Estrutura Social e SocializaçãoRobert Merton

Inicialmente, era observada uma tensão permanente entre os impulsos biológicos e controle social. Todavia, a partir do progresso da ciência social, essa concepção sofreu modificações essenciais: esse duelo constante entre impulsos e sociedade deu lugar às perspectivas sociológicas no que tange a análise de comportamentos divergentes de padrões pré-estabelecidos.O artigo em questão busca exatamente esclarecer, dentro da sociedade norte-americana, como o comportamento divergente varia dentro das diferentes estruturas sociais, observando como essas estruturas exercem uma determinada pressão sobre determinados indivíduos levando-os a ter uma conduta não conformista em relação à sociedade na qual estão inseridos.Note-se que a análise pretendida está dentro de uma perspectiva sociológica e não biológica: se em grupos sujeitos a determinadas pressões há uma alta incidência de comportamento divergente, então tais sujeitos não reagem por ocasião de tendências biológicas, mas, sim, por responderem normalmente à situação social na qual estão inseridos.

Configurações de objetivos culturais e normas institucionais

Dois elementos da estrutura social e cultural se destacam dos demais: os objetivos culturalmente definidos e as normas institucionais que controlam os modos aceitáveis para que tais objetivos sejam alcançados dentro dessa sociedade; ou seja, o que é o ideal de finalidade e como ele deve ser alcançado (aqui se inserem normas técnicas, de eficiência, morais e historicas etc). Todavia, apesar de serem as práticas prevalecentes (objetivos e meios), não apresentam uma relação constante entre si. E é exatamente esse um dos pontos mais importantes durante a análise das formas de adaptação individual à sociedade que será realizada adiante.É de se ressaltar que são as familias, a escola e o trabalho as estruturas mais importantes de formação da personalidade que fazem internalizar o modelo social que determina os objetivos e os meios (a família, especialmente, transmite os valores da classe social a que pertence).

Tipo de adaptação individual

É necessário observar o tipo de adaptação de indivíduos dentro da sociedade portadora da cultura, passando de quais valores para como os indivíduos diferentemente posicionados na sociedade reagem/se adaptam a eles em duas perspecitvas distintas: objetivos culturais e meios institucionalizados. Três são as classificações utilizadas para cada dessas perspectivas: “aceitação”, “rejeição” e “rejeição de valores prevalecentes e substituição por novos”.

I. ConformidadeAceitação quanto aos objetivos culturais e quanto aos meios institucionalizados.

A mais corriqueira forma de adaptação é a conformidade em relação aos padrões estabelecidos. A estabilidade de uma sociedade é mantida por este comportamento médio de seus membros.

II. InovaçãoAceitação quanto aos objetivos culturais e rejeição quanto aos meios institucionalizados.Esse modo de adaptação é normalmente acarretada pela grande ênfase cultural dada ao sucesso como objetivo de ação. A distância entre os objetivos determinados socialmente (sucesso financeiro) e os meios disponíveis para alcançá-los (amplamente limitados em classes sociais menos favorecidas financeiramente) cria uma pressão social que leva predominantemente ao desvio. Assim, a análise leva a crer que em camadas inferiores há uma maior pressão para a divergência de comportamento. Ou seja, o comportamento divergente surge em grande escala quando um sistema de valores culturais torna o objetivo de sucesso comum a toda a população e restringe ou fecha, através da estrutura social, os meios institucionalizados de acesso a esse objetivo.

III. RitualismoRejeição quanto aos objetivos culturais e aceitação quanto aos meios institucionalizados.Nesse tipo há uma redução dos objetivos de sucesso até o ponto no qual se possa satisfazer tais aspirações sem qualquer mácula aos memios institucionalizados. É comportamento divergente porque nele há um afastamento do modelo cultural no que tange aos objetivos.

IV. RetraimentoRejeição quanto aos objetivos culturais e rejeição quanto aos meios institucionalizados.Nesse tipo estão inseridos os marginalizados, e normalmente ocorre quando os objetivos culturais e as práticas institucionais foram totalmente assimiladas mas os canais institucionais sisponíveis não produzem sucesso. Trata-se de mecanismo de fuga em relação às exigênciais sociais tendo em vista o fracasso frequente em relação às expectativas sociais.

V. RebeliãoRejeição de valores prevalecentes e substituição por novos tanto quanto aos objetivos culturais como aos meios institucionalizados.Nesta forma de adaptação, os homens são levados para fora da estrutura vigente e, por isso, produzem uma estrutura totalmente nova e modificada.Não se confunde com o ressentimento: neste há a condeção daquilo que é secretamente desejado, não ocorrendo uma mudança genuína de valores; e naquele, condena-se o próprio desejo.Normalmente ocorre dentro de classes ascendentes (médias), e não nas mais inferiorizadas.

A pressão para a anomia

A estrutura social examinada produz pressão em direção à anomia (falta de normas) e ao comportamento divergente, principalmente em determinadas camadas mais vulneráveis através de mecanismos determinados.

O papel da família

A família, como dito, é um dos principais meios de trasmissão de valores culturais padronizados para a geração seguinte, ou seja: disciplina as crianças para os padrões sociaisões sociais nos quais estão inseridos seus pais.Tal transmissão pode ocorrer explicita ou implicitamente. E é nesta última forma que ocorre um fenômeno importante: a projeção das ambições dos pais nas crianças, que é uma forma de pressão que pode levar ao comportamento divergente. Em camadas inferiores pode há uma pressão compensatória dos pais pelo sucesso não alcançado por eles em relação aos seus filhos, e, exatamente esses filhos e pais, não possuem acesso aos meios socialmente aceitos para a consecussão desses objetivos, resultando no comportamento divergente.

Considerações Finais

Não há uma valoração moral na discussão, apenas uma análise que permita observar a eficácia social em prover base de regularidade para sua manutenção tendo em vista as consequências da dissociação dos dois elementos sociais essenciais, quais sejam objetivo e meios dentro dessa estrutura.