Ernesto L. Matias, Lda. Um futuro no passado

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António Tavares ERNESTO L. MATIAS, Lda um futuro no passado património e cultura organizacional

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O livro aborda a empresa mais antiga a laborar no concelho de Mangualde. O propósito é ir em busca dos vestígios materiais, o património industrial (maquinaria e documental) e, em concomitância, traçar a cultura organizacional da empresa e ver de que forma o seu património contribui e pode contribuir para o devir da mesma.

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António Tavares

ERNESTO L. MATIAS, Lda um futuro no passado

património e cultura organizacional

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ERNESTO L. MATIAS, Lda.um futuro no passadopatrimónio e cultural organizacional

Autor António Luís Marques TavaresColecção Opus Vox, nº1 Coordenador da colecção António TavaresEdição Empresa Jornalística Renascimento, LdªDesign e paginação Cristina Viegas Martins Capa Nelson FerreiraFotografias 2 e 3 arquivo do autor; 5, João Abílio; restantes, autorRevisão do texto Ana Rita Tavares e Mafalda TavaresSupervisão de Produção Fernanda TavaresImpressão Tipografia Beira Alta, Lda. – ViseuTiragem 500 exemplaresAno 2011

Copyright do autor

ISBN: 978-989-20-2728-9Depósito Legal n.º

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4Nota de apresentação

5Nota de abertura

6Prefácio

8Agradecimentos

11Introdução

15Breve enquadramento teórico

21Da história e do património acumulado

35Caracterização da empresa e cultura organizacional

45Propostas de intervenção

51Conclusão

53Documentação e bibliografia

57Anexos

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Nota de apresentação

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O projecto académico de fazer a História (possível) de algumas empresas do concelho de Mangualde que o Dr. António Tavares nos expôs cativou-nos desde o primeiro momento. Tratava-se, a nosso ver, de um empreendimento tão louvável quanto duro e que, como não podia deixar de ser, terminou da melhor maneira.

Naturalmente colocámo-nos ao inteiro dispor do mentor do projecto, facultando-lhe acesso a todo o nosso património que entendesse útil com vista à execução do seu trabalho. Infelizmente já não foi possível contar com aquele que é e será sempre o nosso maior activo, que teria sido, sem dúvida, o mais valioso contributo para o trabalho em causa: o fundador da empresa.

A sequência lógica deste trabalho académico é a publicação de pequenas obras sobre cada uma dessas empresas. O Dr. António Tavares entendeu honrar a Ernesto L. Matias, Lda. com o primeiro tomo dessas obras, provavelmente em memória do seu fundador e graças ao facto de ser a indústria mais antiga ainda em actividade neste concelho.

Fazemos votos para que este trabalho do Dr. António Tavares possa, para além dos objectivos académicos que pretendeu preencher, ajudar a alterar os comportamentos face ao património cultural das empresas e contribuir para uma maior consciencialização da importância das empresas e do seu património cultural para o estudo do desenvolvimento económico regional e sobretudo da região de Mangualde, onde a presença industrial vive paredes meias com as habitações, e sobre o qual ainda não foi feito qualquer levantamento historiográfico de relevo. Pela nossa parte, entre outros aspectos, ganhámos sensibilidade para essa importância.

João Orlando MatiasAdministrador da Ernesto L. Matias, Lda

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Nota de abertura

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Sous l’ histoire, la mémoire et l´oubli. Sous la mémoire et l´oubli, la vie.

Mais écrire la vie est une autre histoire. Inachévement. Paul Ricoeur

Entre a memória e o esquecimento e a importância de recordar existe um trabalho prévio que consiste em registar, conservar, preservar, investigar, descobrir. O património que assim se protege é uma acção que não consiste apenas em guardar e exibir relíquias e objectos que um dia sobreviveram à sua vida útil. Porque o património é algo mais do que aquilo que um dia se herdou. Existe um trabalho de selecção que é necessário efectuar, uma história para ser contada, um legado que é necessário transmitir.

Um livro de memórias de uma empresa é sempre uma interpretação da memória; porque a história de uma empresa, antes de se poder contá-la, precisa de ser apreendida em todo o seu conhecimento, para a entender de forma a transmiti-la com a mais valia de uma maior percepção de toda a visão estratégica que esteve na base da sua vida e, com este saber acrescentado, dotá-la ainda de uma percepção consciente que a pode valorizar tanto no presente como no futuro.

E porquê? Porque uma empresa com história, reflectida tanto através dos registos materiais como imateriais, passa do domínio da inteligência para o domínio da alma. É uma história com alma aquela que se transmite. E essa história passa para o domínio de todos, incluindo os ainda colaboradores, trabalhadores e clientes dessa empresa, como é o caso da Ernesto L. Matias, Lda. Que assim ficam mais conscientes de uma empresa com história, de uma marca com significado, que a diferencia das demais. Porque a memória traz sentires, emoções, é um silêncio que fala, que provoca impressões nos sentimentos.

“O que é a história? É o trabalhar para elucidar progressivamente o mistério da morte e vencê-la um dia”, proclamou Boris Pasternak. Fazer a história de uma empresa é vencer a temporalidade da sua existência. Onde se incluem as memórias das gentes que estiveram na sua origem e funcionamento, desde os fundadores, colaboradores, passando por todos os que têm ou tiveram relações comerciais com a empresa e terminando na comunidade onde está envolvida. Este livro vai preservar a história da Ernesto L. Matias, Lda., porque, nas palavras de Agustina Bessa-Luís, as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.

Anabela GuimarãesGestora do Património Cultural

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Prefácio Partindo dos conceitos de “arqueologia industrial” e de “património industrial”, desde o imediato pós-Segunda Guerra Mundial têm-se vindo a multiplicar os projectos de investigação sobre a cultura material das sociedades contemporâneas e as actividades de salvaguarda de vestígios dessa mesma realidade. Em Portugal, sobretudo devido às opções ideológicas e às políticas do Estado Novo, a arqueologia industrial e a valorização do património industrial só passaram a existir e a alcançar visibilidade pública após a Revolução de 25 de Abril de 1974, muitas vezes por iniciativa de associações de defesa do património, de investigadores e docentes universitários, de instituições públicas e organizações privadas. Um dos subuniversos mais significativos da arqueologia industrial e do património industrial é o que decorre de investigações sobre empresas industriais e de projectos de estudo, conservação e rentabilização do respectivo património industrial. Para além de atribuírem relevância a um âmbito da vida social muitas vezes ignorado quando se abordam problemáticas culturais, as iniciativas em causa viabilizam o correlacionamento imediato da investigação e da preservação do património industrial com a actividade económica e/ou com o planeamento urbanístico. Se projectos desta natureza podem ser operatórios em regiões fortemente marcadas pela urbanização e pela industrialização, assumiriam um papel ainda mais central em territórios menos desenvolvidos e pouco associados à afirmação da cultura material específica das sociedades contemporâneas. Trata-se, nestes casos, de integrar numa dada identidade histórico-cultural local ou regional vectores diferentes dos predominantes num contexto de ruralidade; de evidenciar exemplos de superação de bloqueios muitas vezes tidos como inevitáveis porque supostamente estruturantes de uma determinada realidade social. Em acréscimo a estas virtualidades, a arqueologia industrial e a fruição do património industrial resultam no estudo de vertentes da evolução das comunidades humanas que, em termos quantitativos, envolvem a maioria dos indivíduos durante grande parte das suas vidas; legitimam que se venha a perspectivar como património cultural — imaterial ou material; imóvel, integrado ou móvel — um conjunto amplo e disseminado de bens, actividades ou memórias, apropriáveis em contextos diferentes e por vários actores sociais (instituições públicas e organizações privadas, famílias e indivíduos). A presente obra, da autoria de António Tavares, um arqueólogo com funções de gestão e programação do património cultural na Câmara Municipal de Mangualde, corresponde a estas mesmas modalidades de intervenção. Resulta do estudo de uma empresa enquanto organização com

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a sua própria história, a sua identidade cultural (ou cultura organizacional) e o seu património cultural. Propõe iniciativas de salvaguarda e rentabilização do património industrial com objectivos culturais mas, também, económicos. Facilita a integração de vestígios da cultura material contemporânea no universo do património cultural a gerir e a programar à escala local ou regional. Este trabalho, elaborado no âmbito de uma das unidades curriculares do Curso de 2º Ciclo em Gestão e Programação do Património Cultural da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) — de cariz interdisciplinar e assegurado em colaboração com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) — é, igualmente, um exemplo de como é possível e operatório tentar inverter lógicas dominantes menos positivas. Tratar-se-ia de demonstrar a utilidade social (directa e indirecta; no curto, médio e longo prazos), tanto das ciências sociais e das humanidades, como das tecnologias delas derivadas; de contribuir para a alteração, em Portugal e numa conjuntura de crise, das concepções e das percepções segundo as quais as ciências sociais, as humanidades e as tecnologias correlacionadas são, essencialmente, “saberes decorativos”.

Coimbra, 13 de Outubro de 2011

João Paulo Avelãs Nunes(FLUC e CEIS20 da UC)

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Agradecimentos

As minhas primeiras palavras de agradecimento vão para a Administração da empresa Ernesto L. Matias, Lda., designadamente o Senhor João Matias, o Senhor Engenheiro Filipe Matias, o Senhor Doutor Rogério Matias e, sem excepção, agradeço, de igual forma, à excelente equipa de colaboradores daquela organização, permitindo-me relevar, nesse grupo, o papel de ajuda do Senhor João Abílio, da Dª Rosa Cabral, Dª Luísa Lopes, Nuno Gonçalves e Cindy Faro.

Cabe nestas linhas, de igual modo, o meu bem-haja a todos quanto, directa e indirectamente, e em todas as suas fases, tornaram possível a concretização deste livro.

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“O êxito da minha vida devo-o à maneira optimista como sempre encarei os meus negócios, e ao cuidado que tive em servir bem e

tratar melhor os clientes no país e no estrangeiro.”Ernesto Matias

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1 MENDES, José Amado, 1992, pp. 51-52.

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Introdução

A historiografia das empresas e das organizações industriais, ou de outro tipo de actividade económica, permite ilustrar a maneira como estas se fundaram, as condições de laboração ao longo da sua existência, a evolução das suas estruturas e da tecnologia, as políticas e estratégias de gestão, o relacionamento entre funcionários e patrões, com os fornecedores, com os clientes, com o mercado, com o ambiente e, não menos importante, o relacionamento com a comunidade onde se insere. Por fim, com base no conhecimento que têm do seu passado as empresas podem reinventar-se e determinar com melhor fôlego o futuro a almejar.

A História, neste campo, conta com o contributo da Arqueologia Industrial para determinar e, em última análise, valorizar o património industrial, e das ciências que estudam a cultura organizacional, nomeadamente da Psicologia das Organizações e da Gestão de Empresas.

No entanto, fazer o estudo da História das empresas económicas é, em Portugal, uma tarefa, salvo as várias excepções que já acontecem, ainda embrionária. Tal fica a dever-se, entre outras razões, às apontadas pelo Prof. Doutor Amado Mendes: "o historiador centra a sua actividade noutros campos de investigação consagrados e tradicionais - Estado, Igreja, Escola, Família e Instituição Militar – e o empresário, cioso do secretismo dos negócios, olha, desconfiado, para este, não lhe dando acesso aos seus arquivos"1 .

Não foi esta, em absoluto abono da verdade, a postura da administração da Ernesto L. Matias, Lda.. Mal houvéramos anunciado ao que íamos e as portas da empresa nos foram de imediato escancaradamente franqueadas: fruto de uma cultura assente na mundividência.

Tivessem outros empresários idêntico entendimento e semelhante atitude e o conhecimento da história económica e social portuguesa, em particular do contributo das empresas, seria mais profundo.

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objectivos

Iniciámos o presente estudo com os propósitos de partir em busca dos vestígios materiais: máquinas de produção antigas e actuais, estas últimas inevitavelmente em desuso daqui por pouco tempo, objectos de escritório, mobiliário, produto acabado, documentação vária - que vai dos livros de contabilidade ao simples envelope de correio - para, depois do processo de levantamento e inventariação, irmos, em concomitância, aferir da cultura organizacional da Ernesto L. Matias, Lda.

Caracterizada a cultura organizacional, e com base nela, imperava um outro objectivo: apresentar propostas no sentido da manutenção e/ou alteração de práticas laborais, de relacionamento entre os vários actores participantes na vida da firma.

Levantado e inventariado o património cultural gerado ao longo de oito décadas de laboração, competia analisar a atitude para com o mesmo, ou seja, saber se a Ernesto L. Matias, Lda. salvaguardava, ou não, o património que não era entendido como tal. Na linguagem da especialidade: saber se a empresa era activa ou passiva quanto a este tipo de bens.

Por fim, e de acordo com a existência e estado do património industrial e documental, propor como medida de preservação do mesmo a criação de um Museu da Empresa, constituindo-se este como um elemento unificador da memória e da identidade da empresa.

Em suma, não esteve nunca nos nossos desígnios traçar a história detalhada da Ernesto L. Matias Lda.. Mas, tendo-a como pano de fundo, recorrer à cultura organizacional e ao património cultural produzido e acumulado para se converterem em instrumentos geradores e potenciadores de atitudes cujo objectivo se traduzisse no projectar e posicionar a empresa referida no mercado altamente competitivo em que se insere, mas de forma tendencialmente melhorada.

aspectos metodológicos

Para a elaboração da história da Ernesto L. Matias, Lda. considerámos como fontes principais a bibliografia produzida acerca do seu fundador, Ernesto Matias, as oralidades dos familiares e de alguns

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funcionários2 . A recolha das oralidades permitiu-nos, de igual forma, dar conta de um património imaterial consubstanciado em “know-how” e práticas de laboração que, apesar da (e com a) evolução tecnológica registada, perduraram e evoluiram ao longo da vida da empresa.

No tocante ao património cultural procedemos à inventariação de fontes, como o arquivo documental de gestão corrente, a recolha de documentos3 , levantamento do património industrial – máquinas de produção e outros elementos – maquinaria de escritório já em desuso, entre outros.

Quanto à determinação da cultura organizacional, dada a pequena dimensão da organização – 57 funcionários -, optámos por uma abordagem metodológica marcadamente intensiva e em profundidade4 . A recolha de dados conducente à análise da dimensão da cultura organizacional foi feita de modo qualitativo através da observação, entrevistas em profundidade aos diversos actores da empresa5 e análise da documentação do arquivo. Procedemos também à observação directa das instalações e à consulta de bibliografia específica6 existente sobre a empresa.

Esquematicamente:1. Consulta e pesquisa da documentação em arquivo da empresa;2. Inventariação do património: documentação seleccionada,

máquinas e produtos;3. Entrevistas à gerência da empresa; 4. Entrevista ao encarregado-geral da fábrica;5. Questionários aos funcionários; 6. Observação das instalações e da laboração geral da empresa.

A análise dos conteúdos das entrevistas aos sócios-gerentes no activo – filho e neto do fundador – permitiu verificar qual a percepção que estas duas gerações têm da empresa, da sua evolução ao longo dos

2 João Orlando, Clara Portas Matias e Filipe Matias, assim como o encarregado João Abílio.3 Não considerados como património pela empresa, mas guardados e tidos como importantes enquanto memórias da mesma. 4 Seguimos o padrão metodológico desenvolvido por Mafalda Casimiro exposto e tratado na sua Tese de Mestrado. Cf. CASIMIRO, Mafalda, 2003.5 Bogdan e Biklen referem que a observação participante e a entrevista em profundidade constituem a “pedra de toque” da metodologia qualitativa. Melville também aponta a entrevista em profundidade como método de recolha de informação cada vez mais aceite pela comunidade científica. Cf. BOGDAN e BIkLEN, 1999; Melville, apud CASIMIRO, Mafalda, 2003.6 MATIAS, Ernesto – Quem é Ernesto Matias. Mangualde, (s/d), entre outros.

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tempos, das mudanças que foram acontecendo e das expectativas face ao que pode acontecer, do relacionamento da empresa com os seus funcionários e com o mercado, bem como das relações que existem entre a família e a empresa, aspecto importante, pois a Ernesto L. Matias, Lda. é uma empresa familiar. Efectuámos, também, uma entrevista ao encarregado-geral, pois trabalhou directamente com o fundador durante muitos anos.

Para que a caracterização da cultura organizacional fosse o mais fiel e elucidativa possível, afigurava-se importante fazer o confronto entre as três percepções sobre a empresa. Assim, colocámos também um questionário junto dos funcionários7 .

O arquivo da Empresa, apesar desta não o entender como importante fonte de memória e identidade8 , pareceu-nos desde logo que seria um dos principais elementos contributivos para a compreensão da actividade daquela organização; para além disso, os documentos ali contidos revelaram-se de imediato essenciais como fonte de memórias que possibilitariam uma mais fidedigna identidade da organização. Tal como refere Amado Mendes, arquivos de empresas e respectiva história andam, geralmente, de mãos dadas9 . Aliás, de finalidade tão crucial é importante defender os arquivos das empresas privadas (…), como refere José Honório Rodrigues10 .

7 O questionário baseia-se numa versão adaptada ao caso de estudo presente do apresentado por Charles Handy que tem como objectivo determinar qual o tipo de cultura organizacional que se verifica nas diversas organizações. Apresenta-se o questionário em anexos. 8 Este arquivo guarda apenas os anos que a lei determina como obrigatórios e alguns documentos tidos como importantes e como lembranças e recordações do fundador e da empresa. 9 Cf. MENDES, José Amado, 2001-2002. 10 Citação retirada do artigo citado na nota anterior.

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Breve enquadramento teórico

património cultural

A que nos referimos quando falamos em património? Amado Mendes11 alerta que se deve “distinguir dois tipos de património: o património, em geral, e um género de património mais restrito, como o património histórico, frequentemente identificado com o património cultural”. “O património não está apenas ligado à história – aliás ele próprio é, como sublinham alguns autores, história materializada -, como à memória e à identidade dos povos e das comunidades, ao turismo e ao desenvolvimento, ao trabalho e ao lazer”12 .

Composto a partir de duas palavras - património e cultura -, implica que, para uma boa dilucidação do conceito e das problemáticas que lhe são inerentes, seja forçoso individualizar a significação própria de cada termo. Cultura, termo derivado do latim e que remetia para a agricultura, apresenta variadíssimas acepções consoante a sua aplicação nos diversos ramos do conhecimento humano13 . Porém, a definição que se ajusta ao contexto que tratamos é a antropológica. Neste sentido, toda a actividade humana é cultura, compreendendo o conjunto total de paradigmas aprendidos e desenvolvidos pelo homem.

Património, etimologicamente, deriva do latim patrimonuim, significando herança paterna. Trata-se da herança transmitida pela via paternal. Como salienta Chastel14 , o termo é antigo e a sua noção parece imemorável e ligada ao conceito de herança. É nesta condição de herança, de legado, que o património estabelece uma relação indissociável entre passado e presente. Em Alegoria do Património, Françoise Choay realça o facto de património, na sua origem, se encontrar ligado às estruturas familiares, económicas e jurídicas de uma sociedade estável, e que pela quantidade de adjectivos que se lhe acrescenta (genético, natural, histórico…) o transformaram num conceito “nómada”15 .

11 Cf. MENDES, José Amado, 2009, pp. 9-10. 12 Idem. p. 9. 13 Ciências Sociais, Biologia, Filosofia, Antropologia. 14 Cf. CHASTEL, André, «La Notion de patrimoine», in Les Lieux de Mémoire, de Nora, Pierre, vol. II, La Nation, le territoire, l’ état, le patrimoine, Paris, Éditions Gallimard, 1986, p. 405. 15 Cf. CHOAy, Françoise, 2008, p. 11.

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Marc Guillaume afirma que “há a tendência para se generalizar à realidade toda (do inerte ao vivo, do passado ao presente, do material ao imaterial) …”16 . Afirma ainda que Património é tudo, considerando a forma como as sociedades ocidentais olham hoje em dia a arquitectura, as cidades, a paisagem, os edifícios industriais, o código genético17 . Porém, e como lembra Xavier Greffe, “ o que ganha em extensão perde em profundidade. Assim, se tudo é património, o que resta?”18 .

Na perspectiva antropológica, património cultural é tudo o que o homem produz: seja os objectos materiais, seja o saber, a língua, a cultura, a própria vida19 , e que, transmitido geracionalmente, contribui para a identidade das sociedades. Em resultado disto, as sociedades desenvolvidas ou em vias de desenvolvimento valorizam-no cada vez mais20 . Também a Lei 107/2001, de 8 de Setembro, ajuda à definição: “é tudo aquilo que reflicta valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade”21 .

Estas definições implicam que se coloque a questão sobre que tipo de bens compõe o património cultural. Estamos num imenso mundo de bens materiais, móveis e imóveis, imateriais, fungíveis e infungíveis.

O património cultural é um dispositivo de memória, é um reforço de identidade, de luta contra o esquecimento, daí a necessidade de conservação de objectos, a criação de museus, de colecções22 . Património Cultural é, então, constituído não apenas pelo que é histórico, pelos vestígios da História, mas por objectos “desclassificados”, do dia-a-dia, que representando muitas vezes o passado individual (e não somente o colectivo) se tornam visíveis aos olhos de toda a gente, da sociedade, resgatando a identidade social, a estabilidade das significações, desgastados pelo mundo económico da industrialização23 .

A sua definição vai evoluindo e adquirindo contornos vários em função do entendimento que cada época histórica dele faz, conforme sublinha Amado Mendes24 .

16 Cf. GUILLAUME, Marc, 2003, pp. 24-25.17 Idem, p. 36.18 apud MENDES, José Amado, 2009, p. 12.19 Cf. GUILLAUME, Marc, 2003, p. 45.20 Coccossis/Nijikamp, apud PAU-PRETO, Fernando, 2008, p. 32.21 Lei 107/2001, Diário da República, I Série – A, nº 209, de 8 de Setembro. 22 Cf. GUILLAUME, Marc, 2003.23 Idem, pp. 118-121. 24 Cf. MENDES, José Amado, 2009, p. 10.

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A Revolução Industrial trouxe consigo uma nova realidade que marca toda a Época Contemporânea. As suas marcas, traduzidas em fábricas, maquinaria e outro tipo de vestígios, estão fortemente visíveis na paisagem. O professor Ortuñez Goicolea define da seguinte forma património industrial “qualquer vestígio de actividade económica transformadora, já obsoleta, que explica à sociedade o seu passado industrial”25 . A tónica da actualidade é a devolução do património aos cidadãos para a fundação de uma nova relação26 . O património cultural é um símbolo de identidade própria por “oposição” à globalização, mas que nesta se pode evidenciar como singular. Como refere Josep Ballart, “…é uma construção cultural e como tal sujeita a alterações em função de circunstâncias históricas e sociais (…) é um activo útil às sociedades que serve distintos propósitos (bons ou maus)…”27 . Falar em património cultural é pois pressupor “modos de pensar” o próprio património, porquanto nele se espelham as decisões, as políticas, as maneiras de ser, de pensar e agir de cada momento histórico. Património é, como mostra a História, filho da sociedade de cada época.

Para o estudo da Ernesto L. Matias, Lda. interessa o património tecnológico, objecto da arqueologia industrial, sem esquecer o património documental, oriundo dos arquivos, mas ambos englobados neste universo conceptual vasto de Património Cultural, na sua dimensão de herança a preservar, a legar e a usufruir e a dar a usufruir às comunidades.

cultura organizacional

O conceito de cultura organizacional ou de empresa, introduzido recentemente, finais do século XX, constitui hoje, por si só, uma área do saber sobretudo aplicada no tecido empresarial pela gestão, pela economia e pela psicologia das organizações. Altamente teorizado, este conceito assume várias definições. Maurice Thèvenet utiliza o conceito como sendo um conjunto de valores, conhecimentos, percepções comuns, mas,

25 Cf. ORTUñEz Goicolea, 2010, p. 40. Tradução do castelhano feita por nós.26 Cf. CARVALHO, Paulo, 2008.27 Cf. BALLART, Josep e TRESSERAS, Jordi, 2008, p. 11. Tradução do castelhano feita por nós.

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também, e sobretudo, de hipóteses fundamentais. Esta última noção é a mais importante. Ela representa conhecimentos de partida para agir, analisar e decidir28 . Assim, os elementos constituintes da cultura organizacional são os símbolos, os valores, determinados rituais, modos de comunicar, imagem de marca, comportamentos, atitudes, normalmente propagadas pelos dirigentes e pelos meios de comunicação oficiais. Tudo componentes que conferem uma identidade própria a cada grupo, a cada organização. A maneira como os métodos de trabalho no interior de uma organização são implementados, a forma como as ordens são dadas e executadas, o relacionamento, formal ou informal, entre decisores e executantes são formas de cultura organizacional que condicionam a empresa e a fazem evoluir no mercado e lhe conferem um estatuto próprio e extraordinariamente peculiar, único até29 . Também aqui se pode referir que os elementos informais da Cultura Organizacional são fornecidos pelo conjunto de indivíduos que compõem a organização e seus respectivos níveis hierárquicos ou visões do mundo, conforme afirmam Motta e Vasconcelos30 .

Do mundo empresarial fazem parte as empresas familiares. No contexto de cultura de empresa, ou das organizações, e na nomenclatura utilizada nas obras de gestão e de psicologia das organizações verifica-se que aquelas desenvolvem um tipo de cultura próprio, divergindo estruturalmente do das sociedades anónimas31 .

Subjaz às empresas de tipo familiar um conjunto de características que as distingue e lhes confere uma identidade muito peculiar: o seu modo de funcionamento, a sua estrutura e organização, o seu relacionamento interno e externo, feito através da partilha de experiências e de uma aprendizagem comum particularmente influenciadas por quem lidera a empresa e os seus colaboradores mais influentes32 .

Existe também nas empresas de tipo familiar um elo que estabelece uma importante e permanente união entre a empresa e a família. Gallo e Ribeiro33 referem ainda que a cultura deste tipo de estrutura é fortemente

28 Cf. THèVENET, Maurice, 1986.29 Cf. BILHIM, João, 2008.30 Cf. MOTTA e VASCONCELOS, 2002, p. 301.31 No entanto um número elevado de empresas SA, cujo capital está disperso em bolsa e são multinacionais, têm o seu embrião nas empresas familiares. 32 Cf. CASIMIRO, Mafalda, op. cit., p.6. 33 Gallo e Ribeiro apud CASIMIRO, Mafalda, op. cit., p . 6.

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partilhada com a cultura da família. Trata-se de uma cultura forte, intimamente relacionada com a propriedade, o poder e os valores da família e que fundamenta a estratégia e a direcção da empresa34 . Por isso, a cultura empresarial que se define assenta no contexto educacional da família, e o fundador da empresa tem um papel decisivo no perfil cultural desta, conferindo-lhe um desenvolvimento de uma cultura forte e coesa. A cultura organizacional reflecte, nas suas várias fases de desenvolvimento, o próprio ciclo de vida familiar e as dinâmicas dos relacionamentos familiares35 .

A estrutura simples, ou de tipo familiar, é uma realidade dinâmica, permitindo a adaptação da empresa às novas realidades externas e internas36 . Facto que não é alheio a este tipo de empresas é a sucessão na gestão. Deve dizer-se que é um dos factores preponderantemente determinante na evolução das empresas com este tipo de estrutura, pois de acordo com Ussman a sucessão implica a adaptação dos diversos intervenientes aos seus novos papéis e às suas novas posições no conjunto empresa/família. Apesar de se manterem muitos dos valores e princípios do fundador, os novos actores introduzem mudanças na empresa que, a médio e a longo prazo, contribuem para lhe conferir um perfil cultural diferente37 .

34 Cf. CASIMIRO, Mafalda, op. cit., p. 6.35 Idem, ibidem.36 Martins, J. C., apud CASIMIRO, Mafalda, op. cit..37 Ussman, apud CASIMIRO, Mafalda, op. cit..

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Da história e do património acumulado

da história

Ernesto L. Matias, Lda. é a actual denominação da empresa fundada por Ernesto Matias, em Mangualde-gare, provavelmente em Outubro de 192838 e que este baptizara com o nome de Fábrica de Ferramentas de Mangualde, de Ernesto L. Matias. Para se entender melhor a história desta empresa torna-se necessário contextualizar económica e socialmente a época em que se dá a sua fundação, ao nível desta região. Em finais dos anos 20 do século passado a Beira Alta caracteriza-se por ser uma região fortemente agrícola, pouco industrializada. Essa tradição tinha antecedentes vincados. No entanto, e como refere Rafael Amaro, esta região não era propriamente um deserto industrial39 . A indústria predominante, sobretudo na área de Viseu, era fundamentalmente a de madeiras e que seguia ao longo da linha da Beira Alta para escoar os seus produtos em Espanha40 . No distrito da Guarda, a indústria predominante era a de lanifícios, mas, tal como no Distrito de Viseu, era o sector primário que predominava no panorama da economia da região. Os dados que nos permitem tracejar o que seria Mangualde na década de 20 do século XX, levam a concluir que dada a sua posição de centralidade territorial e dada a proximidade da linha da Beira Alta, seria a indústria da madeira e as serrações que preencheriam as actividades industriais, a par do comércio motivado pelos armazenistas dos produtos da indústria de lanifícios de Gouveia e da Covilhã – aqui instalados, em primeira instância como entrepostos das próprias empresas desde o séc. XVIII, e mais tarde, já nos finais do século XIX e inícios do século XX, detidos e fundados por agentes económicos locais - e que daqui os faziam dispersar comercialmente pelo país. Estes produtos chegados à então pequena vila de Mangualde eram inicialmente vendidos nas várias feiras e na Feira dos Santos, e com a chegada do caminho-de-ferro daqui irradiavam para os vários destinos do país. Mais tarde, desenvolve-se a indústria de confecção de vestuário, devido à tradição dos lanifícios da Serra da Estrela, e que acaba por ser a causa determinante da morte desta actividade comercial com larga tradição na vila.

38 Esta data foi por nós calculada tendo por base os dados autobiográficos da obra de Ernesto Matias, citada na bibliografia.39 AMARO, António Rafael, 2006, p. 290.40 Idem, p. 287.

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Este panorama permite apontar Mangualde como estando no caminho da uma certa excepção ao panorama apontado por Rafael Amaro que refere o retorno à agricultura nesta região, desacelerando o processo de desenvolvimento económico suportado na industrialização. Ernesto Matias, mais tarde, refere-se à vida industrial de Mangualde daquela época (anos 30 do século passado) como tendo poucas unidades industriais41 .

É neste enquadramento económico, típico das décadas de 20 e 30, caracterizado por a nível nacional haver um crescimento lento, mas estável da modernização42 , mas numa região fortemente agrícola, que um jovem oriundo de Jarmelo, do concelho da Guarda, filho de ferreiro, chamado Ernesto Lourenço Matias se decide pela instalação de uma pequena oficina de fabrico de ferramentas em ferro e aço, em Mangualde. Podemos, assim, afirmar que aquele jovem empreendedor contribui para o panorama de modernização geral do país, contrariando a tendência da região da Beira Alta.

Importa referir que o fabrico de ferramentas agrícolas se desenvolveu em Portugal, sobretudo no século XIX, em pequenas oficinas artesanais das diversas aldeias do país. O ferro e o aço, de origem sueca e inglesa, chegavam à Beira Alta vindos do Porto em carros de bois. Foi na última vintena de anos do século XIX que o seu transporte se passou a efectuar pelo caminho-de-ferro43 .

41 ROGÉRIO, 1997, p. 143. 42 AMARO, António Rafael, op. cit. p. 23.43 MATIAS, Ernesto, (s/d), p. 19.

Foto 2 - Estação do Caminho de Ferro de Mangualde

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Ernesto Matias decide-se pelo fabrico artesanal de ferramentas agrícolas em ferro e aço, seguindo a tradição de enveredar pela profissão do pai, mas aproveitando também a oportunidade de esta região se dedicar fundamentalmente às actividades agrícolas e, consequentemente, consumidora dos seus produtos. Iniciando a sua actividade na sua terra natal, o escoamento dos seus produtos era feito no dorso de mulas desde a sua oficina até à estação de caminhos-de-ferro da Guarda e daqui até à estação de Mangualde para serem vendidos na feira quinzenal desta vila44 . Diga-se, a bem da verdade, que Ernesto Matias conhecia a importância comercial da Feira de Mangualde, pois desde 1900 que seu pai aí vendia os seus produtos.

44 idem, p. 20.

Foto 3 - Feira de Mangualde, meados do século XX

Ora, numa época em que há uma trajectória de ruralização desta região, o industrial aproveita esta oportunidade para rentabilizar a sua profissão, pois havia nitidamente mercado para os seus produtos. Consciente de que para progredir seria inevitável a colocação dos seus produtos num mercado mais vasto, opta por vir para Mangualde, tradicional ponto comercial, de fácil chegada de matérias-primas para o seu mester, bem como de rápido escoamento do produto acabado: a linha

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ferroviária da Beira Alta. Foi a conjugação destes factores, atempada e oportunamente observada, que determinou a vinda de Ernesto Matias para Mangualde.

Não deixa de ser interessante fazer notar que Ernesto Matias é natural do Distrito da Guarda e vem instalar-se no distrito de Viseu. Tal como Amaro refere na obra já citada, naquela época entre os Distritos de Viseu e da Guarda havia um relacionamento económico, motivado pela contiguidade geográfica45 .

A sua primeira oficina foi um pequeno barracão46 , muito próximo das actuais instalações da empresa. Trouxe consigo um fole, um rebolo de pedra e o seu primeiro funcionário, Belarmino Cardoso.

Aproveitando a pausa de 13 de Junho a princípios de Setembro47 , Ernesto Matias efectua viagens de estudo para conhecer os mercados. Recomeça a sua actividade no dia 1 de Setembro de 1930, falido, pois o dinheiro entretanto ganho serviu para o pagamento de dívidas contraídas para a instalação da unidade48 . Três anos depois tem já ao seu serviço 10 empregados.

No ano de 1933 a oficina encerra por um período de nove meses, pois o empreendedor fora preso pelo regime de Salazar49 . Colocado em liberdade e com a promessa do então presidente da Câmara de Mangualde, Dr. Américo Leão, lhe apoiar o seu empreendimento, como forma de compensação50 , o empresário exigiu uma série de benefícios para relançar a empresa51 , facto que consegue.

Em 1935 instala dois rebolos movidos a água. Em 1937 adquire um motor de um pistão, mas não o satisfazendo, contrata com José F. Santos a montagem dos dois rebolos à linha do eixo da sua fábrica de serração. Nesta época inicia a construção da sua habitação e ao lado outra casa para a oficina.

45 Cf. AMARO, António Rafael, op. cit., p. 33.46 Já não existe, e no seu lugar está construída uma moradia, que não pertence à família Matias.47 A actividade de ferreiro era suspensa de 13 de Junho a princípios de Setembro, devido ao imenso calor no acto de trabalhar o ferro, e também devido aos trabalhos agrícolas. Informação recolhida em Matias, Ernesto, (s/d), p. 20. 48 Cf. MATIAS, Ernesto, (s/d), p. 20.49 Ernesto Matias é preso, conjuntamente com outros mangualdenses, acusado de pertencer a uma célula do Partido Comunista. Mais tarde, António Carneiro, outro companheiro de prisão, interrogado pela Polícia, afirma: “O Ernesto não aceitou o meu pedido e até se irritou comigo”. Este facto devolve a liberdade ao empresário e de comunista passa a capitalista, pois no acto de prisão ele tinha em sua casa 22.000$00. Cf. MATIAS, Ernesto, op. cit., pp. 13-18. 50 Cf. MATIAS, Ernesto, op. cit., p. 17.51 Ernesto exigiu uma rua aberta na estação, todo o terreno do lado norte da rua, um lote da mata do Conde de Mangualde e um crédito de 20.000$00; Cf. MATIAS, Ernesto, op. cit., p. 21.

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No ano de 1940 aquele empresário percorre o país a fim de se inteirar dos modelos de ferramentas existentes em todas as regiões para as poder fabricar e ter domínio competitivo sobre o mercado52 .

Em 1948 exige que a Câmara electrifique o Bairro da estação53 . Como consequência constrói novo pavilhão e instala as primeiras máquinas movidas a electricidade: um martelo-pilão de molas, um laminador e quatro rebolos. Em 1950 João Orlando Matias, seu filho, de 15 anos, actual administrador, inicia actividade nos escritórios da Fábrica. Em 1960 Ernesto Matias incentiva alguns trabalhadores a aproveitarem as condições que a Caixa de Previdência dos Operários Metalúrgicos oferecia para a construção de casa própria, dado que os juros eram de 2% ao ano, a pagar em 25 anos54 .

Em 1961 dá-se início à construção de um novo pavilhão55 e à reconstrução do edifício antigo, tendo sido adaptado a garagem, armazém e escritório. É nesta altura, coincidindo com a presença do actual

52 Este périplo foi efectuado, pois E. Matias previra o encerramento de milhares de oficinas manuais devido à crise que se instalava com a II Guerra Mundial; Informação colhida em Quem é Ernesto Matias, MATIAS, p. 21.53 E. Matias informou a Câmara que se não procedesse à electrificação do bairro da estação mudaria a fábrica para Oliveirinha (Carregal do Sal); Informação colhida em Quem é Ernesto Matias, MATIAS, p. 21.54 Foram construídas 9 que já não estão em poder dos trabalhadores, pois foram vendidas entretanto.55 Pavilhão ST (Secção Técnica).

Foto 4 - Habitação antiga e escritórios

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administrador, que a empresa se expande construindo novos pavilhões, equipando-a com mais e melhor maquinaria.

Em 1968 é contratado o técnico José Barros que, orientando a parte técnica e de produção, permite libertar Ernesto Matias para a comercialização e João Orlando para a administração da firma. Neste ano a organização conta com mais de 100 trabalhadores.

No ano de 1975 é construído o pavilhão SFA (Sector de Ferragens e Acessórios), e em 1978 é instalado o Pavilhão Armazém 2.

Em 1990 Ernesto Matias faz doação da Empresa aos filhos que mediante indemnização acordam na transferência da sua posse para João Orlando, actual administrador.

Ao longo da sua existência como empresa fabril a Ernesto L. Matias, Lda. foi acompanhando a evolução tecnológica que se fazia sentir no sector: introdução de maquinaria avançada, computorizada e robotizada. Esta constante adaptação às novas tecnologias e o acompanhar dos novos desafios, marca genética deixada pelo fundador, permite que a empresa se mantenha competitiva e conquiste novos mercados, tendo hoje uma forte presença no mercado espanhol56 .

Foto 5 - Maquinaria computorizada

56 Elementos colhidos de vários dossiers do Arquivo da Empresa e do trabalho de RVCC do Encarregado-geral, João Abílio.

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De uma forma esquemática a evolução da empresa Ernesto L. Matias, Lda. tem duas fases fundamentais: a primeira em que é puramente artesanal, manual, e a segunda que marca decisivamente o seu desenvolvimento através da electrificação da fábrica, em 1950. A introdução de nova maquinaria, inclusive das novas tecnologias altamente sofisticadas, decorre desta segunda fase.

do património acumulado

Por património cultural referimo-nos, neste trabalho, ao espólio material e imaterial e a todas as fontes levantadas e recolhidas e que conduziram a este processo de produção de conhecimento57 . No entanto, e apesar de esse entendimento ser o mais abrangente possível, pois cremos que tudo o que se produz numa organização é passível de ser considerado como tal, cabe ao historiador58 a tarefa de escolher e determinar o que é, ou não é, património e determinar a sua salvaguarda e preservação.

Das diversas conversas havidas com a administração foi possível apurar que não havia uma total consciência de que praticamente tudo naquela empresa poderia ser considerado património cultural. Esta realidade era verdade quer ao nível da maquinaria industrial e artesanal, quer ao nível da documentação. Esta assunção fez a Ernesto L. Matias, Lda. tomar consciência de uma realidade nova e que abraçou como determinante para uma nova atitude perante o seu espólio cultural59 .

Aliás, a maioria das empresas não reconhece que aquilo que produz e, neste caso muito particular, aquilo com que se produz, as máquinas, aquilo que fazem, a forma como o fazem, é património cultural e que para além de permitir um conhecimento sobre a actividade económica em que se insere, joga um papel basilar para a sua identidade e coesão sócio-laboral.

Do levantamento efectuado e do tentame de inventariação a que se procedeu, o património cultural é composto por edifícios antigos, mantidos como estruturas de laboração actuais60 ; a maquinaria antiga, substituída

57 Ressalve-se que nem todos os elementos colhidos e tidos por nós como património cultural o eram assim entendidos e assumidos pela empresa.58 Aqui entendido como gestor de património cultural.59 Tal fosse já do conhecimento e da consciência da administração e muito do espólio patrimonial não teria sido alienado ou destruído, conforme palavras da administração.60 A casa onde está instalada a Administração, o sector administrativo e o Projecto, e parte de armazém são ainda do tempo de fundador e assim se pretende continuar.

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pela moderna, não foi completamente alienada ou vendida para a sucata, encontrando-se guardada num espaço exterior e num interior da empresa. Alguma da maquinaria artesanal dos inícios da fundação persiste, outra foi vendida a empresas do mesmo sector. Importa salientar que muita da maquinaria foi idealizada, concebida e fabricada pelo fundador da empresa61 .

61 O Pica foices original e outras máquinas são exemplo disso.

Foto 6 - Fole

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Elaborámos a seguinte tabela demonstrativa do património material imóvel, móvel, (incluindo as peças de património industrial, quer ao nível das estruturas quer ao nível da maquinaria) e documental62 . Da análise desta tabela conclui-se que a Ernesto L. Matias, Lda. é bastante activa no que toca à defesa do seu património63 .

62 Do património documental faz parte a documentação de gestão, com carácter probatório perante a lei, bem como o espólio guardado e tido como referência de memória do fundador e da empresa. 63 Activo é o conceito aqui utilizado como sinónimo de preservador, contrário a passivo.

Foto 7 - Pica-foicinhas construída pelo fundador e filho

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64 Compradas por estes, por proposta do fundador da empresa, a juro bonificado, revelando preocupações de ordem social. 65 1 Fole, dois pica-foicinhas, um deles de construção artesanal própria e um esmeril manual. 66 Prática usada desde sempre (pois para além de constituir património, assim entendido pela gerência, pode servir como referência para novos trabalhos). 67 O documento a que nos referimos é o da constituição da Empresa actual (Sociedade por quotas), publicado em Diário da República, porquanto à data da fundação não foi necessário qualquer documento e, se houve mais algum, o seu paradeiro é de momento desconhecido. 68 Documentos que a lei obriga a guardar. 69 Documentação diversa: correspondência diversa, projectos técnicos, desenhos técnicos de produtos.

Tabela de Inventário do Património Cultural

Património Edificado Existência

Sim Não

Primitiva oficina X

Edifício-fábrica que substituiu a primitiva oficina X

Pavilhão construído em 1948 X

Pavilhão construído em 1961 X

Os restantes dois pavilhões X

Casas de habitação dos trabalhadores 64 X

Património Industrial / Maquinaria artesanal ou semi-artesanal

Fole e pica-foicinhas e esmeril circular manual65 X

Rebolo de pedra, movido à perna X

Safra X

Martelos X

Forja a carvão de torga X

Pia de pedra para derreter o sebo X

Corno de animal para pintura de acabamento X

Dois rebolos instalados em 1935, movidos a água X

Motor de um pistão adquirido em 1937 X

Martelo-pilão de molas X

Laminador X

Quatro rebolos X

Exemplares dos produtos fabricados (guardam pelo menos um exemplar de cada modelo)66 X

Máquinas em desuso

De produção 15

Máquinas de escrever, telefones de disco, furadores e agrafadores, obras de arte, móveis em desuso. X

Património Documental

Documento jurídico da criação da empresa67 X

Título de registo de Marca X

Livro de despesas e receitas em uso até 1960 X

Tabela de preços de bolso X

Tabela de preços de 1968 X

Tabela de preços de 1978 X

Postal de aviso de alteração de preços / antiga denominação da empresa X

Folhas internamente denominadas por "memorando" / antiga denominação da empresa X

Folhas de carta / antiga denominação da empresa X

Fotografias dos vários produtos produzidos X

Fotografias de efemérides e acontecimentos importantes para o fundador e empresa X

Postal de notificação / antiga denominação da empresa X

Envelopes actuais X

Pastas de facturas e recibos e outros documentos de contabilidade68 X

Outros documentos produzidos no âmbito da actividade de produção e comércio69 X Fichas antigas de empregados (anteriores ao ficheiro informático) X

Tabela de Inventário do Património Cultural

64 Compradas por estes, por proposta do fundador da empresa, a juro bonificado, revelando preocupações de ordem social. 65 1 Fole, dois pica-foicinhas, um deles de construção artesanal própria e um esmeril manual. Ver fotos em anexos. 66 Prática usada desde sempre (pois para além de constituir património, assim entendido pela gerência, pode servir como referência para novos trabalhos). 67 O documento a que nos referimos é o da constituição da Empresa actual (Sociedade por quotas), publicado em Diário da República, em cópia apensa nos anexos, porquanto à data da fundação não foi necessário qualquer documento e, se houve mais algum, o seu paradeiro é de momento desconhecido. 68 Documentos que a lei obriga a guardar. 69 Documentação diversa: correspondência diversa, projectos técnicos, desenhos técnicos de produtos.

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Do património imaterial: vivências, práticas culturais e laborais dos inícios da fundação, rituais70 , compaginados segundo os preceitos que definem este conceito, isto é, têm que perdurar activamente durante pelo menos uma geração71 , persistem ainda na Ernesto Matias, sobretudo nos funcionários mais antigos da casa. Ou seja, já se verificaram alguns problemas no acabamento de peças e para não se rejeitar a peça no controlo de qualidade houve necessidade de recorrer às técnicas tradicionais utilizadas na fábrica no tempo da sua fundação, e que já vêm de tempos remotos (porque não da idade dos metais?), como seja a pintura da peça com o corno de animal, conferindo-lhe uma patine inigualável e duradoura.

Foto 8 - Chifre de animal para acabamento das ferramentas

Existe ainda a manutenção de certas práticas de conduta com os clientes e com os fornecedores que se mantêm desde os tempos da

70 Raramente percebidos como tal pelos colaboradores da empresa. 71 A Unesco, na sua Convenção de 2003, sobre o Património Imaterial, define um período de cerca de 25 anos, e em actividade.

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fundação: notificação de alteração dos preços dos produtos, etc., pese embora já não seja feito com os postais de outrora, mas recorrendo às novas tecnologias: telefone, e-mail, etc..

Da observação directa e dos relatos dos colaboradores, bem como da consulta da documentação, verifica-se que algum património cultural já se perdeu. Na base da perda de algum do património esteve a dificuldade em distinguir o que deveria ser considerado como Património Cultural e a consequente escolha em destruir ou alienar ou guardar. A maioria do património perdido é de carácter documental e tem a ver sobretudo com o arquivo. A opção de guarda dos documentos produzidos no âmbito da actividade da organização tende a ser no cumprimento da lei, por falta de espaço no arquivo. Porém, a atitude da empresa para com o

Doc. 2 - Documento de aviso de alteração de preços

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seu Património Cultural é a de proactivamente preservar elementos do passado, da vivência da empresa, sobretudo aqueles que eram tidos como recordações do seu fundador.

Depois deste trabalho a empresa modificou a sua atitude e tende a inverter esse caminho no tocante ao material documental que diariamente vai produzindo, bem como na recuperação de máquinas que estavam à beira de ir para a sucata.

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Foto 9 - Máquina Wolpert em desuso

Foto 10 - Máquina em desuso no exterior

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Caracterização da empresa e cultura organizacional

A Ernesto L. Matias, Lda. mantém-se uma unidade industrial metalomecânica de base que ao nível da estrutura societária, por quotas, tem na sua administração dois sócios-gerentes a tempo inteiro.

Ao nível dos recursos humanos a estrutura distribui-se pelas seguintes categorias: quadros técnicos superiores, 1; pessoal administrativo, 2; área projecto, 3; operários, 57.

O primeiro funcionário da empresa foi Belarmino Cardoso72 que mais tarde se auto-demite e vem a ser substituído por Manuel Pedro.

A média etária do pessoal da empresa é de 45 anos, sendo que o funcionário mais velho tem 61 anos e o mais novo 21. A idade do funcionário mais antigo é de 60 anos. A data de admissão do funcionário mais antigo é 15 de Novembro de 1965 e a data de admissão do funcionário mais recente é 2 de Novembro de 2006. A idade do funcionário mais recentemente admitido é de 53 anos73 .

A escolaridade dos operários é o ensino básico, distribuída pelos vários anos de frequência.

Quanto ao nível de remunerações, a empresa pratica um nível médio de salários de 614€ na produção, enquanto que aos funcionários do departamento administrativo este valor se cifra nos 1020€. Ao nível dos funcionários do departamento técnico, a média salarial é de 880€.

Não é prática, nesta firma, a atribuição de bonificações monetárias e/ou prémios de produtividade.

É importante referir que a empresa Ernesto L. Matias, Lda. nunca praticou despedimentos. O único caso de saída de trabalhadores foi uma auto-demissão.

Importa agora, no seguimento de uma caracterização geral da empresa, contribuindo, de alguma forma e em definitivo, para uma melhor definição da cultura organizacional da mesma, proceder ao elencar dos seus principais clientes e fornecedores, ou seja, do mercado visto nestas duas dimensões.

72 Vindo de Jarmelo, a convite de Ernesto Matias e que está no início da fundação da empresa. 73 Valores obtidos à época da elaboração da investigação: 2009/2010.

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Se a firma Ernesto L. Matias, Lda. nos seus alvores, encontrou nas feiras e mercados, nas várias casas de venda a retalho de ferramentas agrárias manuais - e durante muito tempo - os seus principais clientes, as alterações do mercado, originadas por diversas categorias de acontecimentos, obrigaram a empresa a reorientar-se e a posicionar-se estrategicamente para se manter na linha da frente deste tipo de negócio. Assim, pode-se apontar como seus principais clientes74 na actualidade as seguintes empresas: PT Comunicações, Navalagro, Pintol Ferragens, Wurth, FIbnet e o Grupo Visabeira, entre outros. Também neste grupo de empresas a PT Comunicações é o cliente mais antigo, seguindo-se a Pintol Ferragens, a E. d’ Andrade e a J. G. Martins de Carvalho.

Relativamente aos clientes ainda do tempo do fundador desta unidade fabril figuram, uma vez mais, a PT Comunicações, a Pintol Ferragens, a CHF, a António Paulo Santiago e a E. d’ Andrade.

No que tange aos principais fornecedores de matérias-primas, nomeadamente de aço, salienta-se, nos dias de hoje, a empresa F. Ramada e a IMS Portugal. A Ferromangualde e a Oscacer são os principais fornecedores de ferro.

Também a Ernesto L. Matias, Lda. na sua laboração utiliza a madeira como matéria-prima e é a António Aires Pinho Rebelo quem a fornece em maior escala.

Como se percebe facilmente o mundo dos negócios é hoje em dia – tal como desde sempre - global, estando confinado às fronteiras dos países ou estados apenas em períodos especiais. As empresas, enquanto agentes económicos dinamizadores das trocas comerciais, personalizam esse tipo de relacionamento ancestral/actual.

Com efeito, a Ernesto L. Matias, Lda. desde cedo encontrou no mercado externo alguns dos seus fornecedores de aço e ferro em empresas como a Calmasa, SSAB, Arvedi, Lealli, Valbruna, Griñon, Eisenmettall e a Hoescht.

Quanto às vendas, os seus clientes são, neste momento, maioritariamente do mercado interno, distribuídos conforme mostra o gráfico seguinte:

74 A categoria de principais clientes é atribuída por nossa análise devido ao volume de encomendas que originam na empresa.

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O maior comprador estrangeiro é a Espanha. O principal produto em vendas desde os tempos em que a Ernesto L. Matias, Lda. era uma fábrica artesanal de ferramentas agrícolas, e que ainda se mantém na actualidade, quer em unidades quer em valor, é a enxada. No mercado esta empresa tem como concorrentes a Ferfor, a king 2000 e a Serfer. No que concerne aos processos de produção estes organizam-se de uma forma que se vem repetindo ao longo dos anos – com aperfeiçoamentos naturais – de acordo com o modus operandi próprio da empresa que estudamos. Quanto aos pedidos de encomendas:

1. Artigo usual: verifica-se o registo de entrada de encomenda, depois procede-se à verificação da sua existência em stock, envia-se a encomenda ao cliente.

2. No caso de eventual falta no stock de produção, esta é anotada nas faltas e segue para a produção, a fim de satisfazer o pedido do cliente.

Quanto a um pedido de um artigo novo o mesmo entra no departamento de projecto técnico onde é concebido para posteriormente ir para o sector

Gráfico de distribuição do mercado

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de produção. É feito o orçamento que é enviado, juntamente com uma amostra, ao cliente para avaliação.

No capítulo anterior verificámos que a firma foi evoluindo ao ritmo das tecnologias e das oportunidades que iam surgindo. A introdução das mais modernas máquinas de produção computorizada e robotizada, operada na última década do século passado e inícios deste, constituiu um marco importante, não apenas quanto aos processos de trabalho, mas também no que às relações pessoais e de grupo dentro da empresa diz respeito.

De facto, a produção, antes da entrada das novas tecnologias, era feita sem programação, recorrendo à mão-de-obra intensiva. O produto final apresentava alguma falta de qualidade, não se garantindo capacidade de resposta a encomendas internacionais, e o ambiente na fábrica apresentava elevados índices de poluição75 .

A modernização tecnológica da empresa veio permitir uma elevada produtividade, qualidade excelente dos produtos e um aproveitamento de recursos humanos ajustado às novas realidades. Onde habitualmente existiam três funcionários para a execução de uma tarefa passou a ser necessário apenas um. Todavia, esta reestruturação na produção não levou a despedimentos, mas sim a uma melhor e mais eficaz redistribuição dos recursos humanos. A formação e reconversão dos trabalhadores fez-se com recurso aos meios internos, ou seja, a formação operada por outsourcing verifica-se apenas no acto da instalação da nova maquinaria e na explicação de como funciona, por parte dos técnicos vendedores das máquinas.

A modernização do equipamento veio permitir um aumento de produção em mais de 50%, ganho de encomendas internacionais e consequente captação de novos e mais exigentes mercados76 . Com a maior facturação decorrente houve uma generalizada melhoria, manifestada a todos os níveis na empresa. As condições de trabalho dos operários alteraram-se significativa e positivamente: instalação de captadores de poluentes, aumento dos salários dos trabalhadores - acima do estabelecido por lei - e instalação de máquinas de bebidas quentes e frias para os operários77 . Foi legítimo perguntar se a ausência desta modernização tecnológica teria levado a Ernesto L. Matias, Lda. ao desaparecimento. A

75 Elementos colhidos da consulta de vários dossiers do Arquivo da Empresa e do trabalho de RVCC do Encarregado-geral, João Abílio. 76 Conforme palavras da gerência e do encarregado de projecto, e confirmadas através de consulta de do-cumentação. 77 Observadas por nós durante os trabalhos de pesquisa.

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resposta foi que no plano da produção esse teria sido o caminho, podendo, todavia, manter-se no mercado, pois tendo uma marca de referência no mercado78 podiam mandar fabricar a outros: a empresa deixaria de ter produção e passaria apenas a ser comercial, promovendo, inevitavelmente, desemprego.

Doc. 3 - Título de registo de marca

78 Marca Verdugo.

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A Ernesto L. Matias, Lda. é uma estrutura simples, de tipo familiar79 . Actualmente na segunda geração conta já com dois elementos da terceira geração, com responsabilidades técnicas e de participação nas decisões de gestão. Um dos elementos da estrutura societária, também filho do actual administrador, não desenvolve actividade permanente na empresa, embora preste colaboração relevante na administração da mesma.

Da análise da estrutura societária e dos já referidos dados permitimo-nos concluir que a sua cultura organizacional se encaixa na perfeição na definição apontada a este tipo de empresas.

Das características mais marcantes e visíveis saliente-se o facto de esta empresa se pautar por nunca ter despedido nenhum dos seus funcionários. Não só por ser uma marca deixada pelo fundador, adoptada pelos seus sucessores, mas também pelo facto de os colaboradores serem

79 Conforme conclusão dos dados recolhidos segundo a metodologia descrita no capítulo Introdução e com base na bibliografia da especialidade consultada.

Foto 11 - Instrumento de marcar com a marca Verdugo

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residentes, na sua esmagadora maioria, nas imediações da empresa e da família Matias. Para além disso, muitos dos colaboradores têm laços de parentesco familiar entre si. Aos critérios de selecção e recrutamento de novos colaboradores está vincadamente subjacente a cultura empresarial, tal como refere Amado Mendes80 . Socorrendo-nos dos dados obtidos para este estudo essa realidade repete-se nesta firma.

Verificamos, de acordo com os questionários elaborados e pelas entrevistas81 realizadas, que o clima organizacional82 da Ernesto L. Matias, Lda. se caracteriza por ser de carácter informal83 , mas de respeito pelos responsáveis dos sectores, pelos patrões e pelos colegas entre si, num espírito de “fraternidade profissional”84 . Podemos, com base nos mesmos elementos, afirmar que a cultura organizacional da empresa é informal e se pauta por potenciar esse clima organizacional informal e ambos se mantêm inalterados, pese embora na actualidade a gestão seja mais complexa do que a executada outrora pelo fundador, pois este não era apenas o líder, mas também participava directamente no fabrico dos produtos, o que torna menos assíduo o contacto entre a gestão e a produção.

Hoje já não se praticam os actos de convívio que eram uma marca do fundador: convívios, passeios e excursões a vários pontos turísticos do país85 . O último grande evento deste género foi promovido pelos trabalhadores e tratou-se de um jantar de comemoração do 80º aniversário de Ernesto Matias, em 198786 . Seguiu-se a oferta de uma placa comemorativa da efeméride, recentemente colocada no hall da empresa.

80 Cf. MENDES, José Amado, 2001-2002, pp. 384-385. 81 A recolha de dados foi garantida pelo anonimato e assim mantida. Optámos por não incluir as entrevistas nos anexos. 82 Cf. BILHIM, João, 2008. Este autor define clima organizacional basicamente como as relações que se estabelecem entre as pessoas que compõem a empresa, nos seus diversos níveis de hierarquia, e pode ser formal ou informal. 83 Um sistema de relacionamento e comunicação que não leva em linha de conta os níveis hierárquicos, sem os pôr todavia em causa. 84 Os dados obtidos com o questionário à produção não são garantia de resultados vinculativos para formalizar a opinião sobre esta matéria, dado que apenas apenas 14% da população respondeu ao questionário, o que não constitui um resultado representativo para atingir os objectivos propostos. Assumem, apenas, um carácter meramente indicativo. Porém, a caracterização da cultura organizacional foi obtida tendo em conta a consulta e o estudo desta matéria junto de bibliografia da especialidade e do estudo de casos semelhantes. 85 Cf. MATIAS, Ernesto, op. cit., p. 25. 86 O Jantar-efeméride foi no Hotel Sra. do Castelo, mais uma das obras “lançadas” por este empresário.

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No que tange aos processos de laboração fabril, os métodos de fabrico, manuseamento de máquinas, de materiais, sempre se processaram da mesma forma: práticas de trabalho transmitidas aos operários através dos responsáveis. Nos inícios da empresa o detentor do conhecimento era o fundador e este encarregou-se de formar os seus operários. Hoje a metodologia é a mesma: forma-se o encarregado e este dá a formação internamente aos operários, apesar da introdução de maquinaria moderna que poderia implicar uma alteração nos métodos de formação e aquisição de novas competências. A formação a que nos referimos é obtida através de observação e prática repetida de métodos.

As promoções de entre os vários trabalhadores processam-se através da observação das capacidades laborais de cada trabalhador. De acordo com esta forma de gestão mais complexa que já referenciámos, pode, em hipótese académica, determinar-se uma evolução laboral que, conjugada com a possibilidade, ainda que considerada remota, de abrir a participação do capital a alheios à família, desemboque na alteração da cultura organizacional, incluindo até a possibilidade de despedimentos ou de passar a haver um recrutamento e selecção dos trabalhadores baseados em critérios mais específicos ao nível das aptidões e conhecimentos. Este tipo de gestão, e tendo por base o que Ussman refere sobre as mudanças que os sucessores introduzem nas empresas, tende a caminhar no sentido da obtenção de maior lucro e de mão-de-obra mais adequada às funções e não se importando tanto com a manutenção de um clima familiar da empresa. Pela observação e pela análise dos dados recolhidos não é este o tipo de pensamento que subjaz a este contacto menos assíduo entre

Foto 12 - Placa de homenagem oferecida pelos trabalhadores

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a gestão e os trabalhadores. Parece-nos, isso sim, que se deve à maior complexidade de tarefas de cada grupo de trabalho. À guisa de conclusão, a cultura e o clima organizacionais da Ernesto L. Matias, Lda. têm-se baseado e suportado em práticas familiares que advêm do seu fundador, na continuidade desses valores, de símbolos, numa memória de uma pessoa que foi determinante para o sucesso actual da empresa, o que constitui um património estruturante e visível na actualidade. A rigidez das hierarquias não se faz sentir. Convém, no entanto, referir que a empresa evoluiu e hoje encontra-se organizada de uma forma mais complexa, onde as várias estruturas funcionais estão bem definidas87 . Importa referir que as relações comerciais com os clientes e fornecedores deixam transparecer esse clima de cultura organizacional informal, mas nunca colocando em causa os valores de respeito mútuos.

Também os vários vestígios do património cultural que ao longo dos tempos foram sendo gerados, e alguns dos quais entendidos como património cultural, bem como a atitude de manutenção desse património, ajuda à conservação da actual cultura organizacional, apesar das mudanças, inevitáveis, que aconteceram. Podemos concluir que a Ernesto L. Matias, Lda. possui uma cultura organizacional estruturante88 , pese embora não haja uma consciencialização assumida desse facto.

87 Para Fayol, no quadro global de funcionamento interno de qualquer empresa, independentemente da sua dimensão, existem seis unidades estruturais com funções muito específicas: técnica, comercial, financeira, segurança, contabilidade e administração. Cf. FAYOL, H., 1925. 88 Utiliza-se aqui o conceito estruturante enquanto conjunto de valores, práticas, atitudes e métodos de traba-lhos e de relacionamento que caracterizam intrinsecamente a organização e a aperfeiçoam no ponto de vista orgânico e de funcionamento, claramente em oposição ao conceito instrumental que tende a ser apenas uma imagem artificial e que não encontra referência nas práticas das empresas.

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Foto 13 - Esmeril em desuso

Foto 14 - Prensa em desuso

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Propostas de intervenção Este capítulo dá conta de um dos objectivos traçados para este

estudo: apresentação de propostas de alteração ou manutenção de práticas que resultem da análise da cultura organizacional da empresa e do resultado da tomada de consciência de que ali se produz património cultural.

Pretende-se, assim, contribuir para o surgir de experiências que motivem transformações na empresa. Neste pressuposto, reiteramos uma vez mais o património gerado pela empresa como tendo um papel determinante na alteração ou manutenção de atitudes que possam projectar a organização para novos horizontes. A base deste pensamento reside no pressuposto de que a História e o discurso historiográfico preparam e antevêm o futuro.

Tendo por base a cultura organizacional da empresa Ernesto L. Matias, Lda., que se mantém de cariz familiar, e comparando as práticas do tempo do seu fundador89 com as de hoje90 , verifica-se a existência de elementos que se mantêm inalterados e outros onde existe já alguma diferença notória, conforme já verificámos.

Assim, a actual relação laboral entre a gestão e a produção - baseada num estilo de gestão de tipo familiar, mas diferente do praticado ao tempo do fundador - é fruto da própria evolução orgânica da organização; tal deve-se às inevitáveis diferenças de estilo de gestão imprimido pela actual geração de administradores. As organizações actuais tendem a ter um relacionamento de maior ligação com os seus trabalhadores, não numa lógica de manutenção de uma cultura familiar, se se tratar de empresas desse nível estrutural, mas numa lógica de incentivo e motivação dos trabalhadores91 .

Desta forma, ao nível das propostas a apresentar no âmbito da cultura organizacional, é de considerar acções que acentuem mais a aproximação de todos os elementos da empresa, nomeadamente com a comemoração de efemérides: dia da fundação da empresa, aniversário do fundador, felicitar o trabalhador no dia do seu aniversário, entre outros.

89 A caracterização da cultura organizacional do tempo do fundador foi obtida por recurso à história da em-presa, baseada nas diversas fontes consultadas. 90 A caracterização da cultura organizacional recente, sobretudo a partir de 1990, foi obtida através da observação directa de práticas, da consulta da documentação e do emprego da metodologia intensiva e de profundidade. 91 Cf. LENDREVIE, Jacques et al., 1995, p. 295.

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Tais propósitos, baseadas num recuperar e acentuar de atitudes já familiares à própria organização92 , teriam um papel de entusiasmo, de motivação adicional o que poderia traduzir-se num maior envolvimento do funcionário com os objectivos gerais de produção da firma e aumentar a própria produtividade de cada trabalhador. Este último aspecto pode vir a ser relevante em períodos em que à fábrica é exigida maior produção, motivada por encomendas maiores.

Quanto às políticas salariais, ao longo do estudo e com base nos dados recolhidos, verifica-se que a empresa em questão paga acima da média imposta pela lei no sector; trata-se de uma prática cultural que já vem desde 1931, altura em que Ernesto Matias admite aprendizes e pratica aumentos periódicos, dependentes da sua livre vontade, sem que para tal fosse necessário a alguém pedir aumento. A nosso ver, é interessante a manutenção deste princípio. Por um lado, porque se continua com uma política de salários acima da média do sector, por outro lado permite à administração determinar e gerir a política salarial, não agudizando possíveis desnivelamentos nesse ponto.

No que concerne ao património cultural, como escreve Avelãs Nunes93 no seu artigo “A Indústria Mineira em Portugal Continental” referindo-se à necessidade de preservar a memória e a fruição crítica dos diversos testemunhos das comunidades mineiras, a musealização dos diversos testemunhos como a documentação material, gráfica, audiovisual, escrita e oral deveria ser uma realidade. Esta teorização é aplicável a qualquer organização empresarial, sendo-o, por conseguinte, na empresa que ora estudamos, pensamos nós.

A Ernesto L. Matias é detentora de um invejável património de arqueologia industrial. Esta empresa mantém ainda nos seus arquivos documentação capaz de permitir uma abordagem extraordinariamente interessante sobre a industrialização e o desenvolvimento económico de uma vila que chegou a cidade, precisamente devido à forte industrialização de que foi alvo, sobretudo a partir dos anos 50 e 60, com a vinda da Citroën, também ela motivada pela presença da linha da Beira Alta94 , e de outras empresas que aí se instalaram95 . Diga-se, a título de curiosidade, que na recolha de espólio documental para a elaboração deste estudo nos

92 Ernesto Matias promovia o convívio com os trabalhadores, nomeadamente através de passeios e excursões a vários pontos turísticos do país, conforme já referimos. 93 Cf. NUNES, João Paulo Avelãs, 2001-2002. 94 Tal como sucedeu com a ELM.95 Empresas como a EMBEL, NEOSTANO, entre outras. Sobre este assunto ver a obra de MotaVeiga, citada na bibliografia.

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deparámos com o espólio documental da criação da COTEL96 , empresa detentora do Hotel Senhora do Castelo, processo no qual Ernesto Matias foi um dos principais impulsionadores.

Levando em linha de conta que no Concelho de Mangualde a Ernesto L. Matias, Lda. é a empresa mais antiga a laborar, o que per se é deveras marcante, e dada a inexistência em Mangualde e na região de outras empresas da mesma actividade industrial a laborar sem interrupção, somos a propor à sua administração a criação de um Núcleo Museológico privado97 .

A sua instalação poderia ser feita no pavilhão de pedra granítica, de cariz marcadamente tradicional, no que tange à arquitectura, situado em frente aos escritórios. Parece-nos o sítio ideal para tal, pois apenas serve como armazém de materiais que podem ser deslocados para outros pavilhões.

96 Troca de correspondência com dirigentes políticos, fotografias, contactos e demais material gráfico e escrito. 97 Figura existente e contemplada na legislação, nacional e internacional, que gere e regula os museus. Veja-se SERRA, Filipe Mascarenhas, Práticas de Gestão nos Museus Portugueses, Lisboa, Universidade Católica, 2007, p. 25.

Foto 15 - Edifício onde poderá ser instalado o Museu

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O principal objectivo da criação de uma colecção museológica visitável é o da preservação de uma memória, de uma identidade própria, de uma realidade industrial que conta com um vasto património cultural, composto pelo espólio tecnológico e documental, colocado em evidência pela arqueologia industrial. Para além disso, o núcleo museológico é a garantia da preservação dos valores acima referidos e que a evolução futura da empresa (passando ou não pela abertura do capital a sócios alheios à família) poderá comprometer. Servirá como repositório da manutenção de toda uma aprendizagem de métodos e processos com base na história da empresa.

Outro objectivo do museu é o de desempenhar um forte papel de factor motivacional e de orgulho para os colaboradores e restantes elementos da empresa, potenciando a coesão entre estes e a comunidade em geral. O prestígio, a excelente imagem de marca que se projectam podem desencadear acções de marketing que, exploradas profissionalmente, podem trazer benefícios comerciais para a firma.

O núcleo museológico será a “âncora de valores” da empresa Ernesto L. Matias, Lda. Será o “espelho” onde a empresa se revê para se reinventar.

O museu, do ponto de vista de gestão do património cultural, implica a criação da função de responsável por essa nova valência. Incidindo sobre um profissional da área do Património Cultural, este não tem obrigatoriamente de ser um quadro interno da empresa, mas alguém que, do exterior, assegure essa tarefa.

Para a boa prossecução deste projecto são necessárias verbas. É possível, perante os diversos apoios financeiros estatais e comunitários, conseguir financiamento. Para além disso, faz sentido recorrer à própria lei de Mecenato Cultural que prevê a possibilidade de auto-mecenato.

Propomos, de igual forma, à empresa Ernesto L. Matias, Lda. que algumas das peças que detêm e que não serão expostas no museu privado possam ser doadas a fim de engrossar o acervo de um futuro museu de comunidade do concelho de Mangualde. O museu da empresa poderá ser devidamente divulgado pela autarquia, caso a empresa manifeste essa intenção.

Aproveitando o que Avelãs Nunes refere no artigo já citado, que só em meados/finais dos anos oitenta se começam a estruturar projectos de investigação e salvaguarda sobre aquela realidade (referindo-se à actividade mineira), fazemos uma apropriação do seu pensamento para a área particular da metalomecânica, de que nos ocupamos, e justificamos

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assim, e uma vez mais, a nossa proposta de musealização e salvaguarda do património cultural desta empresa. A adopção deste conjunto de propostas, entendidas no seu todo, permitiria à empresa Ernesto L. Matias, Lda. a manutenção, agora já consciencializada, duma cultura organizacional de tipo estruturante e que suportada num património industrial único no concelho seria capaz de contagiar as empresas que naquela região operam.

A vetusta idade, a imagem de prestígio e de qualidade da empresa, a projecção social da mesma são ícones de referência no quadro empresarial da Região Centro de Portugal nos quais vale a pena investir.

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Foto 16 - Marca Verdugo

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ConclusãoA metalomecânica, nascida há 80 anos da vontade determinada

de um empreendedor ímpar, conforme atesta a própria história que sobre ele já foi contada pela pena de um dos seus netos, que começou com o nome de Fábrica de Ferramentas de Mangualde, de Ernesto L. Matias, e que na sua evolução vai na segunda geração e a preparar já a terceira, sob a nova denominação de Ernesto L. Matias, Lda., cuja marca comercial VERDUGO se impôs no mercado pela qualidade, representada graficamente através do carrasco, é um exemplo, embora com imperfeições, de como os arquivos das empresas e o património que aí é produzido e que serve a produção não sendo na totalidade como tal entendidos são fundamentais para a compreensão da história económica e social da região e em particular para a micro-região de Mangualde, sobretudo no último século, que não se encontra feita.

Fundada nos últimos anos da década de 20 do século passado, altura em que na Beira Alta se iniciava um processo de recuo na industrialização e um retorno acentuado à actividade agrícola98 , a Fábrica de Ferramentas de Mangualde aproveitou um saber-fazer familiar, originado na família do fundador, que vocacionou em definitivo a sua actividade industrial para servir um sector que iria ser praticamente único nos anos 30 e 40 desse mesmo século naquela região, a agricultura.

Não deixa de ser relevante fazer notar que numa altura em que na região da Beira Alta, durante os anos 30 e 40 do século XX, marcadamente em retrocesso industrial, Ernesto L. Matias inverta o sentido e contrarie essa tendência, ajudando a marcar o ritmo industrial, contribuindo para o empreendedorismo industrial da vila de Mangualde.

A Ernesto L. Matias, Lda. da actualidade, embora mantenha o seu core business na produção de ferramentas ao serviço do sector primário, está a expandir-se e a desenvolver produtos que servem outros sectores, nomeadamente o fornecimento de peças para os postes da PT Comunicações.

É este adaptar constante da empresa às oportunidades de negócio que a seu tempo vão surgindo que tem mantido esta empresa familiar a contribuir para a economia e desenvolvimento desta região.

Que este estudo possa, para além dos objectivos académicos que pretendeu preencher, ajudar a alterar os comportamentos face

98 Cf. AMARO, António Rafael, 2006, p. 316.

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ao património cultural das empresas e contribuir para uma maior consciencialização da importância das empresas e do seu património cultural para o estudo do desenvolvimento económico regional e sobretudo da área de Mangualde, onde a presença industrial convive paredes meias com as habitações, e sobre o qual ainda não foi feito qualquer tentame historiográfico e/ou de síntese. Palavras da administração da Ernesto L. Matias, Lda.

A fazer-se, em síntese global ou numa óptica monográfica, numa lógica de empresa a empresa, que se fuja à tentação laudatória e se privilegie em absoluto o rigor científico. Foi o que aqui se pretendeu realizar.

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Documentação e bibliografia

Fontes

Documentação de arquivo

Dossiers do Arquivo Geral da empresa Ernesto L. Matias, Lda.

Documentos referidos ao longo do trabalho e exibidos no texto.

Documentação Impressa

Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Paris, 17 de Outubro de 2003, UNESCO.

Feira dos Santos. IV mostra de artesanato nacional, Mangualde, 7 e 8 de Novembro – Parque Multiusos, Organização de Mangualde Município, Ano VIII, 2009.

Notícias da Beira, Jornal. 1931-2010.

Renascimento, Jornal. 1927-2010.

Legislação

Diário da República, III Série, nº 194, de 19-8-1993.

Lei nº 107/2001, Diário da República, I Série – A, nº 209, de 8 de Setembro.

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MATIAS, Ernesto – Quem é ERNESTO MATIAS, Mangualde, s/d.

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Anexos

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QUESTIONÁRIO

1. Um bom patrãoa) (___) É forte, decidido e firme, mas justo. É protector, generoso e tolerante com os funcionários.

b) (___) É impessoal e correcto. Evita ser autoritário para obter vantagem própria. Exige dos funcionários apenas aquilo que é requerido pelo sistema de trabalho.

c) (___) Deixa-se influenciar em questões ligadas às tarefas. Usa a autoridade para obter os meios necessários para prosseguir com as tarefas.

d) (___) Preocupa-se e reage às necessidades pessoais e aos valores dos outros e fornece oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional aos seus trabalhadores.

2. Um bom trabalhadora) (___) Trabalha muito, é leal ao patrão, tem qualidades de trabalho e é digno de confiança.

b) (___) É responsável e confiável. Cumpre com os seus deveres e responsabilidades, evitando acções que comprometam ou embaracem o seu chefe.

c) (___) Motiva-se e procura dar o melhor de si para realizar a tarefa e está aberto a ideias e sugestões. Para além disto está pronto a ceder a liderança a outros quando eles demonstram ter maiores conhecimentos ou aptidões.

d) (___) Interessa-se por desenvolver as suas potencialidades e está aberto a aprender e receber ajuda. Também respeita as necessidades e os valores dos colegas e está pronto a dar-lhes ajuda.

3. Um bom funcionário da Empresa dá nota 1 ao seguintea) (___) Às exigências pessoais dos patrões.

b) (___) Aos deveres, às responsabilidades e às tarefas do seu trabalho e aos padrões habituais de comportamento pessoal.

c) (___) Aos requisitos da tarefa, às aptidões, às capacidades, às energias e recursos materiais.

d) (___) Às necessidades pessoais dos indivíduos envolvidos.

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4. As pessoas que estão bem colocadas na empresaa) (___) São conscientes, gostam de assumir riscos e operar por conta própria.

b) (___) São conscientes e responsáveis, com um forte sentido de lealdade para com a Empresa.

c) (___) São tecnicamente competentes e eficientes, fortemente comprometidos com as tarefas a realizar.

d) (___) São eficientes e competentes nos relacionamentos pessoais, fortemente comprometidos com o crescimento e o desenvolvimento dos talentos individuais.

5. A Empresa trata a pessoaa) (___) Como uma pessoa de confiança cujo tempo e energia estão à disposição dos que dirigem a Empresa.

b) (___) Como se pessoa e empresa fossem um só partilhando os riscos e as responsabilidades.

c) (___) Como um companheiro de trabalho que dedica as suas aptidões e capacidades à causa comum: a Empresa.

d) (___) Como uma pessoa interessante e talentosa que deve isso aos seus próprios méritos.

6. As pessoas são controladas e influenciadas pora) (___) Bonificações, recompensas, punições ou carisma.

b) (___) Exercício impessoal do poder económico e político para fazer cumprir procedimentos e padrões de desenvolvimento.

c) (___) Comunicação e discussão dos pressupostos das tarefas que levam à sua concretização, motivada pelo compromisso pessoal em atingir o objectivo.

d) (___) Interesse e prazer nas actividades a desenvolver; e/ou preocupação e cuidados com as necessidades das outras pessoas envolvidas.

7. É legítimo que uma pessoa chefie e controle as actividades de outra

a) (___) Se ela tiver mais poder e influência na Empresa.

b) (___) Se a sua função determinar que ela é responsável por dirigir outra.

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Ernesto L. Matias, Lda | Anexos

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Regras de preenchimento do QuestionárioConsidere a Empresa como um todo. Assim, existem valores, crenças, formas e comportamentos que são típicos dela.Leia as quatro afirmações de cada grupo.Em cada afirmação coloque dentro dos parenstesis o número que entender como mais representativo daquilo que você pensa sobre a Empresa.O número 1 é o que mais se adequa, o número 2 é o que pensa ser o mais apro-ximado e assim por diante, até ao número 4 que é o que mais se afasta da sua opinião. Respostas1 a) 2,1,1,4,4,1,2,1,2 b) 2,2,3,3,3,3,1,2,3 c) 2,4,4,2,2,4,4,3,4 d) 3,3,2,1,1,2,3,4,12 a) 3,1,1,4,3,2,4,4,2 b) 4,3,4,1,4,1,3,3,1 c) 2,4,3,2,1,3,2,2,2 d) 1,2,2,3,2,4,1,1,13 a) 4,4,1,2,3,2,3,2,4 b) 1,1,4,1,1,1,2,1,1 c) 3,3,3,4,2,3,1,3,2 d) 4,2,2,3,4,4,4,4,34 a) 4,1,4,4,3,4,4,2,2 b) 2,4,1,2,2,3,3,2,2 c) 1,2,3,1,1,1,1,3,1 d) 3,3,2,3,4,2,2,4,15 a) 2,2,2,3,3,1,1,1,1 b) 2,3,4,2,1,4,4,3,2 c) 2,2,1,1,2,2,3,2,4 d) 2,4,3,4,4,3,2,4,36 a) 4,2,3,4,4,4,4,2,4 b) 3,3,4,2,3,3,3,4,4 c) 2,4,2,1,1,2,1,3,2 d) 1,1,1,3,2,1,2,1,17 a) 2,2,3,4,2,4,2,3,4 b) 1,1,2,3,4,3,3,2,1 c) 2,3,1,1,1,1,1,1,2 d) 4,4,4,2,3,2,4,4,38 a) 1,2,2,1,3,4,3,1,2 b) 2,4,4,2,1,1,1,3,1 c) 3,3,1,3,2,2,2,4,2 d) 4,1,3,4,4,3,4,2,4

c) (___) Se ela possuir mais conhecimentos para a realização das tarefas.

d) (___) Se ela for aceite por aqueles que são chefiados.

8. As bases da atribuição das tarefas sãoa) (___) As necessidades e os critérios pessoais daqueles que dirigem a firma.

b) (___) As divisões formais de funções e responsabilidades no sistema da Empresa.

c) (___) Os pressupostos das tarefas a realizar.

d) (___) Os desejos e as necessidades pessoais daqueles que as executam.

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