Entrevista exclusiva com Rita Dias

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BIBLIOTECAIPAM|Maio,2011 À conversa com... RitaAlmeidaDias SÓCIA-GERENTE DA SUSTENTARE, EMPRESA CONSULTORA ESPECIALIZADA EM RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA Mestre em Responsabilidade Corporava e Auditoria Social pela Universidade de Barcelona. Auditora SA 8000 e do sistema Lidera. Especializada em Estratégias de Susten- tabilidade, Diálogo com Stakeholders, Relatórios de Sustentabilidade e Cadeia de Valor. Lecciona a cadeira de “Business Ethics” no ISEG e “Captação de Recursos e Responsabilidade Social” na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecno- logias.

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Entrevista exclusiva da Biblioteca IPAM com Rita Dias

Transcript of Entrevista exclusiva com Rita Dias

BIBLIOTECAIPAM|Maio,2011

À conve r sa com . . . RitaAlmeidaDias

SÓCIA-GERENTE DA SUSTENTARE, EMPRESA

CONSULTORA ESPECIALIZADA EM RESPONSABILIDADE

SOCIAL CORPORATIVA

Mestre em Responsabilidade Corpora�va e Auditoria Social pela Universidade

de Barcelona.

Auditora SA 8000 e do sistema Lidera. Especializada em Estratégias de Susten-

tabilidade, Diálogo com Stakeholders, Relatórios de Sustentabilidade e Cadeia

de Valor.

Lecciona a cadeira de “Business Ethics” no ISEG e “Captação de Recursos e

Responsabilidade Social” na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecno-

logias.

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Tânia Mendes (T.M.): A Sustentare é uma empresa de consulto-

ria em Responsabilidade Social. São muitas as empresas a con-

tactá-los que se preocupam com questões de responsabilidade

social? Qual é, na sua opinião, a importância da consciencializa-

ção das empresas para esta questão?

Rita Dias (R.D.): Existe um ar�go recente do Michael Porter que

explica que a sustentabilidade pode e deve contribuir para a cria-

ção de valor accionista. O que pode acontecer de diversas formas.

Por um lado através da adopção de estratégias de eco eficiência

que conduzirão a uma diminuição de custos. Num edi:cio de es-

critórios, ou numa indústria de calçado, estudar a forma de con-

sumir recursos como energia, água ou gás poderá conduzir a uma

diminuição de custos relevante. Mas a criação de valor poderá

também acontecer pelo lado das receitas, com o desenvolvimen-

to de produtos ecológicos, ou com extensões de gama que inte-

gram o mindset da sustentabilidade. Neste campo, o exemplo do

Prius da Toyota, ou o aumento de vendas de produtos eficientes

da Philips, são casos de estudo interessantes. Por outro lado, a

sustentabilidade também pode contribuir para a sa�sfação dos

colaboradores. Existem estudos feitos que provam que as empre-

sas com prá�cas de responsabilidade social interna são organiza-

ções que têm uma maior capacidade de atrair e reter talento. E

estes são exemplos apenas de alguns dos factores. É importante

que as empresas percebam que hoje as suas responsabilidades já

não são apenas do foro económico. As empresas que vencerão

no futuro serão as organizações que melhor se souberem adaptar

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a um contexto de mercado que valoriza a responsabilidade das

empresas para com o ambiente e um comportamento é�co com

as partes interessadas da organização.

T.M.: O que podem as empresas fazer para apoiar a sociedade?

R.D.: Penso que vale a pena referir que, de uma forma genérica, a

génese de uma empresa responde a uma determinada necessida-

de. Nesse sen�do a empresa nasce para apoiar a sociedade atra-

vés da disponibilização de um produto ou serviço que a socieda-

de, ou parte dela, necessita. Por outro lado, a ac�vidade empre-

sarial, e as responsabilidades económicas daí decorrentes, trans-

portam uma relação posi�va da empresa para com a sociedade -

a criação de emprego, ou a contratação de fornecedores é disso

um exemplo. No entanto, o apoio das empresas à sociedade pode

estender-se para a área da responsabilidade corpora�va, também

designada responsabilidade social ou sustentabilidade. O impor-

tante aqui é desde já esclarecer que as acções assim denomina-

das se situam do domínio do voluntário. O que muitos podem

perguntar é por que é que as empresas devem alocar recursos ao

bem estar social, subs�tuindo –se ao estado e erodindo valor ac-

cionista? A dimensão social externa da sustentabilidade – o apoio

social – nasce da insuficiência da resposta do estado social aos

problemas da sociedade. Mas é também fruto do reconhecimen-

to de que nenhuma empresa poderá sobreviver numa sociedade

onde a ausência de saúde pública, educação, ou infra estruturas,

por exemplo, existam. O apoio da empresa à sociedade pode ser

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visto como uma compensação que esta faz aos recursos que a

sociedade lhe disponibilizou. Mas pode também ser entendido

como uma prá�ca win win, gerador de valor para a empresa e

para a sociedade. Quando a MicrosoE promove cursos informá�-

cos gratuitos para jovens, alocando tempo dos seus colaborado-

res, fá-lo não apenas por espírito de solidariedade, mas porque

pode ser importante cul�var o gosto pela informá�ca nos jovens,

potenciais futuros colaboradores e ou clientes da empresa. Quan-

do a Toyota desenvolveu o híbrido, não estava a pensar em resol-

ver sozinha o problema das alterações climá�cas. O que fez foi

reconhecer o contributo que poderia dar a esse problema ambi-

ental criando, simultaneamente, valor para o seu negócio.

T.M.: De que forma as prá5cas de sustentabilidade podem ser

integradas na gestão empresarial?

R.D.: No actual contexto económico que estamos a viver penso

que fará sen�do em pensar na integração da sustentabilidade co-

mo um factor de criação de valor. O importante, mas que nem

sempre acontece, é que os gestores tentem, antes de mais, com-

preender como é que a sustentabilidade se cruza com a sua ac�-

vidade empresarial, e como é que ela pode ajudar a organização a

criar valor de forma mais responsável. Se considerarmos as 3 di-

mensões da sustentabilidade – a económica, ambiental e social -

os eixos de actuação e as acções prioritárias de sustentabilidade

numa indústria alimentar, por exemplo, serão necessariamente

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diferentes das de uma empresa de telecomunicações. Diminuir os

impactes ambientais na indústria será muito mais relevante no

caso da indústria do que na empresa de telecomunicações. Por

isso diria que os gestores deveriam alocar recursos, em primeiro

lugar, ao que significa a sustentabilidade no seu sector de ac�vi-

dade. Este é um passo essencial para que depois possam desen-

volver uma estratégia que contribua para que as suas operações

sejam mais sustentáveis.

T.M.: Quais os bene7cios directos para o consumidor?

R.D.: O consumidor terá obviamente a ganhar com empresas que

incorporem a sustentabilidade de forma congruente na sua ac�vi-

dade core, pois poderá significar oferta de produtos ecológicos,

ou produtos com bene:cios sociais. Existem estudos onde o con-

sumidor atribui uma qualidade superior ao produto ecológico,

sobretudo em produtos frescos, estando disposto a pagar mais

por esse diferencial de qualidade. O mesmo acontece em produ-

tos de higiene e beleza, por exemplo. Julgo que o consumidor po-

de ter um papel determinante como agente de sustentabilidade,

se começar a penalizar nas suas opções de compra produtos ori-

undos de empresas menos responsáveis.

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T.M.: O crescimento económico da empresa con5nua a ser um

dos principais objec5vos das empresas. Associar-se a uma cau-

sa, a uma organização de solidariedade, promovendo assim a

sua imagem, é também uma boa estratégia de marke5ng da em-

presa para vender o seu produto/serviço?

R.D.: Penso que o desafio do marke�ng sustentável não se pode

esgotar no marke�ng de causas. Esse será apenas uma das áreas

de actuação. O marke�ng sustentável deve estudar o ciclo de vida

do produto, equacionar alterações mais ecológicas desde a maté-

ria-prima ao final de vida do produto. Deve ainda preocupar-se

com aspectos sociais da cadeia de valor, garan�ndo que o produ-

to é produzido de forma socialmente responsável, ie, por forne-

cedores que seguem os mesmos princípios de responsabilidade

social. Estudar formas de distribuição mais responsáveis, e desen-

volver estratégias de preços inclusivos e de valorização das pesso-

as são outros dos eixos que deverão fazer parte das preocupa-

ções do marke�ng sustentável. Se olharmos para as taxas de cres-

cimento do mercado LOHAS nos EUA, França, Alemanha, Reino

Unido ou mesmo Espanha penso que podemos afirmar que o

mercado verde e o green lifestyle são um tema inegociável para

as empresas.

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INFORMAÇÃO

A Sustentare é uma Consultora especializada em Res-

ponsabilidade Social Corpora�va criada em 2004. O

core business da Sustentare é a consultoria em Susten-

tabilidade.

Alguns serviços:

Think: Strategy & Awareness - Planos estratégicos,

Modelos de Governance, Análises de Benchmarking e

tendências, Sessões de Coaching;

Walk: Opera�ons & Technology - Suporte de proces-

sos de cer�ficação, Construção de Índices de Sustenta-

bilidade, Estratégias de diálogo com Stakeholders,

Construção Sustentável (BREEAM e LEED), Apoio no

âmbito da Lei da Responsabilidade Ambiental, etc.

Talk: Communica�on & Rela�onship - Elaboração de

Relatórios de Sustentabilidade; Design e Imagem de

Relatórios de Sustentabilidade.

Para mais informações: www.sustentare.pt