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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016 Mariana Barreira Campos Rios Rio de Janeiro 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS

DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS

2016

Mariana Barreira Campos Rios

Rio de Janeiro

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS

DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS

2016

Mariana Barreira Campos Rios

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

Título de Engenheiro.

Orientador: Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

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ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO

DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016

Mariana Barreira Campos Rios

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

__________________________________________

Prof. Jorge dos Santos, D.Sc., Orientador

__________________________________________

Prof. Ana Catarina Evangelista, D.Sc.

__________________________________________

Prof. Isabeth da Silva Mello, M. Sc.

__________________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva, Arq.

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RIO DE JANEIRO – RJ, BRASIL

AGOSTO 2014

Rios, Mariana Barreira Campos Estudo de Aspectos e Impactos Ambientais nas Obras de Construção do Bairro Ilha Pura - Vila dos Atletas 2016./ Mariana Barreira Campos Rios – Rio de Janeiro: POLI/UFRJ, 2014./ Mariana Barreira Campos Rios. – Rio de Janeiro: UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2014.

XIV, 102 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Jorge dos Santos Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2014. Referências Bibliográficas: p. 96-101 1. Introdução, 2. Impactos Ambientais, 3. Impactos

Ambientais na Construção Civil, 4. Aprovações de

Construções - Legislação Ambiental, 5. Boas Práticas, 6.

Estudo de Caso, 7. Considerações Finais. I. Santos, Jorge.

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedicado aos meus pais, aos meus irmãos e meus avós,

Que sempre acreditaram em mim e

me deram forças para superar todas as dificuldades.

Muito obrigada pela educação, amor e compreensão.

Comemoramos juntos essa vitória.

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AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Luis Augusto e Lélia, por todo investimento em minha

educação, pelo suporte emocional doado da mais bela maneira, pelos diversos conselhos

e orientações fornecidos, pela motivação em momentos difíceis e pela alegria

compartilhada em todos os dias de vitória. Ainda, acima de tudo, agradeço todo amor e

entrega durante toda minha vida e dos meus irmãos.

Aos meus irmãos, Thaís e Victor, pelo companheirismo de uma vida inteira, por

acreditarem em mim e me darem forças para manter a engenharia em nossa família.

Agradeço todo amor, carinho, união e cumplicidade que sempre tivemos.

Aos meus cunhados Angelo e Marina, pela amizade e por tantas conversas confortantes

durante todos esses anos e em especial ao Angelo, por, junto à minha irmã Thais, ter me

dado os maiores presentes da minha vida: meus sobrinhos Pedro e Gabriel. Certamente

são o maior motivo da minha alegria!

Ao meu namorado Pedro, por toda compreensão em momentos de ausência, pela

lealdade e pelo amor sempre demonstrado da maneira mais pura e verdadeira.

Às minhas avós, Carmen e Minda, pelas palavras doces e sábias que sempre me fizeram

refletir e me deram forças para obter o título de Engenheira.

À todos os meus familiares, em especial meus Dindos de coração, Célia e Luis Eduardo e

minha prima e melhor amiga Natália, pela preocupação, pelo apoio, por cada palavra de

motivação e confiança durante todo curso de Engenharia.

Aos amigos de graduação, pelas boas risadas, pelo companheirismo, por tantas noites

mal dormidas fazendo trabalhos intermináveis e por diversas histórias inesquecíveis. Em

especial agradeço a amizade de Luísa Gontijo, Fernanda Couto, Anália Torres e Eduarda

Bacellar, que estiveram comigo em grande parte dessa trajetória e que levarei para a vida

toda.

À todos os meus amigos que vivenciaram comigo essa grande etapa em minha vida, me

ajudando a superar desafios e vibrando comigo em minhas conquistas. Muito obrigada.

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Resumo da Monografia apresentada à POLI/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Engenheira Civil.

ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO

DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016

Mariana Barreira Campos Rios

AGOSTO/2014

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

O presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre aspectos e impactos

ambientais, principalmente no setor da construção civil. Atualmente, vem sendo cada vez

maior a preocupação com a sustentabilidade em todas as etapas do ciclo de vida de um

empreendimento, desde sua concepção, projeto, construção, manutenção, até sua

demolição, considerando sempre as três dimensões da sustentabilidade: econômica,

social e ambiental. Portanto, desenvolveu-se um estudo para identificação dos aspectos

ambientais das obras de construção da 1ª Fase do Bairro Planejado Ilha Pura, de acordo

com as atividades e processos do ciclo imobiliário.Os principais aspectos abordados

foram relacionados com os respectivos impactos ambientais associados. A identificação

prévia e o estudo destes impactos possibilitam a empresa desenvolver planos de ações e

soluções inovadoras voltados a uma melhor atuação no que diz respeito às questões

ambientais, possibilitando, assim, que os impactos negativos sejam reduzidos ou até

mesmo mitigados. As iniciativas aplicadas no empreendimento contemplam a implantação

de usinas de concreto no canteiro de obras, redução e reuso de resíduos, redução do

impacto na utilização de recursos hídricos e energéticos, diminuição da emissão de gases

de efeito estufa (GEE), além do recrutamento e capacitação da mão de obra do entorno.

PALAVRAS-CHAVE: Aspecto Ambiental; Impacto Ambiental; Práticas

Sustentáveis; Construção Sustentável.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

A STUDY OF THE ENVIRONMENTAL ASPECTS AND IMPACTS AT THE

CONSTRUCTION OF THE PLANNED DISTRICT ILHA PURA - ATHLETES VILLAGE

2016

Mariana Barreira Campos Rios

AUGUST/2014

Advisor: Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

This work presents a bibliographic review of environmental aspects and impacts,

especially in the civil construction sector. Currently, the concerning about sustainability is

increasing in all stages of the building life cycle, since its conception, through design,

construction, maintenance, until its demolition, considering the three dimensions of

sustainability: economical, social and environmental. Hence, a study was performed to

identify the environmental aspects of the planned district Ilha Pura on its first phase of

construction, according to the activities and processes of the real estate cycle. The main

environmental aspects discussed were related to their associated environmental impacts.

The previous identification and study of these impacts enable the company to develop

action plans and innovative solutions looking for better performances in environmental

issues and assuring the reduction or even the mitigation of negative impacts. The

initiatives applied in the project contemplate the implementation of Concrete Plants on site,

waste reduction and reuse, reduction on the use of water and energy resources, reduction

in emissions of greenhouse gases (GHGs), beyond the development of programs for

vocational skills training and employability among the communities surrounding.

KEY-WORDS: Environmental Aspect; Environmental Impact; Sustainable Practices;

Sustainable Construction.

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Sumário ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................xii ÍNDICE DE FIGURA.............................................................................................. xiii ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................... xiv 1. Introdução ....................................................................................................... 15

1.1. Importância do Tema ................................................................................... 15

1.2. Objetivo ....................................................................................................... 16

1.3. Justificativa .................................................................................................. 17

1.4. Metodologia ................................................................................................. 18

1.5. Estrutura da Monografia .............................................................................. 18

2. Impactos Ambientais....................................................................................... 20

2.1. Contextualização: Aspectos e Impactos Ambientais ................................... 20

2.1.1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço ......................................... 22

2.1.2. Identificação de Aspectos Ambientais ...................................................... 22

2.1.3. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 23

2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 24

2.1.5. Classificação de Impactos Ambientais ..................................................... 24

2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais ..................................... 27

2.2. Os Impactos Ambientais na Visão da Legislação ........................................ 27

2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes .................. 29

2.3.1. Aspectos Gerais das Ocorrências ............................................................ 29

2.3.2. Acidentes de Transporte .......................................................................... 32

2.3.2.1. Acidentes de Transporte em Terra ....................................................... 32

2.3.2.2. Acidentes de Transporte no Mar ........................................................... 33

2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo ............................................................ 34

2.3.3. Megacidades - Acidentes Urbanos........................................................... 34

3. Impactos Ambientais na Construção Civil ....................................................... 37

3.1. Princípios da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).......................................... 38

3.1.1. Definição de Objetivo e Escopo ............................................................... 39

3.1.2. Análise de Inventário ................................................................................ 40

3.1.3. Avaliação de Impactos ............................................................................. 40

3.1.4. Interpretação de Resultados .................................................................... 40

3.1.5. ACV na Construção Civil .......................................................................... 41

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3.2. Construção e o Meio Ambiente ................................................................... 43

3.3. Geração de Impactos ao longo do Ciclo Produtivo ...................................... 43

3.3.1. Concepção, Planejamento e Projeto ........................................................ 46

3.3.2. Construção e Implantação ....................................................................... 47

3.3.3. Uso e Ocupação ...................................................................................... 50

3.3.4. Demolição ................................................................................................ 50

3.4. Conceitos e Definições do Guia de Sustentabilidade na Construção .......... 51

3.4.1. Aspectos Ambientais - Macrotemas Sustentáveis ................................... 52

4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental ...................................... 55

4.1. Licenciamento Ambiental ............................................................................ 55

4.1.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos ..................................................... 57

4.1.2. Licenciamento Ambiental no Estado do Rio de Janeiro ........................... 57

4.2. Tipos de Licenças Ambientais ..................................................................... 58

4.2.1. Licença Prévia - LP .................................................................................. 59

4.2.2. Licença de Instalação - LI ........................................................................ 59

4.2.3. Licença Prévia e de Instalação - LPI ........................................................ 60

4.2.4. Licença de Operação - LO ....................................................................... 60

4.2.5. Licença de Instalação e Operação - LIO ................................................. 61

4.2.6. Licença de Operação e Recuperação - LOR ........................................... 61

4.2.7. Licença Ambiental Simplificada - LAS ...................................................... 61

4.2.8. Licença Ambiental de Recuperação - LAR ............................................... 61

4.2.9. EIA/RIMA ................................................................................................. 61

4.3. A Obtenção das Licenças Ambientais ......................................................... 62

5. Boas Práticas na Construção Civil .................................................................. 66

5.1. Sistemas de Gestão Ambiental ................................................................... 66

5.1.1. NBR ISO 14001/2004 "Sistemas de Gestão Ambiental - Especificação e Diretrizes para uso" ............................................................................................... 67

5.1.1.1. Política Ambiental ................................................................................. 68

5.1.1.2. Planejamento ........................................................................................ 69

5.1.1.3. Implementação e Operação .................................................................. 69

5.1.1.4. Verificação e Ação Corretiva ................................................................. 70

5.1.1.5. Análise Crítica pela Administração ....................................................... 70

5.2. Sistema de Redução de Impactos Ambientais ............................................ 71

5.3. Práticas Recomendadas ............................................................................. 73

5.3.1. Infraestrutura do Canteiro de Obras ......................................................... 73

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5.3.2. Seleção de Recursos e Materiais ............................................................. 75

5.3.3. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 76

5.3.4. Incômodos e Poluição .............................................................................. 78

5.4. Matriz Aspecto x Impacto ............................................................................ 79

6. Estudo de Caso .............................................................................................. 80

6.1. Aspectos Gerais .......................................................................................... 80

6.2. O Bairro Ilha Pura ........................................................................................ 80

6.3. Aspectos e Impactos Ambientais das Obras de Construção ....................... 83

6.4. Monitoramento dos Impactos ...................................................................... 88

6.4.1. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 89

6.4.1.1. Beneficiamento de Resíduos ................................................................ 90

6.4.2. Recursos Hídricos .................................................................................... 91

6.4.2.1. Usina e Recicladora de Concreto ......................................................... 91

6.4.3. Consumo de Energia Elétrica ................................................................... 93

6.4.4. Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) .............................................. 93

6.4.5. Cadeia de Suprimentos ............................................................................ 93

6.4.5.1. Capacitação de Mão de Obra ............................................................... 93

6.4.6. Educação Ambiental ................................................................................ 94

7. Considerações Finais ..................................................................................... 95

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Ferramenta para análise e priorização de ações práticas (fonte: Guia da

Sustentabilidade na Construção, 2008). ................................................................................. 54

Tabela 2: Classe do Empreendimento dentro do SLAM (fonte: Manual do Licenciamento

Ambiental) .................................................................................................................................. 63

Tabela 3: Aspectos e Impactos Ambientais - Incorporação e Administrativo Financeiro

(fonte: Autor, 2014) ................................................................................................................... 84

Tabela 4: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014) ................... 85

Tabela 5: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014) ................... 86

Tabela 6: Aspectos e Impactos Ambientais - Engenharia (fonte: Autor, 2014) ................... 87

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Impacto Ambiental (Simonetti, 2010) ................................................................ 21

Figura 2: Exemplo de Agentes de Poluição e Eventos (fonte: Moura apud Heuser, 2007)23

Figura 3: Exemplos de Impactos Ambientais (fonte: Moura apud Heuser, 2007) ............. 23

Figura 4: Representação Esquemática do estudo dos Aspectos e Impactos ambientais

(fonte: ARAÚJO, 2009) .................................................................................................... 28

Figura 5: Esquema de Fases do Ciclo de Vida dos principais produtos da Construção Civil

(fonte: Soares, 2002) ....................................................................................................... 38

Figura 6: Representação Esquemática da ACV (fonte: SOARES et al. Contrução e Meio

Ambiente) ........................................................................................................................ 39

Figura 7: Fases da ACV (Fonte: Chehebe, 1998). ........................................................... 41

Figura 8: Diferentes Fases de um Empreendimento e a Ocorrência de Perda de Materiais

(fonte: SOUZA et al., 1998) .............................................................................................. 46

Figura 9: Características das Fases de um Empreendimento Comercial Tradicional (fonte:

Ceotto, 2006 apud Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008) ................................ 51

Figura 10: Tipo de Licença a ser requerida (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) 59

Figura 11: Modelo de Sistema de Gestão Ambiental (fonte: ABNT ISO 14001, 2004) ..... 71

Figura 12: Matriz de Correlação "A x I" (fonte: ARAÚJO, 2009) ....................................... 79

Figura 13: Localização do Bairro Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) .................. 81

Figura 14: Lotes e Tipologias das Edificações - 1ª Fase Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha

Pura, 2012) ...................................................................................................................... 81

Figura 15: Temas para Desenvolvimento de Projetos (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) .. 82

Figura 16: Previsão de Geraçao de Resíduos Sólidos da Vila dos Atletas (fonte: Relatório

Ilha Pura, 2012) ............................................................................................................... 90

Figura 17: Recicladora de Concreto (fonte: Arquivos Ilha Pura, 2014) ............................. 92

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Exemplo de Aspectos e Impactos Ambientais (Moura apud Heuser, 2007)..... 22

Quadro 2:Caracterização dos aspectos/impactos em virtude da situação operacional

(fonte: Seiffert apud Heuser, 2007) .................................................................................. 26

Quadro 3: Classificação do Impacto Ambiental (fonte: HEUSER, 2007) .......................... 26

Quadro 4: Fases e Etapas do Empreendimento (fonte:Do Nascimento, Edna Almeida) .. 45

Quadro 5: Impactos Ambientais na fase de construção (fonte: Cardoso, 2006) ............... 49

Quadro 6: Principais Documentos Exigidos no Licenciamento Ambiental (fonte: Manual do

Licenciamento Ambiental) ................................................................................................ 63

Quadro 7: Exigências Ambientais - FEEMA (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) 65

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1. Introdução

1.1. Importância do Tema

Muitas mudanças vêm ocorrendo no ambiente de negócios. As exigências da

sociedade, de órgãos ambientais e do governo fazem com que as empresas se

preocupem não apenas com seu resultado econômico, mas também devam incluir

considerações de caráter social e político em suas tomada de decisões

(TACHIZAWA,2005). As empresas não são mais vistas como instituições econômicas

preocupadas apenas com o que e quanto produzir. Hoje, são vistas como instituição

sociopolíticas onde as preocupações com os direitos dos consumidores, a proteção

ambiental e a qualidade dos produtos são relevantes e afetam o ambiente de negócios.

No âmbito da construção civil, desde a antiguidade nota-se que ela sempre existiu

para atender às necessidades básicas do ser humano, inicialmente sem preocupação

com as técnicas adotadas e seus impactos ao meio ambiente, visando apenas proteção e

atingir seus objetivos de forma imediata (CORRÊA, 2009). Atualmente este cenário não é

mais o mesmo; É verdade que a construção civil vivenciou décadas de dificuldades e

baixo crescimento, resultado da conjuntura econômica adversa e da falta de incentivo

para suas atividades, porém atualmente encontra-se em um novo e importante ciclo de

desenvolvimento, contribuindo para o crescimento da economia nacional. O setor de

construção ocupa posição de destaque, sendo responsável por uma parcela bastante

significativa no Produto Interno Bruto (PIB), além de gerar grande contingente de mão de

obra direta (CONSTRUBUSINESS, 2003). Devido a tamanha influência da indústria da

construção civil no desenvolvimento econômico e social do país, os impactos gerados por

ela vem ganhando cada vez mais importância. Ao se tratar da participação do setor no

quesito meio ambiente, no Brasil, a dificuldade de preservá-lo pode ser ainda agravada

pelos grandes desafios que a indústria da construção deve enfrentar em termos de défict

habitacional e infraestrutura para transporte, comunicação, abastecimento de água,

energia, saneamento, atividades comerciais e industriais (DEGANI, 2003).

Embora diversas indústrias tenham problemas semelhantes, a ineficiência em alguns

processos produtivos e principalmente o seu tamanho fazem com que o setor da

construção civil seja considerado um grande vilão para o meio ambiente. A construção

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16

civil é responsável por vários reflexos ao local onde se instala a obra, causados por suas

atividades, direta ou indiretamente.

A partir daí, surge a ideia das construções sustentáveis, que devem ser concebidas e

planejadas a partir de várias premissas, dentre elas a escolha de materiais

ambientalmente corretos, de origem certificadas e com baixa emissão de CO2; a menor

geração de resíduos durante a fase de obra e o cumprimento das normas de desempenho

(CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Guia de Sustentabilidade na Construção.

Belo Horizonte: FIEMG, 2008. 60p.).

O impacto causado pelo processo da indústria da construção civil envolve consumo

de recursos e cargas ambientais causadas principalmente pelo uso indiscriminado de

energia, geração e disposição inadequada de entulhos. Estes últimos são característicos

de um contexto cultural que insiste em desconhecer os impactos da sua disposição

clandestina e os benefícios de uma gestão adequada. O gerenciamento de resíduos

sólidos permite a minimização dos impactos causados, à montante, na exploração de

matérias-primas como areia e cascalho e à jusante, evitando a poluição de solos e de

lençóis freáticos, bem como danos à saúde e gastos públicos desnecessários

(BLUMENSCHEIN, 2004).

A identificação prévia de aspectos e avaliação dos impactos ambientais associados a

determinado empreendimento permite que estudos sejam realizados para adotar medidas

que atenuem tais impactos ou até mesmo elimine-os, reduzindo futuros danos ambientais

e, consequentemente, os custos envolvidos na sua remediação ou correção.

1.2. Objetivo

O trabalho em questão tem como objetivo principal analisar os aspectos e

impactos ambientais produzidos pelas obras de construção da 1ª Fase do Bairro Ilha

Pura, no Rio de Janeiro, empreendimento destinado a acolher os Atletas dos Jogos

Olímpicos de 2016, e consequentemente as boas práticas de controle implementadas,

incorporando conceitos de eficiência no uso de recursos e mitigação dos impactos

durante todas as fases da construção.

As diretrizes utilizadas e apresentadas adiante orientam o planejamento e o

desenvolvimento do produto visando consolidar um bairro que faz uso dos recursos

naturais de forma eficiente, aliando conscientização dos usuários à tecnologia, conforto e

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17

bem estar em respeito ao meio ambiente, atendimento às necessidades dos usuários

atuais e garantia do atendimento das necessidades dos usuários das próximas gerações.

Para a identificação dos aspectos e avaliação dos impactos ambientais associados

a determinado empreendimento deve-se procurar, inicialmente, selecionar todas as

atividades, produtos e serviços relacionados à atividade produtiva, de modo a separar o

maior número possível de impactos ambientais gerados, reais e potenciais, benéficos e

adversos, decorrentes de cada aspecto identificado, considerando, sempre, se são

significativos ou não (BACCI apud SANTOS e NETO, 2004).

O conhecimento e a divulgação dos aspectos ambientais de um empreendimento

atendem às expectativas de uma melhoria no desempenho ambiental (Aspectos

Ambientais de Pedreira em Área Urbana - Artigo, 2006). Depois de realizar diversos

estudos e, então, conhecendo-se, previamente, os problemas associados à implantação e

operação do empreendimento, por meio de instrumentos de avaliação de impacto e

planejamento ambientais, pode-se obter soluções para reduzir ou mitigar os impactos

ambientais gerados nas obras de construção de determinado empreendimento. O

presente trabalho analisará os aspectos ambientais presentes na implementação da 1ª

fase do Bairro Planejado Ilha Pura, também designada Vila dos Atletas, assim como as

medidas adotadas para redução dos impactos ambientais associados.

1.3. Justificativa

O bom desenvolvimento de uma empresa atualmente, dentre diversos fatores,

também está relacionado aos bons resultados na economia e no setor de

sustentabilidade, onde o crescimento é diretamente proporcional as ações de cuidado

com o meio ambiente. Atualmente, o investimento em meio ambiente é cada vez mais

indissociável da análise das viabilidades técnica e econômica, e as legislações e normas

direcionam o mercado neste sentido.

O novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes,

voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem

institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável.

(TACHIZAWA apud HEUSER, 2007).

Diante da complexidade encontrada na discussão de sustentabilidade urbana,

devido aos seus diversos enfoques e consequentemente pouco conhecimento a nível

nacional, releva-se a importância de um estudo aprofundado sobre as maneiras de mitigar

os impactos ambientais em obras de construção imobiliária de grande porte.

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18

1.4. Metodologia

Para a realização desta pesquisa, foi adotada uma metodolgia baseada na coleta

de dados relevantes ao tema do trabalho, incluindo buscas virtuais, para fundamentação

teórica.

Foram realizada visitas e entrevistas, além de coletas de dados, com responsáveis

pelo setor de sustentabilidade do empreendimento Vila dos Atletas. O empreendimento foi

escolhido para realização de um estudo de caso para os assuntos abordados no presente

trabalho. A identificação dos aspectos e impactos apresentados no estudo de caso foi

realizada com base nos dados disponibilizados pelas empresas. Duas renomadas

empresas do ramo da construção civil formam a então denominada Ilha Pura, planejada

em uma área de 870 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. A organização

responsável pelas obras de construção do empreendimento incorporou os conceitos e as

práticas alinhadas às diretrizes do desenvolvimento sustentável aos princípios

empresariais, e, portanto, o novo espaço urbano está sendo desenvolvido com o objetivo

de se tornar referência de bairro planejado ancorado nas premissas de sustentabilidade.

As conclusões e observações analisadas no estudo de caso são válidas apenas

para a empresa e o empreendimento em estudo, pois o sistema de gestão ambiental é

único para cada organização e os impactos ambientais dependem do meio em que estão

ocorrendo não perdendo de vista a diversidade e a função social do mesmo.

1.5. Estrutura da Monografia

O Capítulo 1 é dedicado à introdução do tema, seu objetivo, justificativa e

metodologia do trabalho a ser desenvolvido.

O Capítulo 2 é destinado a apresentar a Contextualização do tema abordado,

impactos ambientais.

O Capítulo 3 tem como foco a construção civil, as características da indústria e a

geração de impactos ambientais ao longo de todo o seu ciclo produtivo.

O Capítulo 4 aborda os requisitos de legislação nos ambitos federal, estadual e

municipal, com ênfase para o Rio de Janeiro, que sejam relacionados a aprovação de

empreendimentos da construção civil.

O Capítulo 5 descreve as boas práticas utilizadas na construção civil que reduzem

a geração de aspectos ambientais nas obras e consequentemente mitiguem os impactos

ambientais.

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Já o Capítulo 6 é destinado ao Estudo de Caso da obra da Vila dos Atletas, 1ª

Fase do Bairro Planejado Ilha Pura. Caracteriza-se a obra em estudo e descrevem-se as

medidas de controle implementadas para reduzir ou mitigar os impactos ambientais e os

resultados obtidos.

O Capítulo 7 é dedicado às considerações finais e sugestões para trabalhos

futuros.

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2. Impactos Ambientais

2.1. Contextualização: Aspectos e Impactos Ambientais

É natural que os impactos ambientais tenham surgido a partir da evolução

humana, desde que o homem começou a progredir em seu modo de vida, com o cultivo

de alimentos e a criação de animais, aumentando gradativamente os impactos gerados na

natureza, depois com a derrubada de árvores para construção de abrigo e obtenção de

lenha, tornando cada vez mais visíveis as alterações no meio ambiente. As alterações na

cadeia alimentar, mudanças climáticas e diminuição da biodiversidade foram

possivelmente alguns dos primeiros impactos ocasionados pela ação do homem. A

consequente criação das cidades e a crescente ampliação das áreas urbanas têm

contribuído para o crescimento de impactos ambientais negativos. As alterações geradas

ocorrem por inúmeras causas, muitas denominadas naturais e outras oriundas de

intervenções antropológicas, consideradas não naturais (MUCELIN E BELLINI, 2008).

A NBR ISO 14001/2004 define como aspecto ambiental o “elemento das

atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio

ambiente”, cuja significância é dada pelo seu poder de gerar um impacto ambiental

significativo, em intensidade ou frequência.

Já impacto ambiental pode ser definido como "qualquer modificação do meio

ambiente, adversa ou benéfica que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais

de uma organização".

Aspectos significativos são aqueles que têm ou podem ter impactos ambientais

significativos. Para um melhor entendimento do conceito, deve-se apresentar ainda

segundo a NBR ISO 14001/2004 a definição do meio ambiente como a "circunvizinhança

em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna,

seres humanos e suas inter-relações". Como exemplo de aspectos ambientais em um

produto ou processo, temos: consumo de matéria-prima e insumos de produção, consumo

de água e energia, descarte de resíduos sólidos, embalagem utilizada, emissão de

efluentes, etc. Depois de identificados os aspectos e impactos, serão propostos

procedimentos de maneira a auxiliar no controle e na definição de responsabilidades.

Segundo Simonetti (2010), impacto ambiental é a variação de um parâmetro no

ambiente, em função da ação humana. Ou seja, impacto ambiental é a diferença

incremental de um parâmetro ambiental entre a situação sem e com o projeto de

Engenharia. Esta situação é ilustrada na Figura 1.

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21

Figura 1: Impacto Ambiental (Simonetti, 2010)

Já os aspectos ambientais são as causas controláveis pela organização, por

exemplo, certos processos de produção ou produtos, enquanto os impactos ambientais

são os efeitos no meio ambiente causados isoladamente ou não, por exemplo, na forma

de poluição das águas ou existência de riscos. Os dois conceitos, aspectos e impactos

ambientais, estão assim em uma relação de causa e efeito (DYLLICK, 2000).

A organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os

aspectos ambientais que possam por ela ser controlados e sobre os quais se presume

que tenha influência, a fim de determinar aqueles que causem ou possam causar

impactos significativos sobre o meio ambiente. É importante assegurar que os aspectos

relacionados a esses impactos significativos sejam considerados na definição de seus

objetivos ambientais e deve manter essas informações atualizadas (BARBIERI apud

HEUSER, 2007).

Para a determinação dos aspectos ambientais, leva-se em consideração todas as

atividades e tarefas do processo produtivo, avaliando-se seus respectivos impactos

ambientais. Segundo a NBR ISO 14004/96, "a identificação dos aspectos ambientais é

um processo contínuo que determina o impacto (positivo ou negativo) passado, presente

e potencial das atividades de uma organização sobre o meio ambiente. Este processo

também inclui a identificação da potencial exposição legal, regulamentar e comercial que

pode afetar a organização. Pode, também, incluir a identificação dos impactos sobre a

saúde e segurança e a avaliação de risco ambiental”.

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No contexto deste requisito é importante compreender que a ABNT NBR ISO

14004/96 explicitamente prescreve que o processo de avaliação para determinar a

significância dos aspectos e impactos ambientais deve conter quatro etapas mínimas:

1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço

2. Identificação de aspectos ambientais

3. Identificação de impactos ambientais

4. Avaliação da importância dos impactos

No quadro 1 estão exemplificados possíveis aspectos e impactos oriundos de

algumas atividades comuns na implantação de empreendimentos de engenharia.

Quadro 1: Exemplo de Aspectos e Impactos Ambientais (Moura apud Heuser, 2007)

2.1.1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço

Segundo a NBR ISO 14004/96, "É recomendado que a atividade, produto ou

serviço selecionado seja grande o suficiente para que o exame tenha significado e

pequeno o suficiente para que seja adequadamente compreendido.”

2.1.2. Identificação de Aspectos Ambientais “Identificar o maior número possível de aspectos ambientais associados à

atividade, produto ou serviço selecionado” (ABNT NBR ISO 14004/96, p. 11).

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Segundo Moura apud Heuser (2007), um aspecto ambiental se caracteriza pela

associação de um agente de poluição com um dado evento ou causa do aspecto

ambiental (Figura 2). Dessa forma, Agente de Poluição + Evento = Aspecto Ambiental.

Figura 2: Exemplo de Agentes de Poluição e Eventos (fonte: Moura apud Heuser, 2007)

2.1.3. Identificação de Impactos Ambientais

Segundo a NBR ISO 14004/96, esta etapa consiste em identificar o maior número

possível de impactos ambientais reais e potenciais, positivos e negativos, associados a

cada aspecto identificado.

Segundo Moura apud Heuser (2007), um impacto ambiental pode ser

caracterizado pela associação de um aspecto ambiental com um dado evento causador

do impacto. Dessa forma, é obtida a designação do impacto ambiental (Figura 3). Aspecto

Ambiental + Evento (de Impacto) = Impacto Ambiental.

Figura 3: Exemplos de Impactos Ambientais (fonte: Moura apud Heuser, 2007)

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2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais

Segundo a NBR ISO 14004/96, uma vez definidos os impactos ambientais, é

necessário determinar sua importância ou significância. “A importância de cada impacto

ambiental identificado pode variar de uma organização para outra. A quantificação pode

auxiliar no julgamento."

A fim de categorizar os impactos e avaliar as ações prioritárias necessárias, é

sugerida uma classificação para os impactos ambientais.

2.1.5. Classificação de Impactos Ambientais

Maimon apud Cagnin (2000), entende que, a partir da detecção de todos os

aspectos ambientais decorrentes das atividades produtivas, deve-se escolher os mais

significativos. Esta escolha leva em consideração os impactos, riscos, severidade e

frequência.

É de se ressaltar que, nessa avaliação, pode ser importante levantar outros

agressores relevantes ao meio ambiente, na região onde a empresa sob exame está

localizada, com o objetivo de verificar os efeitos cumulativos das atividades locais e a

parcela que cabe à tal empresa, no impacto total. Esses dados podem levar a empresa a

atuar mais pesadamente na área externa do que internamente, a fim de obter resultados

mais adequados ao meio ambiente, inclusive a custos mais baixos.

A ISO 14004/1996 sugere que, ao se determinar a importância dos itens avaliados,

observe-se pelo menos o seguinte:

1. escala do impacto;

2. severidade do impacto;

3. probabilidade de ocorrência;

4. duração do impacto.

A escala do impacto refere-se ao tamanho da área atingida pelo impacto, ou seja,

seus limites em relação à organização. Outros termos similares encontrados nas

literaturas pesquisadas são: abrangência, extensão e alcance. A abrangência é uma

graduação ligada à extensão das consequências previstas e a duração de seus efeitos.

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Seus critérios são:

a) Grau 1: atribuído para problemas que se restringem a uma área limitada dentro

da empresa e têm seus efeitos eliminados, sem provocar sequelas, dentro de até 3

meses;

b) Grau 2: relaciona-se a problemas que não se limitam a uma única área dentro

da empresa e que sem provocar sequelas permanentes requerem entre três a seis meses

para terem seus efeitos eliminados;

c) Grau 3: atribuído a problemas que extrapolam os limites da empresa, ou que

causam sequelas permanentes ou, ainda, que requerem mais de seis meses para terem

seus efeitos eliminados. (SEIFFERT apud HEUSER, 2007).

Segundo Potrich et al., 2007, a gravidade do impacto causado ao meio ambiente é

classificada de acordo com o respectivo grau de severidade, podendo ser baixo, médio ou

alto. A severidade de um impacto considera a gravidade ou intensidade do impacto, avalia

temas como: quantidade, concentração, toxicidade, volatilidade, quantidades consumidas

nos casos de recursos naturais como água, lenha, energia, etc. (SANTOS e NETO, 2004).

a) Severidade Baixa: Abrangência local. Impacto ambiental: potencial de

magnitude desprezível. Degradação ambiental sem conseqüências para o negócio e para

a imagem da empresa, totalmente reversível com ações de controle.

b) Severidade Média: Abrangência regional. Impacto ambiental de média

magnitude capaz de alterar a qualidade ambiental. Degradação ambiental com

conseqüências para o negócio e à imagem da empresa, reversíveis com ações de

controle (ações mitigadoras).

c) Severidade Alta: Abrangência global. Impacto ambiental potencial de

grande magnitude. Degradação ambiental com consequências financeiras e de imagem

irreversíveis mesmo com ações de controle (ações mitigadoras).

Também define-se com qual frequência o impacto ocorre para cada aspecto

ambiental caracterizado, analisando-se as probabilidades ou as frequências de

ocorrência.

a) Frequência/Probabilidade Baixa: Também conhecida como frequência

remota. Existência de procedimentos, controles e gerenciamentos adequados dos

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aspectos ambientais. Reduzido número de aspectos ambientais associados ao impacto

em verificação de importância.

b) Frequência/Probabilidade Média: Também conhecida como frequência

provável. Ocorre mais de uma vez por mês. Existência de procedimentos, controles e

gerenciamentos inadequados dos aspectos ambientais. Número médio de aspectos

ambientais associados ao impacto em questão.

c) Frequência/Probabilidade Alta: Ocorre diariamente. Inexistência de

procedimentos, controles e gerenciamento dos aspectos ambientais. Elevado número de

aspectos ambientais associados aos impactos em verificação de importância.

As condições de operação podem, também, serem consideradas quando se

determina a significância dos aspectos/impactos. Seiffert apud Heuser (2007) caracteriza

os aspectos/impactos em virtude da situação operacional conforme o Quadro 2.

Quadro 2:Caracterização dos aspectos/impactos em virtude da situação operacional (fonte: Seiffert apud Heuser, 2007)

Por fim, a classificação do impacto ambiental é definida através do cruzamento

dos critérios de análise severidade e frequência/probabilidade, conforme Quadro 3,

fornecendo a categoria final no aspecto ambiental em análise.

Quadro 3: Classificação do Impacto Ambiental (fonte: HEUSER, 2007)

Frequência/Probabilidade ALTA MÉDIA BAIXA

ALTA Alta Significância Média Significância Média Significância

MÉDIA Média Significância Média Significância Média Significância

BAIXA Média Significância Baixa Significância Baixa Significância

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2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais

A priorização dos aspectos e impactos se faz necessária para que a organização

possa concentrar seus recursos naqueles que apresentam maior risco ao meio ambiente.

A primeira filtragem se dá pelo atendimento a legislação, fazendo-se necessário

cumprir todas as exigências. A segunda filtragem é realizada levando em consideração os

critérios de probabilidade ou frequência e gravidade, normalmente definidas pela

organização. Para cada aspecto significativo, a organização deve, como próxima etapa de

implantação da ISO 14001, implementar um plano de ação.

2.2. Os Impactos Ambientais na Visão da Legislação

Aglomerando o conhecimento necessário para a compreensão de impactos

ambientais, a Resolução CONAMA nº001 (23 de janeiro de 1986) define:

Art. 1. [...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou

energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

As diretrizes que um estudo de impactos ambientais deve seguir são definidas

pelo CONAMA e cabem a qualquer obra causadora de possível impacto ambiental

(SIMONETTI, 2010):

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão

estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes

adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área,

forem julgadas necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos.

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Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes

atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise

dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a

situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima [...];

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais [...];

c) o meio sócio-econômico[...];

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis

impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e

adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e

permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a

distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os

equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência

de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos

positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

Considera-se, portanto, os impactos ambientais como sendo as conseqüências

dos aspectos ambientais decorrentes das atividades desenvolvidas pelas empresas. As

atividades de construção civil geram aspectos ambientais, que por sua vez provocam

impactos ambientais, que atingem o meio ambiente (meios físico, biótico e antrópico)

alterando suas propriedades naturais (Figura 4).

Figura 4: Representação Esquemática do estudo dos Aspectos e Impactos ambientais (fonte: ARAÚJO, 2009)

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2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes

2.3.1. Aspectos Gerais das Ocorrências

Foram grupados sob esse título diversos desastres provocados pelo homem, que

afetaram e ainda afetam grandes áreas e complexos ecossistemas naturais. São

impactos cuja reversão é hoje, em alguns casos, impossível ou que envolva custos

elevadíssimos. Os grandes acidentes ambientais da história tiveram a importância de

despertar a humanidade para a urgência e relevância da questão ambiental. Os primeiro

relatos de acidentes ambientais foram os chamados Acidentes Radioativos. São

denominados acidentes radioativos todas as ocorrências provocadas pelo homem que

resultam em perdas de vida e/ou efeitos adversos sobre a saúde humana e os

ecossistemas, quando decorrentes de radiações ionizantes e de substâncias radioativas.

Os acidentes causados pela radioatividade trazem consigo dois grandes problemas que

carecem ainda de soluções satisfatórias: a destinação definitiva dos rejeitos e a

descontaminação das áreas afetadas.

Na década de 50, o primeiro marco foi o acidente ambiental da cidade de

Minamata no sul do Japão. A indústria química Chisso se instalou às margens da baia de

Minamata em 1939 e por diversos anos despejou catalisadores esgotados nessa área,

liberando efluentes com alto teor de Mercúrio e sem o devido tratamento. Foram

constatadas altas concentrações de mercúrio em peixes e moradores da região, que

morreram devido a então conhecida "Doença de Minamata", cujos reflexos se estenderam

por muitos anos. Segundo Michel Llory (2013), o desastre sanitário de Minamata fez entre

30 e 40 mil mortos, se tornando o mais grave desastre sanitário devido à química e muito

provavelmente o mais grave acidente de toda a indústria.

Desastres similares foram observados em outros locais no Japão, como Mitsui,

Niigata e Yokkaichi. Neste momento a humanidade desperta para a questão ambiental, se

formam os primeiro movimentos ambientalistas, e na década de 70 ocorrem as primeiras

iniciativas governamentais para proteção ambiental. Mais de 450 campanhas anti-

poluição foram lançadas no Japão até 1971. Vazamentos não previstos de materiais

radioativos, erros de operação, falta de treinamento adequado e de experiência prévia por

parte das equipes envolvidas nesses acidentes são apenas algumas causas identificadas

para ocorrências desses primeiros desastres (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

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30

Em 26 de abril de 1986, na atual República da Ucrânia, um dos quatro reatores da

usina nuclear de Chernobyl explode devido a uma falha no resfriamento, causando

intensa contaminação radioativa em toda região, com efeitos em diversos países vizinhos.

O acidente de Chernobyl ocorreu por falta de comunicação e de coordenação entre

operadores e não por falha nos sistemas de comando. Desconsiderando diversos

procedimentos de segurança obrigatórios, os operadores resolveram testar por quanto

tempo o reator poderir operar sem produzir potência. O reator não respondeu ao teste e

fugiu inteiramente ao controle dos operadores (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

Ocultado, inicialmente, pelas autoridades do país, o acidente só foi detectado a

quilômetros de distância, na Suécia. As autoridades soviéticas informaram a ocorrência

oficial de 31 mortes devido ao acidente e a necessidade de evacuação de mais de 100 mil

habitantes das regiões vizinhas, apesar da evacuação, centenas de pessoas foram

contaminadas o que ocasionou muitas outras mortes. O número de casos de câncer na

tiróide em crianças desta região aumenta desde então. Ainda hoje, os níveis de radiação

em Chernobyl são 10 vezes maiores que o suportado pelo organismo humano.

No Brasil, um dos acidentes mais catastróficos foi o do acidente com o Césio-137,

em Goiânia, causado pela atividade humana, ou ao contrário, pela sua não-atividade ou

negligência . No dia 13 de Setembro de 1987, duas pessoas retiraram uma fonte de

Césio-137 do prédio abandonado do Instituto Goiano de Radioterapia, na região central

de Goiânia e, com o auxílio de várias ferramentas, conseguiram romper o invólucro de

chumbo, expondo o material radioativo ao meio ambiente. A fonte era de cloreto de césio,

um sal muito parecido com o potássio, podendo ser concentrado em animais e plantas

(GRASSI E FERRARI, 2009).

Pesquisadores alertavam para o fato de que a exposição a doses de radiação

promoveria alterações genéticas a médio e longo prazo, muitas delas transmissíveis às

gerações seguintes (BITTENCOURT, 2007). A segunda geração de crianças e

adolescentes hoje busca espaço e inserção social e tenta – apesar do eterno medo de

doenças causadas pela radiação, da perda de familiares dizimados pela contaminação,

da discriminação e da marginalização a que foram legados pelo Estado (no claro

descumprimento do compromisso firmado de assistência) – estabilizar suas vidas,

trabalhar, se sustentar e constituir família.

Também no Brasil, a partir de 1997, uma série de acidentes industriais ampliados

foi observada no curso das atividades da Petrobrás, grande empresa estatal brasileira do

setor de petróleo. De vazamentos de óleo a explosões em plataformas marítimas, esses

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31

episódios foram vistos, ao mesmo tempo, como acidentes de trabalho e catástrofes

ambientais.

No início da década de 50 foi elaborado o projeto original da refinaria do sistema

Petrobrás, a REDUC (Refinaria Duque de Caxias), inaugurada então em setembro de

1961. Nessa época, as técnicas de análise de confiabilidade e de risco não se

encontravam desenvolvidas para aplicação em projetos desse tipo. Toda a concepção

básica do projeto da refinaria foi desenvolvida, portanto, sem os estudos básicos

necessários ao planejamento do controle/mitigação de acidentes.

Em 1987 foi assinado um termo de compromisso entre a Petrobrás e o Governo do

Estado com 27 itens de controle ambiental. A assinatura do termo exprime bem a

consciência que a própria empresa desenvolveu sobre o risco de suas atividades: dentre

os 27 itens a serem submetidos ao controle ambiental foram listados: “redução dos gases

nas tochas”, “redução de óxidos de enxofre”, “tratamento biológico de efluentes”, “redução

da carga de óleo”, dentre muitos outros, estimados em mais de 85 milhões de dólares,

mas o órgão de controle ambiental não fiscalizou de forma efetiva se esses investimentos

contribuíram para reverter o quadro de risco assumido pela empresa. Não houve um

balanço periódico entre empresa, sociedade e órgão de controle ambiental, do que foi

efetivamente realizado, do que foi sendo gasto ou dos impactos e melhorias resultantes

para o meio ambiente. Em 1992 foi realizado ainda um convênio com a COPPE/UFRJ

para auxílio técnico de análises e prevenção de riscos e ainda para atuação em casos de

acidentes.

Apesar de demonstrar tamanha preocupação e interesse com os riscos de suas

atividades, poucos anos depois, em janeiro de 2000 ocorreu o grande derramamento de

1,3 milhões de litros de óleo combustível na Baía de Guanabara. Um vazamento de óleo

no duto PE-II, um dos nove dutos que interligam a REDUC ao terminal da Ilha d’Água foi

causado devido ao rompimento do duto.Segundo a Petrobrás, o duto havia sido

inspecionado em 1998, em razão de um acidente nele ocorrido em 1997. Manguezais

foram atingidos, e a atividade pesqueira na Baía de Guanabara teve de ser interrompida.

Ainda que a empresa não estivesse em dia com suas obrigações para com a regulação

ambiental, não se cogitou fechá-la, já que REDUC representa alta fonte de recursos para

o Estado. A solução encontrada foi a assinatura de um acordo de adequação de

comportamento, em que a REDUC se comprometeu a adequar-se às leis ambientais

vigentes (ACSELRAD e MELLO, 2002).

A conscientização da sociedade para as questões ambientais tem sido

despertadas pela ocorrência de grandes desastres ecológicos que deixaram marcas,

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32

muitas ainda visíveis e até permanentes em ecossistemas em todo o mundo. A cada

desastre noticiado, tem correspondido lições e processos de aprendizado, que, quando

absorvidos, podem evitar sua repetição no futuro. A importância do treinamento de

operadores de uma instalação, a identificação mais rigorosa dos aspectos ambientais da

organização e criação de algumas ferramentas como as análises de risco, estudo de

impactos ambientais e planos de emergência são os maiores aprendizados obtidos

dessas ocorrências catastróficas (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

2.3.2. Acidentes de Transporte

O transporte de pessoas e mercadorias é a causa de muitos acidentes cujos

impactos ambientais se tornam relevantes muitas vezes em razão do tipo de carga

transportada, do local de ocorrência e de circunstâncias que podem agravar as

consequências desses acidentes.

O volume sempre crescente de mercadorias, muitas delas com características

perigosas, e pessoas transportadas em terra, no mar e no ar é um fator que acarreta o

aumento expressivo de acidentes que impactam o meio ambiente (CYRO EYER DO

VALLE, 2009).

2.3.2.1. Acidentes de Transporte em Terra

Os acidentes de transporte em terra são bastante frequentes e a gravidade de

suas consequências depende dos materiais e produtos transportados. Ao se tratar de

transporte rodoviário, a qualidade do traçado das estradas e o estado de conservação do

leito, além das falhas humanas e da manutenção precárias de muitos veículos circulantes

são as principais causas dos acidentes rodoviários.

Uma forma de impacto grave para as pessoas envolvidas em acidentes

rodoviários, é quando este ocorre dentro de túneis, por exemplo. Há o risco de intoxicação

devido ao bloqueamento de veículos em seu interior, liberando fumaça de combustíveis,

inflamáveis e produtos tóxicos. Outra forma de impacto, e desta vez ao meio ambiente, se

dá pelo derramamento de cargas tóxicas em rios e corpos d'água nas margens das

estradas, principalmente quando o acidente ocorre em pontes e viadutos (CYRO EYER

DO VALLE, 2009).

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33

Acidentes ferroviários também podem causar desastres ambientais, principalmente

devido às cargas transportadas, que muitas vezes incluem produtos químicos e materiais

inflamáveis contaminando a área em que o acidente ocorreu.

Um acidente em terra, seja de origem ferroviária ou rodoviária requer rapidez na

comunicação da ocorrência, para que as medidas de mitigação de seus efeitos sejam

tomadas no mais curto prazo de tempo, possibilitando, assim, que a extensão do desastre

e os impactos associados sejam controlados da melhor maneira possível.

2.3.2.2. Acidentes de Transporte no Mar

Enquanto acidentes em terra impactam mais em seu ocorrência, os acidentes

marítimos podem ter seus impactos propagados atingindo áreas bem mais vastas e de

difícil delimitação preventiva. Com o advento da Revolução Industrial e as novas rotas

comerciais dos grandes impérios coloniais, o uso da navegação foi ampliado. Minérios,

carvão e produtos químicos começaram então a afetar o meio ambiente e volumes

crescentes de cargas e produtos industrializados criaram as condições para a ocorrência

de acidentes marítimos. Apesar disso, somente com a entrada de combustíveis líquidos,

como o petróleo e seus derivados, que os acidentes marítimos assumiram maiores

proporções. Os portos de regiões industriais tornaram-se focos de poluição das águas e

por consequência, de todo o litoral.

Embora a ocorrência de acidentes esteja sempre associada ao derramamento de

petróleo no mar, deve-se considerar acidente ambiental qualquer acidente marítimo, na

medida em que as cargas transportadas sempre terão impacto sob a qualidade das águas

e a fauna local. Criar normas, regras e leis que possibilitem minimizar as probabilidades

de ocorrência de acidentes, conscientizar, educar e treinar para a segurança todas as

partes envolvidas, exercer rigoroso controle de qualidade, bem como desenvolver e

aplicar técnicas construtivas que tornem as embarcações mais seguras e confiáveis são

algumas das soluções propostas para reduzir a ocorrência de falhas e acidentes

ambientais de transporte marítimo (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

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34

2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo

Os acidentes aéreos, apesar dos danos irreparáveis causados pela perda de vidas

humanas, normalmente não são avaliados pelo seu impacto ambiental, mas os efeitos

provocados pela queda de uma aeronave em área ocupada pode ser bastante relevante

no quesito meio ambiente. Além dos destroços do próprio avião, muitas vezes o

transporte de bagagem pessoal ou de pequenas encomendas podem dar origem a

incidentes que conduzem a acidentes com graves impactos no meio ambiente. O desastre

é ainda maior quando o acidente ocorre em aviões de carga, por nesses casos o

transporte de materiais explosivos e produtos químicos são permitidos, o que ocasionaria

danos muito maiores ao ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

2.3.3. Megacidades - Acidentes Urbanos

Em Junho de 1996 dois eventos internacionais chamaram atenção dos que se

preocupam com o meio ambiente. Em Istambul, na Turquia, a Conferência Mundial das

Cidades, a Habitat 2, organizada pelas Nações Unidas reuniu milhares de especialistas

em busca de soluções para o assustador crescimento das populações citadinas e a

consequente degradação do meio ambiente em todo o planeta. Alguns dias depois, no

Rio de Janeiro, especialistas elaboravam as primeiras normas da ISO 14000, com as

quais se pretende sistematizar as ações das empresas em prol da conservação do meio

ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009).

No Habitat 2 as conclusões foram sombrias, constatando o descontrole do

crescimento urbano principalmente nos países em desenvolvimento, com todas

consequências sociais, políticas, econômicas e ambientais que isso acarreta. Jã no Rio

de Janeiro, comemorava-se resultados palpáveis de um esforço racional e objetivo

originado em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a Rio 92.

Segundo Cyro Eyer do Valle, foram obtidas algumas constatações interessantes

sobre os resultados dos eventos. Do lado da produção, à montante, a poluição tendia a

ser controlada na própria fonte geradora. Ecoeficiência, prevenção da poluição e

tecnologias limpas são expressões que se incorporam ao vocabulário dos responsáveis

pela produção de bens e serviços, reduzindo, na origem, a pressão exercida pelas

atividades econômicas sobre o meio ambiente.

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35

Por outro lado, à jusante da cadeia de produção, mal se consegue reduzir a

pressão exercida por volumes crescentes de resíduos e os locais utilizados para sua

disposição. Constituindo-se, portanto, de um grande foco de degradação ambiental, as

megacidades contribuem para modificação do clima em suas microrregiões e provocam

alterações profundas em suas zonas de influências. Grandes áreas urbanizadas,

especialmente cidades de grande porte, com cenário de crescimento descontrolado e

serviços públicos saturados e deficitários levam a predisposição à ocorrências de

acidentes que podem atingir proporções de difícil controle, resultando em grandes

impactos ambientais.

Alguns Impactos Ambientais causados por estas cidades em crescimento

costumam fugir do controle de seus administradores e transformam-se em problemas de

difícil reversão, como por exemplo:

1. Desmatamento das áreas ocupadas;

2. Contaminação dos corpos d'água por esgotos sanitários e industriais;

3. Contaminação do ar por emissão veicular e por emissões industriais;

4. Contaminação do solo por aterro de resíduos sólidos mal dispostos;

5. Alterações na temperatura ambiente motivadas pelo acúmulo de calor

absorvido por estruturas prediais e áreas pavimentadas, formando as "Ilhas de

Calor";

6. Poluição sonora

A contaminação de solos em áreas urbanizadas tem sido motivo de diversos

acidentes dos quais resultaram perdas de vida e grandes prejuízos materiais. Tragédia

desse tipo ocorreu em Niterói, RJ, em 2010, quando todo um bairro, construído sobre um

lixão abandonado numa área de encosta na periferia da cidade, deslizou morro abaixo,

causando centenas de mortes. Como o lixo doméstico de populações de baixa renda

costuma conter grande parte de matéria orgânica, a formação de gás é mais intensa em

lixões de periferia, resultando maior risco de incêndio e explosões (CYRO EYER DO

VALLE, 2009).

Ainda segundo Cyro Eyer do Valle, outro tipo de acidente ambiental que tem

acontecido em números crescentes são as inundações em grandes centros urbanos.

Além da eventual influência das mudanças climáticas, as inundações podem ter grande

participação do homem, que dificulta o escoamento das águas devido a tamanha

impermeabilização do solo urbano. As pavimentações e eliminação de áreas verdes

Page 36: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

36

impedem a absorção das águas pluviais diretamente pelo solo, aumentando assim o

volume a ser escoado pela superfície. Outros fatores que contribuem para o acúmulo da

água nos solos são as alterações nos cursos d'água e obstrução das redes de águas

pluviais pelo lixo mal disposto. Como consequência desses fatos temos as conhecidas

enchentes, que propagam doenças, o desabamentos de imóveis e diversas perdas de

patrimônios.

Os acidentes urbanos, devido à extensão dos impactos que podem causar,

requerem uma análise cuidadosa de suas causas para que sejam desenvolvidas soluções

que incorporem a prontidão da população e o treinamento de todas as entidades

participantes. A articulação de todos os organismos e setores da sociedade responsáveis

pela conscientização da população para os riscos de acidentes, incluindo-se a mídia,

escolas, centros comunitários, corpo de bombeiros, polícia civil e todos capazes de fazer

frente a uma ocorrência acidental, é de extrema importância para prevenção de acidentes

urbanos. A educação ambiental da população é outra solução preventiva para os

acidentes, já que esta seria capaz de identificar e notificar situações de risco, incluindo-se

conhecimentos sobre materiais perigosos e práticas inadequadas, como fumar em áreas

perigosas, entre outros.

Page 37: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

37

3. Impactos Ambientais na Construção Civil

A Cadeia Produtiva da Construção Civil engloba a indústria da construção,

indústria de materiais, serviços, comércio de materiais de construção, outros

fornecedores, máquinas e equipamentos para construção. Dentro do setor industrial, a

cadeia produtiva da construção civil representa 8% das emissões do Brasil, valor

estimado gerado pelos fornecedores de materiais utilizados na construção, tais como na

produção de cimento e de aço, no transporte, e, por último, na extração madeireira

(MCKINSEY apud CAMPOS, 2012).

A avaliação e necessária minimização do impacto sobre o meio ambiente

causados por todos os tipos de ações está adquirindo cada vez maior importância, face a

evidente limitação dos recursos disponíveis, da importância de preservar o ambiente

natural e da necessidade de se ter um desenvolvimento sustentável. Diante desde

importância, o setor da construção civil tem como estimativa futura a responsabilidade de

reduzir para 1% as emissões totais de GEE até 2030 junto à área de edificações. O setor

de cimento é o que tem perspectivas de maior crescimento de emissões de tais gases até

2030, e o de edificações é o que apresenta potencial limitado de abatimento dos mesmos.

(MCKINSEY apud CAMPOS, 2012).

A indústria da construção civil exerce impacto significativo sobre a economia de

uma nação e, portanto, pequenas alterações nas diversas fases do processo construtivo

podem promover mudanças importantes na eficiência ambiental, além da redução dos

gastos operacionais de uma obra. Nesse mercado de competitividade crescente e

submetido a instrumentos de comando de controle, pautado por legislação e normas e de

melhoria contínua, a escolha de materiais de construção representa um importante campo

da engenharia ambientalmente responsável. Existem hoje várias ferramentas que podem

auxiliar as empresas a alcançarem seus objetivos em relação ao meio ambiente: auditoria

ambiental, avaliação do ciclo de vida, estudos de impactos ambientais, sistemas de

gestão ambiental, relatórios ambientais, gerenciamento de riscos ambientais, etc. Alguns

são específicos, outros podem ser aplicados em qualquer empresa, como os sistemas de

gestão ambiental (BARBIERI apud HEUSER, 2007).

Nesse contexto, a avaliação do ciclo de vida (ACV) se destaca, atualmente, como

ferramenta de excelencia para análise e escolha de alternativas, sob uma perspectiva

puramente ambiental. O seu principio consiste em analisar repercussões ambientais de

um produto ou atividade, a partir de um inventário de entradas e saídas (matérias-primas

e energia, produto, subproduto e resíduos) do sistema considerado. As fronteiras de

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38

análise devem considerar todas as etapas do ciclo de vida do empreendimento, desde a

extração de matérias-primas, transporte, fabricação, até o uso e descarte de resíduos,

conforme ilustrado na Figura 5. Esse procedimento permite uma avaliação científica da

situação , além de facilitar a localização de eventuais mudanças associadas às diferentes

etapas do ciclo que resultem em melhorias no seu perfil ambiental. (SOARES et al.

Construção e Meio Ambiente).

Figura 5: Esquema de Fases do Ciclo de Vida dos principais produtos da Construção Civil (fonte: Soares, 2002)

3.1. Princípios da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)

Todo produto, de alguma forma, causa no meio ambiente um impacto que pode

ocorrer tanto durante a extração das matérias-primas utilizadas no processo de fabricação

quanto no próprio processo produtivo; ou na sua distribuição; ou, ainda, no seu uso; ou,

também, na sua disposição final (CAMPOS, 2012).

A ACV surgiu da necessidade de se estabelecer uma metodologia que facilitasse a

análise e os impactos ambientais entre as atividades de uma empresa, incluindo seus

produtos e processos. A partir dessa metodologia pode-se verificar que a prevenção à

poluição se torna mais racional, econômica e efetiva do que uma ação na direção dos

efeitos gerados. Um dos objetivos da ACV é estabelecer uma sistemática confiável e que

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39

possa ser reproduzida a fim de possibilitar a decisão entre várias atividades, aquela que

terá menor impacto ambiental (HINZ et al., 2006).

A ACV consiste na análise e na comparação dos impactos ambientais causados

por diferentes sistemas que apresentam funções similares. Sob a ótica ambiental, ela

estabelece inventários completos do fluxo de matérias e energia para cada sistema e

permite a comparação desses balanços entre si, sob a forma de impactos ambientais

(Figura 6) (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).

Figura 6: Representação Esquemática da ACV (fonte: SOARES et al. Contrução e Meio Ambiente)

A metodologia para avaliação do ciclo de vida sugerida pela norma ISO 14004

inclui quatro fases: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de

impactos e interpretação de resultados.

3.1.1. Definição de Objetivo e Escopo

A primeira etapa de uma ACV consiste em delimitar o objetivo do estudo e as

fronteiras do sistema. No caso da indústria da construção civil, o conhecimento das

diversas etapas do ciclo de vida da construção podem auxiliar na delimitação do sistema.

Podem ser citados os processos de transformação de energia e materiais: a produção de

matérias-primas; a fase construtiva propriamente dita, incluindo desde o transporte de

material até o acabamento final da estrutura; a fase de uso, delimitando os domínios

públicos ou privados; e as fases de inutilização, renovação ou demolição, decorrentes de

inadequações ao uso ou de limitações impostas pelo tempo de vida útil da construção

(EUROPEAN COMMISSION, 1997, apud SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).

Page 40: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

40

A dependência dos resultados com as hipóteses de partida faz com que esta fase

adquira uma notável importância (CARDIM et al., 1997).

3.1.2. Análise de Inventário

A segunda etapa da ACV consiste no estabelecimento do inventário, ferramenta

indispensável para a avaliação quantitativa dos impactos ambientais. O inventário deve

ser previamente estabelecido para assegurar que o fluxo de entrada de matéria encontre

uma saída quantificada como unidade funcional, rejeito e subprodutos. A descrição desse

fluxo permite colocar em evidência certos fatores de alterações ambientais, como por

exemplo o consumo de recursos naturais, a geração de resíduos e outras emissões

(SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).

3.1.3. Avaliação de Impactos

Após a identificação do inventário, surge a avaliação dos impactos ambientais,

procedimentos que visa agregar os fatores de impacto em categorias de impacto, de

modo a permitir um estudo comparativo das diferentes opções apresentadas.

O impacto ambiental da construção civil e de seus respectivos processos

construtivos pode ser inicialmente avaliado com base na análise de inventários. Esses

apresentam uma visão detalhada dos fluxos de entrada e saídas de materiais, energia e

outras substâncias geradas ou utilizadas durante os processos de concepção, utilização e

até mesmo demolição da obra. As informações contidas no inventário são associadas a

diferentes categorias de impacto, buscando-se o entendimento das consequências

ambientais e econômicas envolvidas no processo A próxima etapa de elaboração de uma

ACV consiste na definição de uma base de comparação, constituída pelos critérios

citados anteriormente, formando um modelo para agregá-los convenientemente (SOARES

et al. Construção e Meio Ambiente).

3.1.4. Interpretação de Resultados

Por fim, se faz necessário estudos de sensibilidade e de incerteza de dados. A

confiabilidade do resultado depende dos valores atribuídos aos parâmetros. A análise de

Page 41: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

41

sensibilidade estuda a influência das variações dos dados de entrada, que podem

promover alterações no resultado (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).

Nesta etapa, que como a anterior está pouco normalizada, analisam-se os

resultados, conclusões são estabelecidas, e determinam-se, como aspecto fundamental,

as possíveis melhoras no sistema considerado. Isto tem especial relevância no caso de

analisar atividades, processos ou materiais específicos para otimiza-los. Ainda que no

caso seja o objetivo uma comparação entre alternativas (CARDIM et al., 1997).

As quatro fases da ACV são resumidas e caracterizadas na Figura 7.

Figura 7: Fases da ACV (Fonte: Chehebe, 1998).

3.1.5. ACV na Construção Civil

Ortiz et al (2009) afirmam que a ACV vem sendo utilizada na construção civil

desde 1990, tornando-se, desde então, um importante instrumento para a avaliação de

edifícios, e várias ferramentas de ACV foram desenvolvidas a partir daquela época. Na

indústria da construção existem duas aplicações para a ACV − uma focada nos materiais

de construção e suas combinações e outra focada em todo o processo da construção.

Na edificação, a ACV é um processo de quantificação de análise de uma unidade

funcional. A aplicação da ACV para a edificação tem, portanto, como objetivos, avaliar

aspectos culturais de consumo tanto na fase de construção quanto na fase de utilização;

Page 42: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

42

promover alternativas de melhor desempenho e desenvolver tecnologias para utilização

de energias renováveis, ao passo que a ACV para materiais tem sido aplicada para

analisar, comparar e promover produtos e contribuir positivamente para melhorar as

decisões ambientais sobre um determinado produto (CAMPOS, 2012).

Devido a sua ampla possibilidade de aplicação, a elaboração de um estudo de

ACV permite aos pesquisadores:

1. Desenvolver uma sistemática avaliação das consequências ambientais

associadas com um dado produto;

2. Analisar os balanços (ganhos/perdas) ambientais associados com um ou

mais produtos/processos específicos de modo a que os visados (estado,

comunidade, etc.) aceitem uma ação planejada;

3. Quantificar as descargas ambientais para o ar, água, e solo relativamente a

cada estágio do ciclo de vida e/ou processos que mais contribuem;

4. Assistir na identificação de significantes trocas de impactos ambientais

entre estágios de ciclo de vida e o meio ambiental;

5. Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de materiais e

descargas ambientais para a comunidade local, região e o mundo;

6. Comparar os impactos ecológicos e na saúde humana entre dois ou mais

produtos/processos rivais ou identificar os impactes de um produto ou

processo específico;

7. Identificar impactos em uma ou mais áreas ambientais específicas de

interesse (DA LUZ, 2010).

Entretanto, é necessário ressaltar que o desenvolvimento de estudos de ACV em

edificações requer algumas alterações devido às diferenças apresentadas com relação ao

ciclo de vida de produtos industriais, que envolvem, normalmente, um curto espaço de

tempo. Obras de engenharia, no entanto, são, em geral, caracterizadas por uma vida útil

que se estende por alguns anos. A complexidade da análise de edificações consiste não

somente na adaptação da análise para este contexto temporal e estrutural, mas também

na estruturação das informações coletadas em parte, de forma que possam ser utilizadas

para várias ou somente uma única fase do ciclo de vida da edificação. O mesmo princípio

utilizado na escolha de um material pode ser utilizado na concepção de uma edificação

composta por vários materiais (CAMPOS, 2012).

Page 43: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

43

3.2. Construção e o Meio Ambiente

A relação entre a atividade construtora e o meio ambiente se analisa com

frequência através dos efeitos negativos sobre o mesmo, como consumo de recursos e

energia, contaminação, alteração do ecossistema, geração de resíduos, etc. A

construção, sem nenhuma consciência do tipo ambiental tem contribuído

significativamente para esta imagem negativa, que inclusive tem levado a população

muitas vezes a se opor a construção de novas infraestruturas.

Como resultado da construção, como qualquer outra atividade humana, pode-se

chegar a um entorno inabitável ou a extinção de outras espécimes vivas. Por isso, ainda

que a atividade humana seja necessária e parte do meio ambiente, é preciso definir

limites aceitáveis para ela. A Declaração do Rio (ONU 1992) estabelece, em conjunto com

os demais princípios, a necessidade de um compromisso entre a atividade humana e

seus efeitos, no contexto de um desenvolvimento sustentável e com respeito ao meio

ambiente (CARDIM et al., 1997).

Como já mencionado anteriormente, a indústria da construção civil é a atividade

humana mais impactante sobre o meio ambiente que habitamos. Todas as etapas de um

empreendimento - construção, uso, manutenção e demolição - são relevantes no que diz

respeito ao consumo de recursos e geração de resíduos. Por outro lado, certos aspectos

são característicos apenas em algumas etapas, por exemplo, as emissões de materiais

particulados, ruídos e vibrações, típicas durante a construção. Além dos impactos

ambientais, a indústria da construção civil é capaz de impactar economicamente e

socialmente, podendo funcionar como instrumento para melhoria da qualidade de vida da

sociedade como um todo (ARAÚJO, 2009).

3.3. Geração de Impactos ao longo do Ciclo Produtivo

As necessidades da gestão de processos, de melhorar os projetos, corrigir falhas

decorrentes nas obras, melhorar o atendimento aos clientes e conquistar uma fatia maior

do mercado são pontos unânimes hoje no setor da construção. Por outro lado, o

crescimento da indústria da construção civil, que depende muitas vezes de recursos da

natureza, como água potável, energia elétrica, matéria-prima, espaço para entulho,

combustível, e sua relação com o meio ambiente tem acarretado grandes prejuízos à

sociedade, como poluição do ar e redução de áreas verdes. Por exigência da sociedade,

as empresas foram obrigadas a perceber que, da mesma forma que trabalham com a

Page 44: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

44

gestão da qualidade para melhorar seus processos e obter melhores resultados com os

clientes, devem usar a mesma lógica para melhorar sua relação com o meio ambiente

(NASCIMENTO, 2012).

Todos os aspectos apresentados se manifestam em todas as fases do ciclo de

vida das edificações. Ciclo de vida é o conceito que trata de todas as etapas ligadas a um

produto, desde a extração de suas matérias-primas até sua disposição final. Segundo o

Guia da Sustentabilidade na Construção (2008), o ciclo de vida de edificações é

geralmente dividido em 5 fases principais:

1. Concepção

2. Planejamento/Projeto

3. Construção/Implantação

4. Uso/Ocupação

5. Requalificação/Desconstrução/Demolição

O edifício, produto da construção civil de edificações, gera aspectos ambientais

relevantes e, conseqüentemente, impactos, em todas as fases do seu ciclo de vida, desde

a concepção do produto e o planejamento, passando pela operação, construção e

finalmente o uso e possivelmente a demolição, o que evidencia a necessidade urgente de

se identificar no processo produtivo os diferentes impactos, atendendo aos requisitos

legais na área ambiental e adequando as medidas práticas para as atividades de

construção.

O impacto no meio ambiente proveniente da cadeia produtiva da indústria da

construção ocorre ao longo de todos os seus estágios e atividades: desde a ocupação de

terras; na extração de matéria-prima e no seu processamento e produção de elementos e

componentes; no transporte dessa matéria-prima e de seus componentes; no processo

construtivo e no produto final, ao longo de sua vida útil, até sua demolição e descarte. Ao

longo de toda esta cadeia, recursos naturais são explorados excessivamente, muitas

vezes de forma criminal, energia é consumida indiscriminadamente e resíduos são

gerados de forma excessiva e dispostos irregularmente (BLUMENSCHEIN, 2004).

Para a construção de edifícios tal fato ocorre principalmente pelo grande volume e

diversidade de materiais nela empregados. A necessidade de minimização dos impactos

ambientais gerados pelas edificações e a difusão dos conceitos de desenvolvimento

sustentável levaram o setor a buscar construções com melhor desempenho ambiental

(NASCIMENTO, 2012).

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45

Construção sustentável significa que os princípios do desenvolvimento sustentável

são aplicados ao ciclo de vida dos empreendimentos que fazem parte do ambiente

construído, desde a extração e beneficiamento da matéria prima, passando pelo

planejamento, projeto e construção das edificações e obras de infra-estrutura, até a sua

demolição e gerenciamento dos entulhos, em intensidades que variam segundo suas

especificidades (NASCIMENTO, 2012).

A construção de edificações, especialmente a vertical, é um setor da indústria da

construção civil que gera uma série de aspectos ambientais como: desperdício de

materiais; lançamento não monitorado; descarte de recurso renovável; impermeabilização

do solo; uso da via pública; supressão da vegetação; rebaixamento do lençol freático;

remoção de edificações; impermeabilização do solo; lançamento de fragmentos; emissão

de material particulado; consumo e desperdício de água; consumo e desperdício de

energia elétrica em todas as fases e etapas do ciclo de vida do empreendimento.

Segundo Nascimento, 2012, as fases e etapas de um empreendimento podem ser

descritas no Quadro 4.

Quadro 4: Fases e Etapas do Empreendimento (fonte:Do Nascimento, Edna Almeida)

Convém inicialmente notar que ao se tratar do consumo excessivo de materiais,

este pode ocorrer em diferentes indiscriminadamente em diversas fases do

empreendimento (Figura 8): concepção, execução ou utilização. Os demais e principais

impactos ambientais decorrentes das atividades da construção civil serão descritos diante

das fases do ciclo de vida da indústria.

FASES ETAPAS

Identificação da demandaSeleção de áreas

ProjetoTerraplanagem

Edificação e demais obrasBota – foraPaisagismo

Uso (Manutenção)Ampliação

OCUPAÇÃO

CONSTRUÇÃO

CONCEPÇÃO

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46

Figura 8: Diferentes Fases de um Empreendimento e a Ocorrência de Perda de Materiais (fonte: SOUZA et al., 1998)

3.3.1. Concepção, Planejamento e Projeto

A concepção e o planejamento de um edifício são a fase inicial do ciclo de vida de

um empreendimento. Nesta etapa são realizados estudos de sua viabilidade física,

econômica e financeira, além de estarem sendo elaborados os projetos e especificações

do empreendimento e ainda a programação do desenvolvimento das atividades

construtivas.

Nesta etapa, a coleta de informações referentes ao entorno e à área na qual o

empreedimento será implantado é a tarefa mais importante e deve ser relevada pelo

arquiteto. Partirão desses dados as especificações globais para a concepção do produto.

A região deverá ser investigada além das exigências e regulamentações, devendo ser

contempladas a existência de mananciais e lençois freáticos, a vegetação local, a fauna,

flora e a população nativa. É importante ressaltar que com uma taxa de ocupação do

terreno muito alta, se não forem pensadas soluções como a escolha de materiais porosos

para a pavimentação externa, pode-se, progressivamente, originar grandes áreas

impermeáveis. Estas áreas podem contribuir para aumentar o nível das enchentes e

impedir a alimentação do lençol freático (NASCIMENTO, 2012).

A fase de concepção engloba ainda a análise e avaliações de projetos

arquitetônico e complementares: estrutural, elétrico, hidrossanitário e preventivo de

incêndio, que podem induzir aspectos ambientais em todas as fases seguintes de uma

edificação, especialmente o arquitetônico. O planejamento e a integração dos projetos

são fundamentais para reduzir os problemas na fase de construção. Sabe-se, por

exemplo, que a correta utilização dos condicionantes físicos, climáticos e legais do terreno

Page 47: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

47

em questão pode propiciar a preservação do perfil do terreno e de vegetação nativa o

máximo possível, além da criação de áreas permeáveis maiores e a redução de

consumos e de resíduos.

Observa-se ainda a ligação entre o consumo excessivo de materiais e a fase de

concepção, no caso, por exemplo, de um projetista estrutural não explorar

adequadamente os limites que o conhecimento atual permite e superdimensionar a

estrutura de um edifício, gerando gastos excessivos de materiais (SOUZA et al., 1998). É

importante ressaltar que um dos principais impactos ambientais decorrentes da

construção civil diz respeito à extração de recursos naturais, que acarretam na escassez

e extinção de fontes e jazidas, além de alterações na flora e fauna do entorno destes

locais de exploração, sendo assim imprescindível o cuidado com o

superdimensionamento desnecessário nas etapas de projetos (DEGANI, 2003).

Portanto, na fase inicial da indústria da construção, é fundamental documentar a

importância da escolha dos materiais durante o planejamento e a elaboração dos

projetos. Desperdiçar materiais, seja na forma de resíduos ou sob qualquer outra

natureza, significa desperdiçar recursos naturais, portanto é preciso aumentar a

conscientização sobre a necessidade de se utilizar mais racionalmente os materiais nos

canteiros de obra. Embora seja muito importante destinar os resíduos adequadamente,

tornam-se imperativas ações que visem sua redução diretamente na fonte de geração, ou

seja, nos próprios canteiros de obras, que somados às ações de adequar a destinação

desses resíduos, podem contribuir significativamente para a redução do impacto da

atividade construtiva no meio ambiente (SOUZA et al., 2004).

3.3.2. Construção e Implantação

Segundo CARDOSO e ARAÚJO, 2007, a fase de construção, no ciclo de vida de

um edifício, responde por uma parcela significativa dos impactos causados pela

construção civil no ambiente, principalmente os consequentes às perdas de materiais e à

geração de resíduos e os referentes às interferências e poluição na vizinhança da obra e

nos meios físico, biótico e antrópico do local onde a construção é edificada. As perdas de

materiais, incorporadas ao edifício ou que aparecem sob a forma de resíduos ou entulhos

de obra, significam consumos desnecessários de recursos extraídos da natureza.

No que se refere à cadeia de produção de materiais de construção, três são as

principais fontes de emissões de GEE: o uso de combustível fóssil na fase de produção e

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48

transporte dos materiais, a decomposição do calcário e outros carbonetos durante a

calcinação (materiais cerâmicos, cimento, aço, vidro, alumínio e outros), e a extração de

madeira nativa (AGOPYAN apud CAMPOS, 2012).

Além disso, as obras causam outros impactos ambientais significativos, como

exposição a riscos e incômodos sonoros e visuais tanto para os que nela trabalham e

também para a vizinhança, que está constantemente exposta aos ruídos da obra, além

da poluição do solo, da água e do ar, impactos aos ecossistemas no local da obra,

acarretamento de erosões, assoreamentos, dentre muitos outros. Movimentação de terra

e escavações são atividades que devem ser minimizadas o máximo possível para reduzir

o incômodo da população no entorno e também os impactos no meio ambiente.

Quanto à perda de materiais no canteiro de obra, no caso da execução, são várias

as fontes de perdas possíveis: no transporte inadequado, no recebimento e no processo

de estocagem, por exemplo, blocos estocados inadequadamente estão sujeitos a serem

quebrados mais facilmente, gerando desperdício de materiais. Além disso, pode haver

perda por excesso de materiais, muitas vezes devido ao sobreconsumo em dosagem e

misturas geradas no próprio canteiro de obras (SOUZA et al., 1998).

Pode-se notar que o volume de matéria-prima consumida na produção de edifícios

no Brasil é elevado e crescente, devido às grandes dimensões dos produtos resultantes

das atividades construtivas e à tendência, no Brasil, de atendimento à demanda por

moradias e novos empreendimentos. Geralmente, a matéria-prima utilizada em obras

brasileiras é obtida da extração de recursos naturais, como por exemplo a areia, o

cimento Portland, a pedra britada, a madeira e o aço. Dois dos principais aspectos

notados nesta fase são a energia gasta e as matérias-primas consumidas nas várias

etapas de construção de uma edificação. Água, aço, madeira, cimento, cal, tijolos, tintas,

tubulações prediais e esquadrias e alguns insumos tais como produtos de limpeza, a água

para a cura do concreto, escoras, pregos e madeiras para as formas são fortes exemplos

de matérias-primas gastas durante toda a fase de construção. Pode-se considerar

também as emissões de gases poluentes causados pelo transporte desses materiais, na

maioria das vezes realizados por caminhões entre a obra e o local do fornecimento.

A questão do consumo de matéria-prima em excesso também deve ser abordada.

De acordo com Paliari apud Degani (2003), sempre que é consumida uma quantidade

maior de material do que a estritamente necessária gera-se uma perda, e esta pode

refletir-se na forma de gastos extras para a aquisição dos materiais adicionais, no

consumo adicional de mão de obra para movimentar e aplicar tais materiais e,

principalmente, na maior utilização dos recursos naturais de nosso planeta.

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49

É importante ainda ressaltar o elevado consumo de energia gasto no processo de

alguns materiais para as obras civis, prioriza-se, então, que caso seja necessário

empregar materiais cuja produção exija elevado consumo de energia ou obtidos a partir

da matéria-prima escassa, estes deverão ser, pelo menos, recicláveis, fáceis de

desmontar e cujo processo de aplicação e uso facilitem sua reciclagem, por exemplo

evitando contaminações.

No quadro 5 são apresentados os impactos ambientais mais encontrados,

segundo cardoso (2006), gerados por canteiros de obras na fase de construção:

Quadro 5: Impactos Ambientais na fase de construção (fonte: Cardoso, 2006)

O outro grande aspecto gerador de impactos ambientais na etapa construtiva é a

geração de resíduos e a deposição clandestina em terrenos baldios, aterros, várzeas e

taludes de cursos de água. Alguns destes impactos são plenamente visíveis e provocam

comprometimento da paisagem urbana. A degradação de áreas hídricas por aterramento,

tais como rios, riachos, lagos e mananciais, a destruição de fauna e flora, poluição do ar,

desvios de rios causando alagamentos e deslizamentos provocados por entulhos em

terrenos instáveis são apenas algumas interferências no meio ambiente causadas por

esta deposição incorreta de resíduos no ambiente urbano.

SOLO AR ÁGUA PESSOAS VIZINHANÇA

Alteração das propriedades físicas

Deterioração da qualidade do ar

Alteração da qualidade de águas superficiais

Alteração das condições de saúde

Alteração da qualidade paisagística

Contaminação Química Poluição sonoraAlteração dos regimes de

escoamentoAlteração das condições de

segurançaIncômodo para a

comunidade

Indução de processos erosivos

Escassez de água Alteração no tráfego local

Esgotamento de reservas minerais

Alteração da qualidade de águas subterrâneas

Escassez de energia elétrica

Alteração das condições de saúde

Interferência na drenagem urbana

Page 50: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

50

3.3.3. Uso e Ocupação

Como os edifícios são produtos com longa vida útil, a fase de uso por parte dos

proprietários, é responsável por parcela significativa de impacto ambiental. Por se tratar

efetivamente da fase de operação do empreendimento, há grande consumo de energia,

de água e grande geração de resíduos, especialmente esgoto e lixo doméstico.

A vegetação protege o solo da erosão, tanto pela interceptação da chuva pelas

copas das árvores, como pelas raízes que favorecem a infiltração da água da chuva. O

solo é protegido do impacto direto da chuva e da insolação, reduzindo assim o

escoamento superficial e a incidência de erosões. Os empreendimentos da construção

civil, por se tratarem de bens de grandes dimensões físicas, ao fazerem uso do solo

diminuem as áreas verdes e permeáveis, devido às altas taxas de ocupação do terreno.

Assim, o carreamento do solo e consequente poluição dos rios e as enchentes se

multiplicam, principalmente em grandes cidades. Além disso, serviços de terraplanagem

realizados muitas vezes alteram o perfil natural do terreno, desviando o escoamento

natural das águas superficiais e reduzindo a vegetação nativa.

Ainda na fase de utilização do empreendimento, ao se tratar da manutenção, há

necessidade de reposição de componentes que atingiram o fim da sua vida útil e de

manutenção de equipamentos e sistemas. Algumas vezes há ainda a necessidade de

correção de falhas de execução ou de patologias, consumindo novamente recursos

naturais e manufaturados, água, energia e mão de obra. Por exemplo, perde-se material

ao fazer a repintura de uma fachada precocemente, pois estar-se-á consumindo mais tinta

que o esperado inicialmente (SOUZA et al., 1998).

Portanto, a fase de uso e ocupação do solo, responsável por grande parte da

energia utilizada em todo o ciclo de vida de um empreendimento da construção civil deve

ser tratada com cautela para que estes gastos sejam minimizados de forma consciente.

3.3.4. Demolição

A fase de demolição de um produto diz respeito a inutilização deste, representado

pelo fim de sua vida útil, que levará a um processo de desmonte. É nesta fase do ciclo de

vida do empreendimento que ocorre a maior parte da geração de resíduos sólidos, que

podem ainda conter substâncias perigosas como adesivos, tintas, óleos, biocidas

incorporados a madeiras tratadas, sulfatos provenientes da dissolução de gesso, entre

outros, agravando ainda mais o impacto da contaminação dos solos, água e ar.

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51

Além disso, também são observado impactos quanto à poluição atmosférica,

decorrente da emissão de material particulado respirável durante a demolição de um

edifício. A poluição sonora detectada durante a fase de construção e implantação também

pode ser observada, ainda mais agravada, na fase de demolição e descarte, afetando

diretamente a comunidade vizinha e causando um grande desconforto.

3.4. Conceitos e Definições do Guia de Sustentabilidade na Construção

Segundo o Guia de Sustentabilidade na Construção (2008), a maior parte dos

sistemas ainda não considera diversos aspectos sociais relevantes na indústria da

construção ao avaliar a sustentabilidade de um empreendimento, entre eles a qualidade

de vida no canteiro de obras, treinamento da mão de obra, contratação de mão de obra

formal e conformidade com normas técnicas. No entanto, são aspectos que devem ser

considerados e trabalhados na busca da melhor qualidade no ambiente de trabalho e seu

entorno e avaliação do desempenho dos empreendimentos em relação à

sustentabilidade.

Apesar da presença de todos os aspectos de sustentabilidade em cada fase do

ciclo de vida do empreendimento, as ações a serem realizadas em cada uma delas e seu

impacto potencial para a sua sustentabilidade variam significativamente. Uma ilustração

disso são os dados levantados por Ceotto apud Guia da sustentabilidade na Construção

(2008) para um edifício comercial com ciclo de vida de 50 anos. A variação dos custos e

as possibilidades de intervenção em um empreendimento, podem ser percebidos na

figura 9, a seguir.

Figura 9: Características das Fases de um Empreendimento Comercial Tradicional (fonte: Ceotto, 2006 apud Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008)

Page 52: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

52

A busca por sustentabilidade em um empreendimento começa antes mesmo de

sua concepção. A sustentabilidade não depende apenas dos conceitos, processos e

ferramentas adotadas em seu planejamento e construção, mas também da relação destes

com o ambiente em seu entorno. A redução de custos e de impactos socioambientais

pensada nas fases de concepção e projeto com foco apenas na fase de construção é

insuficiente para que o setor da construção e as edificações se tornem mais sustentáveis.

É preciso que o planejamento do empreendimento e de seus projetos contemple todos os

possíveis impactos incorridos durante todo o ciclo de vida das edificações e busque

formas de minimizá-los nas suas primeiras fases, que, como observado na figura 9,

geram melhorias significativas com baixo custo, trazendo maior retorno socioambiental.

Logo, a primeira ação a ser executada por um incorporador é a previsão e

classificação dos impacto ambientais e socioeconômicos que podem ser gerados pelo

empreendimento. Dessa forma, é possível definir ações prioritárias alinhadas com os

recursos disponíveis para a implantação. Consequentemente, o planejamento incluirá a

sustentabilidade como um de seus aspectos e buscará minimizar ou eliminar estes

impactos do empreendimento (Guia de Sustenbilidade na Construção, 2008).

3.4.1. Aspectos Ambientais - Macrotemas Sustentáveis

A primeira etapa de um empreendimento consiste no levantamento de informações

preliminares, que englobam a área do implantação e seu entorno. Após a análise das

características da área do empreendimento, é necessário estimar os potenciais impactos

ambientais em todo seu ciclo de vida. Isso é importante por reduzir os riscos de geração

de impactos negativos e consequentes custos adicionais para sua mitigação. Após o

levantamento de todas as informações, elas devem ser classificadas de acordo com:

a) O aspecto de sustentabilidade a que elas se referem;

b) A capacidade de interagir com o entorno;

c) O potencial de retorno socioambiental das ações com objetivo de

contribuir com a sustentabilidade do empreendimento;

d) Os custos dessas ações.

Ainda segundo o Guia de Sustentabilidade na Construção, os aspectos de

sustentabilidade sugeridos para análise das ações concretas que podem ser tomadas

são:

Page 53: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

53

1. Sustentabilidade do habitat (sítio) e qualidade de implantação;

A observação do entorno, seus condicionantes físicos ambientais e as

considerações críticas sobre os marcos legais adotados, por parte do empreendedor,

constituem ações a serem pesadas como parte de uma atitude sustentável para a cidade.

2. Gestão de Água e efluentes;

Ao iniciar a concepção de um empreendimento, é importante verificar o regime de

chuvas da região e a sua periodicidade. Deve-se levar em consideração se a região

apresenta falta de água ou enchentes, problemas de erosão decorrentes das chuvas ou

carência de saneamento ou abastecimento na região.

3. Gestão de energia e emissões;

Conceber edificações que ofereçam conforto aos ocupantes, com baixo consumo

de energia, depende do alinhamento entre variáveis climáticas, humanas e arquitetônicas,

de modo que as soluções arquitetônicas aproveitem da melhor forma possível as

potencialidades climáticas locais para atenderem às necessidades humanas de conforto,

reduzindo a necessidade de equipamentos e consequentemente o consumo de energia

para obtenção de conforto.

4. Gestão de materiais e resíduos sólidos;

Sob a perspectiva da sustentabilidade, materiais e resíduos devem ser tratados

conjuntamente, uma vez que a correta seleção e utilização de materiais reduzem a

geração de resíduos e os impactos por ela ocasionados.

5. Qualidade do ambiente interno;

O empreendedor deve estabelecer como meta, para a concepção do

empreendimento, a obtenção do maior conforto térmico e visual para os ocupantes com o

menor consumo de energia artificial possível. Por esta razão, na fase de concepção

gestão de energia e emissões e qualidade do ambiente interno são temas que devem ser

tratados conjuntamente.

6. Qualidade dos serviços;

Prever e induzir a implantação do Sistema de Gestão da Qualidade para o

empreendimento, com o qual todas as empresas envolvidas devem estar em sintonia. O

objetivo principal do sistema deverá visar, antes de tudo, a qualidade do produto final com

Page 54: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

54

foco na satisfação dos clientes, assim como nas necessidades de todas as partes

interessadas no que diz respeito ao atendimento de suas expectativas.

A tabela 1 traz uma sugestão de como priorizar as ações concretas a serem

implantadas no empreendimento. Devem ser colocadas na tabela todas as ações práticas

com potencial para inclusão no projeto do empreendimento. Sua inclusão deve seguir a

estimativa do custo de implantação e do retorno social e ambiental esperados pelo

empreendedor e sua equipe.

Tabela 1: Ferramenta para análise e priorização de ações práticas (fonte: Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008).

A importância no conhecimento dos impactos ambientais está na escolha de onde

agir em primeiro lugar e para o quê dar prioridade, já que normalmente os recursos

disponíveis são limitados, impedindo que se atue sobre tudo. Com todas as ações

organizadas é possível priorizar aquela com mais retorno e que tenham a maior relação

custo/benefício de implantação em cada fase do empreendimento. O objetivo é verificar

se a ação concreta terá um efeito real no aumento do desempenho socioambiental do

empreendimento, levando-se em consideração o contexto regional em que ele está

inserido, de acordo com os estudos ou experiências previamente avaliados.

Page 55: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

55

4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental

Um empreendimento com bom desempenho ambiental é caracterizado por ter

minimizado, e até mesmo eliminados, os seus impactos negativos no meio ambiente e em

seus usuários (United States Green Building Council apud Degani, 2003). Pode-se dizer

que o setor é um grande consumidor de recursos naturais e energéticos, além de um

grande gerador de resíduos, principalmente quando o requisito de matéria prima é feito de

maneira desequilibrada. Surge poluição, resíduo, desperdício e, consequentemente, muita

degradação ambiental. Atualmente, essa realidade vem implicando cada vez mais no

aparecimento de modelos de sistemas construtivos que promovam integração com o meio

ambiente, adaptando-as para as necessidades de uso, produção e consumo humano em

esgotar os recursos naturais.

Além de todos os impactos ambientais que ocorrem ao longo do ciclo de vida de

um empreendimento, na maioria das vezes de forma negativa, exitem fatores externos

que impulsionam o setor rumo à sustentabilidade, como por exemplo algumas exigências

relacionadas a aprovações legais e também algumas restritivas a financiamentos.

4.1. Licenciamento Ambiental

O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer

empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio

ambiente e possui como uma de suas mais expressivas características a participação

social na tomada de decisão, por meio da realização de Audiências Públicas como parte

do processo. Essa obrigação é compartilhada pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente

e pelo Ibama, como partes integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio

Ambiente).

Segundo a Resolução CONAMA 237/1997, licenciamento ambiental consiste no

procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a

localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades

utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou

daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando

as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. Estão

sujeitos ao licenciamento ambiental os seguintes empreendimentos e atividades

relacionados a obras civis:

Page 56: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

56

1. rodovias, ferrovias, hidrovias , metropolitanos;

2. barragens e diques;

3. canais para drenagem;

4. retificação de curso de água;

5. abertura de barras, embocaduras e canais;

6. transposição de bacias hidrográficas;

7. outras obras de arte.

Todo empreendimento listado na Resolução CONAMA 237/1997 é obrigado a ter

licença ambiental, ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece

as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas

pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar

empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva

ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar

degradação ambiental.

A premissa fundamental do licenciamento ambiental consiste na exigência de

avaliação de impacto ambiental para os empreendimentos e atividades passíveis de

licenciamento, de forma a prevenir e/ou mitigar danos ambientais que venham a afetar o

equilíbrio ecológico e socioeconômico, comprometendo a qualidade ambiental de uma

determinada localidade, região ou país. O licenciamento é a base estrutural do tratamento

de questões ambientais pela empresa, é através dela que o empreendedor inicia seu

contato com o órgão ambiental e passa a conhecer suas obrigações quanto ao adequado

controle ambiental de sua atividade (Manual de Licenciamento Ambiental).

O processo de licenciamento deverá obedecer algumas etapas, dentre as quais, o

requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos,

projetos e estudos ambientais pertinentes, assim como a análise pelo órgão ambiental

competente, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização

de vistorias técnicas. No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,

obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de

empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e

ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a

outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes (Resolução CONAMA

237/97).

Page 57: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

57

Desde 1981, de acordo com a Lei Federal 6.938/81, o licenciamento ambiental

passou a ser obrigatório em todo território nacional, e as empresas que funcionam sem a

licença estão sujeitas a sanções previstas em Lei.

4.1.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos

O Resíduo de Construção e Demolição (RCD), devido ao seu volume, gera um alto

impacto ambiental, social e econômico, trazendo assim a preocupação crescente sobre

sua gestão. Essa gestão sempre foi responsabilidade do poder público, porém, segundo a

Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 05 de julho de

2002, ela foi transferida para os geradores de resíduos, que devem segregar o resíduo

em quatro classes diferentes e encaminhá-las para reciclagem ou deposição final.

A resolução indica como instrumento básico para sua implementação o Plano

Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, de responsabilidade dos

municípios, incorporando um Programa Municipal e Projetos de Gerenciamento, de forma

a envolver como co-responsáveis o Poder Público, os geradores e os transportadores

desses resíduos. Foi estabelecido que os municípios deveriam ter seus planos prontos

para execução até o início de 2004. No entanto, são poucos os municípios que

efetivamente implantaram uma gestão eficiente em relação ao tema.

De acordo com a Lei 12.305/2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne

o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas pelo

Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito

Federal, municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gereciamento

ambientalmente adequado aos resíduos sólidos.

Portanto, a adoção do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos em Obras de

Construção Civil visa minimizar tais resíduos, assim como reduzir gastos com seus

tratamentos e disposição final, beneficiando, assim, toda empresa responsável, visto que

esta economizará e melhorará sua produção.

4.1.2. Licenciamento Ambiental no Estado do Rio de Janeiro

A implantação do Sistema de Licenciamento Ambiental no Estado do Rio de

Janeiro foi reconhecidamente pioneira no Brasil. A partir dos anos 80, diversos Estados

iniciaram a implantação de seus sistemas de licenciamento, adaptando seus

Page 58: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

58

procedimentos à realidade local e à conjuntura do desenvolvimento industrial e

empresarial de sua região

O Estado do Rio de Janeiro manteve inalterado por mais de 30 anos seu sistema

de licenciamento ambiental, bem como os procedimentos do órgão ambiental para a

avaliação das solicitações e emissão de licença. A instalação do Instituto Estadual do

ambiente (Inea), em janeiro de 2009, foi uma evidência das mudanças na estrutura

ambiental do Estado, que antes tinha como órgão licenciador apenas a FEEMA -

Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.

No Estado do Rio de Janeiro atuam três órgãos ambientais com diferentes

responsabilidades nos níveis Federal, Estadual e Municipal. Na esfera Federal, o IBAMA -

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - é o

responsável pelo licenciamento de atividades desenvolvidas em mais de um estado, cujos

impactos ambientais ultrapassam os limites territoriais.

Segundo a Lei Federal 6.938/81, atribui-se aos Estados a competência de licenciar

as atividades localizadas em seus limites regionais. Dessa forma, para uma atividade

localizada em sua totalidade no Estado do Rio de Janeiro, o órgão responsável pelo

licenciamento é o INEA - Instituto Estadual do Ambiente.

No entando, a Resolução CONAMA 237/1997 sugere que, em casos de atividades

com impactos ambientais locais, os órgaos estaduais deleguem esta competência aos

órgaos municipais responsáveis. No caso do Rio de Janeiro, à Secretaria Municipal do

Meio Ambiente.

É importante ressaltar que todo licenciamento deve ser solicitado em uma única

esfera de ação.

4.2. Tipos de Licenças Ambientais

O processo de licenciamento ambiental é constituído de diversos tipos de licenças

necessárias para a viabilidade ambiental. Cada uma é exigida em uma etapa específica

do licenciamento, de acordo com a classificação deste. Para concessão da Licença

Ambiental deverá ser comprovada pelo empreendedor a conformidade do

empreendimento ou atividade à legislação municipal de uso e ocupação do solo, mediante

certidão ou declaração expedida pelo município. De acordo com a fase do

empreendimento ou atividade e da definição de sua classe, é possível identificar o tipo de

licença a ser requerida (Figura 10).

Page 59: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

59

Figura 10: Tipo de Licença a ser requerida (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)

4.2.1. Licença Prévia - LP

O requerimento da Licença Prévia (LP) é a primeira etapa do licenciamento, em

que o órgão licenciador avalia a localização e a concepção do empreendimento,

atestando a sua viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos para as

próximas fases. A LP funciona como um alicerce para a edificação de todo o

empreendimento. Nesta etapa, são definidos todos os aspectos referentes ao controle

ambiental da empresa ou empreendimento. O órgão licenciador determina inicialmente se

a área sugerida para a instalação da empresa é tecnicamente adequada. Este estudo de

viabilidade é baseado no Zoneamento Municipal.

Podem ainda ser requeridos estudos ambientais complementares, tais como o

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), quando

estes forem necessários. O órgão licenciador, com base nestes estudos, define as

condições nas quais a atividade deverá se enquadrar a fim de cumprir as normas

ambientais vigentes.

4.2.2. Licença de Instalação - LI

Uma vez detalhado o projeto inicial e definidas as medidas de proteção ambiental,

deve ser requerida a Licença de Instalação (LI), cuja concessão autoriza o início da

construção do empreendimento e a instalação dos equipamentos de acordo com as

Não NãoA Atividade está

em fase de início

de implantação?

A Atividade está

em fase de início

de operação ou

em operação?

O Impacto da

operação é

insignificante?

Sim

Trata-se de

recuperação ou

melhoria ambiental

de área pública ou de

passivo ambiental de

empreendimentos /

atividades fechadas

ou desativadas?

A atividade está

em operação

regular e necessita

de licença para

realizar ampliação

ou ajuste de

atividade?

Não

Licença de

Instalação

(LI)

Licença de

Instalação

e de

Operação

(LIO)

Não Sim

Possui passivo

ambiental?

Sim

Licença de

Operação

(LO)

Licença de

Operação e

Recuperação

(LOR)

Não Sim

Licença

Ambiental de

Recuperação

(LAR)

O Impacto da

Operação é

insignificante?

Sim

Licença de

Instalação

(LI)

Licença de

Instalação e

de

Operação

(LIO)

Não Sim

Sim

Averbação

da Licença

de

Operação

(LO)

Não NãoA Atividade está

definida na

Classe 1?

A Atividade está

definida na

Classe 2?

A Atividade está

em fase de

Planejamento?

Não há

necessidade de

Licenciamento

Necessita de EIA ou

RAS?

Licença

Prévia e de

Instalação

(LPI)

Licença

Prévia (LP)

Licença

Ambiental

Simplificada

(LAS)

Certidão de

Inexigibilidade

de

Licenciamento,

se necessário

Não Sim

Sim

Sim

Não

Page 60: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

60

especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as

medidas de controle ambientais e demais condicionantes.

A execução do projeto deve ser feita conforme o modelo apresentado

previamente. Qualquer alteração na planta ou nos sistemas instalados deve ser

formalmente enviada ao órgão licenciador para avaliação.

A LI pode autorizar a pré-operação, por prazo especificado na licença, visando a

obtenção de dados e elementos de desempenho necessários para subsidiar a concessão

da Licença de Operação (MACHADO, 2010).

4.2.3. Licença Prévia e de Instalação - LPI

Esta licença, em fase única, atesta a viabilidade ambiental e aprova a implantação de

empreendimentos ou suas atividades. Será concedida quando a análise de viabilidade

ambiental não depender de estudos ambientais, podendo ocorrer simultaneamente à

análise dos projetos de implantação.

4.2.4. Licença de Operação - LO

A Licença de Operação (LO) autoriza o funcionamento do empreendimento ou a

operação de atividades. Essa licença deve ser requerida quando o empreendimento

estiver edificado e após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças

anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a

operação.

Há casos em que o empreendimento ou a empresa já operam e não possuem

Licença Prévia ou ao menos Licença de Instalação. É necessário procurar o órgão

licenciador e expor a situação. Geralmente o empresário será orientado a requerer a LO

visto que as LP ou LI já não se aplicam. A Licença de Operação, portanto, deve ser

requerida quando o empreendimento está instalado e pronto para operar ou para

regularizar a situação de atividades em atuação. São os chamados Licenciamento

Preventivo e Licenciamento Corretivo respectivamente.

É importante ressaltar que para o licenciamento corretivo, a formalização do

processo requer a apresentação conjunta de documentos, estudos e projetos previstos

para as etapas de LP, LI e LO. A figura 8 representa esquematicamente as etapas do

processo de obtenção das licenças ambientais.

Page 61: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

61

4.2.5. Licença de Instalação e Operação - LIO

A LIO é a licença que será concedida antes de iniciar-se a implantação de

atividades e empreendimentos cuja operação represente um potencial poluidor

insignificante. O órgão ambiental aprova, concomitantemente, a instalação e a operação

de atividade ou empreendimento. Poderá ser concedida ainda para ampliações ou ajustes

em empreendimentos já implantados e licenciados.

4.2.6. Licença de Operação e Recuperação - LOR

A LOR consiste na autorização da operação da atividade ou empreendimento,

concomitante à recuperação ambiental de passivo existente em sua área, caso não haja

risco à saúde da população e dos trabalhadores.

4.2.7. Licença Ambiental Simplificada - LAS

Todas as atividades enquadradas na classe 2 serão licenciadas em fase única,

que atesta a viabilidade ambiental, aprova a localização e autoriza a implantação e/ou a

operação, estabelecendo as condições e medidas de controle ambiental.

4.2.8. Licença Ambiental de Recuperação - LAR

A LAR aprova a remediação, recuperação, descontaminação ou eliminação de

passivo ambiental existente, na medida do possível e de acordo com os padrões técnicos

exigíveis, em especial aqueles em empreendimentos ou atividades fechados, desativados

ou abandonados.

4.2.9. EIA/RIMA

O Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental -

EIA/RIMA, instituído pela Resolução do CONAMA nº 001/86, constitui a avaliação de

impacto ambiental utilizada nos procedimentos de licenciamento ambiental de

empreendimentos e atividades consideradas causadoras de significativa degradação

ambiental. Contudo, a critério do órgão ambiental competente, e quando verificado que o

empreendimento ou atividade não é potencialmente causador de significativa degradação

Page 62: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

62

poderá ser solicitado estudo ambiental diverso, em conformidade com a tipologia,

localidade e características do empreendimento ou atividade a ser licenciada.

O EIA consiste em um estudo realizado no local de implantação do

empreendimento ou empresa, mais precisamente no solo, água e ar para verificar se a

área contem algum passivo ambiental além de prever como o meio socio-econômico-

ambiental será afetado pela implantação do empreendimento. O escopo do estudo

compreende, em linhas gerais, as atividades técnicas de diagnóstico ambiental, análise

de impactos ambientais, definição de medidas mitigadoras de impactos ambientais,

elaboração de programa de acompanhamento e monitoramento ambiental de projetos e

atividades impactantes ao meio.

Já o RIMA é um relatório conclusivo que traduz os termos técnicos para

esclarecimento, analisando o Impacto Ambiental. Este relatório é responsável pelos

levantamentos e conclusões, devendo o órgão público licenciador analisar o relatório

observando as condições de empreendimento (http://lfg.jusbrasil.com.br/).

Como dito anteriormente, o EIA/RIMA pode ser exigido como estudo

complementar na etapa de requerimento da Licença Prévia. (Manual do Licenciamento

Ambiental).

4.3. A Obtenção das Licenças Ambientais

Segundo o Manual de Licenciamento Ambiental, o primeiro passo para obtenção

da Licença Ambiental é a identificação da classe da atividade e em seguida do tipo de

licença a ser requerida, baseado na situação atual do empreendimento (Figura 8). O

SLAM (Sistema de Licenciamento Ambiental do Estado do Rio de Janeiro) divide as

atividades e empreendimentos em seis classes para fins de licenciamento ambiental, de

acordo com o potencial poluidor da atividade e com o seu porte. O enquadramento nas

classes 1 a 6 definirá o custo de análise dos requerimentos de licenças ambientais, além

de definir aqueles empreendimentos que não precisarão ser licenciados ou que passarão

por processo de licença simplificada, em etapa única (Tabela 2). Após verificada a

situação, deve-se identificar o órgão a quem solicitar a licença. No caso de

empreendimentos que ultrapassem os limites do estado, o IBAMA deve ser responsável

pelo licenciamento. Já no caso de empreendimentos cujos potenciais impactos ambientais

sejam restritos aos limites do Estado, o que ocorre na grande maioria das vezes em

nosso país, a competência para o Licenciamento é Estadual, no caso do Rio de Janeiro,

da FEEMA.

Page 63: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

63

Tabela 2: Classe do Empreendimento dentro do SLAM (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)

Após identificada a fase e o órgão responsável, os formulários de requerimento

devem ser solicitados ao INEA. Conforme o tamanho da empresa, a tipologia, o grau de

risco e a fase de licenciamento poderá haver diferenças em relação aos documentos e

procedimentos exigidos. O Quadro 6 obtido no Central de atendimento da FEEMA

relaciona os principais documentos exigidos no licenciamento.

Nesta fase também é exigido o preenchimento do cadastro de atividade industrial,

documento com informações da empresa que descreve a sua atividade, contendo

endereço, produto fabricado, fontes de abastecimento de água, efluentes gerados, destino

de resíduos e produtos estocados. O levantamento de plantas e a descrição dos

processos industriais também deverão estar anexados ao cadastro de atividade industrial.

Quadro 6: Principais Documentos Exigidos no Licenciamento Ambiental (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)

Page 64: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

64

Preenchido o cadastro e anexados todos os documentos exigidos, inicia-se o

processo de licenciamento ambiental da empresa. A abertura do processo deve ser

publicada em jornal de circulação e no Diário Oficial do Rio de Janeiro pela empresa.

Com o requerimento devidamente formalizado, o processo de licenciamento segue

as etapas do trâmite interno do INEA. Após o requerimento da licença, os técnicos do

INEA analisam os documentos, projetos e estudos apresentados pela empresa e realizam

vistorias técnicas para avaliar o atendimento às exigências realizadas pelo órgão

ambiental. Em qualquer etapa do processo outras exigências podem ser definidas e a

empresa deverá cumpri-las e obedecer seus prazos (Quadro 7).

Após o cumprimento de todas as exigências determinadas, o INEA emite um

parecer técnico para aprovação ou não da licença ambiental requerida. Deferida a

Licença, os responsáveis da empresa receberão uma comunicação e serão convocados a

comparecer ao órgão para formalizar o processo. Novamente a empresa deve publicar

em jornal local de grande circulação e no Diário Oficial do Rio de Janeiro.

Page 65: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

65

Quadro 7: Exigências Ambientais - FEEMA (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)

Page 66: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

66

5. Boas Práticas na Construção Civil

É possível notar, nos tempos atuais, que a incorporação de práticas de

sustentabilidade na indústria da construção civil é uma tendência crescente no mercado.

Diferentes agentes, sejam os governos, consumidores, investidores e associações,

alertam, estimulam e pressionam o setor da construção a incorporar essas práticas em

suas atividades.

Para tanto, o setor da construção precisa se engajar cada vez mais. As empresas

devem mudar e adequar a forma de produzir e gerir suas obras. Devem fazer uma

agenda de introdução progressiva de sustentabilidade, buscando, em cada obra, soluções

que sejam economicamente relevantes e viáveis para o empreendimento.

A etapa de identificação de aspectos ambientais é fundamental, pois conhecendo

os aspectos, pode-se atuar de forma a mitigar ou reduzir os impactos. E, conhecendo os

impactos, é possível priorizar-los e decidir quais ações tomar. Pode-se definir as

tecnologias e as ações de natureza gerencial necessárias para tanto, estabelecendo os

recursos que precisam ser introduzidos – equipamentos a serem comprados, profissionais

a serem treinados ou contratados, ferramentas gerenciais a serem implementadas, os

prazos e os custos envolvidos. São estas as informações que interessam aos

profissionais de obra preocupados com a questão da sustentabilidade.

5.1. Sistemas de Gestão Ambiental

Conforme mencionado anteriormente, é perceptível a ineficácia da atual prática

ambiental adotada pelas empresas em geral, que consiste em apenas dar tratamento e

disposição aos impactos gerados. As empresas devem buscar alternativas anteriores às

soluções dos problemas. Neste contexto, surge a importância da implementação de

ferramentas gerenciais para gestão ambiental.

Para que as empresas se envolvam com as causas ambientais e incorporem a

gestão ambiental em seus processos, elas precisam se adequar a um programa de

gestão ambiental (PGA). Os programas de gestão ambiental estabelecem as atividades a

serem desenvolvidas, a sequência entre elas e os responsáveis pela sua execução, além

de buscar uma melhoria contínua no seu desempenho. Segundo Valle apud Heuser

(2007) o PGA é um instrumento dinâmico e sistemático, com metas e objetivos ambientais

a serem alcançados em intervalos de tempos definidos. Através do PGA se estabelecem

Page 67: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

67

ações preventivas e corretivas identificadas nas inspeções e auditorias ambientais e se

elaboram ações que assegurem a qualidade ambiental da empresa.

A gestão ambiental nas empresas era tradicionalmente vista como um freio ao

crescimento. A ideia que prevalecia era que qualquer providência com relação a variável

ambiental traria um aumento das despesas. Hoje a gestão ambiental não é mais vista

apenas como um aspecto legal a ser cumprido e que traz custos para a empresa, mas

sim como uma oportunidade para abrir mercados e prevenir restrições futuras ao mercado

internacional. Algumas empresas demonstram que é possível transformar as restrições e

ameaças em oportunidades de negócios e ainda protegendo o meio ambiente (HEUSER,

2007).

De acordo com a ISO 14004/1996, um sistema de gestão ambiental (SGA) é parte

de um sistema global de gestão que provê ordenamento e consistência para que as

organizações abordem suas preocupações ambientais, através da alocação de recursos,

definição de responsabilidades e avaliação contínua de práticas, procedimentos e

processos, voltados para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter

a política ambiental estabelecida pela empresa. É de grande importância para a empresa

que a gestão seja abrangente e inclua desde os problemas sociais e econômicos da

organização, passando pelos problemas de seus colaboradores. O SGA é uma estrutura

organizacional, a qual recomenda-se o monitoramento periódico, a fim de que as

atividades ambientais possam ser dirigidas com eficácia e respondam às mudanças de

fatores interno e externos da organização.

5.1.1. NBR ISO 14001/2004 "Sistemas de Gestão Ambiental - Especificação e

Diretrizes para uso"

A ISO 14004 é uma norma de orientação, oferecendo informações úteis na forma

de exemplos e descrições relacionadas ao desenvolvimento e implementação de

sistemas e princípios de gestão ambiental e à coordenação desses sistemas com outros

sistemas gerenciais. Já a ISO 14001 fornece diretrizes e exigências para que se viabilize

a certificação ambiental junto a uma entidade certificadora. (TIBOR e FELDMAN apud

HEUSER, 2007).

A ISO 14001 não define níveis, valores ou critérios de desempenho. Assim, a

norma permite que a organização estabeleça seus próprios objetivos e metas de

desempenho, levando em consideração os requisitos reguladores nacionais, estaduais e

Page 68: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

68

municipais, bem como requisitos adicionais da própria organização, permanecendo em

conformidade com a norma (HARRINGTON e KNIGHT apud HEUSER, 2007).

Um passo importante na implementação do SGA é a avaliação ambiental inicial,

isto é, o relacionamento inicial da empresa com o meio ambiente. A norma ISO

14001/2004 recomenda que esta avaliação cubra quatro áreas fundamentais:

1. Requisitos legais e regulamentares;

2. Identificação dos aspectos ambientais significativos;

3. Exame de todas as práticas e procedimentos de gestão ambiental existentes; e

4. Avaliação das informações provenientes de investigações de incidentes anteriores.

De acordo com a NBR ISO 14001/2004, a avaliação inicial tem por objetivo

identificar aspectos ambientais significativos associados às atividades, produtos ou

serviços. Entretanto, não é especificada pela norma a exigência de uma avaliação

detalhada do ciclo de vida de processos, produtos ou serviços.

Após realizada a etapa de avaliação inicial, os demais requisitos propostos e

especificados pela norma são implementados, ressaltando-se que é possível desenvolver

mais de uma etapa concomitantemente.

5.1.1.1. Política Ambiental

Segundo a NBR ISO 14001/2004, Política Ambiental significa uma “declaração da

organização, expondo suas intenções e princípios em relação ao seu desempenho

ambiental global, que provê uma estrutura para ação e definição de seus objetivos e

metas ambientais”.

A política ambiental é uma declaração dos princípios e compromissos da empresa,

contendo os objetivos e metas assumidos, em relação ao meio ambiente. E ainda o

princípio da melhoria contínua da performance ambiental da empresa deverá estar

presente em sua política ambiental (D’AVIGNON apud CAGNIN, 2000).

Page 69: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

69

5.1.1.2. Planejamento

A seguinte etapa tratada na ISO 14001 trata do planejamento do SGA, que tem

como objetivo possibilitar uma visão holística do sistema, antever dificuldades e aproveitar

potencialidades. A visão do todo possibilita minimizar os custos e a tensão

organizacionais, obtendo um maior aproveitamento e eficácia do processo (SCHERER

apud CAGNIN, 2000).

A NBR ISO 14004/96, determina que, de acordo com as atividades desenvolvidas

pela organização, e através do estabelecimento e manutenção de procedimentos e

programas de gestão ambiental, sejam abordados os seguintes aspectos:

• redução de impactos ambientais adversos significativos;

• desenvolvimento de procedimentos para avaliação de desempenho ambiental e

indicadores associados;

• concepção de produtos de modo a minimizar seus impactos ambientais nas fases

de produção, uso e disposição;

• prevenção da poluição;

• redução de resíduos;

• redução no consumo de recursos (materiais, combustíveis não renováveis e

energia);

• comprometimento com a recuperação e reciclagem ao invés de disposição;

• educação e treinamento;

• compartilhamento de experiências na área ambiental;

• envolvimento das partes interessadas e comunicação com elas;

5.1.1.3. Implementação e Operação

A Implementação e Operação do Programa de Gestão Ambiental (PGA) aprovado

são atividades que demandam mais tempo e cuidado, pois envolvem, muitas vezes,

mudanças culturais na organização, o que sempre é um aspecto sensível do processo.

Nesta etapa, a empresa deverá capacitar-se e desenvolver os mecanismos de

apoio necessários para a efetiva implementação da sua política ambiental e o

cumprimento dos seus objetivos e metas ambientais (DEGANI, 2003).

Além disso, a fase de implementação e operação também compreende o

comprometimento de todos os envolvidos com as questões ambientais. Para isso a

Page 70: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

70

empresa deve identificar a necessidade de treinamentos, conscientizar e capacitar seus

colaboradores a exercer suas funções de acordo com as necessidades do sistema de

gestão ambiental e implicações ambientais.

5.1.1.4. Verificação e Ação Corretiva

Esta etapa da norma estabelece os seguintes critérios para o acompanhamento da

evolução e manutenção do sistema de gestão ambiental implementado (DEGANI, 2003):

• devem ser estabelecidos procedimentos para o monitoramento e medição

periódica das operações e atividades das empresas, incluindo avaliação periódica

do atendimento à legislação e regulamentos ambientais pertinentes;

• os registros de monitoramento e medição, bem como das calibrações dos

equipamentos de monitoramento utilizados devem ser mantidos e controlados;

• devem ser estabelecidas as responsabilidades e autoridades para tratar e

investigar as não conformidades;

• devem ser estabelecidos procedimentos que garantam que ações corretivas e

preventivas sejam iniciadas e concluídas, e que sejam apropriadas à magnitude

dos problemas e proporcionais ao impacto ambiental verificado;

• deve haver procedimento para identificação, manutenção e descarte de registros

gerados, sendo que os mesmos deverão ser rastreáveis;

• devem ser realizadas auditorias periódicas do sistema de gestão ambiental.

É de fundamental importância definir as responsabilidades e as autoridades para

lidarem com as investigações de não conformidades, levando em conta os impactos a

serem mitigados e o inicio das ações corretivas imediatas e as de prevenção no médio

prazo.

5.1.1.5. Análise Crítica pela Administração

Esta seção determina que a administração deva analisar criticamente o seu

sistema de gestão ambiental, através das informações coletadas, para assegurar sua

conveniência, adequação e eficácia contínuas.

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71

Esta etapa é fundamental para a garantia de implantação do processo de melhoria

contínua. A alta administração deve avaliar, a cada ciclo de planejamento, a adequação

das metas e dos objetivos definidos pela política estabelecida. A análise pela

administração é a última etapa da implementação de um sistema de gestão ambiental,

porém é o inicio para um novo ciclo.

A figura 11 resume as etapas da implantação de um sistema de gestão ambiental.

Estas etapas buscam a melhoria contínua, ou seja, permite uma contínua reavaliação em

busca de uma melhor relação com o meio ambiente.

Figura 11: Modelo de Sistema de Gestão Ambiental (fonte: ABNT ISO 14001, 2004)

5.2. Sistema de Redução de Impactos Ambientais

Toda empresa construtora é responsável pela proteção do ambiente, o controle

dos impactos causados por suas atividades, a prevenção de acidentes e a promoção de

uma construção mais sustentável, e, para tanto, deve disponibilizar os recursos

financeiros, os equipamentos e a estrutura organizacional e implantar práticas gerenciais

necessárias em seus canteiros de obras.

Uma das maneiras adequadas para planejar e direcionar todos esses esforços é

pelo uso de um instrumento gerencial, o Sistema de Redução dos Impactos Ambientais,

que deve estar alinhado com o Sistema de Gestão da empresa (ISO 14001/2004).

O Sistema deve cobrir três etapas. A primeira objetiva “conhecer e saber controlar

os impactos”, permitindo à empresa saber de que modo e com que intensidade suas

atividades nos canteiros de obras causam impactos ao ambiente e à saúde e conhecer a

legislação aplicável, práticas que ainda não são muito disseminadas no setor; a segunda

parte visa a “reduzir os impactos ao ambiente e à saúde”, voltando-se para a minimização

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72

efetiva dos mesmos, graças ao conhecimento das tecnologias e dos instrumentos

gerenciais disponíveis e ao papel ativo da empresa na busca de soluções efetivas e

inovadoras. Já a terceira, voltada aos “aspectos e impactos sociais e econômicos”,

procura valorizar os impactos de natureza socioeconômica positivos e minimizar os

negativos (CARDOSO e ARAUJO, 2007).

O Sistema deve ter seus desdobramentos em cada obra em que a construtora

atue. Assim, a empresa construtora deve elaborar e documentar o Plano de Redução dos

Impactos Ambientais de uma obra específica, consistente com o seu Sistema de Redução

dos Impactos Ambientais. Um dos desafios para a empresa construtora que inicia uma

obra é obter as informações para que possa implementar um plano adequado. O próprio

Sistema de Redução de Impactos Ambientais deve ser considerado, bem como toda a

legislação pertinente e ainda informações sobre o local da obra, incluindo condições do

terreno, vegetação, vizinhança, ventos, nível de poluição do solo, riscos naturais do

terreno, entre muitos outros.

Todo esse levantamento é fundamental para que a empresa elabore um Plano e

um projeto de canteiro coerentes, incorporando as medidas adequadas de minimização

de impactos, antecipando-se a possíveis situações futuras ao longo da obra e evitando

surpresas, que possam ter como consequências impactos negativos significativos,

reclamações e pedidos da vizinhança, problemas de saúde e segurança com

funcionários, multas, embargos por causas ambientais, custos de despoluição, etc.

É também com base no Plano, e de sua experiência registrada em obras

anteriores, sobre os custos do tratamento das diferentes classes de resíduos,

considerando a seleção, o transporte e a destinação, incluindo o reaproveitamento, que

ela será capaz de estimar o custo da implementação das medidas mitigadoras, podendo

incluir em seu orçamento ou corrigir um pré-orçamento baseado em índices médios

anteriores. Dele resultará o Plano de Gerenciamento de Resíduos da obra.

Para elaborar Planos de qualidade, o Sistema da empresa deve implementar

mecanismo de atualização de informações sobre produtos, processos, legislações,

normas, novas tecnologias e equipamentos, etc., de forma que ela seja sempre capaz

dispor das soluções mais respeitosas para o ambiente. Essa busca deve considerar as

diferentes etapas do ciclo de vida, como fabricação, aplicação, funcionamento, perdas e

disposição de resíduos.

Uma vez implementado o Plano, deve haver um controle permanente durante toda

a obra da aplicação das medidas estabelecidas (CARDOSO e ARAUJO, 2007).

Page 73: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

73

5.3. Práticas Recomendadas

A aplicação de um sistema de gestão ambiental (SGA) em uma empresa e o

devido Plano de Gestão Ambiental em uma obra possibilitam o monitoramento ambiental

periódico, gerando assim maior eficiência em estar de acordo com as normas ambientais

e consequentemente aplicando constantemente medidas mitigadoras para reduzir os

impactos negativos ao meio ambiente.

Para um empreendimento da construção civil, a etapa de Identificação dos

Impactos ambientais proposta pela ISO 14001/2004 é fundamental, já que tais impactos

resultam das atividades desenvolvidas durante a execução de diferentes serviços

presentes numa obra. As atividades de construção trazem como consequência elementos

que podem interagir com o ambiente, sobre os quais a equipe de obra pode agir e ter

controle, os conhecidos “aspectos ambientais”. Assim, embora os impactos sejam os

problemas, devem-se conhecer suas causas – os aspectos ambientais – e em quais

atividades estes ocorrem e com que intensidade, para neles atuar, minimizando suas

consequências.

As práticas recomendadas na construção civil para mitigar ou reduzir os impactos

ambientais negativos em um empreendimento da indústria da construção civil serão

abordadas em função dos aspectos ambientais envolvidos, que, normalmente, são

abordados em quatro temas: infraestrutura do canteiro de obras, recursos, resíduos e

incômodos e poluição (DEGANI, 2003).

5.3.1. Infraestrutura do Canteiro de Obras

Segundo ARAÚJO, 2009, o tema Infraestrutura do canteiro de obras aborda, entre

outros pontos, os procedimentos para que as construções provisórias do canteiro de

obras (áreas de produção, de apoio, de vivência, equipamentos, proteções coletivas, etc.)

sejam implantadas e funcionem de modo a minimizarem os impactos ambientais

decorrentes e para que atividades desenvolvidas para ou durante a construção e o uso

dessas instalações causem os menores impactos.

O primeiro aspecto abordado neste tema diz respeito a supressão de vegetações,

que, além da alteração da qualidade paisagística, gera um processo dinâmico de

alteração do ecossistema local, trazendo riscos à fauna e à flora e maior susceptibilidade

à erosões. Dessa forma, as principais recomendações relativas à proteção e preservação

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74

da vegetação são a execução de um inventário de todos os recursos naturais existentes e

a elaboração de um plano de preservação ambiental, além de prever soluções para a

proteção de árvores remanescentes no canteiro. As boas práticas da construção civil

recomendam ocupar o mínimo de espaço possível do terreno natural para a infraestrutura

e atividades do canteiro de obras, procurando assim preservar ao máximo as áreas

verdes existentes, de modo a não causar diminuição da capacidade de infiltração de água

pelo solo.

O segundo aspecto a ser tratado diz respeito ao risco de desmoronamento, que

em geral, é consequência de taludes mal feitos, erosões em estágios avançados, entre

outros. Para evitar o risco, as construtoras devem projetar cuidadosamente os taludes e

proteger o solo através do uso de lonas.

Ao se tratar da geração de energia no canteiro de obras, normalmente pelo

emprego de geradores de combustão, temos como significativo impacto ambiental o

comprometimento da qualidade do ar devido a emissão de gases e a geração de ruídos

que trará incômodos para a vizinhança. A medida mais utilizada para reduzir o impacto é

a proteção dos geradores com tapumes, diminuindo assim o ruído iminente. Quanto ao

consumo de combustível, o gerador deve ser utilizado somente quando necessário,

desligando-o sempre que possível.

Outro aspecto a ser tratado são as construções provisórias, consideradas as áreas

de vivência e apoio, acesso à obra e tapumes. A qualidade paisagística é um dos

impactos causado pelas construções provisórias, dada a inserção de elementos como

tapumes no ambiente local, recomenda-se portanto a adoção de tapumes com menor

impacto visual. Outra preocupação é o uso de materiais e componentes não reutilizáveis

ou não recicláveis, que aumentam o consumo de recursos e a geração de resíduos no

canteiro de obras. Para reduzir tal aspecto, propõe-se o uso de componentes modulares

reutilizáveis para abrigar as construções provisórias ou até mesmo a utilização de

containers como escritórios ou área de vivência (ARAÚJO, 2009).

Dentre as ações que visam à redução dos impactos, sugere-se assegurar que

máquinas, veículos e equipamentos sejam submetidos a manutenções regulares. Limpar

as ferramentas,equipamentos, máquinas e veículos imediatamente após o uso, evitando o

uso de produtos perigosos e prevendo dispositivos que recuperem as águas utilizadas e

que possam ter outras finalidades na obra.

Por fim, as diretrizes decorrentes do armazenamento de materiais no canteiro

envolvem evitar as perdas, contaminações do meio ambiente e preservar a saúde e

segurança dos trabalhadores. Para tanto, recomenda-se proteger e manipular

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75

adequadamente os produtos, de forma a não danificá-los e prever segurança nas áreas

de armazenagem para evitar furtos e consequente desperdício de materiais.

5.3.2. Seleção de Recursos e Materiais

As diretrizes referentes ao aspecto ambiental “consumo de recursos” envolvem o

consumo de materiais, produtos e componentes, seleção de fornecedores, as perdas

incorporadas e o uso e destinação de embalagens.

Durante as obras de construção de um empreendimento é evidente a priorização

de produtos reutilizáveis, materiais recicláveis, desde que o processo de reciclagem não

cause maiores impactos que a extração e fabricação de novos e ainda a preferência pelo

uso de produtos produzidos localmente, evitando assim longos percursos para transporte

e consequente geração de gases poluentes.

A seleção de fornecedores também deve ser feita com critérios de

sustentabilidade, considerando as dimensões econômica, social e ambiental. Além do

custo, é necessário considerar a qualificação do fornecedor, verificando se a empresa

respeita o meio ambiente e incorpora ações sustentáveis no processo de extração,

fabricação e transporte. A prioridade deve ser dada a seleção de fornecedores que

utilizem os métodos construtivos que gerem consumo mínimo de energia e água e

àqueles de fácil controle, a fim de evitar perdas decorrentes do desperdício.

A proposta para a redução das perdas incorporadas envolve a racionalização da

produção, a gestão do consumo de materiais, o treinamento e a motivação dos

trabalhadores (SOUZA apud ARAÚJO, 2009).

Outra maneira de reduzir os impactos ambientais decorrentes do consumo de

recursos naturais é a utilização de ferramentas eletrônicas em substituição ao papel tanto

no processo de verificação das atividades do canteiro de obras como no

acompanhamento de projetos no campo. Essa prática vem sendo adotada cada vez mais

nos canteiros de obra de grandes construtoras.

Quanto ao consumo e desperdício de água no canteiro, possivelmente, deve-se

tomar precauções para que não haja esgotamento do lençol freático, já que a água,

possivelmente, será retirada do mesmo lençol que abastece a população local. Para evitar

que isso aconteça, recomenda-se a redução do consumo de água potável através da

diminuição da vazão nos pontos de utilização, empregando válvulas redutoras de

pressão, e também a limitação do consumo de água nos pontos de utilização, procurando

usar tecnologias e componentes economizadores nos pontos de uso da água. Tais ações

Page 76: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

76

são aplicáveis nas instalações provisórias e em outros pontos do canteiro, funcionando ao

longo de todo o período da obra e com a possibilidade de reaproveitamento dos

equipamentos (JOHN apud ARAÚJO, 2009).

Outra prática recomendada em obras de construção é a utilização de fontes

alternativas, como as águas pluviais, que pode ser utilizada para limpeza do canteiro,

irrigar plantas e outras finalidades não potáveis.

Ao se tratar do consumo e desperdício de energia, as principais formas de reduzir

ou mitigar os impactos ambientais são a utilização de fontes de energia renovável e de

aparelhos energeticamente eficientes. Por exemplo o uso de energia solar em chuveiros

dos vestiários é uma boa prática que minimiza o consumo de energia elétrica. Além disso,

outra forma de reduzir o consumo e desperdício de energia é integrar a iluminação e

ventilação artificial com a natural por meio de aberturas (ARAÚJO, 2009).

Parte das ações aplicadas depende do uso correto dos equipamentos, dessa

forma, propõe-se a promoção de campanhas educativas e palestras, envolvendo os

funcionários na gestão do consumo e orientando sobre as estratégias tomadas. É preciso

zelar para que não haja consumo desnecessário com luzes acesas, banhos longos em

chuveiros elétricos, aparelhos de ar-condicionado funcionando ininterruptamente, etc.

Devem ser promovidas no próprio canteiro de obras campanhas de conscientização para

sensibilizar e envolver os trabalhadores, de modo a evitar o desperdício.

5.3.3. Gestão de Resíduos Sólidos

Resíduo é o que sobra de algum processo ou de atividade, em estado sólido,

líquido ou gasoso. A NBR 9.896 da ABNT define resíduo como material ou resto de

material cujo proprietário ou produtor não mais considera como valor suficiente para

conservá-lo.

A gestão de resíduos sólidos é um conjunto de comportamentos, procedimentos e

propósitos que apresentam como objetivo principal a eliminação dos impactos ambientais

negativos, associados à produção e à destinação do lixo. A gestão de resíduos sólidos

pode diminuir, e em alguns casos evitar, os impactos negativos decorrentes das

diferentes atividades, propiciando níveis crescentes de qualidade de vida, saúde pública e

bem estar social, além de gerar uma redução das despesas de recuperação das áreas

degradadas, da água e do ar poluídos, possibilitando a aplicação desses mesmos

recursos em outras áreas de interesse da população (NOSCHANG et al., 2009).

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77

A Resolução CONAMA 307/2002 estipula que o gerador destes resíduos tem

como objetivo principal a não geração destes e, secundariamente, a redução, a

reutilização, a reciclagem e a destinação final dos mesmos. Devem ser escolhidos

materiais e componentes que gerem poucos ou nenhum resíduo e que possam ser

lançados no solo, água ou ar, e ainda que seja dada preferência a materiais reciclados ou

recicláveis. Assim, quando a geração do resíduo é inevitável, se faz necessária a

reciclagem do material descartado. Há pesquisas e processos que possibilitam a

utilização com a implantação de usinas de reciclagem e que podem substituir muitos

materiais. Os principais usos do material reciclado oriundo de RCD são (MARQUES

NETO apud NOSCHANG et al., 2009):

• Uso em pavimentação: o entulho da construção é utilizado em forma de brita ou em

mistura dos resíduos com o solo em bases, sub-bases e revestimentos primários de

pavimentação. Suas vantagens são utilização de todos os componentes minerais do

entulho sem necessidade de separação, utilização de resíduos oriundos de pequenas

obras e demolições que não reciclam seus resíduos no próprio canteiro de obras e

ainda a maior eficiência em relação às britas em alguns tipos de solo.

• Utilização como agregados de concreto: o material reciclado e devidamente

granulado pode ser utilizado em concreto com função não estrutural desde que livres

de contaminantes e impurezas numa proporção de 20%, o que não interfere na

resistência mecânica e na durabilidade dos concretos, podendo ser utilizado em

blocos, meio-fio, e outros materiais não estruturais.

• Utilização como agregado para argamassas: os agregados oriundos de RCD podem

ser usados em argamassas de assentamento, revestimentos internos e externos

(chapisco, emboço e reboco), ainda com as vantagens da redução de custos de

transporte, consumo de cimento e cal e ganho na resistência à compressão do material

reciclado em relação às argamassas convencionais.

A Resolução CONAMA 307/2002 estabelece como instrumento de gestão de

resíduos o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Dessa

maneira é fundamental que as construtoras procurem no município em que o canteiro de

obras está instalado o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção

Civil e execute, para cada obra, o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção

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78

Civil, de forma a controlar e propor ações mitigadoras dos impactos gerados pelos

resíduos da construção.

5.3.4. Incômodos e Poluição

Diversos resíduos perigosos podem estar presentes nos entulhos provenientes da

construção e demolição, por exemplo, latas de tinta ainda com material dentro; resíduos

de óleos, graxas e fluidos, baterias, lâmpadas fluorescentes, madeiras tratadas, etc. É

importante atentar para que os resíduos perigosos passem por cuidadoso processo de

triagem e sejam corretamente acondicionados, evitando contaminações de resíduos

inertes e para que recebam os cuidados necessários. O maior cuidado é impedir com que

estes adentrem a rede de esgotos e atinjam o terreno natural, evitando assim a poluição

do solo e da água (ARAÚJO, 2009).

Ao tratar do aspecto das vibrações e emissões de ruídos, recomenda-se que a

faça em períodos que causem menores incômodos e buque maneiras de reduzi-la, seja

pelo monitoramento do nível do ruído, até mesmo a troca do material ou do método

construtivo. Os ruídos e vibrações são fontes de danos à saúde do trabalhador,

incômodos à vizinhança e patologias em edificações próximas ao canteiro de obras,

devendo, portanto, serem reduzidos ao máximo.

A qualidade do ar está diretamente relacionada às emissões atmosféricas e às

dispersões atmosféricas da região considerada. Os padrões de qualidade do ar que

devem ser mantidos são definidos na legislação brasileira federal e estadual.

Para acompanhamento da qualidade do ar da região é necessário conhecer o

comportamento ambiental antes e durante a fase de construção do empreendimento,

promovendo medições periódicas em locais pré-determinados. É proposto o programa de

monitoramento da qualidade do ar com implantação de estações de amostragem em local

a ser definido.

Com o objetivo de minimizar a geração de poeira, as vias de acesso ao local das

obras e, mesmo as pilhas de materiais (quando se tratar de materiais não reagentes com

água), deverão ser constantemente umedecidas por carro pipa. Sempre que possível, a

vegetação existente nas áreas deverá ser mantida para funcionar como absorvente de

poluentes e minimizar a erosão do solo e os efeitos delas resultantes sobre a qualidade

do ar (SOUTO, 2012).

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79

5.4. Matriz Aspecto x Impacto

Um das principais medidas utilizada pelas empresas construtoras para controlar os

impactos ambientais e priorizar as ações que venham reduzir ou mitigar os mesmos é a

Matriz Aspecto x Impacto. Após a descrição e análise eficaz dos aspectos e impactos

ambientais do empreendimento, é necessário correlacioná-los de forma a definir qual

aspecto gera cada impacto. Para isso, propõe-se o uso da matriz de correlação. Esta

apresenta os aspectos em suas linhas e os impactos em suas colunas. Para cada

aspecto, deve-se analisar cada impacto, verificando se há correlação entre eles (Figura

12). Por isso é chamada de “Matriz Aspecto x Impacto” ou “Matriz A x I” (ARAÚJO, 2009).

Figura 12: Matriz de Correlação "A x I" (fonte: ARAÚJO, 2009)

Segundo ARAÚJO, 2009, uma vez entendidas as razões para se preocupar com

cada aspecto e impacto ambiental, é necessário adequar as relações e os graus de

importância às condições da cada canteiro de obras. Assim, devem-se classificar os

impactos ambientais, a fim de conhecer as intensidades e frequência desses, e suas

consequências para os meios físico, biótico e antrópico do local onde a obra está inserida,

para então priorizá-los.

A opção sobre a melhor maneira de reduzir ou eliminar um impacto pode

acontecer segundo critérios e prioridades pré-estabelecidas – custos, redução dos

impactos negativos ou potencialização dos impactos positivos. Embora possua limitações,

esta postura permite uma ordenação rápida das alternativas, supondo-se que seja

possível associar-se uma escala de ponderação representativa dos interesses priorizados

envolvidos.

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80

6. Estudo de Caso

6.1. Aspectos Gerais

O estudo teve início com uma visita ao local onde será implantado o

empreendimento Ilha Pura, visando a identificação da região e coleta de informações do

local da 1ª fase de implantação. Foi realizada, então, entrevistas e buscas com a empresa

construtora que possibilitaram o acesso a pesquisas sobre a região, envolvendo dados

como vegetação, uso do solo, geologia, etc. Estes dados, aliados à revisão bibliográfica

envolvendo os aspectos e impactos ambientais de canteiros de obras, forneceram

informações que possibilitaram a identificação das interferências negativas que poderiam

ocorrer na etapa de execução das obras de construção do empreendimento.

Posteriormente foram identificadas as causas de tais interferências e as medidas

aplicadas pela empresa construtora para a redução ou mitigação das mesmas.

É importante ressaltar que apesar deste estudo abranger somente a fase

construtiva, é importante que sejam observadas e consideradas as boas práticas ao longo

de toda a etapa de projetos, bem como as medidas que serão implantadas futuramente já

na fase de ocupação do Bairro Planejado.

6.2. O Bairro Ilha Pura

A Vila dos Atletas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2013 está inserida no

Bairro Ilha Pura, localizada na zona oeste da Cidade do Rio de Janeiro, na Barra da

Tijuca, em uma área com aproximadamente 870 mil m², a 35 km do centro da cidade. Á

área é avizinhada por paisagens naturais e limitada por empreendimentos residenciais e

um centro de convenções.

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Figura 13: Localização do Bairro Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)

Com capacidade total de acomodação para 18 mil atletas, começou a ser

construída em 2012 e tem prazo de entrega para dezembro de 2015. As instalações

terão, ao todo, 31 prédios residenciais, divididos em sete condomínios. Além dos 3.604

apartamentos de dois, três e quatro quartos, a Vila terá também um parque público de 72

mil metros quadrados, com projeto de paisagismo assinado pelo escritório Burle Marx.

Como não há padrão urbano estabelecido na área, a Ilha Pura definirá a qualidade de

vida urbana da região. Após o período dos jogos, as unidades residenciais desenvolvidas

nos condomínios, farão parte do estoque de moradias da cidade, sendo integradas ao

mercado imobiliário. Por se tratar de um local costeiro de baixa altitude, os riscos futuros

de mudanças climáticas neste local devem ser considerados para garantir a longevidade

da nova comunidade (RELATÓRIO ILHA PURA, 2012).

Figura 14: Lotes e Tipologias das Edificações - 1ª Fase Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)

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82

A estrutura de sustentabilidade da Ilha Pura foi desenvolvida a partir de 6 pilares,

visando compreender as problemáticas mais relevantes na busca de um empreendimento

sustentável. Os pilares são: Meio ambiente e sociedade, redução de gases de efeito

estufa, eficiência no uso da água, eficiência energética, materiais e resíduos e mobilidade,

que deverão ser tratados inclusive durante a fase de construção do empreendimento.

Para o desenvolvimento dos projetos, estes pilares são desdobrados em dez

temas (Figura 15), visando estabelecer diretrizes mais focadas em torno de problemáticas

de projeto, como mostrado no diagrama a seguir:

Figura 15: Temas para Desenvolvimento de Projetos (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)

Dentro de cada tema, há uma série de subtemas, objetivos e estratégias, o que

permitirão que a Ilha Pura avance para sua visão de sustentabilidade a longo prazo. Os

seguintes itens serão abordados nesse estudo e descrevem as oportunidades e

indicadores que podem ser usados para acompanhar o andamento conforme o projeto

avança:

a. A Redução de GEE (Gases de Efeito Estufa) deve permear todas as iniciativas

relativas à construção do empreendimento, principalmente em relação às técnicas

construtivas, logística e escolha de materiais;

b. Meio ambiente e Sociedade no desenvolvimento do projeto se reflete na busca pela

qualidade de vida, acessibilidade universal, análise do território e contexto local.

c. A Eficiência Energética, considerando a prioridade por técnicas passivas de projeto é

dividida em 3 seções: Inserção Urbana, Projeto e Conforto e a própria Eficiência

Energética dos edifícios , contudo, a ênfase é dada para as duas primeiras seções;

d. Gestão de Água se reflete em estratégias ativas de projeto;

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83

e. Materiais e Resíduos aborda a conservação de recursos materiais e a gestão dos

resíduos sólidos urbanos;

f. Mobilidade abrange transporte e conectividade.

Por meio da adoção de inúmeras soluções inovadoras que tem como objetivo o

uso racional de recursos e redução do impacto ambiental e social, a Ilha Pura se tornou

o primeiro bairro planejado da América Latina a receber a Certificação LEED for

Neighborhood Development (LEED para Desenvolvimento de Bairros).

O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema

internacional de certificação e orientação ambiental para edificações, utilizado em 143

países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das

edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações. Segundo o Green

Building Council Brasil, a certificação determina 7 dimensões a serem avaliadas nas

edificações. Todas elas possuem pré requisitos obrigatórios e créditos, que quando

atendidos garantem pontos a edificação. O nível da certificação é definido conforme a

quantidade de pontos adquiridos. Os benefícios da aquisição da certificação são

econômicos, sociais e ambientais, já que podem reduzir custos operacionais, além de

incentivar a implantação de medidas que redutoras de impactos ambientais.

A certificação integra princípios de crescimento planejado e inteligente, urbanismo

sustentável e edificações verdes, em diferentes tipologias de edificações e mistura de

usos dos espaços urbanos.

6.3. Aspectos e Impactos Ambientais das Obras de Construção

Para a identificação de aspectos e a avaliação de impactos ambientais, a Ilha Pura

utiliza a sistemática obtida através da Planilha de Identificação de Aspecto e Avaliação de

Impacto Ambiental, que segue a metodologia abaixo:

I. Identificação das atividades em potencial para análise;

II. Identificação dos impactos associados às atividades, produtos ou serviços;

III. Caracterizar conforme critérios adotados na metodologia empregada;

IV. Determinação e/ou reavaliação do controle necessário; e

V. Divulgação aos envolvidos.

Page 84: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

84

Com base nos dados obtidos nos relatórios da empresa construtora, foram

identificados os aspectos ambientais mais relevantes que provavelmente serão gerados

por determinadas atividades de construção do empreendimento, produtos ou serviços.

Dessa forma, foi possível correlacioná-los com seus respectivos impactos ambientais por

meio das tabelas 3, 4, 5 e 6, subdivididas de acordo com as atividades ou processos do

ciclo imobiliário: Incorporação, Administrativo-Financeiro, Construção e Engenharia.

Tabela 3: Aspectos e Impactos Ambientais - Incorporação e Administrativo Financeiro (fonte: Autor,

2014)

Processo SubprocessoAtividade, Produto e

ServiçoAspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)

Consumo de energia elétricaRedução dos recursos

naturais

Geração de Resíduos Sólidos (papel, plástico...)Alteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Consumo de energia elétricaRedução dos recursos

naturais

Geração de Resíduos Sólidos (Papel)Alteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Transbordo do sistema fossa filtroAlteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Consumo de águaRedução dos recursos

naturais

Geração de Residuos Sólidos (embalagens de alcool, detergentes)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Descarte de água Redução de recursos naturais

Consumo de energia elétricaRedução dos recursos

naturais

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Geração de Resíduos Sólidos (papel, plástico...)Alteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Alteração no mercado de trabalho

Alteração no mercado de bens e serviços local

Atendimento ambulatorial

Geração de Resíduos Sólidos (infectantes)Alteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Vazamento de óleoAlteração da qualidade do

solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Relacionamento com a comunidade

Projetos socio-ambientais

Saúde Ocupacional

Transporte de paciente

Inco

rpo

raçã

o

Incorporação / Estudos Econômicos /

Licenciamento / Marketing / Vendas

Atividades administrativas

Ad

min

stra

tivo

-Fin

ance

iro

Adminstrativo

Atividades administrativas

Limpeza de Fossa Filtro

Limpeza de caixa d'água e de bebedouros

Finanças / Jurídico / Recursos Humanos/

Tecnologia da Informação / Pessoas e

Organização

Atividades administrativas

Page 85: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

85

Tabela 4: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014)

Processo SubprocessoAtividade, Produto e

ServiçoAspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos (papel, plastico...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Estocagem de materiais Geração de Resíduos Sólidos (EPI) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Recebimento, armazenamento de

materiais Geração de resíduos sólidos (embalagens, lonas, madeira...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos (orgânicos) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Aplicação de tintura Geração de Resíduos Sólidos (Classe I) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos alvenaria Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de resíduos (tinta, solvente, embalagens, lixas) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de resíduos de gesso Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de resíduos (cerâmico e granito) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas

Geração de poeira Alteração da qualidade do ar.

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Instalação de esquadrias

Geração de resíduos de vidros, madeira e aluminio Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Lavagem da Fachada Consumo de água Redução dos recursos naturais

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Rebaixamento do lençol freático

Alteração da qualidade da água subterrânea

Alteração da qualidade da água

Erosão

Sobrecarga dos cursos d'água Alteração da fauna aqúatica

Geração de Resíduos sólidos (Sobras de concreto do cocho e apicoados)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Impermeabilização de estruturas

Geração de resíduos contaminados (seladores) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Não-recicláveis (bidins) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de Resíduos Sólidos (madeiras, madeirite plastificado...)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos (sacos de argamassa, cimento, sobras de blocos, cerâmicas...

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Armazenagem de Materiais

Geração de Resíduos Sólidos (lonas, blocos ...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Co

nst

ruçã

oC

on

stru

ção

Produção / Execução de Forma, escoramento e

desforma

Execução de Forma, Escoramento e

Desforma

Produção / Alvenaria de Vedação em Blocos de

Concreto

Assentamento da Alvenaria

Co

nst

ruçã

o Produção / Execução e Operação de Poços

para o Rebaixamento do lençol Freático

Operação do sistema de poços

Esgotamento por Bombeamento das águas subterrâneas

Co

nst

ruçã

o

Produção / Concretagem

Concretagem

Cura do concreto

Produção / Acabamento

Elevação de alvenaria

Pintura

Colocação de gesso

Revestimento cerâmico

LogísticaTranporte interno de

materiais (deslocamento)

Produção /Supra Estrutura

Utilização de equipamentos pesados

Produção / Paisagismo e Decoração

Execução do paisagismo

Co

nst

ruçã

o

Controle da Qualidade Medição/monitoramento

Qualidade / Suprimentos /Segurança do trabalho

Atividades administrativas

Page 86: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

86

Tabela 5: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014)

Processo SubprocessoAtividade, Produto e

ServiçoAspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)

Geração de resíduos sólidos (conduites, cabos, caixas de passagem...)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos classe I (embalagens de selante ...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Descarte de lâmpadas queimadas Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos (reator, soquete, lampada quebrada..)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos classe I (adesivo plastico, pasta lubrificante...)

Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Soldagem Geração de resíduos contaminados (pontas de eletrodo) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Aplicação de tintura Geração de Resíduos Sólidos (Classe I) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de efluente líquido Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de efluente líquido Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Estacionamento / Execução de meio-fio

Geração de resíduos classe II (sobras de concreto) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Estacionamento / Aplicação de emulsão

asfálticaGeração de resíduos classe I Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de esgoto Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de Resíduos Solidos (não-recicláveis...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos sólidos (solo) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de poeria Alteração da qualidade do ar.

Geração de resíduos de nata (agua e cimento) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Corte / Armação Geração de Resíduos de sucata Alteração da qualidade do solo

Soldagem Geração de Resíduos (pontas de eletrodos..) Alteração da qualidade do solo

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Abastecimento de óleo Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos (papel, plástico...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Co

nst

ruçã

o

Produção / Instalações Elétricas e Hidráulicas

Comercial/ Orçamento/ Planejamento/ Custos/

Projetos

Atividades administrativas

Sustentabilidade Gestão de Resíduos

Central de aço

Co

nst

ruçã

o /

Pro

du

ção

Oficina

Limpeza de equipamentos/

Lubrificação/ Usinagem/ Borracharia/ Mecânica/

Elétrica

CD - Centro DistribuiçãoArmazenagem de

Materiais

Co

nst

ruçã

o

Produção / Construção de Alojamento

Escavação/ Construção de Aterro/ Reaterro/

Compactação/ Concretagem

Co

nst

ruçã

o /

Pro

du

ção

Central de Concreto

Central Misturadora

Recicladora

Distribuição por bentoneira

Co

nst

ruçã

o

Produção

Lava-rodas

Bate-lastro

Estacionamento / Terraplanagem

Co

nst

ruçã

o

Produção

Refeitório/ Cozinha Industrial/ Banheiros /

Vestiários

Sondagem

Co

nst

ruçã

o

Instalações Elétricas

Troca de Lâmpadas

Instalções hidraúlica

Page 87: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

87

Tabela 6: Aspectos e Impactos Ambientais - Engenharia (fonte: Autor, 2014)

Pode-se observar, a partir dos dados das tabelas, que os principais impactos

ambientais decorrentes das obras de construção do empreendimento são a redução dos

recursos naturais com o alto consumo de água e energia elétrica, a alteração da

qualidade do solo e dos recursos hídricos devido ao elevado índice de geração de

resíduos sólidos e a alteração da qualidade do ar por conta da emissão de particulados

em diversas atividades.

Diante da avaliação da severidade dos Impactos ambientais, percebe-se que a

alteração da qualidade do solo e dos recursos hídricos pode ser classificada, na maioria

dos casos, como grau de severidade baixa, devido à abrangência apenas local e

facilidade de reversão com aplicação de ações de controle. Apesar disso, alguns aspectos

ambientais decorrentes da fase de construção, tais como vazamento de óleo, tranbordo

do sistema fossa filtro e a geração de resíduos sóligos agressivos (lixo eletrônico, tinta,

Processo SubprocessoAtividade, Produto e

ServiçoAspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)

Consumo de material de empréstimo Redução dos recursos das jazidas

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Construção do ViveiroGeração de resíduos sólidos (sobras de concreto,

embalagens...)Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Instalação elétrica Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Instalação hidraulica Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Geração de resíduos sólidos (sobras de concreto) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de residuos classe I (agrotóxicos ..) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Consumo de água Redução dos recursos naturais

Geração de resíduos (embalagens plásticas) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Alteração no mercado de trabalho

Alteração no mercado de bens e serviços local

Plantio de mudas Recomposição de flora

Projetos Sociais Qualificação de mão-de-obra Alteração no mercado de trabalho

Consumo de energia elétrica Redução dos recursos naturais

Geração de Resíduos Sólidos (papel, plastico...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico

Incêndio Alteração da qualidade do ar.

Geração de renda

Gestão de ProjetosAtividades

administrativas

En

gen

har

ia

Viveiro da Ilha Pura

Terraplanagem/ Drenagem/ Aterro

Montagem da estufa

Área de Apoio / Viveriro

Refeitório

Vestiário

Produção de mudas

Page 88: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

88

solventes, cerâmica, cimento, entre outros) podem agravar a severidade do impacto

ambiental, tornando-o de média magnitude, sendo portanto capaz de alterar a qualidade

ambiental da região, mas ainda assim reversível com a aplicação adequada de ações

mitigadoras.

A redução de recursos naturais devido ao consumo elevado de água e energia

pode ser considerado um impacto ambiental trivial e de severidade baixa, apresentando

ações de controle diante da alta frequência de ocorrência. Apesar disso, o elevado

consumo de água durante a cura do concreto, o alto índice de descarte de água com a

limpeza de equipamentos e bebedouros e a ainda o consumo excessivo em refeitórios e

vestiários devem ser tratados com cautela, pois dependendo da frequência podem se

tornar de abrangência regional e causar impactos nos limites da obra, tornando-se

portanto de média magnitude.

Dentre os principais impactos ambientais decorrentes da obra de construção do

empreendimento em estudo, o que apresenta maior preocupação é a alteração da

qualidade do ar, pois na maioria dos casos é tratado como um impacto de severidade

média, que pode gerar degradação ambiental com consequências para os negócios e até

mesmo para imagem da empresa. A possível ocorrência de incêndios, a emissão de

particulados e a geração de poeira são os principais aspectos agravantes e, portanto

devem ser controlados de maneira adequada.

O presente estudo descreve, em seguida, algumas medidas implantadas nas

obras de construção com objetivo de reduzir ou até mesmo mitigar esses impactos e as

formas de controle utilizadas pela empresa para monitorá-los.

6.4. Monitoramento dos Impactos

A primeira medida de controle tomada pelas empresas responsáveis pelo

empreendimento Ilha Pura consiste na contratação de consultores para auxiliar no

desenvolvimento de uma gestão sustentável. Empresas com experiência no mercado são

contratadas para estabelecer diretrizes de sustentabilidade e guiar a obra perante as

atualizações normativas e legislações ambientais. Ao verificar todos os requisitos legais

necessários, esses são encaminhados para os responsáveis pela construção

empreendimento para o desenvolvimento de planos de ação para atender às exigências.

A partir das diretrizes informadas, mensalmente a equipe de sustentabilidade da

obra elabora um "Painel de Gestão de Sustentabilidade", uma ferramenta de gestão de

consumos de água, energia e resíduos, com base em indicadores. A gestão de

Page 89: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

89

indicadores tem como objetivo minimizar o impacto ambiental e otimizar o uso de recursos

naturais durante o planejamento e execução das obras da Ilha Pura Empreendimentos

Imobiliários S.A., assim como verificar a eficácia das propostas, programas e ações da

equipe de sustentabilidade.

Como a Ilha Pura consiste em um conjunto de 7 condomínios distintos, esse painel

é encaminhado para os gerentes de produção e responsáveis de engenharia de cada

condomínio do empreendimento, possibilitando a análise crítica e incentivando ações de

melhoria contínua.

As iniciativas aplicadas na Ilha Pura contemplam a implantação de usinas de

concreto no canteiro de obras, redução na geração e reuso dos resíduos, redução do

impacto na utilização de recursos hídricos e energéticos; diminuição da emissão de gases

de efeito estufa (GEE), e o recrutamento e capacitação da mão de obra do entorno. Além

das práticas sustentáveis na construção do Bairro, o projeto do empreendimento

incorpora inovações visando a utilização racional de energia e de água, principalmente.

6.4.1. Gestão de Resíduos Sólidos

Segundo a Resolução CONAMA 307, os resíduos da Construção Civil são

classificados da seguinte forma:

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de

infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos

(tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto

(blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,

papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais

como os produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como:

tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições,

reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

Page 90: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

90

Na Ilha Pura, algumas ações foram tomadas para garantir a gestão adequada dos

resíduos de classe A dentro do canteiro de obras. Como pode-se verificar na Figura 16,

essa classe corresponde a 40% do total de volume gerado pelos resíduos da construção

civil nas obras da Vila dos Atletas. Na 1ª fase de implantação da Ilha Pura, todos os

resíduos Classe A gerados na etapa de infraestrutura foram reutilizados dentro do

canteiro de obras. As sobras de concreto foram utilizadas para a construção de pré-

moldados como vergas, contravergas, newjersey, entre outros.

Quando não podem ser reutilizados, os resíduos recicláveis são enviados às

cooperativas de reciclagem, enquanto os resíduos orgânicos do canteiro são coletados

por empresas parceiras e transformados, por meio da técnica da compostagem, em

adubo que será utilizado na próxima etapa do empreendimento, a construção do Parque.

Figura 16: Previsão de Geraçao de Resíduos Sólidos da Vila dos Atletas (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)

6.4.1.1. Beneficiamento de Resíduos

Uma das ações tomadas como solução para o tratamento dos resíduos Classe A

foi o beneficiamento interno. O beneficiamento consiste na separação do concreto das

armações metálicas, redução do tamanho, britagem e triagem dos resíduos. Dessa forma,

os resíduos são transformados em materiais que podem ser reaproveitados dentro do

próprio canteiro de obras como substituto ao agregado natural, bica corrida mista (BCM),

para uso como base e sub-base em vias de acesso.

O beneficiamento interno contribuiu com a redução do consumo de recursos

naturais, das emissões de gases de efeito estufa e do trânsito de caminhões no entorno

da obra. Além disso, possibilitou uma economia de custo com a compra de agregados

naturais e com o transporte e a destinação desses resíduos.

Page 91: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

91

6.4.2. Recursos Hídricos

A gestão de recursos hídricos no canteiro de obras da Ilha Pura é feita por meio do

cálculo da chamada "pegada hídrica". A ferramenta indica o impacto da construção na

bacia hidrográfica onde ela está situada. Dessa forma, é possível mensurar o volume

necessário para assimilar a carga de poluentes com base nos padrões de qualidade

ambiental da água locais.

Cada condomínio é controlado com hidrômetros inidividuais, para que o consumo

de água possa ser analisado separadamente e o Painel de Gestão seja elaborado com

indicadores precisos de cada condomínio e o consolidado de todo empreendimento. A

Ilha Pura conta, ainda, com uma estação de reuso de águas cinzas, para tratar a água

dos chuveiros e lavatórios utilizando-a nas bacias sanitárias. Além disso, para umectação

das vias de serviço há um sistema de coleta de águas pluviais através de calhas nos

telhados das instalações do canteiro de obras.

Ainda para gestão dos recursos hídricos, a Ilha Pura conta com uma recicladora

de concreto, através da qual cerca de 50% da água usada para o concreto é proveniente

da recicladora.

6.4.2.1. Usina e Recicladora de Concreto

Para atender a demanda de concreto da obra, uma unidade de produção foi

instalada no canteiro da Ilha Pura. A construção irá demandar cerca de 450 mil metros

cúbicos de concreto, o equivalente a 173 piscinas olímpicas. A usina de concreto reduz o

impacto da circulação de caminhões no tráfego do entorno e reduz em aproximadamente

1.200 toneladas as emissões de CO2.

Além da construção da usina de concreto, veio a implantação do sistema de

reciclagem, previsto para reciclar todas as sobras de concreto nos caminhões-betoneira

da frota utilizada na Vila dos Atletas. A recicladora possibilitará à Ilha Pura a economia de

aproximadamente 16.000 m³ de água tratada, fornecida pela concessionária.

Com a implantação da Unidade Recicladora (Figura 17) é possível reutilizar a água

proveniente da limpeza dos balões dos caminhões-betoneira. Sua composição, rica em

finos (predominantemente partículas da composição do cimento), após o devido

tratamento pelas instalações da Unidade Recicladora está sendo incorporada ao traço do

concreto produzido na Usina da Ilha Pura.

Page 92: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

92

Quando o caminhão betoneira se aproxima, o funcionamento da recicladora é

automaticamente acionado. Com a ajuda de vibradores o concreto residual chega no

tambor de lavagem, sendo possível descarregar até 2 caminhões simultaneamente. Os

postes injetores de água limpa são acionados através de um quadro de comando pelo

operador, despejando 200 litros de água dentro do balão do caminhão-betoneira e

lavando o concreto residual por princípio de contra-corrente. Através de canaletas

vibratórias, a mistura com granulometria maior que 0,2 mm é separada e sai do tambor.

Assim, a água residual (água rica) restante contém componentes do concreto com

agregados finos, menores que 0,2 mm. Após a água ir para o tanque com agitador, a

mesma fica em constante movimento. Desta forma, impede-se a sedimentação dos

componentes finos e possibilita a reutilização da água para fabricação de um novo

concreto.

Atualmente utiliza-se um blend de 50% de água potável e 50% de água resultante

da recicladora o que já suficiente para o aproveitamento de toda a água reciclada e,

paralelamente, ainda permite manter-se o ambiente do entorno da Central muito mais

seco e limpo.

O equipamento proporciona ainda uma redução na geração de resíduos sólidos,

redução no tempo de limpeza das betoneiras e no ciclo de produção da Central de

Concreto, tornando ainda o ambiente muito mais bem organizado. Detectou-se também,

porém em fase de estudos comprobatórios, que com a utilização de água reciclada, o

concreto produzido pode estar incorporando ligeira melhora na resistência,

principalmente, aos 28 dias.

Dessa forma, como resultado da implantação da Unidade Recicladora temos a

preservação de água, com economia de volume de água a ser utilizado de água tratada

pela concessionária, reaproveitamento de agregados que seriam descartados, além da

preservação das jazidas utilizadas na produção de cimento com agregados.

Figura 17: Recicladora de Concreto (fonte: Arquivos Ilha Pura, 2014)

Page 93: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

93

6.4.3. Consumo de Energia Elétrica

Para reduzir o consumo de energia elétrica no canteiro de obras, algumas

soluções foram aplicadas. O uso de aquecedor eficiente, a partir da instalação de placas

de coletor solar vem sendo utilizado para aquecer a água dos vestiários, dispensando

assim a utilização de energia elétrica nos chuveiros.

Além disso, todas as instalações são abastecidas com aparelhos eficientes,

lâmpadas LED, proporcionando até 80% de economia de energia elétrica mensalmente.

Para controle da equipe de sustentabilidade da obra, foram instalados medidores de rádio

frequência nas entradas de alimentação de energia de cada condomínio.

6.4.4. Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE)

Assim como a água, as emissões de gases de efeito estufa gerados pela obra e

pela cadeia de fornecedores também são monitorados. Além de contabilizar as emissões

ao final da obra, a Ilha Pura tem um programa para a redução das emissões de GEE com

metas e planos de ação específicos.

6.4.5. Cadeia de Suprimentos

Para garantir que todo o processo construtivo seja sustentável, a Ilha Pura

seleciona fornecedores que tenham desempenho ambiental satisfatório. A iniciativa

garante a manutenção da sustentabilidade em todo o processo de construção e estimula

que as empresas busquem melhorias contínuas.

6.4.5.1. Capacitação de Mão de Obra

Por meio do programa Acreditar, desenvolvido pela empresa responsável, a Ilha

Pura capacita moradores do entorno para atuarem na obra. Desde novembro de 2012, a

Ilha Pura inscreveu 1364 mil candidatos e formou 170 profissionais. O programa Acreditar

foi desenvolvido com objetivo de colaborar para o desenvolvimento das regiões onde atua

e atender às demandas de seus negócios em todo o Brasil.

Page 94: estudo de aspectos e impactos ambientais nas obras de construção ...

94

6.4.6. Educação Ambiental

A Ilha Pura, através das equipes de P&O – Pessoas e Organização e de

sustentabilidade mantém um Plano de Educação Ambiental para implantar um sistema de

educação ambiental para os integrantes e parceiros em todos os níveis organizacionais. A

educação ambiental faz parte da Integração, TDT, e outros eventos realizados no

canteiro, sempre fazendo a ponte entre as atividades de obra e de todos os envolvidos.

Alguns temas a serem abordados:

a. Visão geral de meio ambiente e seus benefícios no cotidiano (podem ser incluídos

assuntos como ciclos da natureza, fauna e flora, ecossistemas, etc.);

b. Coleta seletiva;

c. Contaminação de solos;

d. Qualidade do ar nos ambientes de obra;

e. Preservação dos corpos d’água;

f. Produtos contaminantes;

g. Impactos à saúde no uso de determinados materiais (amiantos, lãs minerais, etc.);

h. Benefícios de um edifício sustentável;

i. Fauna;

j. Aquecimento Global;

k. Visão de Sustentabilidade da Ilha Pura.

A realização das atividades de educação ambiental são registradas em forma de

lista de presença, com os temas abordados.

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95

7. Considerações Finais

O setor da construção civil contribui significativamente para a modificação do

espaço em que vivemos, sendo, portanto, responsável por alterações climáticas e pela

produção de resíduos e sedimentos que impactam de maneira crucial o meio ambiente. A

crescente busca pela construção sustentável resultou na elaboração de estratégias para o

segmento, que ajudam a direcionar a aplicação de iniciativas sustentáveis nas

construções, permitindo inclusive a obtenção de certificados ambientais. Tais estratégias

tem como objetivos minimizar os impactos ambientais negativos, porém ainda não

solucionam todos os problemas gerados pelo setor.

No Brasil, a adoção de estratégias sustentáveis em todas as fases do ciclo

produtivo de um empreendimento vem sendo absorvida aos poucos pelas empresas

construtoras. Alguns ainda a utilizam para a valorização do produto final, podendo obter

maior retorno do investimento, e outros já demonstram a real preocupação ambiental

associada aos benefícios econômicos.

Como pode ser observado neste estudo, a fase de construção de um

empreendimento é responsável pela maior parte dos impactos ambientais gerados. Dessa

forma, o canteiro de obras merece ser tratado com cuidado e responsabilidade,

observando-se todos os possíveis danos gerados durante a construção e as medidas

adotadas para evitá-los.

Além disso, os estudos ambientais mostraram ser de suma importância, pois, por

meio deles podemos ter resultado maior na preservação de recursos naturais como a

água, o solo, o ar, fauna e flora, haja visto que para cada impacto se demanda ações

rápidas e especificas que muitas vezes só se tem resultados positivos se executados

antes da implantação do empreendimento. Ao se conhecer todos os impactos que podem

ser causados durante a fase de obras, o empreendedor deve priorizá-los para estabelecer

quais desses impactos serão tratados e com que intensidade. Tendo isto estabelecido,

pode-se definir as tecnologias e ações gerenciais necessárias para tanto, recursos e

ferramentas a serem implementados, equipamentos a serem comprados, profissionais a

serem treinados ou contratados e prazos e custos envolvidos.

Durante a apresentação desse trabalho foi realizado um estudo de caso na busca

de evidenciar as principais ações utilizadas para minimizar ou até mesmo mitigar os

impactos ambientais negativos causados pelas obras de construção da Vila dos Atletas.

Pelo empreendimento escolhido, foi possível levantar os aspectos e impactos ambientais

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96

mais relevantes em obras da construção civil e analisar as principais práticas sustentáveis

realizadas por empresas do segmento.

A Matriz de Aspectos e impactos ambientais mostrou-se uma ferramenta bastante

útil para a gestão ambiental relacionada às atividades da empresa. A partir do

conhecimento proporcionado por este estudo, uma empresa pode estabelecer metas e

objetivos adequados, focados a redução dos impactos gerados por suas atividades.

Portanto, tendo sido caracterizado o consumo de recursos naturais decorrente das

atividades construtivas, verifica-se a necessidade de ação por parte das empresas

construtoras no sentido de controlar este consumo. Para tanto, sugere-se o controle do

desperdício de recursos na fase de produção e, principalmente, a atuação mais efetiva

das empresas construtoras durante a fase de planejamento, ocasião em que são

selecionados os materiais, os fornecedores, as tecnologias construtivas e na qual também

é feita a caracterização dos sistemas prediais – sendo, todos estes, fatores determinantes

para o bom desempenho ambiental e para a extensão da vida útil do empreendimento. Ao

visar a construção sustentável é essencial que a etapa de execução seja um dos focos,

possibilitando que o canteiro de obras gere o mínimo de impactos ao meio ambiente.

As recomendações para trabalhos futuros referem-se a uma pesquisa junto aos

órgãos competentes para que sejam identificados os requisitos legais relacionados aos

aspectos ambientais da empresa e assim adotados sistemas de gestão ambiental

eficazes, minimizando os impactos ambientais decorrentes das atividades construtivas.

Além disso, propõe-se a aplicação de ferramentas como a ACV (Avaliação do

Ciclo de Vida), que consiste em avaliar os impactos ambientais de um produto ou

empreendimento desde a aquisição da matéria-prima ou geração de recursos naturais até

a disposição final do mesmo.

Ainda no que diz respeito a trabalhos futuros, após a análise das ações

mitigadoras dos impactos ambientais adversos, recomenda-se a quantificação dos

resultados obtidos. Com base em indicadores, é possível elaborar uma matriz quali-

quantitativa para identificar a real redução dos impactos no meio ambiente e os possíveis

ganhos financeiros com a adoção de medidas de controle.

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