Estrutura e Dinâmica Social (EDS) · sociologia, frente à filosofia e à psicologia ... •...
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Estrutura e
Dinâmica Social (EDS)
Prof. Diego Araujo Azzi
2019.1
Os clássicos da sociologia e suas tradições
Émile Durkheim
• Níveis de análise interconectados: micro, macro e mesosociologa
– microsociologia: estudo do comportamento cotidiano em situações de interação interpessoal (a base das instituições)
– mesosociologia (nível médio): sociologia da vida vivida em famílias, grupos sociais específicos, comunidades, associações, clubes, bairros, etc.
• Recorte do objeto de pesquisa
– macrosociologia: análise de sistemas de grande escala, como o sistema político ou a ordem econômica. Processos de longo prazo; instituições sociais
• O desmantelamento de modos de vida tradicionais decorrente das mudanças bruscas da virada do séc. XVIII para o séc. XIX levou pensadores a tentar entender e explicar como ocorreram e quais as suas conseqüências
• Antropocentrismo herdado do Iluminismo: ruptura decisiva com o Teocentrismo levou a colocar a ciência como forma privilegiada de entender o mundo, e não mais a religião
• Alguns interesses fundamentais dos clássicos
– agente – estrutura (indivíduo-sociedade; co-constituição do objeto social)
– permanência e mudança (estrutura e dinâmica)
– modos de produção
– estilos de vida
– classe e conflitos de classe
– distribuição da riqueza, alivio da pobreza absoluta e relativa
– secularização das crenças religiosas; racionalização
– conflito, consenso e os rumos das sociedades no processo de modernização
• Algumas preocupações contemporâneas:
– problemas gerados pelo processo de globalização; redes sociais
– sustentabilidade ambiental e riscos à vida
– agenda pós-colonial: novas epistemologias, multiculturalismo, amor, identidade, raça, gênero, poder
• Auguste Comte (1798-1857)
– Busca uma ciência positiva, que aplique métodos científicos rigorosos, como observação, comparação e experimentação
– Busca uma ciência que desvende as leis do mundo social, assim como as ciências naturais explicavam o mundo físico através do método científico
– Se propõe a demarcar um novo campo científico, a Física social >>> mais tarde, Sociologia
• Comte, Lei dos 3 estágios sociais:
– teológico – sociedade é expressão da vontade divina
– metafísico – sociedade vista em termos naturais, não mais sobrenaturais (Renascença)
– positivo – sociedade apreendida através de técnicas científicas
• A sociologia seria a última e mais complexa ciência a se desenvolver
• Deveria ser capaz de fazer previsões sobre o mundo social e sobre ele intervir – “prever para prover”
• Comte – religião da Humanidade
– projeto reformista das sociedades
– abandono definitivo da fé e dos dogmas
– prevalência de um embasamento científico
– sociologia no centro dessa religião
– a adoração é dirigida à própria humanidade
– preocupação com a coesão social em tempos de industrialização acelerada
– solução: produção de um novo consenso moral
• Crítica central a Comte
– Religião da humanidade: quem decidiria qual deve ser a direção moral que sociedade teria que seguir? Cientistas? Políticos? Autoridades religiosas?
– séc. XX: tentativas autoritárias de controle científico de grandes populações humanas levaram ao assassinato em massa
• nazismo e fascismo – racismo científico – holocausto
• stalinismo e assemelhados
• Émile Durkheim (1858-1917)
• Formação em Filosofia na École Normale Supérieure
• Professor na Universidade de Bordeaux, 1887-1902
• Professor na Sorbonne, Paris, 1902-1917
• Influencia junto ao Ministério da Educação da França
– Reforma do ensino católico e novo currículo para as novas escolas públicas. Ênfase na educação moral (e cívica)
• Principais obras
– 1893, A Divisão do Trabalho Social
– 1895, As regras do método sociológico
– 1897, O suicídio
– 1903, Classificação Primitiva
– 1912, As formas elementares da vida religiosa
• Projeto intelectual: delimitar e legitimar o campo específico de conhecimento da sociologia, frente à filosofia e à psicologia
• Preocupação com a coesão moral da França após a Comuna de Paris (1871)
– Guerra franco-prussiana
– Princípios comunistas
– Governo da Comuna durou 72 dias
– Durkheim foi discípulo de August Comte
– Criticas a Comte: ideias especulativas, não teria implementado seu próprio projeto científico
– Durkheim era de fato um positivista, foi pioneiro no uso de estatísticas e da observação etnográfica qualitativa
– A vida social pode ser analisada de forma tão rigorosa quanto os fenômenos da natureza
– Deve-se abandonar o senso comum, preconceitos e ideologias prévios
– Análise de tipo funcional > biologia > anatomia
• Mundo moderno: efeitos perturbadores sobre os estilos de vida tradicionais e a coesão social
– Modernidade nem sempre proporciona novos valores claros
– Nomos – norma. Anomia: sentimentos de falta de propósito, medo e desespero provocados pela vida social moderna
– A Divisão Social do Trabalho (1893). Hipótese: O advento da era industrial marca a emergência de um novo tipo de solidariedade, de um novo tipo de coesão social
– Durkheim: o mercado não gera coesão, pelo contrário, ele faz e imediatamente desfaz relações sociais
• A sociologia durkheimeana tem uma dimensão da realidade superficial e outra mais profunda.
• A superfície é constituída pelos símbolos e rituais e, bem no fundo estão a irracionalidade e o subconsciente.
• Aí estão enfocados temas como as forças irracionais, a moralidade, o sagrado, o religioso e declara que tudo isso constitui o que é social.
DURKHEIM, E.
As regras do método sociológico
Cap. 1: O que é um fato social? Cap. 2: Regras relativas à observação dos fatos sociais
• Ideia inicial sobre o Fato Social: existência de deveres e obrigações sociais que não foram estabelecidos por cada indivíduo, que já estão prontos quando nascemos e os recebemos pela educação
• Vigilância e penalidades para que os deveres sociais sejam cumpridos (M. Foucault, “vigiar e punir”)
• A sociologia poderia servir como uma ciência de medicina social, identificando os estados normais e patológicos do organismo social
• Riso, afastamento social, estigma (E. Goffman – “a apresentação do self na vida cotidiana”)
• Ao invés de analisar o indivíduo, a sociologia deveria analisar os fatos sociais – aspectos da vida social que moldam nossas ações como indivíduos
• A sociedade tem uma realidade própria, exterior aos indivíduos e que exerce coerção sobre eles.
• Os fatos sociais são modos de agir, pensar e sentir que não dependem do desejo individual para existirem. Instituições sociais, simbólicas, visíveis e invisíveis; tangíveis e intangíveis
• Correntes (elétricas) como inspiração – Física
• Correntes de opinião – impulsos coletivos de atração a certos fatos sociais (taxa de casamento, natalidade, suicídio, etc.)
• Correntes sociais – momentos coletivos de êxtase e euforia que arrastam o comportamento individual a práticas que, se sozinho não aconteceriam da mesma forma (religião/futebol/arrastão)
• Os fatos sociais podem condicionar a ação humana de diversas formas, desde
• punição direta (crime),
• à rejeição social (comportamentos inaceitáveis) ou
• um simples mal-entendido (equívoco linguístico)
• No caso de fatos invisíveis, suas propriedades devem ser reveladas indiretamente, por meio do estudo das leis, dos textos religiosos, das regras de conduta, dos tabus sociais
• Normas sociais, “os nossos gostos são obrigatórios”
• A sociedade não é igual a soma dos indivíduos isolados que a compõem
• Um pensamento comum a vários indivíduos ou um movimento repetido por todos não são, em si, fatos sociais (Weber, guarda-chuva)
• Preocupação específica com a coesão social e moral
– Papel da educação na transmissão dos valores morais; consciência coletiva
• A solidariedade (coesão) se mantém quando os indivíduos estão integrados aos grupos sociais e são regulados por um conjunto de valores e costumes compartilhados e desejados
• Anomia social como causa do suicídio, e não somente uma situação individual. Taxa de suicídio. Certo “estado de alma coletivo”
• Preocupação: a sociologia tem que passar do estado subjetivo à fase objetiva
– afastar as noções prévias (particularmente difícil na sociologia) e estabelecer hipóteses
– afastar perspectivas místicas
– empregar um método de pesquisa
– definir o recorte de pesquisa
– buscar os princípios de causalidade
– proceder do particular ao geral
• penas > crimes > moral
• família > monogamia de fato e de direito > moral
– elaborar novos conceitos
– identificar o normal e o patológico
• A condição de toda objetividade é a existência de um ponto de referência constante com o qual a representação possa ser relacionada e eliminar tudo o que ela tiver de variável, ou seja de subjetivo
• Além dos atos individuais, a vida social se cristaliza em hábitos coletivos, sob formas definidas de regras jurídicas, morais, ditados populares, fatos de estrutura social
• Solidariedade social estudada através do sistema de regras jurídicas que a expressa
DURKHEIM, E.
Da Divisão Social do Trabalho
Cap. 2: solidariedade mecânica ou por similitude Cap. 3: solidariedade orgânica ou devida à divisão do trabalho
A divisão social do trabalho e a solidariedade
• Tese – solidariedade mecânica:
– existe uma estrutura social de determinada natureza, à qual corresponde a solidariedade mecânica
– O que a caracteriza é que ela é um sistema de segmentos homogêneos e semelhantes entre si
A divisão social do trabalho e a solidariedade
• Tese – solidariedade orgânica:
– existe uma estrutura social de determinada natureza, à qual corresponde a solidariedade orgânica
– O que a caracteriza é que ela é um sistema de órgãos diferentes, cada um dos quais tem um papel especial e se forma de partes diferenciadas
• Tese geral:
– a solidariedade orgânica se expande provocando o desaparecimento da solidariedade mecânica
• Sociedades primitivas
– pouca divisão do trabalho social
– coesão resulta das semelhanças; da homogeneidade
– tipo social ideal originário: horda
• ausência de divisão interna
• ausência de individualismo
• Sociedades segmentares a base de clãs
– natureza mista, ao mesmo tempo familiar e política
• familiar: consegüinidade; mesmo nome
• política: responsabilidades coletivas; propriedade individual na forma de herança
• chefes dos clãs são as únicas autoridades sociais (depois, divisão do trabalho entre cacique-pagé; “Estado-Igreja”)
Solidariedade mecânica - Sociedades tradicionais com baixa divisão social do trabalho (caçadores; mulheres; crianças; anciãos)
- Alto poder repressivo da comunidade inibe o espaço individual
- Consenso e similaridade de crenças
- Religião penetra todas as esferas da vida social
• Solidariedade mecânica - Comunismo: a propriedade não é a extensão do indivíduo sobre
as coisas
- Onde a personalidade coletiva é a única, a propriedade também não pode deixar de ser coletiva
- Relação com o chefe é como a dos proprietários com as coisas, não gera a solidariedade típica da complexa divisão do trabalho. Relação de mando, não de interdependência
- A autoridade social é uma emanação da consciência comum
• A solidariedade mecânica atinge seu máximo de energia numa sociedade
– pouco diferenciada (elos lineares de uma mesma cadeia)
– com uma autoridade central definida
– inspiração no sistema totêmico das tribos australianas
– identificação signo – símbolo: representações sociais
• clã = animal
• totem = hierarquia de vários animais adorados
• adoração do totem = adoração da própria sociedade
Solidariedade orgânica
• Nas sociedades pequenas como as tribos, como são basicamente autosuficientes, todos os grupos devem produzir tudo o que necessitam e realizar diversos tipos de tarefas por conta própria
• Onde há uma grande densidade social a estrutura muda no sentido de promover uma divisão do trabalho mais complexa
Solidariedade orgânica
• Os papéis sociais se tornam mais complexos; indivíduos produzem apenas uma parte daquilo que consomem e efetuam trocas para o resto
• A sociedade toda se torna mais interdependente ao mesmo tempo em que os indivíduos se tornam mais diferenciados
– Os elementos sociais se encontram coordenados e subordinados uns aos outros, em torno de um órgão central que exerce uma ação moderadora sobre o resto do organismo
– Coesão social se dá pela interdependência das pessoas e pelo reconhecimento da contribuição dos outros. Se os outros dependem dele, ele também depende dos outros
– Radicalização na modernidade: Industrialização e urbanização; complexa especialização de tarefas; diferenciação social cada vez mais sutil
• Nas sociedades urbanas e complexas a personificação dos processos naturais e sociais dá lugar a conceitos abstratos
• As pessoas falam sobre inflação, descobertas da medicina, comércio e até religião – o que pressupõe a ideia abstrata de um ser supremo que transcende a mera personalidade humana e a própria moralidade
• Os rituais são os mecanismos que produzem as ideias carregadas de significado social, e o conteúdo dessas ideias reflete a estrutura da sociedade
• Organização dos indivíduos não mais segundo suas relações consangüíneas, mas agora a partir da sua atividade social
• O meio profissional se torna determinante, assim como a função a que cada indivíduo se dedica
• Evolução da organização social
• consanguinidade > distribuição no território > formação das aldeias > formação das cidades > profissões
• dialetos locais > idiomas nacionais
• autoridade regional perde autonomia para a nacional
• As classes sociais e as castas não tem outra origem senão a mistura da organização profissional nascente com a organização familiar (clânica) preexistente
• O conflito de classes é decorrente da anomia moral e jurídica na esfera econômica (contraste com a tradição do conflito)
• Divisão social do trabalho
– torna as sociedades coerentes; coesas
– se não fornece coesão é porque está pouco regulamentada; divisão do trabalho anômica
– determina as características de sua estrutura
– deverá assumir importância ainda maior no futuro
• Moral profissional; papel das corporações; educação moral