Ensaios Históricos

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Ensaios Históricos Leopold Rod Beneficiamento primário batimento A cates de iniciar a manufatura do I ipel as fibras vegetais devem 4 r desagregadas mediante uma maceração seguida de um esmaga mento conseguido mediante bati mentos repetidos visando transfor mar as fibras vegetais numa massa polpa ou pasta celulósica que possa ser usada na formação de folhas de papel As operações de maceração e de batimento configuram sob a de nomi nação de beneficiamento pri rio um conjunto de atividades muito interdependentes ao ponto de que no último Ensaio His õríco não foi pos sível focalizar de uni modo especial a maceração das fibras sem mencio nar o batimento das mesmas 0 pre sente ensaio concentra sua atenção na operação de batimento propria menie dito mas devido à grande in terdependência acima mencionada não será possível deixar de apontar aqui a conveniente e usual maceração prévia daquelas partes dos vegetais onde as fibras se localizam Origens do batimento e dos tecnologias precursoras As origens do batimento se remon tam épocas muito antigas e sua presença nelas é registrada pelos his toriadores sob denominações diver sas e mediante verbos equivalentes tais como socar pisar ou pilar A ope ração também é citada com certa fre qüência nos relatos sobre polpação de frutas sobre pisamento de pêlos de animais para produzir panos de feltro sobre socaniento de grãos para farinha ou de sementes oleaginosas destinadas a produzir azeites As men ções que fazem referência a estas ati vidades precursoras do batimento estão registradas em áreas geografi camente muito esparsas e distantes entre si tais como as regiões centrais da China os altiplanos do Tibete e Nepal em diversas ilhas dispersas pelo Oceano Pacífico e nas regiões da América onde floresceram as civi lizações ameríndias Seja qual forem as suas origens parece evidente que o pisamenlo usa do para conseguir o feltrado das fi bras de o socamento de oleagino sas ea moagem de grãos influíram no desenvolvimento dos primitivos moinhos papeleiros com seus pilões baterias de maços ou rodas de Cabe aqui lembrar que as camadas de fibras celulósicas entrelaçadas eram de lialas sobre feltros de e coberta por outro feltro de sobre o qual L ra depositada unia outra ca mada ele fibras entrelaçadas e ainda úmidas As pilhas assim formadas pe las camadas alternadas de fibras celulósicas e panos de feltro eram seguidamente prensadas mediante uma grande prensa de rosca vertical cuja pressão espremia para fora a água das camadas celulósicas for çando seu esgotamento através dos panos de feltrada após o que aque las camada fibrosas com sua umi dade reduzida se apresentavam com uma resistência suficiente para poder ser secas ao ar e receber a de nominação de folhas de papel Esta sinibiose na linha de produção de papel deve ter propiciado uma apro ximação e familiaridade entre o papeleiro que utilizava os feltros e as tecnologias em uso na feitragem da 0 pré histórico martelamento manual ainda em uso A tecnologia mais antiga entre as diversas que a história menciona com relação ao batimento das fibras é pro vavelmente aquela que consiste num bater repetidamente e mediante um pau ou de madeira resistente so bre diversos feixes de fibras deitadas na superfície de unia pedra plana após ter sido previamente amolecidas por uma imersão em água tal como até hoje é produzida a tapa nas ilhas da Polinésia No preparo da tapa as camadas de fibras liberianas retira das da parte interna das cascas da arnoreira Broussonetia papyriJc ra Vera ou Mortís paI v rrJéra Linti são colocadas sobre uma pedra plana e batidas seguidamente mediante varas de carvalho ou martelos manuais Os martelos usados neste batimento apre sentam estrias protuberâncias pon iLidas ou perfis cortantes esculpido naquela face do seu cabeçote que é usada para socar as cascas filiroNw do material vegetal Tubo indica que o batimento é bem anterior ao 1 iiï manuais usados il i bina de ti Lun para socar as misturas de fibras de amoreira cor da velhas panos e tecidos mais ve lhos ainda visando a elaboração de polpas celulósicas destinadas à ma nufatura de folhas de papel Objetivos do batimento 0 martelarnento manual paciente mente repetido visava mediante a energia de seus múltiplas impactos mecânicos abrir e fragmentar a ca i nada externa de cutícula protetora das longas cadeias celulósicas que constituem as fibras líberianas E sa bido que estas fibras se encontram no floema ou entrecasca soldadas unias às outras e formando estruturas po liméricas resistentes a esforços de compressão de tração e de flexão de modo a poder manter simultanea mente eretas e flexíveis diversas par tes do vegetal tais como as raizes caules folhagem e os orgãos repro dutores 0 esmiuçamento destas es truturas fibrosas nas suas fibrilas fun damentais configura o objetivo prin cipal do beneficiamento primário e ao mesmo tempo fragmentar os res tos de casca ainda aderidas no floema assim permitindo seu destacamento das fibras para ser subseqüentemente eliminados 10 0 Papel Outubro 1444

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Ensaios HistóricosLeopold Rod

Beneficiamento primário batimento

Acatesde iniciar a manufatura do

Iipel as fibras vegetais devem4r desagregadas mediante umamaceração seguida de um esmagamento conseguido mediante batimentos repetidos visando transformar as fibras vegetais numa massapolpa ou pasta celulósica que possaser usada na formação de folhas depapel As operações de maceração ede batimento configuram sob a denomi nação de beneficiamento pri mârio um conjunto de atividades muitointerdependentes ao ponto de que noúltimo Ensaio Hisõríco não foi possível focalizar de uni modo especiala maceração das fibras sem mencionar o batimento das mesmas 0 presente ensaio concentra sua atençãona operação de batimento propriamenie dito mas devido à grande interdependência acima mencionadanão será possível deixar de apontaraqui a conveniente e usual maceraçãoprévia daquelas partes dos vegetaisonde as fibras se localizam

Origens do batimento e dostecnologias precursoras

As origens do batimento se remontam há épocas muito antigas e suapresença nelas é registrada pelos historiadores sob denominações diversas e mediante verbos equivalentestais como socar pisar ou pilar A operação também é citada com certa freqüência nos relatos sobre polpaçãode frutas sobre pisamento de pêlosde animais para produzir panos defeltro sobre socaniento de grãos parafarinha ou de sementes oleaginosasdestinadas a produzir azeites As menções que fazem referência a estas atividades precursoras do batimentoestão registradas em áreas geograficamente muito esparsas e distantes

entre si tais como as regiões centraisda China os altiplanos do Tibete eNepal em diversas ilhas dispersaspelo Oceano Pacífico e nas regiõesda América onde floresceram as civi

lizações ameríndiasSeja qual forem as suas origens

parece evidente que o pisamenlo usado para conseguir o feltrado das fibras de lã o socamento de oleaginosas e a moagem de grãos influíramno desenvolvimento dos primitivosmoinhos papeleiros com seus pilõesbaterias de maços ou rodas de móCabe aqui lembrar que as camadasde fibras celulósicas entrelaçadaseram de lialas sobre feltros de lã e

coberta por outro feltro de lã sobreo qual Lra depositada unia outra camada ele fibras entrelaçadas e aindaúmidas As pilhas assim formadas pelas camadas alternadas de fibras

celulósicas e panos de feltro eramseguidamente prensadas medianteuma grande prensa de rosca verticalcuja pressão espremia para fora aágua das camadas celulósicas forçando seu esgotamento através dospanos de lã feltrada após o que aquelas camada fibrosas com sua umi

dade reduzida já se apresentavamcom uma resistência suficiente parapoder ser secas ao ar e receber a denominação de folhas de papel Estasinibiose na linha de produção depapel deve ter propiciado uma aproximação e familiaridade entre opapeleiro que utilizava os feltros eas tecnologias em uso na feitragemda lã

0 préhistórico martelamentomanual ainda em uso

A tecnologia mais antiga entre asdiversas que a história menciona comrelação ao batimento das fibras é pro

vavelmente aquela que consiste numbater repetidamente e mediante umpau ou pá de madeira resistente sobre diversos feixes de fibras deitadas

na superfície de unia pedra planaapós ter sido previamente amolecidaspor uma imersão em água tal comoaté hoje é produzida a tapa nas ilhasda Polinésia No preparo da tapa ascamadas de fibras liberianas retira

das da parte interna das cascas daarnoreira Broussonetia papyriJc raVera ou Mortís paI vrrJéra Linti sãocolocadas sobre uma pedra plana ebatidas seguidamente mediante varasde carvalho ou martelos manuais Os

martelos usados neste batimento apresentam estrias protuberâncias poniLidas ou perfis cortantes esculpidonaquela face do seu cabeçote que éusada para socar as cascas filiroNwdo material vegetal

Tubo indica que o batimento é bemanterior ao 1iiï manuais já usadosili bina de tiLun para socar asmisturas de fibras de amoreira cor

da velhas panos e tecidos mais velhos ainda visando a elaboração depolpas celulósicas destinadas à manufatura de folhas de papel

Objetivos do batimento0 martelarnento manual paciente

mente repetido visava mediante aenergia de seus múltiplas impactosmecânicos abrir e fragmentar a cainada externa de cutícula protetoradas longas cadeias celulósicas queconstituem as fibras líberianas E sa

bido que estas fibras se encontram nofloema ou entrecasca soldadas unias

às outras e formando estruturas poliméricas resistentes a esforços decompressão de tração e de flexão demodo a poder manter simultaneamente eretas e flexíveis diversas partes do vegetal tais como as raizescaules folhagem e os orgãos reprodutores 0 esmiuçamento destas estruturas fibrosas nas suas fibrilas fun

damentais configura o objetivo principal do beneficiamento primário eao mesmo tempo fragmentar os restos de casca ainda aderidas no floema

assim permitindo seu destacamentodas fibras para ser subseqüentementeeliminados

10 0 PapelOutubro 1444

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Para melhor visualizar os objetivos do batimento e seus resultados

cabe lembrar que a morfologia dasparedes celulares mostra uma estrutura laminar formada por camadas defíbrilas orientadas paralelamente e emdireções que diferenciam as camadas sucessivamente justapostas Permeando as microfibrilas pode serobservada unia matriz de substân

cia amorfa constituída predominantemente por ligninas e hemiceluloses A distribuição de substâncias cristalinas e amorfas na

estruturação laminar permite interpretar mais facilmente os resultados dos impactos mecânicos sobreas parede celulares

Essencialmente as paredes celulares podem oferecer dois tipos deresposta aos impactos mecânicos oprimeiro tipo consiste em partículasde tamanho relativamente pequenoformadas por fragmentos de fibrasou fibrilas que foram destacadas mecanicamente das paredes celulares osegundo fornece partículas maioresresultantes de uma delatninação dasparedes que provoca nestas últimasa formação de diversos tipos de rachaduras De dimensões variadas es

tas rachaduras podem representar desde fissuras na escala molecular até

fendas macroscópicas que facilitam adelaminação ou separação de camadas nas paredes das fibras celulósicas

As microfibrilas resultantes de

batimento mecânico apresentam um

Grau de Polimerização DP menorque o das fibras virgens Existem duashipóteses tentando explicar este fatoo material com baixo peso molecularse apresenta com unia fraca tendência a se aglomerar elou os impactosmecânicos causam cisões nas cadeias

poliméricas assim diminuindo o valor médio do tamanho molecular e

portanto um menor Grau de Polimerização Ambas parecem válidase compatíveis com o fato de o DPnão ser modificado pela operação desecagem

Importância do batimento nosetapas subseqüentes

Os impacto mecânicos adicionaisresultam em maior quantidade de partículas micelares que devido à grande superfície específica que elas apresentam aumentam a resistência à dre

nagem da suspensão destas fibrasAssim sendo estas microfibrilas se

apresentam com urna função importante tanto no entuniescimento das

fibras corno na secagern das folhasde papel após sua formação As fibras virgens obtidas por batimentoapresentam o maior índice de entumescimento sendo que este índicefica reduzido à metade após o secado Tudo parece indicar que acoesividade nas estruturas das paredes celulares diminui provavelmente devido a uma menor freqüênciadas interconexões entre as regiõescristalinas das cadeias celulósicas

0 PapelOutubro 1994

1 Pás de madeiracom entalhes

esculpidos2 Almofariz e mão

3 Pilão

4 Socador de grãosKaslimira

5 Moinho papeleirode maços italiano6 Pisão papeleiroromeno influência

da felíragem da W7 Moinho papeleirode maços usado emCapellades AnoiaCatalunha FabrianoAncona EstadosPontificais e Richard

de lias Ambert

Auvürgnel

mais propensas à desagregação emdecorrência dos impactos mecânicosDeve ser admitida também a hipótese de ocorrer uma degradação química localizada contribuindo na de

sagregação observada0 batimento mecânico visa por

tanto fragmentas as substâncias sólidas de origem orgânica que devido aseu elevado peso molecular e sua pouca solubilidade em água somente podem ser eliminadas das fibras peloarraste dos seus fragmentos em suspensão nas águas das sucessivas Iavagens Assim sendo a maceraçãodessas fibras e a sua lavagem comágua são duas operações que encontrainos repetidas vezes ao longo daevolução histórica do beneficiamentoprimário das fibras acompanhandosempre porém o batimento mecânico das mesmas Como mencionado

no início deste ensaio as duas operações se complementam nutuamenteno seu objetivo de limpar as fibrascelulósicas de algumas impurezas sóidas insolúveis mediante uma sus

pensão destas impurezas nas águasde lavagem ou lixiviação que simultaneamente eliminam os ingredientes solúveis nestas águas

A evolução histórica dobeneficiamento merece um

capítulo a parte0 jeito de bater as partes fibrosas

das plantas foi evoluindo à medidaque a manufatura de papel foi passando de um lugar a outro ao longodas rotas do comércio com pousosprolongados que muitas das vezescomportaram a introdução em cadaum deles de melhorias nos procedimentos operacionais ou nos instrumentos ferramental e equipamentosusados naquela localidade 0 desenvolvimento e subseqüente implementação destas inovações dependeuprincipalmente do nível cultural dashabilidades da imaginação e da criatividade dos artesãos locais A sua

difusão em novos países e em novoscontinentes propiciou um lento acumular de sucessivas e pequenas melhorias locais que configuraram umainteressante evolução tecnológica degrande importância para as manufacturas de papel como um todo

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