Entrevista Com Assistente Social Da Funac

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ENTREVISTA COM ASSISTENTE SOCIAL DA FUNAC – CJE (CENTRO DE JUVENTUDE E ESPERANÇA) ENTREVISTADA: LINDALVA PEREIRA Tem uns que ficam tendo assistência junto a família. Vão fazendo acompanhamento com psicólogo, assistente social, mas na família(em casa). Outros ficam no semi-interno, eles passam só a semana, parece que é até no Vinhais(o local onde eles ficam internados), e no final de semana em casa. E aqueles que comentem um delito mais grave, eles vão ficar internados, porque não se chama prisão, se chama.. é uma unidade sócioeducativa, lá eles não estão sendo punidos, estão sendo educados. E a questão da ressocialização, o que vocês fazem para eles se sentirem inseridos novamente na sociedade? Lá eles têm acompanhamento com psicólogo.. lá onde eu trabalho que é CJE(Centro de Juventude e Esperança).. lá na maiobinha, que é interno mesmo, eles ficam lá de seis meses à três anos[ai ela repetiu umas coisas que eu já coloquei anteriormente]. Eles estudam, eles fazem cerâmica, hip hop, curso de estofamento, curso de cinegrafia, têm escolarização lá dentro.. e para aqueles que já estão mais socializados, estudam numa escola próxima.(ao local onde eles estão internos) Qual o histórico, de modo geral, das famílias? Geralmente é de família desestruturada, pais separados, mães solteiras, têm muitos casos que já tem criminalidade na família.. o irmão(família numerosa) já cometeu algum delito.. o pai, normalmente é de família desestruturada. E também ver muito menino lá, adolescente do interior ou então daqui de São Luís, mas de periferias.. bairro como Liberdade, Anjo da Guarda, Vila Palmeira.. nesses bairros de periferias mesmo, mas a maioria é do interior. Vocês acompanham essa relação deles com a família? Não, esses que estão internos, não.. só quando a família vai fazer uma visita. Esse trabalho, não tem esse acompanhamento basicamente. Assim, vamos dizer.. Não é constante, mas se tiver necessidade, o pai é chamado, tem alguns pais que pedem acompanhamento com a psicóloga. Cada caso é um caso.. A família sendo a base de formação de um cidadão, a maior parcela de culpa é dela(por eles terem cometidos delitos)?

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Vida dos jovens infratores.

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ENTREVISTA COM ASSISTENTE SOCIAL DA FUNAC – CJE (CENTRO DE JUVENTUDE E ESPERANÇA)

ENTREVISTADA: LINDALVA PEREIRA

Tem uns que ficam tendo assistência junto a família. Vão fazendo acompanhamento com psicólogo, assistente social, mas na família(em casa). Outros ficam no semi-interno, eles passam só a semana, parece que é até no Vinhais(o local onde eles ficam internados), e no final de semana em casa. E aqueles que comentem um delito mais grave, eles vão ficar internados, porque não se chama prisão, se chama.. é uma unidade sócioeducativa, lá eles não estão sendo punidos, estão sendo educados.

E a questão da ressocialização, o que vocês fazem para eles se sentirem inseridos novamente na sociedade?

Lá eles têm acompanhamento com psicólogo.. lá onde eu trabalho que é CJE(Centro de Juventude e Esperança).. lá na maiobinha, que é interno mesmo, eles ficam lá de seis meses à três anos[ai ela repetiu umas coisas que eu já coloquei anteriormente]. Eles estudam, eles fazem cerâmica, hip hop, curso de estofamento, curso de cinegrafia, têm escolarização lá dentro.. e para aqueles que já estão mais socializados, estudam numa escola próxima.(ao local onde eles estão internos)

Qual o histórico, de modo geral, das famílias?

Geralmente é de família desestruturada, pais separados, mães solteiras, têm muitos casos que já tem criminalidade na família.. o irmão(família numerosa) já cometeu algum delito.. o pai, normalmente é de família desestruturada. E também ver muito menino lá, adolescente do interior ou então daqui de São Luís, mas de periferias.. bairro como Liberdade, Anjo da Guarda, Vila Palmeira.. nesses bairros de periferias mesmo, mas a maioria é do interior.

Vocês acompanham essa relação deles com a família?

Não, esses que estão internos, não.. só quando a família vai fazer uma visita. Esse trabalho, não tem esse acompanhamento basicamente. Assim, vamos dizer.. Não é constante, mas se tiver necessidade, o pai é chamado, tem alguns pais que pedem acompanhamento com a psicóloga. Cada caso é um caso..

A família sendo a base de formação de um cidadão, a maior parcela de culpa é dela(por eles terem cometidos delitos)?

Eu acho que não seja culpada, mas ela contribui.. porque uma família desestruturada onde a criança não tem limite, não tem compreensão, as vezes já mora num meio que contribui pra isso, tem todo um contexto..

Então, o que impulsiona eles a cometerem esses delitos, é a falta de estrutura na família?

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Em primeiro lugar, falta de estrutura na família..

Quais são os crimes mais comuns cometidos por esses jovens?

Homicídios, assaltos, latrocínio, estrupo. O que me choca é a naturalidade que eles falam desses crimes, eles te falam que mataram uma pessoa com a maior naturalidade do mundo..

Então eles são abertos a falar..

Se perguntar eles falam..

Como eles fizeram, por que eles fizeram..

A gente não é aconselhado, eu sou socioeducadora.. a gente não é aconselhado de perguntar para não criar descriminação, mas muitos falam pra gente com maior naturalidade..

Tem algum caso assim que a senhora pode falar pra gente? Um crime que “chocou” a senhora..

Me chocou um caso de um menino lá da Liberdade, tem 17 anos, ele já cometeu 5 homicídios, e é um menino assim de temperamento fácil de você lidar, de você conversar. Ele chega pra mim e pergunta.. “A senhora ta gostando do seu trabalho?”, “Ta tudo bem com a senhora?”. Ele é assim, até pra obedecer regra ele obedece. Eu fiquei chocada, um menino de 17 anos, de um temperamento.. assim, o primeiro contato que você tem com ele, é um menino até dócil, de repente, você fica sabendo que ele já cometeu 5 homicídios, eu fiquei chocada assim quando eu fiquei sabendo. Ele estrupou e matou a própria sobrinha, que era deficiente física, aos onze anos..Ele é um menino assim que tu não ver nenhuma reação dele. Ele é muito “trancadão”, ele fica todo tempo na defensiva, até mesmo porque ele é jurado de morte lá dentro.., os meninos lá, eles não perdoam o estrupo, se eles tiverem oportunidade de pegar, eles matam mesmo. Mas esse menino me chocou assim, ele é um enigma, tu não ver ele esboçar um sorriso, acho que pelo próprio medo que ele enfrenta ali. Me chocou assim, ele é um menino de baixa estatura, tem aparência de criançinha mesmo, não dá pra acreditar que ele é tão brutal, ao ponto de matar uma criança.

Se uma pessoa assim de fora, chegar lá pra conversar com eles, eles acham que essa pessoa tem preconceito por eles estarem lá?

Eu percebo assim, quando tu trata eles naturalmente, eles são bem acessíveis. Quando eu cheguei lá, dei a mão e perguntei ‘como é que tá?’, da maneira que tu trata ele com naturalidade, eles são mais receptíveis. Eles não são assim, de chegar e te amedrontar não, se você chegar e conversar com eles, eles conversam numa boa.

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Então eles estão lá para se ressocializar, para se educar, e entender por que eles não devem cometer mais esse crimes..

Exatamente. Até mesmo pra eles saberem que quando você infringe lei, tem conseqüências. Mas, ali eles não estão cumprindo pena, eles estão sendo ressocializados. Uma das primeiras coisas que eu aprendi, ali não é um cumprimento de pena, eles estão recebendo medidas socioeducativas, para voltar a conviver com a sociedade.