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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS CAP INF DIEGO DE SOUZA PEREIRA SIMULAÇÃO VIVA COMO PREPARO PARA O EMPREGO REAL: ESTUDO DE CASO DA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO. Rio de Janeiro 2018

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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF DIEGO DE SOUZA PEREIRA

SIMULAÇÃO VIVA COMO PREPARO PARA O EMPREGO REAL:

ESTUDO DE CASO DA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO.

Rio de Janeiro 2018

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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF DIEGO DE SOUZA PEREIRA

SIMULAÇÃO VIVA COMO PREPARO PARA O EMPREGO REAL:

ESTUDO DE CASO DA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO.

Rio de Janeiro 2018

Trabalho acadêmico apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito para a especialização em Ciências Militares com ênfase em Gestão Operacional.

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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx - DESMil

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS (EsAO/1919)

DIVISÃO DE ENSINO / SEÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Cap Inf DIEGO DE SOUZA PEREIRA

Título: SIMULAÇÃO VIVA COMO PREPARO PARA O EMPREGO REAL: ESTUDO DE CASO DA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO.

Trabalho Acadêmico, apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção da especialização em Ciências Militares, com ênfase em Gestão Operacional, pós-graduação universitária lato sensu.

BANCA EXAMINADORA

Membro Menção Atribuída

______________________________________ ALEXANDER FERREIRA DA SILVA Ten - Cel

Cmt Curso e Presidente da Comissão

_____________________________ THIAGO DE PAULA SOTTE - Cap

1º Membro e Orientador

________________________________ FABIO DOS SANTOS MOREIRA - Cap

2º Membro

______________________________ DIEGO DE SOUZA PEREIRA – Cap

Aluno

APROVADO EM ___________/__________/__________ CONCEITO: _______

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SIMULAÇÃO VIVA COMO PREPARO PARA O EMPREGO REAL: ESTUDO DE CASO DA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO.

DIEGO DE SOUZA PEREIRA* THIAGO DE PAULA SOTTE**

RESUMO O presente artigo científico apresenta um estudo de caso sobre a Operação São Francisco, particularmente no preparo realizado no Centro de Adestramento – Leste (CA-LESTE) com o uso integral do Dispositivo de Simulação de Engajamento Tático (DSET). Por intermédio de militares de carreira que realizaram a preparação e comandaram Pelotão ou Companhia foi possível verificar quão eficiente foi esse adestramento, identificando os pontos fortes e propondo oportunidades de melhorias. Foi abordado um breve histórico da Instrução Militar no Exército Brasileiro (EB) e suas recentes demandas, em paralelo foram identificadas as possibilidades do uso da simulação viva no adestramento e como o uso dessa ferramenta pode auxiliar na preparação para o emprego de tropas, em especial nas Operações de mesma natureza da Operação São Francisco. Para obter os resultados e responder ao problema foram realizadas entrevistas com especialistas. Palavras-chave: Adestramento. Simulação viva. Dispositivo de Simulação de Engajamento Tático (DSET). Operação São Francisco. ABSTRACT This scientific study presents a case study about the São Francisco Operation, specifically on a training done at Centro de Adestramento – Leste (CA-LESTE) with full use of the tactical engagement simulation device. Through professional military that have done the training and commanded platoons or companies was possible to verify how efficient the training was, identify the strong and points and the improvement opportunities. It was discussed in a short historical the brazilian military instruction and its current demands, at the same time it was identify the potential training by live simulation, and how the use of this kind of simulation can improve on troops preparing, especially on São Francisco’s similar. To getting the results and answer the question it have been done some interview with experts. Keywords: Traning. Live simulation. Tactical engagement simulation device. São Francisco Operation _____________________

* Capitão da Arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 2009. ** Capitão da Arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 2007. Mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 2017.

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1 INTRODUÇÃO

A instrução militar no Exército Brasileiro modificou-se, passando por diversas

atualizações. Na medida em que a doutrina adequava-se ao desenvolvimento

científico-tecnológico dos equipamentos e materiais de emprego militar, o sistema de

instrução também moldava-se às novas realidades. A instrução ao indivíduo ou o

adestramento de frações sempre buscaram a máxima imitação da realidade sem,

contudo, pôr em risco a integridade física e psicológica dos militares da Força

Terrestre.

Um dos primeiros relatos que se tem sobre a verificação e organização do

adestramento de frações data da década de 1930, quando o então Capitão Álvaro

Alves da Silva Braga, escreveu “Problemas de Instrução”. Nesta publicação, pela

primeira vez, foram organizadas de maneira detalhada instruções para unidades de

infantaria (CA-LESTE, 2018).

As participações em conflitos, a influência de Exércitos de outros países e as

evoluções tecnológicas fizeram com que a instrução militar estivesse em

permanente evolução. Desde o aprendizado em manobra, na Guerra do Paraguai,

passando pelos ensinamentos logísticos na campanha em Canudos até a

preparação da Força Terrestre para participação em Operações no Amplo Espectro,

a instrução militar e o adestramento se moldaram no sentido de fazer o combatente

viver situações, em tempos de paz, semelhantes às que encontrará durante os

conflitos de qualquer natureza.

Na incansável busca pela simulação ideal do combate, a tecnologia trouxe um

importante aliado: a simulação viva. Essa modalidade de simulação de combate

consiste no emprego, por pessoas reais operando sistemas reais, de simuladores

durante exercícios no terreno. Este tipo de simulação permite que se criem as

condições mais próximas do combate, aliando simuladores e armamentos de

dotação, além de simular alvos que degradam viaturas, aeronaves e, até mesmo o

individuo.

O Exército Brasileiro teve a oportunidade de utilizar a simulação viva para a

preparação de tropas antes do seu emprego na Operação São Francisco, no Rio de

Janeiro, com o intuito de pacificar o Complexo da Maré.

Em abril de 2014, atendendo à solicitação do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a Presidência da República autorizou o emprego de tropas do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil no Complexo da Maré, com a finalidade de cooperar no processo de pacificação daquela área. [...] No dia

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5 do mesmo mês, teve início a Operação São Francisco, coordenada pelo Comando Militar do Leste (CML). De acordo com a Diretriz Ministerial nº 9, do Ministério da Defesa, a Força de Pacificação passou a atuar em 15 comunidades daquele Complexo.

Finalidade: a missão inclui atividades de patrulhamento ostensivo, revistas

a veículos e pessoas, realização de prisões em flagrante, estabelecimento de postos de bloqueio e o cumprimento de mandados de busca e apreensão na área de operações.

Meios e pessoal empregados: participam das ações cerca de 3.000

militares das Forças Armadas (FA), das mais diversas regiões do Brasil [...]. A seleção dos integrantes da F Pac leva em consideração a capacidade profissional e as experiências adquiridas no Haiti e na Operação de Pacificação nos Complexos do Alemão e da Penha. Esses militares são orientados no sentido de desempenhar suas atividades com a observância dos princípios de utilização da força mínima necessária, da progressividade e da proporcionalidade, visando sempre à preservação da segurança e da integridade física da população local. (http://www.defesanet.com.br/mout/noticia/18625/NOTA-EB---Forca de-Pacificacao-%28F-Pac%29-%E2%80%93-Operacao-São Francisco/. Acesso em 23 mai. 2018)

Após mais de um ano de Operação teve início a desmobilização das tropas

que ocupavam o Complexo da Maré, obtendo os seguintes resultados:

Resultados e encerramento da Operação: Brasília, 30/06/2015 [...]

Segundo dados da Chefia de Operações Conjuntas do Estado-Maior

Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) do Ministério da Defesa, até

a última quarta-feira (24), as tropas federais realizaram a prisão de 553 adultos e a detenção de 254 menores de idade. Além disso, foram feitas 550 apreensões de drogas e 58 de armas e mais 3.884 munições recolhidas. Houve, ainda, a apreensão de 60 veículos, 89 motos e outros 436 materiais diversos. Foram abertos 106 autos de prisões em flagrantes e realizadas 121 detenções por crime militar. (https://www.defesa.gov.br/noticias/16137-ocupacao-das-forcas-armadas-no-complexo-da-mare-acaba-hoje /Acesso em 23 mai. 2018).

Além dos contundentes resultados, os contingentes que se revezavam

contabilizaram também feridos e uma baixa entre seus integrantes.

A Força de Pacificação contabilizou cerca de 21 militares feridos em ações operacionais e a perda irreparável do Cabo MIKAMI, assassinado covardemente por integrante de facção criminosa. (http://www.defesanet.com.br/mout/noticia. Acesso em 23 mai. 2018).

No último estágio da preparação, as tropas adestravam-se, já no Rio de

Janeiro, no atual Centro de Avaliação – Leste (CA-LESTE), e logo após seguiam

para a ocupação das comunidades no complexo da Maré.

1.1 PROBLEMA

Entre as diversas modalidades de simulação (viva, virtual e construtiva), a do

tipo viva é a que mais aproxima-se da realidade. Dessa forma, acredita-se que os

contingentes, em sua última fase de preparação, ao utilizarem o Dispositivo de

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Simulação de Engajamento Tático (DSET), estavam adestrando-se da forma mais

próxima possível do combate.

Baseado no adestramento realizado com o DSET (simulação viva) e as ações

realizadas no complexo da Maré, em que medida a simulação viva foi eficiente para

o preparo da tropa numa situação de emprego real, particularmente na Operação

São Francisco?

1.2 OBJETIVOS

Por intermédio da Operação São Francisco, desencadeada pelo Exército

Brasileiro, verificar a eficiência da utilização da simulação viva para o preparo da

tropa em situações de mesma natureza.

1.2.1 Objetivo geral

Definir se as atividades desenvolvidas pelas tropas, usando a simulação viva,

foram eficientes no emprego na Operação São Francisco.

1.2.2 Objetivos específicos

- Apontar as atividades exercidas durante o adestramento e sua eficiência

para o emprego da tropa na Operação São Francisco.

- Apontar possíveis oportunidades de melhoria no adestramento com

simulação viva para operações de mesma natureza da Operação São Francisco.

- Apontar as atividades exercidas pela tropa que aproximem a simulação viva

da experiência real.

1.3 JUSTIFICATIVAS

Após a Diretriz Ministerial que autorizou o emprego de tropas federais no

complexo da Maré a primeira tropa a participar da Operação São Francisco foi

Brigada de Infantaria Para-quedista, situada no Rio de Janeiro-RJ, sendo seguida

por tropas de diversas regiões do País.

No primeiro contingente e nos subsequentes os militares encontraram um

ambiente complexo, por vezes se deparavam com agentes perturbadores da ordem

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pública (APOP), com menores cometendo ilícitos, e mesmo com integrantes de

facções criminosas fortemente armados, além de diversos cenários de crise

envolvendo a população local. Em todas as situações devem sempre seguir a

recomendação do uso proporcional da força, segundo as regras de engajamento da

Operação. Todos os requisitos para bem administrar a violência é um desafio diário

para todos os militares.

Pacificar essa região é um dos maiores desafios para a segurança. “O desafio é primeiro conter a violência e os tiroteios. E em segundo lugar, construir uma relação de respeito e confiança progressiva entre a comunidade e as forças de segurança”,(CANO,http://g1.globo.com/bomdiabrasil/noticia/2015/06/forca-de-pacificacao-teve-avancos-namare-mas-ainda-enfrenta dificuldades.html acesso 17 jul 18)

Devido à necessidade de pronta resposta a Brigada de Infantaria Pára-

quedista não realizou o adestramento anterior no CA-Leste, o que foi executado por

todas as outras Brigadas empregadas, principalmente buscando uma preparação

específica para o ambiente onde iriam atuar.

Diante dessa necessidade do adestramento anterior ao emprego o CA-Leste

realizou atividades por meio da simulação viva com o uso dos DSET, que tinham por

objetivo simular situações que poderiam ser vividas pelas tropas e que seria preciso

o uso do armamento para neutralizar a ameaça.

Para saber se esse adestramento para aquele ambiente foi adequado, torna-

se vital a pesquisa com comandantes de fração que atuaram na Operação, de forma

que sejam evidenciados os aspectos positivos e as oportunidades de melhoria, caso

existam.

Definir em que medida o uso da simulação foi eficaz e apontar possíveis

oportunidade de melhoria cresce de importância tendo em vista que essa ferramenta

permite que os comandantes táticos observem o desempenho de suas frações,

representando o desempenho em números estatísticos.

O uso de simuladores faz com que efeitos semelhantes à realidade sejam

alcançados, no entanto, com menos custos orçamentários e menor desgaste do

material, como se observa em outro objetivo do “SISCOEX” que é “proporcionar

economia de recursos e redução dos riscos inerentes às atividades do preparo

operacional em todos os escalões”. (BRASIL, 2005, p. 1).

Dessa forma, identificar os pontos fortes e propor oportunidades de melhoria

faz com que todas as vantagens do uso da simulação viva se ampliem ainda mais.

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2 METODOLOGIA

Este capítulo descreve o método utilizado no trabalho, especificando os

procedimentos empregados para selecionar as referências bibliográficas, seleção

dos participantes da pesquisa, seleção dos instrumentos de coleta de dados, bem

como a análise e possível utilização dos dados como fonte para solucionar o

problema da pesquisa.

2.1 REVISÃO DE LITERATURA

Para responder em que medida a simulação viva foi eficiente para o preparo

da tropa para o emprego na Operação São Francisco, buscou-se inicialmente em

pesquisa bibliográfica a razão pela qual se deu o decreto que autorizava o emprego

de tropas federais no complexo da Maré, o ambiente operacional e as características

dos atores envolvidos. Foi consultada, também por meio de pesquisa bibliográfica, a

legislação de amparo para o emprego do Exército em Operações dessa natureza,

bem como manuais do Exército nos quais se apoiam as ações nessas operações.

Por meio de pesquisa bibliográfica foram identificadas as características dos

diversos tipos de simulação para o combate, com ênfase na simulação viva.

Os critérios de inclusão utilizados foram: a Operação São Francisco e o

adestramento realizado no CA-Leste por meio da simulação viva.

Os critérios de exclusão utilizados foram: outras Operações de Cooperação e

Coordenação com Agências e adestramentos com simulação construtiva e virtual.

2.2 INSTRUMENTOS

Foram utilizadas entrevistas respondidas por oficiais oriundos da AMAN,

particularmente aos 1º Tenentes em função de Comandantes de Pelotão e Capitães

na função de Comandantes de Companhia, ambos durante a Operação São

Francisco.

Inicialmente a entrevista foi precedida por uma explicação do que foi feito

durante a fase de treinamento com a utilização do DSET no CA-Leste. Em seguida a

explicação do principal objetivo do instrumento: comparar as atividades realizadas

na fase de treinamento com as situações vividas pela tropa durante a Operação, e

assim verificar a eficiência do treinamento com o uso da simulação viva, por meio

seus pontos fortes e oportunidades de melhoria.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo é dedicado à apresentação dos resultados obtidos, a fim de

verificar a eficiência do uso da Simulação Viva no preparo para a Operação São

Francisco, por meio dos pontos fortes e oportunidades de melhoria apontados na

pesquisa.

3.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1.1 A Instrução Militar e os tipos de Simulação

A missão principal das Forças Armadas está prevista na Constituição Federal

de 1988, no art. 142, que estabelece que elas se destinam à defesa da Pátria, à

garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da

ordem (BRASIL, 1988). Para o cumprimento da Missão do Exército, o Adestramento

- “capaz de transformar homem, tropa e comando - desde os escalões elementares -

num conjunto harmônico operativo e determinado no cumprimento de qualquer

missão.” é extremamente dependente do ensino profissional no Exército (BRASIL,

2011, p. 11).

O Sistema de Instrução Militar do Exército Brasileiro (SIMEB) é integrante do

Ensino Profissional do Exército e regula o desenvolvimento da Instrução Militar (IM),

conforme as diretrizes do Comandante do Exército e do Estado-Maior do Exército,

por meio de um Programa de Instrução Militar (PIM), que é:

o documento decorrente do SIMEB, de periodicidade anual, por meio do qual o Comandante de Operações Terrestres, observando a realidade da conjuntura, principalmente a orçamentária, orienta o planejamento do ano de instrução e assegura a coordenação e a avaliação das atividades. [...] Os Programas-Padrão (PP) constituem-se em instrumentos fundamentais para o acionamento da IM e definem o modo ideal de conduzi-la. No entanto, torna-se imperativo promover uma constante otimização do custo e do benefício da atividade fim, conciliando diversos fatores, tais como: a duração dos períodos de instrução, a evolução qualitativa dos contingentes incorporados, a racionalização na aplicação dos recursos financeiros e a redução do desgaste do material. (BRASIL, 2011, p. 1-2).

De acordo com as diretrizes do Sistema de Instrução Militar, para o melhor

custo e benefício da atividade fim, o uso da simulação nas atividades de instrução e

adestramento mostra-se como uma opção.

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Segundo Houaiss (2008), simulação é a imitação do funcionamento de um

processo por meio do funcionamento de outro ou teste, experiência ou ensaio em

que se reproduz artificialmente uma situação, ou as condições reais de um meio,

fenômeno etc., frequentemente realizado com modelos. Essa definição pode ser

aplicada no Exército, pois:

além de retratar a realidade de forma cada vez mais fidedigna, a simulação apresenta diversas soluções para vencer as dificuldades do mundo moderno, dentre as quais se destacam a redução de orçamento, a escassez de campos de instrução, o risco inerente à atividade militar, o emprego cada vez maior de tropa em ambientes urbanos e povoados e a necessidade de repetir seu adestramento até atingir o nível desejado. (Revista Verde Oliva Nº 22, 2013, p. 9)

Dessa forma, observa-se que as características dos atuais meios de simulação

também estão presentes na simulação de combate.

A simulação para o combate pode ser realizada por meio de diferentes meios e

processos, de forma que é possível dividi-la em três modalidades: Simulação Viva

(objeto do artigo), Simulação Virtual e Simulação Construtiva, segundo a Diretriz

para o Aperfeiçoamento e Modernização do Sistema Integrado de Simulação de

Combate do Exército (Brasil, 2005) tem-se as seguintes definições:

A Simulação viva é aquela “realizada com emprego de dispositivos de

simulação de engajamento tático (DSET)”. (SIMEB, 2011, p. 5-15).

Essa modalidade de simulação é caracterizada por integrar:

pessoas reais, operando sistemas reais (armamentos, equipamentos, viaturas e aeronaves de dotação), no mundo real, com o apoio de sensores, dispositivos apontadores “laser” e outros instrumentos que permitem acompanhar o elemento e simular os efeitos dos engajamentos. Normalmente atende aos seguintes parâmetros: - individual ou em grupo; - armamento e equipamento de dotação, previstos em QDM; - realizada em campo de instrução ou local cujas características sejam semelhantes à área do TO prevista para o emprego; e

- não necessita replicar totalmente as operações. (Diretriz para o aperfeiçoamento e modernização do sistema integrado de simulação de combate para do Exército, 2005. p. 2).

As Organizações Militares responsáveis por utilizar a simulação viva no nível

tático são o Centro de Adestramento Sul (CA-Sul) e o Centro de Adestramento Leste

(CA-Leste), o CA-Leste atende por esta denominação desde outubro de 2017,

simbolizando sua missão de treinar tropas. Sua antiga denominação, Centro de

Avaliação de Adestramento (CAAdEx), refletia também o caráter de avaliar as

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tropas, sempre com o sistema de simulação viva. Segundo Nolasco (2000), o

sistema de avaliação de adestramento, baseado na simulação de engajamento

tático “ao vivo”, difere do modelo tradicional, essencialmente, pelo seu grau de

credibilidade, obtida por meio de uma estrutura de pessoal, composta por

observadores, controladores e avaliadores (OCAs) e material especializados,

dispositivos de simulação de engajamento tático (DSET) aplicando metodologia

específica.

O DSET é a parte tecnológica da Avaliação, o DSET é um equipamento que simula, o mais próximo possível, o combate. Nele podemos retirar diversos dados, tais como, número de tiros disparados, quantidade de acertos, se o militar estaria morto ou ferido e atualmente nos equipamentos mais modernos podemos verificar os itinerários bem como a localização de cada combatente no cenário. Ele funciona basicamente com um emissor laser acoplado ao armamento e diversos receptores espalhados no equipamento individual. (CA-Leste, 2018).

O DSET que cada militar conduz é constituído por um tirante no capacete e

um colete, ambos possuem receptores do laser que são emitidos por dispositivos

acoplados aos armamentos, como ilustrado na figura 1. Todo esse conjunto é

chamado de DSET e possibilita mensurar o desempenho de cada militar. Quantifica,

por exemplo, o número de baixas e ferimentos da fração. Isso devido à semelhança

do “laser” com a munição real que o equipamento proporciona. Dessa forma implica

elevado grau de realismo a simulação viva, pois os participantes comportam - se

como se estivessem em combate, utilizando o mesmo armamento e equipamento

que usariam nessas ocasiões.

FIGURA 1- Militares equipados com dispositivo de simulação de engajamento tático (DSET)

Fonte: https://orbisdefense.blogspot.com.br/ acesso em 03 jul 2017

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A Simulação virtual é realizada com emprego de dispositivos de simulação de

apoio à instrução (DSAI), (SIMEB, 2011, p. 5-15). Segundo a diretriz para o

aperfeiçoamento e modernização do sistema integrado de simulação de combate do

Exército (2005), a simulação virtual é a modalidade na qual são envolvidas pessoas

reais, operando sistemas simulados ou gerados em computador. Substitui com a

utilização de simuladores os sistemas de armas, veículos, aeronaves e outros

equipamentos cuja operação exija elevado grau de adestramento ou que envolva

riscos e/ou custos elevados para operar. A principal aplicação é no desenvolvimento

de capacidades individuais. No entanto, pode permitir a integração de equipamentos

num ambiente virtual comum, possibilitando o adestramento tático de uma

determinada fração, como a guarnição de um veículo blindado ou mecanizado.

FIGURA 2 - Militares utilizando simulador virtual de tiro de fuzil Fonte:http://www.defesaaereanaval.com.br/exercito-brasileiro-a simulacao-como-ferramenta-no-adestramento-da-tropa/ acesso em 31/05/2018)

A Simulação Construtiva, segundo a diretriz para o aperfeiçoamento e

modernização do sistema integrado de simulação de combate para do Exército

(2005), é a que envolve tropas e elementos simulados, operando sistemas

simulados, controlados por pessoas reais, normalmente em situação de comandos

constituídos. Também conhecida pela designação “Jogos de Guerra”, a ênfase

dessa modalidade é a interação entre pessoas, divididas em forças oponentes que

se enfrentam sob o controle de uma direção de exercício. Normalmente apoiado em

softwares. Seu principal emprego é no adestramento de Comandantes e estados-

maiores no processo de tomada de decisão, com o suporte de um Centro de

Aplicação de Exercícios de Simulação de Combate, permanente ou montado, para

um determinado exercício.

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FIGURA 3 - Militar utilizando programa de “jogo de guerra” Fonte:http://am.radiomedianeira.com.br/2017/07/04/3a-divisao-de-exercito-utiliza-jogos-de-guerra-para-adestrar-suas-grandes-unidades/ acesso em 31/05/2018

Diante de uma observação das capacidades da simulação de combate, fica

notório que seu emprego está plenamente alinhado com os objetivos e diretrizes

relativas à instrução militar e ao adestramento de tropas.

3.1.2 A preparação no CA-LESTE para a Operação São Francisco

A última preparação de tropas antes do início da Operação São Francisco era

realizada no CA-Leste, com o uso do DSET. Eram realizados módulos de tiro e uma

Pista de Combate à Localidade (PCL) no morro do Capim, no Campo de Instrução

do Gericinó, Vila Militar na cidade do Rio de Janeiro- RJ. Os módulos de tiro

utilizados eram o tiro frontal com troca de carregador, tiro para retaguarda,

identificação de alvo, tiro circular e tiro barricado. A PCL era conduzida nível Grupo

de Combate (GC), com a presença dos Cmt Pel e Cmt Cia observando o

desempenho das frações.

Os militares do CA-Leste que atuam como ameaça armada são chamados de

força oponente (FOROP). A FOROP tem efetivo e organização próxima a de um

pelotão de fuzileiros motorizado, e armamento similar a esta fração. É formado por

militares do Efetivo Profissional (EP), não segue uma doutrina rígida e tem total

liberdade de ação, simulando assim o inimigo, dono de sua vontade.

O tiro frontal com troca de carregador consiste em posicionar de pé um militar

de frente para o outro, ao silvo de apito ambos devem tomar a posição de joelhos,

trocar o carregador, levantar e executar o “double tap”, dois disparos no “oponente”

que está à frente, como na figura 4. O tiro é de festim e com o DSET é possível

identificar se o militar acertou o militar a sua frente. Normalmente utiliza-se dois

militares que estão realizando o adestramento. Esse módulo permite treinar o militar

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em uma atividade crítica, pois é o momento no qual está vulnerável. Dez entre os

onze entrevistados julgaram esse módulo importante para as situações vividas

durante a operação, ressaltando que esse procedimento foi necessário.

FIGURA 4 – Tiro frontal Fonte: Arquivo CA-Leste

O tiro para retaguarda consiste em posicionar dois militares um de costas

para o outro, no primeiro silvo de apito ambos iniciam um deslocamento em sentidos

opostos, no segundo silvo de apito ambos fazem frente para a retaguarda e

executam dois disparos na “ameaça”, simulada pelo outro militar, como na figura 5.

Da mesma forma é possível identificar quem acertou o alvo e são executados por

dois militares da tropa em adestramento. Todos os militares indicaram que esse

módulo foi importante, pois como característica do ambiente a ameaça poderia vir da

retaguarda.

FIGURA 5 – Tiro para retaguarda Fonte: Arquivo CA-Leste

A identificação de alvo consiste em posicionar um militar de frente para

anteparos, onde atrás há elementos da FOROP que ao sinal previamente definido

do Observador, controlador e avaliador (OCA) aparecem como ameaça. O militar

executante ao perceber o movimento deve reagir e executar dois disparos na

ameaça, como na figura 6. É possível identificar se o militar acertou a ameaça e se

conseguiu engajá-la antes de ser engajado. Todos os entrevistados julgaram

importante esse módulo, pois treina a reação do militar frente à ameaça.

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FIGURA 6 – Identificação de alvo Fonte: Arquivo CA-Leste

O tiro circular consiste em posicionar militares em um grande círculo, estes

devem se movimentar no mesmo sentido, de maneira circular. São identificados aos

pares, no silvo de apito, todos devem parar o movimento e engajar a ameaça,

simbolizada pelo par correspondente, como na figura 7. É possível identificar se o

militar acertou e quem conseguiu engajar o oponente primeiro. Todos os

entrevistados responderam que este módulo foi importante para as ações durante a

Operação, pois treina o militar identificar a ameaça dentre outros elementos.

FIGURA 7 – Tiro circular Fonte: CA-Leste

O tiro barricado é realizado com anteparos, que simulam barricadas, que são

colocados em sequência formando uma espécie de pista, na qual a dupla deve

chegar até o final. Ao longo dessa pista há elementos da FOROP que visam impedir

o deslocamento dos militares até o final, como na figura 8. Este módulo simula, de

maneira reduzida, o investimento em localidade com ação hostil de APOP. Todos os

entrevistados julgaram importante esse módulo. Permite treinar a comunicação entre

os militares durante a progressão.

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FIGURA 8 – Tiro barricado Fonte: CA-Leste

Obedecendo a progressividade do adestramento após os módulos de tiro a

tropa executava a pista de combate à localidade, em uma região de casarios no

morro do capim no Centro de Instrução do Gericinó. Nessa pista o GC tem por

objetivo realizar a limpeza de todas as casas até a conquista das últimas, como na

figura 9. Depara-se então, com elementos da FOROP realizando ações hostis.

Encontra também elementos de figuração simulando APOP desarmado e mesmo

população local. No contexto do adestramento são chamados de figuração todos os

elementos que não possuem armamento. Podem simular a população a favor dos

militares, neutra ou mesmo realizando manifestações contrárias à tropa. Ainda que

realizem atos contrários como jogar pedras e outros objetos desde que não portando

armamento são considerados figuração.

FIGURA 9 – Pista de Combate à Localidade

Fonte: CA-Leste

Todos os entrevistados julgaram importante a execução da PCL, e nove entre

os onze entrevistados citaram o aumento do tempo de execução como uma

oportunidade de melhoria, corroborando assim a eficiência dessa atividade para a

Operação.

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3.1.2 Características da Operação São Francisco

A Operação São Francisco é classificada como uma Operação de cooperação

e coordenação com agências, segundo o Manual de Campanha EB70-MC-10.223

(2017, p. 3-14), são aquelas que normalmente ocorrem nas situações de não guerra,

nas quais o emprego do poder militar é usado no âmbito interno e externo, não

envolvendo o combate propriamente dito, exceto em circunstâncias especiais.

São características dessas operações:

a) uso limitado da força; b) coordenação com outros órgãos governamentais e/ou não governamentais; c) execução de tarefas atípicas; d) combinação de esforços políticos, militares, econômicos, ambientais, humanitários, sociais, científicos e tecnológicos; e) caráter episódico; f) não há subordinação entre as agências e, sim, cooperação e coordenação; g) interdependência dos trabalhos; h) maior interação com a população; i) influência de atores não oficiais e de indivíduos sobre as operações; e j) ambiente complexo (BRASIL, 2017. p. 3-15)

Todas essas características provocam um ambiente difuso e complexo,

símbolo dos conflitos atuais.

A atual configuração geopolítica ocasiona a inserção de novos atores (estatais e não estatais) no contexto dos conflitos, aumentando a importância dos aspectos não militares para resolução destes, o que leva à necessidade de geração de novas capacidades. [...] Alguns aspectos do ambiente operacional devem ser considerados na definição das capacidades das forças militares: a) o caráter difuso das ameaças; b) a dificuldade de caracterizar o oponente na população; c) a prevalência dos enfrentamentos, de forma crescente, ocorrerem em áreas humanizadas; [...]a dificuldade de definição de linhas de contato entre os beligerantes; [...]g) o grau de envolvimento de todas as expressões do poder nacional na prevenção de ameaças, no gerenciamento de crises e/ou na solução de conflitos armados; [...]i) o posicionamento da opinião pública (nacional e internacional) quanto ao emprego da força; j) o achatamento dos níveis decisórios, provocado, por exemplo, pelo avanço tecnológico; k) a inobservância de batalhas que decidam o conflito; (BRASIL, 2017. p. 2-3 e 2-4)

Além desses novos atores, a tropa atua em ambiente altamente povoado,

onde APOP se confundem com os demais integrantes da população.

Ao todo são 15 favelas, onde moram 140 mil pessoas. Uma área de sete quilômetros quadrados disputada por três facções criminosas. “É uma área muito complexa, com muitos grupos armados, com milícia em conflitos e confrontos. Então é uma área que realmente é um desafio para a segurança”, afirma o sociólogo da UERJ Ignacio Cano. (http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2015/06/forca-de-pacificacao

teve-avancos-na-mare-mas-ainda-enfrenta-dificuldades.html acesso 17 jul 18)

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Segundo um dos militares entrevistados, o Cap Hermani, que atuou como

Cmt Pel, ressaltou que de acordo com a facção que dominava determinada áreas do

complexo da Maré, as ações eram diferentes, podendo ser mais ou menos hostis à

presença da tropa.

Os protestos de moradores frente às ações dos agentes estatais foram

também características dessa Operação, seja por meio de manifestações ou

agressões verbais, segundo relata o militar entrevistado Cap Castro, Cmt Pel na

Operação.

3.1.4 Eficiência, de maneira geral, do adestramento utilizando a simulação viva.

Segundo as entrevistas realizadas com relação à relevância, considerando

uma escala de 1 a 5, onde o 1 é o índice menor e o 5 o índice maior, foi respondido

por seis dos onze entrevistados o índice 4, por quatro o índice 5 e por um

entrevistado o índice 3.

Quanto à eficiência, de maneira geral, dez dos militares responderam que o

adestramento realizado para a Operação São Francisco foi eficiente. Um militar

respondeu que foi eficiente, no entanto necessita de ajustes.

Quanto à importância das atividades executadas um dos militares

entrevistados julgou o tiro frontal com troca de carregador pouco importante, os

demais julgaram todas as atividades muito importantes.

O resultado mostra, sobre um aspecto geral, que o adestramento realizado

com o DSET no CA-LESTE foi adequado para a Operação São Francisco. Percebe-

se que os padrões mínimos foram alcançados para essa forma de preparação,

segundo os Comandantes de fração entrevistados. Tal dado não impede, no

entanto, que oportunidades de melhorias sejam abordadas.

3.1.5 Aumento de elementos participantes do adestramento

Considerando as situações ocorridas durante a Operação São Francisco foi

proposto por seis dos militares entrevistados, como forma de melhorar o

adestramento, um aumento dos elementos de figuração, sem armamento, simulando

APOP. Este elemento, como foi descrito, simula o cidadão que realiza atos hostis

contra a tropa, no entanto sem armamento. Eram utilizados um ou dois elementos

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por Grupo de Combate e segundo seis militares entrevistados seria uma

oportunidade de melhoria aumentar para quatro ou cinco esses efetivo.

Foi proposto por dez dos onze militares entrevistados um aumento dos

elementos de figuração, sem armamento, simulando população em geral. Esse tipo

de figuração simula, em sua maioria, moradores da região, na qual a tropa deve dar

especial atenção quanto aos efeitos colaterais. Em geral eram inseridos três

elementos com essa finalidade, o que devido à densidade demográfica do local da

Operação foi proposto pela maioria dos militares entrevistados o aumento desse

número.

Foi proposto por sete entrevistados um aumento dos elementos de figuração

simulando crianças, mulheres e idosos. Essa oportunidade de melhoria segue a

mesma finalidade do item anterior.

Foi proposto por cinco dos entrevistados um aumento dos elementos de

figuração, sem armamento, simulando feridos. Era realizado, por GC, um incidente

envolvendo ferido. Foi verificado, diante dos fatos ocorridos na Operação, que um

número maior de incidentes desse tipo seria uma oportunidade de melhoria. O

próprio fato do aumento do número de execuções da PCL, que foi um dos aspectos

citados, já atenderia essa e outras oportunidades de melhoria.

Percebe-se, portanto, que foi dada importância para a simulação dos

elementos citados. Com as oportunidades de melhoria citadas tais modificações

tornariam o adestramento mais eficiente. Na maioria das oportunidades de melhoria

não é proposto um número ideal de elementos de figuração, pois nesses casos

devem ser consideradas outras variáveis, como o provável aumento no número de

execuções das atividades, dentre outras.

3.1.6 Tempo de execução dos módulos de tiro

Quatro dos militares entrevistados julgaram importante aumentar o tempo de

execução dos módulos de tiro, sendo que um sugeriu o tempo de 2 jornadas e três

de 3 jornadas. Os diversos módulos de tiro executados são exercícios, em sua

maioria, repetitivos que a adaptam o indivíduo àquele movimento. Portanto para

esses militares, essa oportunidade de melhoria no aumento do número de

execuções implicaria melhor resultado da tropa.

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3.1.7 Tempo de execução da Pista de Combate em Localidade (PCL)

Nove dos onze militares entrevistados julgaram importante aumentar o tempo

de execução da Pista de Combate em Localidade, sendo que dois sugeriram a

realização de 2 investimentos, seis de 3 investimentos e um de quantos

investimentos forem possíveis. Está retratado, portanto, esse ponto forte do

adestramento, com a oportunidade de melhoria para o aumento no número de

execuções da pista. Assim como nos módulos de tiro foi julgado que mais execuções

são capazes de melhorar o desempenho das frações nessa atividade.

3.1.8 Planejamento e emissão de ordens

Antes da execução da PCL o Cmt Gc recebia a missão e realizava um briefing

com sua fração e seguia para a atividade. Quatro dos militares entrevistados

julgaram importante Inserir no adestramento um planejamento e emissão de ordem

sumária para o investimento à PCL. Sendo que um militar sugeriu 30 min para

execução dessa atividade e três sugeriram um tempo de meia jornada. Essa

atividade não foi executada durante a preparação e é indicada como uma

oportunidade de melhoria. A PCL era executada nível Grupo de Combate, dessa

forma o Cmt GC receberia uma missão no interior da localidade, simulada pela PCL,

e após realizar seu planejamento faria a emissão de ordens ao seu grupo. Devido às

situações encontradas pela tropa, esse aspecto foi visto como oportunidade de

melhoria para o adestramento.

3.1.9 Treinamento anterior ao adestramento com simulação viva

Como forma de aproveitar melhor o exercício de adestramento do CA-LESTE

foi indicado que as atividades de módulos de tiro e PCL poderiam ser realizadas

pela tropa, ainda na OM de origem, antes do início das atividades com o DSET.

Mesmo sem o uso da simulação viva foi julgada importante essa preparação por

cinco dos militares entrevistados para a PCL, e por sete para os módulos de tiro.

Essa oportunidade de melhoria indica que os referidos entrevistados acreditam que

a tropa pode aproveitar melhor as atividades com o DSET, quando as mesmas

forem executadas antes, mesmo sem os equipamentos de simulação. Nota-se então

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que a simulação viva, como meio nobre e capaz de aferir resultados, é mais bem

aproveitada quando a tropa realiza os módulos de tiro e PCL anteriormente, mesmo

que ainda sem o DSET.

3.1.10 Treinamento com imagem simulando situações reais

Foi indicado por um dos militares, como sugestão, a realização pistas

"virtuais", com emprego de lençol e projetor de vídeo, com vídeos simulando

situações do dia a dia, fazendo com que o atirador diante da projeção fosse treinado

quanto às diversas situações simuladas apresentadas à sua frente. No período da

Operação São Francisco, nos anos de 2014 e 2015, o CA-LESTE utilizava apenas a

simulação viva como forma de adestramento. No entanto, atualmente o CA-Leste

utiliza a simulação virtual nos adestramentos por meio do Software Virtual

Battlespace 3 (VBS 3), e portanto essa que seria uma oportunidade de melhoria já é

uma realidade.

FIGURA 10 - Virtual Battlespace 3 Fonte: Arquivo CA-Leste

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do tempo, a Instrução Militar (IM) aprimorou-se junto com o Exército.

A participação em conflitos, as atividades e intercâmbios com Exércitos de outros

países, a constante atualização na doutrina, a evolução nos materiais de emprego

militar e o desenvolvimento de armamentos mais eficazes, são alguns fatores que

fizeram com que a Instrução Militar se desenvolvesse e, principalmente, se

aproximasse do realismo dos campos de batalha. No entanto, somente com o

advento da tecnologia do final do Sec XX foi possível buscar a economia e a

segurança tão importantes na IM.

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A simulação viva trouxe, ao Exército Brasileiro (EB), a oportunidade em

adestrar suas tropas sem a necessidade de empregar armamento e munição real,

aumentando a economia de recursos e minimizando a perda de vidas.

O crescente emprego do EB em Operações de cooperação e coordenação

com agências trouxe novos desafios, pois a realidade encontrada pela tropa não é

um oponente com farda de outro país, falando outro idioma e em local distante de

sua pátria. O ambiente de Operações é no mesmo país, tratando com a própria

população, isso traz como consequências o uso proporcional da força e o estrito

cumprimento das leis como fatores ainda mais relevantes que em qualquer outra

situação.

Dessa forma, este trabalho realizou um estudo de caso sobre o emprego de

tropa na Operação São Francisco e o adestramento para a preparação das frações

utilizando o DSET no CA-LESTE, que desde 1996 utiliza a simulação viva. Foram

realizadas entrevistas com militares de carreira que exerceram função de Cmt de Pel

e Cia na Operação. Fruto da observação desses militares e da bibliografia acerca do

tema, o trabalho verificou que, em um aspecto geral, o adestramento foi eficiente

para o emprego da tropa, com diversos pontos fortes. Percebeu-se, também,

oportunidades de melhoria que foram registradas para que a tropa aproveite mais o

uso da simulação viva e, por consequência, adestre-se melhor.

As opiniões quanto à importância das atividades realizadas foram unânimes.

Todos julgaram que as atividades realizadas no adestramento foram importantes e

eficazes, com uma pequena porcentagem excluindo o tiro frontal com troca de

carregador. Fica evidente, portanto, que o adestramento, de maneira geral, atinge os

padrões mínimos esperados pelos Cmt Fração. Corrobora, ainda nesse sentido, por

meio da opinião unânime dos entrevistados a necessidade em aumentar o tempo de

execução da PCL e dos módulos de tiro, de tal vista que é percebida uma relação

direta entre o número de execuções e o desempenho da tropa.

Face às características do fator humano no Complexo da Maré foi

considerado, como oportunidade de melhoria, o aumento do efetivo de elementos da

figuração, seja simulando população em geral ou APOP. De forma que haja mais

situações envolvendo esses atores, cada vez mais presentes em Operações de

mesma natureza e nos conflitos atuais.

Foi apresentado como oportunidade de melhoria a implementação do

planejamento e emissão de ordem pelo Cmt Fração para que possa em seguida

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executar a PCL. Essa proposta não inclui maiores modificações na execução da

PCL, que já é realizada, mas sim inserir as duas atividades citadas.

A preparação que antecede o adestramento no CA-Leste a ser executada na

OM de origem foi considerada um fator importante para o melhor desempenho da

tropa nos módulos de tiro e, em parte, para a PCL. Destaca-se o módulo de tiro, pois

são exercícios de fácil execução, que visam adaptar o militar àquele movimento, e

mesmo sem o uso do DSET a tropa chegaria a desempenhos satisfatórios. Nesse

momento não seria possível verificar os índices de acerto dos tiros nos militares, já

que estariam realizando com festim ou em seco. No entanto, os militares estariam

adaptados aos exercícios e com o uso posterior do DSET poderiam realizar o ajuste

fino do tiro.

As conclusões sobre os pontos fortes e oportunidades de melhoria no uso da

simulação viva na preparação para a Operação São Francisco foram alcançadas por

meio de militares participantes da Op São Francisco, que participaram do

adestramento realizado do CA-LESTE, com utilização integral do DSET. Dessa

forma, puderam identificar o que lhes foi mais útil e o que pode ser melhorado,

contribuindo, assim, sobremaneira para a evolução do adestramento com uso da

simulação viva. Conclui-se portanto, que o adestramento realizado no CA-Leste foi

eficiente frente às situações encontradas pela tropa na Operação São Francisco.

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REFERÊNCIAS

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______. Exército. Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx). Revista Verde Oliva. Rio de Janeiro-RJ, 2013. ______. Exército. Comando de Operações Terrestres. Sistema de Instrução Militar do Exército Brasileiro (SIMEB). Brasília-DF, 2011. ______. Exército. Estado Maior do Exército. EB70-MC-10.223 Operações. 5. ed. Brasília-DF, 2017. ______. Exército. Estado-Maior do Exército. Portaria nº 209-EME, de 21 de dezembro de 2005. Aprova a Diretriz para o Aperfeiçoamento e Modernização do Sistema Integrado de Simulação de Combate do Exército. Brasília: EME, 2005. ______. Exército. Ministério da Defesa. Ocupação das forcas armadas no complexo da maré acaba hoje. Brasília-DF, 2015. Disponível em: <https://www.defesa.gov.br/noticias/16137-ocupacao-das-forcas-armadas-no complexo-da-mare-acaba-hoje> Acesso em 23 mai. 2018. GLOBO. Bom dia Brasil. Força de pacificação teve avanços na Maré, mas ainda enfrenta dificuldades. Rio de Janeiro-RJ, 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2015/06/forca-de-pacificacao-teve-avancos-na-mare-mas-ainda-enfrenta-dificuldades.html>. Acesso em 17 jul. 2018.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: objetiva,

2008.

NOLASCO, Luciano Mendes. A avaliação de adestramento baseada no emprego de dispositivos de simulação de engajamento tático: situação atual no Exército Brasileiro e propostas para o aperfeiçoamento do sistema. Rio de Janeiro: EB-ECEME, 2000.

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ORBIS DEFENSE. Conheça um pouco do trabalho realizado pelo Centro de Avaliação de Adestramento do Exército (CAADEX). Rio de Janeiro-RJ, 2016. Disponível em: <https://orbisdefense.blogspot.com.br/2016/06/conheca-um-pouco-do-trabalho-realizado.html> Acesso em: 12 set. 2017. PADILHA, Luiz. Exercito-brasileiro-a-simulacao-como-ferramenta-no-adestramento-da-tropa/ 2014. Disponível em:. http://www.defesaaereanaval.com.br/exercito-brasileiro-a-simulacao-como ferramenta-no-adestramento-<da-tropa/>. Acesso em 31 mai 2018. Rádio Medianeira. Divisao-de-exercito-utiliza-jogos-de-guerra-para-adestrar-suas-grandes-unidades. Santa Maria-RS.2017. Disponível em: http://am.radiomedianeira.com.br/2017/07/04/3a-divisao-de-exercito-utiliza-jogos-de-guerra-para-adestrar-suas-grandes-unidades/. Acesso em 31 mai 2018.