Especial Estadão "Brasil Conectado" - parte 1

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B12 Economia SEGUNDA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO 94,2 de brasileiros usam a internet regularmente milhões Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão BRASIL MELHORA EM ACESSO À INTERNET E ENFRENTA DESAFIO DE USAR INCLUSÃO DIGITAL PARA AVANÇAR EM OUTRAS ÁREAS Usuários de internet (ENTRE A POPULAÇÃO COM MAIS DE 10 ANOS)* B uscas em décimos de segundo, envio e paga- mento do Imposto de Renda, solicitação de seguro-desemprego, inscrições no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem)... Inúmeras coisas essenciais para a vida cotidiana só podem ser feitas pela in- ternet. Há muito tempo não se pode dizer mais que “um país se faz com homens e livros”, como sentenciou Monteiro Lobato na obra “América”, publicada em 1932. No século XXI, não se faz um país sem computadores, ta- blets, celulares... “Mergulhar na cultura letrada impli- ca hoje aprender a transitar por vários suportes tecnológicos simultaneamen- te”, escreveu o linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná. Não por acaso, desde 2011 a Organização das Nações Unidas con- sidera acesso à internet uma questão de direitos humanos – o que significa tanto poder navegar livremente quan- to dispor de infraestrutura adequada (cabos, computadores ou dispositivos móveis, modems e softwares). Para um país em desenvolvimento como o Brasil, isso implica um duplo desafio. O combate à desigualdade de oportunidades na educação – apenas 7 das 100 escolas mais bem colocadas no Enem são públicas, por exemplo – terá de ocorrer simultaneamente à superação do fosso digital. “É certo que a pobreza e o analfabe- tismo se constituem como problemas que precisam ser sanados com urgên- cia. Mesmo assim, não há como pensar a exclusão digital em segundo plano, visto que o desenvolvimento das tecno- logias se dá cada vez mais rapidamente e o abismo existente entre incluídos e universal (96%); na D/E, é de 21%. O Mapa da Inclusão Digital, feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, escancara as diferenças de modo bem concreto: na Barra da Tijuca, uma das localidades mais ricas do País, 94% das pessoas estão conectadas à inter- net, número similar aos de Suécia e Is- lândia. Logo ao lado, na favela Rio das Pedras, apenas 21% dos moradores são internautas, o menor índice da ci- dade do Rio de Janeiro. A exclusão di- gital é, frequentemente, companheira da exclusão social. Abordar os problemas simultanea- mente encurta o caminho da inclusão. E o universo digital é especialmente propício a estratégias assim. “A tecno- logia é como a educação: permite que as pessoas saiam da pobreza por elas mesmas... É uma ferramenta, não uma consequência, do crescimento e do desenvolvimento”, apontava um re- latório de 2001 do Programa das Na- ções Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). “ As políticas públicas podem apro- veitar as novas tecnologias para melho- rar as condições de vida da população e dos mais pobres. A luta contra a exclu- são digital visa sobretudo encontrar ca- minhos que diminuam seu impacto ne- gativo sobre a distribuição de riqueza e oportunidades”, afirmam o professor de sociologia da UFRJ Bernardo Sorj e o pesquisador do Favela, Opinião e Mercado Luís Eduardo Guedes em ar- tigo para a prestigiada revista “Novos Estudos”, do Centro Brasileiro de Aná- lise e Planejamento (Cebrap). O cardápio de políticas nessa área, portanto, tende a unir introdução de equipamentos (telecentros, lan-hou- ses, salas de computadores nas escolas ou em centros comunitários) a cursos que usem os dispositivos para produ- ção de conteúdo cultural, capacitação para serviços em informática e, even- tualmente, desenvolvimento de ferra- mentas digitais. DESAFIOS Estratégias desse tipo requerem, porém, superar gargalos tecnológicos que impedem não só o acesso, mas que este aconteça com qualidade. Não adianta apenas conec- tar-se à rede – esta tem de ser capaz de fazer circular os mais diversos tipos de objetos (textos, fotos, filmes) em velocidade compatível. Para se ter uma ideia do impacto econômico proporcionado pelo aces- so à internet, uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) calculou que um aumento de 10% na penetração de banda larga na América Latina estaria associado a um incremento de 3,19% no PIB e de 2,5% no índice de produtividade, e à geração de 67 mil empregos. Em comparação com os países da América Latina, o Brasil não faz feio. Segundo um ranking elaborado pelo BID, a qualidade da infraestrutura brasileira é a quarta melhor da região – fica atrás de Panamá, Barbados e Chile. Mas o quadro muda quando a compa- ração é feita com nações da Organiza- ção para a Cooperação e o Desenvolvi- mento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por mercados avan- çados. Numa lista de 63 países, o Brasil ficou em 30º. Enquanto no País a velo- cidade média é de 5,5 Mbps (a tercei- ra mais veloz da América Latina), na OCDE é de 17 Mbps. A entrada dos smartphones deu peso ainda maior à infraestrutura: eles podem ser mais baratos que um note- book ou um PC, mas dependem intei- ramente da qualidade do serviço das concessionárias de telefonia móvel. Por dez anos, o governo federal isen- tou esses produtos de PIS e Contri- buição para Financiamento da Segu- ridade Social (Cofins), e chegou a usar o argumento de que a medida contri- buía para a inclusão digital. Contudo, a crise fiscal fez o governo voltar atrás. Alíquotas de 3,65% a 9,25% serão co- bradas a partir de dezembro. excluídos tende a aumentar”, observa o pesquisador André Lemos no livro “Ci- dade Digital” (Editora UFBA). EXPANSÃO A proporção de bra- sileiros que frequentam a internet saltou mais de 60% nos últimos sete anos, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvol- vimento da Sociedade da Informação (Cetic), um braço do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Os dados mais recentes, de 2014, mostram que 55% dos habitantes com mais de 10 anos acessam a rede. São 94,2 milhões de pessoas, um contingente maior que a população da Alemanha. Esse avanço, porém, omite as dis- crepâncias entre classes socioeconô- micas. Na classe A, o alcance é quase 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 34% 39% 41 % 46% 49% 51 % 55% Fonte: Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação. * Usou internet nos três meses que antecederam à pesquisa. NAVEGAR É PRECISO 67mil empregos são gerados a cada aumento de 10% na porcentagem de pessoas com banda larga PRODUZIDO POR BRASIL CONECTADO Samuel Borges Photography/Shutterstock

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B12 Economia SEGUNDA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

94,2de brasileiros usam a internet

regularmente

milhões

Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão

BRASIL MELHORA EM ACESSO À INTERNET E ENFRENTA DESAFIO DE USAR INCLUSÃO DIGITAL PARA AVANÇAR EM OUTRAS ÁREAS

Usuários de internet (ENTRE A POPULAÇÃO COM MAIS DE 10 ANOS)*

B uscas em décimos de segundo, envio e paga-mento do Imposto de Renda, solicitação de seguro-desemprego, inscrições no Exame

Nacional de Ensino Médio (Enem)... Inúmeras coisas essenciais para a vida cotidiana só podem ser feitas pela in-ternet. Há muito tempo não se pode dizer mais que “um país se faz com homens e livros”, como sentenciou Monteiro Lobato na obra “América”, publicada em 1932. No século XXI, não se faz um país sem computadores, ta-blets, celulares...

“Mergulhar na cultura letrada impli-ca hoje aprender a transitar por vários suportes tecnológicos simultaneamen-te”, escreveu o linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná. Não por acaso, desde 2011 a Organização das Nações Unidas con-sidera acesso à internet uma questão de direitos humanos – o que signifi ca tanto poder navegar livremente quan-to dispor de infraestrutura adequada (cabos, computadores ou dispositivos móveis, modems e softwares).

Para um país em desenvolvimento como o Brasil, isso implica um duplo desafi o. O combate à desigualdade de oportunidades na educação – apenas 7 das 100 escolas mais bem colocadas no Enem são públicas, por exemplo – terá de ocorrer simultaneamente à superação do fosso digital.

“É certo que a pobreza e o analfabe-tismo se constituem como problemas que precisam ser sanados com urgên-cia. Mesmo assim, não há como pensar a exclusão digital em segundo plano, visto que o desenvolvimento das tecno-logias se dá cada vez mais rapidamente e o abismo existente entre incluídos e

universal (96%); na D/E, é de 21%. O Mapa da Inclusão Digital, feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, escancara as diferenças de modo bem concreto: na Barra da Tijuca, uma das localidades mais ricas do País, 94% das pessoas estão conectadas à inter-net, número similar aos de Suécia e Is-lândia. Logo ao lado, na favela Rio das Pedras, apenas 21% dos moradores são internautas, o menor índice da ci-dade do Rio de Janeiro. A exclusão di-gital é, frequentemente, companheira da exclusão social.

Abordar os problemas simultanea-mente encurta o caminho da inclusão. E o universo digital é especialmente propício a estratégias assim. “A tecno-

logia é como a educação: permite que as pessoas saiam da pobreza por elas mesmas... É uma ferramenta, não uma consequência, do crescimento e do desenvolvimento”, apontava um re-latório de 2001 do Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

“ As políticas públicas podem apro-veitar as novas tecnologias para melho-rar as condições de vida da população e dos mais pobres. A luta contra a exclu-são digital visa sobretudo encontrar ca-minhos que diminuam seu impacto ne-gativo sobre a distribuição de riqueza e oportunidades”, afi rmam o professor de sociologia da UFRJ Bernardo Sorj e o pesquisador do Favela, Opinião e

Mercado Luís Eduardo Guedes em ar-tigo para a prestigiada revista “Novos Estudos”, do Centro Brasileiro de Aná-lise e Planejamento (Cebrap).

O cardápio de políticas nessa área, portanto, tende a unir introdução de equipamentos (telecentros, lan-hou-ses, salas de computadores nas esco las ou em centros comunitários) a cursos que usem os dispositivos para produ-ção de conteúdo cultural, capacitação para serviços em informática e, even-tualmente, desenvolvimento de ferra-mentas digitais.

DESAFIOS Estratégias desse tipo requerem, po rém, superar gargalos tecnológicos que impedem não só o acesso, mas que este aconteça com qualidade. Não adianta apenas conec-tar-se à rede – esta tem de ser capaz de fazer circular os mais diversos tipos de objetos (textos, fotos, fi lmes) em velocidade compatível.

Para se ter uma ideia do impacto econômico proporcionado pelo aces-so à internet, uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) calculou que um aumento de 10% na penetração de banda larga na América Latina estaria associado a um incremento de 3,19% no PIB e de 2,5% no índice de produtividade, e à geração de 67 mil empregos.

Em comparação com os países da América Latina, o Brasil não faz feio. Segundo um ranking elaborado pelo BID, a qualidade da infraestrutura brasileira é a quarta melhor da região – fi ca atrás de Panamá, Barbados e Chile. Mas o quadro muda quando a compa-ração é feita com nações da Organiza-ção para a Cooperação e o Desenvolvi-mento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por mercados avan-çados. Numa lista de 63 países, o Brasil fi cou em 30º. Enquanto no País a velo-cidade média é de 5,5 Mbps (a tercei-ra mais veloz da América Latina), na OCDE é de 17 Mbps.

A entrada dos smartphones deu peso ainda maior à infraestrutura: eles podem ser mais baratos que um note-book ou um PC, mas dependem intei-ramente da qualidade do serviço das concessionárias de telefonia móvel. Por dez anos, o governo federal isen-tou esses produtos de PIS e Contri-buição para Financiamento da Segu-ridade Social (Cofi ns), e chegou a usar o argumento de que a medida contri-buía para a inclusão digital. Contudo, a crise fi scal fez o governo voltar atrás. Alíquotas de 3,65% a 9,25% serão co-bradas a partir de dezembro.

excluídos tende a aumentar”, observa o pesquisador André Lemos no livro “Ci-dade Digital” (Editora UFBA).

EXPANSÃO A proporção de bra-sileiros que frequentam a internet saltou mais de 60% nos últimos sete anos, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvol-vimento da Sociedade da Informação (Cetic), um braço do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Os dados mais recentes, de 2014, mostram que 55% dos habitantes com mais de 10 anos acessam a rede. São 94,2 milhões de pessoas, um contingente maior que a população da Alemanha.

Esse avanço, porém, omite as dis-crepâncias entre classes socioeconô-micas. Na classe A, o alcance é quase

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

34% 39% 41%

46% 49% 51%

55%

Fonte: Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação. * Usou internet nos três meses que antecederam à pesquisa.

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67 mil empregos

são gerados a cada aumento de 10% na porcentagem de pessoas com banda larga

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