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Escola e Sociedade

AutorOdilon Roble

2008

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

R666 Roble, Odilon. / Escola e Sociedade. / Odilon Roble. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2008.

96 p.

ISBN: 978-85-387-0019-7

1. Educação. 2. Educação e estado. 3. Comunidade e escola. I. Título.

CDD 370

Todos os direitos reservados.IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

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SumárioIntrodução ao conceito de sociedade e de vida coletiva ......................................................7

Estabelecimento da vida social ................................................................................................................7Redes de sociabilidade .............................................................................................................................8Teorias sobre a sociedade: breve mapeamento ........................................................................................9

Escola e pensamento social ..................................................................................................17Educação grega: paidéia ..........................................................................................................................17Idade Média: educação cristianizada .......................................................................................................19Renascimento e educação: todos somos iguais .......................................................................................19Modernidade e discurso ...........................................................................................................................21

Teorias educacionais, sociedade e escola .............................................................................29Teorias sociais x teorias educacionais .....................................................................................................29Teorias educacionais críticas ...................................................................................................................33Passos para uma teoria crítica da educação .............................................................................................36

O conhecimento e suas relações sociais ...............................................................................39Educação e autonomia .............................................................................................................................39

Educação e temas sociais contemporâneos ..........................................................................49Meio ambiente .........................................................................................................................................49Drogas ......................................................................................................................................................50Sexualidade ..............................................................................................................................................52Saúde ........................................................................................................................................................53Trabalho ...................................................................................................................................................54

A escola e seu entorno ..........................................................................................................59Administração escolar .............................................................................................................................59Relações entre a escola e a comunidade ..................................................................................................62

Violência e educação ............................................................................................................67Violência social e violência escolar: o contrato social de Hobbes ..........................................................67Estabelecendo um contrato social na sala de aula ...................................................................................70

Indisciplina e educação ........................................................................................................77Reflexão primeira .....................................................................................................................................77Concepção do erro pela escola ................................................................................................................78Erro e indisciplina ....................................................................................................................................78Empowerment ..........................................................................................................................................80Arquitetura escolar e indisciplina ............................................................................................................81

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Apresentação

N o meu bairro existe uma escola. É bem possível que no seu também exista uma. Estamos acostumados a passar em frente a elas, a sabermos que muitos de nossos vizinhos estudam lá e que até mesmo alguns de seus funcionários e professores são moradores próximos. Mas,

para além dessas constatações óbvias, podemos ainda pensar: qual é o contato real que existe entre essa escola e esse bairro? Como é que a vida social das pessoas interfere e é interferida pela institui-ção escolar? Quais são, enfim, as relações que podemos traçar entre escola e sociedade?

Para respondermos isso temos de pensar na educação. Isso porque tal instância não é um produ-to mecânico de métodos e fórmulas de ensino. Ela tem um processo, uma razão de ser, ou seja, uma história. Essa história, como veremos, está profundamente ligada ao que se passa na sociedade. De fato, educação e sociedade são parceiras de um conjunto de significados em comum. Isso nos mostra como é impossível pensar a sociedade sem levarmos em consideração a educação e vice-versa.

É com essa certeza que estudaremos aqui a escola e a sociedade partindo de uma constatação primordial: a natureza do homem é viver coletivamente. Essa vida coletiva é algo, por um lado, difícil e, por outro, recompensador. Na escola, também vivemos coletivamente e sabemos que isso nos ofe-rece muitas alegrias e também dificuldades. Temas como a violência, as drogas, a sexualidade, o tra-balho, a indisciplina, entre outros, emergem dessa convivência e, por isso, devem ser objeto de estudo e capacitação docente. Refletiremos sobre esses temas e pensaremos em algumas linhas de atuação.

Quando pensamos nessa relação entre escola e sociedade também devemos nos perguntar por que estamos preocupados com isso, ou seja: qual é a nossa participação nesse contexto. Talvez, muitos de vocês que lerão este texto trabalham ou trabalharão em escolas. Paralelamente, todos nós somos pessoas que vivem em comunidades, cidades, bairros. Como é que vamos conciliar nossos saberes e nossas experiências nesses dois espaços diferentes de nossas vidas? Há integração entre essas esferas de nossa experiência? Podemos transpor saberes de um local para outro? Tais perguntas exigem que nós saibamos articular os conhecimentos sociais e os pedagógicos. Mais que isso, assim como nós, os alunos também possuem experiências sociais complementares às escolares e, certamente, as carrega-rão para a vida na escola, exigindo de nós a capacidade de lidar com esse trânsito de expectativas, de-sejos, conhecimentos e personalidades. Precisamos conhecer o entorno da escola e construir diálogos. Precisamos compreender a vida social que nos cerca e que de fato faz parte daquilo que somos.

Essas são tarefas importantes e amplas que não serão esgotadas nos textos que se seguem, mas os temas apresentados, certamente, são atuais e necessários para refletirmos sobre essa relação entre a escola e a sociedade. Após tais reflexões é até mesmo possível que, ao passarmos por aquela escola do nosso bairro, a vejamos de um modo novo, integrada à vida social e parte importante de nossa forma de viver coletivamente.

Prof. Dr. Odilon Roble

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Introdução ao conceito de sociedade e de vida coletiva

Odilon Roble*

S e observarmos os seres que vivem em nosso planeta, notaremos que ma-cho e fêmea de algumas espécies vivem isoladamente, unindo-se apenas no período de acasalamento. No entanto, sabemos que a maioria dos animais

busca a vida em conjunto.

Quais são as vantagens das associações entre os indivíduos? Que com-portamentos e regras emanam dessa convivência? O homem também faz esse tipo de associação? Quais são as características peculiares da vida coletiva estabelecida entre os seres humanos?

Estabelecimento da vida socialEssas e outras perguntas são objeto de estudo da ciência e, quando dizem res-

peito ao homem em especial, fazem parte das chamadas Ciências Humanas. Entre elas, a área que mais se dedica ao estudo do homem em sociedade é a Sociologia. Entretanto, compreender o comportamento humano a partir de suas relações sociais, entender o funcionamento das instituições e refletir sobre o regulamento da vida co-letiva são tarefas que interessam a todos aqueles que trabalham com pessoas.

A escola, por exemplo, além de ser o espaço da teoria e da prática pedagó-gica é, antes, um local de convivência coletiva. Assim, até mesmo essas teorias e práticas pedagógicas precisam compreender as bases das relações entre os ho-mens para poder melhor orientar as ações referentes ao cotidiano escolar.

É verdade que nem sempre o homem formou sociedades ou, ao menos, elas não eram estruturadas da forma como são estruturadas as sociedades atuais. Nossos ancestrais mais distantes comportavam-se como animais coletores, ou seja: eram nômades, não fixando território para viver e se alimentavam de vegetais e animais que encontravam por onde passavam. Mas ao longo do desenvolvimento da espécie humana, duas grandes mudanças levaram a humanidade a um patamar inigualável com relação às demais espécies. Vejamos quais foram essas duas mudanças.

A primeira mudança refere-se ao fato de abandonarmos uma posição qua-drúpede para assumir uma postura bípede e ereta, passamos a ter um campo de visão ampliado, o que nos possibilitou enxergar alimentos, água ou ameaças mui-

*Doutor e Mestre em Edu-cação pela Faculdade de

Educação da Unicamp. Ba-charel em Filosofia pela Pon-tifícia Universidade Católica. É membro pesquisador do VIOLAR – grupo de estudos sobre o imaginário, práticas culturais, violência e educa-ção da Unicamp.

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to mais distantes que outrora. Além disso, a postura bípede liberou as mãos que serviam de apoio, permitindo que o homem explorasse toda sua motricidade fina e, assim, construísse instrumentos e armas.

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Associados em grupos, os homens dividiam as tarefas, otimizando o tempo e melhorando a qualidade de vida por meio das relações sociais.

Homem primitivo, com seus instrumentos de caça e proteção. Observe que tais instrumentos não são produzidos, mas encon-trados pelo caminho.

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A segunda grande mudança deu-se à medida que o homem começou a constituir grupos socialmente estáveis e passou a viver em coletividade. Nesses agrupamentos, homens e mulheres procriavam, dividiam as tarefas, revezavam-se na proteção uns dos outros e trabalhavam em conjunto para manter vivos e sadios todos os indivíduos participantes dessa comunidade. Com o tempo, os grupos passaram a viver em territórios fixos e terem uma forma simples, porém efetiva de divisão social.

Redes de sociabilidadeNotemos que o trabalho passou a ter um papel fundamental na estruturação

social. Quanto mais as sociedades tornaram-se complexas, maior e mais especia-lizada tornou-se a divisão do trabalho. Cada elemento do grupo social passou a ter funções específicas de modo a otimizar as ações, o que contribuiu muito para di-ferenciar os papéis sociais assumidos pelos indivíduos de um mesmo grupo. Com o tempo, não só o trabalho, mas muitas outras atividades foram compartilhadas. Com isto, podemos perceber como o trabalho influenciou fortemente a formação de condutas e comportamentos.

Essas condutas são de grande importância para a estruturação da vida co-letiva, pois elas indicam como o indivíduo deve se comportar no interior de cada agrupamento. Aqueles que não se comportam de acordo com o esperado não re-cebem a contrapartida dos demais, ou seja, são evitados ou até mesmo banidos, dependendo do local em que buscam se inserir. Isso indica que conhecer os di-ferentes modos de vida de uma sociedade é fundamental para orientar as nossas ações, pois são esses modos os responsáveis por caracterizar e diferenciar as di-versas sociabilidades humanas. Elas podem constituir-se em associações, tribos, comunidades, civilizações e diversos outros tipos de sociabilidades.

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Introdução ao conceito de sociedade e de vida coletiva

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O importante é destacar que os indivíduos possuem certos motivos que os levam a se unirem entre si. Uma comunidade pode ser formada devido a uma proximidade de interesses e gostos de seus participantes.

Um exemplo que nos permite entender como as possibilidades de associação entre indivíduos tornaram-se múltiplas é o das comunidades da internet. A grande rede mundial de computadores estabelece sites de relacionamento, de aficionados por filmes e músicas ou qualquer outro aspecto que estabeleça uma identificação entre as pessoas.

As sociedades são grandes redes por meio das quais as pessoas se relacio-nam e, assim, estruturam o próprio modo de vida. As regras, leis e normas surgem dessa vida estruturada em coletividade com o intuito de orientar a conduta huma-na em favor do bem-estar de todos.

Ao optar por ser conduzido por essas normas sociais, o indivíduo tem a garantia de proteção contra os interesses de outros indivíduos que o possam preju-dicar. De um modo geral, viver coletivamente consiste no estabelecimento de um grande acordo entre as diversas partes, acordo que sustenta os interesses comuns e mantém unida a coletividade.

O fim último da norma social, portanto, é o da manutenção do estado de paz, do respeito mútuo e da boa convivência entre os indivíduos que vivem juntos.

Teorias sobre a sociedade: breve mapeamento

Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, con-cluiu que o estado natural dos indivíduos não é o de paz, mas sim o de guerra. Entregues puramente aos interesses individuais e agindo de acordo com os próprios impulsos, os homens viveriam num estado de “guerra de todos con-tra todos” (HOBBES, 2003). No entanto, essa situação não ocorre porque os indivíduos estabelecem um contrato por meio do qual estão comprometidos a agir de acordo com a lei, formulada, discutida e aprovada pelos homens que tam-bém são os responsáveis por aplicá-la em seu dia-a-dia.

A partir do pensamento de Thomas Hobbes, a socie-dade é uma necessidade humana, posto que o indivíduo não vive sozinho. Se entregue a sua sorte individual, esse homem só encontrará dificuldades e a morte. Mas se optar pela vida coletiva, haverá a necessidade de se ter leis, um contrato social e a normalização dos costumes.

É evidente que a aplicação dessas normas e leis deverá ser policiada de modo que se faça valer o direito de julgar e de punir aqueles que não se compor-tam de acordo com o esperado. Essa tarefa é de responsabilidade das autoridades,

Thomas Hobbes, ao lado de John Locke e Jean-Jaques Rousseau são os pensadores que deram fundamento ao Estado Moderno, este que é a base política da maior parte das sociedades de hoje

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ou melhor, das pessoas encarregadas em policiar e julgar as condutas para que elas se encaixem de modo “justo” nos comportamentos desejados. A “justeza” desse encaixe dá origem à palavra justiça que se refere à obrigação do indivíduo de se comportar de acordo com o contrato social, com as leis e sob o respeito das autoridades que governam.

Desse modo, podemos afirmar que há uma estrutura social que predetermi-na quais as leis a serem cumpridas, quem são os responsáveis por se fazê-las cum-prir e quais serão as penas aplicadas aos infratores. Se levarmos em consideração tal premissa, não poderíamos imaginar que essa estrutura social dá margem para que exista o abuso do poder por parte de algumas autoridades? Claro que sim, e, isso é possível conforme nos mostra a própria história da civilização ocidental.

Em quantas aulas de História já ouvimos a palavra autoritarismo?

Fosse referente à figura de Stalin, de Pinochet, de Napoleão Bonaparte ou de tantos outros, a história dos homens conta com muitos episódios de grandes estadistas e outras figuras políticas que concentraram os poderes de uma nação (de julgar, de elaborar e de aplicar as leis) unicamente em suas mãos.

Por mais que pensemos quão longe estão esses episódios históricos de nos-sos dias atuais, devemos ter a consciência de que exemplos de autoritarismo po-dem ser encontrados em nosso cotidiano e em qualquer situação que apresente uma relação de poder.

Na sala de aula, entre professor e aluno, pode haver abuso de autoridade. Outro exemplo pode ser encontrado em uma relação familiar, entre pai e filho, entre marido e esposa ou, até mesmo, entre irmãos.

Onde quer que exista, o abuso de poder trata-se de uma degeneração do contrato social, pois o poder que foi concedido a um indivíduo ou a um pequeno grupo – com o propósito de representação de uma coletividade maior – torna-se o mecanismo de imposição de interesses pessoais desses representantes. Vejamos na tabela abaixo os tipos de poder em diferentes sociedades, sua breve descrição e suas formas de degeneração.

Tipo de Governo Característica Degeneração

Monarquia

Sociedade governada por um rei ou uma rainha. É o governo de “um só”. O poder real pode agir para o bem do povo, mas sua decisão é sempre soberana.

Tirania: é a usurpação do direito soberano para fins pessoais ou em desacordo com a vontade popular.

Aristocracia

É a sociedade na qual uma classe social tem privilégios sociais em relação às demais, como por exemplo, o privilégio do poder econômico (plutocracia).

Oligarquia: é a sociedade dirigida por pequenos grupos privilegiados e orientada para seus interesses particulares.

Democracia

Sociedade democrática é aquela na qual o povo exerce o poder por meios de seus representantes eleitos de modo legítimo.

Corrupção: quando os membros eleitos para representar os interesses comuns passam a usar o poder em benefício próprio.

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Introdução ao conceito de sociedade e de vida coletiva

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Como vimos na tabela acima, toda forma de contrato social, bem como todo tipo de governo, pode ser corrompido. Mesmo a democracia que – se comparada à monarquia ou à aristocracia parece ser a mais justa – também pode se degenerar em corrupção. Dessa forma, é preciso que aprendamos desde cedo a viver coleti-vamente para fazer valer nossos direitos e deveres.

A escola é um espaço de convivência pública. Nossas lembranças do colé-gio não se restringem aos conteúdos aprendidos. Aliás, é muito comum que boa parte de nossas recordações da infância tenha alguma relação com a escola. Isso porque é nela que travamos o primeiro contato com a vida em sociedade, longe da proteção da família. No ambiente familiar, também vivemos de acordo com leis e normas sociais, no entanto, ali estamos em uma esfera privada da existência. No seio da família sabemos que estamos protegidos e temos a constante sensação de sermos aceitos. Já na esfera pública, logo percebemos que não podemos contar com a aceitação e com a proteção de todos indistintamente. Temos de conquistar espaços para isso. Ao ir para a escola, a criança percebe tais necessidades e vai aprendendo realmente a viver em conjunto. Também é lá que ela vai ser exposta, pela primeira vez, a uma autoridade que não se relaciona com ela por vínculo afetivo. Mesmo que o professor tenha um grande carinho por seus alunos, sua relação para com eles está fundamentada na pedagogia e não nos laços familiares. A criança tem, na escola, o protótipo do modelo social a que será exposta dali por diante.

Resta observar, no entanto, que muito embora o vetor de adaptação mais evidente seja o do indivíduo conformando-se aos modelos sociais, o julgamento que ele realiza acerca desses modelos pode levá-lo a ações capazes de mudar al-guns padrões preestabelecidos da sociedade. Acreditar que é inexorável a adapta-ção dos indivíduos às normas da sociedade e que os padrões sociais são imutáveis corresponde a crer também que a sociedade em que vivemos é estática e imutável, o que não é verdade. Embora o mais comum seja o indivíduo ser influenciado pelo seu meio e adaptar-se a ele, também não podemos desconsiderar as possibilida-des de uma pessoa de questionar os padrões já existentes de sua sociedade e de instaurar algumas mudanças.

Uma escola, que propague a idéia de que o aluno deva sempre se adaptar ao meio, recusando-se a aceitar suas idéias e sugestões, estará agindo de modo coercitivo e centraliza-dor. Essa será uma escola autoritária ou aco-modada. Muitos indivíduos ousaram desafiar modelos sociais estabelecidos e tidos como imutáveis, tendo como resultado de sua luta a mudança destes padrões ou ao menos a sen-sibilização da opinião pública, o que, em um regime democrático, culmina, mais cedo ou mais tarde, na mudança de comportamentos.

Martin Luther King, ativista político nor-te-americano, lutou pela igualdade de di-reitos, especialmente dos negros e das mu-lheres. Foi prêmio Nobel da Paz em 1964.

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Antônio Conselheiro, líder popular bra-sileiro levou o pequeno arraial de Canu-dos à uma verdadeira revolução social no século XIX, a Guerra de Canudos. Essa guerra é o tema de uma das mais famosas obras da literatura brasileira, Os Sertões, de Euclides da Cunha.

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Mahatma Gandhi foi um dos idealizadores e fundadores do moderno Estado indiano, por meio de sua revolução pela não-vio-lência, contra os colonizadores britânicos, na primeira metade do século XX.

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Nesta seção vamos ver alguns casos de crianças que, por razões diversas, foram criadas apartadas da sociedade. Tais histórias nos mostram a importância da vida social e o quanto ela interfere no desen-volvimento das habilidades humanas, muitas das quais nos diferenciam do restante dos outros animais.

Essas pequenas histórias, embora sejam verídicas, receberam muitos acréscimos ficcionais como podemos pressupor. No entanto, as três nos levam a concluir que, para possuirmos uma con-duta considerada “humana”, não basta que sejamos homens no sentido físico e biológico do termo. A convivência em sociedade, ensinando-nos a linguagem, as normas de conduta e os costumes é o que acaba por tornar o homem efetivamente humano.

Mesmo algumas características biológicas dessas crianças criadas isoladamente não se desen-volveram de forma semelhante a de um indivíduo inserido em uma sociedade humana, como iremos ver a seguir.

O ser humano se completa na sociedade. A cultura é a verdadeira responsável pela nossa natu-reza. Ela, evidentemente, não substitui a força dos fatores biológicos na constituição da vida humana. Sabemos, por exemplo, que o fator genético possui grande influência sobre o indivíduo, mas, como afirma Geertz (1989), “nós somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e acaba-mos por meio da cultura”.

A vida em sociedade é uma das tarefas mais importantes que se apresenta em nossa condição humana. O universo da escola, seja pelas características intrínsecas de vida social que apresenta, seja por ser uma antecipação da dinâmica social da vida adulta, é um dos modelos mais concretos e im-portantes da sociabilidade. Nessa aula, vimos a base do que é esse viver em comum, suas principais características, o desenvolvimento do homem como ser social e as formas de poder que estabelece em sua sociedade.

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O Menino Selvagem de AveyronEm setembro de 1799 um menino, de 12 anos de idade aproximadamente, foi encontrado

perto da floresta de Aveyron, sul da França. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem deram o nome de Victor, foi levado para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard.

Durante cinco anos o Dr. Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler, a se comportar como um ser humano, mas seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e aprendeu a ler somente uma palavra (leite). Não era mais o menino selvagem de quando fora encontrado, mas, também, não se tornou propriamente “humano”.

Fonte: O Menino Selvagem de Aveyron. Disponível em: <www.forumnow.com.br/vip/

mensagens.asp?forum=15836&grupo=238648&topico=1791657&pag=1>. Acesso em: 10 jan. 2008.

O Enigma de Kaspar HauserKaspar Hauser apareceu para a sociedade em 1828, numa praça do centro de Nuremberg.

Tinha aproximadamente 16 anos de idade e falava de modo confuso; suas palavras eram pouco in-teligíveis. Sua vida passada era um mistério, porém tudo indica que ele vivera preso em um celeiro desde seu nascimento. Teve pouco contato (ou talvez nenhum) com outros homens.

Da mesma forma que Victor, Kaspar foi educado por seu tutor e, ao contrário de Victor, aprendeu a ler e escrever, pelo menos num certo nível em que era possível a comunicação com outras pessoas. Seu raciocínio, contudo, não foi muito adiante. Continuava a ser a mesma criança do dia em que fora encontrado. Sua visão não enxergava em perspectiva e também não conseguia apreender conceitos abstratos, como Deus e religião, apesar dos esforços de padres e educadores. Morreu 5 anos depois, assassinado, e seu passado misterioso nunca foi desvelado.

Fonte: O Enigma de Kaspar Hauser. Disponível em: <www.forumnow.com.br/vip/

mensagens.asp?forum=15836&grupo=238648&topico=1791657&pag=1>. Acesso em: 10 jan. 2008.

As Meninas-Lobo da ÍndiaEm 1920, o reverendo Singh encontrou, em uma caverna, duas crianças que viviam entre lo-

bos. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala, respec-tivamente. Após encontrá-las, o reverendo Singh levou-as para o orfanato que mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização das duas meninas-lobo.

Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão era melhor à noite do que de dia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser encontrada. Kamala viveu por mais oito anos sem, contudo, aprender a falar, ler, usar o banheiro ou a ter qualquer comporta-mento que pudesse ser considerado específico de seres humanos. A única emoção que demonstrou em todos esses anos foi algumas lágrimas que derramou, no dia em que Amala morreu.

Fonte: As Meninas-Lobo da Índia. Disponível em: <www.forumnow.com.br/vip/

mensagens.asp?forum=15836&grupo=238648&topico=1791657&pag=1>. Acesso em: 10 jan. 2008.

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1. Com base no texto da aula argumente qual é a importância da vida em sociedade.

2. Elabore um exemplo para cada uma das formas de degeneração do poder, a saber: a tirania, a oligarquia e a corrupção.

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Introdução ao conceito de sociedade e de vida coletiva

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Livros:

LUCKMANN, T.; BERGER, P. L. A Construção Social da Realidade. Petrópolis: Vozes, 2006.

Trata-se de um livro clássico sobre a realidade social que aborda os fundamentos da vida cotidiana, a sociedade como realidade subjetiva e a sociologia do conhecimento. Em alusão aos temas trabalhados nesta aula, sugiro a leitura do capítulo I, item 2: A interação social na vida cotidiana.

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.

Obra também clássica, só que mais estudada pela Antropologia e por aqueles que se dedicam a estudos culturais. Seu tema principal é a questão do significado cultural e o método etno-gráfico para pesquisa em ciências humanas. A parte II, item 2, “O impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem”, ilustra muito do que foi trabalhado na parte final desse texto e aprofunda a discussão.

Filmes:

O Enigma de Kaspar Hauser. Diretor Werner Herzog.

História sobre um misterioso menino de 16 anos que, sem nunca ter tido contato com a cul-tura humana, aparece repentinamente em um vilarejo. Filmagem do grande diretor alemão Werner Herzog. Filme vencedor do festival de Cannes é uma obra-prima do cinema e traz reflexões muito interessantes sobre a vida em sociedade, sobre a educação e sobre o processo civilizatório.

A Guerra do Fogo

Filme de Jean-Jaques Arnaud que mostra o início do desenvolvimento da civilização hu-mana, ilustrando o modo como se deu a evolução de nossas formas de organização, divisão social e luta pela sobrevivência em tribos sociais.

Links:

Eu tenho um sonho (I Have A Dream), de Martin Luther King. Disponível em: <www.history.com>; <www.dhnet.org.br/desejos/sonhos/ihavedreamr.htm>.

O discurso do norte-americano Martin Luther King é um bom exemplo de como é possível lutar contra as injustiças sociais e mudar padrões de comportamento tidos como inflexíveis. Esse mes-mo tema pode ser facilmente encontrado em diferentes links na internet, como o site estrangeiro www.history.com, ou nacional, como www.dhnet.org.br/desejos/sonhos/ihavedreamr.htm.

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Escola e Sociedade

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Gabarito

Introdução ao conceito de sociedade e de vida coletiva1. Espera-se aqui que o aluno seja capaz de argumentar sobre os principais tópicos da aula: a

importância da vida coletiva em razão da divisão do trabalho, da segurança, da liberdade e do progresso.

2. Ao apresentar um exemplo (imaginário ou real) sobre as formas de degeneração do poder, o aluno acaba por compreender melhor a natureza do tipo de poder em questão (monarquia, aristocracia ou democracia) como também sua forma de usurpação. Esperam-se exemplos des-critivos como: a aristocracia pode se degenerar em oligarquia quando, por exemplo, um grupo de cidadãos que, por serem os mais cultos de determinada comunidade, são escolhidos como representantes das mesmas. No entanto, com o passar do tempo, todas as suas ações têm a in-tenção de valorizar aqueles que possuam alguma instrução, com isso, beneficiando sempre e novamente o próprio grupo do qual fazem parte.

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