ESTUDO COMPARATIVO DAS EDIÇÕES DO LIVRO DOZE … · estudo comparativo da obra Vaga música de...

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RENATA CARNEIRO LOPES (orientanda) ANA MARIA DOMINGUES DE OLIVEIRA (orientadora) ESTUDO COMPARATIVO DAS EDIÇÕES DO LIVRO DOZE NOTURNOS DA HOLANDA DE CECÍLIA MEIRELES Relatório Final de pesquisa de Iniciação Científica apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP. 2004

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RENATA CARNEIRO LOPES (orientanda)

ANA MARIA DOMINGUES DE OLIVEIRA

(orientadora)

ESTUDO COMPARATIVO DAS EDIÇÕES DO LIVRO DOZE NOTURNOS DA HOLANDA DE CECÍLIA MEIRELES

Relatório Final de pesquisa de Iniciação Científica apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP.

2004

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Este relatório tem como objetivo a finalização total deste projeto, que inclui o

estudo comparativo da obra Vaga música de Cecília Meireles, relatório já concluído e

entregue à FAPESP, e o estudo comparativo da obra Doze noturnos da Holanda, que teve

início em janeiro de 2004 e se finda em julho de 2004. Neste período foi realizado

exaustivo processo comparativo entre todas as edições da obra, abrangendo todas as

variantes textuais existentes. Neste relatório estão todos os resultados da pesquisa, todas as

variantes detectadas em todas as edições, uma breve análise das variantes de cada poema e

um pequeno ensaio acerca da obra de Cecília Meireles e em especial da obra Doze noturnos

da Holanda.

O material analisado no decorrer de toda a pesquisa está enumerado abaixo, de

acordo com a edição:

A) Doze noturnos da Holanda, Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1952 (obra avulsa).

B) Doze noturnos da Holanda, Obra poética, Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958 (edição

conjunta).

C) Doze noturnos da Holanda, Obra Poética, Rio de Janeiro : José Aguilar, 1967 (edição

conjunta).

D) Doze noturnos da Holanda, Obra poética, Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972 (edição

conjunta).

E) Doze noturnos da Holanda, Poesias Completas de Cecília Meireles, Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira S.A. 1976.

F) Doze noturnos da Holanda, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982 .

G) Doze noturnos da Holanda Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994

(edição conjunta)

H) Doze noturnos da Holanda, Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001

(edição conjunta)

As oito edições que foram pesquisadas são referenciadas através de letras para

melhor visualizar as respectivas variantes. Cada letra representa uma edição:

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A) edição de 1952

B) edição de 1958

C) edição de 1967

D) edição de 1972

E) edição de 1976

F) edição de 1986

G) edição de 1994

H) edição de 2001

A pesquisa do Doze noturnos da Holanda consistiu, da mesma forma que foi

realizado na obra anterior, em analisar, verso por verso, estrofe por estrofe, cada poema em

suas respectivas edições, detectando e analisando todas as variantes que abaixo citaremos.

Lembramos que o termo variante aplica-se a qualquer modificação ou inovação no texto,

salvo as atualizações ortográficas. Cada variante foi identificada e anotada após a

transcrição do respectivo poema e logo em seguida as mesmas foram analisadas e

comentadas. Além de analisar as variantes, o nosso trabalho consiste em avaliar qual das

versões utilizadas pelas diferentes edições seria a versão mais adequada para integrar o

poema na íntegra. Esta é a parte da pesquisa que mais necessita de atenção por parte do

pesquisador, pois o objetivo final é alcançar a versão mais coerente possível ao padrão

estabelecido pela poetisa ao escrever a obra, o que nesta pesquisa especificamente,

conseguimos com mais clareza e certeza.

Como no estudo anterior, este projeto baseou-se na primeira edição da obra para

realizar o estudo comparativo das edições. A primeira edição da obra Doze noturnos da

Holanda, 1952, com a qual trabalhamos nesta pesquisa, foi revisada de próprio punho por

sua autora Cecília Meireles. A poetisa revisou a mão, especificamente utilizando uma

caneta tinteiro, a obra já editada, para presentear seu amigo, o escritor Tasso da Silveira.

Este exemplar da obra contém, além da revisão da poetisa, uma dedicatória ao seu amigo, a

qual segue em anexo a este relatório. As correções feitas por Cecília com a mesma caneta

tinteiro que utilizou para escrever a dedicatória e a própria dedicatória, comprovam o

acesso da autora à primeira edição da sua obra. Apesar da autora não gostar de revisar obras

já editadas, conforme já foi dito em relatórios anteriores, conseguimos obter, para o total

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sucesso desta pesquisa, uma obra revisada pela própria autora dos Doze noturnos da

Holanda. Através deste exemplar podemos concluir com mais clareza, quais eram as reais

intenções da autora acerca da sua obra.

A obra é composta por doze poemas, sendo que os títulos são a própria enumeração

ordenada dos poemas.

Os títulos dos poemas da obra Doze noturnos da Holanda são:

Um,

Dois,

Três,

Quatro,

Cinco,

Seis,

Sete,

Oito,

Nove,

Dez,

Onze,

Doze.

AS VARIANTES

Não detectamos nenhuma variante referente aos títulos dos poemas, todos os que

compunham o índice estavam perfeitamente colocados no corpo do livro.

Abaixo veremos o resultado final desta pesquisa, o poema Doze noturnos da

Holanda, suas variantes e os respectivos comentários.

A seguir, veremos o resultado final desta pesquisa, em que temos a transcrição

completa dos poemas da obra Doze noturnos da Holanda, juntamente com as letras

representantes das edições em que foram detectadas as variantes textuais. O livro foi

transcrito já com as alterações do que acreditamos ser a versão definitiva da autora. Foi

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realizado um pequeno estudo acerca da obra Doze noturnos da Holanda de Cecília, a fim

de estarmos mais próximos da sua intenção acerca da obra, da sua maneira de escrever.

As correções feitas pela autora encontram-se em negrito no corpo do poema, para

uma visualização mais fácil e segura da sua revisão. Os poemas que sofreram as correções

são: Dois, Três e Oito.

Baseando-nos no estudo desta obra como um todo, utilizamos critérios seguros

acerca da nossa escolha das variantes, pois baseamo-nos totalmente no texto já revisto pela

própria poetisa.

Para este relatório, que é a conclusão do estudo de Doze noturnos e a finalização da

pesquisa, temos a transcrição definitiva do poema na íntegra, de acordo com o que

concordamos que seja a versão pretendida pela poetisa, em seguida as suas variantes

textuais, uma pequena análise das mesmas e algumas considerações acerca da obra.

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DOZE NOTURNOS DA HOLANDA

UM

1º verso da 1ª estrofe

A) O rumo do mundo vai perdendo a força,

B) O rumo do mundo vai perdendo a força

C) O rumo do mundo vai perdendo a força

D) O rumo do mundo vai perdendo a força

E) O rumo do mundo vai perdendo a força,

F) O rumo do mundo vai perdendo a força,

G) O rumo do mundo vai perdendo a força

H) O rumo do mundo vai perdendo a força,

Podemos neste exemplo observar que somente as edições A, E, F, e H apresentam

vírgula após a palavra força. Gramaticalmente, não haveria a necessidade da utilização da

vírgula, já que o verso seguinte inicia com a conjuntiva e (como pausa), mas de acordo com

a regularidade dos poemas de Cecília, observaremos que ela utiliza as vírgulas mesmo se o

verso seguinte iniciar com e, como por exemplos os quatro primeiros versos da segunda

estrofe do poema Três. Mas o mais importante seria ressalvar que a versão que utiliza a

vírgula segue a primeira edição da obra, base de nossa pesquisa, e como já havia sido dito

anteriormente, a edição com a qual trabalhamos foi revisada pessoalmente pela autora.

3º verso da 6ª estrofe

A) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

B) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

C) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

D) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

E) Quem sabe teu nome - tão longe, tão tarde,

F) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

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G) Quem sabe teu nome, - tão longe, tão tarde,

H) Quem sabe teu nome - tão longe, tão tarde,

A variante aqui detectada, trata-se da supressão de vírgula antes do travessão que se

encontra no meio da frase. Também apoiados na regularidade dos poemas de Cecília, e na

primeira edição revisada da obra, optamos pela manutenção da vírgula. Essa regularidade

nos poemas podemos comprovar através do quarto verso da terceira estrofe do poema

Quatro, e o oitavo verso do poema Dez, esta seriam uma espécie de marca da sua escrita,

um padrão estabelecido pela autora.

DOIS

No primeiro verso da quinta estrofe, a poetisa faz uma revisão de próprio punho. O

que antes era de passa a ser do, “do que nunca”. Portanto, esta não pode ser considerada

uma variante, já que a própria autora faz a correção da versão editada e, nas edições

subseqüentes, manteve-se a correção da autora.

9º verso da 3ª estrofe

A) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas,

B) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas

C) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas

D) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando, na sombra das almas,

E) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas,

F) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas,

G) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas,

H) irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra das almas,

Nas edições B e C detectamos a supressão de vírgula no final do verso, e na edição

D uma inclusão de vírgula após o último verbo boiando. A primeira edição da obra, 1952,

edição A, foi revisada pela própria poetisa, portanto é com base nela que nos apoiamos para

escolher a primeira versão como a mais adequada.

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4º verso da 1ª estrofe

A) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

B) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

C) Não quero mais dormir, nunca mais, noite esparsas

D) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

E) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

F) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

G) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

H) Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas

A edição C optou pela supressão da vírgula, e conseqüentemente modificou o

sentido do verso. Acreditamos que o sentido mais adequado seria “noite, esparsas nuvens

de estrelas...” e não “noite esparsas nuvens de estrelas...”, ou seja as nuvens é que eram

esparsas. Concordamos que a vírgula se conserva no verso, de acordo com o sentido do

verso e também apoiados na primeira edição, revisada pela poetisa. .

1º verso da 3ª estrofe

A) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois, ao vento das dunas,

B) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois, ao vento das dunas,

C) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois ao vento das dunas,

D) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois ao vento das dunas,

E) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois, ao vento das dunas,

F) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois, ao vento das dunas,

G) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois ao vento das dunas,

H) E a noite dizia-me: “Vem comigo, pois, ao vento das dunas,

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As edições C , D e G apresentam supressões de vírgula no meio do verso. De acordo

com a primeira edição (A), revisada pela autora, optamos que a versão mais correta seria a

conservação da vírgula.

6º verso da 1ª estrofe

A) sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,

B) sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,

C) sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,

D) sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,

E) sobre sinuosos canais, balouçantes e frios,

F) sobre sinuosos canais, balouçantes e frios,

G) sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,

H) sobre sinuosos canais, balouçantes e frios,

As edições E, F e H apresentam uma supressão do artigo o no plural. Acreditamos

que a supressão desse artigo não está de acordo com a regularidade do poema, já que o

verso seguinte também o utiliza quando diz: “ sobre os parques inermes...“ Assim a melhor

versão para esse verso, apoiado na primeira edição da obra e na regularidade do poema,

seria a conservação do artigo no plural no verso.

6º verso da 5ª estrofe

A) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

B) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

C) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

D) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

E) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

F) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

G) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança,

H) na rasa solidão do tempo, e sem qualquer esperança

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Na edição H podemos observar a supressão da vírgula no final do verso. Neste

exemplo a vírgula tem a sua função sintática de pausa para o verso seguinte. Baseados na

primeira edição da obra, e na sintaxe, concordamos que o uso da vírgula no final do verso

seria a versão mais adequada.

TRÊS

No segundo verso da sexta estrofe, identificamos outra revisão textual realizada pela

própria autora depois da edição do livro. Trata-se de uma alteração no tempo verbal do

verbo inutilizar. Foi editado na obra o verbo inutilizar, estando na terceira pessoa do plural

do presente do indicativo, inutilizam, sendo que a autora faz a correção para inutilizavam,

o verbo na terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito do indicativo.

7ª e 8ª estrofes

E tudo queria ser novamente. Não o que era, nem o que fora,

- o que devia ser, na ordem da vida imaculada.

E tudo talvez não pensasse: porém docemente sofria.

Abraçava-me à noite e pedia-lhe outros sinais, outras certezas:

a noite fala em mil linguagens, promiscuamente.

A) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

B) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

C) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

D) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

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G) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

H) Nesta edição a 7ª e a 8ª estrofes permanecem separadas, formando o total de 9

estrofes.

E tudo queria ser novamente. Não o que era, nem o que fora,

- o que devia ser, na ordem da vida imaculada.

E tudo talvez não pensasse: porém docemente sofria.

Abraçava-me à noite e pedia-lhe outros sinais, outras certezas:

a noite fala em mil linguagens, promiscuamente.

E) Nesta edição as estrofes 7 e 8 aparecem unidas formando uma estrofe apenas. Total

de 8 estrofes.

F) Nesta edição as estrofes possuem espaçamento incerto, dificultando a possibilidade

de identificação das estrofes corretamente.

As edições E e F apresentam alteração na transcrição das estrofes, elas se unem numa

só estrofe. Com base na primeira edição, revisada pela autora, e base desta pesquisa

concordamos que a versão mais adequada seria separação das estrofes, ou seja, seria a

formação de duas, dando ao poema o total de nove estrofes e não oito.

QUATRO

4º verso da 3ª estrofe

A) E estas danças, - por onde deslisam, que vêm a ser, se desenrolo

B) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, se desenrolo

C) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, se desenrolo

D) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, de desenrolo

E) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, se desenrolo

F) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, se desenrolo

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G) E estas danças, - por onde deslizam, que vêm a ser, de desenrolo

H) E estas danças - por onde deslizam, que vêm a ser, se desenrolo

A edição H apresenta supressão de vírgula antes do travessão que se encontra no

meio do verso. Conforme o padrão estabelecido pela autora, e a primeira edição da obra,

revisada pela própria autora, concordamos que o mais adequado seria a conservação da

vírgula. As edições D e G apresentam alteração de letra: “ de desenrolo” ao invés de “ se

desenrolo”. Acreditamos que o mais correto seria dizer : “... Se desenrolo meus

repentinos aposentos...” Provav elmente, este seria mais um problema de falta de atenção

do editor no momento da revisão e edição da obra.

SETE

4º verso da 8ª estrofe

A) e a memória do universo

B) e a memória do universo

C) e a memória do universo

D) e a memória do universo

E) e a memória do universo

F) e a memória do universo

G) e a memória do universo

H) e a memória do universo,

A edição H apresenta uma inclusão de vírgula no final do verso. Conforme o texto

da primeira edição da obra, corrigida pela autora, concordamos que a versão mais adequada

é a da supressão da vírgula no final do poema.

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OITO

As duas primeiras estrofes do poema mostram quais foram as revisões realizadas

pela autora desta obra. A correção feita por Cecília seria uma anotação a caneta tinteiro ao

lado das estrofes, enumerando-as de acordo com a ordem pretendida por ela. Nesta edição

as duas primeiras estrofes são divididas em três, fazendo com que o poema possua o total

de dez estrofes. A ordem dos versos também é alterada.

1ª, 2ª e 3ª estrofes

3 Que vale o pensamento humano,

1 Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?

2 E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?

esforçado e vencido,

na turbulência das horas?

A ordem das estrofes e dos versos foi alterada, muito provavelmente, no momento

da edição, pois, nesta versão em que as estrofes se dividem em três, o primeiro verso inicia

com letra maiúscula e finaliza com uma vírgula, sendo que o verso seguinte inicia com

maiúscula, quebrando estruturas sintáticas. As demais estrofes, não possuem linearidade

entre si, o que prejudica a coerência do poema.

A versão pretendida pela autora, resultado de sua correção, seria aquela indicada

pelos números, com a divisão em duas estrofes, definidas, como regra geral da poesia de

Cecília Meireles, pela sintaxe:

1ª e 2ª estrofes

Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?

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E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?

Que vale o pensamento humano,

esforçado e vencido,

na turbulência das horas?

3º verso da 9ª estrofe

A) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite,

B) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

C) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

D) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

E) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite,

F) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

G) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

H) O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

A variante aqui detectada seria a supressão de vírgula das edições B, C, F, G e H. A

utilização de uma vírgula seria pertinente, pois pausaria um verso do outro que se segue.

Conforme a primeira edição, revisada pela autora e base desta pesquisa, acreditamos que a

versão mais adequada seria a conservação da vírgula no final do verso.

1º verso da 3ª estrofe

A) Que vale a conversa apenas murmurada,

B) Que vale a conversa apenas murmurada,

C) Que valem a conversa apenas murmurada,

D) Que valem a conversa apenas murmurada,

E) Que vale a conversa apenas murmurada,

F) Que vale a conversa apenas murmurada,

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G) Que valem a conversa apenas murmurada,

H) Que valem a conversa apenas murmurada,

As edições C, D, G e H apresentam variações na flexão verbal. Utilizaram o verbo

valer na terceira pessoa do plural, valem, não fazendo a concordância verbal cabível com a

conversa. O correto seria “... que vale a conversa...” e não “... que valem a conversa...”.

Portanto que o mais correto é a utilização do verbo na terceira pessoa do singular, vale,

também baseados na primeira edição da obra.

2º verso da 7ª estrofe

A) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

B) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

C) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

D) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

E) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

F) Grandes animais sem passado, sem antecedentes, puros e límpidos,

G) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

H) Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

A edição F apresenta uma alteração na ordem do verso, unindo dois versos a um

verso somente. De acordo com a primeira edição do livro, concordamos que a versão mais

adequada seria o verso permanecer separado, formando dois versos:

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“...Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,”

NOVE

5ª e 6ª estrofes

Diziam que era da noite,

da miragem dos desejos...

Hei de banhar os meus olhos

nas mil ribeiras da aurora,

para ver se ainda te vejo.

A) As 5ª e 6ª estrofes encontram-se separadas nesta edição.Total de 6 estrofes.

E) As 5ª e 6ª estrofes encontram-se separadas nesta edição. Total de 6 estrofes.

F) As 5ª e 6ª estrofes encontram-se separadas nesta edição. Total de 6 estrofes.

G) As 5ª e 6ª estrofes encontram-se separadas nesta edição. Total de 6 estrofes.

5ª e 6ª estrofes unidas

Diziam que era da noite,

da miragem dos desejos...

Hei de banhar os meus olhos

nas mil ribeiras da aurora,

para ver se ainda te vejo.

B) Nesta edição a 5ª e 6ª estrofe compõem uma só estrofe, a quinta. Total de 5 estrofes

no poema.

C) Nesta edição a 5ª e 6ª estrofe compõem uma só estrofe, a quinta. Total de 5 estrofes

no poema.

D) Nesta edição a 5ª e 6ª estrofe compõe uma só estrofe, a quinta. Total de 5 estrofes

no poema.

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H) Nesta edição a 5ª e 6ª estrofe compõe uma só estrofe, a quinta. Total de 5 estrofes

no poema.

As edições B, C, D e H possuem uma alteração na transcrição da quinta estrofe. De

acordo com a primeira edição, as últimas estrofes são mais curtas que as anteriores, uma

contendo dois versos e outra contendo três versos. Como já foi dito, a primeira edição foi

revisada de próprio pela autora, assim, concordamos que essa seria a versão mais correta

para esta estrofe.

DEZ

2º verso da 1ª estrofe

A) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos

B) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

C) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

D) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

E) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

F) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

G) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

H) e dela se avistam de outra maneira os longos prados sucessivos,

A edição A apresenta uma supressão de vírgula no final do verso, enquanto as

demais edições optaram por acrescentar uma no final. De acordo com a primeira edição

podemos observar que a autora optou pela não utilização da vírgula, assim concordamos

que esta seja a versão mais adequada.

8º verso da 3ª estrofe

A) entre as estrelas nascentes,

B) entre as estrelas nascentes,

C) entre as estrelas nascentes,

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D) entre as estrelas nascentes,

E) entre as estrelas nascentes,

F) entre as estrelas nascentes,

G) entre as estrelas nascentes,

H) entre as estrelas nascentes

Na edição H detectamos uma supressão de vírgula no final da vírgula. Como já foi

comentado neste relatório, existe um padrão estabelecido pela autora, a utilização de

vírgula como pausa antes do travessão. Podemos observar estas características em outros

poemas desta obra, como por exemplo o poema Um. Além desta regularidade no poema,

baseando na primeira edição revisada da obra, acreditamos que o mais adequado seria a

conservação da vírgula no final do verso.

DOZE

5ª e 6ª estrofes

Os lapidários podem vir mirar seus olhos:

não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

Mas ninguém pode tocar nesses olhos transparentes,

que se tornariam viscosos e opacos, fora desse descanso

onde encantados cintilam.

Poderão os profetas vir mirar seus finos vestidos:

bordados de mil desenhos comuns e desconhecidos;

ah! seus vestidos de água, com todas as miragens do mundo,

seus tênues vestidos como não há nos museus, nos palácios

nem nas sinagogas...

A) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

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B) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

C) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

D) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

E) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

I) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

H) Nesta edição as estrofes 5 e 6 encontram-se separadas, formando o poema com o

total de treze estrofes.

Os lapidários podem vir mirar seus olhos:

não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

Mas ninguém pode tocar nesses olhos transparentes,

que se tornariam viscosos e opacos, fora desse descanso

onde encantados cintilam.

Poderão os profetas vir mirar seus finos vestidos:

bordados de mil desenhos comuns e desconhecidos;

ah! seus vestidos de água, com todas as miragens do mundo,

seus tênues vestidos como não há nos museus, nos palácios

nem nas sinagogas...

F) Nesta edição as duas estrofes formam apenas uma. O poema é composto por 12

estrofes no total.

A variante detectada na edição F, é a alteração na transcrição das estrofes. Este

poema é escrito em forma livre, não seguindo nenhuma regra estética. Assim, baseados na

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primeira edição da obra, revisada pela poetisa, concordamos que o mais adequado seria a

versão em que a estrofe divide-se em duas. O poema é formado pelo total de 13 estrofes.

2º verso da 5ª estrofe

A) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

B) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

C) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

D) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

E) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

F) não houve esmeralda assim, nem

diamante, nem ditosa safira.

G) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

H) não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira.

A edição F apresenta alteração na transcrição de verso. O segundo verso da quinta

estrofe foi transcrito, como se fossem dois. Baseados na primeira edição e nas demais

optamos pela versão que acreditamos ser a mais adequada:

“ não houve esmeralda assim, nem diamante, nem ditosa safira”.

.

2º verso da 4ª estrofe

A) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

B) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

C) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

D) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

E) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

F) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

G) qualquer suspiro seria uma nuvem, sobre essa nitidez.

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H) qualquer suspiro seria uma nuvem sobre essa nitidez.

Na edição H detectamos uma supressão de vírgula no meio do verso. Acreditamos

que não haja motivo para suprimir esta vírgula, pois ela tem função de pausa no verso. De

acordo com a primeira edição revisada pela poetisa e as demais, acreditamos que a versão

mais adequada é a que inclui a vírgula no meio do verso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DA OBRA

DOZE NOTURNOS DA HOLANDA

A partir de aspectos gerais da obra de Cecília Meireles e muito especialmente da sua

obra Doze noturnos da Holanda, objeto de estudo desta pesquisa, tentamos chegar a uma

análise literária da sua estética e interpretação dos poemas aqui especificados. O estudo que

aqui propomos é voltado especialmente para a obra já citada, cuja leitura nos remete a um

mundo poético muito subjetivo, característico do estilo de sua escritora.

A autora procura exprimir, em suas obras, toda a sua visão do mundo e as suas

emoções em relação a ele através de metáforas, aliterações, sinestesias, sons e sensações.

O principal tema desta obra: a noite. De acordo com o título, seriam doze noites

passadas na Holanda, especialmente na cidade de Amsterdão, cidade holandesa construída

sobre diques no rio Amstel. Todos os doze poemas descrevem ou se passam durante o

período noturno da cidade, cada um com sua história específica e com impressões e

sentimentos subjetivos. O tempo vivenciado em Holanda, é um tempo guardado na

memória, um tempo espiritual. A noite é retratada de muitas formas, as quais veremos

abaixo de acordo com os trechos retirados de cada poema, respectivamente:

UM – “Àrvores da noite ...Pensamento amante...”

DOIS – “Abraçava -me à noite nítida...”

TRÊS – “À noite levava -me tão alto...”

QUATRO – “À noite elevava -me em si como água dócil de imenso moinho...”

CINCO – “...o que vai seguindo a noite...”

SEIS – “E eu me sentia à proa da noite...”

SETE – “Finíssimas pontes transpõem a noite...”

OITO – “O Caminho que vai das pastagens etéreas da noite...”

NOVE – “Diziam que era da noite...”

DEZ – “...à noite que existe e não existe...”

ONZE – “E a mão que dorme está sen do lavrada pela noite...”

DEZ – “Eu me debrucei para ele, da borda da noite...”

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A palavra noite situa o leitor no tempo e no espaço que ocorrem os acontecimentos

descritos nos poemas. Juntamente com várias descrições dos locais aos quais a autora se

refere nos poemas, isso proporciona uma viagem temporal e espacial à Holanda.

Leodegário de Azevedo Filho, ao manifestar-se sobre a questão do tempo, afirma:

“...Quanto aos Doze noturnos da Holanda, neles é ainda a problemática do tempo que predomina,

como no resto de sua obra poética. Não o tempo físico ou exterior, mas o tempo psicológico ou subjetivo, que

se transforma numa espécie de temática obsessiva em seus poemas. Cada ato de sua sensibilidade aparece,

inevitavelmente, impregnado de tempo...” 1

“.. .Tempo literário, psicológico, que a memória revive com a intensidade de presente, ou que apavora

e intimida m seu fluir contínuo, revelando uma visão da vida, o tempo na poesia de Cecília...”

A noite apresenta-se como uma memória do passado, de um fato vivenciado e

expresso através do eu poético.

Outro tema também trabalhado pela poetisa em seus poemas é a morte. Cecília

procura exprimir em seus poemas sua visão de mundo acerca da vida e da morte, não como

extremos entre si, o negativo e o positivo, mas, ambos sendo parte dessa vida e desse

mundo, ambos tendo às vezes seus aspectos positivos e seus aspectos negativos. A morte é

vista com poesia e beleza aos olhos da poetisa. Podemos observar com clareza estes

aspectos de sua poesia no poema Doze, o qual trata com total beleza sobre um afogado.

Neste poema, toda a dor e sentimento de perda perdem sentido na leitura do poema.

O asco causado por uma morte por afogamento, a aparência de um afogado já há algum

tempo, tudo isso deixa de ter sentido através desta leitura.

“ Sem podridão nenhuma, jazerá um afogado

nos canais de Amsterdão.” 2

São poucos os momentos em que há uma descrição mais realista da morte.

“... Mas ninguém pode tocar nesses olhos transparentes,

1 Leodegário A. de Azevedo Filho, “ Poesia e Estilo de Cecília Meireles”,1970 2 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “ Doze Noturnos de Holanda”, 1952.

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que se tornariam viscosos e opacos, fora desse descanso

onde encantados cintilam...” 3

Este poema descreve o aparecimento de um cadáver nas águas de Amsterdão,

provavelmente nas águas do rio Amstel, rio sobre o qual foi construída a cidade, através de

diques. A autora faz uma breve descrição sobre as casas da cidade, e a própria cidade. O

poema está em harmonia com o título da obra, já que são os Doze noturnos da Holanda, e

este seria a décima segunda noite na Holanda.

“ Quem passar entre as casas triangulares,

quem descer estas breves escadas,

quem subir para as barcas oscilantes...” 4

A morte é vista de uma forma poética, sem rancor, sem amargura, mesmo estes

sendo sentimentos geralmente despertados nas pessoas que estão próximas dela, a poetisa

consegue tratar do tema com leveza e suavidade. Neste poema não há rancor da perda, há

uma suave descrição da morte.

Cecília sempre utilizou o mar e a morte como temas de seus poemas. A atração e

profunda admiração pelo mar fizeram com que a poetisa dedicasse maior parte de seus

poemas a esse elemento da natureza, assim nota-se nesta obra vários símbolos e termos

marinhos. O mar em seus poemas, está na maioria das vezes, relacionado com a morte,

sempre há um marinheiro náufrago boiando “por esses líquidos caminhos” ou nas

profundezas do mar. É com se a poesia fosse um mergulho através das águas.

“... É um pálido afogado, sem palavras nem datas,

sem crime nem suicídio, um lírico afogado,

com os olhos de cristal repletos de horizontes móveis...” 5

3 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “Doze Noturnos de Holanda”, 1952. 4 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “Doze Noturnos de Holanda”, 1952. 5 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “Doze Noturnos de Holanda”, 1952.

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Neste poema notamos a relação e união destes dois temas; ao mesmo tempo em que

o mar é vida, também é morte para aqueles que por ele navegam.

O mundo de um poeta é vago e infinito. Seu interior é vasto e rico em experiências

emocionais, vivências e percepções acerca do mundo em que vive expressas em sentidos e

traduzidas depois em palavras. O misticismo ganha força, através da vida que há na morte.

“Porque a morte é o que veste dessa maneira gloriosa,

a morte que o guarda nos braços como um belo defunto sagrado...” 6

“...que era felicidade esse profundo afoga mento,

e tudo ficou para sempre numa divina aquiescência

entre a noite, a minha alma e as águas.” 7

A morte se veste de um ar poético aos olhos da poetisa, obtendo valores positivos

para representar, misticamente, algo mais profundo, mais religioso, mais divino. A

felicidade do afogado quebra os valores negativos da morte, e a revela como protetora dos

valores divinos.

“...Todo o mundo o verá, com lua, com chuva, com escuridão

navegar nos canais, recostado em sua própria leveza e claridade...” 8

O afogado de Cecília, através de sua morte, ganha extensa liberdade pelos

“líquidos” caminhos das águas. Ele viaja pelo mundo para quem quiser vê-lo, navegando

pelos pensamentos das pessoas.

A lua é o retrato da noite, o seu símbolo máximo. Neste poema, sua imagem é o que

nos situa no tempo e no espaço, é a sua aparição que sintoniza o clima misterioso dos

acontecimentos descritos.

Notamos um constante uso de algumas expressões em poemas diferentes, como por

exemplo:

6 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “ Doze Noturnos de Holanda”, 1952. 7 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “ Doze Noturnos de Holanda”, 1952. 8 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “ Doze Noturnos de Holanda”, 1952.

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“...um breve rosto sem datas...” 9

“... É um pálido afogado, sem palavras nem datas...” 10

Estas expressões metafóricas expressam subjetivamente a questão do tempo para a

autora. Sem datas, nem datas, expressões que remetem a um espaço de tempo sem começo

nem fim, um tempo eternamente eterno. Uma data perdida no tempo e no espaço,

identificada apenas na memória.

O mistério noturno de Holanda é decifrado pelas impressões sensoriais da poetisa. A

lua, a escuridão, a sombra são algumas das marcas expressas de uma noturna aventura

pelos caminhos holandeses. Só a noite alcança a essência espiritual que objetiva uma vida

mística.

ESTUDO DAS VARIANTES

Embora a sua obra seja muito reconhecida, pesquisadores e estudiosos cecilianos

encontram muitos problemas e dificuldades na documentação da mesma, devido a alguns

problemas de revisão nas várias edições. Conforme mostramos nesta pesquisa o número de

variantes encontradas nas reedições de uma mesma obra é grande. Faz-se, portanto,

extremamente necessário haver pesquisas como esta, pois é a partir delas que pesquisadores

conseguirão encontrar textos mais próximos aos originais e assim conseguir resultados mais

seguros em suas pesquisas.

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi o levantamento das variantes textuais

nas oito edições da obra. Realizamos um estudo comparando todas as edições e separando

as passagens em que se diferenciavam entre si. Comparamos cada verso, cada estrofe dos

9 Cecília Meireles. Poema ‘Cinco’ p.8, livro “Doze Noturnos de Holanda”, 1952. 10 Cecília Meireles. Poema ‘Doze’ p.33, livro “Doze Noturnos de Holanda”, 1952.

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poemas, em suas edições diferentes. As alterações detectadas foram anotadas por letras que

diferenciavam as edições e novamente comparadas entre si. As variantes foram analisadas e

comentadas para, assim, podermos decidir qual seria a versão mais correta ou adequada,

que se aproximasse mais do que acreditamos ser o pretendido pela autora.

De acordo com o resultado desta pesquisa, é extremamente importante uma edição

crítica da obra, para resgatar a estrutura mais fiel possível dos poemas, servindo como fonte

conhecimento para futuras gerações de pesquisadores. Assim, futuras pesquisas acerca da

obra Doze noturnos da Holanda serão possíveis e terão maior segurança, com certeza de

estarem pesquisando uma obra mais próxima possível do seu original revisado pela autora.

As variantes detectadas são inúmeras, algumas são simples e quase insignificantes,

mas outras possuem a propriedade de prejudicar a leitura e o entendimento do poema. Uma

má leitura decorrente dessas alterações, nas diferentes edições, pode resultar em uma

interpretação errônea, comprometendo o poema e a análise do mesmo.

Como também foi visto, Cecília mantinha uma certa regularidade em seus poemas,

que por vezes tornavam-se características próprias da sua maneira de escrever e estilo.

Estes exemplos são fundamentais para estudiosos e pesquisadores, pois uma pesquisa pode

ser até comprometida em seus resultados devido à utilização de edições precárias. A

obrigação de um pesquisador ceciliano é evitar erros em futuros trabalhos. Além disso, é

claro, a obrigação das editoras seria, no mínimo, a de ser fiel aos manuscritos entregues

pelos autores, e em futuras reedições conservarem o texto original independente do próprio

conceito sobre ele, já que uma boa parte dessas variantes surgiram na tentativa de se

“melhorar” o texto.

Em casos como este, em que não se tem acesso a possíveis manuscritos, conta-se

muito com o conhecimento do pesquisador acerca da obra pesquisada e acerca do seu autor,

a fim de se obter um resultado um pouco mais seguro. Optamos por utilizar a primeira

edição da obra por ter sido revisada pela autora, e assim termos uma versão mais segura

acerca do texto. Apesar da primeira edição conter algumas alterações ortográficas, estas não

foram levadas em conta pelo estudo das variantes. Portanto, para a realização desta

pesquisa, o material base mais indicado foi a primeira edição.

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As variantes detectadas nesta obra são ‘diacrônicas’, ou seja, são as alterações,

inovações introduzidas no texto original, segundo Bárbara Spaggiari, pelas editoras no

momento de edição da obra, muitas vezes com o intuito de “aprimorar” o texto do autor.

“As variantes diacrônicas constituem a base de qualquer trabalho de edição crítica de um

texto, cujo original está perdido, e fazem parte normalmente do aparato crítico de roda-pé

que acompanha a edição.” 11

Estas são diferentes das sincrônicas, ou seja, são as variantes autorais, modificações

pelo próprio autor.

O objetivo geral de se realizar uma pesquisa de crítica textual das variantes, é a de

se aproximar do texto original, com vistas a uma versão mais definitiva da obra. Também

serve como uma espécie de denúncia do descuido de algumas editoras para com suas

edições.

Através de nosso estudo, cremos ter obtido uma versão que é a mais próxima

possível do texto original, através de um trabalho realizado com muito afinco e dedicação, e

oferecemos aos novos pesquisadores uma fonte de estudo segura para as futuras pesquisas.

11 Barbara Spaggiari. ‘Ecdótica e crítica das variantes’. “Veredas” (Revista da ass. Int. de Lusitanas).1999

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