Entrevista A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato · 2016. 7. 1. · engenheiro, com três...

3
8| 01 de Julho de 2016 www.construir.pt Engenharia Entrevista D.R. P ara Carlos Mineiro Aires, o cri- tério de adjudicação ao preço mais baixo, patente no Código da Contratação Pública conduz a uma depreciação dos salários dos enge- nheiros e a situações de "dumping". Ao Construir, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, que pre- side também ao World Council of Civil Engineers, assegura que o en- sino da engenharia tem uma exce- lente qualidade e que a profissão de engenheiro é “crucial” para as- segurar o desenvolvimento futuro de Portugal Como analisa o actual para- digma da engenharia no país? O paradigma do ensino da enge- nharia e da profissão dos engenhei- ros alterou-se significativamente. Vamos primeiro ao ensino, desde logo com Bolonha, que colocou dois níveis de ensino, com graus de três e de cinco anos. Para o exercício de determinadas áreas de engenharia, três anos é suficiente mas, para ou- tros, não são qualificações suficien- tes. Não podemos pensar que um engenheiro, com três anos de for- mação, tem capacidade para calcu- lar um grande edifício, uma ponte ou uma estrutura mais complexa, porque não tem. A Ordem soube responder a este novo paradigma e hoje admite licenciados que, nos es- tatutos, estão com o nível E1, e ad- mite os mestrados, com nível E2 - as pessoas com cinco anos de forma- ção. Diga-se que, nos acordos inter- nacionais que temos firmados, só são admitidos engenheiros com cinco anos de formação. Acomodá- mos na Ordem, os engenheiros com a licenciatura pós-Bolonha e temos pensada a forma para que estes pos- sam depois passar de nível E1 para nível E2 através de experiência pro- fissional e formação contínua. Mas, se for através de evolução acadé- mica, essa passagem é mais directa e mais racional. Entretanto foi criada uma ordem paralela, a Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET) que, com o estatuto novo, pode admitir os mesmos profissio- nais. Isto é uma situação absoluta- mente inacreditável, bizarra, inqualificável, porque não faz sen- tido haver, numa mesma área, duas ordens profissionais, que admitem pessoas com as mesmas qualifica- ções académicas e profissionais. Isto não faz sentido nenhum, portanto, nós somos muito claros em relação a isto: desde o momento em que passámos a admitir todos, não há razão nenhuma para que não se ins- crevam aqui. Temos as quotas mais baratas, uma história e imagem de referência - é um facto que a socie- dade olha para a Ordem dos Enge- nheiros como a referência da engenharia. Portanto, é natural que, com este entendimento, haja um na- tural fluxo dos membros para a Ordem dos Engenheiros e é isso que pretendemos. É um problema que o tempo se encarregará de resolver por si próprio. A seguir, tivemos a questão da crise económica, não Em entrevista ao Construir, o recém-eleito bastonário da Ordem dos Engenheiros deixa a previsão de que um novo ciclo económico chegará eventualmente ao país e, nessa altura, Portugal poderá ter de importar servi- ços de engenharia, e revela também a sua ambição de rejuvenescer a associação profissional que lidera "A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato" portuguesa mas europeia e mun- dial, que nos levou a depararmos com um problema que é a falta de emprego, um problema novo por- que estávamos habituados ao total emprego na designada "zona de conforto". Há aqui uma altura muito conturbada onde os salários subitamente baixam e isso tem uma consequência. Quando há concur- sos públicos, nomeadamente para projectos, prestação de serviços e etc, aparecem dezenas de empresas e, quando o critério é o preço, mer- gulham de cabeça e é óbvio que isso tem um reflexo nos salários. É uma situação de "dumping" e deve ser combatida. A própria lei devia pre- ver isso e, mais ainda, é até imoral e injusto que a lei permita que os sa- lários de técnicos qualificados este- jam abaixo de determinados níveis. Com isto tudo houve outra altera- ção, porque as pessoas habituaram- se a criar a ideia de que teriam de sair para o estrangeiro para arran- jar emprego. Há uma mudança de mentalidades, entretanto. Desde logo, os jovens procuram avida- mente fazer Erasmus, que é a pri- meira abertura que têm para contactarem com realidades novas, com outros países e outras pessoas. Hoje, o espírito desses jovens tam- bém já não está tão fechado como estava antigamente, no sentido de permanecerem nos seus países. Ob- viamente que a última coisa que de- sejo é que alguém tenha de sair do país, mas se alguém tiver de sair do país, que volte. Por outro lado, há uma nova realidade: efectivamente, o mercado não acomoda a produ- ção de licenciados e mestrados que actualmente decorre. Mas não aco- moda hoje e corremos o risco muito grande de termos que importar en- genheiros no futuro próximo. Se a economia voltar a alavancar, haverá empregos. Aliás, segundo vários in- dicadores e observatórios, como o do Instituto Superior Técnico, apon- tam para uma empregabilidade quase a 100% na área da engenha- ria. No campo da engenharia civil, que será aquela área que, se calhar, Pedro Cristino [email protected] Carlos Mineiro Aires bastonário da Ordem dos Engenheiros

Transcript of Entrevista A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato · 2016. 7. 1. · engenheiro, com três...

Page 1: Entrevista A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato · 2016. 7. 1. · engenheiro, com três anos de for-mação, tem capacidade para calcu-lar um grande edifício, uma ponte

8 | 01 de Julho de 2016

www.construir.ptEngenharia

Entrevista

D.R

.

Para Carlos Mineiro Aires, o cri-tério de adjudicação ao preço

mais baixo, patente no Código daContratação Pública conduz a umadepreciação dos salários dos enge-nheiros e a situações de "dumping".Ao Construir, o bastonário daOrdem dos Engenheiros, que pre-side também ao World Council ofCivil Engineers, assegura que o en-sino da engenharia tem uma exce-lente qualidade e que a profissãode engenheiro é “crucial” para as-segurar o desenvolvimento futurode Portugal

Como analisa o actual para-digma da engenharia no país?

O paradigma do ensino da enge-nharia e da profissão dos engenhei-ros alterou-se significativamente.Vamos primeiro ao ensino, desdelogo com Bolonha, que colocou doisníveis de ensino, com graus de três ede cinco anos. Para o exercício dedeterminadas áreas de engenharia,três anos é suficiente mas, para ou-tros, não são qualificações suficien-tes. Não podemos pensar que umengenheiro, com três anos de for-mação, tem capacidade para calcu-lar um grande edifício, uma ponteou uma estrutura mais complexa,porque não tem. A Ordem souberesponder a este novo paradigma ehoje admite licenciados que, nos es-tatutos, estão com o nível E1, e ad-mite os mestrados, com nível E2 - aspessoas com cinco anos de forma-ção. Diga-se que, nos acordos inter-nacionais que temos firmados, sósão admitidos engenheiros comcinco anos de formação. Acomodá-mos na Ordem, os engenheiros coma licenciatura pós-Bolonha e temospensada a forma para que estes pos-sam depois passar de nível E1 paranível E2 através de experiência pro-fissional e formação contínua. Mas,se for através de evolução acadé-mica, essa passagem é mais directae mais racional. Entretanto foicriada uma ordem paralela, a

Ordem dos Engenheiros Técnicos(OET) que, com o estatuto novo,pode admitir os mesmos profissio-nais. Isto é uma situação absoluta-mente inacreditável, bizarra,inqualificável, porque não faz sen-tido haver, numa mesma área, duasordens profissionais, que admitempessoas com as mesmas qualifica-ções académicas e profissionais. Istonão faz sentido nenhum, portanto,nós somos muito claros em relaçãoa isto: desde o momento em quepassámos a admitir todos, não há

razão nenhuma para que não se ins-crevam aqui. Temos as quotas maisbaratas, uma história e imagem dereferência - é um facto que a socie-dade olha para a Ordem dos Enge-nheiros como a referência daengenharia. Portanto, é natural que,com este entendimento, haja um na-tural fluxo dos membros para aOrdem dos Engenheiros e é isso quepretendemos. É um problema que otempo se encarregará de resolverpor si próprio. A seguir, tivemos aquestão da crise económica, não

Em entrevista ao Construir, o recém-eleito bastonário da Ordem dos Engenheiros deixa a previsão de que umnovo ciclo económico chegará eventualmente ao país e, nessa altura, Portugal poderá ter de importar servi-ços de engenharia, e revela também a sua ambição de rejuvenescer a associação profissional que lidera

"A Ordem dos Engenheirosnão é um sindicato"

portuguesa mas europeia e mun-dial, que nos levou a depararmoscom um problema que é a falta deemprego, um problema novo por-que estávamos habituados ao totalemprego na designada "zona deconforto". Há aqui uma alturamuito conturbada onde os saláriossubitamente baixam e isso tem umaconsequência. Quando há concur-sos públicos, nomeadamente paraprojectos, prestação de serviços eetc, aparecem dezenas de empresase, quando o critério é o preço, mer-gulham de cabeça e é óbvio que issotem um reflexo nos salários. É umasituação de "dumping" e deve sercombatida. A própria lei devia pre-ver isso e, mais ainda, é até imoral einjusto que a lei permita que os sa-lários de técnicos qualificados este-jam abaixo de determinados níveis.Com isto tudo houve outra altera-ção, porque as pessoas habituaram-se a criar a ideia de que teriam desair para o estrangeiro para arran-jar emprego. Há uma mudança dementalidades, entretanto. Desdelogo, os jovens procuram avida-mente fazer Erasmus, que é a pri-meira abertura que têm paracontactarem com realidades novas,com outros países e outras pessoas.Hoje, o espírito desses jovens tam-bém já não está tão fechado comoestava antigamente, no sentido depermanecerem nos seus países. Ob-viamente que a última coisa que de-sejo é que alguém tenha de sair dopaís, mas se alguém tiver de sair dopaís, que volte. Por outro lado, háuma nova realidade: efectivamente,o mercado não acomoda a produ-ção de licenciados e mestrados queactualmente decorre. Mas não aco-moda hoje e corremos o risco muitogrande de termos que importar en-genheiros no futuro próximo. Se aeconomia voltar a alavancar, haveráempregos. Aliás, segundo vários in-dicadores e observatórios, como odo Instituto Superior Técnico, apon-tam para uma empregabilidadequase a 100% na área da engenha-ria. No campo da engenharia civil,que será aquela área que, se calhar,

Pedro [email protected]

Carlos Mineiro Airesbastonário da Ordem dos Engenheiros

08-13_engenharia:Construir 2011 27-06-2016 20:35 Página 8

Page 2: Entrevista A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato · 2016. 7. 1. · engenheiro, com três anos de for-mação, tem capacidade para calcu-lar um grande edifício, uma ponte

10 | 01 de Julho de 2016

www.construir.ptEngenharia

Entrevista

no futuro próxima, fará mais falta,a empregabilidade média está nosseis meses.

À imagem do Técnico, as ou-tras universidades de referênciatêm registado procura pelosseus cursos de engenharia?

Na Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP) estáa acontecer o mesmo [que no Téc-nico]. Em Coimbra, como é do co-nhecimento público, a procura doscursos de engenharia civil baixoubrutalmente por parte de nacionais,pois continua a ter uma procuramuito grande por parte de estran-geiros. É curioso que, correndo umpouco pelas escolas, se assiste a umagrande procura pelos estudantes es-trangeiros para estas escolas, que é oque lhes permite sobreviver. Não hámal que sempre dure, nem bem quenão se acabe e, um dia destes, tere-mos, com certeza, as coisas a tende-rem para um novo equilíbrio. Agora,é importante salientar que, por es-tarmos a passar por problemas naempregabilidade dos nossos enge-nheiros, a última coisa que o paísdeve permitir é que se deixe de apos-tar na educação, na formação de en-genheiros e que se crie a falsa ideiade que é mau ser engenheiro. A pro-fissão de engenheiro é crucial parao desenvolvimento, crescimento eeconomia de qualquer país, por-tanto, isso seria um caminho perfei-tamente suicida. Há que continuara cativar os jovens, a mostrar a en-genharia como uma profissão da

maior imprescindibilidade paraqualquer país e - mais ainda - umaprofissão que, em muitos aspectos,tem uma responsabilidade socialinerente muito elevada. Portanto,não podemos, de forma algumapensar que, com um país que quercrescer e desenvolver-se pode abdi-car do ensino da engenharia.

Acha que a engenharia estámal vista, actualmente?

Não é isso. Tenho assistido, nasredes sociais, que são, hoje, a ferra-menta que os jovens têm para co-municarem entre si, a trocas demensagens onde se refere que há en-genheiros desempregados ou quetêm de ir para o estrangeiro traba-lhar. Aliás, é preciso vincar que osprincipais importadores de enge-nheiros portugueses não são os paí-ses da América do Sul ou de África.É a Europa - Reino Unido, em pri-meiro lugar, depois Dinamarca, No-ruega, Holanda e Alemanha. Oprincipal destino dos engenheirosportugueses é a Europa e, com astransportadoras aéreas “low cost”,estão a 50 euros de casa. Criou-se aideia de que, por um lado, ir paraengenharia envolve dificuldade emencontrar emprego. É falsa. Poroutro lado, não se diz o mesmo daarquitectura, que tem um nível dedesemprego muito maior, ou dos li-cenciados em Direito, que tem umnível de desemprego também muitomaior. A engenharia tem uma visi-bilidade, enquanto profissão essen-cial no país, muito maior. A OE faz

uma grande aposta em divulgar aimportância da engenharia e doscursos de engenharia. Temos jovensde excelência, muito cobiçados,temos pessoas muito bem qualifica-das, pois os cursos têm, na generali-dade, qualidade, e, por isso, é que osengenheiros portugueses são procu-rados e cobiçados. Qualquer enge-nheiro que se dê ao trabalho de fazeruma formação complementar naárea da gestão fica com ferramentasque mais nenhum outro profissionalconsegue igualar.

Como caracteriza as bases pro-porcionadas pelo ensino da en-genharia no país?

A preparação de base da matemá-tica e da física proporciona uma gi-nástica mental e uma visão dosproblemas de que só mais tarde nosapercebemos.

Os jovens que vão para as uni-versidades poderão não ternoção dessa preparação, quelhes poderá abrir outros cami-nhos além da profissão de enge-nheiro?

A questão é bem colocada e esta-mos a fazer uma aposta junto do se-cundário para mostrar exactamenteaos estudantes o que é ser enge-nheiro. Há uma transversalidadenesta profissão que permite quequalquer engenheiro que se eviden-cie acabe, inevitavelmente, em luga-res de chefia, a fazer gestão. Mas eletem um “background” e a visão doque é a produção e, depois, a visão

do que é a gestão e isso dá uma ca-pacidade única de gerir unidadesprodutivas. Há de reparar que, àfrente de uma grande indústria, deum grande centro de produção, émuito raro não estar um engenheirocom formação complementar emgestão, porque um gestor, um eco-nomista, sozinho, tem dificuldadesem ter essa visão transversal dosproblemas que é inerente aos enge-nheiros.

Foi-lhe deixado um legado pe-sado?

Um legado pesado não é. Cadapessoa tem o seu estilo, a sua ma-neira de ser. O meu antecessor, oengenheiro Matias Ramos, talcomo o seu antecessor, o enge-nheiro Fernando Santo, têm o seuestilo, e eu tenho o meu. A nível daOrdem, sou uma pessoa com umaestrutura mental muito virada paraum princípio que é o de que as coi-sas devem funcionar sozinhas edevem ter organizações autoco-mandadas. Eu gosto muito de arru-mar as casas e uma das coisas quetenho em mente, agora no início, éarrumar a casa à minha maneira. AOrdem tem dois objectivos muitosimples que são servir os membrose regular a profissão e tem de estarpreparada para isso, com eficiênciae com capacidade para o fazer. Evi-dentemente que há uma série deprocedimentos e de obrigações quehoje temos e não podem ser descu-radas. Recordo que a OE tem hojeuma tutela política e administra-tiva, que é o senhor ministro dasInfra-estruturas, que está sujeita aauditorias do Tribunal de Contas eque, hoje, tem de cumprir regula-mentos que antigamente não eramhabituais aqui, como a questão doCódigo de Contratação Pública, océlebre CCP. Quando nos depara-mos com um cenário novo destes, éóbvio que o comportamento e aforma de organizar e ter a Ordemcontrolada e monitorizada têm queser outros. O legado, em si, é bom.Cada um teve a sua época. Tenhooutras ambições e visões, quenunca escondi. Obviamente queisto não são críticas ao passado, sãoapenas melhorias e retoques em re-lação ao caminho que a OE temvindo a percorrer. A OE tem umaboa imagem, a sociedade respeita-a e aos engenheiros e é nesse cami-nho que temos de continuar. Nãopodemos pensar que a Ordem éalgo que subitamente poderá cairnas mãos de alguém que, de um diapara o outro, destrói os 80 anos dehistória que completamos este ano.Quando se tem 80 anos e se assisteà evolução que têm tido a investi-

© h

elm

ert -

Fot

olia

.com

08-13_engenharia:Construir 2011 27-06-2016 20:35 Página 10

Page 3: Entrevista A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato · 2016. 7. 1. · engenheiro, com três anos de for-mação, tem capacidade para calcu-lar um grande edifício, uma ponte

01 de Julho de 2016 | 11

www.construir.pt Engenharia

gação, a ciência, a engenharia e astecnologias, é óbvio que a Ordemtem também de fazer esse percursoe adaptar-se paulatinamente. Umadas minhas grandes ambições é en-cher a Ordem de jovens. Quero-arejuvenescida, interventiva, queroque os jovens comecem a participarna sua vida desde estudantes, quepercebam porque a OE existe ecomo se podem servir dela e servi-la. Quero criar uma cadeia de pes-soas de excelência que serão quemtomará conta disto amanhã. Temoso dever de entregar a Ordem aquem vem a seguir cada vez melhordo que a encontrámos. É o que mecompete a mim fazer, e que osmeus antecessores também fize-ram. Em cada época há um passo eem cada pessoa uma maneira deestar e uma direcção. Admito quesou ambicioso em relação a deter-minados aspectos, mas não apontonada a quem me antecedeu porque,com certeza, fizeram o melhor, etambém lhe digo que, de qualquerforma, nos últimos seis anos, tam-bém estive envolvido na construçãoda Ordem.

Relativamente à tutela polí-tica, vê isto como um passo emfrente?

Sinceramente, não é um passo emfrente, nem um passo atrás. Se-gundo consta, era uma imposiçãoda “troika”. Em termos de inconve-nientes, só vejo um: há regulamen-tos da Ordem que antigamente eramautomaticamente aprovados pelaAssembleia de Representantes daOE e entravam em vigor e que,agora, depois de ir à Assembleia deRepresentantes, terão de ser homo-logados pela tutela. Se o acto de ho-mologar consistir em estar de

acordo com aquilo que a Assem-bleia, que é soberana e livrementeeleita pelos engenheiros, é para nósindiferente desde que sejam rápidose céleres a fazê-lo. Se o que se pre-tende é comentar e criticar os regu-lamentos que o Conselho Directivopropôs e que a Assembleia - o órgãomáximo da Ordem - aprovou, aí jáme questiono porque, na verdade, aregulação compete à Ordem, está-lhe delegada pelo próprio Estado eseria muito mau que os órgãos deEstado, neste caso o Governo, agar-rasse no lápis azul ou encarnado ecomeçasse a riscar aquilo que en-

tendemos ser essencial para fazer-mos a regulação. Não temos atitu-des corporativas, elitistas,pró-políticas ou contra governos.Queremos apenas ter as casas arru-madas e fazer, em condições, o queo Estado nos delegou sem pagar,que é a regulação da profissão. Épreciso que os cidadãos saibam quea Ordem nunca recebeu um cên-timo do orçamento geral do Estado.A única coisa que queremos é querespeitem as decisões que os nossosmelhores - os membros da Assem-bleia de Representantes - tomam.Quando se fala em homologar, paramim, é colocar uma assinatura, enão um contraditório ou uma dis-cussão do que está já aprovado.

E relativamente a vantagens?Ao termos uma tutela, isso devia

implicar uma proximidade no rela-cionamento [com o Governo]. Játive ocasião de falar por duas vezescom o senhor ministro das Infra-es-truturas e tudo indica que podere-mos ter um diálogo perfeitamenteassíduo e aberto, porque estamos cáé para ajudar e não para complicar.�

Entrevista

PUBLICIDADE

“A nível da Ordem, sou uma pes-soa com uma estrutura mentalmuito virada para um princípioque é o de que as coisas devemfuncionar sozinhas e devem terorganizações autocomandadas”

08-13_engenharia:Construir 2011 27-06-2016 20:36 Página 11