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Apesar de incentivar Dilma a dar seu testemunho sobre os anos na prisão, Nilmário Miranda afirma que desconhecia o depoimento dela POL ÍTICA ESTADO DE MINAS T E R Ç A - F E I R A , 1 9 D E J U N H O D E 2 0 1 2 5 Surpresa até para o companheiro de luta REPERCUSSÃO EL CLARÍN (ARGENTINA) Revelados novos detalhes sobre como Rousseff foi torturada na ditadura É sabido que a atual presidente foi presa pelos militares durante a ditadura, como uma jovem guerrilheira. Mas documentos divulgados pelo jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, adicionam um fato até então desconhecido: a estadia da presidente na prisão onde foi torturada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Até agora sabia-se que ela foi torturada em São Paulo e Rio de Janeiro. DIÁRIO DE NOTÍCIAS (PORTUGAL) Dilma sofreu torturas em três cidades diferentes De acordo com o Correio Braziliense eo Estado de Minas, ao ser questionada sobre a fuga de um ex-líder do grupo de esquerda Colina, no qual Rousseff militava, a atual presidente recebeu choques elétricos, socos no rosto e outras agressões. QUOTIDIANO (ITÁLIA) Brasil: imprensa revela tortura a Rousseff Os detalhes foram divulgados pelos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense com a Dilma em 2001: “O estresse é cruel, impensável. Eu descobri pela primeira vez que estava sozinha. Já enfrentei a morte e a solidão”, revela. ANSA (ITÁLIA) Brasil: imprensa revela tortura a Rousseff Espancamentos, choques elétricos e golpes no rosto que causaram graves danos na arcada dentária: são as torturas sofridas pelo presidente do Brasil, Dilma Rousseff, durante a ditadura militar (1964-1985). Os detalhes foram divulgados pelos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense. AGP (FRANÇA) Relato inédito mostra horror sofrido por Dilma Quando tinha 22 anos, a ex-guerrilheira Dilma Rousseff foi submetida pela ditadura militar a sessões de tortura que incluíam choques elétricos e socos que afetaram seu maxilar, segundo um relato da presidente divulgado pela imprensa. FOTOS: REPRODUÇÃO/INTERNET ALESSANDRA MELLO Responsável pela redação do ma- nifesto “Alerta à nação – eles que ve- nham, por aqui não passarão”, assina- do por quase 300 militares da reserva com críticas à Comissão da Verdade e ao ministro da Defesa, Celso Amorim, o general de quatro estrelas (patente máxima) Marco Antônio Felício da Sil- va, 74 anos, nega que tenha havido qualquer tipo de tortura nas depen- dências da 4ª Região do Exército em Juiz de Fora, Zona da Mata. Contrarian- do os relatos de diversos presos políti- cos, entre eles o da presidente Dilma Rousseff, ele assegura que todos que passaram pela divisão do Exército na cidade foram muito bem tratados. “Esse povo mente muito. Eu ser- vi em Juiz de Fora até meados de 1971 como oficial de informação (espécie de chefe do serviço de inteligência do Exército). Lá, inclusive, havia muitos presos políticos e ninguém foi tortu- rado. Pelo contrário. Todos os presos que passaram por lá foram muito bem tratados”, afirma o general, na época primeiro-tenente, que até hoje mora na cidade da Zona da Mata. A negativa do general contrasta com o depoimento da presidente que, em 2001, ainda secretária das Minas e Energia do governo gaúcho, relatou para o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais ter sido tor- turada não só no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde passou o maior tem- po presa, mas também em Juiz de Fo- ra. Segundo o relato de Dilma, a tortu- ra em Juiz de Fora “foi muito intensa”. “Pois não era presa recente. Não tinha pontos e aparelhos para entregar.” O general não se recorda da en- tão militante conhecida por Estela, co- dinome de Dilma Rousseff , mas se lembra bem de um dos companhei- ros de atuação da presidente durante o regime militar, Ângelo Pezzuti. Por causa de um bilhete escrito para Dil- ma por ele, na época o principal diri- gente do Comando de Libertação Na- cional (Colina) de Belo Horizonte, a presidente foi levada para Juiz de Fora para prestar depoimento. “O Ângelo Pezzutti esteve diretamente comigo e foi muitíssimo bem tratado lá (em Juiz de Fora). Jamais alguém fez qual- quer coisa contra ele nem fisicamen- te nem psicologicamente. Nunca vi ninguém tomar nem um tapa na ca- ra. Não houve essa história de tortura lá. Eu garanto.” O general alega que chegou in- clusive a ajudar muitos dos presos – “uns pobres coitados que não sa- biam o que era marxismo”. “Eu mes- mo arrumei advogado para alguns presos políticos porque achei que muitos deles eram uns pobres coita- dos, enganados por um tal de Flávio Tavares, um camarada inteligente, que conduziu esses pobres coitados ao infortúnio, muitos levados por ele a praticar assaltos sem saber o que estavam fazendo”, afirma o general se referindo ao jornalista Flávio Ta- vares, um dos presos políticos troca- dos pelo embaixador norte-america- no Charles Burke Elbrick, sequestra- do por organizações de esquerda em 1969, auge do regime militar. Para o general, toda essa história, revelada com exclusividade pelo Estado de Minas, veio à tona nestse momento para tentar dar fôlego para a Comissão da Verdade. “Por causa dessa comissão, agora todo mundo foi torturado, mas eles não contam o que fizeram. Houve tortura do outro lado. Não estou dizendo que houve tortura do nosso lado, mas do outro lado eu sei que houve”, diz o general, que afirma não se lembrar de quem comandava a seção do Exército em Juiz de Fora durante o tempo em que serviu na cidade. General nega tortura em Juiz de Fora “Faça o que você quiser com este va- lor da indenização, doe para uma insti- tuição ou jogue fora, sei lá, mas dê o seu depoimento. É importante”, disse Nil- mário Miranda, codinome Gustavo, à ex-companheira de militância em Be- lo Horizonte, a amiga Estela (Dilma). Ainda secretária das Minas e Energia do Rio Grande do Sul em 2001, Dilma esta- va reticente a entrar com pedido de re- paração às vítimas de tortura da comis- são mineira, que copiava o exemplo da comissão gaúcha, a primeira no país a reconhecer o direito à indenização. Me- ses depois, Minas sairia na frente com os pagamentos, por ordem expressa do então governador Itamar Franco. Dil- ma seria incluída no 12º lugar da pri- meira leva de 53 indenizados. “Depois disso, não voltei a conver- sar com Dilma sobre o assunto. Nem fi- quei sabendo que ela havia falado com a comissão mineira”, surpreendeu-se Nilmário, profundo conhecedor do passado da militância de esquerda no país e autor do livro Dos filhos deste solo, na segunda edição, que revela um a um os nomes dos 312 mortos e 163 desaparecidos na ditadura militar no Brasil. Ao todo, perto de 500 militantes políticos perderam a vida nos anos de chumbo, sendo 53 em Minas, do que é sabido até agora. Ao analisar os termos do depoimen- to pessoal, no original, Nilmário não es- conde o entusiasmo: “Está vendo como eu tinha razão? O material é histórico. Nunca soube dessa passagem dos den- tes (em que Dilma relata ter levado um soco na boca, que provocou desloca- mento da arcada dentária e o apodreci- mento de um dente)”, comentou o pe- tista, que recebeu a reportagem do EM no sábado passado, rodeado de netos em seu apartamento no Bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Agora que vem a público o depoi- mento de Estela, hoje presidente da Re- pública, Nilmário não acredita que Dil- ma faça um pronunciamento a respei- to: “Na condição de presidente, Dilma é também comandante-chefe das For- ças Armadas e precisa tomar um certo cuidado. Depois que ela se empenhou pessoalmente pela criação da Comis- são Nacional da Verdade (em maio), surgiu um movimento contrário vin- do dos porões dos clubes militares. Ela não pode dar margem para começa- rem a falar em revanchismo”, alerta. Conselheiro da Comissão da Anistia e presidente da Fundação Perseu Abra- mo, Nilmário está envolvido atual- mente com o caso do cabo Anselmo, agente duplo da repressão que admi- tiu ter entregado de 100 a 200 ex-cole- gas de farda e perseguidos políticos ao regime da ditadura, entre eles a mu- lher dele, grávida de 7 meses, Soledad Barret Viedma, que acabaria sendo morta. Cabo Anselmo entrou com pe- dido de indenização, como ex-militan- te. Em maio, a requisição foi negada por unanimidade, em processo relata- do por Nilmário. MEMÓRIAS Ex-ministro dos Direitos Humanos, o petista Nilmário Miranda militou com Dilma na época de estu- dante na capital mineira. “Conheci Dil- ma em 1965. Fomos colegas primeiro no Colégio Estadual Central e depois na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG. Éramos parte da Po- lop (Organização Revolucionária Mar- xista Política Operária) e daí nossos ca- minhos se separaram. Ela foi para o Co- lina e eu fui para o POC (Partido Ope- rário Comunista).” Nilmário chegou a ficar preso com o segundo marido de Dilma Carlos Araújo Paixão Linhares, o Max, no Pre- sídio Tiradentes (SP). “Por causa dele Dilma se mudou para o Rio Grande do Sul. Ela foi solta em fins de 1972 em São Paulo, mas ele ainda ficou preso mais um tempo. Ela foi para lá para poder fi- car visitando o Max na prisão”, relata. Nilmário lembra que Dilma, portanto, teria direito a receber a indenização em Minas, São Paulo e no Rio, onde no mês passado anunciou que iria doar a quantia de R$ 20 mil ao grupo Tortura Nunca Mais. “Já no Rio Grande do Sul ela não foi torturada”, comenta. Nilmário foi preso em 1970 e teve uma passagem pelo Presídio de Li- nhares, em Juiz de Fora. Como a com- panheira Dilma, foi encapuzado e le- vado para local por ele desconhecido, onde foi submetido a sessões de tor- tura. Neste momento da conversa, Nilmário baixa os olhos e muda de assunto. Parece ter dificuldade em re- lembrar o próprio tormento: “Era pau de arara, cadeira do dragão… (in- terrompe novamente a descrição). Mas não sofri tanto quanto a Dilma, porque ela era da luta armada e eu não. A tortura dela foi pior”. Acredito que Dilma não deve falar sobre a divulgação do depoimento. Na condição de presidente, ela é também comandante-chefe das Forças Armadas e precisa tomar um certo cuidado” Nilmário Miranda, ex-ministro LEIA AMANHÃ MAIS DETALHES SOBRE A TORTURA SOFRIDA POR DILMA EM MINAS Nunca vi ninguém tomar nem um tapa na cara. Não houve essa história de tortura lá. Eu garanto” Marco Antônio Felício da Silva, general GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS - 29/5/12 SANDRA KIEFER

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Apesar de incentivar Dilma a dar seu testemunho sobre os anos naprisão, Nilmário Miranda afirma que desconhecia o depoimento dela

POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 9 D E J U N H O D E 2 0 1 2

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Surpresa até para ocompanheiro de luta

❚❚ REPERCUSSÃO

EL CLARÍN (ARGENTINA)

Revelados novos detalhes sobre comoRousseff foi torturada na ditadura

É sabido que a atual presidente foi presa pelosmilitares durante a ditadura, como uma jovemguerrilheira. Mas documentos divulgados pelojornal Estado de Minas, de Belo Horizonte,adicionam um fato até então desconhecido: aestadia da presidente na prisão onde foitorturada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Atéagora sabia-se que ela foi torturada em SãoPaulo e Rio de Janeiro.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS (PORTUGAL)

Dilma sofreu torturasem três cidades diferentes

De acordo com o Correio Braziliense e o Estadode Minas, ao ser questionada sobre a fuga deum ex-líder do grupo de esquerda Colina, noqual Rousseff militava, a atual presidenterecebeu choques elétricos, socos no rosto eoutras agressões.

QUOTIDIANO (ITÁLIA)

Brasil: imprensarevela tortura a Rousseff

Os detalhes foram divulgados pelos jornaisEstado de Minas e Correio Braziliense com aDilma em 2001: “O estresse é cruel, impensável.Eu descobri pela primeira vez que estava sozinha.Já enfrentei a morte e a solidão”, revela.

ANSA (ITÁLIA)

Brasil: imprensarevela tortura a Rousseff

Espancamentos, choques elétricos e golpes norosto que causaram graves danos na arcadadentária: são as torturas sofridas pelo presidentedo Brasil, Dilma Rousseff, durante a ditaduramilitar (1964-1985). Os detalhes foramdivulgados pelos jornais Estado de Minas eCorreio Braziliense.

AGP (FRANÇA)

Relato inédito mostrahorror sofrido por Dilma

Quando tinha 22 anos, a ex-guerrilheira DilmaRousseff foi submetida pela ditadura militar asessões de tortura que incluíam choques elétricose socos que afetaram seu maxilar, segundo umrelato da presidente divulgado pela imprensa.

FOTOS: REPRODUÇÃO/INTERNET

ALESSANDRA MELLO

Responsável pela redação do ma-nifesto “Alerta à nação – eles que ve-nham, por aqui não passarão”, assina-do por quase 300 militares da reservacom críticas à Comissão da Verdade eao ministro da Defesa, Celso Amorim,o general de quatro estrelas (patentemáxima) Marco Antônio Felício da Sil-va, 74 anos, nega que tenha havidoqualquer tipo de tortura nas depen-dências da 4ª Região do Exército emJuiz de Fora, Zona da Mata. Contrarian-do os relatos de diversos presos políti-cos, entre eles o da presidente DilmaRousseff, ele assegura que todos quepassaram pela divisão do Exército nacidade foram muito bem tratados.

“Esse povo mente muito. Eu ser-vi em Juiz de Fora até meados de 1971como oficial de informação (espéciede chefe do serviço de inteligência doExército). Lá, inclusive, havia muitospresos políticos e ninguém foi tortu-rado. Pelo contrário. Todos os presosque passaram por lá foram muitobem tratados”, afirma o general, naépoca primeiro-tenente, que até hojemora na cidade da Zona da Mata.

A negativa do general contrasta

com o depoimento da presidente que,em 2001, ainda secretária das Minas eEnergia do governo gaúcho, relatoupara o Conselho de Defesa dos DireitosHumanos de Minas Gerais ter sido tor-turada não só no Rio de Janeiro e emSão Paulo, onde passou o maior tem-po presa, mas também em Juiz de Fo-ra. Segundo o relato de Dilma, a tortu-ra em Juiz de Fora “foi muito intensa”.“Pois não era presa recente. Não tinhapontos e aparelhos para entregar.”

O general não se recorda da en-tão militante conhecida por Estela, co-dinome de Dilma Rousseff , mas selembra bem de um dos companhei-ros de atuação da presidente duranteo regime militar, Ângelo Pezzuti. Porcausa de um bilhete escrito para Dil-ma por ele, na época o principal diri-

gente do Comando de Libertação Na-cional (Colina) de Belo Horizonte, apresidente foi levada para Juiz de Forapara prestar depoimento. “O ÂngeloPezzutti esteve diretamente comigoe foi muitíssimo bem tratado lá (emJuiz de Fora). Jamais alguém fez qual-quer coisa contra ele nem fisicamen-te nem psicologicamente. Nunca vininguém tomar nem um tapa na ca-ra. Não houve essa história de torturalá. Eu garanto.”

O general alega que chegou in-clusive a ajudar muitos dos presos –“uns pobres coitados que não sa-biam o que era marxismo”. “Eu mes-mo arrumei advogado para algunspresos políticos porque achei quemuitos deles eram uns pobres coita-dos, enganados por um tal de Flávio

Tavares, um camarada inteligente,que conduziu esses pobres coitadosao infortúnio, muitos levados por elea praticar assaltos sem saber o queestavam fazendo”, afirma o generalse referindo ao jornalista Flávio Ta-vares, um dos presos políticos troca-dos pelo embaixador norte-america-no Charles Burke Elbrick, sequestra-do por organizações de esquerda em1969, auge do regime militar.

Para o general, toda essa história,revelada com exclusividade peloEstado de Minas, veio à tona nestsemomento para tentar dar fôlego paraa Comissão da Verdade. “Por causadessa comissão, agora todo mundofoi torturado, mas eles não contam oque fizeram. Houve tortura do outrolado. Não estou dizendo que houvetortura do nosso lado, mas do outrolado eu sei que houve”, diz o general,que afirma não se lembrar de quemcomandava a seção do Exército emJuiz de Fora durante o tempo em queserviu na cidade.

General nega tortura em Juiz de Fora

“Façaoquevocêquisercomesteva-lor da indenização, doe para uma insti-tuiçãooujoguefora,sei lá,masdêoseudepoimento. É importante”, disse Nil-mário Miranda, codinome Gustavo, àex-companheira de militância em Be-lo Horizonte, a amiga Estela (Dilma).AindasecretáriadasMinaseEnergiadoRio Grande do Sul em 2001, Dilma esta-va reticente a entrar com pedido de re-paraçãoàsvítimasdetorturadacomis-são mineira, que copiava o exemplo dacomissão gaúcha, a primeira no país areconhecerodireitoàindenização.Me-ses depois, Minas sairia na frente comospagamentos,porordemexpressadoentão governador Itamar Franco. Dil-ma seria incluída no 12º lugar da pri-meira leva de 53 indenizados.

“Depois disso, não voltei a conver-sar com Dilma sobre o assunto. Nem fi-quei sabendo que ela havia falado coma comissão mineira”, surpreendeu-seNilmário, profundo conhecedor dopassado da militância de esquerda nopaís e autor do livro Dos filhos destesolo, na segunda edição, que revela uma um os nomes dos 312 mortos e 163desaparecidos na ditadura militar noBrasil. Ao todo, perto de 500 militantespolíticos perderam a vida nos anos dechumbo, sendo 53 em Minas, do que ésabido até agora.

Aoanalisarostermosdodepoimen-to pessoal, no original, Nilmário não es-condeoentusiasmo:“Estávendocomoeu tinha razão? O material é histórico.Nunca soube dessa passagem dos den-tes (em que Dilma relata ter levado umsoco na boca, que provocou desloca-mento da arcada dentária e o apodreci-mento de um dente)”, comentou o pe-tista, que recebeu a reportagem do EMno sábado passado, rodeado de netosem seu apartamento no Bairro SantoAntônio, em Belo Horizonte.

Agora que vem a público o depoi-mento de Estela, hoje presidente da Re-pública, Nilmário não acredita que Dil-ma faça um pronunciamento a respei-to: “Na condição de presidente, Dilmaé também comandante-chefe das For-ças Armadas e precisa tomar um certocuidado. Depois que ela se empenhoupessoalmente pela criação da Comis-são Nacional da Verdade (em maio),surgiu um movimento contrário vin-do dos porões dos clubes militares. Elanão pode dar margem para começa-rem a falar em revanchismo”, alerta.

Conselheiro da Comissão da Anistiae presidente da Fundação Perseu Abra-mo, Nilmário está envolvido atual-mente com o caso do cabo Anselmo,agente duplo da repressão que admi-tiu ter entregado de 100 a 200 ex-cole-gas de farda e perseguidos políticos aoregime da ditadura, entre eles a mu-lher dele, grávida de 7 meses, SoledadBarret Viedma, que acabaria sendomorta. Cabo Anselmo entrou com pe-dido de indenização, como ex-militan-te. Em maio, a requisição foi negadapor unanimidade, em processo relata-do por Nilmário.

MEMÓRIAS Ex-ministro dos DireitosHumanos, o petista Nilmário Mirandamilitou com Dilma na época de estu-dante na capital mineira. “Conheci Dil-ma em 1965. Fomos colegas primeirono Colégio Estadual Central e depoisna Faculdade de Ciências Econômicas(Face) da UFMG. Éramos parte da Po-lop (Organização Revolucionária Mar-xista Política Operária) e daí nossos ca-minhos se separaram. Ela foi para o Co-lina e eu fui para o POC (Partido Ope-rário Comunista).”

Nilmário chegou a ficar preso como segundo marido de Dilma CarlosAraújo Paixão Linhares, o Max, no Pre-sídio Tiradentes (SP). “Por causa deleDilma se mudou para o Rio Grande doSul. Ela foi solta em fins de 1972 em SãoPaulo, mas ele ainda ficou preso maisum tempo. Ela foi para lá para poder fi-car visitando o Max na prisão”, relata.Nilmário lembra que Dilma, portanto,teria direito a receber a indenização emMinas, São Paulo e no Rio, onde no mêspassado anunciou que iria doar aquantia de R$ 20 mil ao grupo TorturaNunca Mais. “Já no Rio Grande do Sulela não foi torturada”, comenta.

Nilmário foi preso em 1970 e teveuma passagem pelo Presídio de Li-nhares, em Juiz de Fora. Como a com-panheira Dilma, foi encapuzado e le-vado para local por ele desconhecido,onde foi submetido a sessões de tor-tura. Neste momento da conversa,Nilmário baixa os olhos e muda deassunto. Parece ter dificuldade em re-lembrar o próprio tormento: “Erapau de arara, cadeira do dragão… (in-terrompe novamente a descrição).Mas não sofri tanto quanto a Dilma,porque ela era da luta armada e eunão. A tortura dela foi pior”.

Acredito que Dilma não deve

falar sobre a divulgação do

depoimento. Na condição de

presidente, ela é também

comandante-chefe das Forças

Armadas e precisa tomar um

certo cuidado”■ Nilmário Miranda, ex-ministro

LEIA AMANHÃMAIS DETALHES SOBRE A TORTURASOFRIDA POR DILMA EM MINAS

Nunca vi ninguém tomar nem

um tapa na cara. Não houve essa

história de tortura lá. Eu garanto”

■ Marco Antônio Felício da Silva, general

GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS - 29/5/12

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