Escolas que deram certo

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Entre a Finlândia e o Piauí "Os sistemas educativos que deram certo no mundo são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação”. Claudio de Moura Castro A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui a melhor escola secundária do Brasil. O que mais haverá de comum entre a Finlândia e o Piauí? É simples, ambos praticam a teoria do feijão-com-arroz educativo. Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um dicionário para entender certas palavras e de suplemento de oxigênio para navegar nos ares rarefeitos das teorias recitadas. Para outros, sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas, esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que deram certo, vamos descobrir que são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação. Vejamos o que dizem as pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos bons sistemas. • Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto é, possuem metas. Além disso, são poucas metas, que não mudam de uma hora para outra e são compartilhadas por todos. E não é só isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois anos, ganhar tantos pontos nos testes).

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Seleção de dois pequenos artigos sobre duas experiências de gestão escolar. A primeira escrita por Cláudio de Moura Castro e a segunda por Erika Vieira.

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Entre a Finlândia e o Piauí

"Os sistemas educativos que deram certo

no mundo são simples, óbvios e robustos.

Praticam o feijão-com-arroz da educação”.

Claudio de Moura Castro

A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui a melhor escola

secundária do Brasil. O que mais haverá de comum entre a Finlândia e o Piauí? É simples,

ambos praticam a teoria do feijão-com-arroz educativo.

Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um dicionário para entender

certas palavras e de suplemento de oxigênio para navegar nos ares rarefeitos das teorias

recitadas. Para outros, sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas,

esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que deram certo, vamos

descobrir que são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação.

Vejamos o que dizem as pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos

bons sistemas.

• Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto é, possuem metas.

Além disso, são poucas metas, que não mudam de uma hora para outra e são

compartilhadas por todos. E não é só isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois

anos, ganhar tantos pontos nos testes).

• O ambiente é sempre saudável, os fluidos são bons e os professores estão satisfeitos. De

fato, para os professores, a atmosfera da escola é pelo menos tão importante quanto o

salário. Ademais, a sociedade valoriza e prestigia os professores.

• As autoridades dão às escolas muita autonomia para operar. Há forte liderança do diretor

("a escola tem a cara do diretor"). Ele manda. É um real gerente, estando livre para se

mover. Mas deve atingir as metas estabelecidas, e seu desempenho é avaliado com rigor.

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Quase não é preciso dizer: nem sua indicação é moeda de troca na política nem ele é eleito

pelos seus pares.

• Sejam públicas ou privadas, as escolas são administradas como as boas empresas. Há

cobrança de resultados e vantagens para quem desempenha bem seu papel. Os melhores

mestres são colocados nas turmas mais difíceis. Ao mesmo tempo, malandros e

incompetentes ganham puxões de orelha.

• Provavelmente, os professores nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da

moda pedagógica. Contudo, conhecem bem os assuntos que ensinam e aprenderam a

ensinar. De fato, pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.

• Há muita ênfase em aplicar as teorias em problemas da vida real – em vez de decorar

fatos, fórmulas e definições. Os livros são de boa qualidade, detalhados e universalmente

usados. Os professores não precisam "criar" sua aula (embora não esteja proibido), pois

existe uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que acontece na aula (os

livros e os guias dos professores oferecem bancos de perguntas, de exercícios e de

aplicações práticas).

• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o que é para ser ensinado

e aprendido. Segundo um funcionário do Ministério da Educação da Finlândia: "Nosso

currículo prescreve, nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas

competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa (Programa Internacional de

Avaliação de Alunos)".

• A sala de aula é convencional. Existem avaliações freqüentes, bastante dever de casa e

muito feedback para o aluno. A jornada de trabalho é longa (pelo menos cinco horas), mas

não há necessariamente tempo integral. Os alunos são seriamente cobrados e precisam

estudar. A disciplina é "careta" (por exemplo, não se pode conversar durante a aula).

• A família acompanha a vida escolar do aluno e o vigia de perto, para assegurar que ele fez

o dever de casa. Além disso, conversa muito com ele e garante a existência de um ambiente

físico e psicológico que favorece o estudo e o aprendizado. Televisão berrando ou

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sintonizada na novela pode ser a distração da família, mas desvia o aluno do seu maior

projeto de vida, que é a educação.

Quando examinamos as melhores escolas do Enem, lá está também a predominância da

doutrina do feijão-com-arroz, observada nas melhores escolas de outros países. Colecionam

os melhores lugares as instituições (confessionais ou não) de tradição rígida, os colégios

militares e outras do mesmo estilo. Ainda bem que não são necessárias fórmulas

mirabolantes para oferecer uma boa educação.

Claudio de Moura Castro é economista (Claudio&Moura&[email protected])

Fonte: http://veja.abril.com.br/040407/ponto_de_vista.shtml

Relação professor aluno faz escola se destacar na Prova Brasil

Erika Vieira

Um corpo docente estável e integrado, professores que conhecem bem a realidade dos

alunos e do entorno da escola. Esse é o segredo que faz a Escola Municipal Olavo Pezzotti

se destacar na avaliação da Prova Brasil, realizada pelo Ministério da Educação. De acordo

com a Diretora Maria de Fátima Borges de Oliveira, um corpo docente comprometido com

a escola é fundamental para o bom andamento da instituição.

A Prova Brasil foi aplicada nas escolas estaduais e municipais de todo o país, sendo

avaliados alunos de 4º e 8º série, divididos em português e matemática. Os testes foram

compostos de 350 pontos, desses os estudantes da 8º série da Olavo Pezzotti alcançou

248,40 em português e 259,35 em matemática. Ficando acima da média nacional, 222,63 e

237,46 respectivamente. Já as crianças da 4º série obtiveram 186,43 em português e 184,35

em matemática. Também superaram a nota nacional de 172,91 na primeira disciplina e

179,98 na segunda.

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”Fora do período escolar as crianças têm atendimento, que não se confunde com programas

como o pós-escola. Sempre tivemos a preocupação de utilizar o que o bairro tem: Instituto

Tomie Ohtake , a Sala UOL de Cinema, os postos de saúde que são parceiros, os estagiários

mandados pelas universidades. As crianças estão cercadas de muitos interlocutores que as

ajudam ver o mundo de maneira diferente”, explica a diretora. Para ela estar inserida dentro

de um bairro educativo que valoriza a arte e a educação, como a Vila Madalena, estimula os

jovens a gostar de aprender, pois ficam suscetíveis a absorver novos conhecimentos.

Uma dos pontos que contribui para o bom desenvolvimento dos alunos é dentro do Projeto

Político Pedagógico da Olavo Pezzotti ser priorizado a relação da escola com instituições

parceiras. Como acontece com a PUC e a USP que preparam os professores para lidar com

as crianças deficientes em sala de aula; a Rotary que oferece formação profissional aos

alunos; a ACM (Associação Cristã de Moços), a ONG Cidade Escola Aprendiz, igrejas,

entre outras que aplicam atividades com os estudantes. “As crianças tem um atendimento e

atenção em tempo integral”, fala Maria de Fátima.

Apesar das iniciativas de inclusão fazerem diferença no ensino, a diretora enfatiza que o

mais importante é a relação do professor com o aluno. “Relação professor aluno tem um

peso muito grande”. E quanto mais estabilizado o corpo docente melhor se concretiza essa

relação. “Nesse semestre calculamos que o comportamento piorou, porque recebemos um

contingente de novos professores que ainda não estão afinados com a escola. Isto está

diretamente relacionado com a pichação, depredação do patrimônio escolar, etc”, diz a

diretora da EMEF Olavo Pezzotti.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/m_sp_120706.shtml