulosas induzindo a
secreção de estrógenos, já o LH atua nas células da Teca, promovendo a síntese de
andrógenos.
O hormônio do crescimento (GH) promove o crescimento em todos os vertebrados. Em
mamíferos, o GH induz a liberação de somatomedina pelo fígado, a qual promove a
proliferação celular nos discos epifisários dos ossos.
Nos vertebrados a prolactina exibe diferentes funções em processos, tais como: o
crescimento, o balanço hidroeletrolítico, e a reprodução (Figura 5.6). Esta diversidade
de funções ilustra a tendência dos hormônios adquirirem novas funções,
preferentemente que modificarem sua evolução estrutural. A prolactina tem
demonstrado um papel importante no crescimento, especialmente de jovens vertebrados.
Além disso, ela tem um papel relevante na troca água-sódio em anfíbios e répteis,
estimula a glândula nasal de pássaros e promove a retenção renal de sódio em
mamíferos. Os principais efeitos da prolactina na reprodução são: estimula a secreção
de muco na pele de peixes, de colostro em pássaros e leite em mamíferos.
O hormônio ACTH em mamíferos controla a secreção de glicocorticóides (cortisol,
cortisona, corticosteróides). Ele parece manter os níveis basais de hormônios esteróides
em todos os vertebrados, principalmente o cortisol nos peixes, a aldosterona nos
anfíbios e a corticosterona em répteis e pássaros. A secreção de ACTH é estimulada
pelo hormônio liberador de corticotropina (CRH), sendo que este pode ser inibido por
neurotransmissores, tais como, GABA e norepinefrina.
5.2) A glândula pineal
Os primeiros relatos sobre a glândula pineal descrevem que esta glândula era como uma
válvula que regulava o fluxo de espíritos e conhecimento para o cérebro. A partir de
experimentos nos quais extratos de glândula pineal de vaca promoviam clareamento de
girinos, se identificou que a pineal é a glândula responsável pela secreção da
melatonina.
Ao analisarmos o desenvolvimento filogenético da pineal, constatamos que a presença e
a estrutura do órgão pineal variaram muito entre os vertebrados. Além disso, sua função
que inicialmente era somente fotorreceptora evoluiu como neurosecretora (Figura 5.7).
A glândula pineal das lampréias, da maioria dos peixes, anfíbios e lagartos é formada
por células sensórias (pinealócitos) que são similares a fotorreceptores. Com a evolução
dos vertebrados inferiores para os superiores, a estrutura do pinealócito se modificou,
pois deixou de ser uma célula fotorreceptora que entrava em contato direto com o lúmen
da pineal (tipo aberta), para uma célula secretora sem função fotorreceptora, e sem
contato com o lúmen (tipo fechada).
Alguns vertebrados não apresentam o órgão pineal, tais como, crocodilos, bicho-
preguiça e tatu.
Em Ciclóstomos (lampréias, peixes bruxas), teleósteos, e girino, a melatonina tem um
papel no clareamento. Em aves a pineal responde diretamente à luz transmitida através
do crânio para o cérebro, influenciando o controle reprodutor associado ao fotoperíodo.
Em mamíferos, a pineal não só secreta melatonina, mas também AVP, AVT, e
hormônios hipofisotrópicos (TRH, LHRH, PIH, PRH). A pineal apresenta também as
seguintes funções: termoregulação, ação antigonodal, e em humanos regula os ritmos
circadianos.
Na maioria das espécies os ritmos diários são sincronizados com o ciclo fotoperiódico.
Estes ritmos são gerados pelo sistema circadiano, o qual é composto por um marcapasso
e outros sinais de saída. Nos vertebrados, a melatonina produzida pela glândula pineal é
um destes sinais do relógio biológico. A produção da melatonina é maior durante a noite
e diminui durante o dia.
As vias através das quais a informação fotoperiódica controla os ritmos tem sido
profundamente transformadas ao longo da evolução dos primeiros vertebrados até os
mamíferos. O controle de fotoperíodo é direto em peixes e rãs e indireto em mamíferos.
No primeiro caso, os sistemas circadianos são encontrados em células fotorreceptoras
do órgão pineal, retina e, possivelmente, cérebro, formando assim uma rede onde a
melatonina pode ser um sincronizador hormonal. Neste último, os três elementos de um
sistema circadiano estão distribuídos: as unidades fotorreceptoras estão nos olhos, os
relógios estão no núcleo supraquiasmático do hipotálamo, e as unidades produtoras de
melatonina estão nas células da glândula pineal.
5.3) A Adrenal
A glândula adrenal que está localizada próxima ao rim, estruturalmente está dividida em
duas regiões: a medula e o córtex. Estas áreas funcionam como duas glândulas. O córtex
produz hormônios esteróides os quais estão envolvidos na regulação de íons
(mineralocorticóides), glicose (glicocorticóides), reações inflamatórias (glicocorticóides) e
hormônios reprodutivos. Por outro lado, a medula da adrenal produz catecolaminas
(epinefrina, norepinefrina e dopamina). A medula da adrenal é composta por células
cromafins, as quais são derivadas da crista neural. Estas células são neurônios
modificados (sem axônios) do sistema nervoso autonômico simpático. Nos ciclóstomos,
as células cromafins estão associadas a veias da cavidade peritoneal e coração, mas nos
vertebrados superiores estão intimamente associadas aos rins. Em elasmobrânquios, há
agrupamentos de células cromafins ao longo da margem medial dos rins. Em teleósteos,
a região conhecida como “cabeça do rim” tem agrupamento de células cromafins, assim
como os anfíbios urodélicos. Em répteis, pássaros e mamíferos as células cromafins
estão intimamente associadas com tecidos corticosteroigênicos (córtex adrenal nos
mamíferos) (Figura 5.8).
5.4) A Glândula tireóide
A glândula tireóide e outras glândulas endócrinas (glândula ultimobranquial e glândula
paratireóide) se originaram embriologicamente das bolsas faríngeas. A tireóide é
composta de vários folículos. Cada folículo é formado por uma única camada de células
epiteliais que envolvem um espaço preenchido com material colóide. Em ciclóstomos,
os folículos estão distribuídos de forma independente, já em outros vertebrados os
folículos estão organizados formando um órgão (figura 5.9). As células epiteliais
absorvem iodo a partir do sangue e sintetiza a proteína, tireoglobulina. Como a
tireoglobulina não pode difundir para o sangue, a bomba de iodo transporta este íon para
dentro das células foliculares, e a enzima peroxidase é responsável por unir o iodo aos
resíduos de tirosina da tireoglobulina, o que resultará na formação dos hormônios
tiroxina (T4) e triiodotironina (T3).
A secreção destes hormônios é regulada pelo hormônio estimulante da tireóide (TSH) e
pelo hormônio liberador do TSH (TRH).
Em vertebrados, o hormônio T4 está envolvido na metamorfose de girinos, na erupção e
crescimento dos dentes, na deposição de pigmento na epiderme, na promoção de muda,
no desenvolvimento do sistema nervoso e intestino, na captação da glicose, vitamina A,
e galactose.
5.5) Pâncreas
As células das ilhotas pancreáticas de mamíferos são identificadas como agregados de
células secretoras que se derivaram a partir de células do tipo aberto (invertebrados) e
células em estágio intermediário fechado (ciclóstomos) (Figura 5.10).
As ilhotas de Langerhans do pâncreas são compostas por três diferentes tipos de células:
célula α (sintetiza glucagon), célula β (sintetiza insulina) e célula D (sintetiza
somatostatina) (Figura 5.11).
A insulina tem como principais funções: aumento da captação de glicose nas células do
fígado, músculo e tecido adiposo, estimula a glicogênese e a lipogênese no fígado e
tecido adiposo. O glucagon apresenta efeitos antagônicos aos da insulina; estimula a
glicogenólise no fígado e estimula a lipólise. Por outro lado, a somatostatina secretada
pelas células D pancreáticas inibe a secreção do hormônio do crescimento, e do
hormônio estimulante da tireóide (TSH); diminui a secreção de hormônios
gastrointestinais e diminui a liberação de glucagon e insulina.
AUTOAVALIAÇÃO:
1) Descreva as áreas que sofreram modificações evolutivas no sistema endócrino
dos vertebrados.
2) Como a arginina vasotocina (AVT) controla a diurese em anfíbios?
3) Quais as funções dos octapeptídeos neutros e básicos da neurohipófise?
4) A prolactina apresenta diferentes funções nos vertebrados. Cite três funções da
prolactina nos teleósteos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
5) Descreva a evolução morfológica e funcional dos pinealócitos nos vertebrados.
6) Em mamíferos, as células cromafins estão intimamente associadas ao córtex
adrenal. Esta associação tem alguma relevância fisiológica? Qual?
7) Quais são os principais fatores (moléculas ou substâncias) envolvidos na
formação de T3 e T4? Além de atuar no metabolismo, que outras funções o
hormônio T4 apresenta nos vertebrados?
8) Pelo fato das células das ilhotas pancreáticas terem evoluído do estado aberto
para o estado fechado, pode ter levado a uma modificação funcional das mesmas
ao longo da evolução?
Figura 1.1: Tipos de glândulas: exócrina e endócrina.
Figura 1.2: As células se comunicam por diferentes tipos de secreção.
Figura 1.3: Secreção salivar primária nas células acinares e sua modificação ao longo de
sua passagem pelas células ductais.
Figura 1.4: Regulação neural da secreção salivar.
Figura 1.5: Liberação do muco por exocitose.
Figura 1.6: Diferentes tipos de glândulas produtoras de seda em aranha de jardim (A. diadematus).
Figura 1.7: Polarização das etapas de síntese, armazenamento e secreção de proteínas.
Figura 1.8: Cálcio como mediador citoplasmático da secreção celular.
Figura 2.1: Produção, transporte e secreção de neurohormônios no órgão neurohemal.
Figura 2.2: Órgão neurohemal em moluscos gastrópodes (A) e sistema neuroendócrino
de mamíferos (B).
Núcleo arqueado (Sistema Pituitária)
GASTRÓPODES
A
B
MAMÍFEROS
Sistema Pituitária Posterior
Núcleo supraóptico e paraventricular
Plexo primário
Artéria
Veias portas
Pituitária
anterior
Plexo
secundário
Sistema eminência média
Plexo primário
Eminência
média
Pituitária posterior
Artéria Veia
Pituitária intermediária
Molusco
Túbulo
renal
Nervo periférico ou
conectivo
Tecido
conectivo CNS
Órgão alvo periférico
Figura 3.1: Experimento clássico de A.A. Berthold (1849), no qual ele demonstra a
importância dos testículos para o comportamento e desenvolvimento de características
sexuais masculinas.
Tabela 3.0: Hormônios com diferentes composições químicas.
Quadro 3.0: Glândulas endócrinas e seus hormônios.
Figura 4.1: Processo de troca de cutícula em Nematódeos induzida por neurosecreção.
Ecdise da Cutícula
Figura 4.2: Processo de epitóquia nos anelídeos poliquetas.
Figura 4.3 Sistema reprodutivo em caramujos pulmonados hermafroditas.
Epitóquia (nereídeos) Estolonização (silídeos)
Atóquia
imaturos
Epitóquia
reprodutivo
Sistema Reprodutivo Feminino
Sistema Reprodutivo Feminino
Sistema Reprodutivo Masculino
Sistema Reprodutivo Masculino
Fotoperíodo
MIH crescimento
ovoposição
Comportamento
de deposição ovo
vitelogênese
ovulação
DBH: hormônio corpo dorsal
OT: tentáculos ópticos
CDCH: hormônio caudo-dorsal
LL: lobo lateral
MIH: hormônio intergonadal
masculino
NSC: células neurosecretoras
Stylommatophora
Basommatophora
Figura 4.4: Sistemas neuroendócrino e endócrino de crustáceos.
Figura 4.5: Diferentes fases do ciclo da muda nos crustáceos.
Sistema endócrino clássico Sistema neuroendócrino
Órgão Y
Ovário
Glândula androgênica
Medula externa
Órgão X
Órgão pós- comissural
pedúnculo
óptico
Sisteman
ervoso
órgão Pericárdio
Glândula
sinus Poro sensório
Nervo motor nervo dorsal nervo motor
Órgão X gangliônico
cutícula
peso
Anecdíase
Ecdíase
Tempo
come
exoesqueleto
velho
Metecdíase Anecdíase
Proecdíase
Figura 4.6: Diferentes tipos de cromatóforos de crustáceos.
Figura 4.7: Padrão de desenvolvimento dos insetos: hemimetabólicos e holometabólicos.
Hemimetabólicos:
besouros, gafanhotos, grilos,
baratas, louva-deus
Holometabólicos:
moscas, borboletas, traças,
bicho-da-seda.
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda e pupa
Muda e
metamorfose Metamorfose
Adulto Adulto
4° Estágio
Ooteca e ovos Ovos
Desenvolvimento
Hemimetabólico
Desenvolvimento
Holomimetabólico
Figura 4.8: Hormônios envolvidos no desenvolvimento dos insetos.
Figura 4.9: Alterações da cutícula envolvidas nas mudas ao longo dos estágio de larva,
pupa e adulto.
Figura 4.10: Interações da ecdisona com diferentes concentrações do hormônio juvenil
na regulação da metamorfose em insetos holometabólicos.
Figura 4.11: Regulação hormonal do desenvolvimento do ovo no mosquito Aedes.
Alimenta
de sangue
Fator liberador ovariano
estimulação da célula folicular órgão alvo
Hôrmonio peptídico
ecdiesteróides hôrmonio esteróide
órgão alvo
Fator liberador
ácidos graxos
vitelogeninas
captação de oocitos
síntese de proteína
emergência
capacidade para responder
aos esteróides
endocitose mediada
por receptor
Figura 5.1: Ancestral hipotético que auxilia na compreensão do desenvolvimento do
sistema endócrino de vertebrados.
Figura 5.2: Árvore filogenética dos vertebrados mostrando a variedade na estrutura e
organização da adenohipófise e neurohipófise.
Complexo parietal e pineal
olho
Hipófise posterior
assoalho do cérebro
Bolsa de Rathke
Hipófise anterior e
intermediária
Endóstilo
Glândula
tireóide
regulação iônica
Paratireóide,
Glândula
ultimobranquial
Folículo de
Langerhans
Pâncreas
fígado
Linha genital
Esteróides sexuais
Medula espinhal
Notocorda
Interrenal rim urófise tecido cromafim
Figura 5.3: Estrutura química (A) e funções (B) dos hormônios octapeptídeos
neurohipofisários.
Figura 5.4: Distribuição filogenética dos hormônios octapeptídeos básicos e neutros.
A B
Anti-diurético
Contração uterina
uterina
Ejeção leite
uterina
Ocitocina +peptídeo básico
(AVT em feto de algumas
espécies)
Mamíferos
Arginina vasopresina
Lisina vasopresina, fenilpressina
AVT+Mesotocina
(Ocitocina em algumas espécies)
Aves répteis
Anfíbios
Peixes pulmonados
AVT+peptídeos neutros Peixes ósseos
isotocina
Tubarões
Valitocina
aspartocina
Raias
glumitocina
ciclóstomos Somente AVT
ocitocina
Figura 5.5: Hormônios tróficos do hipotálamo que regulam a secreção dos hormônios
adenohipofisários.
Figura 5.6: Diferentes funções da prolactina nos vertebrados.
Figura 5.7: Cladograma filogenético da glândula pineal em vertebrados
Elasmobrânquios
Arraia e cação Teleósteo
s
Anfíbios urodélicos
tritão
Anuros
ras e sapos
Lagartos Mamíferos
Aves
Figura 5.8: Diagrama esquemático para comparar as células cromafins ( corresponde a
medula da adrenal em mamíferos) e a glândula interrenal (corresponde ao córtex da
adrenal em mamíferos).
Figura 5.9: Morfologia da glândula tireóide de vários vertebrados e a estrutura e função
dos folículos na glândula tireóide de mamíferos.
Figura 5.10: Evolução morfológica das ilhotas de Langerhans.
Figura 5.11: Distribuição dos diferentes tipos de células das ilhotas pancreáticas.