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ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ ANNYELLE FRANCO MOURA SER ENFERMEIRO/TÉCNICO DE ENFERMAGEM NUM CONTEXTO DE UMA PROFISSÃO PREDOMINANTEMENTE FEMININA ITAJUBÁ 2012

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ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ

ANNYELLE FRANCO MOURA

SER ENFERMEIRO/TÉCNICO DE ENFERMAGEM NUM CONTEXTO DE UMA

PROFISSÃO PREDOMINANTEMENTE FEMININA

ITAJUBÁ

2012

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ANNYELLE FRANCO MOURA

SER ENFERMEIRO/TÉCNICO DE ENFERMAGEM NUM CONTEXTO DE UMA

PROFISSÃO PREDOMINANTEMENTE FEMININA

Trabalho de Pesquisa do Programa de Iniciação Científica da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, patrocinado pela FAPEMIG.

Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra Soane. Coorientadora: Profª. M.ª Aldaiza Ferreira Antunes Fortes.

ITAJUBÁ

2012

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M929s Moura, Annyelle Franco. Ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina / Annyelle Franco Moura. – 2012. 91 f.

Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra S. Trabalho de Pesquisa (Programa de Bolsa Científica – PROBIC/FAPEMIG) Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - EEWB, Itajubá, 2012. 1. Homem. 2. Profissionais de enfermagem. 3. Repre- sentação social. I. Título.

NLM: WY 16

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação elaborada pela Bibliotecária Karina Morais Parreira CRB 6/2777 da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB

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DEDICATÓRIA

À minha família: Fabiana (mãe), Walter (pai),

Gabrielli (irmã), pelo amor, paciência e compreensão

que tiveram comigo durante a realização deste trabalho.

Ao meu namorado e colega Elias,

que tanto me escutou em minhas horas de dúvidas

e indecisão, além de me dar apoio incondicional.

Aos meus verdadeiros amigos,

que sempre me apoiaram e estiverem presentes.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por ter me

dado forças durante essa caminhada,

Aos meus pais, pelo apoio e incentivo,

Ao meu namorado, pela paciência, compreensão e apoio,

À mestra Ana Maria Nassar Cintra Soane, que acreditou em mim e

tanto me ajudou na elaboração desta pesquisa,

À mestra Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, que sempre se dispôs a me

ajudar,

A FAPEMIG, pelo apoio financeiro que disponibilizou para que este

trabalho pudesse ter seguimento,

Aos enfermeiros e técnicos de enfermagem, participantes deste

estudo, pois sem eles essa pesquisa não ocorreria.

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“As profissões como enfermagem que é dominada pelas mulheres são menos unidas, é uma categoria mais desunida dentro de hospital”.

(Sujeito 17)

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RESUMO

Este estudo se define como descritivo e exploratório e foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa com o objetivo de conhecer os significados de ser enfermeiro ou técnico de enfermagem, num contexto de uma profissão predominantemente feminina, para os enfermeiros e técnicos de enfermagem, da cidade de Itajubá- MG. A coleta de dados ocorreu após a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, na qual foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, composta por duas partes: a primeira, de caracterização pessoal e a segunda aborda uma questão aberta “O que significa para você ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina?”. Participaram 20 enfermeiros ou ténicos de enfermagem, sendo 45% enfermeiros e 55% técnicos de enfermagem, numa amostragem não probabilística tipo bola de neve. Os dados foram analisados e interpretados sob o referencial das Representações Sociais (RS), utilizando como método o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Identificou-se que 70% dos participantes escolheram a enfermagem por gostar da profissão da área da saúde, de ajudar as pessoas e de cuidar. Os significados de ser enfermeito/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina são: “desenvolvimento profissional”, “necessário”, “ter privilégio”, “fazer a diferença”, “normal”, “um ganho”, “um desafio”, “satisfação e orgulho”, “restrição”, “ter maior visibilidade”, “maior cobrança”, “praticidade”, “mais bem visto” e “conviver com a desunião feminina”. Percebeu-se, então, que as ideias centrais das entrevistas, respondem ao significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina. Assim, é possível identificar que a ideia de gênero, na medida em que as relações sociais se modificam, pode ser revista e modificada.

Palavras- chave: Homem. Profissionais de enfermagem. Representação social.

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ABSTRACT

This study define itself as descriptive and exploratory, and it was developed from a qualitative approach with the objective of knowing the meanings of being a male nurse or a male nurse technician, in a context of a profession predominantly female, for the nurses and nurses technicians, from the city of Itajuba-MG. Data collection occurred after the Wenceslau Braz Nursing School Ethical Research Committee approval, in which it was used a guided semi-structural interview, composed by two parts: the first contains the personal characterization and the second approaches an open question: “What does it mean to you to be a nurse/nurse technician in the context of a profession predominated by woman?”. The sample was made by 20 male nurses or nurse technicians, 45% were nurses and 55% nurse technicians; in a non-probabilistic and snowball kind sample. Data were analyzed and interpreted under the Social Representation (SR) referential, using the Discourse of the Collective Subject (DCS) method. It was identified that 70% of the participants had chosen the nursing school because they enjoyed the health care professions, to help people taking care of themselves, the meanings of being a male nurse/nurse technician in the context of a profession predominated by woman are: “professional development”, “necessary”, “to have privileges”, “to make the difference”, “normal”, “a gain”, “a challenge”, “satisfaction and pride”, “restriction”, “to have more visibility”, “increased charging”, “practicality”, “well seen” and “to be in familiar terms with the female disunion”. Then it was realized that the central ideas from the interview respond to the meaning of being a male nurse/nurse technician in the context of a profession predominated by woman. Thereby it is possible to identify that the idea of gender, as the social relations changes, can be reviewed and modified.

Key Words: Man. Nursing professionals. Social Representation.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11

1.1 INTERESSE PELO TEMA ................................................................................13

1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO..........................................................................13

1.3 OBJETIVO DO ESTUDO..................................................................................15

2 MARCO CONCEITUAL....................................................................................16

2.1 CONTEXTUALIZANDO O GÊNERO MASCULINO E FEMININO....................16

2.2 INGRESSO DO GÊNERO MASCULINO NA ENFERMAGEM .........................19

3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO ................................................24

3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................................................24

3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO .............................................................26

3.2.1 Figuras metodológicas...................................................................................27

3.2.2 Fases do DSC..................................................................................................28

3.2.2.1 Coleta de dados................................................................................................28

3.2.2.2 Tabulação de dados .........................................................................................28

3.2.2.3 Apresentação dos resultados............................................................................29

4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ....................................................................30

4.1 CENÁRIO DO ESTUDO ...................................................................................30

4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................31

4.3 PARTICIPANTES, AMOSTRA E AMOSTRAGEM............................................33

4.4 COLETA DE DADOS........................................................................................34

4.4.1 Procedimentos de coleta de dados...............................................................34

4.5 PRÉ-TESTE......................................................................................................35

4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISES DE DADOS.....................................................35

4.7 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA...............................................................36

5 RESULTADOS .................................................................................................37

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5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA..........................37

5.2 TEMA, IDÉIA CENTRAL E DSC.......................................................................37

5.2.1 TEMA - Ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma

profissão predominantemente feminina .....................................................38

5.2.2 DSC referente às Ideias Centrais .................................................................40

6 DISCUSSÃO....................................................................................................47

7 CONCLUSÕES................................................................................................53

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................54

REFERÊNCIAS...............................................................................................56

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestuturada ................................59

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................60

ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD - 1) ......................62

ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD - 2) ......................85

ANEXO C – Parecer Consubstanciado Nº 567/2010 ...................................89

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1 INTRODUÇÃO

Há algum tempo a enfermagem vem sendo contextualizada como uma profissão

predominantemente ‘feminina’, pois esta, ao longo do tempo, foi desenvolvida por

mulheres. Contudo, nos últimos anos, há uma crescente participação dos homens nesta

profissão, embora ainda existindo certo preconceito.

Para Collière (1989 apud OGUISSO, 2007), o histórico da enfermagem consiste

em três grandes momentos: da origem da humanidade à Idade Média; depois da Era

Medieval ao final do século XIX; do início do século XX aos anos 60.

Desde os primórdios da humanidade, quando surge a vida, existem cuidados,

porque é preciso tomar conta da vida para que ela possa permanecer. Esses cuidados

eram efetuados pelas mulheres, cujos conhecimentos eram transmitidos de geração em

geração.

Após a Idade Média até ao fim do século XIX, a prática dos cuidados estava

associada com a mulher consagrada. Esta praticava “trabalhos de caridade” que

incluíam alimentar famintos, visitar prisioneiros, entre outros.

Do início do século XX aos anos 60, a prática de cuidados era realizada pela

mulher-enfermeira, auxiliar do médico. À enfermeira servil subordinada ao homem

(médico) lhe eram delegadas funções consideradas menos importantes.

Strachey (1996 apud OGUISSO, 2007) afirma que as enfermeiras eram

conhecidas, nos hospitais ingleses, pela sua conduta imoral e pouco fiável. Os cuidados

eram prestados por prostitutas ou prisioneiras.

Assim começam os “anos negros da enfermagem” em que os indivíduos que não

conseguiam encontrar emprego, cuidavam dos doentes. Desde os anos 60, ocorreram

vários estudos para o desenvolvimento da enfermagem. Nightingale, atuando na guerra

da Crimeia, contribuiu através de uma atitude de ruptura com o que estava instituído até

então, dado que, a par de defender a necessidade de formação, defendia a delimitação

de saberes e de atuação face aos médicos (OGUISSO, 2007).

Houve, então, o período de Florence Nightingale. Esta, além de ser uma

referência na enfermagem, possuía inteligência incomum, tenacidade de propósitos,

determinação e perseverança.

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Florence salientou o cuidar como algo de humano e de profundo. O cuidado para

ela consiste no serviço à humanidade que se baseia na experiência e observação,

ajudando a pessoa saudável ou doente a obter as melhores condições possíveis, de

forma a que a natureza possa agir sobre este. Pioneira no processo reflexivo da

disciplina de enfermagem foi a primeira fundadora de uma escola de enfermagem, na

qual médicos era quem ensinava. A eles cabiam então decidir quais das suas funções

poderiam colocar nas mãos das enfermeiras.

Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de

curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio,

nas ilhas e cidade da costa. E assim, a enfermagem foi sendo disseminada pelo

mundo.

Ao se debruçar sobre a história da enfermagem, percebe-se a ideia nitidamente. Assim, as atividades da enfermagem eram entendidas como afeitas ao sexo feminino, pois historicamente a mulher tem sido vista como possuidora de condições naturais para zelar, promover e ajudar o indivíduo a desenvolver harmoniosamente. Tais "condições naturais", na maioria das vezes, eram identificadas com a sua constituição física e biológica, condicionando seu caráter e sua personalidade, fazendo-a mais meiga, dócil, dedicada e disposta a acalentar as crianças (PASSOS, 1996, p. 20).

Evidencia-se o surgimento dos homens na enfermagem com as guerras e

também com a vida religiosa. Há relatos de que a presença masculina na enfermagem

se fez inicialmente no Egito antigo, num período pouco definido na literatura, quando os

homens jovens eram os que cuidavam dos enfermos e, em alguns casos, das mulheres

mais idosas. Em Roma, esses “enfermeiros”, que também eram chamados de censi,

accensiti ou aptiores valentudinarii, prestavam assistência hospitalar aos militares,

atletas, gladiadores e escravos. Com a evolução social trazida pelo cristianismo e as

mudanças nos conceitos do individuo, da família e do seu ideal de fortalecimento, a

ajuda e a assistência aos enfermos estavam em mãos tanto de mulheres como de

homens, e estes eram representados por uma casta privilegiada pertencente às ordens

religiosas ou militares (PEREIRA, 1991).

No decorrer dos anos, observa-se um aumento da presença do gênero

masculino no exercício de enfermagem.

Nesta pesquisa, evidenciamos o que representa ser enfermeiro ou técnico de

enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina.

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1.1 INTERESSE PELO TEMA

O interesse pelo tema surgiu quando fui convidada a realizar a pesquisa

científica em que foram propostos diversos temas e o que mais me chamou atenção foi

este: “ser enfermeiro ou técnico de enfermagem num contexto de uma profissão

predominantemente feminina”.

Com a apresentação deste tema tomei conta da dimensão da profissão, que

ainda é pouco abordada, já que a maioria dos trabalhos sobre gênero de enfermagem

discute aspectos que envolvam mulheres. Com isso, uma oportunidade de descobrir o

que levou homens a enfrentar tantos pré-conceitos estabelecidos pela sociedade,

ingressando com determinação e garra na profissão, já que esta, como já apresentada

anteriormente, vem sendo exercida por mulheres.

1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

A problemática que envolve a inclusão do homem na enfermagem, sendo esta

considerada uma profissão predominantemente feminina, aborda diversos fatores e,

como determinantes para esta escolha, pode-se destacar a criação dada pelos pais, a

maturidade e a vocação para tal área até o ápice do direcionamento profissional.

Torna-se possível questionar noções universais de homem e de mulher que são reproduzidas nas profissões como a enfermagem, objetivando mostrar o caráter construído destas noções, de forma que não continuem legitimando a existência de relações sociais desiguais entre os gêneros (PEREIRA, 2008, p. 12).

O referido autor acrescenta que as mulheres e seus saberes foram usualmente

negadas ou marginalizadas numa ciência androcêntrica. Isso impacta a enfermagem

enquanto profissão, em seu prestígio social, dada à majoritária participação feminina

nesta prática.

Portanto, cabe percorrer um caminho que se proponha a desnaturalizar as

relações sociais e hierarquias construídas que dão sentido às experiências dos gêneros

e que posicionam os homens de forma geral, em locais de privilégio, em relação às

mulheres.

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Acredito que esse posicionamento desigual aconteça, porque o masculino e tudo

o que lhe for vinculado culturalmente é remetido ao campo do político e do trabalho

(produção), e o feminino ao doméstico (reprodução), como subsidiário ao masculino,

tendo como um de seus efeitos a produção de relações de gênero dicotômicas,

reforçando uma relação hierárquica entre ambos.

Dessa forma, criam-se expectativas de que o masculino, entre inúmeros fatores,

deve exercer uma profissão construída e legitimada culturalmente como é o caso da

enfermagem, o que estabelece relações conflituosas, em alguns pontos, com as

normas de gênero como instituem o “normal” do masculino.

Cabe ressaltar, neste universo, a equívoca opinião de classificar homens

enfermeiros de homossexuais, visto que a profissão exige maior sensibilidade e

delicadeza para lidar com os clientes.

Várias indagações surgem: será que o homem se vê marginalizado ao atuar em

uma profissão predominantemente feminina? Como ele se sente? Como vivencia esta

realidade?

Neste contexto, ao realizar este trabalho, obtivemos informações que podem

esclarecer aos homens que queiram ingressar na enfermagem sobre o que é realmente

exercer uma profissão com predomínio de mulheres, auxiliando-os nas decisões de

ingressar ou não nesta área.

Além disso, poderá haver uma inclusão maior do gênero masculino na

enfermagem trazendo benefícios para a sociedade, haja vista que, muitas vezes, na

prática, vivencia-se uma solicitação dos pacientes para serem assistidos por homens.

Outro benefício está relacionado com as características peculiares de ser homem

e de ser mulher, pois as mulheres são consideradas mais sentimentais e atenciosas e

os homens mais fortes e firmes.

Para a ciência, os dados desta pesquisa preencheram uma lacuna do

conhecimento relacionado com o tema, visto que a maioria dos estudos enfoca o

gênero feminino. Servirá, também, de estímulo e subsídio para a realização de várias

pesquisas.

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Após estas considerações, emerge a questão de pesquisa: “O que significa ser

enfermeiro ou técnico de enfermagem num contexto de uma profissão

predominantemente feminina?”.

1.3 OBJETIVO DO ESTUDO

Este estudo teve como objetivo:

Conhecer os significados de ser enfermeiro ou técnico de enfermagem, num

contexto de uma profissão predominantemente feminina, para os enfermeiros e

técnicos de enfermagem, da cidade de Itajubá- MG.

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2 MARCO CONCEITUAL

Esta etapa do trabalho inicia-se contextualizando o gênero masculino e feminino

e posteriormente discorre sobre o ingresso do masculino na enfermagem.

2.1 CONTEXTUALIZANDO O GÊNERO MASCULINO E FEMININO

A produção social da existência em todas as sociedades conhecidas implica, por

sua vez, a intervenção conjunta dos dois gêneros, o masculino e o feminino. Cada um

dos gêneros representa uma particular contribuição na produção e reprodução da

existência.

Segundo Carloto (2001), o termo gênero é uma representação não apenas no

sentido de que cada palavra representa seu referente, seja ele um objeto, uma coisa,

ou ser animado. O termo “gênero” é, na verdade, a representação de uma relação, a

relação de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria, neste caso, o gênero

masculino e feminino na representação humana.

Gênero é a representação de uma relação, o gênero constrói uma relação entre uma entidade e outras entidades previamente constituídas como uma classe, uma relação de pertencer. Assim, gênero representa não um indivíduo e sim uma relação, uma relação social; em outras palavras, representa um indivíduo por meio de uma classe (LAURETIS, 1994, p. 210).

O gênero se torna uma maneira de indicar as “construções sociais” das ideias

sobre os papéis exclusivos aos homens e às mulheres além das identidades subjetivas.

O gênero é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Ele oferece um

meio de distinguir a prática sexual dos papéis atribuídos aos homens e às mulheres

além de colocar ênfase sobre todo um sistema de relações (SCOTT, 1999).

A reprodução da espécie humana, como preconiza Costa (s/d), só pode

acontecer com a participação do gênero masculino e feminino. Para perpetuar a

espécie, os homens e as mulheres foram criando uma relação de convivência

permanente e constante. Surgiu com o desenvolvimento da espécie humana, a

sociedade humana.

Esta mesma autora continua dizendo que:

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A sociedade humana é histórica, muda conforme o padrão de desenvolvimento da produção, dos valores e normas sociais. Assim, desde que o homem começou a produzir seus alimentos, nas sociedades agrícolas do período neolítico (entre 8.000 a 4.000 anos atrás), começaram a definir papéis para os homens e para as mulheres (COSTA, s/d).

Conforme Costa (s/d), com o passar dos anos, a mulher buscou sua

independência, fazendo com que deixasse a imagem de ser dotada somente por

fazeres do lar. Então a mulher das camadas populares foi submetida ao trabalho em

fábricas.

A revolução industrial incorporou o trabalho da mulher no mundo da fábrica,

separou o trabalho doméstico do trabalho remunerado fora do lar. Em fases de

ampliação da produção se incorporava a mão de obra feminina junto à masculina, nas

fases de crise substituía-se o trabalho masculino pelo trabalho da mulher, porque o

trabalho da mulher era mais barato (COSTA, s/d).

Esta autora também complementa que as lutas entre homens e mulheres

trabalhadoras estão presentes em todo o processo da revolução industrial. Os homens

substituídos pelas mulheres na produção fabril acusavam-nas de roubarem seus postos

de trabalho. A luta contra o sistema capitalista de produção aparecia permeada pela

questão de gênero. Essa questão colocava-se como um ponto de impasse na

consciência de classe do trabalhador.

Carloto (2001) ressalta que a categoria gênero vai ser desenvolvida e, assim,

interferir no conjunto das relações sociais. Como um exemplo, destaca-se a divisão

sexual do trabalho.

A divisão sexual do trabalho tem sido outro importante conceito para compreensão do processo de constituição das práticas sociais permeadas pelas construções dos gêneros a partir de uma base material. O uso de práticas sociais aqui é usado como uma noção indispensável que permite a passagem do abstrato ao concreto; poder pensar simultaneamente o material e o simbólico; restituir aos atores sociais o sentido de suas práticas, para que o sentido não seja dado de fora por puro determinismo (KERGOAT, 1996 p. 23).

Com isso, Costa (s/d) diz que a mulher ocupa as atividades relacionadas aos

serviços de cuidar (nos hospitais, a maioria das mulheres são enfermeiras e

atendentes, são professoras, educadoras em creches), serviços domésticos (ser

doméstica), comerciárias e uma pequena parcela na indústria e na agricultura. E é

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devido a este fato que a inserção dos homens numa profissão totalmente

contextualizada feminina é complicada e aborda diversos fatores.

A divisão sexual do trabalho assume formas conjunturais e históricas, constrói-se

como prática social, ora conservando tradições que ordenam tarefas masculinas e

tarefas femininas na indústria, ora criando modalidades da divisão sexual das tarefas. A

subordinação de gênero, a assimetria nas relações de trabalho masculinas e femininas

se manifesta não apenas na divisão de tarefas, mas nos critérios que definem a

qualificação das tarefas, nos salários, na disciplina do trabalho.

Para Lobo (1991) apud Carloto (2001), a divisão sexual do trabalho não é tão

somente uma consequência da distribuição do trabalho por ramos ou setores de

atividade, senão também o princípio organizador da desigualdade no trabalho. A divisão

não cria a subordinação e a desigualdade das mulheres no mercado de trabalho, mas

recria uma subordinação que existe também nas outras esferas sociais.

A divisão sexual do trabalho é um processo que não se resume a alocar homens

e mulheres em estruturas ocupacionais, perfis de qualificação e tipos de postos de

trabalho já definidos. Da mesma maneira, a qualificação é uma construção social

fortemente sexuada, marcada pelos gêneros, é uma dimensão fundamental do

processo de constituição das categorias que vão estruturar a definição dos postos de

trabalho e dos perfis de qualificação e competências a eles associados (Humphrey,

1987 apud CARLOTO, 2001).

Ao admitir-se que a divisão sexual do trabalho é um princípio organizador da produção capitalista, e que essas formas de organização não são neutras ou somente científicas (e a saúde centra-se nessa cientificidade “neutra”), que são sexuadas e se embasam em uma relação entre os sexos, existente nas sociedades humanas, pode-se assumir alguns pressupostos conceituais na análise da enfermagem (LOPES; LEAL, 2005, p.111).

Costa (s/d) ainda comenta que a divisão sexual do trabalho, como base material

do sistema de sexo-gênero, concretiza e dá legitimidade às ideologias, representações

e imagens de gênero. Estas, por sua vez, fazem o mesmo movimento em relação às

práticas cotidianas que segregam as mulheres nas esferas reprodutivo-produtivas, num

eterno processo de mediação.

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Apesar de tantas dificuldades, as mulheres conquistaram um espaço de respeito

dentro da sociedade. As relações ainda não são de igualdade e harmonia entre os

gêneros feminino e masculino. O homem ainda atribui à mulher a dupla jornada, já que

o lar é sua responsabilidade, mas muitos valores sobre as mulheres já estão mudando.

O homem também está em conflito com o papel que foi construído socialmente para

ele. Hoje, ser homem não é nada fácil, pois as mulheres passaram a exigir dele um

novo comportamento que ele ainda está construindo.

Quanto à igualdade de gênero que se coloca, cresce o espaço da democracia

dentro da espécie humana. A democratização efetiva da sociedade humana passa pela

discussão das relações de gênero.

2.2 INGRESSO DO GÊNERO MASCULINO NA ENFERMAGEM

São ainda poucas as referências que abordam esse tema e também recentes os

interessados por este, pois há uma dificuldade de saber quando os homens começaram

exatamente a ter sua participação na enfermagem e quem foi o ‘primogênito’ da área.

A forte associação do cuidar à feminilidade, que decorre da história da prestação de cuidados e da enfermagem como profissão, é apontada como a principal razão para a falta de reconhecimento social e para o baixo estatuto desta profissão, tanto por sociólogos como por teóricos/as da enfermagem (SIMÕES; AMÂNCIO, 2004, p.71).

A maior questão da enfermagem é atravessada por dois aspectos centrais e

interligados: a permanência da prática de cuidados como a grande razão de ser da

profissão e o fato de o seu precursor histórico se confundir com o feminino.

Simões; Amâncio (2004) apostam que a enfermagem, historicamente construída

como profissão feminina através da comparação dos cuidados com o papel feminino,

tornou-se um exemplo da divisão sexual do trabalho. Razões de ordem teórica e

empírica permitem afirmar que o gênero não se restringe à divisão sexual. No plano

teórico, o gênero atravessa todas as instâncias do social, estendendo os seus

significados tanto à família, como ao trabalho, ao estado ou às relações interpessoais.

Neste sentido, Guillaumin (1992 apud SIMÕES; AMÂNCIO, 2004) constitui “uma

ideologia sobre os sexos que segue a lógica de outras ideologias de dominação”,

sendo, portanto, inconfundível com os indivíduos concretos.

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De acordo com Pereira (1991), é preciso chamar a atenção para o fato de que a

prática do cuidado nem sempre foi tida como ocupação feminina, pois ao se analisar a

história, é possível encontrar dados que contradizem o mito de que essa profissão é

‘tipicamente feminina’.

O mesmo autor também afirmam que o homem aparece na enfermagem em

decorrência da grande influência das ordens religiosas e militares, pela necessidade da

sua dependência para os trabalhos e também pela força física. Assim evidencia-se

essa força braçal do profissional de enfermagem em atendimentos aos soldados de

guerra.

Pereira (1991) ressalta ainda que:

Do século VI em diante, difundiu-se a participação dos monges beneditinos

que, baseados nos princípios de Hipócrates, começaram a desenvolver

alguns procedimentos de enfermagem, destacando a arte de curar. Nesse

momento histórico aparece a divisão de enfermarias: homens que seriam

cuidados por monges e de mulheres pelas monjas.

Na Idade Média, novamente pela ordem religiosa, foi identificada nas

Cruzadas a presença de homens da aristocracia participando das tarefas de

assistência e reconstrução de hospitais.

Por volta do século XII, encontramos a figura de São Francisco de Assis, que

mesmo com situação financeira privilegiada e contrário aos desejos de seu pai,

dedicou-se a assistir as enfermidades dos leprosos, que foi de grande valor pelo

progresso da enfermagem.

Outro nome bastante importante é de São Vicente de Paula, um dos percussores

da enfermagem moderna. Este, além de tratamento caridoso aos doentes, dava

instrução às pessoas que o auxiliavam, para melhoria e eficácia dos serviços de

enfermagem prestados.

No Brasil, também se devem destacar os padres Jesuítas que tiveram importante

participação no cuidado de índios doentes.

Pereira (2008) afirma que o cuidado nas tribos no Brasil, até a chegada dos

portugueses ao país, foi exercido por pajés e, após sua chegada, passou a ser exercido

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também por religiosos, jesuítas e escravos, configurando-se uma prática composta por

pessoas do sexo masculino.

Paixão (1963 apud PEREIRA, 2008) reforça esta ideia explicando que no período

por ela denominado como de “unidade cristã”, as práticas de cuidados à saúde eram

realizados tanto por homens como por mulheres, em especial diáconos e a diaconisas.

Destacam-se no atendimento aos enfermos após cessar a perseguição aos cristãos por

parte dos judeus e ateus, São Basílio e São João Crisóstomo, pertencentes ao clero.

Com isso, o conhecimento sobre as formas de preservar e retomar a saúde em casa de

doenças manteve centralidade no clero, no qual muitas mulheres no século IV e V,

supostamente motivadas pelo fervor religioso e pelo sentimento da caridade,

dedicaram-se a prestar cuidados a pobres e doentes. Nesse período, há registros da

criação de um grande número de hospitais.

Essa dimensão histórica incide, e muito, sobre a formação profissional

atualmente, pois é este cenário que marca a enfermagem como sendo feminina. A

participação masculina então, se dá por ordens cristãs como já citadas e na minoria

existente nos dias atuais.

Alguns fragmentos históricos referentes ao contexto europeu em que foi instituído o modelo de enfermagem nightingaleano, para referir sobre a maneira como essa dimensão histórica incide sobre a formação profissional atualmente, já que influenciou as formas de ensino das escolas de enfermagem implantadas no Brasil, no século XX, e seus efeitos repercutem na profissão (PEREIRA, 2008, p. 21)

A partir da estruturação do cenário da saúde no Brasil, ressalta Pereira (2008)

que, por volta do século XX, chega ao país o sistema de enfermagem nightingaleano.

Neste período os cuidados ainda estavam sob responsabilidade de religiosas e de

pessoas sem preparo para tal função.

Esse modelo implantado foi posto como resposta às necessidades da saúde da

época, já que neste momento o país estava voltado para exportação de mercadorias e,

como consequência, as epidemias, como febre amarela, tuberculose e varíola que

atordoavam a época. O atendimento hospitalar, neste período, era um privilégio

disponível apenas às camadas economicamente privilegiadas.

A institucionalização da enfermagem moderna no Brasil veio a atender a necessidade, sentida pela medicina, de contar com pessoas habilitadas ao cuidado de doentes, pois a medicina passou a atuar em ambiente hospitalar.

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Além disso, as enfermeiras formadas no sistema nightingaleano atendiam às necessidades da medicina e aos interesses dos médicos, porque, além de serem profissionais formalmente qualificados ao exercício da enfermagem, tinham como característica de formação disciplinar e religiosa, a docilidade, a obediência e a submissão à prática médica, por reproduzirem as relações sociais de gênero entre homens (médicos) e mulheres (enfermeiras da Europa vitoriana) (PEREIRA, 2008, p.27).

Assim, Lopes e Leal (2005, p.109-10) reforçam que:

O tardio processo de profissionalização atesta essas características e reproduz as relações de trabalho sob o peso hegemônico da medicina “masculina”. Assim, a seletividade sexual, assentada em valores ideológicos religiosos, associa-se à seleção de grupos sociais a serem incorporados aos sistemas organizados de saúde em expansão, a partir dos avanços técnicos e tecnológicos do campo científico e da organização capitalista do trabalho.

A partir da implantação deste sistema nightingaleano foi criada a primeira escola

de enfermagem, conhecida atualmente como Escola Ana Néri. Então, este sistema fez

com que o ingresso de homens na enfermagem mantivesse fechado por algumas

décadas.

O ingresso masculino na enfermagem ocorreu a partir de 1949, como lembra

PEREIRA (2008, p.28):

O ingresso masculino na profissão foi possibilitado, em especial, a partir de 1949, período em que foram criadas inúmeras escolas de enfermagem no país vinculadas às faculdades de medicina e a partir da reforma universitária de 1966 que vinculou o ensino da enfermagem à universidade. Ambos os acontecimentos contribuíram para romper com a obrigatoriedade que se tinha até então de ser do sexo feminino para ingressar na profissão.

Mesmo com a facilidade da inserção dos homens na enfermagem, estes ainda

carregam fardos por “serem homens na enfermagem”. E esta feminização permanente

é concluída “sob a lógica pela qual a profissionalização se instituiu. Conclui-se que se

trata de uma profissão ”para mulheres” e de mulheres que se protegem (LOPES; LEAL,

2005, p. 124).

Outro fator que dificulta a inserção do homem na enfermagem é a atribuição do

vocabulário feminino para a enfermeira e masculino para o médico que constitui um

indicativo desta naturalização (PASTORE; ROSA; HOMEM, 2008).

Finalizando, é preciso demonstrar que somente é possível a total inserção dos

homens na profissão se a relação mulher-cuidado for desnaturalizada, confirmada,

ainda, por Lopes e Leal (2005, p.125):

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A diversidade das interpretações não esgota as explicações da persistente feminização. Por outra via, menos concreta, poder-se-ia dizer que parece se redesenhar a defesa histórica entre as mulheres de sua condição de “cuidadoras”. Cuidar é, de certa forma, uma ação identitária feminina que transcende o espaço de trabalho. Somente as mulheres aprendem a cuidar e são, principalmente, os cuidados de manutenção da vida que alimentam essa justificativa. Elas constroem, em consequência, um saber-fazer que se esforçam em valorizar, amar e defender (por que não?) ao longo de suas vidas.

Esta ideia é reforçada por Ojeda et al. (2008) ao mencionarem que a análise de

diferentes saberes existentes na construção histórica da Enfermagem, merece um

destacado espaço de discussões, daqueles que vivenciam o cotidiano das relações

interprofissionais em Saúde, com o intuito de buscar rupturas e (re)construções sociais,

no âmbito da Saúde e da sociedade.

Portanto, a enfermagem somente superará a estereotipia patriarcal quando

estabelecer novos conceitos, para que a identidade feminina seja incorporada à

masculina em uma relação lógica, integrando o público e o privado, as relações

profissionais e o saber de cada profissão, superando os paradigmas e buscando novos

conhecimentos (DONÁ et al., s/d apud FONSECA, 1995).

Atualmente, atesta-se, por exemplo, que o aumento de homens na profissão de

enfermagem é gradual e estável, o que se deve, sobretudo, à segurança, estabilidade e

garantias de postos de trabalho que a área oferece (QUITETE; VARGENS;

PROGIANTI, S/D).

Pensando nisso, este estudo, ao ouvir os homens da enfermagem, pretende

contribuir para a ruptura do cuidado atrelado à mulher e, consequentemente, reconstruir

a história da enfermagem com a presença do homem nesta profissão.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO

Esta parte do trabalho traz o referencial teórico metodológico e que neste estudo

abordou a Teoria das Representações Sociais (TRS) e o Discurso do Sujeito Coletivo

(DSC) como método de análise dos dados desta teoria.

3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A Teoria das Representações Sociais é um conjunto de conceitos, proposições e

explicações originados na vida cotidiana no desenrolar das comunicações

interpessoais. São equivalentes à sociedade em que vivemos, aos mitos e sistemas de

crenças das sociedades tradicionais, podendo, assim, serem vistas como a versão

contemporânea do senso comum (ANDRADE; DUARTE; MAMED, 2009).

De acordo com Moscovici (2004), o objetivo das Representações Sociais (RS) é

explicar os fenômenos do homem a partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de

vista a individualidade.

Nos últimos anos, o conceito de RS tem aparecido com grande frequência em

trabalhos científicos de diversas áreas.

Este conceito atravessa as ciências humanas e não é patrimônio de uma área

em particular. Ele tem fundas raízes na Sociologia, e uma presença marcante na

Antropologia e na história das mentalidades.

As RS são uma forma de trabalhar com o pensamento social em sua dinâmica e

em sua diversidade. Auxiliam na construção de uma realidade comum de um conjunto

social.

Com esta sistematização, há uma reabilitação do senso comum, do saber

popular, do conhecimento do cotidiano e do conhecimento pré-teórico (ARRUDA,

2002).

A RS constitui um recurso muito importante para se viver em sociedade, haja

vista que engloba explicações, ideias e manifestações culturais que caracterizam um

determinado grupo. Ela acontece a partir da interação das pessoas e, apesar de o

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homem viver em um ambiente coletivo, ele não perde os atributos típicos de sua

personalidade.

Serge Moscovici, em 1961, elaborou a primeira base teórica do conceito,

utilizando estudos na área de psicanálise para chegar às suas conclusões.

Para entender as relações humanas, é necessário fazer uma análise do coletivo,

verificando assim a troca de conhecimentos que a RS é capaz de promover dentro do

grupo.

É válido lembrar que o estudo da RS se mostra importante para compreender o

avanço da sociedade e o comportamento da pessoa inserida num grupo.

Para Sá (2004), a RS tem como objetivo explicar os fenômenos do homem a

partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vista a individualidade.

Portanto, este mesmo autor, preconiza que, para o psicólogo social europeu

Serge Moscovici, a RS está relacionada com o estudo das simbologias sociais em nível

tanto de macro como de microanálise, ou seja, o estudo das trocas simbólicas

infinitamente desenvolvidas em nossos ambientes sociais; de nossas relações

interpessoais, e de como isto influencia na construção do conhecimento compartilhado

e da cultura.

A finalidade da RS é tornar familiar algo não-familiar, isto é, uma alternativa de

classificação, categorização e nomeação de novos acontecimentos e ideias, com as

quais não tínhamos contato anteriormente, possibilitando, assim, a compreensão e

manipulação destes a partir de ideias, valores e teorias já preexistentes e internalizadas

por nós e amplamente aceitas pela sociedade.

Portanto, as RS são definidas como sendo uma forma de conhecimento

socialmente elaborado e compartilhado com um objetivo prático e que contribui para a

construção de uma realidade comum a um conjunto social, sendo ela equivalente aos

modos e às crenças das sociedade, ou seja, ao senso comum (ANDRADE; DUARTE;

MAMED, 2009) .

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3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que se conceitua como sendo uma técnica

de construção do pensamento coletivo que visa a revelar como as pessoas pensam,

atribuem sentimentos e manifestam posicionamentos sobre determinado assunto.

Assim, trata-se de um compartilhamento de ideias dentro de um grupo social.

Entende-se por discurso todo posicionamento e argumento. O DSC é e pode ser

comparado a um espelho coletivo, como se as pessoas se olhassem e, a partir deste

momento, tomassem consciência de como elas são (ANDRADE; DUARTE; MAMED,

2009).

O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de

natureza verbal, obtidos por meio de depoimentos.

De acordo com Levéfre e Levéfre (2005), após fazer a pergunta aberta, se

juntam os discursos individuais gerados de modo que expressem o pensamento de

uma coletividade sobre um dado tema, de forma que esta fale diretamente.

Conforme os autores referidos acima, o DSC trata de um discurso-síntese

redigido na primeira pessoa do singular composto por figuras metodológicas, que serão

descritas posteriormente.

Este método utiliza-se de questões abertas com a intenção de aprofundar as

razões subjacentes à escolha por uma das alternativas de resposta, o que a difere de

uma pesquisa social, em que contém apenas questões fechadas que limitam a

expressão do pensamento dos pesquisados, o que não é o objetivo do DSC.

Por serem questões abertas, fazem-se necessárias a leitura das respostas e a

identificação de palavra, conceito ou expressões que salientem a essência do sentido

da resposta. Após isso, temos o que se chama de categoria. A partir de então, é

possível enquadrar os vários discursos em uma das categorias e, a seguir, podem ser

distribuídas em classes.

Para a elaboração do DSC foram criadas três figuras metodológicas, que são a

expressão chave, ideias centrais e discurso do sujeito coletivo.

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3.2.1 Figuras metodológicas

Para que o DSC seja confeccionado, fazem-se necessárias algumas figuras

metodológicas que orientarão o trajeto deste método. São elas: Expressões-chave

(ECHs), Ideias centrais (ICs), Ancoragens (ACs) (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

Expressões-chave (ECHs) são pedaços, trechos ou transcrições literais do

discurso que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador e que

revelam a essência do depoimento. A ECH é uma espécie de prova discursivo-empírica

da verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa.

Ideias centrais (ICs) é um nome ou expressão linguística que revela e descreve,

de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso analisado e cada

conjunto homogêneo de ECH, que vai dar início ao DSC. A IC não é uma interpretação,

mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um conjunto de depoimentos.

As ICs podem ser resgatadas através de descrições diretas do sentido do depoimento,

revelando o que foi dito através de descrições indiretas ou mediatas.

Ancoragens (ACs) é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou

ideologia, ou crença que o autor do discurso professa e que, na qualidade de afirmação

genérica, está sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma situação específica.

Em todo depoimento existe uma ou várias ICs, mas apenas em alguns

depoimentos existem o que nós chamamos de ancoragem; e, além do mais, não é

muito fácil detectar quando há no depoimento uma ancoragem; por isso em muitos

trabalhos com o DSC os autores não trabalham e não pesquisam as ancoragens.

Ancoragens aparecem quando os depoentes usam de afirmações gerais para

enquadrar situações particulares. Por exemplo, se numa pergunta sobre avaliação de

atendimento encontramos um depoimento como "... eu não fui bem atendido neste

hospital porque o médico nem me examinou; porque médico que é médico tem que

examinar o paciente..." temos uma ancoragem que é: todo atendimento médico implica,

obrigatoriamente, exame do paciente pelo médico. Então a ancoragem é um tipo

particular de IC em que não há exatamente uma afirmação, mas o enunciado explícito

de um valor, de uma crença, de uma ideologia (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

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3.2.2 Fases do DSC

Levéfre e Levèfre (2005) explicam que o DSC é uma estratégia discursiva que

deve seguir os passos descritos a seguir:

3.2.2.1 Coleta de dados

Escolha do sujeito - Há três situações que se apresentam ao pesquisador: na

primeira, o pesquisador pode compor pessoalmente a sua amostra, escolhendo

todos ou quase todos os indivíduos a serem pesquisados. Na segunda, é uma

escolha intencional dos sujeitos a serem pesquisados e o pesquisador tem

conhecimento aprofundado sobre os sujeitos. E a terceira, é quando o

pesquisador não conhece ou conhece superficialmente os sujeitos.

Elaboração do roteiro de perguntas - Antes de formular uma questão, devem-se

definir os objetivos que se pretende atingir.

Preparo dos entrevistados - Apresentação do entrevistador ao entrevistado

seguindo rigorosamente as perguntas do roteiro.

Preparo do ambiente para a entrevista - Local em que estejam ausentes os

ruídos, onde haja privacidade.

Preparo do equipamento – Verificação do funcionamento do aparelho com

antecipação.

Clima da entrevista - Deve transcorrer o mais informal possível, deixando o

entrevistado à vontade e descontraído.

3.2.2.2 Tabulação de dados

Após a entrevista coletada, gravada ou transcrita, seguem-se os passos

seguintes:

Análise das questões isoladamente, copiando integralmente cada resposta

obtida.

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Identificação e delimitação das expressões-chave e ideias centrais e também as

ideias centrais da ancoragem.

Identificação das ideias centrais e ancoragens, separando-as.

Identificação e agrupamento das ideias centrais e ancoragens do mesmo sentido

ou em sentido equivalente ou complementar.

Construção do DSC propriamente dito de cada Ideia Central agrupada por

similaridade ou complementaridade, com as expressões-chave de cada ideia.

3.2.2.3 Apresentação dos resultados

Como houve mais de um DSC por questão, apresentou-se inicialmente um

quadro-síntese com as principais ideias surgidas na análise das questões.

As características pessoais não serão analisadas, fazendo parte do trabalho

apenas para enriquecimento do mesmo.

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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Nesta parte do trabalho serão abrangidos os aspectos relacionados com o

delineamento metodológico, cenário de estudo, caracterização do local de estudo,

participantes, natureza de amostra e amostragem, instrumento de coleta de dados,

procedimento para a coleta dos dados, estratégias de análise de dados, assim como os

preceitos éticos da pesquisa.

4.1 CENÁRIO DO ESTUDO

Este estudo teve como cenário a cidade de Itajubá, em diversas localidades.

O município de Itajubá situa-se no sul de Minas Gerais, fazendo divisa com os

municípios de São José do Alegre, Maria da Fé, Wenceslau Braz, Piranguçu,

Piranguinho e Delfim Moreira. Sua população é de 85.502 habitantes, da qual 41.670

são homens e 43.832 são mulheres. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA

ESTATISTICA, 2007).

O município de Itajubá é centro de referência em assistência à saúde para

dezesseis municípios da chamada microrregião do Alto Sapucaí.

Como atendimento prestado à saúde, relativo à rede básica, o município oferece

12 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 2 Policlínicas.

A cidade conta com dois hospitais credenciados para o Sistema Único de Saúde

- SUS, Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, com níveis

de atendimento de atenção básica até alta complexidade.

Oferece ainda assistência na área privada de convênios com Hospitais

Odontomed, Saúde Ceam e Unimed Itajubá, além do hospital Bezerra de Menezes,

voltado à saúde mental.

A assistência ambulatorial, além dos serviços privados, é realizada nos hospitais

credenciados do SUS, nas Unidades Básicas de Saúde do município e nas duas

policlínicas municipais. Exames laboratoriais e de imagem são realizados por

prestadores de serviços credenciados para o SUS, ou contratados pela Prefeitura

Municipal, através da Secretaria de Saúde.

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Beneficiado por uma boa malha viária, Itajubá permite a concentração e a

distribuição de bens e serviços para os municípios circunvizinhos. Possui vinte e cinco

empresas de destaque e algumas de médio porte. Assim é considerado um dos

maiores distritos industriais do sul de Minas. O comércio varejista de Itajubá é bem

diversificado contando, atualmente, com aproximadamente 400 comércios registrados

na Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Itajubá – ACIEI. Na agropecuária,

o principal produto produzido em larga escala é a banana.

Do ponto de vista de educação, Itajubá é reconhecida como melhor polo de

ensino da região. Conta com diversos estabelecimentos de ensino fundamental e

médio, assim como escolas técnicas. Quanto às instituições de ensino superior, a

cidade oferece quatro faculdades, um centro universitário e uma universidade federal.

4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO

O presente estudo foi de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratório e

transversal.

Na pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo

real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade

do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a

atribuição de significados são básicas no processo deste tipo de pesquisa. Não requer

o uso de métodos e técnicas estatísticas.

Polit; Beck e Hungler (2004) afirmam que o delineamento para o estudo

qualitativo é um delineamento emergente - que emerge à medida que o pesquisador

toma decisões constantes que refletem o que já foi aprendido.

O delineamento qualitativo caracteriza-se por:

Ser flexível e elástico, capaz de ajustar-se ao que está sendo aprendido durante

a coleta de dados;

Envolver uma mistura de várias estratégias de coletas de dados;

Tender a ser holístico, buscando a compreensão do todo;

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Exigir que o pesquisador se envolva intensamente, permanecendo, em geral, no

campo por longos períodos de tempo;

Exigir que o pesquisador torne-se o instrumento da pesquisa e

Exigir análise contínua dos dados para formular estratégias subsequentes e para

determinar quando o trabalho de campo está terminado.

Quanto ao objetivo, esta pesquisa é também classificada em descritiva. Para

Andrade (2003), a pesquisa descritiva é aquela em que os fatos são observados,

registrados, analisados, classificados e interpretados, sem a interferência do

pesquisador, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, sem

qualquer manipulação do pesquisador. Uma das características da pesquisa descritiva

é a técnica padronizada da coleta de dados, realizada geralmente por questionários e

pela observação sistemática.

GIL (2002) salienta que as pesquisas descritivas vão além de uma identificação

da existência de relações entre as variáveis e têm como objetivo determinar a natureza

dessa relação. Desta forma, a pesquisa descritiva aproxima-se da explicativa. Porém há

pesquisas que, mesmo definidas como descritivas com base em seus objetivos,

acabam servindo para proporcionar outra visão do problema, aproximando-a assim da

pesquisa exploratória.

Geralmente as pesquisas descritivas adotam a forma de levantamento.

GIL (2002) afirma que esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela interrogação

direta das pessoas, cujo comportamento se deseja conhecer. Geralmente, ocorre uma

solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas sobre o problema

estudo, para depois, mediante análise quantitativa, obterem-se conclusões a partir dos

dados coletados.

Na maioria dos levantamentos não são pesquisados todos os integrantes da

população estudada. Antes deverá ocorrer uma seleção, uma amostra significativa de

todo o universo.

Define-se pesquisa exploratória aquela que se caracteriza pela preocupação de

identificar os fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos e por se

aprofundar no conhecimento da realidade e explicar o porquê das coisas. É o tipo mais

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complexo e delicado, já que os riscos de cometer erros são aumentados

consideravelmente (GIL, 2002).

Os estudos transversais são aqueles em que os dados são coletados com um ou

mais grupos de sujeitos em um momento particular do tempo (LOBIONDO-WOOD;

HABER, 2001).

4.3 PARTICIPANTES, AMOSTRA E AMOSTRAGEM

A população de estudo foi representada por participantes de gênero masculino,

independente da faixa etária em que atuam como enfermeiros ou técnicos de

enfermagem em instituições de saúde ou de educação da cidade de Itajubá – MG.

Segundo Polit; Beck e Hungler (2004, p. 132):

Não existem critérios estabelecidos com firmeza ou regras para o tamanho das amostras na pesquisa qualitativa. O tamanho da amostra é definido, em grande parte, em função da finalidade da pesquisa, da qualidade dos informantes e do tipo de estratégia de amostra usada.

GIL (2002) acrescenta que, para que os dados obtidos sejam significativos, é

necessário que a amostra seja constituída por um número adequado de elementos.

Como o método de análise dos dados, que será o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC),

estipula um número mínimo de participantes.

A amostra neste estudo foi de 09 enfermeiros e 11 técnicos de enfermagem.

Os critérios de inclusão são:

Ser enfermeiro/técnico de enfermagem;

Estar atuando na área da Saúde ou ser enfermeiro docente;

Aceitar participar do estudo.

Os critérios de exclusão são:

Não ser enfermeiro/técnico de enfermagem;

Não estar atuando na área da Saúde ou ser enfermeiro docente;

Não aceitar participar do estudo.

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O tipo de amostragem foi não probabilístico tipo bola de neve, de acordo com

Polit; Beck e Hungler (2004). Com esta abordagem, é solicitado que os membros

iniciais da amostra indiquem pessoas que preencham os critérios de inclusão do

estudo.

4.4 COLETA DE DADOS

Para o presente estudo foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado

(APÊNDICE A), composto por duas partes: a primeira traz perguntas referentes à idade,

categoria profissional, tempo de formado e área de atuação. A segunda parte aborda

uma questão aberta “O que significa para você ser enfermeiro/técnico de enfermagem

num contexto de uma profissão predominantemente feminina?”que responderá ao

objetivo da pesquisa.

4.4.1 Procedimentos de coleta de dados

A coleta de informações foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em

Pesquisa da EEWB da cidade de Itajubá–MG.

Os enfermeiros/técnicos de enfermagem foram localizados em seu ambiente de

trabalho. Em seguida, foram desenvolvidos os seguintes procedimentos:

1. Agendamento do dia, hora e local para realização da entrevista.

2. Esclarecimento quanto ao estudo, o seu objetivo, o anonimato de sua participação,

quanto à gravação da entrevista, respaldando assim a fidedignidade de suas

informações.

3. Retirada de possíveis dúvidas.

4. Apresentação e explicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APÊNDICE B) que deverá ser assinado pelo profissional que aceitar participar do

estudo.

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Foram tomados todos os cuidados para que o enfermeiro ou técnico de

enfermagem sintam-se à vontade para responder à entrevista proposta num local

privado e de livre escolha, sem barulho e interferências externas.

4.5 PRÉ-TESTE

O pré-teste foi realizado com um enfermeiro e um técnico de enfermagem que

estavam de acordo com os critérios de inclusão da pesquisa e, como não foram

necessárias alterações no instrumento, um deles fez parte da amostra final.

A realização do pré-teste permite possíveis alterações nas estratégias de

aplicação dos instrumentos, se forem identificadas dificuldades de compreensão das

perguntas, assim como servirá para identificar o tempo da entrevista e será uma

oportunidade de preparo e treinamento para a coleta definitiva.

Andrade (2003) afirma que o pré-teste, é um procedimento rotineiro nas

pesquisas de campo, e indispensável. Fazer o pré-teste consiste em aplicar os

instrumentos da pesquisa em uma parcela da amostra com a finalidade de verificar a

validade ou relevância dos quesitos, a verificação do vocabulário, o número e a ordem

das perguntas formuladas. Além dessa verificação, o pesquisador vai testar seus

procedimentos: a maneira de iniciar e conduzir uma entrevista; como abordar um

informante que vai conduzir um relatório; que atitude adotar, enfim, todas as

circunstâncias que englobam a aplicação dos instrumentos e adequação passam por

uma revisão geral.

4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISES DE DADOS

Para análise, os dados da caracterização pessoal e dos sujeitos do estudo,

referente à primeira parte do roteiro de entrevista semiestruturada, foram analisados,

apresentados e comentados em seguida.

Para análise dos dados obtidos na segunda parte do roteiro de entrevista

semiestruturada, foi utilizado o Método do Discurso do Sujeito Coletivo que, segundo

Lefévre e Lefèvre (2005), o DSC consiste em uma técnica de construção do

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pensamento coletivo, e que tem como meta revelar como as pessoas pensam, referem-

se aos sentimentos e manifestam seus posicionamentos sobre determinados assuntos.

Com a intenção de conhecer os significados de ser enfermeiro/ técnico de

enfermagem numa profissão predominantemente feminina foram transcritas, de forma

integral, todas as respostas obtidas para o Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD -

1), (ANEXO A), representando as Expressões-Chave (ECH). Tendo em mãos a ECH e

após a leitura de cada uma, iniciou-se a análise das Ideias Centrais IC, tendo em mente

que as mesmas representam a descrição das ECH e a sua interpretação. Após análise

das IC, foi preenchido o Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD -2), (ANEXO B),

que consiste nas expressões-chave componentes de cada Ideia Central extraída.

Não foi utilizada para o Discurso do Sujeito Coletivo a figura metodológica de

ancoragem.

Assim, foi constituído o DSC separadamente de cada IC, utilizando as

respectivas ECH.

4.7 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Os aspectos éticos do presente estudo obedeceram à Resolução 196/96, do

Ministério da Saúde, respeitando-se os princípios da autonomia e da privacidade. O

respondente do estudo poderá deixar de participar da pesquisa a qualquer momento, se

assim o desejar. Para comprovar a sua participação, ele deverá assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B). Os dados foram colhidos após

aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz da cidade de Itajubá, MG, conforme segue em anexo o parecer

consubstanciado no 567/2010 (ANEXO C).

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5 RESULTADOS

Os resultados são apresentados em três etapas distintas: na primeira, são

expostos os dados relativos à caracterização dos respondentes quanto aos seus

aspectos pessoais. A segunda etapa permite visualizar o tema explorado, suas ideias

centrais e os respectivos DSC de cada uma delas. Na terceira etapa, está apresentada

a síntese das ideias centrais subjacentes ao significado de ser enfermeiro/ técnico de

enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Com base nos dados detalhados e contidos na tabela 1, são apresentadas, a

seguir, as características pessoais dos enfermeiros e técnicos de enfermagem deste

estudo, na seguinte ordem: idade, categoria profissional, trabalho atual, tempo de

formação e por que escolheu enfermagem.

Observou-se que a média da idade dos enfermeiros e técnicos de enfermagem

participantes do estudo foi de 37,5 anos; 45% eram enfermeiros e 55% eram técnicos

de enfermagem. Do ponto de vista de trabalho, 15% tinham dois empregos e 85% um,

sendo: instituições de ensino, enfermagem do trabalho, funcionário público,

epidemiologia, instituições hospitalares privadas e públicas, CCIH, e fábricas. Quanto

ao tempo de formado variou de 4 meses a 28 anos e meio. Sobre a razão da escolha

da enfermagem, 70% responderam que foi por gostarem da profissão da área da

saúde, de ajudar as pessoas e de cuidar; 15% responderam que foi por influência do

momento; 5% responderam que foi por ouvir falar da profissão; 5% responderam que

foi pela facilidade de arrumar emprego e 5% por falta de escolha.

5.2 TEMA, IDÉIA CENTRAL E DSC

Nesta parte, está apresentado o tema estudado, um quadro representativo de

cada ideia central, seus respondentes, assim como a sua frequência e, a seguir,

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encontram-se, separadamente, as diversas ideias centrais (ICs) com os seus

respectivos DSC.

5.2.1 TEMA - Ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma

profissão predominantemente feminina

1. O que significa pra você ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina?

Quadro 1 - Ideias Centrais do tema “Significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina”

No IDÉIAS CENTRAIS 1 Ter maior visibilidade 2 Desenvolvimento profissional 3 Maior cobrança 4 Praticidade 5 Normal 6 Necessário 7 Mais paparicado 8 Mais bem cuidado 9 Mais bem visto 10 Fazer a diferença 11 Ter privilégio 12 Colaboração 13 Um desafio 14 É gratificante 15 Satisfação 16 Crescimento 17 Representatividade científica 18 Sem problema 19 Sem diferença 20 Não se sente muito a vontade 21 Mais soma do que dificuldade 22 Fortalecer a profissão 23 Um ganho 24 Certa restrição 25 Muito difícil 26 Orgulho27 Um diferencial 28 Conviver com a desunião feminina 29 Felicidade 30 É importante

Fonte: Instrumento de pesquisa

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Conforme Lefévre; Lefévre (2005) apontam, poderá ocorrer o agrupamento das

Ideias Centrais de mesmo sentido ou de sentido equivalente, ou de sentido

complementar. Então, o agrupamento foi realizado e está apresentado no Quadro 2 e, a

partir deste, foram extraídas novas ICs.

Quadro 2 - Agrupamento das ideias centrais semelhantes

Idéias centrais semelhantes Idéias Centrais originadas dos agrupamentos

Desenvolvimento profissional Crescimento Desenvolvimento profissional Representatividade científica Necessário Necessário É importante Mais paparicado Mais bem cuidado Ter privilégio Ter privilégio Fazer a diferença Um diferencial Fazer a diferença Normal Sem problema Normal Sem diferença Colaboração Fortalecer a profissão Um ganho Um ganho Mais soma do que dificuldade Um desafio Um desafio Muito difícil É gratificante Satisfação Orgulho Satisfação e orgulho Felicidade Não se sente muito a vontade Restrição Certa restrição

Fonte: Instrumento de pesquisa

Com o agrupamento, 14 Ideias Centrais foram elencadas de acordo com o tema

pesquisado e estas estão apresentadas no Quadro 3 juntamente com suas frequências

e os participantes que relataram esta ideia.

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Quadro 3 - Ideias Centrais, sujeitos e frequência de idéias centrais sobre o tema: “Ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina”

No IDÉIAS CENTRAIS SUJEITOS FREQUÊNCIA DAS IDÉIAS CENTRAIS

1 Normal 2,3,8,9,10,18,19 7 2 Um desafio 5,7,13,14 4 3 Desenvolvimento profissional 1,5,6 3 4 Ter privilégio 3,4,5 3 5 Satisfação e orgulho 5,15,20 3 6 Um ganho 4,10,9 3 7 Fazer a diferença 4,16 2 8 Necessário 2,20 2 9 Maior cobrança 1,11 2

10 Restrição 9,12 2 11 Ter maior visibilidade 1 1 12 Praticidade 2 1 13 Mais bem visto 3 1 14 Conviver com a desunião

feminina 17 1

TOTAL 35 Fonte: Instrumento de pesquisa

5.2.2 DSC referente às Ideias Centrais

1ª Idéia Central: Desenvolvimento profissional

DSC

É assim: o homem, quando ele começou a entrar na enfermagem, surgindo isso

como enfermeiro, trouxe mais representatividade para profissão, porque a mulher

é toda... uma... dentro de um contexto social e cultural. A mulher, ela parece que

não abraça totalmente os representantes que envolvem, vamos dizer, o

desenrolar do científico da enfermagem. Então o homem, ele veio e agregou,

abraçou essa vontade de cunho científico. Por isso, dentro de mim houve um

crescimento muito grande. Foi bom e por causa disso, eu acredito que há

possibilidade de você... é... desenvolver-se mais na profissão, ter mais

oportunidades.

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2ª Idéia Central: Necessário

DSC

É muito importante e muito necessário, acho que é um dom que Deus me deu e

eu estou colocando essa... esse dom em prática. Então isso é que é legal. É muito

necessário e deveria haver um número maior de homens nesta profissão.

3ª Idéia Central: Ter privilégio

DSC

Diante disso, eu vejo que eu tenho certo privilégio de estar incluso nessa

profissão. A gente é mais paparicado, tem muitas regalias, mais bem cuidado, e

porque realmente, você tem que ser um profissional, na minha percepção, você

tem a influência do seu gênero masculino. Eu só acho que eu sou privilegiado

porque o homem tem suas características e a mulher tem suas características.

4ª Idéia Central: Fazer a diferença

DSC

É um diferencial já que está acostumado com os padrões femininos, até pro

cliente que tá ali acamado há mais tempo, e, no caso, o masculino, ele se sente

mais à vontade tendo um homem ali pra tá ajudando. Na verdade é isso, isso que

facilita, até por questão de peso e outras coisas mais que facilitam. Não porque a

mulher não consiga, mas o homem facilita bastante, tá. Resumidamente, eu acho

que é isso, a gente gosta de fazer a diferença, até porque é difícil trabalhar com

mulher, é complicado mulher com mulher, homem com mulher já consegue

trabalhar de uma forma melhor.

5ª Idéia Central: Normal

DSC Acho normal homem nesta profissão. Eu acho que a profissão está crescendo,

tem muito homem entrando também no sistema. Normal como qualquer outra

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profissão! Eu não vejo uma profissão predominantemente feminina, eu não vejo

problemática, porque eu penso que é uma profissão como todas as outras. Então

o fato de ter mais mulheres ou não, não tem tanto, tanta relevância atualmente

para atuar como enfermeiro, eu não vejo grande diferença. Eu sinto que a mulher

no ponto de vista de cuidar, no ponto de vista de atendimento eu não vejo

nenhum inconveniente. Sinto que para o paciente, muitas vezes, ter a figura

feminina dá mais segurança, favorece o relacionamento e tem momento em que

ele prefere o enfermeiro, principalmente quando se trata das partes íntimas. É

normal cuidar, né, a gente cuidar das pessoas que precisam tanto na parte física

quanto mental.

6ª Idéia Central: Um ganho

DSC

Eu vejo que eu posso colaborar com o que eu tenho, com a influência, como eu

disse, do gênero masculino e também eu vejo que não há quem cuide melhor,

pouco ou menos do que ambos os sexos. Fazendo comparação de quem cuida

melhor, eu não vejo, acho uma questão muito social, antropológica, cultural.

Todos os dois gêneros possuem suas características, suas viabilidades e sua

colaboração pessoal. O enfermeiro do sexo masculino tem entrado na

enfermagem e começado a fazer a profissão ficar mais forte, não em questão de

agilidade, força ou coisa assim. Eu vejo isso como um ganho, não sendo uma

questão machista ou feminista, entendeu? Mais é questão de ganho, porque é

diferente o pensamento masculino do feminino, por isso teve muito mais soma do

que dificuldade.

7ª Idéia Central: Um desafio

DSC

Um desafio profissional muito grande, como toda profissão, um desafio. É muito

difícil, eu já sou profissional, já estudei, já fiz ‘n’ trabalhos para aprender e pra

passar, mas na hora de trabalhar, quem está do outro lado que é o paciente,

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nosso foco principal, que merece todo respeito, nem sempre ele entende isso. Ele

tem muito mais preconceito que eu ainda, quando ele olha um homem que vai

cuidar de mim, um homem que vai me dar banho, um homem que vai fazer

isso,isso, isso. Então é um desafio muito grande estar num contexto feminino.

Mas você não precisa pensar que só mulher pode fazer aquilo ali, entende? Você

também tem capacidade de fazer a mesma coisa, a única coisa que muda só a

questão, por exemplo, de sensibilidade e emoção. O único desafio eu acho que

não tem, mas cada um tem uma maneira de pensar, eu acho que cada um tem um

gosto, eu acho que cada um pensa de uma maneira.

8ª Idéia Central: Satisfação e orgulho

DSC

Primeiramente orgulho de ser homem e estar num ambiente predominantemente

feminino, e também que é um paradigma dizer que os enfermeiros ou são gays ou

são mulheres. Nós homens, estamos aí pra provar que não precisa ser mulher e

nem também ser gay pra ser enfermeiro. Pode ser assim homem e enfermeiro,

cuidar, e cuidar muito bem. É uma satisfação muito grande e gratificante ao

mesmo tempo. No meu caso, eu fico muito feliz, de poder proporcionar esse

trabalho e de ter conhecimento pra poder estar no mesmo ramo junto com a

mulher ali.

9ª Idéia Central: Restrição

DSC

Durante todo esse período que exerci a enfermagem, já tive a oportunidade de

trabalhar muitos anos no hospital, nunca vi isso, nunca teve nenhum, digamos,

é... aí é... afetar na minha atuação profissional. Questão da parceria, questão da

troca, questão da... digamos, aí do convívio. Isso sempre foi muito bom. Somente,

às vezes, não se sente muito à vontade por ser predominantemente feminina. Às

vezes, tem momentos que um homem prefere se agrupar com outro homem pra

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trocar ideias, pra discutir, então há uma certa restrição, porque a enfermagem em

si, desde os primórdios da enfermagem ela, se tem um ponto de vista, né,

principalmente dos homens, porque quem tá na enfermagem ou é veado vamos

dizer assim ou é... efeminado. Mas isso aí já foi banido há muito tempo. Hoje a

enfermagem tem que levar a sério porque é uma profissão digna, de quem está ali

na área.

10ª Idéia Central: Ter maior visibilidade

DSC

Eu acredito que nós homens somos mais visíveis, somos minoria dentro de uma

profissão e por isso a gente é mais visível. Eu acredito que a gente tem maior

visibilidade dentro da área, mais visibilidade do que as mulheres e essa

visibilidade tem pontos tanto positivos quanto negativos.

11ª Idéia Central: Maior cobrança

DSC

Hoje, o que tem de homem aí na enfermagem! Eu gosto, só que, por um lado

gosto mais, por outro, eu não gosto não, tem muita cobrança, mal remunerado,

muita fofoca. Então é preciso o homem saber trabalhar com essas questões,

porque as cobranças são maiores, apesar dos benefícios, a gente está mais

exposto. Entre as desvantagens que tem, as cobranças são maiores. Eu percebo

assim, nesse sentido.

12ª Idéia Central: Praticidade

DSC

Para mim é uma profissão como qualquer outra. Escolhi essa profissão por

gostar do que eu faço, e acho importante homens exercerem essa profissão em

prol dos outros, pois tem afazeres (serviços) que, para uma pessoa do sexo

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masculino, é muito mais fácil, prático e que contribui para melhor conforto dos

pacientes.

13a Idéia Central: Mais bem visto

DSC

A gente é mais bem visto, e outra: pela equipe, mesmo que não tem, quando é só

mulher e um só homem, quando é só um gênero só, não tem isso.Isso que é o

bacana, o gostoso.

14ª Idéia Central: Conviver com a desunião feminina

DSC As profissões dominadas por homens são profissões mais unidas entre si, do

que as profissões como enfermagem que é dominada muito pelas mulheres são

menos unidas. É uma categoria mais desunida dentro de hospital. Eu percebi isso

em enfermeiras, uma querendo, às vezes, puxar o tapete da outra, coisa que não

acontece nas profissões mais masculinas. Eu gostaria assim, que ela fosse uma

profissão mais unida. Isso significa pra mim, porque essa desunião que tem

assim com as enfermeiras... quantas enfermeiras usam a profissão de uma forma

competitiva dentro dos hospitais! Significa que eu acho que não deveria ser

assim, deveria desde lá da faculdade ir formando as enfermeiras, desde lá na

faculdade, lá na escola, pra elas saírem já com essa mentalidade de uma

categoria unida, coisa que a gente, eu pelo menos não vi na escola de

enfermagem nenhuma orientação para as enfermeiras, os enfermeiros saírem de

lá preservando a categoria de enfermagem, preservando a profissão, tendo ética,

preservação, não expondo as outras colegas, como eu já vi ao longo desses 25

anos. Eu vejo que na categoria dos homens, nas profissões dos homens, isso

ocorre muito pouco, eles são mais unidos.

O significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma

profissão predominantemente feminina foi evidenciado por: “desenvolvimento

profissional”, “necessário”, “ter privilégio”, “fazer a diferença”, “normal”, “um ganho”, “um

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desafio”, “satisfação e orgulho”, “restrição”, “ter maior visibilidade”, “maior cobrança”,

“praticidade”, “mais bem visto” e “conviver com a desunião feminina”.

FIGURA 1- Ideias centrais acerca de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina

Fonte: Elaborada pela Autora

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6 DISCUSSÃO

Ao analisar o significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num

contexto de uma profissão predominantemente feminina, obtiveram-se respostas

diversificadas, sendo a Ideia Central mais frequente Normal.

Coelho (2005) diz acerca desse assunto que, embora a enfermagem seja

construída culturalmente como prática sexuada feminina, os homens na profissão são

uma realidade cada vez mais presente, representando rupturas importantes com

estereótipos de gênero relacionados à prática do cuidado.

E esse fato é relatado pelos participantes por meio do trecho do DSC que traduz

essa normalidade:

Acho normal homem nesta profissão, eu acho que a profissão está

crescendo, tem muito homem entrando no sistema também, normal como

qualquer outra profissão.

A segunda Ideia Central mais frequente foi Um desafio e Padilha; Vaghetti e

Brodersen (2006) evidenciam essa questão afirmando que em muitos estudos, ao

traçar alguma referência ao profissional de enfermagem por escrito ou verbalmente, a

utilização do termo enfermeiro é visto como uma forma de reforçar uma identidade

pública superior masculina, mesmo que, ao longo dos anos, o número de mulheres na

enfermagem venha mantendo-se bem maior em relação ao de homens.

Essa ideia foi retratada no trecho do DSC:

Então é um desafio muito grande estar num contexto feminino.

Uma Ideia Central que nos chama muita atenção é Conviver com a desunião

feminina, a qual é ressaltada por Paula et al. (2010) que a desunião dentro da equipe

de enfermagem constitui como um problema gerador de sofrimento.

Esta ideia e afirmação dos autores anteriores devem ser refletidas, de modo que

alternativas possam surgir.

É importante o espírito colaborativo do trabalho em equipe e o respeito

interprofissional, a fim de melhorar a imagem da categoria de enfermagem perante

outros profissionais (JESUS et al.; 2010).

No DSC a IC Conviver com a desunião feminina é relatado assim:

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Profissões como enfermagem, que é dominada muito pelas mulheres, são

menos unidas, é uma categoria mais desunida dentro de hospital. Eu percebi isso

em enfermeiras, uma querendo, às vezes, puxar o tapete da outra, coisa que não

acontece nas profissões mais masculinas. Eu gostaria assim, que ela fosse uma

profissão mais unida, isso significa pra mim, porque essa desunião que tem

assim com as enfermeiras... quantas enfermeiras usam a profissão de uma forma

competitiva dentro dos hospitais! Significa que eu acho que não deveria ser

assim, deveria desde lá da faculdade ir formando as enfermeiras, desde lá na

faculdade, lá na escola, pra elas saírem já com essa mentalidade de uma

categoria unida.

Jesus et al. (2010) complementam esta ideia afirmando que o trabalho em

equipe poderá ser uma ferramenta importante na luta pelo reconhecimento do ser

enfermeiro, contribuindo para enfrentar a situação de preconceito.

Evidencia-se que a desunião da equipe não contribui para um ambiente salutar

que se torna fator desencadeante no processo que culminará nos transtornos oriundos

do estresse nos profissionais. Desta forma, as mudanças essenciais no âmbito do

trabalho devem focar em estratégias para a união da equipe, valorização da profissão e

melhora na remuneração (PAULA et al.; 2010).

Outra IC que merece destaque é Desenvolvimento profissional, na qual Gomes

et al. (2011) dizem que a perspectiva do cuidado masculino pode seguir um caminho

positivo quando incorpora a ideia de que ao homem também é permitida uma atenção

consigo próprio.

Outra peculiaridade é a velocidade com que os homens avançam na carreira,

assumindo posições de comando e chefia em muito menor tempo que a mulher com

igual preparo profissional na enfermagem (JESUS et al.; 2010).

Complementando esta ideia, Parga et al. (2001) afirmam que observa-se em

outras realidades a influência crescente de uma posição que defende o ingresso de

homens como forma de reconhecimento e valorização profissional, já que o

comportamento masculino (objetivo, empreendedor e criativo) poderia trazer ganhos e

vitórias inequívocas à profissão.

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Pereira (2008) acrescenta que o gênero masculino ocupa um lugar de privilégio

nas relações de poder de gênero. Presume-se que, internamente, no exercício da

profissão, os homens possam ter lugares de atuação também privilegiados, apesar da

majoritária participação feminina no cuidado, reproduzindo aí, em muitos casos, alguns

preconceitos do discurso androcêntrico, mobilizando hierarquias de poder das relações

sociais instituídas entre os gêneros que constroem posições de sujeito desiguais na

profissão em favor de homens. Com isso, é possível abrirmos espaço a discussão das

positividades e não apenas dos fardos que se carrega por ser homem no exercício da

enfermagem.

No trecho do DSC esse fato é ilustrado:

É assim: o homem, quando ele começou a entrar na enfermagem surgindo

como enfermeiro, trouxe mais representatividade para profissão, porque a mulher

é toda... uma... dentro de um contexto social e cultural. A mulher, ela parece que

não abraça totalmente os representantes que envolvem, vamos dizer, o

desenrolar do científico da enfermagem. Então o homem, ele veio e agregou,

abraçou essa vontade de cunho científico. Vai trazer uma maior

representatividade para profissão, e essa representatividade fez com que a gente

fosse mais observado do que o público feminino na profissão. Mas, por outro

lado, essa visibilidade também, ela tem outra característica, a partir do momento

que você é mais visível, eu acredito que há possibilidade de você... é...

desenvolver-se mais na profissão.

Mas, o trecho do DSC:

... A mulher ela parece que não abraça totalmente os representantes que

envolvem, vamos dizer, o desenrolar do científico da enfermagem...

As raízes mais fortes de resistência à participação das mulheres no mundo

público emergem no meio religioso. A maternidade, por exemplo, foi uma forma pela

qual a Igreja utilizou para domesticar as mulheres, mas quando estas se inseriram no

mercado de trabalho, elas passaram por reais dificuldades para obterem o direito ao

salário, por exemplo. Tanto quanto um menor, as mulheres não podiam receber

dinheiro. Todavia, a mulher era ainda mais explorada, recebendo, em média, 50% a

menos do que o homem, pelo mesmo trabalho. Além do que, o trabalho da mulher fora

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do lar denotava pobreza familiar e fracasso do marido. Com a Revolução Industrial, a

casa torna-se a unidade econômica de base, onde se entrelaçam a empresa e o

domicílio e aprofunda-se a divisão sexual do trabalho. Entretanto, as tarefas atribuídas

a cada sexo sofrem influências culturais e históricas até nos tempos atuais (QUITETE;

VARGENS; PROGIANTI, s/d).

Contudo, a inclusão de mulheres no espaço público não significa inclusão

democrática e socialmente neutra. Essa incursão na participação pública sempre tem

sido objeto de resistências e necessária a sua justificação (QUITETE; VARGENS;

PROGIANTI, S/D).

Doná et al. (s/d) complementam esta ideia afirmando que apesar de todo o

crescimento tecnológico existente, a sociedade ainda cultua a figura feminina como o

sexo frágil, incapaz de realizar algumas atividades, representando, assim, inferioridade

à classe masculina.

Com relação ao desenrolar científico da enfermagem, Domingues e Chaves

(2005) mencionam que o conhecimento científico na enfermagem traria a certeza no

agir correto e verdadeiro, a ciência como verdade segura e irrefutável. É uma ideia

gerada no início da modernidade (século XVI) e consolidada no positivismo do século

XIX, quando se difunde e reforça-se a crença na verdade absoluta atingida por meio do

conhecimento científico que, para muitos, é a única espécie de conhecimento aceitável.

Isso contradiz o que o sujeito afirma, visto que o conhecimento científico da

enfermagem é consolidado desde o positivismo, e não com a inserção do homem na

profissão. A prática profissional é circundada por diversos fatores e o conjunto de

conhecimento teórico e os adquiridos na prática englobam o conhecimento necessário

ao enfermeiro.

Complementando esta ideia, os mesmos autores dizem que o conhecimento

adquirido empiricamente pode ser o meio pelo qual a enfermagem adquire confiança

em seu agir correto e seguro (DOMINGUES; CHAVES, 2005).

O conhecimento é um dos valores de muita importância para seu agir

profissional, confere à enfermagem segurança na tomada de decisões, tanto com

relação ao paciente quanto com sua equipe ou, ainda, em relação às atividades

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administrativas. Parece ser a condição necessária para que tenham iniciativa para

assumir condutas e atitudes (DOMINGUES; CHAVES, 2005)

A Ideia Central Restrição que no DSC diz:

Às vezes, não se sente muito à vontade por ser predominantemente

feminina. Às vezes tem momentos que um homem prefere se agrupar com outro

homem pra trocar ideias, pra discutir, então há certa restrição, né, porque a

enfermagem em si, desde os primórdios da enfermagem, ela tem um ponto de

vista, né, principalmente dos homens, porque quem tá na enfermagem ou é viado,

né, vamos dizer assim ou é... afeminado, né? Mas isso aí já foi banido há muito

tempo, né? Hoje a enfermagem tem que levar a sério por que é uma profissão

digna, né, de quem tá ali na área.

Foi confirmada por Jesus et al. (2010) dizendo que há preconceito de algumas

enfermeiras que não aceitam bem a presença masculina na enfermagem, considerando

o homem estranho, preguiçoso ou menos capacitado. Outro estereótipo que o homem

na enfermagem precisa enfrentar é o rótulo de que todos eles são homossexuais.

A IC Praticidade nos remete ao fato exposto por Lopes e Leal (2005) de que as

“qualidades naturais” masculinas para o trabalho permanecem aquelas relacionadas ao

uso da força física. Esse argumento é sustentado pelos próprios trabalhadores que

veem nesse atributo o fortalecimento de sua condição de homens e a garantia do

exercício de tarefas ou atividades exclusivas a esses atributos.

No trecho do DSC, este fato é expresso: Escolhi essa profissão por gostar do

que eu faço e acho importante os homens exercerem essa profissão em prol dos

outros, pois tem afazeres (serviços) que, para uma pessoa do sexo masculino, é

muito mais fácil, prático e que contribui para melhor conforto dos pacientes.

Os homens enfermeiros possuem mais independência no trabalho, buscando

afirmarem-se como mais autônomos do que as enfermeiras, aproximando-se mais de

conhecimentos técnicos e científicos e do saber médico (PEREIRA, 2008).

Este afirmação é mostrada no trecho do DSC Mais bem visto:

A gente é mais bem visto, e outra, pela equipe, mesmo que não tem,

quando é só mulher e um só homem, quando é só um gênero só, não tem isso,

isso que é o bacana, o gostoso.

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Simões e Amâncio (2004) colocam que a presença de membros de uma minoria

de diferentes no seio da maioria conduz à polarização dos estereótipos dos dois

grupos. Num contexto marcado pela saliência dos estereótipos, os juízos sobre os

membros da minoria caracterizam-se pela assimilação ao estereótipo do seu grupo de

pertença, obrigando-os a lutar permanentemente pelo reconhecimento das suas

qualidades e competências, enquanto indivíduos, e não enquanto representantes de um

grupo.

A Ideia Central Fazer a diferença mostra a dificuldade que o homem tem de

trabalhar com a mulher. Isso é expresso no trecho do DSC: [...] Resumidamente, eu

acho que é isso, a gente gosta de fazer a diferença, até porque é difícil trabalhar

com mulher, é complicado mulher com mulher, homem com mulher já consegue

trabalhar de uma forma melhor.

Este fato é explicado por Parga et al. (2001) quando afirmam que as mulheres

são mais afetadas através de ideias, palavras e atos, determinando diferentes

comportamentos sociais quando comparadas aos homens. Os preconceitos de gênero

variam de acordo com o momento histórico e a cultura de cada local, e a sua

identificação auxilia na superação dos mesmos (PARGA et al., 2001).

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7 CONCLUSÕES

Observou-se que a média da idade dos enfermeiros e técnicos de enfermagem

participantes do estudo foi de 37,5 anos; 45% eram enfermeiros e 55% eram técnicos

de enfermagem. Do ponto de vista de trabalho, 15% tinham dois empregos e 85% um,

sendo em instituições de ensino, enfermagem do trabalho, instituições públicas,

epidemiologia, instituições hospitalares privadas e públicas, CCIH e fábricas. Quanto ao

tempo de formado variou de 4 meses a 28 anos e meio. Quanto à escolha pela

enfermagem, 70% responderam por gostar da profissão da área da saúde, de ajudar as

pessoas e de cuidar; 15% responderam por influência do momento; 5% responderam

que foi por ouvir falar da profissão; 5% responderam pela facilidade de arrumar

emprego e 5% por falta de escolha.

Os resultados referentes ao objetivo do estudo permitiram, após agrupamento,

identificar 14 Ideias Centrais, sendo essas: “desenvolvimento profissional”, “necessário”,

“ter privilégio”, “fazer a diferença”, “normal”, “um ganho”, “um desafio”, “satisfação e

orgulho”, “restrição”, “ter maior visibilidade”, “maior cobrança”, “praticidade”, “mais bem

visto”, e “conviver com a desunião feminina”.

Percebeu-se, então, que as ideias centrais das entrevistas esclarecem o

significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão

predominantemente feminina.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo atingiu seu objetivo e mostrou, de uma maneira exploratória, quais

os significados de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem numa profissão

predominantemente feminina.

Percebe-se que o significado de ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num

contexto de uma profissão predominantemente feminina é bastante variado diante das

ICs elencadas.

Pereira (1991) diz que o sexo masculino, por ser minoria na enfermagem, espera

a compreensão por parte dos colegas de profissão e de profissionais de outras áreas

da saúde, que cada um assuma o seu papel com competência, dando o melhor de si

pela profissão, contribuindo desse modo para diminuir as diferenças e impasses

existentes no exercício profissional e na relação com a equipe multiprofissional,

sobretudo na valorização da força de trabalho na enfermagem.

A construção social como sujeito masculino e feminino, não é mais fixa e

imutável, mas, sim, sujeita a todas as transformações histórico-sociais. Isso significa,

também, que a ideia de gênero pode ser revista e modificada, na medida em que se

modificarem as relações sociais (PADILHA; VAGHETTI E BRODERSEN, 2006).

Este fato é exemplificado pelo resultado mais frequente, que foi a Ideia Central:

Normal, na qual essa ideia de gênero, após mudanças histórico-sociais, foi modificada

e, atualmente, é apontada como um fato natural.

Os mesmos autores anteriores afirmam que há indícios de transformações

sociais nessas relações de gênero percebidas como parte do cotidiano, mas sua

evolução depende de mudanças profundas no comportamento da sociedade como um

todo.

Os resultados nos mostram que os significados de ser do gênero masculino e

atuar num predomínio feminino levam à essência da profissão, que é o seu objeto:

cuidar, com todos os seus fatores desencadeantes. É imprescindível não deixar de

dizer que o gênero masculino é necessário na enfermagem atual.

Para os homens que queiram ingressar na área, o estudo esclareceu o que

realmente significa estar numa profissão predominantemente feminina para aqueles já

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ingressos, possibilitando uma melhor compreensão do que realmente é exercer a

enfermagem.

Acredito que, com este estudo, possa haver maior inclusão do gênero masculino

na enfermagem, visto que essa inclusão contribuirá para uma assistência de

enfermagem mais humanizada e holística. Além de que seja possível mudar valores e

construir ambientes de trabalho com relações de gênero mais equitativas.

Nos resultados é visto que 5% dos enfermeiros escolheram a enfermagem por

falta de opção. Diante disso, sugerem-se pesquisas abordando este tema, visto que

inserir numa profissão por falta de opção é algo que pode até comprometer a atividade

profissional no futuro.

Sugiro que outros estudos dessa natureza sejam realizados, investigando o

papel do enfermeiro frente ao exercício da enfermagem, de forma a compreender

holisticamente toda trama multifatorial de significados, papéis e funções que

determinam o ser enfermeiro/ técnico de enfermagem num contexto de uma profissão

predominantemente feminina.

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APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestuturada

1ª PARTE: CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS DOS

PARTICIPANTES DO ESTUDO

1. Pseudônimo:____________________ 2. Idade:________________________

3. Categoria Profissional: _____________ 4. Trabalho atual?_______________

5. Tempo de formação:_______________

6. Porque escolheu enfermagem?_____________________________________

_________________________________________________________________

2ª PARTE: QUESTÕES REFERENTES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO

A problemática que envolve a inclusão do homem na enfermagem, sendo esta

contextualizada como uma profissão predominantemente feminina acontece desde as

origens das práticas do cuidar até hoje. E essa inclusão aborda diversos fatores que

merecem ser discutidos. Pensando sobre isso, diga para mim:

7. O que significa para você ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto

de uma profissão predominantemente feminina?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Nós, Annyelle Franco Moura, Ana Maria Nassar Cintra Soane e Aldaiza Ferreira

Antunes Fortes, respectivamente, acadêmicas e docentes do Curso de Graduação em

Enfermagem, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, estamos realizando uma

pesquisa intitulada “Ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto de uma

profissão predominantemente feminina” para saber como é ser enfermeiro/técnico de

enfermagem num contexto de uma profissão predominantemente feminina,

considerando que a profissão é caracterizada como feminina e ainda é pouco o

ingresso de homem nela.

Diante do que explicamos acima, o objetivo deste estudo é conhecer os

significados de ser enfermeiro/técnico de enfermagem, num contexto de uma profissão

feminina para estes profissionais em questão.

Neste contexto, ao realizar este estudo obteremos informações que poderão

esclarecer aos homens que queiram se ingressar na enfermagem sobre o que é

realmente exercer uma profissão com predomínio de mulheres, auxiliando-os nas

decisões de ingressar ou não nesta área.

Além disso, poderá haver uma inclusão maior do gênero masculino na

enfermagem trazendo benefícios para a sociedade, haja vista que, muitas vezes, na

prática, vivencia-se uma solicitação dos pacientes para serem assistidos por homens.

Outro benefício está relacionado com as características peculiares de ser homem e de

ser mulher, pois as mulheres são consideradas mais sentimentais e atenciosas e os

homens mais fortes e firmes.

E para a ciência os dados desta pesquisa preencherão uma lacuna do

conhecimento relacionado com o tema, visto que a maioria dos estudos enfoca o

gênero feminino. Servirá, também, de estímulo e subsídio para a realização de várias

pesquisas.

Para isso, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista,

respondendo a questões sobre suas características pessoais (a idade, categoria

profissional, tempo de formado e área de atuação) e uma questão aberta “O que

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significa para você ser enfermeiro/técnico de enfermagem num contexto de uma

profissão predominantemente feminina?”

Esclarecemos que as informações obtidas serão mantidas em sigilo e que você,

em momento algum, será identificado pelo nome. Todas as informações obtidas por

meio da entrevista gravada ficarão sob nossa responsabilidade e trabalharemos com

elas de forma global, isto é, reunindo os dados de todos os participantes do estudo. É

importante informar também, que a participação é estritamente voluntária, ou seja, você

é livre de aceitar ou não o convite que lhe fazemos e mesmo o tendo aceitado, a

qualquer momento deste estudo poderá desistir e pedir para retirar a sua participação.

Este termo de consentimento é o documento que comprova a sua permissão.

Precisamos da sua assinatura para oficializar esta permissão.

Para outras informações e retirar dúvidas que possam futuramente surgir, você

poderá utilizar o telefone do Comitê de Ética em Pesquisa, da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz, desta cidade que é o seguinte: (035) 3622-0930, ramal 308. O horário

do funcionamento do Comitê de Ética em Pesquisa é de segunda a sexta-feira, no

horário das 7h às 11h e das 13h às 17h.

Agradecemos desde já sua valiosa colaboração e colocamo-nos à disposição

para outros esclarecimentos que se fizerem necessários.

A seguir, será apresentada uma Declaração e, se você estiver de acordo

com o conteúdo dela, após sua leitura e concordância, deverá assiná-la, conforme já

lhe foi explicado anteriormente.

DECLARAÇÃO

Declaro para devidos fins, que entendi tudo que me foi explicado a respeito desta

pesquisa, estou ciente do seu objetivo, assim como do seu desenvolvimento, da

entrevista a qual serei submetido.

Diante disso, confirmo minha participação nesta pesquisa e, para isso, lavro

minha assinatura.

Itajubá,____/____/____

Nome do participante:__________________________________________________

Assinatura do participante:______________________________________________

Assinatura do pesquisador:_____________________________________________

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ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD - 1)

QUESTÃO: O que significa para você ser enfermeiro/técnico de enfermagem num

contexto de uma profissão predominantemente feminina?

SUJEITO EXPRESSÕES – CHAVE IDEIA CENTRAL

1 Bem, desde a minha formação, né, e pelo conhecimento que a gente vem adquirindo ao longo do tempo, é... sabemos que a profissão de enfermagem é uma profissão tradicionalmente feminina, até porque o cuidado sempre foi uma questão mais ligada à mulher, né, durante todo o processo do cuidar da família, de cuidar do idoso, das crianças. Então tem essa característica mesmo de ser uma profissão feminina, até pelo processo histórico da profissão que vem até os dias de hoje. Todavia eu percebo que ser homem dentro de uma profissão predominantemente feminina possui suas vantagens e desvantagens. Eu acredito que nós homens somos mais visíveis, né, somos minoria dentro de uma profissão e por isso a gente é mais visível. Eu acredito que a gente tem maior visibilidade dentro da área, né, mais visibilidade do que as mulheres e essa visibilidade ela tem pontos tanto positivos quanto negativos. Essa visibilidade deixa a gente mais exposto a cobranças, a críticas. Tudo bem, então a gente é muito mais observado do que o público feminino na profissão. Por outro lado, essa visibilidade também ela tem outra característica: a partir do

1ª Ideia: Ter maior visibilidade.

2ª Ideia: Desenvolvimento profissional.

3ª Ideia: Maior cobrança.

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momento que você é mais visível eu acredito que hápossibilidade de você... é...desenvolver-se mais na profissão, ter mais oportunidades também, é possível então na minha opinião, né. Resumindo: a visibilidade tem fatores positivos e negativos, ok? Então é preciso o homem saber trabalhar com essas questões, porque as cobranças são maiores, né, apesar dos benefícios, a gente está mais exposto. Entre as desvantagens que tem, as cobranças são maiores. Eu percebo assim nesse sentido.

Para mim é uma profissão como qualquer outra, escolhi essa profissão por gostar do que eu faço, e acho importante homens exercerem essa profissão em prol dos outros, pois tem afazeres (serviços), que para uma pessoa do sexo masculino é muito mais fácil, prático, e que contribui para melhor conforto dos pacientes (como pacientes da maca para o leito, para realizar passagem de sonda vesical, dentre outras). Acho normal homem nesta profissãoe muito necessário, e deveria haver um número maior de homens nesta profissão.

Hum! Seria, no meu ponto de vista, seria a diversidade, tanto do homem quanto da mulher de estar tentando ver o outro, esquecendo o machismo e o feminismo de...quando se trata de cuidar de uma pessoa independente seja masculino

1ª Ideia: Praticidade.

2ª Ideia: É normal.

3ª Ideia: Necessário.

1ª Ideia: Normal.

2ª Ideia: Mais paparicado.

3ª Ideia: Mais bem cuidado.

4ª Ideia: Mais bem visto.

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ou feminino.

-Mas o que significa pra você ser técnico de enfermagem numa profissão em que o predomínio é de mulher? Normal, a gente é mais paparicado quando se é sozinho, tem muitas regalias,né, mais bem cuidado, mais bem visto, e outra pela equipe mesmo, que não tem, quando é só mulher e um só homem, quando é só um gênero só não tem isso, isso que é o bacana, o gostoso.

Veja bem: num contexto do qual nós fomos analisar a história que você acabou de ler, vamos focar numa história da enfermagem, né, o enfermeiro gênero masculino. Você coloca aí no final da década de 80 até o início da década de oi.., desculpa, da... no final da década de 70, transição pra década de 80, nós tínhamos sempre por esse fato mesmo, por eu ser homem e estar num contexto que 95, 90% é do gênero feminino, a gente também propicia responsabilidade de estar coletando isso. A gente gosta de fazer a diferença, acredito eu já assim, durante a faculdade, depois de como formado, já formado, eu assim, analiso bem analisado assim. Os dados presentes eram nessa década, final 70 início de 80, por volta de 3% de todo contingente, aí nós pegamos. Eu vi uma pesquisa certa vez da Universidade Federal de Alfenas, você pode até utilizar, que ela elaborava

1ª Ideia: Fazer a diferença.

2ª Ideia: Ter privilégio.

3ª Ideia: Colaboração.

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análises que foi de 3% masculino para agora que nós... tem um auge de 11%, agora em meados de 2011. Então diante disso eu vejo que eu tenho um certo privilégio de estar incluso nessa profissão, porque realmente, você tem que ser um profissional, na minha percepção, você tem a... você tem a influência do seu gênero masculino porque o homem tem suas características e a mulher tem suas características, desde a história que a mulher... desde a sua essência do modo cuidar, e não porque o homem também não pode cuidar com critério, com qualidade, com embasamento científico, com evidência. É isso que eu tenho feito, que eu tenho assim desenvolvido no ato de cuidar, porque a medicina cuida, mas cuida do jeito dela, e tem muito mais homem. A enfermagem custa mais no nosso... da nossa... embasamento, então eu vejo que a enfermagem, e o contexto da enfermagem como homem eu posso ter também uma co-transcolaboração ou a minha colaboração como homem. Nunca tive problema, sempre fui até... nunca tive disso de cuidar de uma pessoa do sexo do gênero feminino, nunca tive, e também como docente, nunca tive problema quanto a isso. Eu vejo que eu posso colaborar com o que eu tenho com a influência, como eu disse, do gênero masculino etambém eu vejo que não há quem cuide melhor pouco ou menos do que ambos os sexos, fazendo comparação de quem

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cuida melhor, eu não vejo... Acho uma questão muito social, antropológica, cultural. Todos os dois gêneros possui suas características, suas viabilidades e sua colaboração pessoal.

Um desafio profissional muito grande pra você dar conta. Igual eu te falei, o preconceito é impressionante!Eu tenho preconceito até hoje. Você não sabe até que ponto o paciente tá com preconceito com você, você não sabe até que ponto que ele quer que você mexa nele, até que ponto ele sabe que você esta sendo profissional e não maldoso com ele, entendeu? Então é um desafio muito grande pra gente. Eu já sou profissional, já estudei, já fiz, né, ‘n’ trabalhos para aprender e pra passar, mas na hora de trabalhar, quem está do outro lado que é o paciente, nosso foco principal, que merece todo respeito, nem sempre ele entende isso, entendeu? Ele tem muito mais preconceito que eu, ainda quando ele olha um homem que vai cuidar de mim, um homem que vai me dar banho, um homem que vai fazer isso, isso, isso... Então é um desafio muito grande, e é gratificante ao mesmo tempo. - Ô enfermeiro! - ele nem chama pelo nome, entendeu? Fui jogar futebol lá no capote em Piranguçu, lá em cima, lá aonde Judas perdeu as botas e não achou nunca mais, daí eu tive lá. – Ô enfermeiro, vem almoçar aqui em casa! É gratificante não remunerada,

1ª Ideia: Um desafio.

2ª Ideia: É gratificante.

3ª Ideia: Satisfação.

4ª Ideia: Ter privilégio.

5ª Ideia: Crescimento.

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mas tem uma satisfação muito grande. Mas é difícil você abordar a pessoa e ela não identifica o respeito que você tem por ela e o respeito que ela tem pela gente e nem são culpados. Mas qual que é o significado de ser técnico de enfermagem nessa profissão sendo ela maioria feminina? Eu acho que eu sou privilegiado, que eu consegui captá isso, entendeu? Consegui ser eu, profissional, sou homem profissional. Não me arrependi de nada depois, não senti discriminado pelas outras meninas, nada. Eu acho importante isso. Eu fiz uma cirurgia em 2008 no joelho por causa do famoso futebol e eu tive que submetê a uma sonda de... uretral e uma... retenção urinária devido à anestesia. De boa, a menina veio, perguntou: -Você mesmo? Então, faz 20 anos que eu trabalhava no hospital, e ela com a idade sua, entendeu? Eu consegui assimilá essas coisas, dentro de mim foi um crescimento muito grande, foi bom por causa disso, senão eu tinha xavecado, catado ela ali. Tem esse valor pra mim também, entendeu? Então foi bom por causa disso, foi um crescimento dentro de mim que você não tem noção. As pessoas olhavam com essa maldade. Antes eu até falava, antes de eu entrar na área eu não dava nem meia conversa, eu achava que homem não tinha que ficar de frescurinha, não pode sujá, não pode isso, e fica com muita delicadeza. Isso

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mudou muito dentro de mim, e não deixei de ser o macho que eu era há 15 anos, entendeu?

É assim: o homem, né, quando ele começou a entrar na enfermagem, surgindo isso, né,como enfermeiro trouxe mais representatividade para profissão, porque a mulher é toda uma dentro de um contexto social, né, e cultural. A mulher, ela parece que não abraça totalmente, né, os representantes que envolvem, né, vamos dizer, o desenrolar do científico da enfermagem. Então o homem, ele veio e agregou, né, abraçou essa vontade de cunho científico, né. Então vai trazer, né, já está trazendo e vai trazer uma maior representatividade para profissão. Então é o meu ponto de vista, né. É isso, então, e a mulher, né, e a mulher, ela, não vamos generalizar, né, muitas delas brigam, né, pela enfermagem, mas é devido ao grande número, né, na profissão, quase sua totalidade no atual contexto do Brasil feminina, né, é pouca as que têm essa vontade, essa destreza, né, vamos dizer assim, de buscar, de correr atrás pelo científico da profissão e, acrescentando o homem, né, vamos equilibrar aí o homem, né, 50% homem 50% mulher traria, né, uma razão maior na enfermagem. A mulher, eu a acho muito sentimental, né. Então, não é só de sentimento que a gente pode se basear, só em sentimento, né, e sim humanização, né, que não tem,

1ª Ideia: Representatividade científica.

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na minha opinião, não tem nada a ver com sentimentalismo, né, mas o homem traz a razão, né, um pouco mais da razão, um pouco mais da luta de braço, o cunho científico pra se firmar como profissão a enfermagem.

Um desafio, como toda profissão, um desafio, né. Hoje a enfermagem tem diversos, ela se ramificou, ela tem diversas opções de trabalho: você pode optar pela saúde pública, pelo... enfermagem do trabalho, assistência a nível hospitalar, e que é a mais gratificante e esse processo de interação do paciente e profissional enfermeiro, ele reduz pra gente de maneira positiva a experiência da dor com paciente, e deve dar conforto por estar aliviando, apesar de que mulher é extremamente vocacionada para emoção e o homem pra razão. Mas isso não... viabiliza, não possibilita a gente de assumir essa característica também de pensar pelo paciente, de pensar com ele e deixar que ele siga o caminho sozinho, encorajar o paciente, né. Então por ser uma profissão desafiadora, por ela não é... , como se diz, não oferecer pra gente a valorização que a gente espera de não atingir a expectativa da gente. É natural que muita gente tende a entrar nesse ramo da enfermagem, a remuneração financeira é pequena mas a gratificação pelo exercício da enfermagem é imensa. Àquelas pessoas que estão realmente

1ª Ideia: Um desafio.

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vocacionadas em ajudar, é uma oportunidade de ouro. Mas o que significa pra você, ser enfermeiro nessa profissão com predomínio feminino? Olha, eu não tenho nenhum preconceito a respeito disso, porque primeiramente não ser predominante masculina, da mesma natureza que seria hoje a medicina sendo procurada pela mulher que era uma profissão extremamente masculina, engenharia e outros campos que eram masculinos que são frequentados, são procuradas por um grupo feminino também. Eu acho existe a questão de adaptação e existe a questão de identificação com aquilo que está fazendo. Isso proporciona pra gente uma interação, né, entre os nossos objetivos e que realmente vai corresponder à expectativa da gente. Eu não vejo nenhum inconveniente nisso, indicar referencial ou contra referencial. À enfermagem tem que dar o forte potencial que tem, cada um tem que botar esse potencial em prática, né, e o mais importante é ter consciência de que realmente vai dar conta de lidar com aquilo e não vai dar conta, ter coragem suficiente para buscar uma profissão.

Com relação a ser enfermeiro, eu não vejo uma profissão predominantemente feminina, eu não vejo problemática, porque eu penso que é uma profissão como todas as outras.Então, o fato de ter mais

1ª Ideia: Sem problema.

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mulheres ou não ... é... não tem tanto... tanta relevância atualmente para atuar como enfermeiro. O aspecto com relação a preconceito, eu nunca sofri esse tipo de preconceito. O que acontece, geralmente, que próprios pacientes eles acham, eles tratam a enfermeiros do gênero masculino como médicos. Eles simplesmente não reconhecem que é um enfermeiro e tem competência como tal pra cuidar da saúdedele como enfermeiro. É... acredito que o mercado de trabalho está tendo uma transformação, tanto que o enfermeiro homem já está sendo inserido melhor na questão profissão, é melhor aceito nos âmbitos de trabalho. Também nesse aspecto não tenho dificuldades, o que às vezes dificulta é que até porque tem certos aspectos que acho é peculiar ao gênero, né, peculiar ao homem. O homem é mais prático, né, mais resoluto, ele toma as decisões de uma maneira diferente e que a mulher leva a ter uma outra abordagem do problema. Então, às vezes, você é contragenômico no meio das decisões, mas quando você sabe articular essas questões de... não vejo problema nesseaspecto.

É, pra mim ser enfermeiro num contexto feminino, eu não vejo grande diferença. Eu sinto que a mulher no início da profissão uma parteira, pois no ponto de vista de cuidar, no ponto de

1ª Ideia: Sem diferença.

2ª Ideia: Não se sente muito a vontade.

3ª Ideia: Mais soma do que dificuldade.

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vista de atendimento eu não vejo nenhum inconveniente. E sinto que para o paciente muitas vezes, ter a figura feminina dá mais segurança, favorece o relacionamento. E tem momento em que ele prefere o enfermeiro, principalmente quando se trata das partes íntimas, a atenção do enfermeiro é extremamente importante. Durante todo esse período que exerci a enfermagem, já tive a oportunidade de trabalhar muitos anos no hospital, nunca vi isso, nunca teve nenhum digamos é..., aí... é... afetar na minha atuação profissional. Questão da parceria, questão da troca, questão da... digamos, aí do convívio. Isso sempre foi muito bom, somente, às vezes, não se sente muito à vontadepor ser predominantemente feminina, às vezes tem momentos que um homem prefere se agrupar com outro homem pra trocar ideias, pra discutir. Então, nesse sentido é necessário ver a falta de uma presença masculina, no ponto de vista meu, enfim, é... no ponto de vista de procura natural, de procurar uma pessoa do mesmo gênero mas não que tenha sido aí algo que tenha comprometido, dificultado, pelo contrário, acho que teve muito mais soma do que dificuldade, conhecendo sempre. Com mulher foi muito bom. Eu tive colegas enfermeiras muito inteligentes, muito competentes, com quem tive oportunidade de estudar, desenvolver trabalhos. Nunca,

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nunca... tive assim da minha parte, nesse sentido não foi bom, nesse sentido ficou comprometido, pelo contrário, também não, só nesse sentido, no meu ponto de ver, né, ter a presença masculina pra trocar ideia é natural, juntar, conversar. Tem momentos que a gente prefere nosso gênero, né. Foi muito bom, né, como aqui na escola, né, nós somos assim, sem problema nenhum, de maneira alguma. Sentamos. desenvolvemos, cada um faz sua parte. Hoje quando fala especificamente de gênero não há muito mais aquela divisão não, sabe, é... homem com mulher. Isso, sabe, na medicina é o inverso, né. Estamos vendo que há um acréscimo muito grande da mulher na medicina. Então tá cruzado hoje, que bom que tenha isso, essa troca, essa mescla, isso é muito bom, como também é importante saber tá aumentando o contingente masculino na profissão. Não sei se você sabe: em Portugal a maioria é masculina e na Espanha já tá o quê? Mais da metade do contingente de enfermeiros são homens. Então você vê que realmente o homem está procurando mais a enfermagem né, daí dá outra pesquisa, por quê? Então, aquela coisa de ser predominantemente feminina eu acho que isso em breve vai acabar.

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10 Bem, eu acho o seguinte: é... o enfermeiro entendeu enfermeira, é a mesma profissão, ninguém tem diferença nenhuma numa profissão predominantemente feminina, né.É que essa questão da enfermagem começou com a mulher, né, mas assim, o que eu tenho, o que eu coloco pra você é que o enfermeiro do sexo masculino tem entrado na enfermagem e começado a fazer a profissão ficar mais forte, não em questão de agilidade, força ou coisa assim, é porque até mesmo,,, porque a mentalidade masculina é um pouco diferente da feminina. Por exemplo, quando eu fazia estágio na faculdade, eu trabalhava em grupos em plantões em que tinha eu e mais as meninas. Então tinha a questão de atrito às vezes, feminina, coisas enquanto fazia eu e mais vários colegas homens também o serviço agilizava muito rápido, sabe, entendeu? Eu vejo isso como um ganho, não sendo uma questão machista ou feminista, entendeu, mais é questão de ganho, porque é diferente o pensamento masculino do feminino, né. Veja bem, que a mulher tem o fator hormonal, entendeu, quer dizer, ela tem o fator físico dela também, né, claro, né. Mas assim o homem não tem essa questão, ele é bem assim, ele é bem dirigido, é as coisas dele ao profissional, ele não mistura o profissional com o pessoal, entendeu? Então, por exemplo,

1ª Ideia: Fortalecer a profissão.

2ª Ideia: Um ganho.

3ª Ideia: Normal.

4ª Ideia: Sem diferença.

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se a pessoa não gosta do outro não importa, trabalho tão bem do mesmo jeito, enquanto eu via muito isso com as meninas, elas brigavam, ficavam de cara feia, falava que o serviço não andava, uma não ajudava a outra, entendeu, e aí mulher tudo junto, menstruação tudo junto, entendeu, então, um pouquinho de TPM. Eu via isso, sabe, essa é a realidade, enquanto meus colegas que trabalhava junto o negócio andava, quando juntava um bando de mulher e só um homem o negócio desandava. Eu vejo assim, não vejo como predominantemente, ou é de mulher ou é de homem a profissão, tanto é que a mulher hoje conseguiu o local dentro do sol, ela é o que ela quiser ser, né, não tem mais, se vê mulher caminhoneira, mulher trabalhando na construção civil, entendeu, eu vejo assim, - Mas o que significa pra você ser enfermeiro numa profissão com predomínio de mulher? -Normal, eu não sinto nenhuma diferença assim, sabe, eu acho que a profissão está crescendo, tem muito homem entrando também no sistema, também normal como qualquer outra profissão.

Ah, antigamente, antigamente, quem fazia enfermagem era mal visto, né, como homossexual, mas hoje o que tem de homem aí na enfermagem. Eu gosto, só que, por um lado gosto mais,por outro eu não gosto não, tem muita cobrança, mal remunerado, muita fofoca.

1ª Ideia: Maior cobrança.

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- Mas o que significa pra você ser técnico de enfermagem numa profissão com predomínio feminino? É, eu acho assim: que tem muita tristeza, muito... A gente vê muita coisa assim que desagrada a gente. Eu vejo assim como uma profissão que você tem que ter dom, que muita gente vai pelo dinheiro, chega lá e não é aquilo, né.

É a área de enfermagem. Pra mim, trabalhar na área de enfermagem é uma satisfação, né, trabalhar na área, porque você tem muita responsabilidade, é uma pessoa, quer dizer, é uma profissão que requer muito do profissional, e por ser uma área que é predominantemente feminino assim... é... há uma certa restrição, né, porque a enfermagem em si, desde osprimórdios da enfermagem. ela, se tem um ponto de vista. né, principalmente dos homens, porque quem tá na enfermagem ou é veado, né, vamos dizer assim ou é... afeminado, né, mas isso aí já foi banido há muito tempo, né. Hoje a enfermagem tem que levar a sério porque é uma profissão digna, né, de quem tá ali na área e eu acho o seguinte: pra mim, eu gosto muito da área de enfermagem, tanto é que já tô há 18 anos já na área e...assim... precisa muito do masculino, da pessoa masculina pra trabalhar, porque... porque por você estar trabalhando com o ser humano,

1ª Ideia: Certa restrição.

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às vezes, a mulher, às vezes é preciso de força masculina e a mulher não é, não foi feita pra suportar peso, essas coisas tudo... Mulher, como se diz, a mulher é mais a parte mais emocional , razão, né, o homem já é a parte mais física, apesar também que nós temos que trabalhar também com a parte emocional, principalmente pra pegar paciente, né, transportar, às vezes, tem que imobilizar o paciente, então é preciso de força, né. Então eu acho que o campo de enfermagem precisa muito da força de mão masculina. É assim: as pessoas que estão lá fora e querem entrar e tem um receio. Eu acho que não, eu acho que tem mais é que entrar mesmo e dizer que a enfermagem é uma profissão muito bonita de se ver quando se trabalha com dedicação. Eassim, eu acho que falta muito mesmo a força masculina, tanto é que onde eu trabalho a maioria é mulher, e a gente vê, que, às vezes, por faltar homem sobrecarrega a gente que tá, às vezes, tem remoção pra fazer, hematulim e você sai do plantão. Então às vezes é meio complicado, mas assim é uma profissão bonita, é uma profissão que tem que ter mesmo tanto homem como a mulher. O homem ajuda na parte física e emocional também, né, e a mulher a parte emocional assim, eu acho que é por aí, tá bom?.

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Olha, no começo foi muito difícil, porque se pensando bem 20 anos atrás, você entrar numa profissão que 99,9% era mulher, então não foi fácil,começando até pelo lado familiar. Meu pai não aceitava, porque era uma profissão feminina, mas como eu gostava, bati o pé e fui e fiz a faculdade e fui pro vale, eu tive o privilégio de ser o primeiro enfermeiro do Vale a gerenciar um hospital privado, e fazer o curso de auxiliar pelo SENAC do Vale. Então, assim pra mim foi difícil, mas mesmo assim uma experiência e uma, como que eu posso falar pra você, um desafio, e esse desafio fui muito bem sucedido no Vale, apesar de ser assim 100 por 1 homem,né, eu ainda venci as barreiras do preconceito, da ética, e de tudo e me posicionei dentro da enfermagem.

Pra mim. eu acho uma coisa interessante, eu acho que é um desafio, né, porque, por exemplo, eu acho assim, você estar num contexto feminino, mas você não precisa pensar que só mulher pode fazer aquilo ali, entende, você também tem capacidade de fazer a mesma coisa. A única coisa que muda só a questão, por exemplo, de sensibilidade e emoção, por exemplo, o homem ele ainda mexe na questão da força e não se emociona, a mulher é diferente, ela se emociona facilmente, e a questão da agilidade, a mulher tem mais agilidade, o homem já não tem

1ª Ideia: Muito difícil.

2ª Ideia: Um desafio.

1ª Ideia: Um desafio.

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tanta agilidade, mas as diferenças são essas, mas isso não impede de nenhum trabalhar. O único desafio, eu acho que não tem mais, cada um tem uma maneira de pensar. Eu acho que cada um tem um gosto, tanto hoje a mulher também faz muita coisa que o homem fazia antigamente que hoje a mulher faz também. Assim, eu penso... assim... não tem desafio, eu acho que cada um pensa de uma maneira.

Primeiramente orgulho de ser homem e estar num ambiente predominantemente feminino, e também que é um paradigma dizer que os enfermeiros ou são gays ou são mulheres, né. A gente, nós homens, estamos aí pra provar que não precisa ser mulher e nem também ser gay pra ser enfermeiro. Pode ser assim homem e enfermeiro, cuidar, e cuidar muito bem.

É um diferencial já que estáacostumado com os padrões femininos, até pro cliente que táali acamado há mais tempo, é no caso o masculino, ele se sente mais à vontade tendo um homem, né, e ali pra tá ajudando. Na verdade é isso, isso que facilita, até por questão de peso e outras coisas mais que facilitam, não porque a mulher não consiga, mas o homem facilita bastante, tá. Resumidamente, eu acho que... é difícil trabalhar com mulher, é complicado mulher com mulher, homem com mulher já

1ª Ideia: Orgulho.

1ª Ideia: Um diferencial.

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consegue trabalhar de uma forma melhor, muita conversinha, muita coisa, mas dependendo do ambiente que você está é mais tranquilo.

Olha, hoje eu vejo assim que a enfermagem, quando eu entrei na escola de enfermagem, é...eu até tive uma curiosidade, eu fui ver em que ano lá na escola tinha entrado o primeiro homem e quando que ele formou. E eu vi que não tinha sido há muito tempo, ou seja, mesmo a faculdade de enfermagem, a escola de enfermagem é, onde eu formei antigamente, só entravam mulheres, por razão que é uma profissão mais de mulheres, hoje tem o número é muito maior de mulheres, né, mas eu vejo assim que as profissões que são dominadas por homens, porque você vê que tem mais homens, eles são mais unidos, do que a enfermagem que é dominada pelas mulheres. Não estou querendo dizer que as mulheres são menos unidas, mas quando eu fui trabalhar, principalmente,em São Paulo nos grandes centros, não no interior, mas em São Paulo quando eu fiquei 7 anos lá dentro dos hospitais, eu percebi isso, eu percebi que as mulheres, é, as enfermeiras são menos, por exemplo, unidas, do que os médicos, né,são unidos entre eles, e as profissões dominados por homens são profissões mais unidas entre si, do que as profissões como enfermagem que é dominada

1ª Ideia: Conviver com a desunião feminina.

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muito pelas mulheres são menos unidas, é uma categoria mais desunida dentro de hospital Eu percebi isso em enfermeiras, uma querendo àsvezes puxar o tapete da outra, coisa que não acontece nas profissões mais masculinas.Isso eu senti já na prática. Como aluno de enfermagem não, nossa, mil maravilhas, né. Uma curiosidade, só uma curiosidade: quando eu estava na faculdade de enfermagem, na escola de enfermagem eu fiz parte do diretório acadêmico por 2 anos e, na minha época, tinha os jogos universitários e eu tinha muita vontade de fazer um time masculino de futebol que eram só 6 jogadores e desde o primeiro ano até o quarto, quando eu formei, eu não consegui formar, porque os que entravam não gostavam de futebol como eu. Eu não consegui, mas isso não foi empecilho nenhum. Saí de lá sem conseguir fazer o time, mas o que eu acho é isso que é uma profissão dominada por mulheres, mas tem o seu lado positivo, as enfermeiras pra cuidar do paciente, elas têm um lado emotivo, um lado...como que fala mesmo, um lado de olhar as necessidades, as carências do paciente. Eu acho que elas têm essa percepção muito melhor do que os homens, eu vejo isso também nas colegas enfermeiras que eu vi. Vocês mulheres têm a percepção de olhar no paciente e sentir a necessidade dele. Isso é um lado muito positivo deser uma profissão mais

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dominada por mulheres. Mas, o que significa pra você ser enfermeiro nessa profissão com predomínio de mulheres? Isso significa sim, que eu gostaria sim, que ela fosse uma profissão mais unida. Isso significa pra mim, porque essa desunião que tem assim com as enfermeiras... Quantas enfermeiras usam a profissão de uma forma competitiva dentro dos hospitais! Eu vi isso lá em São Paulo, problemas entre colegas, entre enfermeiras. Isso significa que eu acho que não deveria ser assim, deveria desde lá da faculdade ir formando as enfermeiras, desde lá na faculdade, lá na escola pra elas saírem já com essa mentalidade de uma categoria unida, coisa que a gente, eu pelo menos não vi na escola de enfermagem nenhuma orientação para as enfermeiras, os enfermeiros saírem de lá preservando a categoria de enfermagem, preservando a profissão, tendo ética, preservação, não expondo as outras colegas, como eu já vi ao longo desses 25 anos. E eu vejo que na categoria dos homens, nas profissões dos homens, isso ocorre muito pouco, eles são mais unidos.

Na realidade eu não vejo muita diferença em estar no meio de uma profissão predominantemente feminina.É... sempre gostei da área de enfermagem, gosto do que eu faço e eu acho muito importante

1ª Ideia: Sem diferença.

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esse cuidar, né, a gente cuidar das pessoas que precisam tanto na parte física quanto mental.

Eu acho que a enfermagem não tem sexo não, pra mim tanto faz como dar os cuidados pro homem, pra mulher, eu vejo ele como paciente, não vejo o sexo dele, não me atrapalho em nada disso. Mas, o que significa pra você, ser técnico de enfermagem numa profissão em que o contexto é predominantemente feminino? Eu não vejo diferença nenhuma não, mas no comecinho, quando eu entrei aqui 22 anos atrás, é... existia na área pessoas que trabalhavam aqui do sexo masculino, tinha uma predominância o homossexualismo, e na época, no começo... quando eu me aborreci quase que eu saí, eu não aguentava algumas certas risadinhas de algumas pessoas, depois , foi indo, foi indo, eu fui deixando disso, eu vou fazer o que eu gosto de fazer, vou continuar fazendo e deixei de lado.

Bom, eu não vejo por esse lado de feminina e masculina, eu vejo mais no objeto ali, no objetivo de cuidar do cliente, né. Eu vejo a vida em primeiro lugar. Então, esse papo de ter ou homem ou mulher tem um... pra mim não tem tanta... é... como se diz, eu não tenho tanto... eu não vejo por esse lado, não tenho tanto medo, né. Tem gente que fica preocupado, né, mulher e tal, sei lá. Então eu

1ª Ideia: Sem diferença.

1ª Ideia: Felicidade.

2ª Ideia: É importante.

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não vejo por isso, eu vejo mais o objetivo do cuidado. Então eu acho que tanto o homem ou a mulher, fazendo o serviço profissionalmente é pra mim, é o que valia, né. O que eu gosto é de soma, certo, eu vim pra somar, então agora esse negócio de ou ser homem ou ser mulher eu acho que não tem problema nenhum não. Eu acho que já é um tabu, né, que muita gente falava que essa profissão é mais pra mulher no caso, e quando o homem tá ali é porque é meio gay. Eu acho que é isso aí, hoje em dia não tem mais nada a ver. -Mas o que significa pra você ser técnico numa profissão com predomínio feminino? Ah, entendi, então é o que significa pra mim? Ah, eu, no meu caso, eu fico muito feliz,né, de poder proporcionar esse trabalho e de ter conhecimento pra poder estar no mesmo ramo junto com mulher ali, né. Então, pra mim cara, é muito importante, acho que é um dom que Deus me deu e eu estou colocando essa... esse dom em prática, né. Então isso é que é legal, não tem muito que ficar justificando ou competindo no caso.

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ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD - 2)

Sujeito IC1: Ter maior visibilidade 1 […] Somos minoria dentro de uma profissão e por isso a gente é

mais visível. Eu acredito que a gente tem maior visibilidade dentro da área, né, mais visibilidade do que as mulheres […].

Sujeito IC2: Desenvolvimento profissional

1 […] Acredito que há possibilidade de você... é... desenvolver-se mais na profissão, ter mais oportunidades […].

Sujeito IC3: Maior cobrança

1 […] Então é preciso o homem saber trabalhar com essas questões, porque as cobranças são maiores, né, apesar dos benefícios […].

11 […] por um lado gosto mais, por outro eu não gosto não, tem muita cobrança […].

Sujeito IC4: Praticidade

2 […]para uma pessoa do sexo masculino é muito mais fácil, prático,e que contribui para melhor conforto dos pacientes […].

Sujeito IC5: Normal

2 […] Acho normal homem nesta profissão […].

3 […] Normal […].

10 […] Normal, eu não sinto nenhuma diferença..., normal como qualquer outra profissão.

Sujeito IC6: Necessário

2 […] E muito necessário, e deveria haver um número maior de homens nesta profissão.

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Sujeito IC7: Mais paparicado

3 […] a gente é mais paparicado,... tem muitas regalias.

Sujeito IC8: Mais bem cuidado

3 […] mais bem cuidado […].

Sujeito IC9: mais bem visto

3 […] mais bem visto […].

Sujeito IC10: Fazer a diferença

4 […] a gente gosta de fazer a diferença […].

Sujeito IC11: Ter privilégio

4 […] eu vejo que eu tenho um certo privilégio de estar incluso nessa profissão […].

5 […] Eu acho que eu sou privilegiado […].

Sujeito IC12: Colaboração

4 […] Eu vejo que eu posso colaborar com o que eu tenho com a influência, como eu disse, do gênero masculino […].

Sujeito IC13: Um desafio

5 Um desafio profissional muito grande […].

7 Um desafio, como toda profissão, um desafio, né […].

13 […] um desafio […].

14 […] eu acho que é um desafio, né[…].

Sujeito IC14: É gratificante

5 [...] é gratificante ao mesmo tempo […].

Sujeito IC15: Satisfação

5 […] tem uma satisfação muito grande […].

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Sujeito IC16: Crescimento

5 [...] dentro de mim foi um crescimento muito grande, foi bom por causa disso […].

Sujeito IC17:Representatividade científica

6 É assim, o homem, né, quando ele começou a entrar na enfermagem, surgindo isso, né, como enfermeiro trouxe mais representatividade para profissão […].

Sujeito IC18: Sem problema

8 Com relação a ser enfermeiro, eu não vejo uma profissão predominantemente feminina, eu não vejo problemática, porque eu penso que é uma profissão como todas as outras […].

Sujeito IC19: Sem diferença 9 É, pra mim ser enfermeiro num contexto feminino, eu não vejo

grande diferença […]. 10 […] eu não sinto nenhuma diferença […]. 18 Na realidade eu não vejo muita diferença em estar no meio de uma

profissão predominantemente feminina […]. 19 […] eu não vejo diferença nenhuma não […].

Sujeito IC20: Não se sente muito a vontade 9 […] às vezes, não se senti muito a vontade por ser

predominantemente feminina […].

Sujeito IC21: Mais soma do que dificuldade

9 […]acho que teve muito mais soma do que dificuldade […].

Sujeito IC22: Fortalecer a profissão

10 […] o enfermeiro do sexo masculino tem entrado na enfermagem e começado a fazer a profissão ficar mais forte […].

Sujeito IC23: Um ganho 10 […] eu vejo isso como um ganho, não sendo uma questão

machista ou feminista, entendeu, mais é questão de ganho […].

Sujeito IC24: Certa restrição

12 […] Há uma certa restrição […].

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Sujeito IC25: Muito difícil 13 No começo foi muito difícil, porque se pensando bem a 20 anos

atrás, você entrar numa profissão que 99,9% era mulher, então não foi fácil […].

Sujeito IC26: Orgulho 15 Primeiramente orgulho de ser homem e estar num ambiente

predominantemente feminino […].

Sujeito IC27: Um diferencial 16 É um diferencial já que está acostumado com os padrões

femininos […].

Sujeito IC28: Conviver com a desunião feminina 17 [...] as profissões como a enfermagem que é dominada muito pelas

mulheres são menos unidas, é uma categoria mais desunida dentro do hospital. Eu percebi isso em enfermeiras, uma querendo às vezes puxar o tapete da outra, coisa que não acontece nas profissões masculinas […].

Sujeito IC29: Felicidade 20 [...] eu no meu caso eu fico muito feliz né, de poder proporcionar

esse trabalho e de ter conhecimento pra poder estar no mesmo ramo junto com a mulher ali né […].

Sujeito IC30: É importante 20 [...] é muito importante, eu acho que é um dom que Deus me deu e

eu estou colocando essa... esse dom em prática […].

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ANEXO C – Parecer Consubstanciado nº 567/2010

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