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Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 43 ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: PATRIMÔNIO VIVO Sheila Maria Conde Rocha Campello 1 Max Jucá Kokay 2 Ana Maria Pinto de Lemos 3 Resumo: Este artigo apresenta a proposta de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em Escolas Parque de Brasília, tendo como objetivo o resgate da memória dessa utopia educativa, buscando promover o surgimento de um debate a respeito das possibilidades de atualização de sua proposta pedagógica, mantendo a coerência com seu ideário. A metodologia aplicada ao projeto fundamenta-se em abordagens teóricas direcionadas à interpretação de imagens em dialogo com a educação patrimonial. Palavras-chave: Escola Parque. Arte/educação. Educação patrimonial. Abstract: This article presents a research project to be developed in Escolas Parque of Brasilia, with the aim of rescuing the memory of its educational utopia, trying to contribute to the emergence of a debate about the possibilities of updating its pedagogical proposal, maintaining coherency with its ideas. The methodology applied to the projects is based on theoretical approaches directed to images interpretation in dialogue with the patrimonial education. Keywords: Escola Parque; Art/ education; Patrimonial Education. ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: UMA PITADA DE HISTÓRIA O projeto das Escolas Parque de Brasília integrou a utopia educativa concebida por Anísio Teixeira para promover a educação integral, pela inserção da arte e de atividades físicas, no contexto da proposta modernista da nova capital brasileira que estava sendo construída por Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950. Sua proposta metodológica inovadora integrava o Plano de Construção Escolar, concebido sob inspiração do pensamento filosófico de John Dewey; das concepções 1 Doutoranda em Artes pela Universidade de Brasília. Professora de Artes da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). E-mail: [email protected] 2 Professor de Artes Visuais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Especialista em Arte- Educação e Tecnologias Contemporâneas. 3 Servidora administrativa da Universidade de Brasília. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias Contemporâneas.

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ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: PATRIMÔNIO VIVO

Sheila Maria Conde Rocha Campello1

Max Jucá Kokay2

Ana Maria Pinto de Lemos3

Resumo: Este artigo apresenta a proposta de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em

Escolas Parque de Brasília, tendo como objetivo o resgate da memória dessa utopia educativa,

buscando promover o surgimento de um debate a respeito das possibilidades de atualização de

sua proposta pedagógica, mantendo a coerência com seu ideário. A metodologia aplicada ao

projeto fundamenta-se em abordagens teóricas direcionadas à interpretação de imagens em

dialogo com a educação patrimonial.

Palavras-chave: Escola Parque. Arte/educação. Educação patrimonial.

Abstract: This article presents a research project to be developed in Escolas Parque of Brasilia, with the aim of rescuing the memory of its educational utopia, trying to contribute to the emergence of a debate about the possibilities of updating its pedagogical proposal, maintaining coherency with its ideas. The methodology applied to the projects is based on theoretical approaches directed to images interpretation in dialogue with the patrimonial education.

Keywords: Escola Parque; Art/ education; Patrimonial Education.

ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: UMA PITADA DE HISTÓRIA

O projeto das Escolas Parque de Brasília integrou a utopia educativa concebida por

Anísio Teixeira para promover a educação integral, pela inserção da arte e de atividades

físicas, no contexto da proposta modernista da nova capital brasileira que estava sendo

construída por Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950.

Sua proposta metodológica inovadora integrava o Plano de Construção Escolar,

concebido sob inspiração do pensamento filosófico de John Dewey; das concepções

1 Doutoranda em Artes pela Universidade de Brasília. Professora de Artes da Secretaria de Educação do Distrito

Federal (SEDF). E-mail: [email protected]

2 Professor de Artes Visuais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Especialista em Arte-

Educação e Tecnologias Contemporâneas.

3 Servidora administrativa da Universidade de Brasília. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias

Contemporâneas.

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metodológicas de Augusto Rodrigues, com suas Escolinhas de Arte; do ideário do Manifesto

dos Pioneiros da Educação Nova e, da proposta pedagógica adotada no Centro Carneiro

Ribeiro, popularmente conhecido como Escola Parque da Bahia, que havia sido criado em

1950 pelo próprio Anísio. Por meio dele pretendia-se propor um modelo de educação voltado

para a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nada mais apropriado para

viabilizar essa renovação escolar pretendida do que implantá-la no contexto de mudanças

proposto para essa cidade-laboratório em construção no Planalto Central.

O plano educacional e o projeto arquitetônico da cidade se harmonizavam, buscando

promover a integração plena do educando em sua vida em sociedade, construída sobre essas

bases democráticas e distribuída em unidades de vizinhança dotadas dos recursos necessários

para atender suas necessidades básicas. Assim, as superquadras integrar-se-iam, de quatro em

quatro, compondo as unidades de vizinhança, atendidas por unidades de comércio, lazer e

educação escolar, acolhendo, conforme definido no planejamento educacional, quatro Escolas

Classe e uma Escola Parque4. Nesta eram desenvolvidas atividades físicas, manuais e

intelectuais voltadas ao desenvolvimento integral dos estudantes.

A Escola Parque representaria a referência cultural da unidade de vizinhança. Nela os

alunos deveriam permanecer durante metade da carga horária de oito horas diárias previstas

para a educação integral. À medida que a cidade fosse sendo construída, novas unidades de

vizinhança completas, com todos os recursos previstos no programa urbanístico, seriam,

também, erigidas e, nesse conjunto de escolas, se forjaria a nova sociedade democrática

pretendida.

Mas, esse ideal de ensino não prosperou. Por razões de natureza econômica e política,

que não nos cabe aprofundar neste momento, o plano foi sendo desvirtuado. Novas

superquadras foram sendo construídas sem serem dotadas de todos os recursos e serviços

previstos no projeto original. Apesar do aumento do número de estudantes, a construção de

novas Escolas Parque não se concretizou. Outra distorção logo se fez presente: os operários

que construíram a nova capital, os candangos, foram sendo deixados à margem do projeto

urbanístico, representando um grave desvio dos objetivos do plano de educação democrática.

Essa nova conjuntura ocasionou a diminuição da carga horária das aulas de arte e a

proposta de integração da educação à vida cultural da cidade, missão dada às Escolas Parque,

foi sendo esquecida. Paulatinamente o tempo de permanência dos estudantes nessas escolas

4 As quatro Escolas Classe atendidas pela Escola Parque compõem as escolas tributárias do conjunto.

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foi sendo diminuído. Das quatro horas iniciais, reduziu-se, em 1962, para duas horas, abrindo

espaço para a incorporação, por parte da Escola Parque, de mais uma escola tributária. A

segunda alteração, proposta para “solucionar” o problema da falta de vagas, previa o

atendimento dos estudantes em dias alternados e, por fim, abriu-se mão completamente da

proposta original, reduzindo-se o total de 28 unidades projetadas para as 5 que ainda

persistem, funcionando de forma totalmente diversa do que previa Anísio Teixeira; e as novas

Escolas Classe deixaram de ser vinculadas a uma Escola Parque. Se nos anos iniciais de

Brasília a Escola Parque representou um papel de destaque para a cidade, hoje ela perdeu sua

aura de centro cultural de uma sociedade que se pretendia democrática.

Diagnóstico resultante de observações informais no contexto dessas escolas conduziu-

nos à formulação de algumas hipóteses: parte dos estudantes pouco sabe sobre a história das

Escolas Parque em que estuda e não se sente pertencente a esse espaço. Eles perderam sua

identidade com a escola, ou talvez ela não tenha existido. Esse distanciamento traz como

consequência a desvalorização do papel da arte no cotidiano escolar e na vida dos estudantes.

O ideário da Escola Parque está sendo esquecido e com ele pode estar sendo perdido seu

sentido de existir. Não é incomum perceber, na própria rede pública de Brasília, um discurso

que denota um sentimento negativo em relação a essas escolas, vistas como um espaço de

privilégios concedido a poucos estudantes e professores.

Tal diagnóstico reforçou algumas inquietações que nos levam às seguintes indagações:

qual será o destino das Escolas Parque existentes? Permanecerão como estão? Serão mais

valorizadas como bens culturais? Existe alguma possibilidade de sua desativação, para

transformá-las em escolas de ensino regular, visando suprir carências que sabemos existir?

Qual será o destino desse projeto educacional? Alguns já se encarregaram de salvaguardar o

patrimônio material a ele vinculado, cuidando do tombamento do conjunto arquitetônico da

primeira escola. E quanto ao seu patrimônio imaterial, representado pela proposta educacional

de Anísio Teixeira? Ele corre o risco de ser definitivamente esquecido, sem que tenha sido

devidamente conhecido e valorizado pelos próprios estudantes e pela sociedade em geral, ou

será devidamente preservado?

Tais inquietações nos levaram a buscar meios de contribuir para o debate sobre o

assunto e, por meio dele, analisar as possibilidades de atualização da proposta, considerando

seu ideário face ao presente contexto sócio-histórico? Com esse objetivo foram propostos

estudos sobre o tema na última edição do curso Arteduca: Arte, Educação e Tecnologias

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Contemporâneas5, oferecido a distância pelo Grupo Arteduca, da Universidade de Brasília.

Foram, também, feitos convites aos professores das Escolas Parque existentes, para que

participassem dessa edição do curso, contando com bolsas de estudos. Alguns professores

aceitaram o desafio e, como resultado dessa iniciativa, foram desenvolvidos dois projetos de

pesquisa considerando-se o contexto de duas Escolas Parque: a da SQN 210/211 e a da SQS

307/308.

Como consequência natural desse processo, foi formado um grupo, composto por

alguns desses participantes, para dar corpo às intenções do Grupo Arteduca, de empreender

ações para alcançar os objetivos propostos, que podem ser resumidos da seguinte forma:

pretende-se propor um projeto-piloto, a ser aplicado na Escola Parque 210/211 Norte, visando

resgatar a memória dessa utopia educativa, considerando suas características e seu ideário,

bem como o contexto cultural, histórico e geográfico que as envolveu, desde sua criação,

buscando verificar a viabilidade da atualização da proposta para o momento presente.

Objetiva-se, ainda, contribuir para o levantamento e preservação de conteúdos significativos,

criando um repositório na Internet, um blog que poderá se desdobrar na criação de um portal

direcionado ao acolhimento de informações, contribuindo para o aprofundamento de reflexões

a respeito do tema, por meio de recursos de interação em tempo real e por meio de fóruns de

debates. As estratégias de desenvolvimento desse projeto-piloto baseiam-se nas propostas

desenvolvidas pela equipe desta escola, enriquecida por contribuições relacionadas com o

estudo da unidade de vizinhança e a criação do portal, por parte de integrantes da equipe da

Escola Parque 308 Sul, que atuam junto ao Grupo Arteduca, na UnB. A proposta despertou o

interesse dos organizadores de uma das mesas do 21o

Congresso da Federação de Arte-

educadores do Brasil (CONFAEB) e recebemos o convite para apresentá-la em uma mesa que

discutirá a história do ensino da Arte em nosso país.

Como previsto no primeiro projeto mencionado, o da Escola Parque 210/211 Norte, a

aplicação da proposta deverá estruturar-se em uma série de ações metodológicas

desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar que envolve professores de Artes Visuais,

Música, Teatro, lotados naquela escola, buscando uma aproximação futura com os professores

5 O Grupo Arteduca é um grupo de pesquisa sobre arte/educação em rede, vinculado ao Laboratório de Pesquisa

em Arte Computacional (MidiaLab), do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. O curso é oferecido a

distância pelo Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília, por meio de uma proposta de

aprendizagem colaborativa, desenvolvida nem ambiente virtual de aprendizagem. Sobre o assunto, ver

www.arteduca.unb.br

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de Educação Física e com o corpo docente das escolas tributárias. Sendo assim, tornou-se

necessário buscar referenciais significativos sobre os conceitos de inter/transdisciplinaridade e

sobre a arte/educação, considerando tais linguagens artísticas. Por se tratar de uma pesquisa

que envolve uma proposta educacional planejada para ser implantada em uma cidade

considerada como um bem cultural da humanidade, julgou-se pertinente considerar princípios

da educação patrimonial, apresentados por Horta, Grunberg e Monteiro (1999): observação,

registro, exploração e apropriação, detalhados oportunamente.

Foram, ainda, buscados referenciais definidos conforme os seguintes campos e temas

da pesquisa: Anísio Teixeira e o projeto das Escolas Parque; as relações entre utopia

educativa e o plano urbanístico da Nova Capital; abordagens teóricas relacionadas com

arte/educação; interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e, o uso das tecnologias digitais na

pesquisa e na criação do portal que abrigará o projeto.

Não cabe neste momento detalhar todos esses temas. Apresentaremos, de forma bem

resumida, alguns dados referentes aos dois primeiros, deixando os dois últimos para outra

oportunidade. O primeiro deles foi apresentado, ainda que superficialmente, na

contextualização histórica introdutória. Complementaremos o assunto abordando as relações

da utopia educativa de Anísio Teixeira com os planos arquitetônico e urbanístico, propostos

por Oscar Niemeyer e Lucio Costa, buscando nas unidades de vizinhança os fundamentos da

proposta.

Nas ideias do inglês Ebenezer Howard (1850-1928), considerado precursor do

urbanismo, encontramos as primeiras descrições de uma cidade utópica, onde as pessoas e a

natureza conviviam de forma harmônica. Sua publicação, intitulada Garden Cities of

Tomorrow, de 1898, deu início a um movimento chamado cidades-jardins, cujo modelo

consistia em uma comunidade autônoma, cercada por um cinturão verde, em que o princípio

fundamental estaria muito próximo ao conceito atual de ecocidade, onde as pessoas

aproveitariam as vantagens do campo, sem ter que passar pelas desvantagens da cidade

grande.

Sob a influência desse movimento, Clarence Arthur Perry (1872-1944), arquiteto e

urbanista americano, apresentou pela primeira vez o conceito de unidade de vizinhança, em

1923, postulando que os equipamentos urbanos deveriam ser dispostos de tal forma que as

projeções habitacionais não fossem interrompidas por autovias, mas, sim, tangenciadas,

permitindo a preservação da vida comunitária e a proteção e segurança das crianças. Assim,

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as crianças poderiam ir e vir da escola sozinhas, sem se cansar. A escola primária é

considerada o equipamento básico principal e orientador para a construção de uma unidade de

vizinhança, que traz no foco social a base do seu conceito (FERRARI, 1991, p. 301). Eis aí a

origem das unidades de vizinhança presentes na concepção de Brasília.

Dissertando a respeito das escalas que fundamentam o projeto urbanístico de Lucio

Costa, Francisco Lauande (2007) afirma que é preciso que se compreendam as duas escalas

que o compõem: a residencial e a monumental. A escala monumental abriga a dimensão

coletiva, com seus marcos institucionais. A residencial representa a escala humana no nível

individual. As unidades de vizinhança foram pensadas para atender às necessidades humanas,

com boa qualidade. Dessa forma, relata o autor, as superquadras foram implantadas

observando-se a curva de nível do terreno, prevendo o gabarito de seis andares, de tal forma

que a altura máxima da cobertura dos prédios se igualaria à copa das árvores ao longo da

curvatura do terreno, garantindo a qualidade do ambiente habitado pelos indivíduos.

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em entrevista recente, no programa Casa

Brasileira, transmitido pelo canal GNT, ao comentar sobre o trabalho de Lúcio Costa,

comprova essa preocupação com a escala humana, presente no projeto de Brasília, narrando

que, quando perguntado sobre o porquê de ter adotado os seis andares como gabarito para os

prédios residenciais do Plano Piloto, respondia que este seria o limite possível para que a mãe

pudesse se comunicar com seu filho, pela janela, quando necessário.

Tais imagens podem representar perfeitamente os fundamentos do conceito de unidade

de vizinhança que se aplica à concepção do projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília.

Tal conceito transparece na composição das primeiras superquadras residenciais – SQS 107 e

108 – cuja construção foi iniciada em 1959, sob o comando de Oscar Niemeyer, então diretor

do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital

(NOVACAP). Em composição com as vizinhas 307 e 308, tal conjunto formou a primeira

unidade de vizinhança, dotada dos equipamentos previstos no projeto urbanístico de Lucio

Costa – escola, igreja, comércio, piscina (clube) e cinema. Estava ali composto o modelo que

se pretendia para provocar um estilo próprio de vida na capital federal, estendendo-se para

todo o Plano Piloto, onde seus moradores encontrariam, dentro daquele perímetro, tudo o que

fosse necessário para o seu dia a dia. Os prédios, construídos sobre pilotis, permitiriam a

democratização do espaço, facilitando a circulação das pessoas e a convivência dos moradores

nesses espaços comuns, que perdiam seu caráter privado.

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O plano arquitetônico de Lucio Costa fazia crer que a cidade reunia condições ideais

para a implantação de um sistema integrado de educação. O projeto de educação pública

concebido para Brasília foi o primeiro a se ocupar de uma distribuição espacial democrática

dos centros escolares. Assim, as escolas primárias seriam edificadas no interior das quadras,

de modo que as crianças não precisassem se deslocar por longos trajetos para alcançá-las.

Anísio Teixeira convenceu Lucio Costa a destinar o espaço que era previsto para a construção

de escolas secundárias, para a criação das escolas parque, que seriam como “universidades

infantis”.

Figura 1 - Igrejinha e comercial da entrequadra 108/107 – 307/308 Sul.

Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.

Figura 2 – Vista da Igrejinha.

Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.

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Figura 3 - Croquis dos blocos de uma superquadra.

Fonte: Nanci Corbioli. Publicada originalmente em PROJETODESIGN, edição 334, dez. 2007. Disponível em:

<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008.html>.

A estrutura da cidade compreendia uma sequência de grandes quadras, densamente

arborizadas, as superquadras, nas quais seriam edificados os blocos residenciais dispostos de

maneira variada. O tráfego de veículos e trânsito de pedestres não se entrecruzariam,

garantindo especial atenção ao acesso seguro à escola primária. As escolas parque ficariam

nas entrequadras, ao centro da unidade de vizinhança.

Em consonância com essa concepção urbanística, a proposta de Anísio Teixeira

descrevia especificações relativas às construções das escolas, detalhando suas características

físicas. A escola não se limitaria ao ensino primário, mas se referiria a diferentes níveis de

escolarização, desde o elementar ao superior, seguindo uma continuidade. O ideal para a

escola seria manter a educação caminhando junto à sociedade, acompanhando as mudanças

que estavam ocorrendo graças ao acelerado desenvolvimento científico e tecnológico,

formando um novo homem, de acordo com a vida moderna. Anísio acreditava que as

necessidades da civilização implicavam em obrigações à escola, aumentando suas atribuições

para atender as necessidades específicas de ensino e de educação e também ao convívio

social.

Figura 4 - Construção do Cine Brasília

Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal.

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Figura 5 - Canteiro de obras da Escola Parque 307/308 Sul – 1959

Fonte: Arquivo Brasília.

Disponível em: <http://www.facebook.com/photo.php?fbid=242316779218174&set=

a.239102686206250.50515.177474179035768&type=1&theaterjn>.

O primeiro conjunto de superquadras, projetado e executado, foi o único que seguiu o

projeto original da nova capital. Ainda assim, percebe-se que não conseguiu se manter dentro

da utopia de seus idealizadores. Isso é claramente perceptível quando nos deparamos com a

realidade que hoje se apresenta na vida cotidiana da cidade e, em especial, da população que

habita essa unidade de vizinhança modelo. No percurso natural de desenvolvimento da

cidade, a utopia foi sendo gradativamente substituída pela realidade cotidiana e é bem

provável que grande parte da comunidade que a habita desconheça o ideário em que ela foi

concebida.

Sobre o assunto, Max Jucá Kokay et al. concluem que as novas condições conjunturais

e estruturais de ordem política, administrativa e social, que acompanharam o processo de

implantação da cidade

levaram à gradual descaracterização do plano de educação elaborado por Anísio Teixeira. Dentre

os fatores que desencadearam essas alterações, podemos citar: a situação política entre os anos de

1961 e 1964; a explosão demográfica de Brasília, causando descompasso entre a implementação

do plano e as demandas educacionais; a paralisação das obras públicas durante o governo de Jânio

Quadros [sob] alegação do alto custo do empreendimento (construção de novas unidades); redução

da jornada de trabalho dos docentes para seis horas; a redução do período de permanência diária

dos alunos na instituição para duas horas; carência de docentes para o ensino primário, em

decorrência da desmotivação de possíveis candidatos à transferência para Brasília; falta de prédios

escolares; [...] greve e demissões de docentes; perseguição ideológica; crise política e instauração

da ditadura militar (KOKAY et al., 2012, p. 25).

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O aumento da densidade demográfica, acarretando aumento da frota de veículos,

descaracterizou o cotidiano das unidades de vizinhança e de toda a cidade. A ocupação das

superquadras passou a ser feita de forma bem diferente da imaginada por Lucio Costa, que

previa a alocação de pessoas de distintas classes sociais em seus blocos, vivendo porta com

porta. Para completar o quadro, os condomínios de moradores das superquadras passaram a

limitar o acesso aos pilotis dos blocos, criando “jardins” cercados, obstruindo a livre

circulação de pedestres. As Escolas Classe e a Escola Parque passaram a ser frequentadas, em

sua maioria, por crianças que residiam fora da unidade de vizinhança, visto que seus antigos

moradores envelheceram e os novos, com maior poder aquisitivo, preferiram matricular seus

filhos em escolas particulares.

Tais distorções, segundo Lauande (2007), encontram respaldo nas próprias

características do urbanismo que,

assim como as leis, é incapaz de eliminar determinados vícios da vida social. Sem embargo, os

equívocos estéticos são tradutores fiéis das doenças que afligem a sociedade. O arquiteto é,

também, um construtor de símbolos, transmissores de valores convencionados pela sociedade cuja

atividade deve ter uma perspectiva direcionada para uma crítica comprometida com a realidade de sua época. A sua relação, conflitante ou não, com o poder, como consequência, torna-se

fundamental tanto quanto inevitável.

KOKAY et al. (2012) concluem que, apesar de terem sofrido descaracterizações e

adaptações, as Escolas Parque de Brasília continuam representando possibilidades de

viabilização da educação integral e integradora, por meio da formação artística e de expressão

corporal em prol da democratização do ensino na rede pública. Acreditamos que estes são

alguns dos ecos dessa utopia pedagógica que pretendemos perseguir. Para tanto deveremos

apurar nossos sentidos deixando que esses ecos de um patrimônio, ainda vivo, nos afete.

Tais ecos também podem ser percebidos no contexto cultural, na narrativa de

representantes das gerações que aqui cresceram. É recorrente, por exemplo, ouvir relatos por

parte dos contemporâneos da “geração do rock”, a respeito da condição agregadora

proporcionada pelo projeto urbanístico das superquadras, que permitia uma rica convivência

entre jovens amigos. Nos pilotis dos blocos do Plano Piloto, crianças brincavam e jovens se

reuniam para tocar violão, formar bandas, ou apenas para conversar. Hoje, roqueiros ou não,

atribuem isso ao espaço público criado pelos seus projetistas e idealizadores. Isso vem

comprovar que a unidade de vizinhança, mesmo não tendo sido repetida da forma original,

como nesse conjunto de superquadras aqui citado, possibilita, sim, uma convivência mais

humana, com uma melhor qualidade de vida para os seus moradores.

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Apresentaremos a seguir algumas informações sobre as abordagens metodológicas

previstas no projeto da equipe da Escola Parque 210 Norte, que serão incorporadas ao projeto-

piloto.

O processo, relatado no referido projeto (KOKAY et al., 2012) será iniciado por meio

da realização de pesquisas na Internet, baseadas em palavras-chave, que deverão conduzir os

estudantes a novos conceitos, proporcionando condições para que eles se percebam como

coautores na construção deste projeto. Durante o exercício investigativo eles serão

estimulados ao compartilhamento de descobertas, valorizando a colaboração e o

companheirismo entre os alunos. Em um segundo momento, as pesquisas exploratórias

iniciais serão complementadas na biblioteca da escola, com o objetivo de aprofundar estudos

sobre o tema e de incentivar a realização de investigação em diferentes tipos de mídia,

valorizando, também, a leitura de livros. Nesse processo serão consideradas ações previstas na

educação patrimonial.

Tais ações envolvem pesquisas etnográficas, baseadas em métodos que incluem a

observação participante, a realização de entrevistas abertas, o registro e a exploração de dados

e a apropriação de resultados obtidos, para fundamentar análises de possibilidades

metodológicas. Serão incentivados os estudos interdisciplinares, ou transdisciplinares,

envolvendo a arte/educação, por meio da Abordagem Triangular, sistematizada por Ana Mae

Barbosa, que propõe estudos baseados em ações de contextualização, leitura imagética e do

fazer artístico. Visando fundamentar tais ações, serão buscados subsídios em textos de

Terezinha Losada, que apresenta uma interessante síntese de vários métodos relacionados

com a compreensão da História da Arte, baseados na interpretação de características e

tendências percebidas nas obras. Reproduz-se a seguir um quadro no qual a autora apresenta

uma síntese de vários métodos da História da Arte, com suas características e tendências6.

Tabela 1 - Síntese de abordagens metodológicas para interpretação imagética.

MÉTODO

CARACTERÍSTICAS

TENDÊNCIAS

Biográfico relação: arte e vida do

artista história de vida (Vassari)

influência de fatores psíquicos (Freud /

Lacan)

Arqueológico pesquisa de campo e

análise científica dos escritiva (Caylus)

desdobramentos interpretativos (Winckelman)

6 O quadro reproduzido integra o conteúdo de um dos módulos de estudos que compõem a Série GTArtes,

produzido para a Licenciatura em Artes Visuais do Programa Pró-Licenciatura.

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objetos

Sociológico relação: arte e sociedade influência de fatores naturais (Taine)

influência de fatores econômicos (marxismo)

influência de fatores culturais (neomarxismo

e pós-modernismo)

Formalismo ênfase na forma relação forma e estilo (Wölfflin)

percepção visual (Gestalt)

Iconologia ênfase na imagem conteúdo simbólico/cultural da imagem

(Riegl, Warburg, Cassier, Panofsky)

Estruturalismo análise baseada em

categorias e estruturas

teóricas

teorias da linguagem (Peirce, Saussure,

seguidores)

teorias sociais (marxismo, antropologia)

teorias psicológicas (psicanálise, Gestalt)

Pós-Estruturalismo ênfase na diferença ou

pluralidade –

microteorias

(gênero, etnia, idade,

etc.)

teorias filosóficas (pós-estruturalismo

francês)

teorias sociais e art íst icas sobre a pós-

modernidade (T.J. Clark, Griselda Pollock,

Gen Doy)

Dos Peritos/Crítica opinativa, interpretativa

(em última instância,

orienta as atividades do

historiador, do crítico,

como também do

público)

observação de detalhes – método moreliano

1950 – purismo arte abstrata (Greenberg)

1960 – experimentalismo vanguardas (arte e

vida)

1980 – pós-modernismo (paródia, pastiche,

multiculturalismo)

Em conformidade com esse pensamento inter/transdisciplinar, um site criado na escola

pode ser explorado conjuntamente por várias disciplinas, para disponibilização de conteúdos e

interação entre os participantes, demonstrando que o conhecimento não é fragmentado, mas

sim passível de conexão.

A metodologia proposta por Denise Soares dos Santos, que integra o grupo da Escola

Parque 210 Norte, para ser aplicada aos estudos relacionados com a música fundamentar-se-á

no modelo TECLA, proposto pelo músico e educador inglês Keith Swanwick, e envolvem

técnica, execução, composição, literatura e apreciação. Serão propostas, também, atividades

relativas à sonorização de imagens, baseadas na Paisagem Sonora de Murray Schefer,

surgidas para construir o universo resultante de experiências e de conhecimentos adquiridos,

“numa integração entre as artes por meio da utilização das tecnologias na produção de sons,

na captura de imagens e na fusão de ambas” (KOKAY et al., 2012).

Ao final desta etapa inicial da pesquisa, os alunos deverão compreender as origens do

projeto das Escolas Parque, percebendo que ele é anterior à existência de Brasília,

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descobrindo quem foi o autor da proposta e conhecendo as influências que esse proponente

sofreu das teses deweyanas, após realizar estudos no exterior.

Três recortes de tempo definirão a continuidade da investigação, nas etapas

subsequentes. São eles: recorte 1 – o cenário cultural brasileiro no período da construção de

Brasília e da primeira Escola Parque; recorte 2 – do período em que foi criada a escola em que

eles estudam, a Escola Parque 210 Norte; recorte 3 – o momento atual das Escolas Parque de

Brasília.

No recorte 1, serão propostas atividades relativas ao cenário cultural do Brasil do

período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque inaugurada, em 1960, na 308

Sul. Será abordada a história da cidade e da escola, considerando artes plásticas, teatro,

cinema, música, moda e comportamento. As imagens coletadas e produzidas ao longo dessa

pesquisa serão objeto de análise e comparações, baseadas na Abordagem Triangular, nos

passos do Image Watching e em outras abordagens interpretativas da produção artística. Para

finalização das atividades referentes ao primeiro recorte será realizado um evento intitulado

Festival Bossa Nova, dedicado à audição de músicas e a apresentação dos trabalhos referentes

ao recorte temporal, relacionando-o com o contexto histórico analisado.

No recorte 2, relativo ao período em que foi criada a Escola Parque 210 Norte, serão

realizadas pesquisas a respeito da transição do cenário em que foi implantada a primeira

Escola Parque, abordando o período da ditadura militar, citando os “anos de chumbo”, a

rebeldia e a repressão dos anos 1970, mencionando até chegar ao período da inauguração da

escola, ocorrido na década de 1980. Será analisado esse contexto cultural, mencionando o

processo de redemocratização que resultou na redação e a promulgação da nova Constituição

Brasileira. Esse enfoque foi considerado necessário para que os estudantes possam

compreender os motivos que levaram à interrupção do processo de implantação do programa

educacional, abortando um projeto previsto para servir de modelo para todo o Brasil. Está

prevista uma visita ao Congresso Nacional, onde manterão contato com a realidade da política

brasileira, de ontem e hoje. No campo cultural, pretende-se ressaltar a condição atribuída a

Brasília como a Capital do Rock, propondo atividades como: a audição e interpretação de

músicas das bandas da cidade; a experimentação de instrumentos eletrônicos, explorando as

batidas do rock; a produção de ilustrações, histórias em quadrinhos e cartazes; a

experimentação cênica (caracterização, postura, dança), culminando com a realização de um

Festival de Rock (KOKAY et al., 2012, p. 47-48).

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No recorte 3, referente ao momento atual, está prevista a realização de uma

“caminhada patrimonial” pela Escola Parque 210 Norte e arredores, observando, registrando e

explorando impressões, por meio da produção de textos, desenhos e fotografias. Dessa forma

poderão identificar as diferenças entre esta e a Escola Parque 308 sul, comparando suas

características e as de suas respectivas unidades de vizinhança.

A equipe propõe o uso do material resultante das pesquisas na elaboração de roteiros e

criação de histórias em quadrinhos e animações, que poderão ser produzidas por meio do uso

de programas computacionais. Nelas, os estudantes poderiam apresentar a “Escola Parque dos

seus sonhos”, planejada com base nos conhecimentos adquiridos no processo.

Como encerramento do projeto, propõe-se a realização do Festival Escola Parque:

patrimônio vivo, quando serão realizadas exposições, instalações e apresentações artísticas

contemplando a produção resultante dos três recortes temporais. Nessa mesma etapa

pretendemos lançar o portal do projeto, divulgando-o como um canal aberto para a

comunicação com a comunidade (KOKAY et al., 2012, p. 48).

É importante frisar que todo esse planejamento será detalhado e ajustado, conforme

avaliações processuais realizadas.

Como desdobramento, o grupo lembra que será importante contar com novos

parceiros, ao final do desenvolvimento do projeto-piloto, abrindo possibilidade de adesão de

professores das escolas tributárias em nova experiência a ser desenvolvida nos semestres

subsequentes. Tal adesão poderia viabilizar a promoção da interdisciplinaridade pretendida,

por meio de contribuições em ações que envolvam suas respectivas áreas de conhecimento.

No percurso, ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa, quando nos

ocupávamos de buscar informações a respeito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

(1932), nos deparamos com a homenagem prestada pela Câmara dos Deputados, em sessão

solene, no dia 10 de julho de 2012, celebrando os seus 80 anos. Nada mais oportuno do que

registrarmos, aqui, essa homenagem, como uma reflexão importante sobre a educação no

Brasil. Nesse sentido, gostaríamos de destacar em nossas considerações finais os seguintes

trechos publicados em matéria da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília

sobre essa homenagem:

Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da

educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de

reconstrução nacional. [...] O alerta, factível para os dias atuais, foi feito em 1932 por um grupo de

notáveis no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento que representou um marco ao

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apresentar uma proposta inédita: educação laica, pública, universal e de qualidade. “O maior

legado do manifesto foi ter retirado a educação do sistema censitário que ainda existia. A educação

não poderia mais ser um privilégio de classe, mas um fator para o próprio projeto de

desenvolvimento do país”, disse o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa

Junior, que participou da mesa da sessão solene.

Nessa seção solene reiterou-se a necessidade de ampliação dos recursos públicos

destinados à educação que já era reclamada pelos pioneiros do manifesto há 80 anos e que foi

aprovada recentemente, correspondendo a 10% do PIB. Esperamos que não só se cumpra essa

meta, mas que sua implantação nos proporcione uma real e crescente qualidade no ensino.

Neste trabalho, como já foi dito, pretendemos não só fazer um resgate a partir das

memórias da comunidade escolar, como também registrar todo o processo de pesquisa em um

site que abrigará, inicialmente, o resultado obtido na aplicação do projeto-piloto na Escola

Parque 210/211 Sul. A partir desse site, construído de forma coletiva, pretende-se, também,

abrigar informações coletadas sobre as demais Escolas Parque do Distrito Federal, em um

processo contínuo de análise de possibilidades de formação e construção de novas unidades

de vizinhança em rede, no sentido de incentivar o resgate do projeto de educação original da

Escola Parque de Anísio Teixeira, em consonância com o plano urbanístico de Brasília, de

Lucio Costa.

Na relação entre presente e passado, podemos perceber o quanto o resgate da memória

se torna importante para a construção de uma educação mais sólida. O reconhecimento dessa

relação, necessariamente, tornará a sociedade mais atenta às suas possibilidades de conquista

pela sua participação efetiva nesse processo. A utopia deve ser perseguida, sempre...

Referências bibliográficas

FERRARI, Celson. Planejamento municipal integrado. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1991.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz.

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LEMOS, Ana Maria Pinto de et al. Escola Parque de Brasília: resgate de memórias para a

construção de uma nova unidade de vizinhança. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso

(Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas) – Grupo Arteduca, do

Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília, Brasília. 2012.

MOREIRA, Terezinha Maria Losada. “Teoria da Arte”. CAMPELLO, Sheila; GUIMARÃES,

Leda (orgs.). Módulo 8 – Série GTArtes – Programa Pró-licenciatura. Rio de Janeiro: Duo

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______. A interpretação da imagem: subsídios para o ensino da arte. Rio de Janeiro: Mauad

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