Ensino de Música para portadores de necessidades especiais: sugestões de estratégias pedagógicas...

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Daniel Lemos Cerqueira Universidade Federal do Maranhão – UFMA [email protected] O presente trabalho propõe o desenvolvimento de estratégias pedagógicas para portadores de necessidades especiais a partir dos “estilos de aprendizagem” propostos por Christopher Fisher. Há, ainda, breve levantamento bibliográfico sobre educação musical voltada a portadores de necessidades especiais. Conclusões apontam para a necessidade de incorporar tais conhecimentos em cursos para formação de professores de Música. Educação Musical, Inclusão Social, Necessidades Especiais, Metodologia de Ensino, Teoria de Aprendizagem. Uma das questões da Educação Musical que tem surgido ultimamente versa sobre o ensino de Música voltado a portadores de necessidades especiais. O levantamento bibliográfico no Brasil demonstrou já haver contribuições significativas, e entre elas temos Introdução à Musicografia Braille (2003) de Dolores Tomé, material instrucional sobre a musicografia braille; Educação Musical e Deficiência: propostas pedagógicas (2006) de Viviane Louro, que oferece idéias para estratégias metodológicas próprias a este fim; e Do toque ao som: ensino da musicografia Braille como um caminho para a educação musical inclusiva (2006), tese de Doutorado de Fabiana Bonilha, que trata da experiência da autora e o percurso de ensino da musicografia braille. Há ainda diversos programas de computador, entre eles o Musibraille (disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille), editor de partituras em musicografia Braille, e Braille Fácil (disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil), que oferece mais recursos para impressão de partituras em musicografia Braille. O levantamento mostrou ainda diversas instituições oferecendo cursos e grupos de estudo destinados à instrução musical para portadores de deficiências musicais, entre elas a Escola de Música da UFRN, Curso de Música da UFC, Departamento de Música da UEM, Escola de Música de Brasília, Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual (LAMARA) e o Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ. Embora nosso país já possua trabalhos e pesquisadores engajados nesta temática, há ainda um longo percurso a ser traçado até que se estabeleçam as condições ideais de ensino e 191

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CERQUEIRA, D. L. Ensino de Música para portadores de necessidades especiais: sugestões de estratégias pedagógicas elementares baseadas em Fisher (2010). In: Anais do VII Encontro Regional da ABEM Sudeste. Montes Claros: UNIMONTES, 2011, p.191-195.

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  • Daniel Lemos Cerqueira Universidade Federal do Maranho UFMA

    [email protected]

    !"# O presente trabalho prope o desenvolvimento de estratgias pedaggicas para portadores de necessidades especiais a partir dos estilos de aprendizagem propostos por Christopher Fisher. H, ainda, breve levantamento bibliogrfico sobre educao musical voltada a portadores de necessidades especiais. Concluses apontam para a necessidade de incorporar tais conhecimentos em cursos para formao de professores de Msica. $%&%'(% )*%'# Educao Musical, Incluso Social, Necessidades Especiais, Metodologia de Ensino, Teoria de Aprendizagem.

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    Uma das questes da Educao Musical que tem surgido ultimamente versa sobre o ensino de Msica voltado a portadores de necessidades especiais. O levantamento bibliogrfico no Brasil demonstrou j haver contribuies significativas, e entre elas temos Introduo Musicografia Braille (2003) de Dolores Tom, material instrucional sobre a musicografia braille; Educao Musical e Deficincia: propostas pedaggicas (2006) de Viviane Louro, que oferece idias para estratgias metodolgicas prprias a este fim; e Do toque ao som: ensino da musicografia Braille como um caminho para a educao musical inclusiva (2006), tese de Doutorado de Fabiana Bonilha, que trata da experincia da autora e o percurso de ensino da musicografia braille. H ainda diversos programas de computador, entre eles o Musibraille (disponvel em http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille), editor de partituras em musicografia Braille, e Braille Fcil (disponvel em http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil), que oferece mais recursos para impresso de partituras em musicografia Braille. O levantamento mostrou ainda diversas instituies oferecendo cursos e grupos de estudo destinados instruo musical para portadores de deficincias musicais, entre elas a Escola de Msica da UFRN, Curso de Msica da UFC, Departamento de Msica da UEM, Escola de Msica de Braslia, Associao Brasileira de Assistncia ao Deficiente Visual (LAMARA) e o Ncleo de Computao Eletrnica da UFRJ.

    Embora nosso pas j possua trabalhos e pesquisadores engajados nesta temtica, h ainda um longo percurso a ser traado at que se estabeleam as condies ideais de ensino e

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  • aprendizagem em nossas instituies, com o estabelecimento deste conhecimento nos cursos para formao de professores. Dessa forma, os principais problemas encontrados so:

    Despreparo de professores acerca desta temtica; Carncia de material didtico-instrucional especfico; Falta de infraestrutura adequada.

    Por muitas vezes, as instituies no possuem tcnicos especialistas para auxiliar nesta questo, e professores podem no dispor de tempo necessrio para o desenvolvimento material didtico apropriado. Ainda, devido forma emotiva com que diversos indivduos tratam a presente temtica, acaba por se responsabilizar de forma injusta pessoas que teriam grande engajamento em contribuir.

    Diante deste fato, o presente trabalho prope um breve referencial terico baseado na teoria de Aprendizagem proposta por Christopher Fisher (2010) que possa servir para a definio imediata de estratgias pedaggicas voltadas a portadores de necessidades especiais.

    Fisher (2010, p.39-42), ao introduzir uma teoria de aprendizagem aplicada ao ensino coletivo de Piano, classifica os tipos de informaes utilizadas no ensino de Msica. So elas:

    Visual;

    Auditiva; Cinestsica e ttil;

    Em seguida, o autor afirma que cada indivduo tende a priorizar um tipo de informao, devido a suas preferncias cognitivas, fato denominado estilo de aprendizagem (FISHER, 2010, p.39). Assim, o autor ilustra caractersticas apresentadas por estudantes que tendem a priorizar cada tipo de informao (FISHER, 2010, p.40):

    Visual: preferem leitura musical, leitura primeira vista, observao de demonstraes do professor ao instrumento, apreciam leitura de textos e possuem dificuldades em memorizar;

    Auditiva: valorizam percepo e ateno sonoridade, preferncia por tirar de ouvido uma msica, dificuldade na leitura com omisso de elementos indicados;

    Cinestsica e ttil: apresentam rtmica internalizada (eurritmia), preferncia por realizar a passagem musical no instrumento, aprecia atividades que exigem movimentao.

    Como proposta para otimizao do ensino musical, sugere-se que o professor procure abordar os trs tipos de informao durante uma explicao. Assim, Fisher (2010, p.40)

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  • exemplifica uma situao onde o professor pode diversificar as formas de transmisso do conhecimento. Ao ensinar colcheias, o professor pode utilizar as seguintes estratgias:

    Auditiva: pedir para que os alunos fechem os olhos, observando como o movimento de colcheias em um contexto musical qualquer;

    Cinestsica e ttil: criar atividades que propiciem a compreenso desta figura rtmica a partir de movimentos corporais (cantar, bater palmas, danar, andar, etc.), sentindo a pulsao;

    Visual: Apresentar a forma tradicional de notao da colcheia, alternativamente demonstrando sua proporo em relao a outras figuras rtmicas;

    Aplicando estas idias no ensino de Msica para portadores de necessidades especiais, possvel desenvolver estratgias de ensino que contemplem os tipos de informaes captados pelo mecanismo sensorial do aprendiz. O professor deve, ainda, considerar infraestrutura e recursos disponveis para a aplicao.

    A seguir, haver a proposio de estratgias para tipos de necessidades especiais que envolvam a perda de determinados aspectos do sistema sensorial no caso as deficincias visual ou auditiva.

    Estratgias de informao auditiva: transmitir contedo verbalmente, utilizar sistema de avaliao oral (gravando, se possvel), trabalhar com sonoridade, desenvolver a audio crtica (FISHER, 2010, p.124), tirar msicas de ouvido e utilizar programas de computador para leitura de livros digitalizados (e-books);

    Estratgias de informao cinestsica e ttil: realizar atividades que trabalhem o corpo (canto, palmas, gestos, etc.), internalizao da rtmica (eurritmia) e trabalhar aspectos fisiolgicos da execuo instrumental1 (postura, articulao, sensao ttil dos tipos de toque, etc.). Recomenda-se, ainda, utilizar a grafia e a musicografia braille para que o estudante possa fazer suas prprias documentaes. Entretanto, devido pouca quantidade de material disponvel nestas caractersticas, fundamental a utilizao de estratgias auditivas que possuam este mesmo fim.

    Estratgias de informao visual (no caso de baixa viso): ampliao do material didtico impresso e utilizao de recursos de ampliao no computador.

    1 Soares (2006, p.453) e Louro (2011, p.2) afirmam que o ensino tradicional da Performance Musical, que foca o

    virtuosismo, no apropriado incluso social de portadores de necessidades especiais. Contudo, h diversos msicos portadores de necessidades especiais atuando na performancel, reforando a importncia deste campo. Assim, possvel que o professor de instrumento trabalhe dentro das possibilidades que se apresentam.

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  • Estratgias de informao cinestsica e ttil: realizar atividades que trabalhem o corpo associadas a informaes visuais (palmas, gestos, regncia, atividades de dana, etc.) e trabalhar aspectos fisiolgicos da execuo instrumental (postura, articulao, sensao ttil dos tipos de toque, etc.). Refora-se que a eurritmia fundamental neste processo, pois na ausncia de referncias auditivas, o principal aprendizado provm da internalizao do pulso, associada sensao ttil.

    Estratgias de informao visual: escrever no quadro todas as informaes tratadas, trabalhar leitura musical em notao tradicional e alternativa, oferecer textos para leitura, utilizar recursos tecnolgicos como projetor de imagens. H ainda a possibilidade de utilizao do manossolfa, desenvolvido por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e presente tambm no mtodo Kodly, onde gestos manuais remetem a notas musicais, de forma semelhante linguagem dos sinais.

    Estratgias de informao auditiva (para baixa audio): utilizao de equipamento de udio que possa prover a amplificao do som (aparelhos para surdez, no caso mais comum). Neste caso, possvel aplicar estratgias de ensino mais prximas das tradicionais.

    Apesar de breve e simples, espera-se que a proposta aqui apresentada contribua no provimento de solues mais urgentes, podendo ser aplicadas imediatamente em planejamentos de aulas. Certamente o tema proposto complexo e envolve maior investimento de tempo e recursos, contudo, nem sempre sero encontradas tais condies. Ainda, a formao tradicional de Msica inclusive as Licenciaturas no contempla de forma satisfatria esta temtica. Contudo, importante reforar que h pesquisadores engajados na soluo deste problema, reforando perspectivas futuras mais positivas. Ainda, de suma importncia orientar os portadores de necessidades especiais para que contribuam com elaborao de material didtico e desenvolvimento de estratgias pedaggicas, oferecendo as ferramentas necessrias para tal.

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  • BONILHA, Fabiana Fator Gouva. Do toque ao som: ensino da musicografia Braille como um caminho para a educao musical inclusiva. Tese de Doutorado. Campinas: CPG/IA/UNICAMP, 2006.

    BORGES, Antnio. Novas perspectivas para a incluso de deficientes visuais na msica. Entrevista realizada por Silvestre Gorgulho. Disponvel em http://apadev.org.br/pages/ workshop/Musibraille.pdf, ltimo acesso em 15/04/2011.

    FISHER, Christopher. Teaching Piano in Groups. Nova York: Oxford University Press, 2010.

    LOURO, Viviane. Educao Musical e Deficincia: propostas pedaggicas. Edio do autor: So Jos dos Campos, 2006.

    _____________. Educao Musical e Deficincia: quebrando os preconceitos. Disponvel em http://www.musicaeinclusao.com.br/xmedia/artigos/Educacao_musical_e_deficiencia_quebrando_os_preconceitos.pdf, ltimo acesso em 15/04/2011.

    SOARES, Lisbeth. Msica e deficincias: propostas pedaggicas para uma prtica inclusiva. Revista Brasileira de Educao Musical, vol. 12 n 3. Marlia, set-dez 2006, p.453-454.

    TOM, Dolores. Introduo Musicografia Braille. So Paulo: Global, 2003.

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