ESTADO DA ARTE DA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL - ROSANE A. FERREIRA...

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1 Estado da arte da produção do carvão vegetal no Estado de Mato Grosso do Sul Rosane A. Ferreira Bacha 1 Marney Pascoli Cereda 2 RESUMO: O trabalho apresenta o cenário da produção de carvão vegetal e seus aspectos de sustentabilidade ambiental, política, social e econômica no Estado de Mato Grosso do Sul (MS) em junho de 2013. De maneira específica objetivou-se averiguar a origem da lenha, as fases do processo de pirolise do carvão vegetal, o aproveitamento de seus coprodutos como o líquido pirolenhoso e os gases condensáveis e não condensáveis. Destaca-se a viabilidade de respaldo mercadológico-sustentável quanto à sua função de agro combustível. Trata-se de pesquisa descritiva e exploratória da bibliografia e entrevista com alguns dos atores da cadeia produtiva, abrangendo os problemas da produção e o mercado do carvão vegetal como agro combustível. Em Mato Grosso do Sul prevalece a modalidade dos fornos rudimentares, também conhecidos como rabo quente, o que apresenta uma grande desvantagem, como: queima parcial da madeira enfornada para gerar a energia exigida ao processo; parco rendimento gravimétrico e eficiência energética; circulação de gases condensáveis nocivos à sustentabilidade do meio ambiente; extenso processo de carbonização, em média de 8 a 12 dias com ínfima produtividade; não aproveitamento dos componentes gasosos combustíveis (condensáveis e não condensáveis), concomitantemente o controle do processo é intrínseco a habilidade do operador. O que indicou premência em investimentos tecnológicos para o setor, no sentido de maximizar lucros, preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores. Palavras-Chave: Pirólise, Combustão, Energia, Sustentabilidade 1 Doutoranda em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária/UCDB 2 Professora Pesquisadora do Programa de Doutorado em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, CeTeAgro/UCDB.

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Estado da arte da produção do carvão vegetal no Estado de Mato

Grosso do Sul

Rosane A. Ferreira Bacha1

Marney Pascoli Cereda 2

RESUMO:

O trabalho apresenta o cenário da produção de carvão vegetal e seus aspectos de

sustentabilidade ambiental, política, social e econômica no Estado de Mato Grosso do Sul

(MS) em junho de 2013. De maneira específica objetivou-se averiguar a origem da lenha, as

fases do processo de pirolise do carvão vegetal, o aproveitamento de seus coprodutos como o

líquido pirolenhoso e os gases condensáveis e não condensáveis. Destaca-se a viabilidade de

respaldo mercadológico-sustentável quanto à sua função de agro combustível. Trata-se de

pesquisa descritiva e exploratória da bibliografia e entrevista com alguns dos atores da cadeia

produtiva, abrangendo os problemas da produção e o mercado do carvão vegetal como agro

combustível. Em Mato Grosso do Sul prevalece a modalidade dos fornos rudimentares,

também conhecidos como rabo quente, o que apresenta uma grande desvantagem, como:

queima parcial da madeira enfornada para gerar a energia exigida ao processo; parco

rendimento gravimétrico e eficiência energética; circulação de gases condensáveis nocivos à

sustentabilidade do meio ambiente; extenso processo de carbonização, em média de 8 a 12

dias com ínfima produtividade; não aproveitamento dos componentes gasosos combustíveis

(condensáveis e não condensáveis), concomitantemente o controle do processo é intrínseco a

habilidade do operador. O que indicou premência em investimentos tecnológicos para o setor,

no sentido de maximizar lucros, preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores.

Palavras-Chave: Pirólise, Combustão, Energia, Sustentabilidade

1 Doutoranda em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária/UCDB

2 Professora Pesquisadora do Programa de Doutorado em Ciências Ambientais e Sustentabilidade

Agropecuária, CeTeAgro/UCDB.

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ABSTRACT:

The paper presents the scenario of charcoal production and the aspects of sustainability on the

environmental, political, social and economic aspects in the Brazilian State of Mato Grosso do

Sul (MS) in June 2013. Specifically the paper aimed to determine the origin of the wood used

to produces charcoal, and the stages of pyrolysis, the utilization of its byproducts. The paper

highlights the feasibility of support-sustainable market as to its agro fuel function. It is a

descriptive and exploratory research of the literature and interviews with some of the actors in

the production chain, including the problems of production and marketing of vegetable

charcoal as fuel. In Mato Grosso do Sul yet prevailing the use of rudimentary ovens, which

presents a major drawback, as partial burning of wood put into the furnace to generate the

energy required to process; meager gravimetric yield and energy efficiency; production of

harmful of gases and condensable particles to environment sustainability; long term

carbonization process (8-12 days) with crappy productivity, not use of gaseous fuel

components (condensable and non-condensable) and control of the process based on the

ability of the operator. Because of its characteristics there is urgency to technological

investments for the sector, in order to maximize profits, preserve the environment and health

of workers.

Key words: Pyrolysis, Combustion, Energy, Sustainability

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende estabelecer o cenário da cadeia de produção do carvão

vegetal, em seus aspectos de sustentabilidade ambiental; política; social e econômica, no

Estado de Mato Grosso do Sul (MS) em junho de 2013. De maneira específica objetivou-se

averiguar a origem da lenha, as fases do processo de pirolise do carvão vegetal, o

aproveitamento de seus coprodutos como o líquido pirolenhoso e os gases condensáveis e não

condensáveis. Destaca-se a viabilidade de respaldo mercadológico-sustentável quanto à sua

função de agro combustível.

As informações foram obtidas no ano e em junho de 2013. Trata-se de pesquisa

descritiva e exploratória da bibliografia e entrevista com alguns dos atores da cadeia

produtiva, abrangendo os problemas da produção e o mercado do carvão vegetal como agro

combustível. Simultaneamente, efetuou-se uma entrevista com o presidente SindiCARV/MS,

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órgão representativo da categoria. As informações foram posteriormente sistematizadas de

modo a permitir a análise e compreensão do cenário do carvão vegetal no Estado.

A pressão mundial por uma produção ecologicamente irrepreensível e autossustentável

tem aprofundado as pesquisas tecnológicas objetivando atender estes anseios, com

efetividade, também, no viés econômico. O fato destaca a necessidade premente de fomento

de novas tecnologias, sobretudo pelas excelentes condições que o carvão vegetal exibe como

opção de energia, tanto para a siderurgia quanto para outros segmentos industriais.

O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal e o setor siderúrgico seu

principal consumidor, tendo em vista que mais de dois terços dessa produção são destinados

às indústrias da siderurgia e metalurgia. Não obstante os exemplos mundiais de produção de

carvão vegetal, que incluem modernos processos industriais, de elevados índices

tecnológicos, no Brasil a produção segue sendo efetuada, em sua maioria, em fornos de

alvenaria (MEIRA, 2005).

Em Mato Grosso do Sul prevalece a modalidade dos fornos rudimentares, também

conhecidos como rabo quente, o que apresenta uma grande desvantagem, como: queima

parcial da madeira enfornada para gerar a energia exigida ao processo; parco rendimento

gravimétrico e eficiência energética; circulação de gases condensáveis nocivos à

sustentabilidade do meio ambiente; extenso processo de carbonização, em média de 8 a 12

dias com ínfima produtividade; não aproveitamento dos componentes gasosos combustíveis

(condensáveis e não condensáveis), concomitantemente o controle do processo é intrínseco a

habilidade do operador. O que indicou premência em investimentos tecnológicos para o setor,

no sentido de maximizar lucros, preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores.

REFERENCIAL TEÓRICO

Por quase cinco séculos a lenha, biomassa primária, se manteve como a fonte de

energia do Brasil. Em 1941 a madeira era responsável por 75% da energia consumida. A

partir daí houve um declínio de sua participação na matriz energética, em termos

quantitativos. Entretanto o consumo vem ampliando, registrando que há um mercado cativo

para a utilização da biomassa como fonte de energia a partir de florestas artificiais. O Brasil

detém hoje a mais efetiva tecnologia mundial para implementação, manuseio e exploração de

florestas plantadas (REZENDE, 2010).

A produção de ferro-gusa no Brasil tem como sustentáculos dois vértices

termorredutores - o carvão mineral (coque) e o carvão vegetal. O Brasil possui uma das

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maiores reservas de carvão mineral do mundo e apenas 13 países dispõem de reservas maiores

do que as suas. Entretanto, esses mesmos 13 países são também os maiores produtores

mundiais do minério, enquanto que a produção brasileira encontra-se apenas na 26ª posição.

Ou seja, o Brasil é o único país possuidor de grandes reservas que não se encontra entre os

maiores produtores mundiais de carvão mineral. O recurso de carvão mineral nacional é

expressivo também em termos energéticos. Como comparação, a energia dos recursos de

petróleo corresponde a 2,02x109 tep, enquanto a energia dos recursos de carvão mineral é de

7,04x109 tep. Logo, a quantidade de energia armazenada nos recursos de carvão é 3,5 vezes

maior que a energia dos recursos petrolíferos nacionais. O carvão mineral possui duas

aplicações principais no Brasil: utilização como combustível para geração de energia elétrica,

incluindo uso energético industrial, e utilização na siderurgia para produção de coque, ferro-

gusa e aço. Na atual taxa de utilização, as reservas provadas são suficientes para prover

carvão por mais de 500 anos. Verifica-se, contudo, que além de utilizar de forma modesta a

reserva de carvão nacional disponível, o país ainda importa carvão para uso siderúrgico,

principalmente da Austrália, Estados Unidos, Rússia, Canadá, Colômbia, Venezuela,

Indonésia e África do Sul, visto que o carvão nacional produzido não possui as propriedades

adequadas para este uso com as tecnologias atualmente em operação (CCGE, 2012) 3.

Conforme relata Assef (2013), as reservas de minério de ferro de Mato Grosso do Sul

correspondem a 9,9% da reserva brasileira, equivalentes a 29,6 bilhões de toneladas. Além

disso, o Estado possui 2,93 bilhões de toneladas com teor médio de 55% de ferro, enquanto

Minas Gerais tem 79,7% das reservas ao teor médio de 51,4% e o Pará com 9,1% das

reservas, com teor médio de 67%. Em 2012, o Mato Grosso do Sul apresentou uma produção

equivalente a 6,38 milhões de toneladas de minério de ferro, o que representou 1,61% da

produção nacional, isto é, 395 milhões de toneladas. Contudo, ao contrário do desempenho

nacional em 2012, a produção de minério de ferro no Estado apresentou crescimento de

14,2% sobre o ano de 2011, enquanto, nacionalmente foi registrada queda de 1%. Ainda no

ano passado, a produção de minério de ferro em Mato Grosso do Sul alcançou o equivalente a

6,4 milhões de toneladas, representando 1,6% da produção nacional. Em valores, a produção

estadual atingiu a marca de R$ 964,6 milhões ou 1,4% do valor total da produção nacional.

No ano de 2010, segundo a Pesquisa Industrial Anual do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística), Mato Grosso do Sul produziu 469,5 mil toneladas de ferro-gusa que,

em valores, representaram R$ 319,9 milhões ou 6,4% do valor total da produção nacional.

3 Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - Série Documentos Técnicos, nº 14

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A pressão pela produção ecologicamente correta e autossustentável tem dirigido a

busca por tecnologias que atendam estes anseios com efetiva economia. O carvão vegetal é

obtido a partir da pirólise (decomposição pelo calor) ou carbonização de madeira. O produto

resultante é o carvão, o liquido piro lenhoso e gases não condensáveis. Rotineiramente o

carvão é utilizado como combustível de aquecedores, lareira, churrasqueiras e fogões a lenha,

além de abastecer alguns setores industriais como as siderúrgicas. Quimicamente o carvão é

possui estrutura policíclica aromática, com alto grau de condensação. Possui uma estrutura

porosa permitindo que a água e os compostos voláteis contidos na madeira sejam eliminados,

deixando espaços vazios e, apresentando baixa densidade. Em sendo subproduto florestal e

resultante da pirólise da madeira, pode também ser conhecida como carbonização ou

destilação seca da madeira. Neste processo a madeira é aquecida em ambiente fechado, na

ausência ou presença de quantidades controladas de oxigênio, a temperaturas acima de 300

ºC, evaporando água, líquidos orgânicos, e gases não condensáveis, tendo o carvão como

resíduo (FONTES, 2005).

O processo de coqueificação é a “destilação” por pirólise ou decomposição térmica do

carvão mineral, em ausência de ar, que após a liberação da matéria volátil permite obter um

resíduo sólido, poroso e com grande quantidade de carbono. Durante o processo de

transformação do carvão mineral em coque, a temperatura média da mistura enfornada

permanece em torno de 1.300°C. A pirólise, carbonização ou ainda destilação seca da madeira

é conduzida em atmosfera sem oxigênio ou com parcela de oxigênio controlada e a

temperatura acima de 300 graus. Nestas condições gera o carvão vegetal e,

concomitantemente, matéria volátil parcialmente condensável.

O líquido piro lenhoso compõe-se de ácido piro lenhoso, uma solução aquosa de

ácidos acético e fórmico, metanol e alcatrão solúvel. Pode-se identificar três fases no processo

da Pirólise, divididas em Carbonização, onde se obtém o carvão vegetal, a Destilação, onde é

produzido o licor pirolenhoso e, finalmente a Gaseificação onde se pode obter o gás

combustível. Dentre os gases produzidos na pirólise os principais são: CO, CO2, H2, CH4,

vapor d’água, hidrocarbonetos gasosos e vapores de alcatrão, de metanol, de ácido acético e

do licor pirolenhoso. Esses produtos metabólicos, quando liberados na atmosfera, produzem

líquidos extremamente prejudiciais à sustentabilidade do meio ambiente (FONTES, 2005).

Em entrevista ao RURALCENTRO (2013) o Sr. Junior Ramires, Presidente da

Associação dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (REFLORE/MS) informa

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que o Estado de Mato Grosso do Sul destaca-se nacionalmente no setor de silvicultura,

sobretudo pela elevação de 23% na área plantada, registrado em 2012, quando o plantio de

eucalipto saltou de 500 mil para 612 mil hectares. O mesmo evidenciou que a

atividade florestal tem auxiliado a melhoria do meio ambiente, particularmente pelo fato de

que todo o plantio de eucalipto estar sendo efetuado em áreas degradadas. Esta elevação

configurou o investimento de R$ 600 milhões para o setor e ressaltou que muito ainda será

feito em todas as cadeias produtivas que envolvem a silvicultura. “Toda a área plantada com

eucalipto corresponde apenas 1,7% do território do nosso Estado, mas é preciso melhorar a

infraestrutura, permitindo a efetivação no escoamento da produção”. O Presidente descartou a

volta dos incentivos fiscais para o setor, enfatizando que o pleito do empresariado é por uma

desoneração na carga tributária, pois a expectativa é que até 2020 será possível chegar a um

milhão de hectares plantados, principalmente se a questão logística e a desoneração na carga

tributária acompanharem a lógica mercadológica de desenvolvimento no Estado. Dos 612 mil

hectares de área plantada, 68% estão ligadas às empresas que fazem parte da Reflore-MS:

Amata Brasil, Santa Mônica Reflorestamentos, Tramasul, Ramires Reflorestamentos, Niobe,

Eldorado Brasil, Fíbria, Corus Agroflorestal, Brasilwood, Cautex Florestal, Vetorial e Grupo

Mutum.

Mediante dados disponibilizados pela Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e

Consumidores de Florestas Plantadas (REFLORE/MS, 2013) a extensão de florestas

plantadas no Estado de Mato Grosso do Sul se encontra conforme, quadro 01, abaixo:

2011 2012* 2013**

Eucalipto - 476 mil hectares Eucalipto - 580 mil hectares Eucalipto - 690 mil hectares

Pinus - 12 mil hectares Pinus - 10 mil hectares Pinus - 8 mil hectares

Total - 488 mil hectares

Total - 590 mil hectares Total - 698 mil hectares

*em apuração **projeção

Quadro 01

A descoberta do carvão vegetal e seu uso como combustível data do primitivismo

quando, nas cavernas, ao fazer uso da madeira queimada, com aparência negra que podia ser

reduzida a fragmentos, o homem percebeu que esta não produzia chama nem fumaça e

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originava calor de maior intensidade que aquele produzido pela queima direta da madeira

(COLOMBO et. al, 2006). Mas foi no início da década de 1980 que o carvão vegetal adquiriu

importância estratégica, em virtude da crise mundial do petróleo que ocorreu no final da

década de 1970 (BRITO, 1990).

A produção do carvão vegetal no Brasil é realizada, na maioria das vezes, em fornos

de alvenaria rudimentares. Nesse sistema, o controle da carbonização ocorre sem qualquer

base de conhecimento, e sem recuperação dos voláteis, que acabam lançados no meio

ambiente (ALMEIDA e REZENDE, 1982, citado por GUIMARÃES NETO, et al, 2007). No

Estado de Mato Grosso do Sul, o processo de produção de carvão vegetal ainda permanece,

em sua maioria, na modalidade dos fornos rudimentares, também conhecidos como “rabo

quente”, o que representa grande desvantagem, em razão da queima parcial da madeira

enfornada para gerar a energia exigida ao processo, parco rendimento gravimétrico e

eficiência energética, circulação de gases condensáveis nocivos à sustentabilidade do meio

ambiente, demorado processo de carbonização em média de 8 a 12 dias, com ínfima

produtividade, não aproveitamento dos componentes gasosos combustíveis, tanto os

condensáveis como não condensáveis, e finalmente, o controle do processo é intrínseco a

habilidade do operador.

A pressão mundial por uma produção ecologicamente irrepreensível e autossustentável

tem aprofundado as pesquisas tecnológicas objetivando atender estes anseios, com

efetividade, também, no viés econômico. A prática rudimentar da produção de carvão vegetal

pode ser considerada prejudicial, com descarte de toneladas de componentes químicos na

atmosfera, pois no processo de carbonização aproveitam-se apenas de 30 a 40% da madeira na

forma de carvão vegetal (BRITO, 1990). O fato destaca a necessidade premente de fomento

de novas tecnologias, sobretudo pelas condições que o carvão vegetal exibe como opção de

energia, tanto para a siderurgia quanto para outros segmentos industriais.

Nos últimos vinte anos, o carvão vegetal, tem merecido maior ênfase na literatura

florestal mundial, por sua inserção na utilização doméstica, pela imagem social contestada

mediante seu processo de produção, em sua maioria desumano, e pela expectativa de um

combustível renovável. No Brasil, são raras as pesquisas no que tange a sua cadeia produtiva

e, as existentes não discorrem sobre o conjunto e o movimento da cadeia no âmbito dos intra e

interarranjos dos distintos agentes, envolvidos. O que se encontra são explanações focadas em

fluxo, sem qualquer informação detalhada nas etapas do processo de produção. A área da

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silvicultura, onde esta inclusa a produção de carvão vegetal é extensa, envolvendo diversas

ramificações e produtos finais como os produtos florestais não madeireiros a madeira para

diferentes finalidades. Um dos aspectos mencionados em estudos existentes registra como

dificuldades inerentes à cadeia, a matéria-prima florestal nativa ou plantada, gerando uma

diversidade enorme de produtos finais madeireiros, não madeireiros e os coprodutos, cada

qual com sua peculiaridade, tornando o arranjo mais intrincado ao longo das cadeias,

ampliando a resistência de identificação dos agentes atuantes, bem como suas inter-relações

(REZENDE, 2010).

O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal e o setor siderúrgico seu

principal consumidor, tendo em vista que mais de dois terços dessa produção são destinados

às indústrias da siderurgia e metalurgia. Não obstante os exemplos mundiais de produção de

carvão vegetal, que incluem modernos processos industriais, de elevados índices tecnológicos,

no Brasil a produção segue sendo efetuada, em sua maioria, em fornos de alvenaria (MEIRA,

2005). Esse sistema de produção de carvão vegetal é composto de fornos de alvenaria e argila,

chamados de fornos meia-laranja ou “rabo quente”, dos tipos fornos de “superfície” quando o

terreno é plano ou fornos de “encosta” quando em regiões de relevo acidentado. Esses fornos

podem carbonizar volumes de madeira que variam de 6 a 20 estéreos4. Almejando a

otimização da carbonização foram criadas as retortas, equipamentos que aplicam a combustão

externa dos gases captados na própria carbonização para a geração de calor, permitindo maior

produtividade e qualidade, em um único equipamento (BRITO, 1990).

Os fornos para produção de carvão vegetal da modalidade “rabo quente” são

construídos somente com tijolos de barro cozido e argamassa (barro + areia + água). Seu

custo unitário é baixo e o forno rudimentar é de fácil manejo, uma vez que um carvoeiro pode

operar de sete a dez fornos simultaneamente, fazendo o trabalho de carga, carbonização,

barrela, descarga e limpeza. A jornada de trabalho começa com o carregamento do forno de

lenha e termina o descarregamento e depositado em área específica. A carbonização em

fornos desta modalidade oferece riscos a saúde e segurança do trabalhador, principalmente as

operações de carga e descarga, trabalho pesado, que amiúde transcorre em ambiente com

temperatura elevada, podendo causar danosos efeitos ao organismo, como irritação ocular e

nasal, dermatite, dores de cabeça, processo alérgico e outros (MINETTI, et al., 2007).

4 quantidade empilhada em metro cúbico (COLOMBO, 2006)

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Com a necessidade de agregar valor ao carvão vegetal para torná-lo competitivo com

outras fontes de energia, particularmente com o coque, as empresas florestais são forçadas a

buscar opções no sistema através de inovações tecnológicas a fim de obter maior

produtividade e qualidade do carvão vegetal (GUIMARÃES NETO, et al, 2007). Assim, as

expectativas para a agroindústria de carvão vegetal estão diretamente ligadas às do mercado

mundial de aço, visto que o Brasil exporta cerca de 40% da sua produção de aço bruto.

A literatura é farta sobre estudos direcionados aos valores que devem ser agregados ao

carvão vegetal desde a origem da madeira (nativa ou reflorestamento) a ser pirolisada até a

escolha de fornos a serem utilizados para maior efetividade de produção e qualidade de

excelência no carvão. Zuchi (2001) analisa a evolução dos sistemas de produção do carvão

vegetal, focando desde o sistema artesanal, com condições desumanas ao trabalhador, até o

sistema denominado integrado, que é praticado pelas empresas de reflorestamento, que

introduziram a mecanização do carregamento e descarregamento dos fornos e verificaram

melhorias na produção e nas condições de trabalho, assim como a redução dos efeitos

negativos ambientais. O autor também detectou que o setor de produção de carvão vegetal em

1988 foi responsável por 40.500 empregos diretos na produção de madeira nativa e 19.800 na

de madeira originária de reflorestamento. Esse cenário demonstra que um número

significativo de trabalhadores atua no sistema artesanal de produção, apesar das restrições

legais de desmatamento.

Guimarães Neto (2007) em análise sobre avaliação econômica e financeira de projetos

de fornos dos tipos Container Industrial e “retangular” com capacidade para 40 estéreos,

concluiu que os principais resultados foram a viabilidade econômica deste tipo de forno, o

controle do processo por meio da temperatura dos gases da carbonização e o estabelecimento

de um perfil térmico médio do forno. Todavia salientou que apesar das pesquisas existentes,

ainda havia escassez de conhecimento por parte dos investidores sobre as viabilidades

financeira e econômica para ambos os tipos de fornos.

Na comparação de análise de instalações e processos quanto aos aspectos técnicos e

econômicos, dois sistemas produtivos de carvão vegetal são possíveis, o sistema de

carbonização tradicional e de carbonização em fornos cilíndricos verticais. Colombo et al.,

(2006), na ânsia de encontrar uma modelagem sustentável, conseguiu detectar que o emprego

de fornos cilíndricos verticais, permite obter derivados úteis na carbonização além do carvão,

valendo-se para isso dos gases, dos vapores não condensáveis e os condensáveis da destilação,

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resultando na chamada “destilação seca”. Esse processo, além de necessário ao meio

ambiente, representa um estímulo à qualificação profissional e maior reflexão do setor. E

possível concluir por um lado, que o sistema de produção tradicional do carvão vegetal, pode

ser considerado arcaico em varias vertentes, tais como do ponto de vista social, pois os

trabalhadores são sujeitos, em sua maioria, ao trabalho sem registro em carteira, sem direito

aos benefícios legais, além das condições insalubres. Outro problema é a baixa devolutiva

econômica no modelo produtivo, em virtude das altas perdas resultantes da baixa eficiência

no processo. Destaca-se ainda a insustentabilidade ambiental, em razão do total descuido com

a preservação ambiental. Por outro prisma é preciso considerar que contribui para a

manutenção do desenvolvimento social, mediante a valorização da mão de obra, do

econômico, através do efetivo emprego da matéria prima adicionando valor financeiro ao

processo e finalmente do ambiental, caso seja operado sem maculação do meio ambiente,

mediante efetiva utilização de produtos e subprodutos de florestas plantadas, durante todo o

processo produtivo, concorrendo para o reconhecimento evolutivo do setor. Expressas as

viabilidades técnica e econômica, concluiu-se que a implementação do sistema de

carbonização em fornos cilíndricos verticais se mostrou agregadora de valor para o setor

carvoeiro e, com lastros para toda a sociedade brasileira.

Na proposição de pesquisa de avaliar a instrumentação térmica de fornos retangulares

destinados à produção de carvão vegetal, denominados RAC220, com capacidade individual

para produzir 30 toneladas de carvão por ciclo de carbonização (CARVALHO et al, 2012),

comprovaram que a instrumentação térmica deve ser utilizada para aprimorar e corrigir o

ciclo de carbonização, a fim de aumentar a produtividade e diminuir os custos. A pesquisa

permitiu visualizar que os perfis térmicos auxiliaram os carbonizadores na identificação de

irregularidades no processo e a corrigi-las em tempo real de produção.

Salienta-se que o desenvolvimento de tecnologias para controlar termicamente fornos

industriais é essencial no que tange a ampliação da produtividade, da qualidade do processo e

dos produtos finais, além de se vislumbrar lucros alviçareiros. Peculiarmente, em fornos de

produção de carvão vegetal, os cálculos sobre o grau de umidade da madeira, o período de

tempo necessário à secagem da mesma, o intervalo tempo entre a abertura e o fechamento das

chaminés, como também do passo a passo do processo produtivo, o tempo de pirólise e

resfriamento do carvão e, finalmente a padronização da carbonização, devem ser prioritários.

No entanto essas fases do processo são de árdua execução prática, dependendo

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exclusivamente da experiência prática dos carbonizadores, valendo-se hodierno como

indicador importante na construção da planilha de salários.

Estima-se que no Brasil, aproximadamente, 1/3 da produção de gusa e aço e que 50%

da produção de ferroligas utilizam o carvão vegetal como termorredutor. De acordo com o

Anuário 2009 da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), o consumo de carvão vegetal no

país cresceu 42% entre 1997 e 2008, passando de 23,6 milhões de metros de carvão (mdc) 5

para 33,4 milhões, sendo que aproximadamente 40% desse total, foi produzido a partir de

madeira de florestas plantadas. Nesse cenário, compreende-se que a cadeia produtiva do

carvão deve ser analisada sob o olhar de um novo paradigma de negócios em que há forte

pressão sobre as empresas e órgãos governamentais por conta da globalização, da inovação

em tecnologias, da acirrada concorrência, da exuberante e escancarada demanda por

responsabilidade social e sustentabilidade ambiental. Diante de tamanha emergência há que

atuar técnica e cientificamente, visando o crescimento da oferta com mínimos impactos

ambientais com estabelecimento de normas sociais no diferencial de fabricação desse

valoroso produto. A rigor, é condição elementar informar-se do complexo inerente à produção

e a extensão de absorção de insumo florestal para se alicerçar as bases no que se refere a uma

administração sustentada da ocupação com o carvão vegetal e, somente após a posse desses

conhecimentos elaborar planos e diretrizes que objetivem o desenvolvimento sustentado para

o nicho do carvão vegetal (REZENDE, 2010).

Além de todas as incógnitas já citadas, a preocupação com a origem da madeira que

através da pirolise está se transformando em carvão vegetal, é uma realidade urgente.

Paradoxalmente ao número elevado de fabricação do produto final em âmbitos

estadual e nacional, a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF)

em seu 7º Anuário Estatístico/2012, registrou que o setor de florestas plantadas no Brasil em

2011 cresceu em Valor Bruto da Produção Florestal em contraponto a 2010, totalizando 53,91

bilhões de reais. O nível de emprego dos vários segmentos da cadeia produtiva primária

também cresceu e atingiu 4,73 milhões entre empregos diretos, indiretos e os decorridos ao

efeito-renda, mesmo diante das medidas de contenção do consumo interno, visando manter a

inflação dentro das metas pretendidas, colocadas pelo governo. Não obstante, a extensão de

área plantada em 2011 delineou, pela primeira vez na última década, uma inquietante

5 Unidade de medida para o carvão vegetal que equivale à quantidade de carvão que cabe em um metro cúbico

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paralisação quantificada em 6,5 milhões de hectares, que pode ser entendida pelos

impedimentos à aquisição de terras por empresas nacionais com maioria de fundo estrangeiro

e, simultaneamente quanto à procura pelos órgãos estaduais de licenciamento ambiental e aos

morosos prazos para a devolutiva dos processos respectivos. Corroborando essas perspectivas

o Ministério de Minas e Energia (MME) pontua o licenciamento ambiental de

empreendimentos hidrelétricos no Brasil sendo percebido como imenso obstáculo, resultando

em atrasos no desenvolvimento dos empreendimentos, condição essa resultante da parcial

falta de sinergia entre os marcos regulatórios dos setores ambiental e elétrico. No âmbito

ambiental, as regras do licenciamento mantêm-se essencialmente inalteradas desde suas

origens e os órgãos ambientais ainda não alcançaram um substancial aumento de aptidão

institucional. Contudo, mesmo sob esses extremos, o setor de florestas plantadas em 2011

conseguiu ainda assim ampliar seus indicadores de faturamento e geração de empregos,

revelando suas expressivas contribuições para a economia e o progresso do país (MME, 2008)

O estado de Mato Grosso do Sul (MS) detém é o maior produtor de carvão vegetal do

país, com produção de 359,3 mil toneladas, seguido do Maranhão, Minas Gerais e Piauí com,

respectivamente 339,7 mil/t, 156,5 mil/t e 137,7 mil/t. No estado o carvão vegetal é utilizado

em setores multivariados, como na indústria química, farmacêutica, construção civil,

majorando na produção do ferro gusa. Neste nicho de mercado o estado do Mato Grosso do

Sul é o 5º maior produtor de ferro gusa do país com cerca de 1 milhão de tonelada/ano. Sua

indústria já produz o suficiente para guarnecer inicialmente uma aciaria6 (PAINEL

FLORESTAL, 2013). O Estado já possuiu 300 empresas atuando no mercado do carvão,

gerando 25.000 empregos diretos e indiretos, na produção mensal de 400 mil MDC, sendo

que 200 mil MDC/mês eram enviados para outros estados, principalmente Minas Gerais

(sendo alíquota de 12% de ICMS). A partir do mês de julho/2011 a produção do MS declinou

para 200 mil MDC/mês no estado, e desse total 50 mil MDC/mês são enviados para outros

estados. Movimentou R$ 750 milhões de reais, representando 5% do PIB de Mato Grosso do

Sul, perfazendo uma arrecadação de R$ 60 milhões em ICMS por ano (SindCARV/MS,

2013).

A Secretaria de Fazenda do Estado de Mato Grosso do Sul (SEFAZ, 2013) divulgou

no Diário Oficial do Estado (DOE, 2013), em 11/04/2013, uma portaria quanto ao valor real

pesquisado do carvão vegetal. De acordo com a portaria, o carvão vegetal de uso doméstico

6 Equipamento usado para transformar o ferro gusa em aço.

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está cotado na operação interna em R$ 1,40 o quilo e o metro cúbico do produto tem preço

fixado em R$ 350,00. Já na operação interestadual o quilo é avaliado em R$ 0,93 e o metro

cúbico comercializado a R$ 232,50. No caso do carvão vegetal para uso industrial o quilo é

vendido por R$ 0,47. O metro cúbico é negociado a R$ 125, e a tonelada a 475,00.

METODOLOGIA

Este trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica descritiva e exploratória, que

respaldou o diagnóstico do processo de produção e, o mercado do carvão vegetal como agro

combustível. Simultaneamente, efetuou-se entrevista com o presidente do Sindicato das

Indústrias e dos Produtores de Carvão Vegetal de Mato Grosso do Sul (SindiCARV), órgão

representativo da categoria e, como forma de enriquecer a análise da literatura utilizada. As

informações foram posteriormente sistematizadas de modo a permitir a análise e compreensão

do cenário real do mercado do carvão vegetal no Estado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em entrevista com o Presidente do SindiCARV/MS, Sr. Marcos Brito, este declarou

que a burocracia tem feito com que mais de um milhão de metros cúbicos de madeira

apodreçam nas propriedades rurais do Estado, por falta de licença dos produtores para

transformarem um material que já está no chão em carvão vegetal, tão necessário na produção

de ferro-gusa. Os produtores reclamam da falta de estrutura do Instituto do Meio Ambiente de

Mato Grosso do Sul (IMASUL) na concessão das licenças ambientais para o funcionamento

das siderúrgicas. O setor apresentou um recuo de 46,66% nos últimos dois anos. Em 2011, o

setor arrecadava R$ 750 milhões, e hodierno arrecada R$ 400 milhões. O volume de carvão

vegetal disponível no mercado sul-mato-grossense é suficiente para abastecer as suas

siderúrgicas por no máximo 120 dias, colocando em risco a produção de ferro-gusa pela falta

da matéria-prima. Há seis altos-fornos no Estado, entretanto três estão parados e, com o

estoque lenhoso existente não se conseguirá atender a demanda no segundo semestre.

Enfatizou a ociosidade dos trabalhadores podendo se transformar em desemprego e, finalizou

evidenciando que, se a produção cessar, o Estado perderá em torno de 10 mil empregos

diretos e quase 15 mil indiretos, gerados pelo setor. Soma-se a isso o valor agregado do

carvão vegetal que rende mais R$ 400 milhões.

Contrapondo-se a esse cenário o secretário da Secretaria de Estado de Meio Ambiente,

do Planejamento da Ciência e Tecnologia (SEMAC), Sr. Carlos Alberto Menezes, garantiu

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não haver quaisquer indícios de redução da produção siderúrgica por falta de carvão,

afirmando que o rigor na emissão de licenças deve ser mantido, por tratar-se de uma questão

ambiental significativa, e revelou que o setor em questão foi o primeiro a ser informatizado

para dar celeridade aos processos de pedidos de licença ambiental. Concluiu que a cada ano o

Estado tem trabalhado para ampliar a velocidade nas concessões, e que os prazos para

verificação e fiscalização de análises diminuem anualmente. Na prática, tanto as indústrias

quanto os produtores de carvão vegetal valem-se dos restos de árvores e madeira de

propriedades rurais, que, por sua vez, são obrigadas por lei a darem destinos econômico e

ambiental à resultante do desmatamento para o aumento do volume de pastagens e lavouras.

“O material lenhoso é algo que já está no chão, em processo de deterioração, e o que se

precisa é tão somente dar-lhe um destino e/ou um aproveitamento. O carvão vegetal é usado

preponderantemente na produção de ferro-gusa e aço, cumprindo as funções de combustível

para gerar o calor necessário à operação do alto-forno da siderúrgica, e como agente químico

para retirar o oxigênio durante o processo. O presidente do SindiCARV também revelou que

na época da entrevista havia cerca de 466 processos com pedidos de licença ambiental que

aguardam respostas do IMASUL. As solicitações dizem respeito às Autorização Ambiental

para Carvoejamento (AAC), Licença de Operação (LO) e Licença de Instalação e Operação

(LIO). O ferro-gusa é a matéria-prima do aço, sua produção depende do desmatamento e

apenas uma pequena parte da madeira utilizada provém de áreas de reflorestamento, o restante

é proveniente de mata primária. A proposta do setor é se tornar autossustentável até 2018, ou

seja, manter a capacidade de produção vegetal apenas com madeira oriunda de floresta

plantada”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em Mato Grosso do Sul prevalece a modalidade dos fornos rudimentares, também

conhecidos como rabo quente, o que apresenta uma grande desvantagem, como queima

parcial da madeira enfornada para gerar a energia exigida ao processo, parco rendimento

gravimétrico e eficiência energética, circulação de gases condensáveis nocivos à

sustentabilidade do meio ambiente; extenso processo de carbonização, em média de 8 a 12

dias com ínfima produtividade; não aproveitamento dos componentes gasosos combustíveis

(condensáveis e não condensáveis). Concomitantemente o controle do processo é intrínseco a

habilidade do operador. Esses fatos tornam prementes os investimentos tecnológicos para o

setor, no sentido de maximizar lucros, preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores.

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Quanto à capacidade de produção, mediante a estrutura pesquisada, o setor caminha a

passos largos, pois têm toda a sua produção consumida pelo próprio Estado, eximindo-o da

necessidade de importação e, em contrapartida sacrificando-lhe a possibilidade de exportação,

o que impele a novos relacionamentos mercadológicos, muito bem-vindos a um Estado em

franca expansão.

As informações até o momento obtidas confirmam que a produção de carvão vegetal

no Mato Grosso do Sul esta intimamente relacionada às áreas de mineração e de produção de

energia a partir de matérias primas renováveis. Entretanto o sistema de produção artesanal

precisa ser melhorado para garantir melhor nível de vida e garantias aos produtores.

Para que a cadeia se estabilize em níveis de sustentabilidade é necessário garantir a

origem da madeira como de florestas plantadas ou uma forma de estabelecer a origem da

madeira nativa quando empregada, como forma de tornar transparente o atendimento a

legislação sobre preservação ambiental.

Finalmente e aos poucos será necessário organizar e especializar a mão de obra

envolvida na fabricação de carvão vegetal e introduzir tecnologias mais eficientes, que

incluam o aproveitamento e valorização dos coprodutos, como forma de reduzir o impacto no

meio ambiente e tonar a produtividade maior.

Concluiu-se que o assunto é extremamente extenso e profundo, não permitindo que o

trabalho em tela de cabo ao mesmo e, inspirando pesquisas futuras.

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