ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ - Inicio · O meu sonho: concluir com sucesso o Curso de...

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Universidade Federal do Rio de Janeiro ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ – 1953 à 1959) Waldere Fabri Pereira Ribeiro 2007

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ:

DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS

IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ – 1953 à 1959)

Waldere Fabri Pereira Ribeiro

2007

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ:

DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS

IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DO GAP (ITAJUBÁ, 1953 – 1959)

Waldere Fabri Pereira Ribeiro

2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS

IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ, 1953 - 1959)

Waldere Fabri Pereira Ribeiro

Tese de Doutorado apresentada à Coordenação Geral de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Orientadora: Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos

Rio de Janeiro

Novembro, 2007

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Waldere Fabri Pereira Ribeiro

ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS

IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ, 1953 - 1959)

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em

Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal de Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2007

................................................................................... Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos - UFRJ Presidente

.................................................................................. Prof. Dr. Silvio de Almeida Carvalho Filho - UERJ 1ª Examinadora ................................................................................. Profª. Drª. Nalva Pereira Caldas - UERJ 2ª Examinadora ................................................................................ Profª. Drª. Gertrudes Teixeira Lopes - UERJ 3ª Examinadora ................................................................................ Profª. Drª. Maria da Luz Barbosa - UFRJ 4ª Examinadora ..................................................................................... Prof. Dr. Osnir Claudiano Silva Júnior - UNIRIO Primeiro Suplente ............................................................................... Profª. Drª. Lúcia Helena Silva C. Lourenço - UFRJ Segunda Suplente

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Orientadora

Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos

Agradeço a oportunidade do convívio

durante o período de orientação, bem como

os nossos diálogos que resultaram em

proveitosos ensinamentos.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Quando se busca o cume da montanha, não se dá importância às pedras do

caminho. Eis porque quero falar aqui do Bom Combate, aquele que é travado em

nome de nossos sonhos.

Para combater o Bom Combate, é preciso ter a ajuda de amigos, e quando

os amigos não estão por perto, temos que transformar a solidão em nossa principal

arma. Tudo que nos cerca precisa nos ajudar a dar os passos que em direção ao

nosso objetivo. Tudo tem que ser uma manifestação pessoal de nossa vontade de

vencer o Bom Combate. Sem isto, sem perceber que precisamos de todos e de

tudo, seremos guerreiros arrogantes. E nossa arrogância nos derrotará no final,

porque vamos estar de tal modo seguros de nós mesmos que não perceberemos

as armadilhas do campo de batalha.

O meu sonho: concluir com sucesso o Curso de Doutorado. Mas, no

caminho, fui surpreendida por percalços. Confesso que quase desisti. Só não o fiz

porque amigos estavam por perto. Graças a Deus, que fez deles Seus

instrumentos para que eu tivesse amparo nas horas difíceis, hoje estou aqui, diante

da Banca Examinadora, apresentando e defendendo a minha Tese de Doutorado.

A esses amigos, cujos nomes vou citando de acordo com o momento em

que passaram a fazer parte da minha vida, nela ocupando um lugar especial,

agradeço a ajuda recebida, o apoio e o incentivo constantes, manifestando o meu

sincero reconhecimento por terem acreditado e confiado em mim. São eles:

- Raquel Belmira da Silva, Secretária do Magnífico Reitor da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

- Luisa Gomes da Silva, funcionária do Protocolo do Gabinete do Reitor.

- Denílson Santos de Jesus, Chefe da Secretaria do Conselho de Ensino de

Pós-Graduação (CEPG) da UFRJ.

- Ana Maria Martinez Dias, funcionária do CEPG / UFRJ.

- Professor José Luiz Fontes Monteiro, Pró-Reitor de Pós-Graduação e

Pesquisa.

- Professores Nelson Albuquerque de Souza e Silva e Maria Carlota Amaral

Paixão Rosa, respectivamente Presidente e Membro do CAAC / CEPG da UFRJ.

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Finalmente, deixo consignado o meu incondicional respeito e a minha

profunda admiração pelo Professor Aloísio Teixeira, Magnífico Reitor da UFRJ, por

ter feito prevalecer a verdade, concedendo-me a oportunidade de realizar o meu

sonho. Ao dar o processo por encerrado, disse: “Com isso, ficam atendidas minhas

preocupações de garantirmos a possibilidade, àqueles que assim efetivamente o

desejam, de continuar seu processo de formação” (Processo nº 23079.042.911/05-

00 (fls.104). Decidindo assim, confirmou as palavras de Aristóteles de que “a lei é a

razão, livre da paixão”.

Sem dúvida, combatemos o Bom Combate e fomos todos vitoriosos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que permitiu que aqui eu pudesse chegar.

Aos meus pais, Maria e Américo (in memorian), com o meu profundo

respeito e reconhecimento por tudo o que fizeram por mim.

Ao meu esposo João, aos meus filhos Gustavo, Vanessa, André e Lucas; à

minha nora Sara e aos meus netos João Pedro e Gustavo, pelo carinho, apoio,

incentivo e compreensão.

À minha irmã Welma, que muito colaborou com os seus conhecimentos de

informática.

À Marisa Medeiros, amiga, cúmplice e confidente em todos os bons e maus

momentos. Esta tese tem muito de você ...

À direção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: Ir. Lucyla Junqueira

Carneiro, Ir. Maria Marly Simões e Professor Doutor José Vitor da Silva, pela

atenção que sempre me foi dispensada.

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RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.

RESUMO

Trata-se de um estudo de cunho histórico-social acerca da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, Minas Gerais, na década de 50. Os marcos cronológicos são o movimento para a criação da Escola pela Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1953) e a transferência de mantenedora (1959). Os objetivos da pesquisa foram: descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da Escola; analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap e discutir a eficácia simbólica dessas estratégias para a sua consolidação. Para dar suporte teórico ao estudo foram adotados os conceitos de habitus, campo e poder simbólico, segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu. Foram utilizadas como fontes primárias documentos escritos, orais e fotográficos. Mereceram destaque na narrativa dos fatos os acontecimentos que originaram a criação da referida Escola e as estratégias utilizadas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para a sua implantação e consolidação. O resgate histórico possibilitou registrar que a criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz configurou-se como uma estratégia bem sucedida de expansão do poder da Igreja Católica na formação de enfermeiras, de modo condizente com os preceitos católicos, simbolizando o exercício legítimo do poder religioso enquanto poder de modificar as representações e a prática dos leigos, inculcando-lhes um habitus religioso. Descritores: HISTÓRIA DA ENFERMAGEM, ESCOLA DE ENFERMAGEM, EMBLEMAS, INSÍGNIAS.

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RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Nursing College Wenceslau Braz: of Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Thesis (PhD on Nursing) – Nursing College Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.

ABSTRACT

Historical social based study about the creation of the Nursing College Wenceslau Braz, in Itajubá, Minas Gerais, on the 50th. The chronological frameworks are the movement for the creation of Santa Casa de Misericórdia College of Itajubá (1953) and the transfer of supporters (1959). The research aimed to: describing the circumstances that leaded to the creation of the College, analyzing the strategies of the Sisters of Congregação da Providência de Gap and discussing the symbolic efficacy of these strategies for their consolidation. The concepts of habitus, field and symbolic power were adopted, following the French philosopher Pierre Bourdieu in order to offer a theoretical support to the study. As primary sources, it has been used written, oral and photographical documents. We can detach, related to the narrative of the facts, the events that originated the creation of the referred College and the strategies used by the Sisters of Congregação da Providência de Gap for its implantation and consolidation. The historical recovery allowed to register that the creation of the Nursing College Wenceslau Braz configured a successful strategy of expansion of the power of the Catholic Church on training the nurses, following the catholic precepts, symbolizing the genuine exercise of the religious power as a power able to modify the representations and the laymen practice, instilling them a religious habitus. Key-words: NURSING HISTORY, NURSING COLLEGE, EMBLEMS, BADGES.

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RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Escuela de Enfermería Wenceslau Braz: de la Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Tesis (Doctorado en Enfermería) – Escuela de Enfermería Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.

RESUMEN

Se trata de un estudio de cuño histórico-social acerca de la creación de la Escuela de Enfermería Wenceslau Braz, en Itajubá, Minas Gerais, en la década de los 50. Los marcos cronológicos son el movimiento para la creación de la Escuela por la Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1953) y la transferencia de mantenedora (1959). Los objetivos de la investigación fueron: describir las circunstancias que proporcionaron la creación de la Escuela; analizar las estrategias emprendidas por las Hermanas de la Congregação da Providência de Gap y discutir la eficacia simbólica de esas estrategias para su consolidación. Para dar apoyo teórico al estudio, se han adoptado los conceptos de habitus, campo y poder simbólico, según el sociólogo francés Pierre Bourdieu. Se han utilizado como fuentes primarias documentos escritos, orales y fotográficos. Merecieron destaque en la narrativa de los hechos los acontecimientos que originaron la creación de la referida Escuela y las estrategias utilizadas por las Hermanas de la Congregação da Providência de Gap para su implantación y consolidación. El rescate histórico posibilitó registrar que la creación de la Escuela de Enfermería Wenceslau Braz se configuró como una estrategia exitosa de expansión del poder de la Iglesia Católica en la formación de enfermeras, de modo condecente con los preceptos católicos, simbolizando el ejercicio legítimo del poder religioso mientras poder de modificar las representaciones y la práctica de los legos, inculcándoles un habitus religioso. Descriptores: HISTORIA DE LA ENFERMERÍA, ESCUELA DE ENFERMERÍA, EMBLEMAS, INSIGNIAS.

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Objeto de estudo Objetivos Motivação para o estudo Contribuições do estudo Abordagem teórico-metodológica

15 15 17 18 19 19

CAPÍTULO 1 A NOVA ORDEM SOCIAL E SUAS REPERCUSSÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM EM ITAJUBÁ (1953-1954)

1.1 O Segundo Governo Vargas: repercussões em Minas Gerais 1.2 A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as Irmãs da

Congregação da Providência de Gap: primeiras iniciativas da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

28 32

45

CAPÍTULO 2 A IMPLANTAÇÃO DA ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ E AS INICIATIVAS DE ADOÇÃO DE UM MODELO DE ENFERMEIRA PARA ITAJUBÁ (1954-1956)

2.1 O espaço físico como símbolo de poder e prestígio para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

2.2 O regime de internato como estratégia de atualização do habitus das alunas

2.3 Divulgação do modelo de enfermeira da Escola e seleção das candidatas como estratégia de manutenção da ordem social

2.4 A recepção da touca como ritual de solenização do modelo de enfermeira para Itajubá

56

68

72

81

86

CAPÍTULO 3 A CONSOLIDAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: O RECONHECIMENTO E A TRANSFERÊNCIA DE MANTENEDORA (1956-1959)

3.1 A formatura da turma pioneira como rito de consagração da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

3.2 O poder simbólico das Irmãs da Congregação da Providência de Gap na consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

89

95

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

108

REFERÊNCIAS

111

APÊNDICES 119 ANEXOS 129

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LISTA DE APÊNDICES A – Roteiro de Entrevista 120

B – Termo de Consentimento 121

C – Termo de Doação do Depoimento 123

D – Carta à Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá 124

E – Carta à Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap

125

F – Roteiro para Exame de Documentação Escrita 126

G – Roteiro para Exame de Conteúdo Jornalístico 127

H – Roteiro para Exame de Conteúdo Iconográfico 128

LISTA DE ANEXOS A – Mapa – Localização de Itajubá 130

B – Resposta à carta enviada à Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap

131

C – Resposta à carta enviada à Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá

132

D – Autorização da Diretora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz para a realização da Pesquisa

133

E – Esboço do uniforme das alunas para atividades na Santa Casa e em sala de aula

134

F – Esboço do uniforme das alunas para passeio

135

G – Esboço do uniforme de gala das alunas 136

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CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS Foto 1 – Colégio Sagrado Coração de Jesus e

Instituto de Surdas e Mudas

48

Foto 2 – Fachada do prédio da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, no ano de sua inauguração (1925)

49

Foto 3 – Alunas da primeira turma da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em sala de aula localizada nas dependências da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1955)

78

Foto 4 – Pose grupal das alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz registrada no auditório da Escola Normal de Itajubá (1956)

81

Foto 5 – Desfile cívico de 07 de Setembro de 1955, em Itajubá

82

Foto 6 – Pose grupal registrada após a sessão solene de entrega do diploma à primeira turma de enfermeiras da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, no salão nobre do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em 9 de março de 1958

96

Foto 7 – Ritual da passagem da lâmpada (1958)

102

Foto 8 – Prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em construção, quando ocorreu a transferência de mantenedora (1958)

105

Foto 9 – Prédio concluído da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz e Madre Marie Ange

107

Fac Simile da Portaria Ministerial nº 853, de 23 de setembro de 1954 54 Fac Simile do Decreto nº 40.572, de 18 de dezembro de 1956 94 Fac Simile do Decreto nº 46.584, de 13 de agosto de 1959 106

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FONTES DOCUMENTAIS ESCRITAS E ORAIS

Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: Ata da Reunião da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá

Ata da Solenidade do Lançamento da Pedra Fundamental da EEWB

Ata do Lançamento da Pedra Fundamental da Capela São José da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá

Carta de Madre Marie Ange à Maria Rosa de Sousa Pinheiro

Carta de Madre Marie Ange à Glete de Alcântara

Carta de Madre Marie Ange à Haydée Guanais Dourado

Cartas-Ofício expedidas pela Diretoria da EEWB à Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura

Carta-Ofício da direção da EEWB ao Diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde

Discurso de Terezinha de Jesus Rennó, oradora da Turma Pioneira (1958)

Discurso do Sr. Luiz Pereira de Toledo, Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, formatura Turma Pioneira (1958)

Estatuto Interno do Diretório Acadêmico Gaspar Lisboa (DAGALI)

Jornais Diário de Poços de Caldas e O Sul de Minas

Livro de Contas Diárias da EEWB (1955 -1959)

Ofício da Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá ao Diretor do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura solicitando inspeção na EEWB para fins de Reconhecimento

(continua)

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(continuação)

Ofício da Diretora da EEWB à Diretoria do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura

Primeiro Livro de Atas da Congregação da EEWB

Primeiro Livro de Atas do Diretório Acadêmico Gaspar Lisboa (DAGALI)

Primeiro Livro de Contas Diárias da EEWB

Primeiro Livro de Matrícula das Alunas da EEWB

Processo de Solicitação de Autorização para Funcionamento da EEWB

Processo de Mudança de Mantenedora da EEWB

Relatórios Anuais de Atividades (1955 -1958)

Regimento Interno EEWB (1956)

Registros Iconográficos

Registro no Cartório do 2º Ofício da Comarca de Itajubá da Ata da Assembléia Extraordinária da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, em 12 de janeiro de 1958, aprovando a transferência de Mantenedora da EEWB, a doação do terreno e a construção iniciada do prédio a ela destinado

Relatório de Verificação da EEWB, para efeito de Reconhecimento pelo Ministério da Educação e Cultura

Telegrama do Diretor do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura ao Inspetor Federal, Sr. Antonio Francisco Gomes

Depoimentos: Depoente nº 1 – Ir. Zenaide Nogueira Leite Depoente nº 2 – Iro Machado Depoente nº 3 – Maria Celeste Fonseca Depoente nº 4 – Terezinha de Jesus Rennó Depoente nº 5 – Ir. Mirtes Rennó Depoente nº 6 – Maria Nirce Rezende Abreu Depoente nº 7 – Antonio Edilberto Lisboa

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Ribeiro, Waldere Fabri Pereira Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de

Misericórdia à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959) / Waldere Fabri Pereira Ribeiro, Rio de Janeiro : UFRJ / EEAN, 2007

136 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – UFRJ / EEAN,

Programa de Pós-graduação em Enfermagem, 2007. Orientador: Tânia Cristina Franco Santos 1. História da Enfermagem. 2. Escola de Enfermagem. 3. Emblemas. 4. Insígnias. 4. Teses. I. Santos, Tânia Cristina Franco (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery. III. Título.

CDD 610.73

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este estudo tem como objeto o processo de criação e consolidação da Escola

de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), em Itajubá, Minas Gerais. O recorte

temporal engloba o período compreendido entre 1953 e 1959.

O marco inicial, 1953, representa o ano em que a Provedoria da Santa Casa

de Misericórdia solicitou autorização ao Departamento de Ensino Superior do

Ministério da Educação e Cultura para o funcionamento da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz. O marco final, 1959, refere-se ao ano em que a Congregação das

Irmãs da Providência de Gap1 torna-se mantenedora da referida Escola, como

entidade de personalidade jurídica.

O recorte espacial é a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, inaugurada

em 1954, pela Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, nas suas dependências. A

Escola, subvencionada por aquela Instituição de saúde, tinha sua direção

administrativa e didádico-pedagógica a cargo das Irmãs da Providência de Gap, que

também trabalhavam na Santa Casa como enfermeiras.

À época, por situar-se na região sul de Minas Gerais, nas proximidades de

São Paulo e do Rio de Janeiro (Anexo A), a cidade de Itajubá revelou-se uma região

de grande potencial de desenvolvimento sócio-econômico

Na década de 50, o governo Vargas, em seu segundo mandato (1951-1954),

buscava dar novos rumos à Nação. Para tanto, tomava medidas destinadas a

incentivar o seu desenvolvimento econômico, com ênfase na industrialização

(FAUSTO, 2003, p.407). As elites mineiras, de acordo com Dulci (1999), voltaram-se

para a organização interna de Minas Gerais, com vistas ao seu desenvolvimento e à

sua recuperação econômica, devido à situação estadual de atraso em relação a

outros estados, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, contribuindo para que

o governo mineiro promovesse o crescimento econômico por meio de incentivo à

indústria, transporte e energia. Segundo Bomeny (1994, p. 56), o governo mineiro

“utilizou o regionalismo como recurso político” para que pudesse implementá-lo.

Romanelli (1985) afirma que, com a expansão da industrialização, houve um

grande número de migrações internas rumo às cidades e aos centros industriais,

que rapidamente tiveram um aumento considerável no contingente de trabalhadores.

1 Cidade localizada ao sul da França onde se localiza a sede mãe da Congregação.

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A migração em massa de trabalhadores rurais para as zonas urbanas resultou em

mutação do estilo de vida dos migrantes, envolvendo vários aspectos: habitação,

educação, saúde, dentre outros.

Itajubá, dada a sua localização geográfica privilegiada, isto é, perto de

grandes centros, beneficiou-se também com a expansão do número de indústrias.

Sendo assim, seu desenvolvimento industrial propiciou um aumento considerável da

população urbana, principalmente no que se refere ao quantitativo de trabalhadores,

demandando a necessidade de assegurar-lhes os recursos necessários, dentre eles

o da saúde. Com isso, a Santa Casa de Misericórdia, única instituição de saúde

existente na localidade, viu-se obrigada a fazer ampliações em suas dependências

para atender a demanda.

A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, desde 1925, utilizava os serviços

das religiosas da Congregação das Irmãs da Providência de Gap nos cuidados aos

doentes internados. Porém, na década de 50, algumas religiosas já diplomadas

como enfermeiras, passaram a exercer também a administração da Santa Casa. A

ampliação e a melhoria dos recursos materiais necessários e básicos para o

funcionamento da Instituição ressaltaram a necessidade de mão-de-obra hospitalar

qualificada para as principais atividades rotineiras, o que foi sentido pelas religiosas

enfermeiras a quem cabia resolver aquela situação.

Nesse período, as políticas de saúde atingem um grau de maturidade e a sua

estrutura passa a contemplar dois subsetores: o da saúde pública e o da medicina

previdenciária. Assim, em 1953 o Governo Federal cria o Ministério da Saúde que,

mesmo sendo considerado uma iniciativa secundária, demonstrava a importância

daqueles subsetores ao tentar unificar os Institutos previdenciários, em decorrência

da concentração dos elevados gastos em saúde e rede hospitalar (GEOVANINI,

2002). A prática médica individualizada, estabelecida a partir do fortalecimento da

política previdenciária, evidenciou a insuficiência do número de enfermeiros

qualificados para o moderno sistema hospitalar que se pretenda criar.

No campo da educação em enfermagem, Baptista e Barreira (1997) fazem

referência à expansão do número de escolas de enfermagem no Brasil na década

de 50, quando foram criadas mais 16, sendo que destas, 12 eram religiosas (11

católicas e uma evangélica) e quatro públicas (duas federais e duas estaduais).

No rol daquelas de cunho religioso, encontrava-se a Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz, quinta Escola a ser criada em Minas Gerais que, à época, já

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contava com outras quatro escolas de enfermagem, sendo duas em Belo Horizonte

– a Escola de Enfermagem Carlos Chagas (1933) e a Escola de Enfermagem Hugo

Werneck (1942); uma em Juiz de Fora – a Escola de Enfermagem Hermantina

Beraldo (1946); e uma em Uberaba – a Escola de Enfermagem Frei Eugênio (1948).

Desta forma, a sistematização do ensino da enfermagem em âmbito estadual,

bem como a organização do serviço de enfermagem, teve como marco a criação da

Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em 1933.

Face à necessidade de aumentar o número de leitos da Santa Casa de

Misericórdia bem como o de enfermeiras diplomadas para viabilizar a crescente

demanda de atendimento médico-hospitalar aos trabalhadores, no bojo da expansão

do processo de industrialização do País, as religiosas viram-se premidas a iniciar um

movimento voltado para a criação de uma escola de enfermagem católica, em

Itajubá.

A criação de uma escola de enfermagem católica tinha como objetivo dar

continuidade à profissionalização das religiosas e de moças, consoante com a

doutrina católica, de modo a assegurar suas posições de poder e prestígio na

administração e na assistência de enfermagem.

Com base nesses elementos, depreende-se a seguinte tese: a criação da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, pela Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá, nos moldes da Escola de Enfermagem Anna Nery, configurou-se como uma

estratégia de expansão do poder da Igreja Católica na formação das enfermeiras, de

modo a assegurar suas posições de poder e prestígio nos espaços hospitalares

Diante da problemática apresentada, foram traçados os seguintes objetivos:

1) Descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz.

2) Analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Providência de Gap

para a referida implantação.

3) Discutir a eficácia simbólica dessas estratégias para a consolidação do

modelo de ensino de enfermagem na Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz.

A minha ligação com o tema está relacionada ao fato de ser ex-aluna da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz2, onde atuo como professora do curso de

2 Graduada em 1974. O curso de período integral, teve duração de três anos.

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graduação há cerca de 29 anos. Nesta Escola também cursei Habilitação em

Enfermagem Médico-Cirúrgica e Especialização em Enfermagem do Trabalho;

posteriormente, concluí o curso de Especialização em Docência de Nível Superior

na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itajubá.

A realização do curso de Mestrado em Educação na Pontifícia Universidade

Católica de Campinas (SP) foi motivada pelo meu compromisso com a Enfermagem,

na qualidade de docente da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, e diante da

necessidade de repensar e aprofundar questões relativas à área da Educação. Na

oportunidade, ao proceder à coleta de dados para a elaboração da dissertação,

encontrei dispersos muitos documentos, dentre os quais atas, cartas, relatórios,

trabalhos científicos antigos, fotografias, recortes de notícias veiculadas em jornais

de Itajubá e de cidades vizinhas (sul de Minas Gerais), constituindo-se o material

num acervo muito importante relacionado com as pretensões de criação e

funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, e com a transferência de

responsabilidade de sua mantenedora, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá.

Diante disso, vislumbrei a possibilidade de realizar um trabalho histórico sobre

a Escola, visto que até então apenas dois artigos haviam sido escritos por ex-

diretoras da mesma, religiosas enfermeiras que fizeram um breve e empírico relato

da história da referida instituição de ensino superior (LEITE, 1962; TIBÚRCIO,

1965).

Portanto, é do meu interesse juntar esforços aos dos estudiosos da História

da Enfermagem no sentido de contribuir, de algum modo, para o avanço na

compreensão da construção das relações existentes entre a Enfermagem, como

profissão, e a sociedade na qual está inserida, com suas transformações de ordem

econômica, social ou cultural, até porque abordar um tema que está

geograficamente distante dos grandes centros de pesquisa pode trazer novas

explicações acerca da profissão, reforçando aquelas já conhecidas ou construindo

novas versões sobre a configuração da identidade e do habitus da enfermeira em

Minas Gerais, e mais precisamente em Itajubá.

Nessa linha de raciocínio, apresentei à atual Diretora da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, Ir. Lucyla Junqueira Carneiro, a idéia de resgatar a

história da Escola e, posteriormente, viabilizar a criação de um Centro de

Documentação, a partir do resultado do levantamento, catalogação e organização de

dados obtidos acerca do tema, a serem utilizados nesta pesquisa. Profundamente

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entusiasmada, de imediato ela aprovou a realização do estudo, autorizando o

acesso e utilização das fontes primárias disponíveis.

Deste modo, como professora da Escola ministrando a disciplina História da

Enfermagem, comecei a desenvolver um conteúdo curricular sob o título “Oficina de

História da Enfermagem Brasileira”, dando aos alunos a oportunidade de conhecer e

manusear documentos históricos da Escola, além de realizar uma catalogação

preliminar dessas fontes dando início, assim, à criação de um Centro de

Documentação (Arquivo Histórico) para a Escola, conforme mencionado

anteriormente.

Destaca-se, ainda, que a elaboração deste estudo contou com a aprovação

da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, através de sua Provincial, e da

atual Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, possibilitando a

autorização para a obtenção das fontes documentais nos acervos dessas

Instituições.

Ademais, acredito que os estudos relativos à História da Enfermagem

contribuem para o “desenvolvimento de um compromisso perene com a profissão”

(BARREIRA,1999, p.87), um modo de compreender a “mística da profissão”

(Op.cit.), através da própria dinâmica de atuação cotidiana, entender como ela

conquistou seu espaço social em diversos campos, valendo-se de lutas simbólicas,

poder simbólico, manifestações de resistência ou não, habitus e incorporação de

capital cultural.

Abordagem Teórico-Metodológica

Os Conceitos Teóricos

O estudo tem como referência teórica o pensamento do sociólogo francês

Pierre Bourdieu. A questão fundamental dos escritos de Bourdieu é o entendimento

do caráter estruturado das práticas sociais. Seu argumento é o de que as práticas

sociais são estruturadas, isto é, apresentam propriedades típicas da posição social

de quem as produz, porque a própria subjetividade dos indivíduos, sua forma de

perceber e apreciar o mundo, suas preferências, gostos e aspirações, estão

previamente estruturadas em relação ao momento da ação.

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Nesse sentido, cada sujeito em função de sua posição nas diversas camadas

sociais, vivencia uma série característica de experiências que estruturam

internamente sua subjetividade, constituindo uma espécie de “matriz de percepções

e apreciações” que orientaria suas ações em todas as situações subseqüentes.

Essa matriz, ou seja, o habitus, seria a mediação entre as dimensões objetiva e

subjetiva do mundo social, ou simplesmente entre a estrutura e a prática.

O conceito de habitus, na obra de Bourdieu, tem o papel de elo articulador

entre as três dimensões fundamentais de análise que foram aplicadas neste estudo:

a estrutura das posições objetivas, uma vez que a posição de cada sujeito no campo

propicia um conjunto de vivências que tende a consolidar um habitus em

conformidade com a sua posição no campo; a subjetividade dos indivíduos, fazendo

com que o sujeito desenvolva estratégias não como um indivíduo qualquer, mas

como um membro típico de determinado grupo que ocupa uma determinada

posição; e as situações concretas de ação, que fazem com que, mesmo sem saber,

o sujeito reproduza a própria estrutura na qual ele foi formado.

Neste estudo, o conceito de habitus sustentou a compreensão de que existe

uma estrutura social objetiva, calcada em múltiplas relações de luta e dominação

entre os diferentes grupos dos quais os sujeitos participam, e para cuja perpetuação

colaboram através de suas ações cotidianas, pois em função da história pregressa

do campo, alguns indivíduos e instituições certamente já ocupam posições

dominantes, e esses tenderão a adotar estratégias conservadoras, que visam a

manter a estrutura atual do campo e os critérios de classificação que os beneficiam.

O conceito de habitus possibilitou a compreensão da mediação entre as

dimensões objetivas e subjetivas do mundo social, pois “as diferenças de pura

conformação são reduplicadas e, simbolicamente acentuadas pelas diferenças de

atitudes” (BOURDIEU, 2007, p. 183). Tais diferenças foram visualizadas na leitura e

interpretação dos textos fotográficos através das maneiras de portar o corpo,

exprimindo de tal forma a relação com o mundo social, visto que “as propriedades

corporais são apreendidas através dos sistemas sociais de classificação”

(BOURDIEU, 2007, p. 183).

Assim, as marcas da posição social, os sinais distintivos que a expressam e as

estratégias de ação e reprodução, foram temas abordados na leitura e análise do

corpus documental deste estudo, uma vez que as religiosas investiram na

atualização do habitus das postulantes à profissão de enfermeira, em resposta às

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lutas simbólicas pelo poder de se fazer ver, de se fazer crer e de se dar a conhecer,

pois, em meio à luta pela imposição de uma visão de mundo legítima, os agentes

detêm um poder proporcional ao seu capital simbólico, ou seja, ao reconhecimento

que recebem de um grupo (BOURDIEU, 1989).

Por sua vez, o conceito de campo utilizado no estudo é concebido como um

espaço de múltiplas dimensões, cuja estruturação permite compreender os

princípios de divisão interna em função dos quais se organizam as lutas decorrentes

das relações de poder, expressas através de um jogo de linguagens e de coisas

materiais e simbólicas (BOURDIEU, 1989).

A aplicação do conceito de campo permitiu a análise das estratégias de luta

empreendidas pelas religiosas, pois o princípio de todos os atos de consagração não

é outro senão o próprio campo, concebido como um lugar de energia social

acumulada, reproduzida com a ajuda dos agentes e instituições através das lutas

simbólicas pelas quais eles tentam apropriar-se dessa energia, empenhando o que

haviam adquirido de tal energia mediante o capital simbólico acumulado ao longo de

sua trajetória social (BOURDIEU, 2007, p. 107).

O poder simbólico é descrito por Pierre Bourdieu como um poder invisível,

sempre dissimulado, que constrói a realidade fazendo com que os agentes estejam

submetidos a ele. É uma forma transformada, isto é, irreconhecível, transfigurada e

legitimada, das outras formas de poder. O poder simbólico é, com efeito, um poder

invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem

saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem, e se altera de acordo com a

posição ocupada pelos agentes nos diversos campos (BOURDIEU, 1989, p.7-16).

O poder simbólico traz em seu bojo a violência simbólica, mencionada por

Bonnewitz (2005) como sendo a dominação de uma classe sobre a outra, mediante

o uso de instrumentos de comunicação e de conhecimento para imposição ou

legitimação da dominação, levando à domesticação dos dominados. É o poder de

impor e até mesmo de inculcar. Assim, a violência simbólica institui-se por

intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante e,

portanto, à dominação, através de esquemas que ele põe em ação para se ver e se

avaliar, ou para ver e avaliar os dominantes, os quais resultam da incorporação de

classificações de que seu ser social é produto. Neste sentido, a violência simbólica

se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas de comunicação e de

conhecimento (BOURDIEU, 1999).

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Desse modo, a natureza e a forma das interações entre os agentes

empenhados na luta pela implantação e consolidação da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz foi determinada pela distribuição do capital de autoridade religiosa,

uma vez que as Irmãs dispuseram de seu capital religioso na luta pela enunciação

de um discurso autorizado acerca da formação da enfermeira, tendo como alvo o

“monopólio do exercício legítimo do poder de modificar em bases duradouras e em

profundidade a visão de mundo dos leigos” (BOURDIEU, 2001, p. 57).

O Caminho Metodológico

Trata-se de pesquisa de cunho histórico-social na perspectiva do que se

convencionou chamar de História Nova, ou seja, um movimento iniciado na França e

que representou uma reação à história tradicional. Esse movimento é assim

analisado por Le Goff (2001, p. 18):

O estudo em tela insere-se na linha de pesquisa “O Poder Simbólico da

Enfermagem nas Instituições de Enfermagem”, estando cadastrado no Núcleo de

Pesquisa de História da Enfermagem (NUPHEBRAS) do Departamento de

Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade

Federal do Rio de Janeiro (EEAN / UFRJ).

A história nova conserva até hoje essa proposta de uma ciência histórica que não mutile a vida das sociedades e que não eleve entre os diferentes pontos de vista sobre o devir dos homens as barreiras de sub-disciplinar – histórica política, história militar, história diplomática, história econômica e inclusive, a despeito de sua extensibilidade histórico-social ou histórico-cultural.

A pesquisa histórica, para Lakatos e Marconi (2001, p.107), consiste em:

investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciando pelo contexto cultural particular de cada época.

Sendo assim, Ferreira e Amado (1998, p.8) afirmam que a história “busca

produzir um conhecimento racional, uma análise crítica através de uma exposição

lógica dos acontecimentos e vidas do passado”. Já a memória busca reconstruir o

passado com base em vivências. Sendo flexível, vale-se da experiência para

resgatar fatos do passado frente aos interesses do presente.

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Com base no recorte temporal, os dados foram obtidos através da seleção e

análise de fontes: I) primárias: depoimentos de agentes participantes do processo de

criação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, documentos

escritos como relatórios, atas de reuniões, correspondências oficiais e pessoais,

notícias veiculadas em jornais locais e regionais e fotografias pertencentes ao

acervo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, da Santa Casa de Misericórdia

de Itajubá e de depoentes, que os colocaram à disposição; II) secundárias:

bibliografia sobre a história do Brasil, da Enfermagem Brasileira, da Educação no

Brasil em Minas Gerais e na cidade de Itajubá, das instituições hospitalares, dos

movimentos religiosos e da Congregação das Irmãs da Providência de Gap.

Os depoimentos foram obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas.

Meihy (1996, p.53-54) ressalta que “o uso de entrevistas como fonte, remete ao

sentido do documento e da análise procedida em cima dos textos estabelecidos a

partir de depoimentos”. Neste sentido, a história oral torna-se capaz de alcançar o

reconhecimento, extraindo das “falas” o complemento significante que permitirá a

análise de documentos ou o entendimento de um fato. Portanto, a história oral é

uma “forma de captar um instante da nossa própria história” (Op.cit., p.53-54).

Para a entrevista semi-estruturada foi elaborado um roteiro (APÊNDICE A),

dividido em três partes, a saber: a primeira, que incluiu a identificação do

entrevistado, o local e a hora da entrevista; a segunda, a sua formação e o caminho

que trilhou até se formar; a terceira, consistindo em um espaço para a

reconsideração do vivido.

Foram realizadas sete entrevistas: uma com a primeira diretora da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz; a segunda com o então secretário da Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá, que lavrou as atas da criação da Escola e da transferência

de mantenedora, outras quatro com ex-alunas, formadas na primeira turma de

formandas (duas leigas, uma religiosa e outra ex-religiosa) e uma última com um

ex-professor, à época, médico da Santa Casa.

Os entrevistados foram previamente contatados por telefone e informados

acerca dos objetivos da pesquisa e da importância de sua participação. Deve-se

ressaltar que houve anuência imediata de todos para a realização destas

entrevistas, que ocorreram em duas localidades: a primeira, na cidade de São Paulo,

para onde a pesquisadora se deslocou; e as outras cinco, em Itajubá.

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No que se refere às entrevistas realizadas, cada uma teve a duração de cerca

de uma hora e, previamente à sua realização, os depoentes foram mais uma vez

esclarecidos a respeito dos objetivos do estudo e consultados quanto ao uso do

gravador, com o que todos concordaram mediante consentimento verbal e

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, como determina a

Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (APÊNDICE B), que dispõe

sobre pesquisas envolvendo seres humanos.

As fitas magnéticas contendo as gravações das entrevistas foram transcritas

pela pesquisadora, e o teor das mesmas foi posteriormente validado pelo respectivo

entrevistado, mediante leitura do material transcrito. Neste momento, foi solicitado

aos entrevistados a assinatura de um Termo de Doação do Depoimento (APÊNDICE

C) sob a justificativa de que, ao término da pesquisa, as fitas seriam reproduzidas,

perfazendo um conjuntos a ser doado ao Arquivo Histórico da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz.

Deve-se enfatizar a importância da história oral neste sentido, visto que a

experiência e a versão dos entrevistados permitirão, ao menos em parte, “a

recuperação do vivido, conforme concebido por quem o viveu” (ALBERTI, 1989, p.2-

6). Neste caso, o sujeito conta a sua história e fornece dados sobre a realidade

social da época, como testemunha do seu tempo e do seu ambiente. Ademais, como

afirma Barreira (1992, p.5), “a experiência de vida de pessoas empresta à história

uma nova e dinâmica qualidade, ao dar espaço à vida de pessoas comuns”,

tornando dinâmico o estudo histórico.

Bosi (2001, p.15) considera que essa dinâmica ocorre porque “o narrador

conta o que ele extrai da experiência daqueles que ouvem a sua história”, o que

pode servir para aclarar o complexo jogo de ideologias existentes e dominantes à

época do recorte temporal do estudo.

Para viabilizar a coleta de dados, no que se refere aos documentos escritos e

às fotografias, duas cartas (APÊNDICES D e E) foram entregues pessoalmente à

Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e à Provincial da Congregação

das Irmãs da Providência de Gap, solicitando autorização para pesquisar os

documentos e fotografias existentes que tivessem ligação direta com a trajetória da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, bem como para fotocopiá-los. Dias após,

as respectivas autorizações foram concedidas sob a forma de ofícios (ANEXOS B e

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C). A solicitação feita à diretora da Escola de Enfermagem com a mesma finalidade

foi verbal, porém, a autorização foi concedida formalmente (ANEXO D).

Vale dizer que a utilização de documentos fotográficos, neste estudo, deveu-

se ao fato de serem os mesmos considerados “um resíduo do passado” (KOSSOY,

2001, p.48), ainda que tenham sido produzidos com um objetivo. Mesmo assim,

representam um meio de informação, de conhecimento, tendo sempre valor

documental iconográfico, ao deixar registrado o instante vivido, reunindo um

inventário de informações sobre aquele “preciso fragmento de espaço / tempo

retratado”. Deste modo, o registro fotográfico constitui uma fonte histórica

através “da matéria (que lhe dá corpo) e de sua expressão (o registro) visual

nele contido” (KOSSOY, 2001, p.47).

Para Santos, Barreira e Sauthier (1999, p.82), a fotografia pode ser

utilizada como um documento histórico, uma fonte de informação que pode

contribuir para compreender a ordem hierárquica estabelecida “de poder e

prestígio, das alianças existentes entre frações dos grupos empenhadas no

jogo de poder”.

Para a análise documental foram utilizados três roteiros: um para

exame da documentação escrita; outro para exame de conteúdo jornalístico,

e o terceiro para exame de documentos fotográficos (APÊNDICES F, G e H).

Para a leitura e análise do texto fotográfico foram articulados os elementos

do conteúdo interno da fotografia com o que lhe é externo, sendo

fundamental, portanto, o estudo do contexto de produção das mesmas.

Para consubstanciar a descrição e a análise das fotografias, foi

necessário apreender os elementos contidos no seu plano de expressão:

tamanho, formato, suporte, tipo de foto, enquadramento e disposição dos

planos, bem como dos elementos contidos no plano de conteúdo, que

corresponde às opções temáticas, quais sejam, o local, o tema, as pessoas,

os objetos, os atributos das pessoas e a medida do tempo (SANTOS e

BARREIRA, 2002). Desse modo, a leitura do texto fotográfico “remete ao

desvendamento de uma intrincada rede de significações”, mediante a

articulação dos elementos visíveis e invisíveis da fotografia (Op.cit., p.23).

Os depoimentos dos entrevistados foram analisados e discutidos com base

nos conceitos de Pierre Bourdieu que dá apoio teórico ao estudo, possibilitando

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selecionar as categorias de análise relacionadas com o objeto e os objetivos do

mesmo.

A utilização de fontes primárias diversificadas, isto é, os documentos escritos,

o conteúdo das entrevistas e as fotografias, permitiu a triangulação dos dados, com

o objetivo de comparar os achados, pois foram analisadas nestas fontes os mesmos

dados. A coleta e análise dos dados, processos do estudo, “se retroalimentam

constantemente” (TRIVIÑOS, 1987, p.139). O princípio é o de que se as diferentes

fontes utilizadas na pesquisa chegaram à mesma conclusão. Desta forma a

triangulação dos dados foi utilizada com o objetivo de descrever, explicar e

compreender o objeto de estudo.

Os questionamentos feitos aos documentos, as respostas; a análise

fotográfica e as entrevistas colocaram em relevo a crença na significação das

regularidades encontradas, nem sempre da mesma forma, mas sobretudo nas

mensagens, apontando para a magnitude real e simbólica do Padrão Anna Nery,

para a construção da identidade profissional da enfermeira da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz.

Para facilitar o entendimento do leitor, o trabalho está estruturado conforme

descrito a seguir:

• As Considerações Iniciais - explicitam o objeto e a problemática do

estudo, estabelecendo os objetivos alcançados e a abordagem teórico-

metodológica adotada.

• O Capítulo I - apresenta um panorama do contexto histórico-social

vigente no que se refere aos campos da saúde e da educação,

trazendo os antecedentes da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e

da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, culminando com as

primeiras iniciativas para a criação de uma escola de enfermeiras.

• O Capítulo II – trata da implantação da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz, em Itajubá, evidenciando as estratégias

empreendidas pelas religiosas no sentido de enunciar um modelo de

enfermeira, na luta pelo reconhecimento social da escola.

• O Capítulo III discute os efeitos das estratégias adotadas pelas Irmãs

da Providência de Gap, no que se refere à demarcação de seu espaço

no campo da educação em enfermagem, e os efeitos dessas

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estratégias no processo de profissionalização das religiosas, de modo

a assegurar suas posições de poder nos espaços hospitalares.

• As Considerações Finais demonstram que as estratégias utilizadas

pelas Irmãs da Providência de Gap foram bem sucedidas, confirmando

a hipótese do estudo e o alcance dos objetivos estabelecidos.

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CAPÍTULO 1

A NOVA ORDEM SOCIAL E SUAS REPERCUSSÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM EM ITAJUBÁ

(1953-1954)

O presente capítulo objetiva evidenciar as circunstâncias que ensejaram

a criação da Escola de Enfermagem de Wenceslau Braz, em Itajubá.

Inicialmente, apresenta-se uma breve descrição dos contextos social, político e

sanitário em que se encontrava o Brasil na ocasião, com desdobramentos para

o Estado de Minas Gerais, especialmente a cidade de Itajubá. Em seguida, são

abordadas as questões relativas à assistência de enfermagem prestada pelas

irmãs da Congregação da Providência de Gap na Santa Casa de Misericórdia

local; e finalmente, considerações são feitas sobre a necessidade de criação de

uma escola de enfermagem naquela cidade.

Para melhor compreensão da estrutura do contexto histórico-social

vigente no que se refere aos campos da saúde e da educação em enfermagem

na cidade de Itajubá, foi preciso resgatar os antecedentes históricos da Santa

Casa de Misericórdia e da Congregação das Irmãs da Providência de Gap,

culminando com a solicitação para o funcionamento da Escola, como se

descreve a seguir.

No final da Segunda Guerra Mundial (1945), com a vitória dos Aliados, os

Estados Unidos fortaleceram-se como Nação, tanto assim que a recuperação

da Europa, no início dos anos 50, teve como base um sistema monetário [re]

montado a partir da hegemonia da moeda americana: o dólar.

Gomes (1994, p.161) comenta que neste período teve início a Guerra

Fria, uma luta de poder entre dois blocos extremistas: o socialista, representado

pela extinta União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS), e o

capitalista, representado pelos Estados Unidos. Com isso, em vários países

houve uma sucessão de fatos que influenciaram a criação de diretrizes

políticas, econômicas e sociais voltadas para a saúde e a educação, segundo a

ideologia do bloco a que pertenciam, deixando entrever a relação direta entre

dominantes e dominados. O Brasil, como outros países ligados ao bloco

capitalista, sofreu influência marcante dos Estados Unidos em relação à área

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econômica.

Fausto (2003) relata que, à época, o Brasil sofreu mudanças de diretrizes

políticas advindas de diversas sucessões presidenciais. Assim, a década tem

início com o término do governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) que

tentou resolver, durante seu mandato, os diversos problemas econômicos

existentes. A Constituição de 1946, caracterizada pelo espírito liberal e

democrático de seus enunciados, criou o Conselho Nacional de Economia; com

isso, o Presidente Dutra elaborou e implantou um plano econômico qüinqüenal

voltado para a Saúde, Alimentação, Transporte e Energia, mais conhecido

como Plano SALTE, objetivando coordenar melhor os gastos públicos, eliminar

pontos de estrangulamento da economia e, assim, permitir maiores

investimentos em setores essenciais.

Para Skidmore (1996), este Plano foi incorporado ao projeto de

orçamento federal para 1949, aprovado pelo Congresso em 1950 e

abandonado em 1951, sem ter sido inteiramente implementado, tanto assim

que a pavimentação da Rodovia Rio-São Paulo (mais conhecida como Rodovia

Presidente Dutra), a abertura da estrada Rio-Bahia e a instalação da

Companhia Hidroelétrica do São Francisco, a partir da exploração da Cachoeira

de Paulo Afonso, foram seus únicos resultados concretos.

Tentativas como estas, segundo Iglésias (2000), levadas a efeito nos

últimos anos do governo Dutra, tiveram conseqüências expressivas na área

econômica com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que representava

o valor da produção agro-industrial, assim como dos serviços prestados,

incluindo os de intermediação correspondentes ao comércio. Em contrapartida,

a repressão aos movimentos sindicais levou à compressão dos salários e ao

aumento do custo de vida.

No pleito eleitoral para a sucessão de Dutra, diante da ausência de

novas lideranças e com a divisão dos partidos políticos, Getúlio Vargas se

destacou e venceu com ampla vantagem, sendo eleito com o apoio da

coligação formada pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB). À época, as camadas sociais médias e baixas da

zona urbana não agiram com os objetivos de interesses próprios de uma

classe, mas sim como uma grande massa indiferenciada. Para Bertolozzi e

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Greco (1996, p. 385) “isto resultou em extrema pulverização do comportamento

político dos trabalhadores” que, na ausência de canais que os unissem e

representassem “como associações, partidos ou outro tipo de organizações”,

tenderam a estabelecer uma relação carismática com os grupos hegemônicos.

No período compreendido entre o fim do Estado Novo (1945) e o início

do segundo governo Vargas (1951), houve uma coligação de forças

conservadoras que não tinham ”uma visão do desenvolvimento industrial como

um problema urgente” (MENDONÇA, 1996, p.274). Isto ocorreu devido à união

entre grupos urbano-industriais e agromercantis, com mínima participação de

forças políticas interessadas em um projeto nacional de crescimento

econômico.

Getúlio Vargas voltou ao poder em janeiro de 1951, encontrando um País

diferente daquele que havia governado autoritariamente de 1937 a 1945,

segundo relata Fausto (2003). Seu retorno foi possível graças à rede de apoio

criada por ele nos anos precedentes, nela incluída a massa operária que,

segundo Skidmore (1996, p.131), foi explorada por políticos populistas que

“apenas garantiam mais garantias e privilégios”.

O populismo dos anos 50-60 era uma “espécie de desvio da evolução

natural da sociedade brasileira em direção ao socialismo e ao enraizamento do

sindicalismo operário” (CERVI, 2001, p. 153). Este desvio foi conseqüência do

processo de transformação da sociedade de tradicional a moderna, e da

economia rural em urbana, que levou a uma rápida e progressiva

industrialização e urbanização mobilizando, desta forma, as massas populares

que passaram a exigir maior participação política e social.

Ao ser transferido para os centros urbanos, o homem do campo, em

linhas gerais, manteve o seu individualismo, abrindo espaços para as relações

personalistas e clientelistas do populismo, por ser desprovido de condições

psicossociais para um adequado comportamento urbano e democrático,

situação agravada pela carência de instituições políticas sólidas, a exemplo de

um sistema partidário (CERVI, 2001, p. 153).

Em sua campanha eleitoral, Getúlio deu ênfase à industrialização e

incentivou o desenvolvimento econômico, valendo-se de áreas estratégicas

como “petróleo, siderurgia, transportes, comunicações”, como afirma

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Fausto (2003, p. 407).

Durante seu segundo mandato (1951 a 1954), a situação econômica

caracterizava-se pela prioridade em investimentos públicos nos sistema de

transportes e de energia elétrica. Assim, em 1952, foi criado o Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a fim de acelerar o processo

de diversificação industrial; em 1953, a empresa denominada Petróleo

Brasileiro S/A (PETROBRAS) conseguiu estabelecer o monopólio estatal do

petróleo; e ainda ocorreram vários outros empreendimentos, de caráter setorial

ou regional, como o Plano Nacional do Carvão, a Superintendência do Plano de

Valorização Econômica da Amazônia e o Banco do Nordeste, todos com

idêntico objetivo: o de promover o desenvolvimento econômico a partir do

dirigismo estatal (IGLESIAS, 2000).

Neste período, Getúlio Vargas implementou uma política trabalhista

como mecanismo para reduzir as tensões sociais visto que, com a

industrialização, a burguesia industrial e financeira, o proletariado urbano e as

camadas médicas ligadas à burocracia estatal tornaram-se importantes, devido

à expansão capitalista e urbana (ROMANELLI, 1985). Asseguravam-se, deste

modo, novos rumos para a economia e o controle das condições de trabalho,

inclusive as do próprio trabalhador.

Em relação ao governo Vargas, Mendonça (1996, p.275) afirma que este

“armou-se destas novas instituições e instrumentos com o objetivo de viabilizá-

la” visando à industrialização acelerada como condição indispensável ao

progresso social. Prenunciaram, desta forma, as características da intervenção

que o Estado assumiria quando Juscelino Kubitschek tomou posse como

Presidente da República, em 1956. Deve-se ressaltar que o projeto varguista,

mesmo tendo conseguido a expansão do aparelho econômico do Estado, níveis

de coordenação mais elevados e realizações efetivas, acabou fragmentado ou

incompleto.

Para favorecer a criação e a expansão do setor industrial, o modelo do

governo Vargas apoiou-se em diferentes setores sociais, numa “combinação de

interesses econômicos e políticos” (ROMANELLI, 1985, p. 58) que favoreceu a

ocorrência de migrações internas direcionadas às cidades e aos centros

industriais, ocasionando aumento significativo do número de trabalhadores sem

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qualquer tradição política.

Estes, anteriormente agricultores, possuíam universo sócio-cultural

particular, “delimitado pelo misticismo, tendo a violência e o conformismo como

soluções tradicionais, formas patrimoniais e comunitárias de organização de

poder, de liderança e submissão” (Op. cit., p. 58), quadro social modificado aos

poucos, de modo parcial e contraditório. O perfil desta nova população

trabalhista sustentava a ligação direta do líder governamental com as massas,

oferecendo-lhes condições ideológicas, dentre as quais a do nacionalismo

econômico.

Analisando a migração em massa de trabalhadores rurais para as zonas

urbanas, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, Luz (1981) afirma que este

movimento resultou na mutação do estilo de vida dos mesmos, que passaram a

viver em favelas, cortiços e vilas operárias, confirmando cada vez mais a

ocupação do espaço urbano como espaço social e político, configurando a

lógica da hierarquia social sujeita à organização e controle políticos, isto é, à

instituição do poder.

O fato é que o governo Vargas foi muito conturbado por questões

políticas, havendo notícias até mesmo de articulações para um golpe com o

objetivo de destituí-lo do poder, o que não se concretizou porque ele cometeu

suicídio em agosto de 1954, caracterizando este ano como o de maior agitação

na política nacional em todo o período Republicano (IGLESIAS, 2000).

1.1. O segundo governo Vargas: repercussões em Minas Gerais

As políticas públicas mineiras nos anos 30 e 40 refletiam “uma nítida

linha de continuidade no que se refere à concepção do papel do Estado como

agente da recuperação econômica regional” (DULCI, 1999, p. 61), linha esta

iniciada com os esforços governamentais em se concentrar na diversificação

agrícola. Entre 1941 e 1946, a atenção do Poder Executivo, no que se refere às

políticas públicas, foi direcionada para a expansão industrial, seguida da

adoção de uma fórmula de planejamento compreensivo que procurava

equilibrar e articular o desenvolvimento agro-industrial.

A partir de 1950, os mineiros uniram-se a Getúlio no seu conflito político

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com os paulistas e personalidades de outras classes sociais que tendiam para a

descentralização. Surgem, então, nomes que fizeram a história e nela

permaneceram, como: Benedito Valadares, Gustavo Capanema e, mais tarde,

Juscelino Kubistchek. Cada vez mais, os mineiros trocavam a autonomia e a

preocupação pelos interesses regionais e acesso direto ao Governo central

(SCHWARTZMAN, 2003).

Como relata Dulci (1999), na trajetória histórica de Minas, a percepção

quanto ao atraso no desenvolvimento estadual, cada vez mais acentuado,

estava presente na consciência das autoridades e das elites1. A propósito, o

referido autor explica que as insuficiências da economia regional eram notórias,

porém, as condições institucionais para reduzi-las foram viabilizadas pela

política. A elevada coesão interna das elites ampliou a possibilidade de levar

adiante um esforço de recuperação econômica conduzido sob a égide do

Estado. E nesta análise, complementa a idéia ao constatar que este fato

decorreu da união entre as variações econômicas e políticas no processo de

modernização, incorporando o problema da “identidade regional como recurso

político – ou seja, o ‘nós’ em relação aos ‘outros’” (DULCI, 1999, p.192).

Vale aqui ressaltar que as elites políticas mineiras não eram

representadas diretamente por fazendeiros, levando em consideração que

Minas Gerais era um Estado altamente direcionado à cafeicultura, mas sim por

profissionais liberais que atuavam como representantes dos interesses

econômicos dominantes na sociedade, dando início à abertura para a

industrialização.

Refletindo sobre as características do mineiro e a “mineiridade”, Dulci

(1999) afirma que, enquanto representação das elites, esta possui três funções

ideológicas: I) servir como ideologia da classe dominante, organizando setores;

II) ajudar a legitimar o domínio das elites, quando parte significativa da

população compartilha os valores e símbolos regionais; e III) fortalecer os

interesses do Estado nacional, apoiando e justificando a ação de suas elites,

1 As elites políticas mineiras atuavam “como representantes dos interesses econômicos dominantes em uma sociedade” (VISCARDI, 1995, p.42). Para Bobbio (1971, p.386), a Teoria das Elites apóia-se no fato de que em “toda sociedade, existe, sempre e apenas, uma minoria que, por várias formas, é detentora do poder, em contraposição a uma minoria que dele está privada“. Afirma ainda que as mais importantes formas de poder são: a econômica, a ideológica e a política.

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em face das ações de outras áreas. Exemplificando, vale lembrar que o

sentimento de “mineiridade” foi eficaz para dar unidade interna às campanhas

presidenciais de líderes mineiros (Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves),

verdadeiros depositários da tradição e do estilo regionais.

O mineiro no seu modo de ser, na percepção de Carvalho (2005, p.65),

demonstra “apego à tradição, à hierarquia, à religião, à família, à moderação, ao

trabalho”. Ademais, segundo o mesmo autor, “aceita o papel predominante do

Estado em relação à iniciativa individual, aceita a cooperação em oposição à

competição e tem aversão ao conflito”.

Como ideologia, Lima (1945) afirma que a “mineiridade” pode ser

percebida nas relações entre os meios social e físico. O tradicionalismo e a

moderação dos mineiros dão-lhes um papel especial, uma missão unificadora

no plano nacional, até pela posição geográfica do estado (cercado por

montanhas fazendo de Minas Gerais a “encruzilhada dos caminhos”,

significando dizer que, estando no centro do País, politicamente representaria

um “ponto de convergência e nucleação, dando a idéia de síntese, de dureza e

de estabilidade” (Op.cit., p. 297).

Face ao exposto e resgatando a análise da recuperação econômica de

Minas Gerais na década de 50, ainda na Primeira República observa-se que os

mineiros voltaram sua atenção para a organização interna do Estado,

ensejando o início da escalada política das elites locais rumo à Presidência da

República2.

Nos anos 50, Minas Gerais teve como governadores: Milton Soares

Campos (19/03/47 a 31/01/51), Juscelino Kubistchek de Oliveira (31/01/51 a

13/03/55), Clóvis Salgado Gama (31/03/55 a 31/01/56) e José Francisco Bias

Fortes (31/01/56 a 31/01/61).

No governo de Juscelino Kubistchek, a idéia de estagnação ou atraso do

Estado tornava-se mais evidente diante de um passado de riqueza e prestígio,

correspondente ao ciclo da mineração do ouro, e das comparações

desfavoráveis frente ao avanço econômico de outros estados do País,

particularmente São Paulo. O contraste entre um crescimento moderado e uma

2 Afonso Augusto Moreira Pena (1906-1909); Wenceslau Braz Pereira Gomes (1914-1918),

Arthur da Silva Bernardes (1922-1926); Juscelino Kubistchek de Oliveira (1956-1961) e Tancredo de Almeida Neves, eleito diretamente em 1985, após o período da ditadura militar.

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rápida expansão de outras regiões definia o declínio da posição relativa de

Minas Gerais em termos nacionais, fato que seus líderes mais influentes

qualificavam como “perda de substância econômica”, fazendo com que a

recuperação econômica estadual se tornasse tema dominante na agenda

política ao longo do século XX (DULCI, 2005, p.116).

Para Bomeny (1994), o governo mineiro fez do regionalismo um recurso

político visando promover o desenvolvimento econômico, dando ênfase à

indústria, ao transporte e à energia. Deste modo, como exemplo da influência

das elites mineiras na área federal, destaca-se a instalação de duas grandes

siderúrgicas: a Mannesmann, de origem alemã, e as Usinas Siderúrgicas de

Minas Gerais (USIMINAS).

Vale lembrar que desde a implantação do federalismo, na década de 40,

as elites mineiras políticas, técnicas, empresariais ou agrárias, a partir da

percepção da decadência econômica estadual, foram capazes de unirem

esforços em torno de projetos comuns de desenvolvimento e de modernização

econômica, conciliando interesses próprios e realizando um jogo político que

beneficiou a todos (DULCI, 1999).

Quanto à educação, durante seu segundo governo, Vargas não tratou o

tema com o mesmo entusiasmo com que o fez no primeiro mandato, quando

criou o Ministério da Educação e da Saúde (1930), fato que incentivou a criação

da Universidade do Brasil (1937), e construiu um sistema nacional de ensino,

ensejando as Reformas do Ensino Secundário e Universitário (1942) que, além

de padronizar o ensino público federal e criar o Serviço Nacional da Indústria

(SENAI) (1942) (BOMENY, 2007, p.1).

Constatou-se que a educação se tornou um grande problema para o

governo, pois “a aura desenvolvimentista expunha com nitidez a precariedade

educacional dos brasileiros” (Op.cit., p. 1). De acordo com esta mesma autora,

o segundo governo Vargas ficou devendo muito à educação, pois o que estava

em jogo era a formação, a “preparação de uma elite capaz de atuar em uma

conjuntura mobilizada pelo crescimento, pelo desenvolvimento tecnológico e

pelo impulso à industrialização” (Op.cit., p. 1).

Na tentativa de solucionar o problema, foram criadas várias agências

especializadas voltadas para a educação, com ênfase na formação e na

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qualificação de funcionários de nível superior. Nesta linha de raciocínio,

Bomeny (2007) destaca a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento

(atual BNDES), do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e da Campanha

Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

instituições que impulsionaram o projeto educacional do País. Todavia, afirma

que “quase não se fala em educação neste período”, e conclui com uma

afirmação: “são tão silenciosas as fontes” (Op. cit., p. 2).

Bomeny (Op. cit.) relembra que, neste governo, ocorreu um

desmembramento ministerial: em 1953, o Ministério da Educação e da Saúde

transformou-se em Ministério da Educação e da Cultura, para tratar de assuntos

afins; quanto aos temas relacionados com a saúde, ficaram a cargo do

Ministério da Saúde, ora criado. Como Ministros para as respectivas pastas,

foram designados Antonio Balbino e Miguel Couto Filho. Destaca ainda que

Gustavo Capanema, durante sua permanência como líder do governo Vargas

na Câmara de Deputados Federais, não só estimulou avanços no processo de

aperfeiçoamento da política educacional, como também intimidou algumas

iniciativas parlamentares, visto que Antonio Balbino, Ministro da Educação em

1953, “era uma liderança ainda não consolidada no quadro político nacional e

dificilmente contrariaria o ex-ministro” (BOMENY, 2007, p.2).

Vale relembrar que Gustavo Capanema, na qualidade de Ministro da

Educação e Saúde Pública durante o mandato de Vargas, foi o porta-voz

autorizado e legitimado que, logo após o Estado Novo, articulou o debate sobre

os destinos da educação brasileira, realizado entre defensores da escola

pública e de uma escola “livre”, confessional. Porém, o que se discutia mesmo

era a implantação de um sistema de educação leiga, universal e gratuita, ou a

subvenção governamental da educação privada, de orientação católica e elitista

visto que, apesar das diferenças de pensamento sobre o tema, os

representantes de ambos os grupos tinham a crença comum de que a

educação detinha poder.

Na década de 50, a política da educação refletia um continuum do fim da

política do Estado Novo, quando o projeto educacional do Ministério da

Educação e Saúde Pública “havia exaurido seu conteúdo ético e mobilizador”

(SCHWARTZMAN, BOMENY e COSTA, 2000, p. 281), permanecendo as leis,

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instituições e rotinas apenas prontas para funcionar. Enquanto isso, os debates

sobre os rumos da educação brasileira pautavam-se no confronto entre os

defensores da escola pública e os da escola confessional (livre). A questão em

si era a polêmica em relação a determinação do modelo a ser implantado: um

sistema educacional amplo e nacional de educação leiga, universal e gratuita

ou um modelo apoiado “nos princípios da liberdade de pensamento e dos

direitos da família” (Op. cit., p. 281).

Este foi um debate que permaneceu até o final dos anos 50 e só

terminou com a edição da Lei 3.024, em 1961, conhecida como a nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional que, à semelhança da segunda

alternativa, não passou de uma tentativa de resgatar as tradições católicas de

nosso passado, sem solucionar realmente os problemas do sistema

educacional brasileiro (SCHARTZAMAN, BOMENY e COSTA, 2000).

Diante deste quadro, Minas Gerais teve como meta favorecer o

desenvolvimento, concebendo como missão pedagógica a de educar a

população para o progresso, ou seja, ministrar a educação básica voltada para

o trabalho e o ensino superior “como uma estratégia mais ambiciosa de

modernização” (DULCI, 2005, p.131).

A crença no poder da educação devia-se ao fato de que a Igreja Católica

sempre teve um papel de destaque na legitimação da ordem, sendo para o

Estado um instrumento indispensável na transmissão de valores ligados à

religião, quais sejam: a grandeza da Pátria, o valor da família, a preservação da

moral e dos bons costumes (GOMES, 2006).

Sendo Minas Gerais conhecida por sua religiosidade, por mais que essa

afirmação seja relativizada devido à vastidão territorial do Estado e à sua

diversidade cultural, trata-se de aspecto importante a ser considerado. Região

com muitas igrejas e festas religiosas que persistem até os dias de hoje,

também padeceu com o número reduzido de padres, o que resultou no

desenvolvimento de uma forte religiosidade privada (MARQUES, 2003).

Itajubá, cidade mineira situada na região sul, importante econômica e

politicamente, estava bem próxima dos Estados mais desenvolvidos à época

(Rio de Janeiro e São Paulo), tanto que na década de 50 já contava com o

Instituto de Engenharia de Itajubá (IEI), criado em 1913 e federalizado em

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19563. A área geográfica da cidade era de 626 Km2 e, de acordo com o Censo de

1950 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tinha

20.627 habitantes na zona urbana e 18.341 na rural, perfazendo um total de 38.968

moradores. Faziam parte do município as vilas: Bicas do Meio, Lourenço Velho e

Piranguçú que, juntas, somavam 1.497 residentes. Este Censo ainda revelou que

cerca de 81,38% da população de Itajubá com idade superior a 5 anos eram

analfabetos, havendo predominância da religião católica, seguida de pequeno

número de evangélicos.

Guimarães (1961) afirma que nos anos 50, Itajubá viveu de perto os

problemas educacionais, sempre acompanhando a evolução do ensino, e que

“jamais se descuidou da instrução. Em todos os tempos, houve

empreendimentos que colaboraram para o aprimoramento intelectual do povo”

(GUIMARÃES, 1961, p. 241), tanto assim que a cidade já abrigava a 25ª

Circunscrição Regional de Ensino Primário, a 10ª Sede de Agrupamento de

Inspetoria da Secretaria da Educação e a 78ª Sede da Inspetoria de Grupos

Escolares, que faziam a ligação entre as instituições de ensino oficiais e

particulares, e também estavam vinculadas à Secretaria da Educação de Minas

Gerais.

Nos anos de 1949 e 1950 foram realizados em Itajubá dois cursos

intensivos de aperfeiçoamento para professoras rurais, visto que o município

contava com cinco escolas rurais sob sua responsabilidade, tanto no aspecto

administrativo quanto no financeiro. Na zona urbana, existiam nove escolas

oficiais e nove estabelecimentos particulares, todos voltados para o ensino

primário. A propósito, no período deste estudo houve uma expansão do ensino

que, de acordo com Romanelli (1985), decorreu das migrações internas

ocasionadas pela expansão industrial.

Quanto ao ensino secundário, havia quatro instituições além de duas

escolas de ensino profissionalizante voltado para a área industrial e uma escola

normal, o Colégio Sagrado Coração de Jesus, de propriedade da Congregação

3 Guimarães (1987, p.325) relata que a inauguração oficial do prédio próprio da Escola de Engenharia, no

centro da cidade, ao lado da Matriz de Nossa Senhora da Soledade, em terreno doado por seu fundador, o Professor Theodomiro Carneiro Santiago, ocorreu no ano de sua criação (1913), com a presença do Presidente da República Hermes da Fonseca, do seu Vice, Wenceslau Braz, do Vice-Presidente do Senado, Pinheiro Machado, de vários Ministros, Senadores, Deputados federais e estaduais, Autoridades e Jornalistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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das Irmãs da Providência de Gap, que o administravam e respondiam pelo

ensino nele ministrado.

Na educação superior, antes da criação da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz, como dito anteriormente, havia uma escola de engenharia, o

Instituto de Eletrotécnica de Itajubá, criado em 1913.

A criação de Escolas de Engenharia em Minas Gerais obedeceu à

seguinte ordem: a primeira, em Belo Horizonte (1911) e, a seguir, uma em

Itajubá e outra em Juiz de Fora, ambas em 1913. Tinham como objetivo

propiciar condições para o crescimento econômico estadual por meio da

formação de quadros superiores, observando a preocupação com o

‘cientificismo’ e também com a perspectiva de modernização da sociedade.

Como explica Dulci (1999, p.158), “não foi por acaso, tais faculdades se

localizarem em centros dinâmicos da economia regional”, tanto assim que neles

se formou a maior parte dos técnicos e empresários atuantes em meados do

século XX, que se ocuparam dos trabalhos de eletrificação regional

desenvolvidos naquela época.

No que diz respeito à saúde, a industrialização trouxe mudanças

significativas no quadro epidemiológico brasileiro. Às doenças infecto-

contagiosas somaram-se as cardíacas e as crônico-degenerativas resultantes

da queda vertiginosa das condições de vida da população, decorrentes do

rápido crescimento das cidades e da precariedade ou falta de infra-estrutura

urbana adequada, tanto no nível de provisão de água, esgoto e calçamento das

ruas, como no de gêneros alimentícios, meios de transporte e habitações

condizentes com as necessidades sociais da época (NASCIMENTO, 2002).

Em decorrência dos problemas sociais advindos das condições de saúde

da população, e para garantir a força de trabalho necessária à manutenção da

expansão da industrialização no Estado, o governo resolveu promover o

desenvolvimento da Saúde Pública. Assim, o crescimento industrial em direção

à região Centro-Sul do País (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais)

propiciou a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), em 1942,

em convênio com o governo americano e com o apoio técnico e financeiro da

Fundação Rockefeller, tendo como função principal o atendimento das questões

de saúde em áreas estratégicas (militares e econômicas) como as de produção

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de borracha, no Vale do Amazonas, e as de minérios, no Vale do Rio Doce

(DIMITROV, 2000).

O SESP, numa ampliação significativa da atuação médico-sanitária,

operava prestando assistência, promovendo o saneamento ambiental e

controlando a malária e a febre amarela nas áreas de extração daquelas

matérias-primas, vitais para a causa da Segunda Guerra Mundial em curso na

Europa, Ásia e África.

Com o término daquele conflito militar mundial, nas décadas seguintes o

SESP firma-se como organização permanente, reconhecida como líder no

cenário nacional em relação aos problemas gerais de saúde do País, com isto

causando grande impacto no sistema de saúde vigente porque “seus

profissionais atuaram como agentes multiplicadores de seu modelo junto a

outras instituições” (BARREIRA, 1992, p.79).

Em decorrência, o modelo SESP de Enfermagem de Saúde Pública

tornou-se oficial e único, não só por causa do intercâmbio realizado entre as

Secretarias Estaduais de Saúde e as Escolas de Enfermagem, como também

da sua relevante atuação na Campanha Nacional Contra a Tuberculose

(CNCT).

É pertinente aqui resgatar o fato de que, a partir da década de 30, os

trabalhadores começaram a se organizar por categorias. À época, ocorreram os

primeiros movimentos populares, os quais reivindicavam melhor atendimento no

setor saúde com ênfase no cuidado individual, isto é, assistência médica

curativa e individual. O Estado Getulista viu-se, então, obrigado a estruturar

uma nova política de assistência social, o que levou à criação dos Institutos de

Aposentadoria e Pensões (IAP), privilegiando a assistência curativa individual

em detrimento das atividades preventivas e de promoção da saúde, embora

esta mudança não tenha modificado as causas básicas dos problemas de

saúde da população (DIMITROV, 2000).

De acordo com o mesmo autor (Op.cit.), nas décadas seguintes até os

anos 60, o Estado ampliou seus serviços próprios de atendimento à saúde,

especialmente no que se refere à rede ambulatorial. Nesse período, a rede

hospitalar era reduzida, tendo como base da assistência previdenciária as

consultas ambulatoriais e a compra de serviços hospitalares do setor privado.

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Para atender a demanda do modelo curativo, individual e hospitalar, e

com o aumento da população previdenciária, tornou-se necessário desenvolver

a rede hospitalar privada. Os hospitais existentes foram perdendo o caráter

filantrópico em troca da lucratividade obtida a partir de convênios estabelecidos

pela Previdência Social, um modelo que privilegiava o tratamento do corpo

doente no espaço hospitalar. Assim, o hospital tornou-se o locus de

atendimento, “apresentado como a expressão do direito à saúde, sendo nele o

doente a pessoa mais importante” (BARREIRA, 1992, p.80).

Minas Gerais era considerado um Estado desenvolvido e rico, como São

Paulo e Rio de Janeiro, porém os mineiros careciam de assistência à saúde em

decorrência de vários fatores, entre eles o alto nível de analfabetismo

acompanhado de um baixo padrão cultural, advindos do número considerável

de habitantes em zonas rurais, que impediam mudanças de hábitos e atitudes

de vida em relação a padrões que pudessem melhorar a qualidade de vida

desses indivíduos. Os serviços de saúde eram quantitativa e qualitativamente

insuficientes, além de concentrados nas cidades desenvolvidas onde também

centralizavam-se os problemas oriundos da industrialização e da explosão

demográfica. Os recursos humanos destinados à saúde eram também

insuficientes e mal distribuídos impedindo a população, de um modo geral, ao

acesso à assistência em âmbito curativo ou preventivo (RABELO et al., 1971).

Paiva (1969), analisando o nível de saúde de Minas Gerais, refere-se à

situação desfavorável evidenciada por problemas de saneamento básico, alto

índice de mortalidade infantil, elevada taxa de mortalidade por doenças infecto-

contagiosas, desnutrição e doenças de massas (tuberculose, lepra, parasitoses

intestinais, doença de Chagas, malária e esquistossomose), e aos limitados

orçamentos do Estado e dos municípios para esse fim.

Vale a pena lembrar que é a partir principalmente da metade da década

de 50, com o maior desenvolvimento industrial e a conseqüente aceleração da

urbanização, e do assalariamento de parcelas crescentes da população, que

ocorre uma pressão social pela assistência à saúde, via Institutos. Com isso,

iniciava-se o investimento nos Institutos de Pensões e Aposentadorias, com

vistas à proteção da saúde do trabalhador. Houve, ainda, o crescimento de

hospitais conveniados com a Previdência (Op. cit., 1971).

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No Brasil dos anos 50, segundo Pedroso (1955), não existia nos

hospitais um serviço de enfermagem adequado, dado o número reduzido de

enfermeiras que não ultrapassava 3.500, sendo que apenas 3.000 estavam

atuando na assistência aos doentes, e destas, 2.000 na área hospitalar.

Estimava-se, pois, que havia necessidade de 24.000 enfermeiras para suprir as

necessidades da população brasileira. Além disso, a situação era agravada

pela precária (qualidade dos serviços prestados e pela falta de equipamentos e

instalações hospitalares adequadas (PEDROSO, 1955).

Vietta (1995) comenta que os cuidados de enfermagem eram limitados:

atendia-se apenas às necessidades básicas do paciente quanto à higiene,

sendo as terapêuticas sempre realizadas por atendentes ou auxiliares de

enfermagem supervisionados por uma enfermeira. Esta afirmação pode ser

confirmada quando no VIII Congresso Nacional de Enfermagem, realizado em

Belo Horizonte, em julho de 1955, discutiu-se o papel atual das enfermeiras,

sendo uma das conclusões a de que “poucas enfermeiras dão cuidados diretos

ao paciente, muitas executam atividades que poderiam ser delegadas a outros

funcionários” (Op. cit., p.173).

Pinheiro (1955) complementa afirmando que as próprias enfermeiras

desta década (50) reconheciam que o serviço de enfermagem no Brasil era

deficiente, não só pelo seu número reduzido, mas principalmente pelo

despreparo técnico dos atendentes que atuavam nos hospitais.

Não obstante, Minas Gerais concentrava na sua capital e nas cidades

mais desenvolvidas o maior número de enfermeiras e profissionais da área da

saúde, o que leva a inferir que a assistência à saúde, na maior parte do Estado

ficava desprovida de enfermeiras, tanto nos aspectos curativos e preventivos,

como no educacional.

Itajubá procurou acompanhar o modelo político-desenvolvimentista do

momento. Surgiram várias indústrias, tais como de laticínios, macarrão, doces,

chapéus, sapatos e tamancos, duas têxteis e uma vinícula, dentre outras de

menor porte. Mas a indústria de material bélico do Ministério do Exército –

Fábrica de Canos e Sabre para Armas Portáteis, criada na cidade pelo Decreto

no. 23.348, de 20 de dezembro de 1933, era destaque e possuía um número

considerável de operários. Deve-se salientar que em 1939 recebeu o nome de

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Fábrica de Armas por passar a fabricar armamentos completos (fuzis,

metralhadoras e pistolas), e que, em 1945, festejou a fabricação do primeiro

mosquetão totalmente brasileiro (GUIMARÃES,1987).

Também em Itajubá a migração do homem do campo para os grandes

centros, onde se encontrava o desenvolvimento industrial, como referido,

acarretou mudanças nas políticas de saúde: a proximidade da economia

traduziu-se em políticas governamentais previdenciária e sanitária voltadas para

as necessidades dos setores produtivos, desconsiderando as reais

necessidades da população, com isso deixando de ser uma prática sanitária

dominante para tornar-se uma prática de saúde centrada nas doenças do

indivíduo, enquanto trabalhador, valorizando apenas a atenção médica.

Essa mudança contribuiu para o desenvolvimento hospitalar, no que se

refere ao aumento do número de leitos, bem como à aquisição da tecnologia

médica importada dos países desenvolvidos, principalmente dos Estados

Unidos, para onde foram muitos profissionais da área da saúde em busca de

especialização, o que se concretizou e favoreceu a hegemonia da atenção

médica sobre a prática sanitária, gerando não só grande avanço da medicina

clínica, mas também possibilitando o desenvolvimento das especialidades e dos

especialistas (VERDERESE, 1979).

Vale a pena aqui enfatizar que a missão do hospital, agora responsável

pela assistência médico-hospitalar, era considerada socialmente obrigatória,

ainda que progressivamente mais cara também, visto que a clientela hospitalar,

em sua maioria, continuaria a ser integrada por “pobres (...) trabalhadores

adoecidos e acidentados” (RIBEIRO, 1996, p.26); mais cara, porque o hospital

perdia as missões de penitência e misericórdia que eram as suas

características para ceder lugar apenas ao tratamento e à recuperação.

Itajubá retratava esta mesma situação, quando a cidade evoluiu com a

instalação de indústrias e o aumento significativo da população, necessitando

ampliar as dependências da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá. A esse

respeito, Lisboa (1985, p.2) descreve as melhorias que a Instituição teve ao

longo dos anos:

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As instalações eram satisfatórias e até modelares para aquela época (1952); duas enfermarias gerais, envolvidas por um apreciável jardim, bem iluminada sala de cirurgia anexada a sala de exames e de esterilização, quartos particulares, apartamentos, salão nobre – ainda existente com os retratos dos benfeitores – farmácia, na frente térrea a capela e consultório para atendimentos externos, na entrada, recepção e matrículas; ainda a registrar, sala de refeições, sala de raios-X, pavimento superior (acomodações das Irmãs). O prédio de isolamento – sob o patrocínio de São Sebastião – um pouco afastado e no local em que ainda se acha; a capela estava situada na parte inferior, lado esquerdo, onde depois se localizou a enfermaria das crianças e onde hoje se instalam os serviços de radiografia.

Ao ser entrevistado, o Dr. Antonio Edilberto Lisboa afirmou que o

aumento do número de leitos e a melhoria nos equipamentos médicos da Santa

Casa deveu-se ao fato de que o atendimento dos funcionários da Rede

Ferroviária passou a ser realizado na referida Instituição de saúde, e não mais

em Belo Horizonte.

No que se refere à saúde pública, nos seus aspectos de promoção da

saúde e prevenção das doenças com contribuições financeiras da população, e

seguindo as políticas de saúde do governo Vargas, Itajubá deu início à

construção de um prédio para a instalação de um Posto de Saúde e de

Puericultura, que ficariam responsáveis pela diminuição da mortalidade infantil,

erradicação de doenças endêmicas e crescimento das perspectivas de vida da

população brasileira. Este Posto de Saúde recebeu o nome de Centro de Saúde

Amilcar Pellon, em homenagem ao médico sanitarista, então Diretor da Divisão

da Organização Sanitária de Saúde do Ministério da Saúde

(GUIMARÃES,1987).

Antes do término da construção do prédio, em 1955, o Governo Federal

passou a financiar a obra ao realizar convênio com o município. Neste local

afastado do centro comercial da cidade, do outro lado da margem do rio

Sapucaí4 que corta a cidade, prestava-se atendimento à população de baixa

renda e, desse modo, o Centro de Saúde consolidava e simbolizava, no

4 O rio Sapucaí, que corta a cidade, pertence à Bacia do Rio Sapucaí, integra a bacia do rio Grande, localizando-se na região Sudeste, atravessando dois estados: São Paulo e Minas Gerais. O rio Sapucaí nasce na Serra da Mantiqueira, na cidade de Campos de Jordão – SP, a uma altitude de 1.650m, e deságua no Lago de Furnas a 780m de altitude atravessando, aproximadamente, 343km (34km em Estado de São Paulo e 309km em Minas Gerais).

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município, o modelo de saúde popular (e populista) do governo Vargas.

No que tange à questão educacional, a relação entre política e educação

tem existência histórica; ambas só podem ser adequadamente compreendidas

enquanto manifestações sociais determinadas. A propósito, Saviani (1983)

afirma que a inseparabilidade entre as duas está fundamentada no fato de se

tratar de práticas distintas, “mas que, ao mesmo tempo, não são outra coisa

senão modalidades específicas de uma mesma prática: a prática social”

(Op.cit., p. 89).

No Brasil, em 1950, apenas 36,2% das crianças de 7 a 14 anos tinham

acesso aos bancos escolares. Esse baixo índice devia-se ao fato de que as

migrações internas que levaram os trabalhadores da zona rural, com economia

tradicional, para as cidades mais desenvolvidas, sobrecarregaram vários

sistemas, entre eles o educacional que foi obrigado a absorver um número

crescente de crianças que não tinham o hábito de freqüentar a escola.

1.2. A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as Irmãs da Congregação da Providência de Gap: primeiras iniciativas

da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

A inauguração oficial da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, em 03 de

maio de 1904, deu-se entre festividades: a imagem de São José, orago5 da

Instituição, foi conduzida ao som de música sacra desde a Igreja Matriz até o

novo prédio. Na ocasião, houve a bênção do estabelecimento e a população,

em massa, ocupou suas dependências para conhecê-las. Na oportunidade,

foram inaugurados os retratos de Arlindo Vieira Goulart6, fundador da

Instituição; Dr. Antonio Maximiano Xavier Lisboa7, primeiro médico a clinicar

5 Orago refere-se ao santo da invocação que dá nome a uma capela ou igreja (FERREIRA, 1986, p.1011). 6 Arlindo Vieira Goulart (1856-1920), conhecido como Sr Rolindo, era um cidadão modesto, cristão,que

sempre realizou o que pode em beneficio dos pobres. Em 1897, com pouco dinheiro, fundou a Sociedade Beneficente Itajubense, numa pequena sala com alguns leitos, onde recolheu alguns pobres doentes. Essa Sociedade deu origem à Santa Casa de Misericórdia, fundada oficialmente três anos depois. Quando foi inaugurada a Santa Casa, em 1909, foi lembrado e enaltecido pelo Dr. Wenceslau Braz em discurso de inauguração (GUIMARÃES, 1999, p.52-53).

7 Antonio Maximiano Xavier Lisboa, Dr. Xavier Lisboa, como era conhecido, médico diplomado em 1887, foi o primeiro médico a clinicar naquela instituição e “nunca aceitou remuneração pelos serviços prestados”. É considerado benemérito de Itajubá e a Maternidade anexa a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá leva o seu nome: Maternidade Xavier Lisboa. Foi político (GUIMARÃES, 1987, p.516).

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naquela Instituição e o de Dª Maria Pinto Paulista8, a “Sá Marica Luisa” ou “Sá

Marica da Santa Casa”, como era conhecida por todos, considerada a primeira

enfermeira da cidade, “a Ana Néri de Itajubá” (GUIMARÃES, 1999, p. 53),

denominação recebida em decorrência de seus conhecimentos e técnicas de

enfermagem e obstetrícia.

Ainda em 1904, Madre Maria Raphaël Combes9, religiosa da

Congregação das Irmãs da Providência de Gap, na França, tomou

conhecimento, através de carta, que em Carmo do Rio Claro, Estado de Minas

Gerais, Brasil, havia uma senhora de nome Maria Goulart10, desejosa de fundar

um colégio para moças e meninas.

Diante disto, em 29 de junho daquele ano chegaram ao Rio de Janeiro

cinco Irmãs da Providência, vindas de Lectoure, cidade francesa onde se

localizava o Convento da Congregação das Irmãs da Providência de Gap,

lideradas por Madre Maria Raphael Combes, sendo duas educadoras, uma

serviçal, uma farmacêutica e uma enfermeira com larga experiência, por ter

trabalhado em vários hospitais e Santas Casas dirigidas pelas Irmãs da

Providência, na Europa. Todas embarcaram para a cidade de Carmo do Rio

8 Maria Pinto Paulista (1866-1967), órfã aos 15 anos, foi acolhida pelo Dr. Américo da Silva de Oliveira e

sua esposa D. Virginia Emília Rennó. Recebeu deste médico os conhecimentos de enfermagem, de técnicas e de Obstetrícia e se tornou uma das mais competentes e procuradas parteiras da cidade à época. Casou-se com o Dr. Luiz, daí seu nome Sá Marica Luisa ou Sá Marica da Santa Casa. Em 1884 é admitida como enfermeira na Sociedade Beneficente Itajubense, por seus conhecimentos e prática com os doentes. Acompanhou o desenvolvimento daquela instituição de caridade. Com 60 anos de idade afastou-se dos serviços da Santa Casa. É considerada a “primeira enfermeira de Itajubá, pois em época que a Santa Casa recolhia os carentes e mendigos, cuidava zelosamente dos mesmos ali internados, sempre solícita, prestativa, caridosa e incansável”. Exímia e experiente parteira sempre se predispôs, quando chamada, a atender parturientes em casa (GUIMARÃES, 1999, p.53; FERNANDÉZ, 2001, p. 311-312).

9 Madre Maria Raphaël Combes (1869 – 1925) nasceu em Montpzt, Gerz, França. Recebeu o hábito de religioso das Irmãs da Providência aos 18 anos de idade. Sempre esteve ligada à educação. Atuou como diretora de escolas e fundou uma instituição para surdos e mudos, na França, a qual dirigiu até 1903. Sua vinda para o Brasil foi impelida pelo seu ardor missionário. No Brasil, tendo sempre o seu lema “Deus só e sempre avante”, realizou grandes obras: Colégio Sagrado Coração de Jesus e Maria na cidade de Carmo do Rio Claro, e em Itajubá fundou o Colégio Sagrado Coração de Jesus, o Instituto de Surdas e Mudas, o Educandário Santa Isabel destinado a meninas carentes e um noviciado, hoje o Convento e Província Leste da Congregação das Irmãs da Providência de Gap. A fundação desta Congregação no Brasil, é para as suas religiosas, um atestado de um alicerce regado de muitos suores, de muitas lágrimas. . Mas é também uma prova do que pode uma alma levada pelo Espírito de Deus e amorosamente fiel às exigências divinas. Itajubá, centro escolhido por esta religiosa, tornou-se o ponto de partida para outros Estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Sergipe e Minas Gerais nas regiões sul, norte e leste (FERNANDÉZ, 2001, p.200-206; RENNÓ, 2002, p. 83-86).

10 Maria Umbelina Vilela Goulart Andrade “nasceu na Fazenda Santa Rosa, município de Carmo do Rio Claro, Minas Gerais, por volta do ano de 1851, Era uma mulher educada, fina, elegante, de gestos requintados, sorriso aberto, alma acolhedora e fé inabalável. Casada com o Sr. Manoel Goulart de Andrade,cafeicultor à época, não teve filhos. Preocupada com a educação das crianças de sua cidade e região e com a incapacidade técnica e financeiras dos governos provinciais para a elaboração e

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Claro, lá chegando em 02 de julho, onde foram recebidas pelas autoridades

locais e por D. Maria Goulart, e em 15 de agosto foi inaugurado o Colégio

Sagrado Coração de Jesus e Maria.

A criação de uma escola católica sob a direção de religiosas

estrangeiras, ao tempo em que contribuiu para a formação de um habitus

católico nas meninas e jovens da região, ensejou a possibilidade de assegurar

a produção, reprodução e difusão dos bens e valores religiosos.

Em 1907 foi instalado um Noviciado, em Carmo do Rio Claro,

consolidando o projeto do Padre João Martinho Moyë11, que era o de “formar

irmãs” que ministrassem aulas e ensinassem o Catecismo. Todavia, diante das

inúmeras dificuldades de transporte e comunicação, Madre Maria Raphaël,

então Provincial12, comunicou ao seu superior Dom João Batista Correa Nery,

Bispo da Diocese de Pouso Alegre, cidade de Minas Gerais, o seu desejo de se

estabelecer em outra região de mais fácil acesso. Dom Nery acatou o pedido e

indicou-lhe duas cidades: Campinas (em São Paulo) e Itajubá (no sul de Minas

Gerais).

Tendo escolhido Itajubá, pequena cidade do interior de Minas Gerais,

Madre Maria Raphaël acolheu as orientações da vivência baseada nas quatro

virtudes fundamentais do carisma fundacional da Congregação: “a Pobreza, o

Abandono, a Simplicidade, a Caridade”, dadas as características locais,

naquele tempo (RENNÓ, 2002, p.119).

Em 21 de junho de 1907, Madre Maria Raphaël e quatro Irmãs da

Providência chegaram a Itajubá, vindas de Carmo do Rio Claro, e inauguraram

o Colégio Sagrado Coração de Jesus, com 41 alunas matriculadas. Após cinco

anos, o colégio expandiu-se, dando lugar à fundação da Escola Normal de

Itajubá e do Instituto para Surdas e Mudas, sediados no mesmo prédio (Foto 1),

consolidando a “Mística do Servir” no Brasil.13

execução de programas de educação eficiente, fundou um Colégio em Carmo do Rio Claro, Minas Gerais, sob a coordenação de Religiosas” (GORGULHO, 1989, p.2).

11 Padre João Martinho Moyë, foi o fundador da Congregação das Irmãs da Providência de Gap. 12 Função correspondente à de uma supervisora geral. Enviada da França, era a responsável pela Província na qual estivesse instalada a Congregação das Irmãs da Providência de Gap, sendo a autori- dade máxima no Brasil, subordinada à Superiora Geral, instalada na Casa Mãe, na França. 13 A Congregação desenvolveu-se rapidamente no Brasil, e em poucos anos se instalou em São Paulo,

Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia. Esta expansão ocorreu atendendo ao “Carisma de Servir”, ideal de seu fundador. Assim, várias Irmãs foram solicitadas para diversos campos de apostolado: escolas de 1o e 2o graus, Hospitais, Casas de Crianças, Orfanatos, Casas de Idosos, Coordenação de Catequese,

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Foto 1 - Colégio Sagrado Coração de Jesus e Instituto de Surdas e Mudas Fonte: Arquivo Particular da Pesquisadora

Em seus relatos sobre a Santa Casa, Guimarães (1999) menciona que

em 28 de novembro de 1920 foi lançada a pedra fundamental de uma edificação

no morro localizado no final da atual Avenida Cesário Alvim. A planta baixa do

prédio foi idealizada e projetada pelo artista francês Eduardo Piquet14, e a

inauguração do imóvel ocorreu no dia 24 de outubro de 1925, com a presença

do Dr. Wenceslau Braz, do então Presidente do Estado15 o Sr. Fernando de

Melo Vianna, e do Bispo Diocesano Dom Otávio Chagas de Miranda, dentre

outras personalidades.

de Liturgia, de Secretariado de Paróquias e Bispados (FOUCAULT, 1990). Este assegurava que seguiriam as orientações para uma vida religiosa plena.

14 Eduardo Piquet nasceu na França (1864 – 1948), diplomou-se pela École des Arts et Métier na cidade francesa de Angers. Faleceu em Itajubá, onde foi arquiteto e desenhista arquitetônico. Projetou outras importantes obras na cidade além do prédio da Santa Casa: o Clube Itajubense (cópia da planta do Petit-Trianon de Paris), o Asilo Santa Isabel, a Porta de entrada do 4º Batalhão de Engenharia e Combate entre outros. Foi professor de desenho no Colégio São Vicente de Paulo e no Colégio de Itajubá (GUIMARÃES, 1999).

15 Denominação utilizada, à época, que equivale à de Governador do Estado, atualmente.

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Foto 2 - Fachada do prédio da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, no ano de sua inauguração (1925)

Fonte: Arquivo particular do Dr.Antonio Edilberto Lisboa

A construção de um prédio próprio, guardando as características

arquitetônicas de seus similares em outros países, teve como objetivo

representar uma intervenção inovadora e transformadora, capaz de expressar

as estruturas socioeconômicas e de poder da elite dominante, confirmando o

pensamento de Menezes (1991, p.162) no sentido de que, na realidade, um

arquiteto age “a serviço de uma elite (política, econômica, religiosa, etc...)”;

logo, submete-se ao domínio da classe dirigente quando vende o seu trabalho

intelectual. Assim sendo, a arquitetura é uma expressão simbólica de poder que

deve revelar perfeita relação entre a estrutura e os comportamentos vigentes na

sociedade; está inserida num quadro mais amplo, em que os valores nacionais,

religiosos, mito-poéticos, entre outros, são cultivados pelo imaginário coletivo

(Op.cit., p.161).

Deve-se ainda levar em consideração que as Santas Casas, instituições

filantrópicas vinculadas à saúde e assistência médica, eram geralmente

dirigidas por um empresário civil, e não por um médico. Os “irmãos

administradores” como eram chamados, não recebiam remuneração de

qualquer espécie, mas deveriam ser “abastados” em fazendas, isto é, serem

proprietários de inúmeras delas, visto que sua nomeação para tal cargo

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acarretava ainda mais aumento de prestígio social (PEREIRA NETO, 2001, p.

127).

No que se refere às Irmãs da Providência de Gap, em 11 de abril de

1924, Dom Otávio Chagas de Miranda, Bispo Diocesano de Pouso Alegre,

concede à Congregação a licença para criar novas fundações em Itajubá, quais

sejam, um orfanato para meninas e um asilo para idosos. Além disso, a partir

de 1925, elas passaram a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá,

embora o contrato entre as duas instituições só tenha sido efetivado em 01 de

setembro de 1926 pelo Dr. José Braz Pereira Gomes, provedor da Santa Casa,

e pela Irmã Maria Rosa de Lima16, Superiora da Congregação, que assumiu o

cargo após a morte de Maria Raphäel.

Nesse contexto, as Irmãs passaram a ocupar a Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá na assistência aos enfermos, dando início ao controle

administrativo do espaço hospitalar. Essa ocupação teve o respaldo do

provedor da Santa Casa, porta-voz especializado que, investido de poder,

exerceu o poder simbólico de consagração desse grupo, legitimado por sua

posição na estrutura da referida Instituição. Quanto à presença das Irmãs,

Guimarães (1987, p.517) tece considerações a respeito da importância do seu

trabalho, afirmando que:

a Santa Casa sempre contou com o zelo das Irmãs da Providência, que sempre atuaram com dedicação evangélica e acrisolado altruísmo para que os serviços ali não sejam em nada prejudicados, e para que nada falte aos inúmeros assistidos.

16 Madre Maria Rosa. de Lima (1881 – Nascida na França em Aux-Asst), entrou para a vida religiosa em

1897. Foi professora em vários países da Europa dentre eles França, Inglaterra e Espanha. No Brasil, foi designada para a direção da CIPG, pela Madre Maria Saint Gervais, que havia vindo da França para nomear a sucessora de Madre Maria Raphaël, que havia falecido. Governou a Congregação durante 28 anos. Um de seus feitos foi favorecer a formação das Irmãs nas áreas da educação, saúde, no campo da espiritualidade, Teologia, Bíblia e Pastoral, habilitando-as ao melhor serviço da “promoção humano-cristã dos mais pobres proporcionando formação humanística, ético-cristã e profissional a milhares de crianças, jovens e universitários, conduzindo-os às lideranças, tornando-os profissionais competentes, com famílias bem constituídas e atraindo alguns à vocação religiosa e sacerdotal” (RENNÓ, 2002, p.93).

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Também o Dr. Edilberto Lisboa, ao ser entrevistado, afirmou que quando

chegou à Santa Casa para trabalhar,

as freiras tomavam conta da Santa Casa e a que tinha mais atuação era Ir. Fausta, que brigava com todo mundo. Elas trabalhavam lá e davam aulas. Moravam na clausura. Ninguém subia lá.

Não obstante, apesar dessa dedicação e da aparelhagem médico-

hospitalar adequada à assistência satisfatória dos enfermos, a necessidade de

ampliação de recursos humanos era imprescindível, dada a sobrecarga de

trabalho das Irmãs da Providência, como aponta Lisboa17 (1985, p.4),

pela dedicação, pela proficiência, pelo desprendimento das servas da Providência que, em turmas reviradas, envidavam o melhor de seus esforços para manter, consolidar e aperfeiçoar aquela abençoada conquista do coração dos itajubenses.

Continuando seu relato, Lisboa (1985) comenta que, após a labuta

estafante das enfermarias e dos cuidados gerais de limpeza, as Irmãs e seus

auxiliares ainda lavavam à mão as roupas da Santa Casa, pois não havia

máquinas apropriadas para esta tarefa. Faziam horas extras, deixando tudo em

ordem e em condições para funcionamento no dia seguinte, contribuindo para

que os atendimentos ocorressem normalmente, sem atropelos, tanto para os

médicos quanto para os doentes.

O reconhecimento da importância do capital cultural na manutenção de

posições de poder e prestígio no espaço da Santa Casa de Misericórdia

ensejou providências da Superiora da Congregação, já no início dos anos 40,

no sentido de designar Irmãs para a realização do curso de enfermeiras na

Escola de Enfermagem Luíza de Marillac, no Rio de Janeiro. Tal escolha foi

orientada pelo reconhecimento daquelas cujo capital cultural viabilizasse as

condições de melhor aproveitamento do curso. Essa estratégia é explicada por

Bourdieu (1999), ao afirmar que o rendimento escolar depende do capital

cultural previamente investido pela família, impondo-se como uma condição

indispensável para dar conta do sucesso no desempenho escolar.

17 Gaspar Lisboa (02/05/1900 – 12/07/1997) médico, filho do Dr. Xavier Lisboa, formou-se pela Faculdade

de Medicina do Rio de Janeiro, sendo seu diploma registrado na Secretaria de Saúde do mesmo estado em 27/01/1927. Ainda em 1927, assumiu o lugar de seu pai, médico responsável pela enfermaria de mulheres na Santa Casa de Misericórdia. Considerado o “Pai dos Pobres” pelo atendimento gratuito que

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Ademais, a diplomação das primeiras religiosas da Congregação das

Irmãs da Providência de Gap conferiu-lhes o capital cultural no estado

legitimado, sob a forma de diploma, assegurando sua prática profissional e

contribuindo para dar visibilidade à sua presença na assistência aos enfermos,

pois, de acordo com Bourdieu e Passeron (1992), a escola é um espaço que

permite desenvolver atividades educativas com o objetivo de atualizar o habitus

do indivíduo, de modo a reproduzi-lo em outros espaços sociais.

Além disso, à época, já havia por parte do Governo Federal a exigência

de preparo profissional e habilitação técnica específica para o exercício da

Enfermagem no Brasil, afetando a situação das Religiosas que não possuíam

qualificação e que, até então, atuavam como “professoras, enfermeiras ou

assistentes sociais, sem nenhum diploma ou curso” (NUNES, 1997, p.501).

Após terem se formado, as Irmãs foram designadas para trabalhar na

Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo que uma delas tornou-se

administradora. No exercício de suas funções junto aos que atuavam como

auxiliares de enfermagem, as Irmãs de Caridade diplomadas como enfermeiras

perceberam a precariedade da assistência aos doentes, decorrente do

despreparo daqueles sob sua supervisão, bem como do reduzido número de

pessoal. Assim, vislumbraram a necessidade de criação de uma escola de

enfermagem que pudesse diplomar enfermeiras, religiosas ou não, para dar

conta das necessidades assistenciais da Santa Casa, oferecendo um

atendimento diferenciado com base em princípios científicos e, ao mesmo

tempo, desenvolvendo o habitus profissional das candidatas à profissão em um

espaço permeado pela doutrina católica.

As irmãs Zenaide, Stella Carvalhal e Maria Dositheé, conscientes da

necessidade da formação de enfermeiras, procuraram a Provincial da

Congregação, Madre Maria Rosa, para conversar acerca do projeto de criação

de uma escola de enfermagem em Itajubá, mas foram informadas de que a

medida não seria possível naquele momento. Madre Marie Ange18 que

dispensava aos doentes carentes, foi um dos primeiros professores da EEWB e paraninfo da primeira turma. O Diretório Acadêmico da referida Escola recebeu o seu nome (GUIMARÃES, 1999).

18 Nascida Maria Alice Bernard Robbe em 9 de junho de 1907, em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, era a segunda filha do casal francês Jean Emile Robbe e Henriette Bernard Robbe. Com o falecimento de sua mãe, ainda pequena foi educada pela avó materna juntamente com seus irmãos. Com inteligência privilegiada, sempre se destacou nos estudos, e desde tenra idade, em seus escritos e poemas usava uma linguagem erudita, bastante diferenciada. Formou-se como normalista pelo Colégio

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participou da conversa achou uma ótima idéia e sugeriu-lhes que procurassem

o Dr. Wenceslau Braz, então provedor da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá, para discutir o assunto.

As Irmãs acataram a sugestão e solicitaram uma reunião com o referido

provedor, que acolheu a idéia informando já haver tentado, junto ao Ministério

da Educação e Cultura, a autorização para a fundação de uma escola de

enfermagem, e relatando que em 18 de agosto de 1953, o provedor em

exercício à época, Sr. Jayme Wood19, havia encaminhado o processo de n°

95939/53 ao Diretor do Departamento de Ensino Superior daquele Órgão, Sr.

Jurandyr Lodi, solicitando autorização prévia para o funcionamento da EEWB,

conforme trecho do documento transcrito abaixo, sem obter resposta:

O abaixo-assinado, na qualidade de provedor em exercício da “Santa Casa de Misericórdia de Itajubá”, sociedade mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, mui respeitosamente solicita a V. Excia. se digne conceder a autorização prévia para o funcionamento, em março próximo, da referida Escola de Enfermagem, para o que junta os documentos requeridos por lei.

Todavia, o Dr. Wenceslau Braz levou o assunto para ser apreciado e

discutido na reunião da Mesa Administrativa da Santa Casa, no dia 09 de

janeiro de 1954, quando foi aprovada idéia da criação da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz sob a direção da Santa Casa, com a finalidade

de formar “enfermeiras competentes sob o ponto de vista técnico e conscientes

de seus deveres profissionais” (EEWB, ATA DA CRIAÇÃO, 1954). O nome da

Escola, proposto pelo vice-provedor, Sr. Jayme Wood, foi aceito por todos os

integrantes da Mesa Administrativa, exceto pelo Sr Presidente, Dr. Wenceslau

Braz, talvez por uma questão de modéstia.

Compuseram a Mesa Administrativa: Dr. Wenceslau Braz Pereira

Gomes, Provedor; Sr. Luiz Pereira de Toledo, 1o Vice Provedor; Sr. Jayme

Normal de Petrópolis e até 1934 lecionou História Geral e do Brasil no Colégio Nacional do Rio de Janeiro. Em 25 de dezembro de 1935 ingressou no Convento da CIPG em Itajubá. Em janeiro de 1937 recebeu o hábito religioso, proferindo seus primeiros votos e em janeiro de 1943, os votos perpétuos. De 1942 a 1952 lecionou em colégios da Congregação e foi professora da EEWB, do início de seu funcionamento até 1991, lecionando várias disciplinas. Na Congregação foi assistente de Mestre de Noviças por vários anos, e Conselheira, de 1958 a 1968, recebendo a denominação de Madre.

19Jayme Lisboa Wood (1895-1964), industrial, político, jornalista e bancário que muito atuou para o desenvolvimento de Itajubá. Foi o Diretor-gerente do primeiro periódico a ser fundado em Itajubá (1872). Humanitário e benemérito, foi um dos benfeitores da Santa Casa de Misericórdia, da qual foi vice-provedor. Em 1947 foi nomeado pelo Interventor de Minas Gerais, prefeito da cidade Itajubá (GUIMARÃES, 1999, p 86).

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Wood, 2o Provedor; Irmã Maria Dositheé, administradora; Sr. Antonio Pereira

Rennó, 1o. Secretário; Sr. Joaquim Alves Serapião, Tesoureiro, e o Sr. Iro

Machado, 2o. Secretário, que lavrou a ata (EEWB, ATA DA REUNIÃO DA

MESA ADMINISTRATIVA DA SANTA CASA,1954).

A figura central no processo de criação e implantação da Escola de En-

fermagem Wenceslau Braz foi Madre Marie Ange que, tendo recebido a

incumbência de sua Superiora Madre Maria Rosa de Lima, levou adiante aquela

idéia. Além disso, a Congregação subvencionou o projeto de criação da escola,

cuja autorização prévia para funcionamento foi concedida em 23 de setembro

de 1954, conforme fac simile da Portaria Ministerial nº 853:

Rennó (1989, p.14) afirma que:

a organização e a realização da EEWB se devem ao grande espírito empreendedor de Madre Marie Ange, angariando subvenções e donativos ... em cada canto da Escola, ontem e hoje se faz sentir pela sua dedicação, cultura, arte, interesse pelo melhor ensino e melhor clima de formação... a Escola sempre foi e será a ‘pupila de seus olhos’. Incansável, batalhadora, deixou guardados, no coração desta história, os traços de zelo apostólico e carismático na luta e conquista do tesouro que lhe fora confiado pela Providência de Moyë.

Desse modo, a figura carismática de Madre Marie Ange contribuiu para a

adoção de uma estratégia na qual certas propriedades simbólicas foram

agregadas aos agentes religiosos, na medida em que estes aderiram à

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ideologia do carisma, isto é, o poder simbólico que lhes confere o fato de

acreditarem em seu próprio poder simbólico (BOURDIEU, 2001). E essa

estratégia foi decisiva para a atuação das religiosas junto ao Governo, no

sentido de reivindicar a formação de recursos humanos para a enfermagem de

Itajubá, em consonância com a nova ordem estabelecida.

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CAPÍTULO 2

A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ E AS INICIATIVAS DE ADOÇÃO DE UM MODELO DE

ENFERMEIRA PARA ITAJUBÁ (1954 – 1956)

O presente capítulo analisa as estratégias empreendidas pelas Irmãs da

Congregação da Providência de Gap e a participação da Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá no processo de implantação da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz. O processo de análise compreende a incorporação do Padrão

Ana Neri1 à Escola recém-criada, como estratégia de luta para o seu

reconhecimento.

O documento enviado ao Ministério da Educação e Cultura relativo às

providências inerentes à criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,

continha os nomes e as qualificações dos professores indicados para fazer

parte do corpo docente da Escola, bem como as disciplinas que ministrariam.

Eram 10 médicos e 1 farmacêutico, integrantes do corpo clínico da Santa Casa

de Misericórdia de Itajubá; e 3 religiosas enfermeiras diplomadas, pertencentes

à Congregação das Irmãs da Providência de Gap, uma das quais ocupava

também o cargo de Diretora Administrativa da Santa Casa. Essas religiosas

eram Ir. Zenaide, Ir. Do Bom Pastor e Ir. Stella Carvalhal, todas diplomadas

pela Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac, localizada na cidade do Rio de

Janeiro, sendo que a primeira em 1944, e as outras duas no ano seguinte.

Constava também do processo, um “Aditamento à relação do Corpo

Docente proposto para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz”, incluindo

cinco nomes de religiosas enfermeiras diplomadas da Congregação das Irmãs

da Providência de Gap, e as disciplinas que lecionariam.

Ir. Maria Aparecida Pinto e Ir. Gentil Vilela Viana também diplomadas

pela Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac, em 1947; Ir. Maria José Vilela e

Ir. Maria Marques de Oliveira, pela Escola de Enfermeiras do Hospital São

Paulo (São Paulo), em 1947; e Ir. Denise Ribeiro Cardoso, pela Escola de

Enfermeiras “Madre Teodora” em Campinas (São Paulo), em 1954.

1 Nesse estudo optou-se por usar a grafia atual do nome da Escola (Escola de Enfermagem Anna Nery), que sofreu inúmeras alterações ao longo da história.

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A criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz foi divulgada pelos

jornais das cidades vizinhas a Itajubá, dentre eles o “Diário de Poços de

Caldas”, cuja matéria jornalística destacava a qualificação do corpo docente e a

direção da Escola: “o corpo docente é constituído por médicos e Irmãs

enfermeiras diplomadas”, sendo que “a direção da Escola estará confiada às

Religiosas da Providência” (DIÁRIO DE POÇOS DE CALDAS,1954, p.1).

A expressão “enfermeiras diplomadas” à qual o citado Jornal faz alusão

indicava tratar-se de profissionais de enfermagem diferenciadas, isto é, que

haviam concluído o curso de enfermagem em escola reconhecida e de nível

superior, visto que a nova concepção de enfermagem moderna exigia formação

específica, ou seja, longa formação técnico-científica após estudos secundários,

correspondendo a elevado nível de especialização de trabalho (ALCÂNTARA,

1966). Além disso, o diploma escolar tinha um valor juridicamente garantido por

se tratar de um capital cultural que não precisava ser testado, pois a objetivação

operada pelo diploma

no sentido de prova escrita que confere crédito ou autoridade, é inseparável daquela que garante o direito ao definir posições permanentes independentes dos indivíduos biológicos reivindicados por elas e suscetíveis de serem ocupadas por agentes biológicos diferentes, embora intercambiáveis, em relação aos diplomas que deverão possuir. (BOURDIEU, 2004, p. 198-199)

A ênfase dada à divulgação dos atributos intelectuais do corpo docente

da Escola evidenciava a apropriação do capital cultural dos agentes envolvidos

com o processo de formação das postulantes à profissão, como instrumento

simbólico na luta pelo reconhecimento social de um grupo que aspirava à

institucionalização, e que teve o efeito simbólico de consagrá-lo, pois a luta pelo

conhecimento e pelo reconhecimento envolve ações de imposição e de

inculcação da identidade legítima do grupo.

Além disso, a profissão de enfermeira na sociedade itajubense acenava

com a possibilidade de inserção da mulher no campo da saúde, representando

um avanço no processo de profissionalização das normalistas, ao mesmo

tempo em que evidenciava a continuidade do trabalho das Irmãs da Providência

de Gap em cargos de direção de escolas para moças, agora na formação das

enfermeiras, já que a direção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

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conferia-lhes poder e também divulgava o prestígio que tinham enquanto grupo,

cuja existência impunha-lhes “princípios de visão e divisão comuns, portanto,

uma visão única de sua identidade, e uma visão idêntica de sua unidade”

(BOURDIEU, 1989, p. 117).

A Congregação das Irmãs da Providência de Gap determinou que Madre

Marie Ange tomasse as providências relativas ao funcionamento administrativo

da Escola, e enviou Ir. Zenaide Nogueira Leite e Ir. Do Bom Pastor, então

enfermeiras da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e futuras professoras da

escola, para realizarem um estágio2 na Escola de Enfermagem Anna Nery, a

fim de adquirirem conhecimento sobre a organização e o funcionamento de

uma escola de enfermagem, de modo a se prepararem para ocupar os cargos

de diretora e professora da disciplina “Enfermagem em Cirurgias”,

respectivamente, sendo que a primeira deveria desempenhar, também, a

função de professora da disciplina “Técnicas de Enfermagem”.

Ir. Do Bom Pastor ainda retornaria ao Rio de Janeiro (nos meses de

novembro e dezembro de 1956) para estudar Psicologia e Saúde Pública na

Escola de Enfermagem Anna Nery, conforme consta na ata da reunião ordinária

da Congregação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, lavrada em livro

próprio para este fim, registrada no dia 22 de dezembro de 1956: “Irmã Do Bom

Pastor apresentou um Relatório sobre um estágio que acaba de fazer na Escola

Ana Néri, em Saúde Pública e um Curso de Psicologia, também nessa Escola

Padrão” 3 (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS DE REUNIÕES DA

CONGREGAÇÃO, 1954).

A expressão “escola padrão” referia-se ao ensino da Escola de

Enfermagem Anna Nery que, em 1931, pelo Decreto 20.109, recebeu a

designação de escola oficial padrão. No entanto, a Lei nº 775, de 06 de março

de 1949, que dispunha sobre o ensino da enfermagem no país, anulou os

efeitos desse Decreto, cabendo doravante às escolas de enfermagem solicitar

ao Ministério da Educação e Saúde a autorização para o funcionamento e o

reconhecimento dos seus cursos. Ainda assim, na percepção das Irmãs, aquela

Escola continuava a ser reconhecida como modelo de ensino a ser perpetuado.

2 Denominação utilizada pela secretária que lavrou a ata da Reunião Ordinária da Congregação

de 22 de dezembro de 1954. 3 O destaque é da autora.

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A estratégia de enviar Irmãs da Providência para uma escola de

enfermagem leiga, que durante dezoito anos foi considerada padrão, permitiu a

atualização do habitus profissional dessas religiosas, tornando-as porta-vozes

autorizadas a expressá-lo através de suas práticas.

Acerca da participação no estágio na Escola de Enfermagem Anna Nery,

umas das entrevistadas assim se pronunciou:

A Irmã Do Bom Pastor e eu fomos à Escola Ana Neri para observar a construção e o estudo das alunas e outras

exigências. Foi lá que eu fui para fazer a Escola de

Enfermagem nossa. A diretora da Escola Ana Neri nos

incentivou muito, ela era muito boa. Não me lembro mais o nome dela. (Ir. Zenaide)

O período referido pela entrevistada engloba aquele em que a direção da

Escola esteve a cargo da enfermeira católica Waleska Paixão (1950-1966) que,

formada em 1939 pela Escola de Enfermeiras Carlos Chagas, em Belo

Horizonte, exerceu vários outros cargos de destaque na enfermagem brasileira,

sempre atenta ao ensino da profissão no Brasil. Profundamente religiosa e

dedicada, lutou pela criação de um quadro de professores devidamente

qualificados para a nobre e valorosa profissão (COELHO, 1997).

Como já mencionado, Madre Marie Ange, que não era enfermeira e tinha

como formação o curso de normalista, foi designada em 1954 por Madre Maria

Rosa, Superiora da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, para

organizar a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Uma das estratégias

empreendidas por ela fora a de se fazer presente nos Congressos4, Seminários,

Jornadas e Encontros de Diretoras de Escolas de Enfermagem. Essa

participação, ao tempo em que propiciava o acúmulo de conhecimentos acerca

do ensino da enfermagem e da evolução da profissão no Brasil, criava as

condições para que a Igreja Católica pudesse se fazer presente em importantes

fóruns de discussão acerca dos rumos da Enfermagem brasileira, assegurando

espaço para que as Irmãs da Providência enunciassem seus discursos acerca

da formação da enfermeira brasileira, pois as relações de comunicação são

4 Madre Marie Ange no XII Congresso Brasileiro de Enfermagem, ocorrido em 1959 na cidade

de São Paulo discorreu sobre o tema “O ensino da enfermagem no País em confronto com o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. Posteriormente essa apresentação foi publicada na Revista Brasileira de Enfermagem, no mesmo ano, edição do mês de setembro.

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“relações de poder simbólico onde se atualizam as relações de força entre os

locutores e seus respectivos grupos” (BOURDIEU, 2001a, p. 23-24).

A participação de Madre Marie Ange em reuniões de Diretoras de

Escolas de Enfermagem ficou evidenciada quando ela enviou uma carta à

secretária da Associação de Escolas Católicas Superiores5 (ABESC), em 14 de

outubro de 1955, fazendo alusão a uma reunião de diretoras, ocorrida nos

últimos dias do mês de setembro daquele ano, na Escola de Enfermagem Anna

Nery, e pontuando “a necessidade de um maior intercâmbio entre as diretoras

das escolas católicas de enfermagem; de aprimoramento do pessoal docente e

do levantamento do nível cultural em geral das alunas nessas escolas” (EEWB,

MADRE MARIE ANGE, CARTA, 1955).

A preocupação de Madre Marie Ange com a formação das alunas,

calcada em princípios cristãos, é legitimada no Art. 1º do Capítulo I do

Regimento Interno da Escola (Da Escola e seus Fins)6:

A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz tem por fim a formação de enfermeiras perfeitamente conscientes de seus deveres, habilidades sob o ponto de vista técnico para suas funções junto ao doente e orientadas, em todas as suas atividades, pelos princípios cristãos. (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956, p.1)

Desse modo, o processo de atualização do habitus das alunas da Escola

de Enfermagem Wenceslau Braz processou-se de acordo com a disposição dos

agentes mobilizadores, ou seja, das Irmãs da Providência de Gap, cujos

interesses foram expressos mediante inculcação de uma conduta exemplar

ajustada às exigências do habitus consoante ao modelo ideal de enfermeira,

pois o habitus, enquanto modus operandi, constantemente reposto e

reatualizado ao longo da trajetória social, demarca os limites de mobilização

pelos grupos, sendo assim responsáveis, em última instância, pelo campo de

sentido em que se operam as relações de força (BOURDIEU, 2001).

5 A ABESC é uma entidade civil sem fins lucrativos, criada em janeiro de 1952, por

desmembramento da Associação de Educação Católica do Brasil, existente desde 1945, com sede no Rio de Janeiro. Desenvolve trabalho de cooperação e integração interinstitucional com organizações católicas.

6 O Regimento Interno da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz foi apresentado em 2 de setembro de 1956 à Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura e aprovado após sofrer modificação em seu Art. 54 que, a pedido dessa Diretoria, com o acréscimo da alínea “e” ao parágrafo único: “sugestões e estudos para modificação dos presentes estatutos, para aprovação na forma da lei”.

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As entrevistadas expressaram o reconhecimento sobre os trabalhos de

Madre Marie Ange, identificando-a como figura principal no processo de

criação, implantação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz:

Enquanto Madre Marie Ange fazia a papelada, começamos a escola no andar térreo da Santa Casa...

Houve dificuldade, mas a gente vencia. Aí está o trabalho

da Madre Marie Ange, ela animava muito a gente. Ela e a

Congregação ajudaram muito. (Ir.Zenaide)

Madre Marie Ange era a alma de tudo. Era

quem comandava tudo. (Maria Celeste)

Era uma pessoa incansável para dar jeito em tudo. (Terezinha Rennó)

Ela era baixinha e brava como ela só. Ela foi a alma da Escola. Ela falava demais... rápido demais. Ela ficava em cima até

conseguir o que ela queria, até conseguir. (Dr. Antonio Edilberto Lisboa)

As falas dos entrevistados convergem no sentido de reconhecer Madre

Marie Ange como portadora do discurso autorizado acerca da formação da

enfermeira da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Suas articulações com

as entidades governamentais são apontadas pelas entrevistadas, nos

fragmentos dos depoimentos que se seguem, e refletem a eficácia simbólica do

poder religioso. Essa assertiva encontra explicação em Pierre Bourdieu quando

este designou como

carisma, a eficácia simbólica de certas propriedades que se agregam aos agentes religiosos, na medida em que aderem à ideologia do carisma, isto é, o poder simbólico que lhes confere o fato de acreditarem em seu próprio poder simbólico. (BOURDIEU, 2001, p. 55)

Assim sendo, vejamos os depoimentos:

Foi procurando meios para, com subvenção, com verbas

do Estado e mesmo Federal, conseguir aquela Escola. Era uma pessoa que se preocupava muito com a formação

das enfermeiras, da parte ética e mesmo profissional. (Terezinha Rennó)

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Ela zelava muito pelo nome da escola. Dizia-nos sempre: ‘Vocês é que vão fazer o nome da Escola...ela se

empenhava na parte cultural... quem lutava e ia atrás dos

políticos era a Madre Marie Ange...a gente vê a figura da

Madre que não era nem enfermeira, mas tinha o espírito de uma verdadeira enfermeira. (Maria Nirce)

As falas das entrevistadas são emblemáticas no sentido de evidenciar

que a base do poder não deriva apenas dos atributos materiais e culturais dos

agentes, mas da capacidade que esse agente tem de transformar esse capital

em capital social e simbólico, uma vez que na percepção de Bourdieu: “o capital

simbólico é uma dádiva atribuída àqueles que possuem legitimidade para impor

categorias de pensamento e, portanto, uma visão de mundo” (BOURDIEU,

2004a, p. 10).

Antes do início do funcionamento da Escola, teve início o processo de

recrutamento baseado na percepção das Irmãs da Congregação de Gap acerca

do potencial de algumas moças para a profissão de enfermeira. Essa iniciativa

está evidenciada na fala de três depoentes acerca do seu ingresso na Escola

de Enfermagem Wenceslau Braz:

Eu trabalhava no comércio e por acaso passou a freira...

passou lá e perguntou para mim: Celeste, você não gostaria de fazer enfermagem? Eu achei interessante,

bacana o convite da irmã e fui lá fazer... sou a matrícula

número um. (Iro Machado)

Fiquei dois anos fora e quando voltei é que estava esse

clima de escola que ia ser fundada. Eu tenho duas irmãs

religiosas. Eu acho que foi através delas, porque até uma delas é enfermeira também... ou através do jornal... deve

ter sido isso mesmo... não sei exatamente como ... mas

só me lembro do dia em que o papai falou que “pode fazer” e que aí eu pulei de alegria... conversei com o

pessoal da enfermagem, na época a Madre Marie Ange,

elas aprovaram e tudo ficou certo. (Maria Celeste)

Mesmo antes de ir para o noviciado, eu já dizia que

queria ser enfermeira. A minha avó era parteira, minha

mãe havia me dado um livro: “Guia das Enfermeiras”. (Maria Nirce)

A preocupação das religiosas em recrutar as alunas, e posteriormente

selecionar, configurava-se como uma estratégia para padronizar o comportamento

das futuras enfermeiras, uma vez que a posição dos indivíduos nas estruturas das

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relações objetivas propicia um conjunto de vivências típicas que tende a se consolidar

na forma de um habitus adequado à sua posição social. Esse habitus permite que o

sujeito possa agir, não como um indivíduo qualquer, mas como um membro típico de

um grupo ou classe social que ocupa uma posição determinada na estrutura social.

Além dos convites pessoais às postulantes à profissão de enfermeira, as

religiosas utilizaram a imprensa escrita para divulgar o curso, conforme registra o

fragmento da matéria intitulada “Uma Escola de Enfermagem na região Sul–

Mineira”, publicada no Diário de Poços de Caldas (1954, p.1):

Trata-se de uma carreira bela, mas de grande responsabilidade donde, além das exigências para o ingresso, carinhoso será o cuidado na formação integral da aluna, sob o ponto de vista de sua formação humanista já esboçada nos cursos anteriores. Além da técnica, ela precisará muito da ética, da filosofia e da poesia. Coroando sua educação a doutrina religiosa virá informar essas atividades tão nobres da enfermeira.

A matéria jornalística evoca o cuidado carinhoso como atributo

importante em uma profissão cujo objeto de trabalho é o cuidar. Para Codo e

Gazzotti (1999), trata-se de uma profissão doadora de cuidado, que permite o

desenvolvimento de um trabalho em que a relação afetiva é obrigatória e

imprescindível para a própria atividade.

O texto acima indica tratar-se de uma profissão que tomou emprestado

características femininas do cuidado, como sensibilidade, amor, vigilância,

carinho, abnegação, entre outras (LOURO,1997). Nesse sentido, Codo e

Gazzotti (1999) corroboram a afirmação acima, quando pontuam que as

mulheres foram educadas durante séculos no sentido de expressar sua

afetividade.

Ademais, a análise do teor da matéria em questão evidencia a estratégia

adotada pelas Irmãs de utilizar o capital religioso como arma simbólica na luta

pela enunciação do discurso autorizado acerca da formação da enfermeira

brasileira, pois a concorrência pelo poder religioso se estabelece no fato de que

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seu alvo reside no exercício legítimo do poder (BOURDIEU, 2001).

Desse modo, a enfermagem aberta às mulheres, levou a dupla marca do

modelo religioso e da metáfora materna: “dedicação – disponibilidade;

humildade – submissão; abnegação – sacrifício.” (LOURO, 1997, p. 454).

Uma outra matéria publicada nesse mesmo jornal, sob o título “Escola de

Enfermagem em Itajubá”, divulga informações pontuais acerca das providências

a serem tomadas pelas interessadas quanto à matrícula no curso:

Comunicamos que, em Portaria n. 853, de 23 de setembro de 1954, o Exmo. Sr. Ministro da Educação e Cultura autorizou o funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. As aulas terão início em março próximo. As candidatas estão convidadas a se dirigirem à Diretoria da Santa Casa ou à Escola Normal de Itajubá, onde lhes serão prestadas informações a respeito de matrícula ou quaisquer outras que possa interessar. Se você terminou seus estudos de curso secundário e deseja uma carreira nobilante e altamente conceituada em que, ao lado do médico, possa contribuir para alívio dos que sofrem, procure a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá.

Desde os primórdios da enfermagem moderna no Brasil, a luta pela

construção da identidade da enfermeira iniciava-se pelos critérios de que nada

mais era do que uma violência simbólica, pois procurava evitar que elas

“apresentassem estigmas, inscritos no próprio corpo ou revelados pelo

comportamento, que pudessem desacreditar a profissão perante as elites

dominantes” (BARREIRA,1992, p. 173).

Cabe assinalar que a seleção das candidatas estava amparada pelo

Decreto n° 27.426, de 14 de novembro de 1949, regulamentando a Lei n° 775,

de 6 de agosto de 1949, que dispunha sobre o ensino da enfermagem no País.

Com essa Lei, foi extinta a necessidade de equiparação à Escola de

Enfermagem Anna Nery (Decreto n° 20.109 de 15 de junho de 1931). Desse

modo, a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, embora tenha sido criada no

âmbito da Lei nº 775 / 49, adotou como estratégia a incorporação do modelo de

enfermeira Anna Nery para dar visibilidade à nova profissão em Itajubá

(BRASIL, 1959).

Não obstante, apesar da expansão do número de escolas no Brasil, o

quantitativo de enfermeiras era insuficiente, e a procura pelo curso ainda era

reduzida. Tanto assim que, no ano de seu funcionamento (1955), a Escola de

Enfermagem ofereceu dez vagas, sendo matriculadas apenas sete alunas. Nos

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dois anos seguintes (1956 e 1957), o número de vagas aumentou para doze, e

para quatorze em 1958 (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE MATRÍCULA, 1956,

1957, 1958).

Das sete alunas que iniciaram o curso em 1955, cinco formaram-se na

primeira turma (1958) porque, ao longo dos dois anos seguintes, ocorreram três

desistências e a transferência de uma aluna, oriunda da Escola de Enfermeiras

Madre Maria Theodora, em Campinas, que era religiosa da Congregação das

Irmãs da Providência de Gap (EEWB, RELATÓRIO ANUAL DE ATIVIDADES,

1956, 1957, 1958).

A propósito do processo de seleção das candidatas, eis o que disseram

as entrevistadas:

Para a primeira turma não houve seleção. Nós

queríamos se elas tivessem tinha gosto pela enfermagem. E elas mostraram gosto pela enfermagem. (Ir. Zenaide)

Falei com meus pais eles consentiram e já conversei com o pessoal da enfermagem, na época a Madre Marie Ange,

elas aprovaram e ficou tudo certo, tive que esperar um

ano para que a escola começasse realmente. (Maria Celeste) Nada... nada. Houve só uma única coisa: requerimento

para a matrícula. Não houve seleção nem entrevista. (Terezinha Rennó)

Eu me lembro muito bem que quando a Madre Marie Ange me chamou para continuar a escola, a enfermagem, ela

assim falou: vamos aproveitar enquanto não tem

vestibular para você continuar o estudo. (Ir. Myrthes)

A gente teve que fazer um vestibular, porque precisava ter

vestibular. Mas a gente já sabia que era ali, e que todas

iam passar, porque eram só sete. Teve prova, se eu não me engano, de português, matemática, essas ciências

básicas. (Maria Nirce)

Percebe-se, na fala das entrevistadas, que o processo seletivo mediante

provas não foi realizado nos primeiros anos, porém, a direção da Escola detinha

o poder de inserir ou de excluir candidatas, na dependência da assinatura da

diretora, aprovando (ou não) a candidata, o que para Bourdieu (1989, p.156)

significa um “monopólio da assinatura”. Não obstante, o processo de seleção

era rigoroso, exigindo-se da candidata o requerimento de inscrição à Diretora

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da Escola, acompanhado dos seguintes documentos devidamente

autenticados: certidão de registro civil que provasse a idade mínima de

dezesseis anos e máxima de trinta e oito; atestados de sanidade física e

mental; atestados de vacinação e de dentista; atestado de idoneidade moral e

certificado de conclusão do curso secundário.

O atestado de idoneidade moral, à época, era expedido pelo Delegado

de Policia, o qual dava garantia absoluta sobre a moral da aluna. Encontram-se

ainda nos registros das alunas, atestados de idoneidade moral expedidos pelo

Pároco da Igreja de cidades, onde não houvia Delegacia de Polícia.

O rigor no processo de seleção das candidatas é explicado por Sena

(1998, p. 359) como uma estratégia de luta para “elevar e manter o padrão da

profissão de enfermagem em um nível digno e respeitável”. Além disso,

completa a autora, contribuiu para “firmar a profissão dentro dos moldes

nighingaleanos no nosso meio”.

Sendo assim, das 10 vagas oferecidas no primeiro ano, foram

preenchidas sete vagas. Das alunas que ingressaram no primeiro ano da

Escola, foi possível encontrar somente dados referentes a quatro delas, visto

que três desistiram do curso. Destas quatro, três iniciaram o curso com idades

entre 22 e 26 anos, e uma com 16 anos; uma possuía o curso normal e três o

ginasial; uma era religiosa da Congregação da Providência de Gap, duas

moravam em Itajubá e uma era oriunda da cidade de Varginha, sul de Minas

Gerais (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE MATRÍCULA, 1955).

Foi somente após o início do funcionamento da Escola, nos anos seguintes,

que essas religiosas desenvolveram também a estratégia de visitar escolas normais e

de nível secundário para procederem à divulgação do curso, levando consigo as

alunas uniformizadas, tendo em vista a captação de novas candidatas.

Posteriormente, promoveram recepções com programações culturais e sociais

dedicadas aos familiares das alunas, contando também com a presença de pessoas

da sociedade e de autoridades locais da época.

A estratégia de atrair candidatas de bom nível social e cultural, mediante

visitas às escolas secundárias, já vinha sendo adotada pela Escola de

Enfermagem Anna Nery desde 1935. Ademais, a notícia-convite intitulada “A

Escola de Enfermagem às jovens que terminaram seus estudos secundários”,

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foi publicada simultaneamente em três jornais de cidades vizinhas (Ouro Fino,

Brasópolis e Santa Rita do Sapucaí), além de Itajubá, onde adota na íntegra o

texto elaborado por Waleska Paixão7, diretora da Escola de Enfermagem Anna

Nery, sob a forma de panfleto distribuído na cidade do Rio de Janeiro, à época

capital federal, com a finalidade de recrutar moças para o curso da escola por

ela dirigida. A seguir, apresenta-se o texto em questão:

A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, de Itajubá, faz sua a mensagem da Escola Ana Néri e repete para as nossas jovens do Sul de Minas, as belíssimas palavras que, em 1951, dirigiu às moças de nossa terra: “Você, jovem estudante que teve a felicidade de estar recebendo sólida e aprimorada educação cristã, já pensou algum dia como retribuir a Deus os dons que lhe prodigalizou?” Já pensou que esses dons devem servir ao bem de outros menos dotados, para que o eu conta o Senhor com a sua cooperação? Muitos caminhos risonhos e brilhantes se abrem diante de você. Esta mensagem lhe apresenta um, no qual você talvez nunca tenha pensado, porque é ainda mal conhecido entre nós: a Enfermagem. Se você nunca teve uma doença grave e nem viu um parente muito próximo sofrer num leito de dores, não pode ainda compreender o que representa nesses momentos a enfermeira. Se você ainda não pensou que a vida humana durante as longas horas de ausência do médico, está entregue à Enfermeira; não pode avaliar o grau de conhecimentos científicos necessários para assumir essa responsabilidade. Se você ainda não mediu os abismos de inquietação e sofrimento moral a que chega um doente, não pode avaliar quanto são necessários à Enfermeira, os conhecimentos de psicologia. Se você nem suspeita a que degradação chegou muitos dos nossos doentes, não pode saber que formação espiritual deve ter a Enfermeira, para ajudá-los a se reabilitarem. Nem pode avaliar o muito que se realiza no campo da enfermagem com caráter social e preventivo, evitando males sem conta, promovendo felicidades inúmeras. Talvez você não saiba que no Brasil tem menos de 1.500 enfermeiras (isso em 1951, hoje tem umas 3.000) quando se necessita de 50.000! Talvez ignore que, apesar de muito recente entre nós, a profissão de Enfermeira está adquirindo elevado conceito nacional e internacional. Você talvez receie os sacrifícios que vêm logo à idéia, quando pensamos em doenças e morte. Lembra-se, porém que sacrifícios há em toda parte. Pior do que o sacrifício por uma nobre causa é a monotonia de tantos serviços burocráticos, onde muitas moças ingressam e vivem sem o conforto de realizar um grande ideal. Quer você ter um contato com essa profissão desconhecida? Visite uma Escola de Enfermagem. Venha, veja, reflita. E se Deus lhe conceder a graça de um chamado, volte a matricular-se no curso que a tornará apta a viver uma vida fecunda e cheia de ideal. (O SUL DE MINAS, 1956)

7 Waleska Paixão foi diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery de 1950 a 1968. Profundamente

religiosa, formou-se enfermeira em 1939, na Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

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2.1 O Espaço Físico como Símbolo de Poder e Prestígio

para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

As escolas de enfermagem criadas na esteira da Escola de Enfermagem

Anna Nery exibiam fachadas freqüentemente solenes, de modo a indicar aos

que ali passavam a sua distinção em relação aos demais prédios dos bairros

em que estavam localizadas (SANTOS, 2004). Tanto assim que os

depoimentos das entrevistadas refletem o caráter provisório do funcionamento

da Escola nas dependências do andar térreo da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá:

Começamos a Escola no andar térreo da Santa Casa,

debaixo da enfermaria. Eram três salas: uma seria o

dormitório das alunas, a outra, sala de aula, e a outra para

o estudo. Nós começamos com a biblioteca no corredor. (Ir. Zenaide)

Eu sei que a gente teve aulas, não sei por quanto tempo,

no porão da Santa Casa... poucos meses. Depois quando ficou tudo pronto debaixo da Capela, a gente passou para

lá. (Maria Celeste)

Começou debaixo da enfermaria de homens, mas foi por pouco tempo. Depois, passamos para debaixo da capela.

(Maria Nirce)

Já no primeiro ano de funcionamento da Escola, com a ajuda da

Congregação das Irmãs da Providência de Gap, a Santa Casa projetou a

construção de um prédio anexo às suas dependências, destinado à instalação

de uma capela. A idéia era de que no andar térreo desse prédio anexo

funcionasse, ainda que em caráter provisório, a Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz. O lançamento da pedra fundamental desta construção ocorreu

em 29 de junho de 1954, mesmo antes da autorização para o funcionamento da

Escola. A esse respeito, algumas entrevistadas assim se manifestaram:

Irmã Maria Dositheé [Administradora da Santa Casa, à época] incentivou a construção daquela Capela que existe

hoje e embaixo, então, ficou a escola de enfermagem.

Tinha duas salas boas, biblioteca e local para o cadáver. (Ir. Zenaide)

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As primeiras salas de aula foram embaixo da Capela,

tinha até um tanque para cadáver, mas a minha turma de

primeiro ano não conseguiu o cadáver; a segunda já teve.

Tinha mesa de dissecação, laboratório, tinha a biblioteca, aquela parte redonda da frente. (Terezinha Rennó)

eu sei que foi embaixo da Capela que começou. Havia três salas de aula, havia uma sala de anatomia. Quando

eu cheguei, já estava tudo pronto. Debaixo da Capela a

gente achou ótimo. Eram duas salas de aula, uma sala de

técnica, uma sala de nutrição. A biblioteca era simples e pequenina, um ou dois armários. (Ir. Myrthes)

Após a construção da capela e a transferência da Escola para esse local,

o Dr. Wenceslau Braz, na qualidade de provedor da Santa Casa, destinou um

terreno anexo àquela instituição, pertencente à Santa Casa, com cerca de

900m2 para a construção de um prédio próprio para a Escola, visto a mesma

ainda não ter um espaço físico definido.

Vale ressaltar que nos arquivos da Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz encontra-se a cópia de um ofício em que Madre Marie Ange dirige-se ao

Diretor da Divisão de Organização Hospitalar (DOH) do Ministério da Saúde

para solicitar “um técnico para fazer uma planta da escola de enfermagem”,

informando que dispunha de um capital inicial de Cr$550.000,00 (quinhentos e

cinqüenta mil cruzeiros) para a construção (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 21 abr.

1956).

As negociações entre ambos estava apenas no início, pois em outro

ofício, datado de 15 de junho do mesmo ano, Madre Marie Ange ressaltava que,

“conforme entendimentos havidos, tinha pressa da planta visto que gostaria de

iniciar a construção ainda no ano corrente e antes do período das chuvas”. O

documento contemplava também algumas recomendações acerca dos espaços

internos destinados ao funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz, como salas de aulas, laboratórios e acomodações para as alunas internas

e monitoras, fazendo alusão a que a construção fosse feita por etapas,

esperando tudo terminar em 3 anos (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 15 jun. 1956).

Em outro ofício, de 06 de novembro de 1954, já com a planta física em mãos,

solicitava especificações da obra e sugestões quanto à fachada, no caso de

serem construídos três pavimentos (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 6 nov. 1956).

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A preocupação e a intervenção da Madre Marie Ange na planta física da

escola reforça a idéia de que seus espaços internos tinham uma organização

plena de significados através da capela, corredores e salas; e nesse sentido, “a

arquitetura escolar apresentava-se como um programa que falava aos agentes,

que institui em sua materialidade um sistema de valores como ordem, disciplina

e vigilância” (SANTOS, 2004, p.85).

A construção de um patrimônio, no caso um edifício próprio, permitiu o

adequado funcionamento da Escola, dando concretude à sua existência

institucional, dadas as relações entre as estruturas do espaço físico e do

espaço social, onde o lugar ocupado corresponde a uma dada posição ou

“graduação em uma ordem” (BOURDIEU, 1999, p.159-160).

Analisando o Livro de Contas Diárias da Escola, referente ao ano de

1955, foi possível encontrar o registro de contribuições financeiras de quatro

alunas leigas: Terezinha de Jesus Rennó, Celina Bittencourt Almeida, Edith

Ribeiro de Oliveira e Maria Celeste Fonseca. Vale lembrar que, no início do ano

letivo, foram matriculadas sete alunas, das quais duas eram Irmãs da

Congregação de Gap e, portanto, cinco leigas. No decorrer deste mesmo ano,

uma aluna leiga desistiu do curso para contrair núpcias. Restaram seis alunas,

sendo duas religiosas e quatro leigas; portanto, todas as alunas leigas

contribuíam.

Fazendo referência ao assunto, algumas entrevistadas comentaram:

Acho que as alunas pagavam um tanto assim que elas podiam pagar. Pagavam um tanto assim, e a

Congregação ajudava com o trabalho das Irmãs, que

lecionavam. (Ir. Zenaide)

Eu pagava. Não me lembro quanto, mas meu pai era

quem pagava. (Maria Celeste)

Eu não me lembro bem, aquelas que eram internas, se

davam contribuição. Mas o curso era gratuito. (Ir. Myrthes)

As primeiras alunas, nem sei se pagavam. Minha irmã, da

segunda turma, colaborava. Eu tenho a impressão que

pagavam dentro das possibilidades de cada uma. Eu sei de alunas que... a gente falava, a Madre Marie Ange dava,

como se diz, uma bolsa, alguma coisa para o custo. (Maria Nirce)

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No que se refere ao corpo docente da Escola, na primeira reunião da

Congregação, realizada no dia 04 de março de 1955, a diretora comunicou aos

médicos presentes (Dr. Gaspar Lisboa, Dr. José Chaiben Mauad, Dr.

Sebastião Rennó, Dr. José Araújo Barbosa e Dr. João Severiano Ribeiro,

dentre outros) sobre a impossibilidade de remuneração por suas atividades

como professores da Escola.

O recorte de sua fala durante a reunião conclama os presentes a

continuarem exercendo suas atividades, exaltando o aspecto caritativo do

trabalho: “a generosidade e dedicação dos Srs. Professores que, por enquanto

e em vista da situação econômica da Escola, não perceberão remuneração

alguma pelas aulas dadas – dizendo contar com a assiduidade perfeita de

todos” (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1955).

A estratégia da diretora é exemplar pela utilização dessa mensagem

para satisfazer o interesse religioso no sentido de contemplar a escola com

professores qualificados sem ônus financeiro, exercendo sobre o grupo de

médicos e professores que nela atuavam, “o efeito simbólico de mobilização

que resulta do poder de absolutização do relativo e legitimação do arbitrário”

(BOURDIEU, 2001, p. 51). Não obstante, os médicos capitalizaram prestígio, ao

serem evocadas pela diretora qualidades como generosidade e dedicação no

exercício de suas profissões.

Todavia, no citado Livro de Contas Diárias há referência ao fato de que,

desde o início do funcionamento da Escola, foram feitos pagamentos a dois

professores: o de Química, que segundo a Lista de Professores, era o Dr. Luiz

Gonzaga Mauad; e o de Religião, cujo nome não estava na lista. O pagamento

de professores, conforme consta no referido Livro, começou em março de 1958,

sendo registrado como “Pagamento a Professores”, sem mencionar nomes.

Ainda sobre o momentâneo aspecto caritativo dos trabalhos docentes, a

diretoria da Escola fez publicar matéria no Jornal Sul de Minas (1956), intitulada

“Louvor dos Nobres Gestos”, tornando público o seu agradecimento ao Corpo

Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá pela dedicação à Escola,

pontuando tratar-se de “uma abnegação que tem valido tanto para as alunas

como lição magna e estímulo nas lides que serão suas, na difícil missão da

enfermagem”, e destacando o seu agradecimento: “horas de trabalho, seu

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entusiasmo na colaboração com a Diretoria, a fim de elevar o ensino ao nível

superior que a Lei está impondo e a própria natureza da enfermagem exigindo”

(O SUL DE MINAS, 1956).

Ademais, é certo que outras Escolas de Enfermagem, quando começaram

a funcionar, também tiveram a colaboração do corpo docente na gratuidade dos

serviços prestados. Foi o caso da Escola de Enfermagem Carlos Chagas que,

inaugurada em 7 de julho de 1933, iniciou suas aulas em 19 daquele mês,

embora os professores só começassem a receber seus salários em 1955

(NASCIMENTO, SANTOS e CALDEIRA, 1999, p.30).

O reconhecimento, pela diretora, do trabalho desses docentes, ao tempo

em que lhes permitia agregar capital cultural e social, evidenciava também as

relações de poder simbólico existentes, já que as relações sociais são em geral,

de dominação, visto que as trocas lingüísticas são relações de comunicação por

excelência, pois atualizam as relações de força entre os que publicam seus

enunciados e os grupos aos quais são destinados esses enunciados. Assim, a

Igreja tornava público o seu poder, declarado pela adesão do grupo de

docentes da Escola ao aspecto voluntário do trabalho.

2.2 O Regime de Internato como Estratégia de atualização do Habitus das Alunas

O Regimento da Escola indicava tratar-se de uma Escola para mulheres,

fazendo referência aos regimes de internato e de externato durante o

desenvolvimento do curso. No entanto, para estudar em regime de externato era

necessária a aquiescência da diretora da Escola: “alunas do sexo feminino, em

regime de internato, podendo haver alunas externas, a critério da Diretora e de

acordo com as exigências da lei vigente” (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956).

Ao oferecer o regime de internato às alunas, a Escola atendia ao Art. 50 do

Decreto nº 27.426, de 14 de novembro de 1949, que tratava da regulamentação dos

cursos de enfermagem. O texto legal também orientava que a autorização para

funcionamento dependia de que a escola tivesse “internato para residência

confortável e higiênica de dois terços dos alunos, no mínimo” (BRASIL, 1959).

O internato, seguindo os padrões nightingaleanos, mantinha as alunas

afastadas de suas famílias e amigos para que recebessem treinamento

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técnico-científico e, acima de tudo, formação especial no sentido de inculcar “uma

conduta moral irrepreensível: religiosas, puras, dóceis, submissas, com retidão de

caráter e caridosas” (DAHER, 2000, p.50).

No que se refere ao regime de internato, vale considerar as palavras de

Coelho (1997, p.89): “no final do século XIX, as escolas de enfermagem de

origem religiosa adotavam a prática do internato para as suas alunas, visando

uma educação aprimorada ao lado da instrução ministrada durante os cursos”,

ou seja, o internato era a “chave para a educação da enfermagem”. Essa

afirmação reveste-se de significativa importância quando articulada à análise de

Silva Junior (2000). Este autor confirma que o internato era um espaço

controlado, destinado àquelas que atenderam de forma voluntária ao chamado

do ideal, permitindo sua profissionalização e, ao mesmo tempo, resguardando a

moral tradicional da mulher brasileira da época.

Portanto, o regime de internato constituiu-se em estratégia de inculcação

cultural e simbólica, mediante o esforço para ensinar às alunas o

comportamento adequado, assim construindo uma ética e uma estética no

processo de atualização e homogeneização do habitus das alunas, visando a

própria enfermeira da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, pois o habitus

enquanto modus operandi exige, da parte dos grupos, um mínimo de controle e

domínio de um código comum, ainda que de modo inconsciente (BOURDIEU,

2001). Além disso, o autor afirma textualmente que “quanto mais próximo

estiverem os grupos ou instituições ali situadas, mais propriedades eles terão

em comum; quanto mais afastados, menos propriedades em comum eles terão”

(BOURDIEU, 1990, p.153).

Ao imporem o regime de internato, as escolas de enfermagem alteravam

o ritmo de vida social de suas alunas, deixando traços comportamentais

indeléveis que as seguiriam por toda a vida, quer na vida social como na

profissional. Enquanto formadora de hábitos,

a escola propicia aos que se encontram direta ou indiretamente submetidos a sua influência, não tantos esquemas de pensamentos particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora de esquemas particulares capazes de serem aplicados em campos diferentes do pensamento e da ação, aos quais pode-se dar o nome de habitus cultivado. (BOURDIEU, 2001, p.211)

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Inicialmente, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá disponibilizou dois

quartos para o funcionamento do Internato, situados sob o piso da enfermaria

de homens; já as refeições das internas, eram realizadas no refeitório da

instituição. Entretanto, pouco tempo depois, o internato foi transferido para as

imediações, fixando-se numa pequena casa anteriormente ocupada por um dos

caseiros da Santa Casa.

Acerca do regime de Internato, seguem-se alguns recortes dos

depoimentos das alunas leigas:

Começamos a Escola no andar térreo da Santa Casa,

debaixo da enfermaria, começou lá um dormitório de alunas, porque naquele tempo as alunas tinham que ficar

internas. Elas ficavam lá. A Santa Casa dava a

alimentação. (Ir. Zenaide)

Eu fiquei uns dois meses no internato. Minha família tinha

vindo da fazenda para a cidade, e quando as irmãs

souberam que eu não queria ficar mais lá, deixaram eu ficar na minha casa, pois era pertinho. O internato era

onde é a escola atual, agora reformada. Era uma casinha

humilde, era ali que passávamos as noites, dormíamos ali. Mas o dia todo era na Santa Casa e sabe ali, debaixo da

capela? Ali funcionava a escola propriamente dita.

Tomávamos as refeições lá na Santa Casa. (Maria Celeste)

Teve uma época curta que eu não me lembro porque

fiquei no internato. Até me lembro era uma casinha, onde

é a escola hoje, tinha uma casinha ali, até que as internas de fora que moravam lá. (Terezinha Rennó)

No entanto, no depoimento das alunas religiosas sobre o mesmo

assunto, observa-se o destaque dado por elas à oportunidade do exercício da

vigilância sobre as alunas leigas:

Havia um internato para as alunas de fora e o lugar era

bem precário. Ele funcionava embaixo da enfermaria dos

homens. Eram duas ou três salas grandes com várias camas com cortinas para separar uma pessoa da outra., e

o banheiro. Depois teve uma casa alugada, onde hoje é a

escola. Depois elas foram para essa casa... Tinha um

regulamento. A Irmã Maria de Lourdes é quem ficava sempre junto com as meninas e eu. Eu também cheguei a

ficar um pouco, para facilitar a vigilância. (Ir. Myrthes)

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As meninas eram internas. No lugar desta casa aqui, tinha

uma casinha. Essa casinha era o Internato. Eu dormia

com a Irmã Zenaide, para fazer companhia [para vigiar as

alunas]. (Maria Nirce)

A presença de instrutoras, se assim podemos dizer, e de uma diretora

que controlavam as alunas internas em suas diferentes atividades, é um

aspecto que permite observar o poder exercido por essas mulheres sobre as

alunas que, sob seus olhares, eram submetidas a um controle rigoroso de

disciplina, conduta, aparência e horário. A regulação temporal era condicionada

ao horário de diferentes atividades, quais sejam: acordar, estudar, estágio,

refeições e leituras, entre outras, seguidas à risca, moldando dessa forma

corpos submissos, disciplinados, corpos dóceis (LOYOLA, 1987). Assim as

instrutoras julgavam-se superiores e corretas, enquanto as internas eram

consideradas inferiores e censuráveis.

A questão da vigilância assinalada pelas religiosas, ganha mais

expressividade quando articulada ao anúncio do regime de Internato da Escola

para a sociedade itajubense, mediante publicação de matéria no Diário de

Poços de Caldas (1954, p.1), reforçando o caráter controlador e disciplinador

das alunas, fazendo da Escola uma instituição digna de receber moças de boa

família e de transformá-las em respeitáveis enfermeiras:

As alunas terão sua residência em prédio próprio que permita ambiente ameno, propício para o merecido repouso e convívio com as colegas, em regime de internato, conforme a lei e sob a responsabilidade direta das Religiosas da Providência. Haverá, entretanto, de acordo ainda com a lei, um número proporcional de alunas externas.

Os recortes das falas das alunas entrevistadas acerca do corpo docente

da escola, constituído por médicos e enfermeiras, exceto Madre Marie Ange

que não era enfermeira, mas encarregada de ministrar a disciplina Ética

Profissional, convergem no sentido de não tecer comentários a respeito da

avaliação da qualidade dos professores, reforçando o aspecto da disciplina

rígida e inquestionável obediência, como relatado a seguir:

Nós fomos falar [sobre a criação da escola] com os médicos, Dr. Gaspar, Dr.Carlos Vitor, Dr. Gerson, Dr.

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Mauad, Dr. Sebastião Rennó, Dr. Braguinha, Dr. João Severiano, Dr. José de Azevedo. (Ir. Zenaide)

Os professores médicos que davam aulas eram Dr. Carlos

Vitor, Dr. Luiz Mauad, Dr. José Mauad, Dr. Barbosa, Dr. Gerson Dias, Dr. Gaspar, Florival Xavier, que era

farmacêutico e dava farmacologia). (Maria Celeste)

Nós tivemos médicos professores que trabalhavam

gratuitamente. No início, as Irmãs, as Enfermeiras, foi tudo

gratuito). (Ir. Myrthes)

Padre Agostinho dava aulas de religião, Dr. João Severiano

foi nosso professor de ginecologia, Dr. Cavi dava anatomia,

Dr. Mauad foi de cirurgia. (Maria Nirce)

Não obstante, o único depoimento que faz certa crítica espontânea à

condução das aulas de um professor médico, traz subjacente o reconhecimento do

capital cultural acumulado por esse médico, o qual lhe confere poder e prestígio no

espaço da Escola:

Aidé Serapião dava história da enfermagem8, Florival

Xavier dava farmacologia.Tinha o Dr. José Mauad, Dr. Cavi, Dr. Lulu, Padre Agostinho dava religião, Madre Marie

Ange dava ética. Dr. Cavi, me lembro ainda uma vez, ele

falava muito depressa. Eu disse: ‘Peraí, Dr. Cavi’. E ele: ‘Mas que é isso, Celeste, você acha que eu falo muito

depressa?’ Até para falar ele era rápido, e a gente parece

que é assim, mais distante, não é? Um médico e tal...

então, não era tão fácil, a gente ficava estudando até de noite. (Celeste).

As Irmãs da Providência, além de professoras do conteúdo teórico do

curso, atuavam no serviço de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia,

assumiam as enfermarias como supervisoras e responsáveis pela execução de

cuidados mais complexos, e ainda acumulavam as funções inerentes à

supervisão do estágio das alunas. Uma delas ocupava, ainda, o cargo de

Administradora da referida instituição, assegurando a essas Irmãs o controle do

processo de formação do habitus profissional das alunas, além de manter suas

posições de poder e prestígio no espaço da enfermagem da Santa Casa de

8 Esta disciplina integrava o currículo do curso de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem

Anna Nery, desde a sua criação, sendo regulamentada pelo Decreto de nº 27.426, de 1949.

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Misericórdia de Itajubá, como se infere nas falas seguintes:

Os estágios eram supervisionados geralmente por uma

religiosa, a diretora, a Ir. Maria de Lourdes, a chefe da enfermaria, e às vezes, até por uma auxiliar de enfermagem,

como no caso da Ir. Santana. (Maria Celeste)

Os estágios eram diferentes em obstetrícia, saúde pública e administração, porque a gente já assumia a direção [da Unidade] no final... eram as chefes que olhavam a gente,

todas religiosas. Tinha uma do plantão que não era enfermeira. (Maria Nirce)

No que se refere ao ensino de enfermagem na área de saúde pública, a

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz adotou o modelo de maletas de saúde

pública para uso nas visitas domiciliares, idênticas às da Escola de

Enfermagem Anna Nery para os estágios das alunas. Além disso, era exigido

das alunas o uso de uniforme9, tanto em salas de aulas, como nos estágios.

Esta exigência atendia as orientações da Lei n° 27.426/49, em seu Art. 66

(Disposições Gerais), que previa ser o uniforme obrigatório “durante os

trabalhos escolares”, corroboradas pelo Regimento Interno da Escola, no seu

Capítulo V, Art. 37 que, por sua vez, estabelecia: “As alunas são obrigadas a usar,

em aula e serviço, o uniforme da Escola”. Ressalta-se que o modelo do uniforme

também era semelhante ao da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEWB,

REGIMENTO INTERNO, 1956).

A obrigatoriedade do uso do uniforme, ratificada no Regimento Interno da

Escola (Foto 3), refletia o seu valor simbólico, pois “o uniforme representava a

mística da enfermagem encarnada em uma estratégia de igualdade e diferenciação

do grupo” (SANTOS e BARREIRA, 2002, p. 139). Desse modo, o uniforme

simbolizava o sentimento de pertença a um grupo, conferindo direitos e deveres a

quem o usava. Roche (2007) ressalta que o uniforme como um subsídio valioso, é

um treinamento, um recurso na educação da força individual controlada, pois

contribui para moldar atitudes e hábitos.

Para Bourdieu e Passeron (1992, p.21), o uniforme “caracterizava um

determinado grupo de sujeitos” – as enfermeiras – e realçava “as maneiras distintas

do grupo de posição mais elevada”, no sentido de demarcar a diferença, pois na

9 Segundo Ferreira (1986, p. 696), “uniforme é um modelo de vestuário que tem uma só forma

Semelhante, análogo. Vestuário feito segundo modelo oficial e comum, para uma corporação ou classe”.

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realidade o que estava em jogo não era apenas o uso do uniforme como imposição

ou símbolo de discriminação, mas sim “a excelência humana, aquilo que toda

sociedade reconhece no homem cultivado” (BOURDIEU e PASSERON, 1992, p.

16). Em outras palavras, o uniforme enunciava o capital cultural adquirido pelas

enfermeiras oriundas daquela escola, isto é, deveria evidenciar suas qualidades

construindo, assim, a sua imagem social.

Foto 3 - Alunas uniformizadas em sala de aula. Primeira Turma da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, 1955

Fonte: Arquivo Particular de Maria Celeste Fonseca

Na primeira fila, da esquerda para a direita, vêem-se as alunas Marieta

Martins Lopes, Celina Bittencourt Almeida e Edith Ribeiro de Oliveira. Na

segunda fila, da esquerda para a direita, as alunas Ir. Maria Nirce Rezende,

Maria Celeste Fonseca e Terezinha de Jesus Rennó.

As entrevistadas pronunciaram-se acerca do uniforme, ressaltando

apenas a descrição detalhada do mesmo, sem pontuar alguma análise acerca

da obrigatoriedade de sua utilização, o que denota a adesão inquestionável ao

seu uso:

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Vestido azul, avental branco, capa azul-marinho (quando

usado na rua), sapatos e meias brancas, redinha nos

cabelos. Eu trazia a pé o avental passado e engomado. Pendurava assim pelas alças e atravessava a cidade

inteira trazendo o avental para vir trabalhar. Mas era uma

satisfação! (Terezinha Rennó)

As alunas tinham um vestido azul. E tinha uma capa para

os dias festivos. Na época era bonito. Era bonito ver as

moças com aquela roupa, aquela capa. (Ir. Myrthes)

O uniforme era azul, o aventalzinho branco, meias

compridas brancas porque se dizia que as enfermeiras deveriam proteger as pernas do contágio. Tinha uma capa

azul marinho, que era para sair. (Maria Nirce)

Vale mencionar que a Foto 3 retratando as alunas em sala de aula,

juntamente com outras fotografias em que figuram alunas em traje de passeio e

com uniforme da formatura, foram exibidas a um profissional da moda, na

atualidade, e ele descreveu os três uniformes: um para as atividades na Santa

Casa e em sala de aula, o qual era composto por um vestido de tecido azul

claro, corpo abotoado na frente desde a cintura até o pescoço, com mangas

curtas, gola em bico e saia evasê. Sobrepondo-se ao vestido, um avental de

tecido branco, com um corpete de alças largas que se cruzavam nas costas,

amarrado na cintura com um laço do lado de trás, saia levemente franzida com

dois bolsos laterais, no mesmo comprimento do vestido: quatro dedos abaixo

dos joelhos. Os sapatos eram fechados e brancos, com meias compridas,

também brancas.

Quanto às características do uniforme, vale destacar que o avental branco:

quando em uso por cima do vestido, tinha a “função simbólica de subalternidade,

mas também era um recurso usado para proteção e defesa no que se refere à

contaminação no trato com os doentes” (PERES e BARREIRA, 2003, p.31).

O avental, peça do vestuário feminino usado desde o início do século

XVI, na França, por mulheres de todas as classes sociais, era mais comum

entre as mulheres das classes inferiores. Era visto de formas diferentes, pois

tanto podia ser uma peça de trabalho como de adorno, dependendo do tecido

de que era confeccionado, o meio e a circunstâncias em que era usado

(ROCHE, 2007).

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O traje de passeio era um vestido igual ao usado para as atividades na

Santa Casa e em sala de aula, porém na cor branca, sem o avental por cima,

substituído por uma capa de dupla face: do lado externo, era azul-marinho; do

lado interno, azul claro, com um único botão para fechar na altura do pescoço.

O uniforme da formatura composto de um vestido como o acima descrito,

na cor branca, tinha também uma capa semelhante, porém na cor branca em

ambas as faces. Em qualquer ocasião, os cabelos eram presos, fossem curtos

ou compridos, colocando-se por cima uma rede fina e uma touca com estilo

próprio da profissão, na cor branca, como uma forma de domesticação ou de

discipliná-los (LOYOLA, 1987). O cabelo solto, símbolo de sensualidade, não

era permitido.

A cor branca denota a decência, isto é, “contribui para difundir os

princípios, os meios e as energias das regras da roupa-branca asseada e

branca, testemunha da limpeza e da brancura dos corpos e das almas”

(ROCHE, 2007, p.177).

O branco do uniforme, a similaridade da touca, os sapatos e os cabelos

presos indicavam contornos de uma identidade singular. O uniforme e a touca

eram usados apenas por enfermeiras e não pelas profissionais práticas e

auxiliares de enfermagem, sendo, portanto “símbolo diferenciador de identidade

social e profissional, e até mesmo de status” (DAHER, 2000, p. 37).

2.3 Divulgação do Modelo de Enfermeira da Escola e Seleção das Candidatas como Estratégia de Manutenção da Ordem Social

Durante o primeiro ano de funcionamento, a Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz promoveu a divulgação do seu curso mediante veiculação de

notícias em jornais e a presença de professoras e alunas em eventos culturais

e sociais, com vistas a atrair candidatas do tipo considerado desejável. Tanto

assim que, após uma reunião das Antigas Alunas da Escola Normal Sagrado

Coração de Jesus, realizada no salão nobre da própria Escola, as alunas da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, uniformizadas, fizeram-se presentes.

Convidadas a subir no palco, foram apresentadas à platéia, sendo por todos

aplaudidas. Ao término dessa apresentação, muitas jovens ”manifestaram o

desejo de envergar o simpático uniforme da enfermeira”, conforme consta no

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Relatório Anual de Atividades (EEWB, 1955, p.74).

A Foto 4 registra a presença de alunas da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz no evento, significativa no sentido de reconhecer na ex-

normalista os atributos intrínsecos à natureza feminina e indispensáveis à

enfermeira, tais como docilidade e disciplina. Esse era um modo de perpetuar

o modelo de enfermeira enunciado pelas escolas de enfermagem da época. Na

opinião de Silva Junior (2000, p. 157),

o processo de seleção das candidatas visava extrair da sociedade brasileira, um contingente depurado, entre as mulheres, solteiras, diplomadas em escolas normais ou equivalentes e que pudessem comprovar sua boa conduta...

Foto 4 - Pose Grupal das Alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,

registrada no auditório da Escola Normal de Itajubá, em 1956 Fonte: Arquivo pessoal de Maria Celeste Fonseca

Na primeira fila, da esquerda para a direita, vêem-se as alunas Edith

Ribeiro de Oliveira, Nely Pinto Souza, Miriam Rezende Abreu, Alaíde Abreu

Magalhães, Maria do Carmo Macedo e Celina Bittencourt Almeida. Na segunda

fila, da esquerda para a direita, estão as alunas Nazareth Pivato, uma não

identificada, seguida por Terezinha de Jesus Rennó e Maria Celeste Fonseca.

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Na terceira fila encontra-se a aluna Maria Aparecida Ferraz.

As alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz participavam

também de diversas excursões a cidades próximas, visitando hospitais, centros

de saúde, escolas normais e secundárias, além de paróquias. Também

visitaram o 4º Batalhão de Engenharia e Combate de Itajubá, unidade do

Exército Brasileiro, sendo convidadas a participar do Desfile de Sete de

Setembro, em 1955, integrando o Corpo de Saúde daquele Batalhão.

Participavam ainda de reuniões e encontros universitários (EEWB, RELATÓRIO

ANUAL DE ATIVIDADES, 1955). A Foto 5 documenta um momento do evento

cívico.

Foto 5 - Desfile cívico do Dia 7 de Setembro de 1955, em Itajubá, com a Participação das Alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

Fonte: Arquivo Particular de Maria Celeste Fonseca

À frente, em destaque, o Dr. Orlando Sanches, médico do 4º Batalhão de

Engenharia e Combate. Na primeira fila, da esquerda para a direita, registram-

se as presenças das alunas Terezinha de Jesus Rennó; de um soldado não

identificado e Maria Celeste Fonseca. Na segunda fila, da esquerda para a

direita, estão as alunas Marieta Martins Lopes, Edith Ribeiro de Oliveira e

Celina Bittencourt Almeida. Por fim, nas terceira e quarta filas, figuram soldados

não identificados.

A disposição das alunas no espaço fotográfico, ocupando as primeiras

filas e próximas da autoridade militar, expressa o prestígio conferido à Escola e

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suas alunas em um evento de significativa importância para a Nação, pois as

posições nos diversos espaços sociais são determinadas pelo volume de

capital acumulado e pelo peso relativo desse capital.

As entrevistadas pronunciaram-se também acerca da eficácia simbólica

da divulgação do curso pelas alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz:

A escola chamou muito a atenção do povo, porque

naquela época não havia curso superior, assim para as

mulheres. Isso incentivou a população de Itajubá e com isso ela foi sendo divulgada pelas próprias alunas... por

intermédio de conversas as próprias alunas foi quem

divulgaram a escola. (Ir. Myrthes)

A enfermagem era pouco aceita, bem olhada na nossa

região. Madre Marie Ange nos levou em Paraisópolis,

Brasópolis, Santa Rita e Cristina. Ela nos levava, fazia uma palestra e no final nos apresentava e fazia questão

de dizer que estávamos fazendo enfermagem, e que eu

era uma Irmã. Elas iam de uniforme e de avental; eu ia de hábito branco. (Maria Nirce)

Assim, o trabalho empreendido no processo de divulgação e

recrutamento das candidatas junto à sociedade de Itajubá e das cidades

circunvizinhas, tinha o efeito simbólico de se fazer ver e de se dar a conhecer

em busca do reconhecimento social da escola e da profissão, de modo a

construir a identidade da enfermeira brasileira resguardando a moral da mulher

brasileira.

Recrutadas e selecionadas as alunas, a Escola foi inaugurada num

domingo, dia 6 de março 1955, com a seguinte programação: às 10h30min,

missa votiva rezada na Igreja Matriz, com a presença do “corpo docente e

discente, muitos fiéis dentre os quais autoridades e pessoas especialmente

convidadas”; às 14h00min, no auditório da Escola Normal e Ginásio Sagrado

Coração de Jesus, a aula inaugural proferida pelo Dr. Gaspar Lisboa10. Em

seguida, dirigiram-se à sede da Escola de Enfermagem, na Santa Casa de

Misericórdia para a bênção litúrgica das novas dependências e da casa onde

residiam as alunas do internato, a ser dada pelo Vigário Padre Agostinho Picard

(O SUL DE MINAS, 1955).

10 Dr. Gaspar Lisboa era médico do Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e professor da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, no período estudado.

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Além do cumprimento das exigências iniciais para o ingresso no curso, o

Artigo 7º do Capitulo III (Da Matrícula) do Regimento Interno da Escola previa a

inspeção de saúde das alunas, a ser realizada por médico designado pela

diretora da escola (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956). A esse respeito, no

arquivo pessoal das alunas, foram encontradas fichas com anotações de

exames médicos realizados nos meses de março e setembro de cada ano

letivo, pelo Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro, médico pertencente ao corpo clinico

da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e ao corpo docente da Escola, onde

lecionava Anatomia. As anotações, na grande maioria das fichas, referiam-se

ao peso corporal mensal, data de exame de abreugrafia11 e vacinação.

Além da preocupação com a construção do habitus profissional das

alunas, iniciado já no processo de seleção das candidatas, Madre Marie Ange

reconheceu a importância da criação do diretório acadêmico como estratégia

para atribuir à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz o caráter universitário

expressado na organização dos estudantes.

Assim, em 8 de junho de 1955, já no primeiro ano do funcionamento da

Escola, foi criado o Diretório Acadêmico, denominado “Diretório Acadêmico

Gaspar Lisboa” – DAGALI.12 As entrevistadas ratificam o envolvimento de

madre Marie Ange nesse empreendimento:

Foi da cabeça da Madre Marie Ange. Acho que ela que

quis para melhorar a escola. (Ir. Zenaide)

Surgiu da própria diretoria da Escola, da Madre Marie

Ange que era a alma de tudo. Acho que surgiu dela porque ela comandava tudo. (Maria Celeste)

Eu não sei porque foi criado. Eu até fui presidente. (Terezinha Rennó)

O Diretório Acadêmico, órgão representante do corpo discente da Escola,

caracterizava-se como entidade de caráter cultural sem fins lucrativos, tendo

como uma de suas finalidades “zelar pelo interesse do corpo discente, pelo bom

11

Este exame tinha como finalidade comprovar a inexistência da tuberculose, visto que o mesmo era uma prática sanitária adotada à época, como um recurso de controle e combate da doença (RIZZOTTO, 1999).

12 Em homenagem ao Dr. Gaspar Lisboa, médico e professor da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.

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nome da escola e seu patrimônio educacional e pelo aprimoramento cultural e

espiritual de seus membros” (DAGALI, ESTATUTO INTERNO,1955).

Na ata da primeira reunião do Diretório Acadêmico, consta que estiveram

presentes, além dos membros da sua diretoria13, a diretora da Escola, Irmã

Zenaide, e a secretária, Madre Marie Ange; e o presidente do Diretório

Acadêmico do Instituto Eletrotécnico de Itajubá, Arnaldo Iassim, então

estudante. Além dos assuntos relativos à organização do Diretório e elaboração

de seus Estatutos, foi também abordada a questão de sua filiação à União

Nacional dos Estudantes (UNE).

A criação do Diretório Acadêmico definia a posição da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, colocando-a no padrão de escola superior, como

todas as outras que pertenciam àquela organização central de estudantes, que

reunia todos os estudantes do Brasil – a UNE. Deste modo, as alunas podiam

se fazer presentes nas atividades organizadas pelos órgãos estaduais e nos

Congressos. Este foi um recurso utilizado pela Escola de Enfermagem em

relação à política estudantil, quando permitia que suas alunas tomassem parte

de eleições e de outras atividades de interesse acadêmico.

Nas primeiras reuniões do Diretório, quando da elaboração do seu

Estatuto, Madre Marie Ange fez-se presente, auxiliando nas discussões dos

assuntos da pauta. Na ata da reunião de dois de outubro de 1955, referente à

4ª reunião do Diretório, dentre outros assuntos, ela assim se pronunciou: “Agora

que o nosso Diretório Acadêmico é filiado à União Nacional dos Estudantes,

deveríamos trabalhar para a melhora, ou seja, a extirpação das falhas maiores

observadas no Congresso”. O evento científico ao qual ela se referiu foi o XIV

Congresso da UNE, realizado em Itajubá naquele mesmo ano, quando houve a

participação das alunas da Escola (DAGALI, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS DO

DIRETÓRIO, 1955).

As atividades desenvolvidas pelo Diretório Acadêmico em suas reuniões,

eram compostas de informes gerais, leitura de correspondências recebidas, que

após discussão para os encaminhamentos solicitados, tinham o cuidado de

responder. Várias correspondências da UNE foram recebidas, e dentre elas, no

13 A composição da primeira Diretoria era a seguinte: Presidente - Edith Ribeiro de Oliveira; Secretária -

Terezinha de Jesus Rennó; Tesoureira - Maria Celeste Fonseca e pela Bibliotecária - Irmã Maria Nirce Rezende de Abreu.

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mês de março de 1956, uma solicitando a participação das alunas na

paralisação programada para o mês de abril. Após diálogo entre os

componentes da Diretoria,

ficou resolvido que a participação das alunas da Escola Wenceslau Braz seria simbólica, uma vez que a enfermeira, em virtude da sua elevada e apostólica missão, não deve suspender os estágios e estudos, o que resultaria em prejuízo para os enfermos. (DAGALI, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1955)

Assim, as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Providência de Gap,

lideradas por Madre Marie Ange, foram eficazes no sentido de implantar e

consolidar o modelo de ensino da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,

consubstanciado pelo modelo Anna Nery, ao mesmo tempo em que evidenciou

o trabalho das religiosas na formação de recursos humanos, assegurando suas

posições de poder no espaço assistencial da enfermagem da Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá.

2.4 A Recepção da Touca como Ritual de Solenização do Modelo de Enfermeira para Itajubá

O primeiro rito de passagem ao qual era submetida a aluna da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, refere-se ao ritual de recepção de touca quando

aprovada no estágio probatório, pois significava que obtivera aprovação na

primeira etapa do curso, sendo considerada apta a ingressar efetivamente no

corpo discente da Escola. Para Santos (2004, p.83), a cerimônia da “Recepção

da Touca” era o primeiro evento de grande força simbólica, significando “a

integração efetiva da aluna ao corpo discente”, isto é, demonstrava que a aluna

obtivera “o domínio de si mesma e a devoção à causa da Enfermagem”.

Ademais, o ritual em questão evocava a “mística da profissão, definida como

valor essencial, e constituía simultaneamente estratégia de igualdade e

distinção do grupo”.

Analisando o rito de passagem, Silva Júnior (2000, p.120-121) afirma

tratar-se de um ritual, “tradição inventada, trazida na bagagem das enfermeiras

norte-americanas”, tendo como objetivo a demonstração pública da implantação

da enfermagem moderna no Brasil. Afirma, também, que é uma encenação “da

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passagem de um estágio inferior para outro mais adiantado na adoção do ethos

profissional”, inserido na tipologia de ritual de revitalização: renovação do

compromisso para com as motivações e valores dos participantes do ritual. Isto

é, são importantes e sagrados, visto que mantêm a coesão social entre os

profissionais. A touca fazia parte também do uniforme das alunas da Escola de

Enfermagem Anna Nery e do uniforme das alunas da Escola Saint Thomas, em

Londres, Inglaterra, fundada por Florence Nightingale (DAHER, 2000).

Assim, os rituais não demarcam apenas a passagem de um estado a

outro, mas simbolizam a incorporação de um habitus profissional consoante as

expectativas sociais ligadas à sua categoria.

Consta nos documentos que o ritual de recepção de touca ocorreu a

partir da segunda turma que iniciou o curso em 1956, ou seja, a segunda turma

da Escola. Para essa cerimônia, realizada no salão nobre da Santa Casa de

Misericórdia, a Escola escolheu o Dia das Mães (naquele ano comemorado no

dia 13 de maio). Estiveram presentes, além da diretoria da Escola, parte do

corpo docente, do corpo discente, familiares e amigos da alunas.

A programação constou de: 1) Hino da enfermeira, entoado pelas alunas;

2) Oração da Enfermeira, de Maria Eugênio Celso, pela aluna Celina Bittencourt

Almeida; 3) Canto Orfeônico denominado “O trabalho”, pelas alunas; 4)

Declamação da poesia “A mão que nunca falha”, de Guilherme de Almeida,

pela aluna Maria Aparecida Ferraz, e por último, o Hino das Mães, pelas alunas.

Na ocasião, Madre Marie Ange falou sobre a importância e magnitude do

momento e ressaltou o significado da touca para a enfermeira, enfatizando

touca constituir-se a mesma em um símbolo nobre e humanitário para a

profissão. De certa forma, todas as fases do ritual, do preparo à sua realização,

valores, normas de condutas e habitus foram inculcados, visto que as alunas,

sujeito do ritual, foram conduzidas irreversivelmente a assumir um compromisso

especial ou obrigatório (DAHER, 2000).

Em seguida, as mães fizeram a colocação da touca em suas respectivas

filhas, que cantaram o Hino da Enfermeira, após o que e todos os presentes

foram convidados a comparecer às dependências da Escola, onde foi-lhes

oferecida uma “lauta mesa de doces” feitos pelas próprias alunas durante a aula

de Dietética (O SUL DE MINAS, 1956). Assim, deste dia em diante, a touca

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confeccionada em tecido branco, fino, passou a ser um complemento

obrigatório do uniforme das alunas, devendo estar sempre engomada (DAHER,

2000).

O Hino das Enfermeiras enquanto parte do ritual da entrega da touca,

teve o efeito simbólico de proclamar a identidade da emergente profissão

feminina, pois os rituais legitimam o grupo que protagoniza tal ritual, além de

ratificar o poder das autoridades que o instauram. Ademais, a analise do teor do

hino das enfermeiras evidenciou atributos intrínsecos à natureza feminina como

caridade e abnegação, considerados importantes para legitimar a nova

profissão.

A cerimônia descrita foi divulgada em jornais da região, numa

demonstração pública da implantação da enfermagem moderna em Itajubá, o

que era permitido pelo contexto sócio- político da época, concorrendo para

reforçar as características de solidez e importância de uma solenidade. No caso

de Itajubá, esta foi uma estratégia, que ao divulgar um símbolo – a touca da

enfermeira – alargou as bases da diferenciação e da inovação, numa atividade

pré-concebida, que enaltecia a enfermagem ensinada e praticada na capital da

República, pela Escola de Enfermagem Anna Nery.

Pelo exposto, confirma-se o pensamento de MacLaren (1991, p. 30) no

sentido de que um ritual pode fazer parte de um conjunto de eventos políticos,

ligados ao capital cultural dominante em uma escola, elevado “às brumas do

simbólico”, destinado a criar e a manter grupos sociais.

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CAPÍTULO 3

A CONSOLIDAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: O RECONHECIMENTO E

A TRANSFERÊNCIA DE MANTENEDORA (1956 – 1959)

O presente capítulo discute a eficácia simbólica das estratégias

empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para

consolidar a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, e apresenta

uma descrição breve do contexto histórico-social em que ocorre o seu

reconhecimento e a transferência de mantenedora, eventos considerados

significativos para a Escola no que se refere à demarcação do seu espaço no

campo da educação em enfermagem, com repercussões expressivas no

processo de profissionalização das Irmãs de caridade e na manutenção da

exclusividade que tinham, tanto na administração como nos cuidados dos

doentes internados na Santa Casa de Misericórdia.

O contexto em que se insere o capítulo abrange os primeiros anos do

Governo de Juscelino Kubitschek, que se caracterizou como um período de

estabilidade política, embalado por alto índice de crescimento econômico. Os

“cinqüenta anos em cinco” da propaganda oficial repercutiram em amplas

camadas da população. Os pressupostos do Programa de Metas evidenciavam

uma política econômica – nacional – desenvolvimentista, com resultados

extraordinários no setor industrial, com amplo crescimento nas indústrias do

aço, mecânicas, de eletricidade e comunicações e de material de transporte

(FAUSTO, 2003).

Vale lembrar que, em relação ao ensino de enfermagem, até 1959 havia

uma preponderância de escolas religiosas, em número de 23, do total de 35

escolas criadas no Brasil, sendo que na década de 50, em especial, surgiram

dezesseis novas escolas de enfermagem no país, onze das quais pertencentes

a congregações religiosas, uma evangélica, duas federais e duas estaduais.

A preocupação em criar escolas católicas de nível superior foi discutida

amplamente no Concílio Plenário Brasileiro, realizado na cidade do Rio de

Janeiro em 1939, uma vez que a Igreja reconheceu a necessidade de mobilizar

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estratégias capazes de manter suas posições de poder e prestígio na

sociedade brasileira, mediante imposição de uma ordem moral no Brasil.

Esse número significativo de escolas católicas reflete a participação das

enfermeiras religiosas na difusão dos princípios da Igreja Católica, ameaçados

em virtude das mudanças do mundo contemporâneo (ALMEIDA FILHO, 2004).

No que tange à educação das mulheres desde o início do século XX, as

escolas e cursos especializados deveriam oferecer um ensino desenvolvido por

educadores católicos, tendo como uma de suas finalidades “a capacitação de

mulheres para assumir sua missão no mundo moderno” (BENCOSTA, 2001,

p.129); isto é, ser formada para profissões essencialmente femininas. Ademais,

é pertinente assinalar que as religiões monoteístas fizeram da diferença e da

desigualdade dos sexos um de seus fundamentos (PERROT, 2007, p. 85) ao

legitimar a repartição dos papéis sexuais, através de rituais que destacavam as

práticas convenientes ao sexo.

Carvalho Filho (1983, p. 172) afirma que “o Clero pretendia cristianizar a

elite intelectual, depois e através desta, toda a sociedade”. No entanto, na

Associação Brasileira de Enfermagem1 (ABEn) havia um grupo de enfermeiras

cujas opiniões contrárias à ampliação do número de escolas de enfermagem no

País, sob a alegação de que não estariam as mesmas adequadamente

preparadas para formar enfermeiras de nível superior.

Madre Marie Ange, ao tomar ciência dessas alegações, redigiu duas

cartas: uma para Maria Rosa de Souza Pinheiro, então presidente da ABEn, e

outra para Glete de Alcântara, Presidente da Comissão de Educação da mesma

Entidade e Diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, no Estado de

São Paulo. Essas cartas foram enviadas em 2 de junho de 1956, dezenove dias

antes da visita da Comissão do Ministério da Educação e Cultura, encarregada

de avaliar as condições da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz com vistas

ao seu reconhecimento.

A iniciativa de Madre Marie Ange em solicitar o pronunciamento dessas

personalidades da enfermagem evidencia uma estratégia da religiosa no

1 Em 21 de agosto de 1954, durante o VII Congresso Nacional de Enfermagem, a Associação de

Enfermeiras Diplomadas (ABED), criada em 1926 e regulamentada em 1928, em regime de subordinação ao Serviço de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), recebeu nova denominação: Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) (CARVALHO, 1976).

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sentido de utilizar o discurso legítimo de porta-vozes autorizadas da

enfermagem brasileira, à época, como arma na luta simbólica pelo

reconhecimento da citada Escola, pois, de acordo com Bourdieu (2001a, p.101),

o porta-voz autorizado é aquele que “cumpre, ou cabe falar em nome da

coletividade; é ao mesmo tempo seu privilégio e seu dever, sua função própria;

em suma, sua competência”.

As cartas em tela, contemplavam duas perguntas: “1ª) Essas escolas de

enfermagem consideradas “fracas” são em geral, ou em sua maioria, dirigidas

por religiosas? 2ª) Quais são as falhas principais que lhes apontam?” (EEWB,

CARTA, MADRE MARIE ANGE,1956).

Maria Rosa Sousa Pinheiro não respondeu a primeira pergunta e, na

oportunidade, manifestou sua admiração pessoal à figura de Madre Marie Ange,

ressaltando sua dedicação às causas da enfermagem:

A admiração que tenho pela sua inteligência, energia e visão dos problemas de enfermagem é a mesma admiração que me faz desejar intensamente que a senhora fosse ou venha a ser no futuro uma enfermeira, levam-me a usar do máximo de franqueza possível no caso. (CARTA, MARIA ROSA DE SOUZA PINHEIRO,1956)

Acrescentando que a segunda resposta explicaria as questões

enunciadas na primeira pergunta apontou, de maneira geral, as falhas das

escolas de enfermagem consideradas “fracas”: I) ausência de corpo docente

preparado; II) direção não esclarecida sobre os objetivos das escolas de

enfermagem; e III) deficiência de recursos materiais.

Glete de Alcântara também se absteve de responder a primeira pergunta

e emitir julgamento, alegando desconhecer o funcionamento de grande parte

das escolas de enfermagem; quanto à segunda pergunta, corroborou a opinião

da Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem.

Diante dessas respostas, Madre Marie Ange recorreu à enfermeira

Haydeé Guanais Dourado2, então presidente da Comissão de Legislação da

ABEn, enviando-lhe uma carta com idêntico teor, em 26 de julho do mesmo

ano. Cumpre informar que a enfermeira Haydeé tivera oportunidade de estar na

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em visita não oficial, em período

2 Haydée Guanais Dourado mantinha com Madre Marie Ange uma estreita amizade, inclusive trocando

correspondências particulares.

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antecedente ao recebimento da carta. A resposta de Haydeé ao pleito de Madre

Marie Ange encontra-se transcrita a seguir:

Penso não deve ser objetivo da Escola desenvolver-se em estabelecimento de ensino superior. A zona em que se encontra e, principalmente, a atmosfera de trabalho na humildade cristã da Providência, dão-me a convicção de que essa é uma escola que poderá tornar-se modelar, e causar justo orgulho a todas nós, como estabelecimento de ensino de grau médio, do ciclo de técnico, tal como o é o curso normal. Não é de escola de auxiliares de enfermagem que estou cogitando, entende-me. (EEWB, CARTA, HAYDEÉ G. DOURADO, 1956)

Diante das respostas inconclusivas, Madre Marie Ange decidiu-se pela

continuidade das providências que já vinha adotando relativas ao

reconhecimento da Escola. No plano simbólico foram adotadas medidas

administrativas: em 9 de março de 1956, a provedoria da Santa Casa de

Misericórdia de Itajubá encaminhou um ofício ao Diretor do Departamento de

Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, solicitando o

reconhecimento da Escola; em 17 de abril do mesmo ano, foram designadas as

enfermeiras Isaura Barbosa Lima3 e Abyael Maria de Souza4, representantes do

Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, para a

inspeção da Escola para fins de reconhecimento.

Ao encaminhar o ofício solicitando o reconhecimento da Escola, a

provedoria atendia ao disposto no Art. 53 do Decreto nº 27.426, de 14 de

novembro de 1949, que regulamentava os cursos de enfermagem. O Artigo em

questão previa que, decorrido o primeiro ano letivo, o diretor do

estabelecimento obrigava-se a requerer, dentro de sessenta dias, o

reconhecimento do curso, sob pena de ter cassada a autorização, visto ser esta

apenas de caráter condicional. (BRASIL, 1959).

A designação das enfermeiras pelo Ministério da Educação e Cultura para

3 Isaura Barbosa Lima, formou-se na primeira turma da Escola de Enfermagem Anna Nery, em 1925. No

ano seguinte fez parte da Primeira Diretoria Provisória da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ABED) onde, nos anos posteriores, participou ativamente desta Associação. Atuou também como enfermeira de saúde pública federal por vários anos, ocupando diversos cargos em diferentes Estados. Em 1944 foi designada chefe de seção de enfermagem na Divisão de Organização Sanitária (DOS) do Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Educação e Saúde. Realizou mais de 20 inspeções entre escolas de enfermagem e de auxiliares de enfermagem, com a finalidade de reconhecimento ou autorização de funcionamento. Sob a forma de folhetos do DOS e publicações na Revista Brasileira de Enfermagem, contribuiu cientificamente para o desenvolvimento da Enfermagem Brasileira (ROCHA; BARREIRA, 2002).

4 Abyael Maria de Souza, enfermeira, foi vice-presidente da ABEn-Seção Pernambuco em 1949 e orientou a fundação da ABEn-Seção Paraíba em 1954 (CARVALHO, 1976).

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a visita de inspeção foi comunicada às Irmãs, através de um telegrama datado

de 25 de abril de 1956. Ainda naquele mês, a Escola recebeu as representantes

daquele Ministério, e também do o Sr. Antonio Francisco Gomes, Inspetor

Federal, que executaram a visita técnica no período de 21 a 24 de junho do

referido ano, para concluir o processo de reconhecimento da Instituição de

ensino.

Por ocasião dessa visita, divulgada em julho no jornal “O Sul de Minas”

em julho de 1956, as representantes do Departamento de Ensino Superior

ficaram hospedadas na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá a fim de

proporcionar “mais facilidade e tempo para uma inspeção cuidadosa e

completa”, de acordo com a matéria jornalística. Esta divulgação ratifica o

pensamento de Bourdieu de que a “luta pela identidade se fundamenta no

reconhecimento dos outros” (BOURDIEU, 2001a, p.111).

Durante a visita de inspeção, tiveram a oportunidade de proferir palestras

para as alunas, quando observaram o idealismo que as animava “e a

consciência de sua vocação” (O SUL DE MINAS, 1956). Além disso, assistiram

a “uma aula de anatomia sobre artérias e veias, com aula prática desenvolvida

com cadáver”, ministrada pelo Dr. José Chaibem Mauad. A notícia foi encerrada

com os seguintes dizeres, referindo-se à enfermeira Isaura Barbosa Lima:

“Mulher inteligente, soube perceber o imponderável: a alma da Escola, o

espírito que a anima enchendo todos os cantos, plasmando pouco a pouco, a

alma da enfermeira ideal” (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1956).

O relatório elaborado pela Comissão, parcialmente transcrito a seguir, e

também publicado no mesmo Jornal, foi favorável à Escola, tanto assim que em

18 de dezembro de 1956, pelo Decreto Federal nº 40.572, ela foi reconhecida

oficialmente, cerca de 2 anos após o início de seu funcionamento e antes da

formatura da primeira turma, que ocorreu em março de 1958:

I – A organização administrativa e didática da Escola obedece às exigências fixadas em lei federal. II – O número de professores em relação às alunas é satisfatório. III – A comunidade constituída de 68.000 habitantes em seu perímetro urbano mostra-se voluntariamente interessada em colaborar com a Escola para seu maior desenvolvimento. IV – Os campos de estágio prático oferecem facilidade à natureza do ensino. V – A sede provisória da escola será substituída por uma construção própria, para a qual já estão sendo tomadas providências.

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Por fim, em face do exposto e do grande empenho da Diretoria da Escola, do seu corpo docente e discente e do interesse manifestado pela Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá em formar pessoal para render boa enfermagem à população da localidade, opinamos favoravelmente ao reconhecimento da Escola em lide

O Decreto Federal referente ao reconhecimento da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz foi publicado no Diário Oficial da União no dia 10

de janeiro de 1957, conforme fac símile:

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3.1. A Formatura da Turma Pioneira como Rito de Consagração da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

A solenidade de formatura da primeira turma de enfermeiras da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, no dia 09 de março de 1958, contou com cinco

formandas: três leigas e duas religiosas da Congregação. A missa de Ação de Graças

foi oficiada na Capela da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, às 08:30h, e à noite,

às 19:30h foi realizada a cerimônia de Colação de Grau, no Salão da Escola Normal e

Ginásio Sagrado Coração de Jesus. Compareceram à cerimônia vários médicos do

Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, e também alguns que

atuavam como professores da Escola, dentre outros, além da presença de

autoridades locais civis, militares e eclesiásticas.

A importância desse ritual reside na possibilidade de notificar a

identidade de um grupo que aspirava ao reconhecimento social, uma vez que

os rituais, enquanto atos institucionais, têm o poder de agir sobre o real e sobre

a representação desse real, porque sancionam a nova ordem social

estabelecida.

A obtenção do diploma de enfermeira pelo grupo de alunas da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz ao tempo em que assegurou formalmente uma

competência específica, também determinou a incorporação de um habitus

profissional consoante as expectativas sociais ligadas à sua categoria, uma vez

que o diploma confere

a posse de uma cultura geral, tanto mais ampla e extensa quanto mais prestigioso for esse documento; e inversamente, que é impossível exigir qualquer garantia real sobre o que ele garante formal e realmente, ou se preferirmos, sobre o grau que é a garantia do que ele garante. (BOURDIEU, 2007, p. 29).

Desse modo, os portadores dos diplomas são compelidos a

incorporarem os atributos que estatutariamente lhes são conferidos. A Foto 6, a

seguir, registra o evento.

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Foto 6 – Pose Grupal após a Sessão Solene de Colação de Grau da Primeira Turma de Enfermeiras da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

Fonte: Arquivo particular de Maria Celeste Fonseca

Na foto, da esquerda para a direita, aparecem sentadas Madre Marie

Ange, secretária da Escola, seguida de duas formandas: Ir. Myrthes Rennó5 e

Maria Celeste Fonseca; a diretora, Ir. Zenaide Nogueira Leite, e as formandas

Celina Bittencout Almeida, Ir. Maria Nirce Rezende Abreu6 e Terezinha de

Jesus Rennó.

Na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, figuram onze homens,

com as mãos para trás, com exceção da figura central, o Vigário da cidade,

cujas mãos estão apoiadas na cadeira onde se encontra sentada a Ir. Zenaide.

Os cinco primeiros são médicos da Santa Casa de Misericórdia e professores

da Escola, a saber: Dr. João Severiano Ribeiro, Dr. Luís Pereira de Toledo, Dr.

José de Araújo Barbosa, Dr. José de Mauad e Dr. Antonio Braga Filho. A sexta

figura, no centro da composição fotográfica, é o Padre. Agostinho Picard que

tem à sua esquerda (sétima e oitava figuras da composição fotográfica) os

médicos Gaspar Lisboa, Paraninfo da turma, e Orlando Sanches As demais

pessoas fotografadas, nona, décima e décima primeira são, respectivamente, o

5 Ir. Myrthes Rennó e Terezinha de Jesus Rennó, são irmãs. 6 Quando se formou, Maria Nirce Rezende Abreu era religiosa da Congregação das Irmãs da Providência

de Gap,. Hoje não mais pertence à Congregação.

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Deputado Estadual Antonio Aureliano Chaves de Mendonça; o Prefeito Sr.

Antonio Rennó Pereira e o Comandante do 4º Batalhão de Engenharia e

Combate, Tenente Coronel Eduardo Congro.

Na terceira fila, também de pé, da esquerda para a direita, vêem-se dois

homens, ambos médicos e professores da Escola, sendo que o primeiro, o Dr.

Antonio Edilberto Lisboa, figura entre o segundo e o terceiro personagens da

segunda fila; e o segundo, Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro, está entre a sexta e

a sétima figuras, também da segunda fila.

A foto evidencia a predominância das figuras masculinas (treze homens

e sete mulheres) em evento relacionado a uma profissão feminina. Esse dado

ganha mais expressividade quando articulado ao fato de 9 dos 13 homens

serem médicos e professores da Escola. As mulheres estão sentadas ficando,

desta forma, em plano inferior ao dos homens que se encontram todos em pé e

perfilados atrás das cadeiras, em atitude de prontidão, com os olhares

direcionados para a máquina fotográfica, com exceção do último à direita, o

Comandante do 4º Batalhão de Engenharia e Combate que, com atitude altiva,

olha para a frente, mas não para a câmara fotográfica.

Os homens apresentam-se de terno e gravata, com exceção do Vigário,

que usa batina preta. As formandas religiosas, a diretora e a secretária estão

com o hábito de cor preta; as leigas trajam o uniforme de gala, todo branco, isto

é: vestido, meias longas e sapatos, e por cima do vestido, uma capa; na

cabeça, a touca de enfermeira sobre os cabelos presos que emolduram seus

rostos.

A fotografia registra duas figuras-tipo de enfermeira enunciadas pela

Escola: a religiosa e a leiga. As formandas leigas expressam em suas

fisionomias um discreto sorriso; já as religiosas estão sérias, com exceção da

segunda à esquerda, Ir. Terezinha Rennó, que sorri discretamente.

O uniforme, enquanto “signo de adesão”, solidariedade, hierarquia e

exclusão, é um dos códigos de leitura social (ROCHE, 2007, p.47). A diferença

dos trajes das formandas revela uma história de aquisições individuais e

sociais, fazendo com que haja o reconhecimento do grupo.

A capa tem origem na “toga”, espécie de manto usado pelos romanos em

todos os atos oficiais, civis, militares ou religiosos, ou quando apareciam em

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público, em tempos de paz. De uso exclusivo dos que possuíam bens, era

proibido aos escravos, estrangeiros ou condenados; confeccionado na cor

branca, em forma elíptica, tinha os cantos inferiores levemente arredondados

(GONÇALVES, 2006).

O uso do uniforme com a capa pelas alunas era obrigatório em rituais

institucionais (recepção de touca e formaturas) e em visitas oficiais às escolas

normais e às instituições militares. Eram considerados signos exteriores aos

seus corpos comedidos, que deveriam indicar a posição social do grupo através

de marcas distintivas, pois os códigos que regem a forma da manifestação

pública, tais como a etiqueta das cerimônias, os gestos, os emblemas e o

ordenamento oficial dos ritos, constituíam os elementos visíveis de um sistema

de condições que produzem a disposição ao reconhecimento social do grupo.

Além disso, no que se refere à condição da mulher na sociedade, eram

percebidos como “códigos bastante precisos”, que deveriam reger “a aparição

das mulheres em público” (PERROT, 2007, p. 50).

Quanto ao prestígio conferido aos representantes da Igreja Católica, é

notório pela disposição das pessoas no arranjo fotográfico, uma vez que as

religiosas ocupam o primeiro plano da composição. A autoridade eclesiástica,

na segunda fila, também tem posição de destaque no centro da fotografia. A

análise dessa disposição leva à constatação de que as classificações dos

agentes são determinadas pela posição ocupada individualmente no espaço

social e que, em função dessa posição, por definição relativa, elas têm um valor

determinado (PINTO, 2000).

Não obstante, a distribuição espacial dos médicos da Santa Casa de

Misericórdia no espaço fotográfico reflete a luta pelo reconhecimento de sua

competência na formação das enfermeiras da Escola de Enfermagem

Wenceslau Braz, uma vez que a força simbólica que os agentes podem

mobilizar na luta pelo exercício legítimo do poder, está condicionada por sua

posição e autoridade conquistadas naquele campo.

Nesse sentido, vale observar que o Paraninfo da turma ocupa lugar de

destaque na composição fotográfica, ou seja, ao lado da autoridade religiosa,

visto que tinha a prerrogativa de falar em nome dos professores, sendo

reconhecido por esse mesmo grupo como seu porta-voz autorizado. A eficácia

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simbólica de suas palavras é exercida “na medida em que a pessoa-alvo

reconhece quem a exerce como podendo exercê-la de direito” (BOURDIEU,

1989, p. 95), contribuindo para consagrar a autoridade científica dos médicos.

Os depoimentos abaixo evidenciam esse reconhecimento no processo de

escolha do paraninfo da turma de enfermeiras:

Foi realizada por uma votação verbal para aquele que mais se dedicou. (Maria Celeste)

Ah! Deve ter sido uma votação... eu não me lembro bem. (Terezinha Rennó)

Fomos nós, a turma escolheu. (Ir. Mirthes)

As formandas exibem em suas mãos o diploma de enfermeira, que

representa o reconhecimento institucional do capital cultural adquirido que

confere legitimidade à sua prática profissional. O ritual da entrega do diploma

significa a “formação e transmissão de uma competência técnica e de seleção

dos tecnicamente mais competentes” (BOURDIEU, 1998, p.39).

A diferença entre os sexos marca os corpos das mulheres, uma vez que

se inscrevem sob a forma de hexis corporal (PERROT, 2007, p 42). Tal

diferença pode ser visualizada na expressão corporal registrada no texto da

fotografia: as mulheres estão sentadas com as colunas vertebrais eretas, as

pernas juntas e as mãos repousadas sobre as coxas. Seus corpos devem

transmitir uma mensagem de moralidade e de ética através de gestos que

funcionam como cerco invisível (PORTO, 2007, p. 128) que se funda na

hierarquia entre os sexos, o que para muitos é o fundamento da ordem social

(PERROT, 2007, p. 62).

Bourdieu (2003) considera o cerco como uma espécie de limitação do

território deixado aos movimentos e deslocamentos do corpo ou à presença do

corpo no espaço. Desse modo, a posição e a postura corporal das mulheres na

composição fotográfica evidenciavam as distinções entre o masculino e o

feminino.

Durante o ritual de colação de grau, o Dr. Luís Pereira de Toledo, 1º

Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, como representante

do Dr. Wenceslau Braz, então Provedor da referida Instituição, congratulou-se

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com as formandas, ressaltando a “feliz e acertada escolha do paraninfo”. Em

seguida, teceu-lhe elogios pelo esforço e dedicação para com a Escola de

Enfermagem: “um dos mais entusiastas obreiros da Escola de Enfermagem, da

qual desde o início, se tornou brilhante e devotado mestre” (EEWB, DISCURSO

DO VICE-PROVEDOR, 1958).

A oradora da turma, Terezinha de Jesus Rennó, ao proferir as suas

palavras, agradeceu aos mestres, ao patrono da Escola, ao Dr. Wenceslau Braz

e, por fim, aos pais. Referindo-se ao paraninfo da turma, suas palavras

enalteceram a contribuição dada à Escola, ao tempo em que evocava alguns de

seus atributos, como bondade, renúncia e amor ao próximo:

Incansável batalhador de nobres causas. De sua inteligência esclarecida recebemos a ciência, de seu coração, bondade. De seu exemplo silencioso, lições de renúncia, desprendimento, senso de responsabilidade, entusiasmo e amor à vocação. (EEWB, DISCURSO DA ORADORA DA TURMA, 1958).

O Paraninfo da turma ressaltou que o seu discurso correspondia à

última aula do curso da Escola. Suas palavras enunciaram o compromisso

perene com a profissão e ressaltaram as qualidades da enfermeira,

intrínsecas à natureza feminina: “humildade, fé, caridade, firmeza, decisão,

discrição, forças, modéstia, paciência, perseverança”, acrescentando que

tais virtudes eram indispensáveis à prática da enfermeira: “cabal

desempenho de suas atribuições” (O SUL DE MINAS, 1958).

O discurso do paraninfo evidencia a divisão hierarquizante do mundo

social em masculino e feminino, confirmadas nas palavras de Bourdieu (1999,

p. 20) de que “a diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo

masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre

os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença

socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do

trabalho”, trazendo à lume o conhecimento e o reconhecimento práticos da

fronteira entre o masculino e o feminino (OLIVEIRA, 2007, p. 83).

A formatura da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz tornou o grupo

manifesto para si e para os outros, uma vez que o “ritual institucional é um ato

de comunicação e legitimação de uma identidade” (BOURDIEU, 2001a, p.

101) que reforça o compromisso das formandas com a profissão, pois “a

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instituição de uma identidade atribui uma competência que, ao mesmo

tempo em que impõe um direito de ser, é também um dever ser”

(BOURDIEU, 2001a, p. 100), em que aquele que é instituído sente-se

intimado a incorporar disposições consoante o capital cultural

institucionalizado.

Na foto da Sessão Solene de Colação, ao fundo do cenário, vê-se a

Bandeira Nacional, símbolo da identidade da Nação, evocando o patriotismo na

formação das enfermeiras.

É possível dizer, então, que a Igreja Católica, na figura das Irmãs da

Congregação da Providência de Gap, mobilizou estratégias mantendo, desta

forma, suas posições de poder e prestígio na sociedade brasileira mediante

imposição de uma ordem moral no Brasil, ao formar enfermeiras que se

constituíram em uma elite capaz de atuar numa conjuntura mobilizada pelo

crescimento, desenvolvimento tecnológico e impulso da industrialização. Desta

forma, o sentimento patriótico associado ao cristão, mescla-se com o ideário de

servir à Pátria.

Durante a cerimônia de formatura houve a passagem da lâmpada7,

quando uma das formandas passou a lâmpada para uma aluna do segundo ano

gesto considerado o ponto alto do ritual de formatura (PORTO, 2007, p. 136).

A lâmpada entra para a história formalmente a partir da Enfermagem

Moderna, tendo como marco Florence Nightingale, a “dama da lâmpada” como

se tornou conhecida, visto tê-la usado sistematicamente para observar e cuidar

de soldados feridos durante a Guerra da Criméia, na Rússia, onde atuou como

enfermeira.

Santos (2004, p.85) afirma que, nas solenidades de formatura, a

lâmpada integra o ritual quando “é acesa sempre por uma enfermeira, cujas

qualidades superiores a dignificam a personificar esses ideais”, e que a

transferência dessa chama simboliza

o compromisso compartilhado de manterem vivos os ideais da enfermagem, e reforçava o voto, o compromisso, a fé e a fidelidade das alunas perante a instituição e a enfermagem, emprestando caráter mais grave ao momento.

7 A lâmpada, símbolo da enfermagem, “é um utensílio de cobre, ferro ou barro cozido,

constando de um átrio fechado onde é colocado azeite ou óleo, um bico onde é introduzido o pavio que fica em contato com o combustível e que, por capilaridade, ao ser ateado o fogo, acende e alimenta uma chama para iluminação” (HIRATA, 1995, p.150).

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Para Silva Júnior (2000, p.123-124), o ritual de formatura demarca a

chancela para o exercício profissional; é um “rito de passagem pós-liminar

de incorporação de novos membros ao status de enfermeiras modernas,

assim autorizadas ao exercício da nobre arte”. Ressalta que se trata de um

ritual composto de micro-rituais, dentre eles, o da passagem da lâmpada.

Desse modo, a passagem da lâmpada acesa por uma das formandas

às mãos de uma das alunas da turma subseqüente, numa evocação da

memória de Florence Nightingale, exemplifica o caso do micro-ritual,

simbolizando o compromisso compartilhado de manterem vivos os ideais

da profissão. A Foto 7 registra este momento.

Foto 7 – Passagem da lâmpada acesa por uma das formandas às mãos de uma das alunas da turma subseqüente, 1959.

Fonte: Arquivo particular de Maria Celeste Fonseca

A importância dos rituais institucionais para a enfermagem está no fato

de se consagrar um modelo de profissional para a sociedade, pois não

demarcam apenas a passagem de um estado a outro, mas determinam a

incorporação de um habitus profissional consoante com as expectativas sociais

ligadas à sua categoria. (SANTOS, 2006)

Assim sendo, o ritual da formatura deu visibilidade ao modelo de

enfermeira de Itajubá, ao tempo em que capitalizou lucros simbólicos para a

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Escola mediante a presença, na solenidade, de personalidades ilustres da

cidade, além de autoridades do campo da área da saúde.

3.2 O Poder Simbólico das Irmãs da Congregação da Providência de Gap na Consolidação da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

Conforme foi dito, o lançamento da pedra fundamental para a construção

do prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz ocorreu no dia 1º de

março de 1957, em um terreno pertencente à Santa Casa de Misericórdia.

Subjacente a esse evento, é possível perceber a existência de algumas

situações conflituosas relativas às subvenções para a construção do prédio e

manutenção da futura instituição de ensino, como se pode depreender da fala

de duas entrevistadas:

A Santa Casa não queria ficar com as despesas da

Escola, ainda mais porque tinha que ter internato. A

despesa era grande. Então eles preferiram que ficasse

para a Congregação. E então a Congregação assumiu a alimentação, o que era necessário... roupa de cama,

cama todas as coisas. Ah! Depois assumiu, foi assumindo

a construção. (Ir. Zenaide)

A escola precisava de verbas, precisava de tudo, de

coisas para melhorar o padrão da escola. E a Santa Casa

não tinha condições, porque só tinha condições para se manter e olhe lá. O pessoal que não pagava era muito

grande, porque na época não havia convênios e aqueles

que pagavam eram poucos. A verba que a Santa Casa conseguia, tinha que empregar para ela e para a escola, e

a escola ia ficando. (Maria Nirce)

Diante das dificuldades a Congregação das Irmãs da Providência do Gap

investiu na intensificação da aquisição de donativos que, no entanto, foram

insuficientes para arcar com as despesas das obras e manutenção da escola.

Cabe ressaltar que, desde 1955, há registro de contribuições financeiras

significativas (donativos) para a Escola, várias vezes ao ano, provenientes do

“Convento” e de outras instituições como: Santa Casa de Andradas, Asilos,

Casa do Pobre, Convento de Passa Quatro, dentre outras. Muitas dessas

Instituições pertenciam à Congregação e outras eram administradas por religiosas

designadas pela Congregação.

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Apesar de a Congregação, inicialmente, intensificar as medidas para

atender as demandas financeiras da Escola, as religiosas reconheciam-na

como propriedade da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, portanto, cabendo

à Congregação somente a sua direção, ficando a administração financeira a

cargo daquela Instituição. Diante disso, as Irmãs deliberaram pelo

encerramento da contribuição financeira à Escola, iniciativa que representou o

ponto de demarcação para a futura transferência de mantenedora da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz.

Tanto foi assim que as primeiras medidas para essa transferência tiveram

início ainda em 1957, mediante proposta verbal do Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro,

então membro do corpo clínico da Santa Casa e do corpo docente da Escola, ao

Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, Dr. Wenceslau Braz, para

que a Instituição de saúde doasse aquela instituição de ensino à Congregação,

proposta reforçada pelo Dr. Gaspar Lisboa que desfrutava de estreita amizade

com o Dr. Wenceslau.

A doação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz à Congregação das

Irmãs da Providência de Gap foi consumada mediante aquiescência da

Provedoria, no sentido de atender exigência da Superiora da Congregação, Ir.

Silvie, no que se referia à doação também do terreno pertencente à Santa Casa,

no qual a Escola estava sendo construída (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS,

1957). O atendimento desse pleito consagra o poder simbólico da Congregação de

impor as condições para a transferência da Escola, pois o poder simbólico,

fundado na posse de um capital simbólico, “impõe às outras mentes, uma visão,

antiga ou nova, das divisões sociais dependente da autoridade social adquiridas

nas lutas anteriores” (BOURDIEU, 1990, p. 166).

No dia 12 de janeiro de 1958, a Provedoria da Santa Casa de Misericórdia

realizou uma Assembléia Geral Extraordinária, tendo como item de pauta a

proposta de desmembramento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz da

Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as exigências da Congregação das Irmãs

da Providência de Gap, relativas aos termos do desmembramento. A proposta foi

aprovada na íntegra, e no dia 25 de maio de 1958 e o Provedor em exercício da

Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, Sr. Jayme Wood, assinou um Atestado

nos seguintes termos:

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Para os devidos fins e na qualidade de Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, - que foi Sociedade Mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, A T E S T O que, de pleno acordo e aprovação da referida Sociedade Mantenedora é que a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz se erigiu em sociedade autônoma, com personalidade jurídica, na forma da lei, para que, entregue a uma direção própria, constituída por pessoas especialmente consagradas ao ensino, melhor possa realizar a sua finalidade de formar enfermeiras (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1958).

A Foto 8 registra o estágio de construção do prédio da Escola no

momento em que houve a transferência de mantenedora.

Foto 8 – Prédio em construção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, 1958 Fonte: Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.

Ao fundo da composição fotográfica, da esquerda para a direita, vê-se a

capela onde funcionava a Escola, e o prédio da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá, ladeado à direita pelo imóvel da Maternidade Xavier Lisboa; um pouco

abaixo visualiza-se a estrutura da Escola em construção, já no segundo

pavimento, e a casa destinada ao internato das alunas.

Sendo assim, em 14 de janeiro de 1959, a diretora da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz comunicou a transferência de mantenedora aos

órgãos competentes do Ministério da Educação e Cultura, quais sejam:

Diretoria do Ensino Superior, representada pelo Sr. Jurandyr Lodi, e Seção de

Enfermagem da referida diretoria, representada pela Sra. Nair Fortes8. Nesse

mesmo ano, em 5 de março, a Congregação também providenciou os 8 Nair Fortes Abu-Merhy, educadora, chefe da Seção de Ensino e Organização da Diretoria do Ensino

Superior, Ministério da Educação e Cultura, recebeu o título de Sócio Honorário da ABEn em 1959, na sessão de Instalação do XII Congresso Brasileiro de Enfermagem, pela primeira vez entregue pela ABEn (CARVALHO, 1976).

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documentos relativos à comprovação de sua capacidade financeira para

administrar a Escola, os quais foram anexados ao ofício encaminhado à

Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação.

Por fim, no dia 25 de agosto de 1959, o Inspetor Federal Antonio

Francisco Gomes, designado pela Diretoria do Ensino Superior do Ministério da

Educação e Cultura, para realizar a fiscalização mensal da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, recebeu um telegrama emitido por aquela

diretoria, com os seguintes dizeres: “Comunico vos foi assinado Decreto quatro

seis cinco oito quatro de treze do corrente sobre mudança de mantenedora

essa Escola. Com o fim produzir efeitos legais deve ser providenciada

publicação no Diário Oficial da União. (a) EDSUPERIOR FORTES”.

O Decreto Federal em questão, de nº 46.584 de 13 de agosto de 1959,

foi publicado no Diário Oficial da União conforme fac simile:

A partir de então, a Congregação deu continuidade à melhoria das

condições físicas da Escola e ao aprimoramento do corpo docente, isto é, das

Religiosas enfermeiras que atuavam como docentes e de sua diretora. Em

decorrência, Ir. Zenaide e Ir. Do Bom Pastor, mesmo com suas respectivas

atribuições de diretora e professoras da Escola, nos anos seguintes (1957 a

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1959) freqüentaram e concluíram o Curso de Formação de Professores da

Escola Normal do Colégio Sagrado Coração de Jesus, que correspondia ao

segundo ciclo. Quanto à Ir. Zenaide, em 1959 foi convidada para ir à Escola de

Enfermagem do Hospital São Paulo, a fim de realizar os Cursos de Pedagogia e

Didática Aplicadas à Enfermagem e de Administração Aplicada à Enfermagem.

Portanto, pelo que foi relatado, a transferência de mantenedora da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz da Santa Casa de Misericórdia de

Itajubá para a Congregação das Irmãs da Providência de Gap reafirmou o

poder da Igreja Católica na reclassificação das posições de poder e prestígio

relacionadas com a formação da enfermeira em Itajubá, na luta para se fazer

ver, se fazer crer e se fazer reconhecer, impondo uma visão do mundo social,

através da possibilidade de fazer e desfazer grupos.

A foto abaixo registra o prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau

Braz com a sua construção concluída. Em frente à Escola, a figura de Madre

Marie Ange.

Foto 9 – Prédio concluído da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz e Madre Marie Ange. Fonte: Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, surgiu na década

de 50, no bojo de um processo de desenvolvimento industrial e econômico do

Brasil que demandou um aumento considerável da população urbana,

principalmente no que se refere ao número de trabalhadores, resultando na

necessidade de assegurar-lhes recursos satisfatórios em vários campos, dentre

eles o da saúde. Com isso, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá viu-se

instada a fazer ampliações em suas dependências. Uma vez ampliada e dotada

de recursos materiais básicos para o seu funcionamento, precisou dispor

também de mão-de-obra hospitalar qualificada, o que foi sentido pelas

religiosas enfermeiras da Congregação da Providência de Gap que

administravam esta instituição e prestavam assistência aos doentes.

Em face dessas necessidades, isto é, de aumentar o número de leitos

da Santa Casa de Misericórdia, bem como o de enfermeiras diplomadas para

viabilizar a crescente demanda de atendimento médico-hospitalar aos

trabalhadores e garantir o controle da assistência, as religiosas enfermeiras da

Congregação da Providência de Gap foram compelidas a iniciar um movimento

de criação de uma escola de enfermagem católica, em Itajubá, visando à

profissionalização de religiosas e de moças leigas, consoante a doutrina

católica, de modo a assegurar suas posições de poder e prestígio na

administração e na assistência da citada Instituição de saúde.

Ao descrever essas circunstâncias, as quais ensejaram a criação da

Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, está contemplado o objetivo hum da

tese.

O movimento levado a efeito pelas Irmãs da Congregação da

Providência de Gap exigiu estratégias, uma das quais resultou em que a

Provincial da Congregação enviasse duas religiosas enfermeiras à Escola de

Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro, a fim de que se preparassem para

atuar como professoras, e uma delas também como diretora.

Essa decisão foi orientada mediante avaliação prática das oportunidades

objetivas de lucro simbólico advindo da atualização do habitus profissional

dessas religiosas, em uma escola reconhecida pelo Clero como de alto padrão

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de ensino de enfermagem. Uma vez tendo sido o habitus atualizado, as duas

religiosas enfermeiras envidaram esforços no sentido de criar um modelo de

enfermeira de alto padrão para Itajubá, nos moldes das formandas da Escola de

Enfermagem Anna Nery, instituição de ensino considerada como referência por

elas.

Assim sendo, a propaganda de seleção de candidatas para a Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz observou exigências similares às daquela Escola,

visando alcançar um contingente apurado de moças de bom nível social, moral

e intelectual, uma vez que a posse de diversos tipos de capital favoreceria

também o êxito escolar porque propiciaria um melhor desempenho nos

processos de avaliação formais e informais.

Para divulgar a criação da Escola, as religiosas investiram em estratégias

que buscavam dar visibilidade à mesma, como a participação das alunas

sempre uniformizadas em desfiles cívicos, e visitas às escolas normais e

instituições militares, além de utilizarem a mídia escrita local com essa

finalidade. Os rituais institucionais, que eram tradicionais na Escola de

Enfermagem Anna Nery, a exemplo da imposição da touca, da passagem da

lâmpada e da realização de solenidades de formaturas, tinham o efeito

simbólico de dar notoriedade à nascente Escola.

Os uniformes das alunas da Escola eram semelhantes aos usados pelas

alunas da Escola de Enfermagem Anna Nery, e a obrigatoriedade do seu uso

durante os trabalhos escolares atendia não só aos dispositivos da Lei nº

27.426/49, como também ao Regimento Interno da nova Escola, simbolizando o

sentimento de pertencer a um grupo diferenciado.

O regime de internato ou externato, a critério da diretora, foi outra

estratégia adotada pelas Irmãs, cuja finalidade era de inculcação cultural e

simbólica, e ao mesmo tempo, controladora e disciplinadora.

Uma vez implantada a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, houve a

transferência de mantenedora, passando da Santa Casa de Misericórdia para a

Congregação das Irmãs da Providência de Gap, o que evidenciou o poder

simbólico dessa Congregação na formação de enfermeiras para Itajubá,

mediante a reclassificação e manutenção de posições de poder e prestígio nas

áreas administrativas e assistenciais.

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Vale lembrar a figura de Madre Marie Ange, cuja participação na criação,

implantação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz

revestiu-se de caráter impositivo, com uma visão de mundo hegemônica,

considerada legítima. Tal visão constituía-se em uma violência simbólica que

acabou contribuindo para a criação do modelo de enfermeira de alto padrão

pretendida para a sociedade itajubense, traduzida em uma nova identidade

profissional feminina.

Evidenciou desta forma, o trabalho das religiosas na formação de

recursos humanos para atuar na enfermagem de Itajubá, configurando-se

também como uma estratégia de expansão do poder da Igreja Católica na

formação das enfermeiras, de modo a assegurar suas posições de poder e

prestígio nos espaços hospitalares. Afirmação esta que confirma a tese

enunciada no presente trabalho.

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A P Ê N D I C E S

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA Dados de Identificação: Nome: .................................................................................................................... Endereço: .............................................................................................................. Telefone: .......................... Formação/Ano: ............................................. Cargo/Função em 1954/1959: ............................................................................... Entrevista: Local....................................................................................................................... Dia:.....................................................Hora; .......................................................... Introdução (gravador ligado) Esclarecimento dos objetivos da entrevista e do conhecimento da mesma, no que se refere às três partes que a compõem. Parte I Nesta parte da entrevista, o depoente poderá versar sobre sua família de origem (avós, pais, irmãos) e sobre a sua infância e adolescência. Parte II Nesta parte da entrevista, o depoente poderá versar sobre a trajetória de sua vida profissional que tenha ligação direta com o objeto de estudo. Parte III Nesta parte da entrevista, o depoente tem a liberdade de falar fluentemente sobre a sua vivência e/ou experiência sobre o tema – criação, funcionamento e transferência de mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Poderão ser feitas perguntas, quando necessário, que o [re]direcione ao foco da entrevista, ou quando surgirem fatos que devam ser investigados, até então desconhecidos. Nesta etapa, direcionar a fala do entrevistado para os itens: - Quem criou - Preparativos para a criação - Funcionamento (local, professores, aulas e estágios, uniformes, cerimônia da touca, ...) - Internato - Formatura - Transferência Encerramento Nesta parte da entrevista: - Agradecer a colaboração - Solicitar permissão para doar a gravação da entrevista à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - Solicitar permissão para usar o conteúdo da entrevista na pesquisa - Despedir

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO

Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Anna Nery Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa Curso de Doutorado em Enfermagem

TÍTULO DA PESQUISA: ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959). Caro(a) Amigo(a): Por meio deste instrumento, venho torná-lo(a) ciente da pesquisa que desenvolvo e convidá-lo(a) a participar da mesma. Pretendo desenvolvê-la na Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), consultando pessoas que fizeram parte da criação, funcionamento e transferência de mantenedora desta instituição de ensino. Para tanto se faz necessário esclarecê-lo(a) sobre alguns tópicos: Minha atuação enquanto pesquisadora Sou enfermeira, professora, pesquisadora, inserida no curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estou desenvolvendo, sob a orientação da Profª. Drª Tânia Cristina Franco Santos, a pesquisa acima citada a qual, por sua vez, insere-se na linha de pesquisa da História da Enfermagem Brasileira do Núcleo de Pesquisa da História da Enfermagem Brasileira (NUPHEBRAS) da referida Escola. Esclarecimentos em relação à pesquisa a ser desenvolvida Trata-se de um estudo de cunho histórico-social, cujo foco central será a criação, funcionamento e transferência de mantenedora da EEWB. Traz como objetivos: 1) Descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da EEWB; 2) Analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para a sua implantação; e 3) Discutir as eficácia simbólica dessas estratégias para a consolidação da EEWB. Procedimentos para a realização da pesquisa: Será realizada uma entrevista semi-estruturada, ou seja, com algumas perguntas previamente estabelecidas. A entrevista será realizada pela pesquisadora, com duração média de uma hora; será gravada mediante prévio consentimento e acontecerá em local e horário escolhidos pelos(as) entrevistados(as) e/ou interrompida no momento em que este(a) assim o desejar, em qualquer fase da pesquisa, visto que sua participação é voluntária. Será respeitado o desejo de não participar ou de retirar o seu consentimento. Após a entrevista, será apresentada a transcrição do conteúdo da gravação para sua revisão e aprovação, para fins de pesquisa, e posterior publicação em periódicos científicos. Cabe destacar que as entrevistas são fontes orais de grande valor e mérito para a reconstrução da História da Enfermagem Brasileira nos espaços auferidos pela estruturação de serviços especializados, por isso sua participação é de extremo valor, pois possibilitará o resgate dos acontecimentos e beneficiará outros pesquisadores, fornecendo subsídios para estudos futuros. As informações obtidas não serão utilizadas em prejuízo das pessoas relacionadas com o contexto da pesquisa, quer em termos de auto-estima e/ou prestígio econômico, financeiro ou social.

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Para esclarecimentos adicionais sobre a pesquisa, favor contatar a pesquisadora: Waldere Fabri Pereira Ribeiro – Tel. (35) 3622-2831 ou a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz – tel. (35) 3622 0930. Atesto que li e compreendi o teor deste documento, e tive a oportunidade de esclarecer minhas dúvidas a respeito da pesquisa. Eutrevistado(a) ........................................................................................................

Data e assinatura Waldere Fabri Pereira Ribeiro (pesquisadora): .................................................................

Data e assinatura

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APÊNDICE C – TERMO DE DOAÇÃO DO DEPOIMENTO Eu, .........................................................., autorizo a doação de meu

depoimento, gravado com a minha autorização em fita magnética pela professora

Waldere Fabri Pereira Ribeiro, aluna regularmente matriculada no Curso de Doutorado

em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio

de Janeiro – EEAN/UFRJ, na linha de pesquisa História da Enfermagem Brasileira,

realizado como parte da coleta de dados para o desenvolvimento de sua Tese de

Doutorado, cujo título provisório é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa

Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap

(Itajubá – 1953 a 1959)”.

Outrossim, esclareço que a minha participação foi livre e que a doação de meu

depoimento gravado e transcrito será cedido ao Acervo Histórico da Escola de

Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá.

......................................................., ......... de ............................. de ...............

..........................................................................................................................

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APÊNDICE D – CARTA À PROVEDORIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ITAJUBÁ

Itajubá, 10 de junho de 2002. Exma. Sra. Maria Aparecida Salomon Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá Itajubá – Minas Gerais Prezada Senhora,

Eu, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, docente e ex-aluna da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), estou regularmente matriculada no Curso de Doutorado da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tenho o meu projeto de tese inserido na Linha de Pesquisa em História da Enfermagem Brasileira, tendo como objeto de estudo a criação, funcionamento e transferência da mantenedora da EEWB. O título provisório da pesquisa é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959)”.

Sendo assim, venho solicitar de V..Sª. autorização para pesquisar, xerocopiar, se necessário, documentos de arquivo, fotografias, atas de reuniões desta Instituição e outras fontes relacionadas com o meu objeto de estudo.

Contando com a sua atenção e colaboração, despeço-me deste já agradecendo.

Atenciosamente,

(a) Waldere Fabri Pereira Ribeiro

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APÊNDICE E – CARTA À PROVINCIAL DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP

Itajubá, 10 de junho de 2002. Exma. Sra. Irmã Maria Silvana da Silva Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap Itajubá – Minas Gerais Prezada Senhora,

Eu, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, docente e ex-aluna da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), estou regularmente matriculada no Curso de Doutorado da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tenho o meu projeto de tese inserido na Linha de Pesquisa em História da Enfermagem Brasileira, tendo como objeto de estudo a criação, funcionamento e transferência da mantenedora da EEWB. O título provisório da pesquisa é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959)”.

Sendo assim, venho solicitar de V..Sª. autorização para pesquisar, xerocopiar, se necessário, documentos de arquivo, fotografias, atas de reuniões desta Instituição e outras fontes relacionadas com o meu objeto de estudo.

Contando com a sua atenção e colaboração, despeço-me deste já agradecendo.

Atenciosamente,

(a) Waldere Fabri Pereira Ribeiro

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APÊNDICE F - ROTEIRO PARA EXAME DE DOCUMENTAÇÃO ESCRITA

I – Identificação

Arquivo: ................................................................................................................................

Classificação / Localização: ................................................................................................

Título do Documento / Assunto: ..........................................................................................

II – Análise Técnica (Dados Externos)

Tipo de Documento (Oficial / Particular, Correspondência, Relatório, Diário, Outro / Qual?) Original ou Cópia ( tipo):...................................................................................................... Suporte (especificações do Papel) : ................................................................................... Tecnologia (Manuscrito, datilografado, digitado): .............................................................. Origem (expedido, recebido): ............................................................................................. Local e data: ........................................................................................................................

Nome do autor do registro e cargo: ....................................................................................

Nome do signatário e data: .................................................................................................

III – Análise de Conteúdo (Dados Internos)

Objetivo do registro (intencional / casual) ........................................................................... Informações pertinentes às questões norteadoras da pesquisa.

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

Observações (ligação com outros dados, significado de palavras ou expressões, pontos a serem esclarecidos, questões suscitadas): ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Local e data da coleta: ........................................................................................................

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APÊNDICE G – ROTEIRO PARA EXAME DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO

I - Identificação

Arquivo: ................................................................................................................................ Classificação: ...................................................................................................................... Título do Documento / Assunto: ..............................................................................................................................................

II – Caracterização do Periódico:

Nome: ..................................................................................................................................

Tipo de Periódico: ...............................................................................................................

Ano de Fundação: ...............................................................................................................

Periodicidade: ......................................................................................................................

Proprietário: .........................................................................................................................

Editor: .................................................................................................................................. Conselho Editorial: .............................................................................................................. Momento do Periódico: - apoio à situação / oposição política / mais ou menos popular.

III – Conteúdo da Matéria:

Assunto: ...............................................................................................................................

Enunciado: ...........................................................................................................................

Resumo:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Observações:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Local e Data da Coleta:........................................................................................................

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APÊNDICE H – ROTEIRO PARA EXAME DE CONTEÚDO ICONOGRÁFICO

I – Identificação:

Arquivo:.................................................................................................................................

Ordenação:...........................................................................................................................

Classificação Cronológica: ..................................................................................................

Classificação Temática: ......................................................................................................

II – Análise Técnica:

Local e Data: .......................................................................................................................

Assunto: ...............................................................................................................................

Dimensões da foto: .............................................................................................................

Tipo de foto: (posada/instantâneo, interior/exterior, profissional/amador) Publicação: ..........................................................................................................................

Número de fotos referente ao assunto: ..............................................................................

III - Análise do Documento (Análise Interna)

Descrição do cenário: ........................................................................................................................................................................................................................................................................................ Descrição dos planos horizontais e verticais:

..............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

Movimento visual que ordena o espaço:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Posturas:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Expressão facial e código visual: ..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

IV – Estudo do Texto Fotográfico (Articulação do Conteúdo Interno da Foto e

Informações Externas)

Articulação da fotografia com outros documentos: ............................................................

Informações pertinentes às questões norteadoras do estudo:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Síntese interpretativa do documento fotográfico:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Questões suscitadas:

..............................................................................................................................................

..............................................................................................................................................

Local e Data da coleta: ........................................................................................................

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A N E X O S

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ANEXO A – MAPA – LOCALIZAÇÃO ITAJUBÁ

O município de Itajubá situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, numa altitude

de 1746 metros no seu ponto mais alto e seu ponto mais baixo, é de 830 metros,

acima do nível do mar, sendo que a área urbana, sem considerar os morros, fica numa

altitude média de 842 metros. Em 2006, segundo o IBGE, possuía uma população de

90.812 habitantes.

A topografia é do tipo ondulada-montanhosa. O território apresenta-se plano

(10%), ondulado (12%) e montanhoso em sua maior parte (78%). Desta forma seu

clima é variado, ocorrendo, às vezes, no mesmo dia, pela manhã e tarde, o calor de

verão e, à noite, uma da temperatura mais baixa.

O município é privilegiado em relação à localização, não só por estar inserido

numa rede urbana formada por prósperas cidades de porte médio, cujo acesso é feito

pela BR459, mas também devido à sua posição em relação as grandes capitais da

região sudeste: Belo Horizonte (445Km), São Paulo (261Km), Rio de Janeiro (318Km).

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ANEXO B – RESPOSTA À CARTA ENVIADA À PROVINCIAL DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP

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ANEXO C – RESPOSTA À CARTA ENVIADA À PROVEDORIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ITAJUBÁ

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ANEXO D – AUTORIZAÇÃO DA DIRETORA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

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ANEXO E – ESBOÇO DO UNIFORME DAS ALUNAS PARA ATIVIDADES A SANTA CASA E EM SALA DE AULA

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ANEXO F – ESBOÇO DO UNIFORME DAS ALUNAS PARA PASSEIO

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ANEXO G – ESBOÇO DO UNIFORME DE GALA DAS ALUNAS