ESPECIAL D DEZEMBR D 015 TESTEMUNHO DE FÉ TESTEMUNHO DE FÉ ... · de Dom Orani para que voltasse...

1
12 ESPECIAL 13 ESPECIAL TESTEMUNHO DE FÉ | 6 A 12 DE DEZEMBRO DE 2015 6 A 12 DE DEZEMBRO DE 2015 | TESTEMUNHO DE FÉ A celebração em ação de graças pelos 40 anos de ordenação episcopal de Dom Karl Josef Romer será no dia 12 de dezembro, às 8h30, na Catedral de São Sebastião, no Centro Dom Romer celebra 40 anos de episcopado A frase que define sua vida, afirmou o bispo suíço-brasileiro, Dom Karl Josef Romer, é uma passagem bíblica que faz todo sentido: “Coi- sas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou; bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2, 9). A frase tem o objetivo de “fazer de sua vida uma irradiação desta certeza, desta esperança”. Alicerçado no lema: ‘Meu viver é Cristo’ (Fl 1,21), que adotou ao ser ordenado como sucessor dos apóstolos, Dom Romer tem dedicado sua vida à formação do clero, à instrução dos fiéis leigos e à edificação da fecundidade da família humana. No Rio de Janeiro, seu ministério está entrelaçado, de uma forma especial, com a história do Seminário Arqui- diocesano de São José. Quem o conhece de perto sabe de seu empenho, de sua contribuição, de tudo o que fez para oferecer uma estrutura mais adequada e dinâmica para a formação dos seminaristas, dos futuros sacerdotes. TERRA NATAL Originário da localidade de Benken, cantão de St. Gallen, no Nordeste da Suíça, Dom Romer nasceu no dia 8 de julho de 1932, filho de Johann Josef Romer e de Josephine Glaus. “Aprendi a rezar bem cedo, e desde os 10 anos comecei a me interessar pelo sacerdócio. Misturava-se em mim um inefável desejo do sacerdócio, com um santo temor. Achava bonito ver o sacerdote celebrando, e pensava na possibi- lidade de fazer a mesma coisa. Já com 12 anos, comecei a frequentar, em Näfels, uma escola em regime de internato para aprender latim, necessário para ser padre. Não reve- lei a ninguém o meu desejo. Meu pai era sério, de poucas palavras, e me questionou o porquê do latim? Encontrei um pretexto: ‘é uma boa escola’. Na verdade era uma boa escola mesmo, dirigida pelos capuchinhos, com professores de alto nível. Ele, como minha mãe, perceberam, mas não perguntavam”, contou. FORMAÇÃO Sua formação presbiteral começou em 1950, cursando filosofia em Appenzell (Suíça), seguida de teologia em Innsbruck (Áustria), München (Alemanha) e em Roma (Itália), onde obteve o doutorado pela Pontifícia Universi- dade Gregoriana. Ordenado sacerdote em 22 de março de 1958, aos 25 anos, trabalhou como vigário paro- quial em Sargans e depois, por três anos, na mesma função na Paróquia Sant Otmar, na cidade de St. Gallen. COINCIDÊNCIAS DE DEUS O jovem sacerdote quis fazer o doutorado. Deveria ser professor de religião para alu- nos do segundo grau. Um ami- go de sua diocese, que estava estudando em Roma, padre Cristiano Jakob Krapf, hoje bispo emérito de Jequié (BA), escreveu para ele dizendo que um bispo brasileiro, Dom Eu- genio de Araujo Sales, então administrador apostólico da Arquidiocese de Salvador (BA) estava procurando professores de teologia dogmática para o seminário. “Sem ser do meu conheci- mento, ele havia me indicado para Dom Eugenio. Depois, me escreveu novamente, e disse para ir até Roma, pois o então bispo queria falar comigo. Respondi que não poderia ir, sem que o meu bispo estivesse de acordo”, contou. Muito ‘esperto’, o amigo mostrou a carta para Dom Eu- genio, que de imediato foi falar com o bispo de St. Gallen, Josef Hasler. De Munique, padre Romer pegou o trem e viajou a noite inteira até Roma. “Foram mais de duas horas de conversa. Na presença de Dom Eugenio, meu bispo perguntou: ‘então o senhor queria ir mesmo?’ Eu disse: não, senhor bispo! A pergunta é outra: Se a Igreja precisa e se o meu bispo der a bênção, pois a ele prometi obediência. ‘Agora falou bonito’, disse o meu bispo, e perguntou: ‘tem coragem?’ Prontamente respondi: sim, tenho. ‘Então te dou a bênção’, respondeu”, contou. SACERDOTE MISSIONÁRIO Dom Romer chegou ao Brasil em 11 de fevereiro de 1965 como missionário ‘fidei donum’ na Arquidiocese de Salva- dor, na Bahia, onde foi professor de teologia no Instituto Superior de Teologia, fundado e dirigido por ele, junto ao seminá- rio, posteriormente integrado na Universidade Católica de Salvador (Ucsal). Dom Eugenio confiou-lhe também uma paróquia bem su- burbana (Plataforma), onde tinha excelente apoio de três religiosas gaúchas, o que facilitava muito sua intensa formação de catequista. Chegou a fundar também um curso de teologia para leigos, no qual foi diretor. Naturalizado brasileiro em 1990, nunca cortou ligações com o seu país. Os laços fra- ternos mantidos com seus familiares e amigos, que sempre apoiaram seu ministério, lhe permitiram o favorecimento de importantes e inúmeros empreendimentos no âmbito da formação, da evangelização e da caridade social. RIO DE JANEIRO Em uma nova etapa de sua vida, Dom Romer chegou, em 1972, ao Rio de Janeiro para acompanhar o ministério do cardeal arcebispo Eugenio Sales, que esteve à frente da Arquidiocese de São Sebastião no período de 1971 a 2001. Era professor de teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), quando, em 28 de outubro de 1975, foi nomeado pelo Papa Paulo VI como titular de Colonnata e bispo auxiliar na Arquidiocese do Rio de Janeiro. “Não somos donos de nossas vidas. Os apelos que Deus faz recebemos através da Igreja. Os seus planos, que são maravilhosos, nunca os entendemos totalmente”, destacou, referindo-se ao episcopado. Como sucessor dos apóstolos, foi ordenado pelas mãos do Cardeal Sales no dia 12 de dezembro do mesmo ano, na memória de Nossa Senhora de Guadalupe. Um dos consagrantes foi Dom Josef Hasler, que o tinha ordenado sacerdote em 1958, bem idoso, vindo da Suíça. Estavam presentes na ordenação o pároco da sua paróquia de origem, padre Xaver Lehnherr, sua mãe, cuja oração tinha acompanhado e abençoado todo o seu sacerdócio; e também o irmão Edelbert com sua esposa, Elisabeth. Como bispo auxiliar, esteve na direção de diversos organismos da arquidiocese, inclusive do Vicariato para a Vida Consagrada. Empenhou-se na construção da última ala do Centro de Estudos e Formação do Sumaré, no Rio Comprido, com uma capela dedicada a ‘Cristo esplendor da Glória do Pai’. Inaugurado pelo Cardeal Sales, no dia 15 de outubro de 1996, o presbitério foi obra, toda talha- da em madeira, da artista plástica Maria Senira Biscaro, pertencente à Congregação das Religiosas de Schönstatt, de Santa Maria (RS). Ele teve ainda papel de destaque na preparação do 2º Encontro Mundial das Famílias, ocorrido no Rio em outubro de 1997, com a presença do Papa São João Paulo II. PROMOTOR VOCACIONAL Com nomeação expressa, Dom Romer assumiu em nome do cardeal arcebispo o imenso campo da formação sacerdotal no âmbito da Pastoral Vocacional, numa nova dinamização do seminário e por numerosas iniciativas de formação contínua do clero. Neste tempo, instalou e foi diretor da Faculdade Eclesiás- tica de Filosofia e do Instituto de Direito Canônico. Instalou igualmente o Instituto Superior de Teologia. “O episcopado é a plenificação do ministério sacerdotal. Em tudo que faço procuro multiplicar os dons que recebi de Deus”, explicou. A crise vocacional provocada pelos efeitos do Concílio Vaticano II afastou muitos candidatos do seminário. Na época em que Dom Romer assumiu, havia apenas 12 se- minaristas, e logo em seguida somente dez. Em um ano houve apenas quatro ordenações e um número menor nos anos seguintes. A pastoral na arquidiocese mostrava-se ameaçada. Atendendo à profunda preocupação de Dom Eugenio e confiando na graça de Deus, visi- tou os encontros vocacionais nos vicariatos, incentivando os páro- cos a dar testemunho da vocação sacerdotal. “Como orientador, incentivava os jovens a dar uma generosa res- posta ao divino chamado, por uma constante renovação espiritual e seriedade nos estudos. Sem em nada diminuir a necessidade de acompanhar as mudanças no mun- do, tentou explicar, em homilias e conferências, a presença operante na Igreja do mistério de Jesus Cristo”, contou. Após 25 anos de trabalho vocacional, apoiado sempre com generosidade pelos reitores do seminário, a arquidioce- se contava com 142 seminaristas no seminário maior, sendo que alguns eram estudantes de outras dioceses. TEMPORADA EM ROMA Em outubro de 2001, Dom Romer foi nomeado secretá- rio-geral do Pontifício Conselho para a Família, no Vaticano, função que desempenhou até o dia 10 de novembro de 2007, auxiliando o cardeal colombiano Alfonso Lopez Trijillo. “Estava acompanhando Dom Eugenio em Roma, que não queria mais viajar sozi- nho. Ele tinha ido participar, no Vaticano, de um congresso sobre a família. Quando o Papa João Paulo II ficou sabendo de sua presença, ele nos convidou para um almoço. O pontífice estava procurando um secretá- rio para o Pontifício Conselho para a Família, e apontando o dedo para mim perguntou a Dom Eugenio: ‘E esse aqui, que faremos com ele’? Foi uma nomeação fora dos padrões”, contou, rindo, sobre o jeito descontraído de como São João Paulo II anunciou a sua nomeação.” “Não tive nem uma semana para arrumar minhas coisas. Embarquei com o coração um pouco pesado, mas aceitei a missão”, lembrou. No Pontifício Conselho, foi responsável pela organização do “Lexicon”, um dicionário que aborda termos ambíguos e dis- cutidos sobre a família, a vida e questões éticas, com mais de mil páginas, editado em diversas línguas. A versão brasileira foi lançada no dia 21 de agosto de 2007, em Brasília, com a presença de Dom Romer. Presente em diversos países como conferencista de con- gressos, também publicou diversos artigos sobre a teologia da família e da vida humana e o livro “Exulta meu espírito em Deus” sobre a oração, além de ter sido presidente da edição brasileira da revista “Communio”, especializada em cultura. RECOMEÇO A volta de Dom Romer para o Rio foi devido a um fato curioso: quando Dom Orani foi nomeado arcebispo do Rio, em 2009, ele enviou-lhe uma carta de congratulação, sem nem mesmo conhecê-lo. Porém, durante uma audiência do Papa com os bispos, no Vaticano, acabaram se sentando um ao lado do outro. Na conversa que tiveram, surgiu o convite de Dom Orani para que voltasse e desse continuidade ao trabalho que desempenhava na arquidiocese. Quando retornou ao Brasil, já como emérito da Arqui- diocese do Rio e do Pontifício Conselho para a Família, Dom Romer assumiu, em 2011, a direção do Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCR), atualmente funcionando no prédio do Seminário de São José, no Rio Comprido. Ligado ao Departamento de Teologia da PUC-Rio, o curso tem o objetivo de oferecer uma formação de base para leigos, principalmente para aqueles que atuam na Igreja, nos seus mais variados organismos eclesiais. Bispo animador da Pastoral do Menor da arquidiocese e professor de teologia no Instituto Superior, realiza ainda vivo trabalho de aprofundamento espiritual de sacerdotes e religiosas, pregando retiros espirituais em diversas partes do Brasil, e apoia de perto diversas congregações femininas. Desde sua chegada, Dom Orani solicitou que retomasse a organização e coordenação dos cursos anuais para bispos do Brasil, uma experiência iniciada em 1990 com a colaboração do então Cardeal Joseph Ratzinger. Por muitos anos fez companhia ao Cardeal Sales na Casa Assunção, no Sumaré, até o falecimento dele em 9 de julho de 2012, quando Dom Romer começou a residir na Casa do Padre, anexa ao prédio do Seminário São José, no Rio Comprido. CARLOS MOIOLI NATHALIA CARDOSO [email protected] [email protected] Na escola, em 1943, com seus irmãos Edelbert e Reinhard Com os pais, em 1962, na celebração dos 70 anos do pai Padre Romer com sua família, em 1958, no dia da primeira missa Com o Papa João Paulo II, em 1980, na Praça de São Pedro, no Vaticano FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Transcript of ESPECIAL D DEZEMBR D 015 TESTEMUNHO DE FÉ TESTEMUNHO DE FÉ ... · de Dom Orani para que voltasse...

12 ESPECIAL 13ESPECIALTESTEMUNHO DE FÉ | 6 A 12 DE DEZEMBRO DE 20156 A 12 DE DEZEMBRO DE 2015 | TESTEMUNHO DE FÉ

A celebração em ação de graças pelos 40 anos de ordenação episcopal de

Dom Karl Josef Romer será no dia 12 de dezembro, às 8h30, na Catedral de São

Sebastião, no Centro

Dom Romer celebra 40 anos de episcopadoA frase que define sua vida, afirmou o bispo

suíço-brasileiro, Dom Karl Josef Romer, é uma passagem bíblica que faz todo sentido: “Coi-sas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou;

bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2, 9). A frase tem o objetivo de “fazer de sua vida uma irradiação desta certeza, desta esperança”.

Alicerçado no lema: ‘Meu viver é Cristo’ (Fl 1,21), que adotou ao ser ordenado como sucessor dos apóstolos, Dom Romer tem dedicado sua vida à formação do clero, à instrução dos fiéis leigos e à edificação da fecundidade da família humana.

No Rio de Janeiro, seu ministério está entrelaçado, de uma forma especial, com a história do Seminário Arqui-diocesano de São José. Quem o conhece de perto sabe de seu empenho, de sua contribuição, de tudo o que fez para oferecer uma estrutura mais adequada e dinâmica para a formação dos seminaristas, dos futuros sacerdotes.

TERRA NATALOriginário da localidade de Benken, cantão de St. Gallen,

no Nordeste da Suíça, Dom Romer nasceu no dia 8 de julho de 1932, filho de Johann Josef Romer e de Josephine Glaus.

“Aprendi a rezar bem cedo, e desde os 10 anos comecei a me interessar pelo sacerdócio. Misturava-se em mim um inefável desejo do sacerdócio, com um santo temor. Achava bonito ver o sacerdote celebrando, e pensava na possibi-lidade de fazer a mesma coisa. Já com 12 anos, comecei a frequentar, em Näfels, uma escola em regime de internato para aprender latim, necessário para ser padre. Não reve-lei a ninguém o meu desejo. Meu pai era sério, de poucas palavras, e me questionou o porquê do latim? Encontrei um pretexto: ‘é uma boa escola’. Na verdade era uma boa escola mesmo, dirigida pelos capuchinhos, com professores de alto nível. Ele, como minha mãe, perceberam, mas não perguntavam”, contou.

FORMAÇÃO Sua formação presbiteral começou em 1950, cursando

filosofia em Appenzell (Suíça), seguida de teologia em Innsbruck (Áustria), München (Alemanha) e em Roma (Itália), onde obteve o doutorado pela Pontifícia Universi-dade Gregoriana.

Ordenado sacerdote em 22 de março de 1958, aos 25 anos, trabalhou como vigário paro-quial em Sargans e depois, por três anos, na mesma função na Paróquia Sant Otmar, na cidade de St. Gallen.

COINCIDÊNCIAS DE DEUSO jovem sacerdote quis

fazer o doutorado. Deveria ser professor de religião para alu-nos do segundo grau. Um ami-go de sua diocese, que estava estudando em Roma, padre Cristiano Jakob Krapf, hoje bispo emérito de Jequié (BA), escreveu para ele dizendo que um bispo brasileiro, Dom Eu-genio de Araujo Sales, então administrador apostólico da Arquidiocese de Salvador (BA) estava procurando professores de teologia dogmática para o seminário.

“Sem ser do meu conheci-mento, ele havia me indicado para Dom Eugenio. Depois, me escreveu novamente, e disse para ir até Roma, pois o então

bispo queria falar comigo. Respondi que não poderia ir, sem que o meu bispo estivesse de acordo”, contou.

Muito ‘esperto’, o amigo mostrou a carta para Dom Eu-genio, que de imediato foi falar com o bispo de St. Gallen, Josef Hasler. De Munique, padre Romer pegou o trem e viajou a noite inteira até Roma.

“Foram mais de duas horas de conversa. Na presença de Dom Eugenio, meu bispo perguntou: ‘então o senhor queria ir mesmo?’ Eu disse: não, senhor bispo! A pergunta é outra: Se a Igreja precisa e se o meu bispo der a bênção, pois a ele prometi obediência. ‘Agora falou bonito’, disse o meu bispo, e perguntou: ‘tem coragem?’ Prontamente respondi: sim, tenho. ‘Então te dou a bênção’, respondeu”, contou.

SACERDOTE MISSIONÁRIODom Romer chegou ao Brasil em 11 de fevereiro de 1965

como missionário ‘fidei donum’ na Arquidiocese de Salva-dor, na Bahia, onde foi professor de teologia no Instituto Superior de Teologia, fundado e dirigido por ele, junto ao seminá-rio, posteriormente integrado na Universidade Católica de Salvador (Ucsal). Dom Eugenio confiou-lhe também uma paróquia bem su-burbana (Plataforma), onde tinha excelente apoio de três religiosas gaúchas, o que facilitava muito sua intensa formação de catequista. Chegou a fundar também um curso de teologia para leigos, no qual foi diretor.

Naturalizado brasileiro em 1990, nunca cortou ligações com o seu país. Os laços fra-ternos mantidos com seus familiares e amigos, que sempre apoiaram seu ministério, lhe permitiram o favorecimento de importantes e inúmeros empreendimentos no âmbito da formação, da evangelização e da caridade social.

RIO DE JANEIROEm uma nova etapa de sua vida, Dom Romer chegou,

em 1972, ao Rio de Janeiro para acompanhar o ministério do cardeal arcebispo Eugenio Sales, que esteve à frente da Arquidiocese de São Sebastião no período de 1971 a 2001.

Era professor de teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), quando, em 28 de outubro de 1975, foi nomeado pelo Papa Paulo VI como titular de Colonnata e bispo auxiliar na Arquidiocese do Rio de Janeiro.

“Não somos donos de nossas vidas. Os apelos que Deus faz recebemos através da Igreja. Os seus planos, que são maravilhosos, nunca os entendemos totalmente”, destacou, referindo-se ao episcopado.

Como sucessor dos apóstolos, foi ordenado pelas mãos do Cardeal Sales no dia 12 de dezembro do mesmo ano, na memória de Nossa Senhora de Guadalupe.

Um dos consagrantes foi Dom Josef Hasler, que o tinha ordenado sacerdote em 1958, bem idoso, vindo da Suíça. Estavam presentes na ordenação o pároco da sua paróquia de origem, padre Xaver Lehnherr, sua mãe, cuja oração tinha acompanhado e abençoado todo o seu sacerdócio; e também o irmão Edelbert com sua esposa, Elisabeth.

Como bispo auxiliar, esteve na direção de diversos organismos da arquidiocese, inclusive do Vicariato para a Vida Consagrada. Empenhou-se na construção da última ala do Centro de Estudos e Formação do Sumaré, no Rio Comprido, com uma capela dedicada a ‘Cristo esplendor da Glória do Pai’. Inaugurado pelo Cardeal Sales, no dia 15 de outubro de 1996, o presbitério foi obra, toda talha-da em madeira, da artista plástica Maria Senira Biscaro, pertencente à Congregação das Religiosas de Schönstatt, de Santa Maria (RS).

Ele teve ainda papel de destaque na preparação do 2º Encontro Mundial das Famílias, ocorrido no Rio em outubro de 1997, com a presença do Papa São João Paulo II.

PROMOTOR VOCACIONALCom nomeação expressa, Dom Romer assumiu em

nome do cardeal arcebispo o imenso campo da formação sacerdotal no âmbito da Pastoral Vocacional, numa nova dinamização do seminário e por numerosas iniciativas de formação contínua do clero.

Neste tempo, instalou e foi diretor da Faculdade Eclesiás-tica de Filosofia e do Instituto de Direito Canônico. Instalou igualmente o Instituto Superior de Teologia.

“O episcopado é a plenificação do ministério sacerdotal. Em tudo que faço procuro multiplicar os dons que recebi de Deus”, explicou.

A crise vocacional provocada pelos efeitos do Concílio Vaticano II afastou muitos candidatos do seminário. Na época em que Dom Romer assumiu, havia apenas 12 se-minaristas, e logo em seguida somente dez. Em um ano houve apenas quatro ordenações e um número menor nos anos seguintes. A pastoral na arquidiocese mostrava-se

ameaçada. Atendendo à profunda preocupação de Dom Eugenio e confiando na graça de Deus, visi-tou os encontros vocacionais nos vicariatos, incentivando os páro-cos a dar testemunho da vocação sacerdotal.

“Como orientador, incentivava os jovens a dar uma generosa res-posta ao divino chamado, por uma constante renovação espiritual e seriedade nos estudos. Sem em nada diminuir a necessidade de acompanhar as mudanças no mun-

do, tentou explicar, em homilias e conferências, a presença operante na Igreja do mistério de Jesus Cristo”, contou.

Após 25 anos de trabalho vocacional, apoiado sempre com generosidade pelos reitores do seminário, a arquidioce-se contava com 142 seminaristas no seminário maior, sendo que alguns eram estudantes de outras dioceses.

TEMPORADA EM ROMAEm outubro de 2001, Dom Romer foi nomeado secretá-

rio-geral do Pontifício Conselho para a Família, no Vaticano, função que desempenhou até o dia 10 de novembro de 2007, auxiliando o cardeal colombiano Alfonso Lopez Trijillo.

“Estava acompanhando Dom Eugenio em Roma, que não queria mais viajar sozi-nho. Ele tinha ido participar, no Vaticano, de um congresso sobre a família. Quando o Papa João Paulo II ficou sabendo de sua presença, ele nos convidou para um almoço. O pontífice estava procurando um secretá-rio para o Pontifício Conselho para a Família, e apontando o dedo para mim perguntou a Dom Eugenio: ‘E esse aqui, que faremos com ele’? Foi uma nomeação fora dos padrões”, contou, rindo, sobre o jeito descontraído de como São João Paulo II anunciou a sua nomeação.”

“Não tive nem uma semana para arrumar minhas coisas. Embarquei com o coração um pouco pesado, mas aceitei a missão”, lembrou.

No Pontifício Conselho, foi responsável pela organização do “Lexicon”, um dicionário que aborda termos ambíguos e dis-cutidos sobre a família, a vida e questões éticas, com mais de

mil páginas, editado em diversas línguas. A versão brasileira foi lançada no dia 21 de agosto de 2007, em Brasília, com a presença de Dom Romer.

Presente em diversos países como conferencista de con-gressos, também publicou diversos artigos sobre a teologia da família e da vida humana e o livro “Exulta meu espírito em Deus” sobre a oração, além de ter sido presidente da edição brasileira da revista “Communio”, especializada em cultura.

RECOMEÇOA volta de Dom Romer para o Rio foi devido a um fato

curioso: quando Dom Orani foi nomeado arcebispo do Rio, em 2009, ele enviou-lhe uma carta de congratulação, sem nem mesmo conhecê-lo. Porém, durante uma audiência do Papa com os bispos, no Vaticano, acabaram se sentando um ao lado do outro. Na conversa que tiveram, surgiu o convite de Dom Orani para que voltasse e desse continuidade ao trabalho que desempenhava na arquidiocese.

Quando retornou ao Brasil, já como emérito da Arqui-diocese do Rio e do Pontifício Conselho para a Família, Dom Romer assumiu, em 2011, a direção do Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCR), atualmente funcionando no prédio do Seminário de São José, no Rio Comprido. Ligado ao Departamento de Teologia da PUC-Rio, o curso tem o objetivo de oferecer uma formação de base para leigos, principalmente para aqueles que atuam na Igreja, nos seus mais variados organismos eclesiais.

Bispo animador da Pastoral do Menor da arquidiocese e professor de teologia no Instituto Superior, realiza ainda vivo trabalho de aprofundamento espiritual de sacerdotes e religiosas, pregando retiros espirituais em diversas partes do Brasil, e apoia de perto diversas congregações femininas.

Desde sua chegada, Dom Orani solicitou que retomasse a organização e coordenação dos cursos anuais para bispos do Brasil, uma experiência iniciada em 1990 com a colaboração do então Cardeal Joseph Ratzinger.

Por muitos anos fez companhia ao Cardeal Sales na Casa Assunção, no Sumaré, até o falecimento dele em 9 de julho de 2012, quando Dom Romer começou a residir na Casa do Padre, anexa ao prédio do Seminário São José, no Rio Comprido.

CARLOS MOIOLI NATHALIA CARDOSO

[email protected]@testemunhodefe.com.br

Na escola, em 1943, com seus irmãos Edelbert e Reinhard

Com os pais, em 1962, na celebração dos 70 anos do pai

Padre Romer com sua família, em 1958, no dia da primeira missa Com o Papa João Paulo II, em 1980, na Praça de São Pedro, no Vaticano

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL