ESTUDO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANO DE...

130
ESTUDO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANO DE NEGÓCIO PARA A CRIAÇÃO DE EMPRESA DE REFORMAS DE UNIDADES RESIDENCIAIS EM COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO Caroline Sá da Costa Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Jorge dos Santos Rio de Janeiro Fevereiro de 2018

Transcript of ESTUDO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANO DE...

ESTUDO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANO DE NEGÓCIO PARA A

CRIAÇÃO DE EMPRESA DE REFORMAS DE UNIDADES RESIDENCIAIS EM

COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO

Caroline Sá da Costa

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2018

ESTUDO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANO DE NEGÓCIO PARA A

CRIAÇÃO DE EMPRESA DE REFORMAS DE UNIDADES RESIDENCIAIS EM

COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO

Caroline Sá da Costa

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

__________________________________________________

Prof. Jorge dos Santos, D.Sc.

__________________________________________________

Prof.ª Ana Catarina Jorge Evangelista, D.Sc.

__________________________________________________

Prof.ª Sandra Oda, D.Sc.

__________________________________________________

Prof.ª Alessandra Conde de Freitas, D.Sc.

__________________________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

FEVEREIRO de 2018

iii

Costa, Caroline Sá da

Estudo para o desenvolvimento de plano de negócio

para a criação de empresa de reformas de unidades

residenciais em comunidades do Rio de Janeiro/ Caroline Sá

da Costa. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2018.

XI, 94 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 95-103

1. Plano de Negócio. 2. Construção Civil. 3.

Empreendedorismo Social. 4. Reforma de Edificações. I.

Santos, Jorge. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Estudo

para o desenvolvimento de plano de negócio para a criação

de empresa de reformas de unidades residenciais em

comunidades do Rio de Janeiro.

iv

“O sucesso não é o final,

o fracasso não é fatal:

a coragem de continuar é o que importa”

Winston Churchill

v

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem sempre incentivado meus estudos e apoiado minhas decisões.

Por terem me transmitido a importância de ser uma pessoa responsável, íntegra e

solidária.

À minha irmã e melhor amiga, por ter divido comigo o peso dos dias difíceis e as alegrias

dos dias melhores ao longo de todos os anos da minha vida. Agradeço todo seu

companheirismo e apoio incondicionais, que foram fundamentais para que eu

conseguisse chegar até aqui.

Ao Manuel, minha inspiração nesses últimos anos de curso, por todo o amor,

compreensão e amizade. Por sempre acreditar em mim e me incentivar a realizar os

meus sonhos.

Aos amigos que encontrei na UFRJ, pela paciência e parceria que tornaram mais leves

as longas horas de estudo e os desafios da graduação. Principalmente à Júlia Jambo,

por estar ao meu lado desde o início dessa longa jornada.

A todos os professores que fizeram parte da minha formação e que compartilham seus

conhecimentos para que nos tornemos profissionais de excelência. Em especial ao meu

orientador, por todo o apoio durante a elaboração desse trabalho.

Acima de tudo, agradeço a Deus, por sempre iluminar meu caminho e me dar forças

para vencer os desafios necessários à minha evolução com discernimento e fé. Pelos

encontros com as pessoas certas e pelo maravilhoso presente que é a vida.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Estudo para o desenvolvimento de plano de negócio para a criação de empresa de

reformas de unidades residenciais em comunidades do Rio de Janeiro

Caroline Sá da Costa

Fevereiro/2018

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

Iniciativas de empreendedorismo social têm surgido dentro dos mais diversos setores e

a criação de novos negócios sociais no segmento da construção civil tem se mostrado

cada vez mais promissora. No caso do mercado de reformas habitacionais, por exemplo,

estimou-se que aproximadamente 11 milhões das moradias brasileiras se encontram

em situação insalubre. No entanto, a falta de planejamento é apontada como a principal

causa para o insucesso de novas empresas. Para evitá-lo é essencial que seja feito um

estudo prévio do negócio, ou seja, um Plano de Negócio, pois ele permite que os erros

sejam identificados e restringidos no papel, em vez de serem cometidos no mercado de

trabalho. Seu principal objetivo é orientar o empreendedor acerca das decisões

estratégicas do negócio antes de iniciá-lo. Dessa forma, o presente trabalho além de

apresentar a importância da adoção dessa ferramenta, também aborda de forma

detalhada a estrutura do Plano de Negócio e disserta sobre o cenário do segmento de

reformas no Brasil. Além disso, desenvolve um Plano de Negócio através de um estudo

de caso de uma empresa de reformas inserida no contexto do empreendedorismo social

no segmento da construção civil. Este Plano de Negócio demonstra a viabilidade do

negócio e estabelece os objetivos a serem atingidos pela empresa a longo prazo.

Palavras-chave: Plano de Negócio, Construção Civil, Empreendedorismo Social,

Reforma de Edificações.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/ UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for obtaining the degree of Engineer.

Study for the development of a business plan for the creation of a renovation company

to remodel residential units in communities in Rio de Janeiro

Caroline Sá da Costa

February/2018

Advisor: Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

Initiatives of social entrepreneurship have emerged within the most diverse segments

and the creation of new social businesses in the segment of civil construction has shown

to be increasingly promising. In the case of the residential renovation market, for

instance, it was estimated that approximately 11 million Brazilian households are in an

unhealthy situation. However, the lack of planning is pointed out as the main cause for

the failure of new companies. In order to avoid this, it is essential to do a business study

in advance, in other words, a Business Plan, because it allows mistakes to be identified

and restricted on paper, instead of being committed in practice. Its main objective is to

give guidance to the entrepreneur about the strategic decisions of the business before

starting it. Thus, the present work, besides presenting the importance of this tool, also

details the structure of a Business Plan and discusses the scenario of the renovation

segment in Brazil. In addition, it develops a Business Plan through a case study of a

renovation company inserted in the context of social entrepreneurship in the civil

construction segment. This Business Plan demonstrates the viability of the business and

establishes the objectives to be achieved by the company in the long term.

Keywords: Business Plan, Civil Construction, Social Entrepreneurship, Residential

Renovation.

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. Apresentação do tema .................................................................................... 1

1.2. Objetivo ........................................................................................................... 2

1.3. Justificativa ..................................................................................................... 2

1.4. Metodologia .................................................................................................... 3

1.5. Estrutura ......................................................................................................... 3

2. EMPREENDEDORISMO SOCIAL ....................................................................... 5

2.1. Aspectos históricos ......................................................................................... 5

2.2. Empreendedorismo social e negócios sociais: conceituação .......................... 7

2.3. A riqueza na base da pirâmide ...................................................................... 12

2.4. Negócios sociais: as diferentes perspectivas no mundo ................................ 13

2.5. Negócios sociais no Brasil ............................................................................ 18

3. CARACTERIZAÇÃO DO SEGMENTO DE REFORMAS ................................... 23

3.1. Reformas: conceituação ................................................................................ 24

3.1.1. Restauração ...................................................................................... 24

3.1.2. Retrofit ............................................................................................... 24

3.1.3. Reabilitação ....................................................................................... 25

3.1.4. Reforma ............................................................................................. 26

3.2. O mercado de reformas ................................................................................ 28

3.3. Aspectos legais ............................................................................................. 31

4. PLANO DE NEGÓCIO: CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................ 33

4.1. Conceituação ................................................................................................ 33

4.2. Importância do plano de negócio em novos empreendimentos ..................... 35

4.3. Concepção e elementos constitutivos de um plano de negócio ..................... 37

4.4. O Modelo de Negócio Canvas como complemento ao Plano de Negócio ..... 41

5. A ESTRUTURA DE UM PLANO DE NEGÓCIO................................................. 46

5.1. Aspectos gerais............................................................................................. 46

ix

5.2. Proposta de itemização para o plano de negócio .......................................... 47

5.2.1. Seção 1 - Sumário executivo ............................................................. 48

5.2.2. Seção 2 - Conceito do negócio .......................................................... 49

5.2.3. Seção 3 - Mercado e competidores ................................................... 50

5.2.4. Seção 4 - Equipe de gestão ............................................................... 54

5.2.5. Seção 5 - Produtos e serviços ........................................................... 56

5.2.6. Seção 6 - Estrutura e operações ....................................................... 57

5.2.7. Seção 7 - Marketing e vendas ........................................................... 58

5.2.8. Seção 8 - Estratégia de crescimento ................................................. 62

5.2.9. Seção 9 - Finanças ............................................................................ 65

6. ESTUDO DE CASO ........................................................................................... 69

6.1. Aspectos gerais............................................................................................. 69

6.2. Plano de negócio .......................................................................................... 71

6.3. Considerações finais sobre o estudo de caso ............................................... 92

7. CONCLUSÕES ................................................................................................. 93

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 95

ANEXO A ................................................................................................................... 104

ANEXO B ................................................................................................................... 105

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - A pirâmide econômica mundial ................................................................... 13

Figura 2 - Áreas de Impacto (Mapa de Negócios de Impacto 2017) ............................ 20

Figura 3 - Banheiro antes e depois da reforma do Programa Vivenda ........................ 21

Figura 4 - Cadeia de valor da construção civil............................................................. 23

Figura 5 - Mapa da construção civil da vertente de Uso e operação ........................... 23

Figura 6 - Como o brasileiro reforma e constrói .......................................................... 27

Figura 7 - Crédito habitacional como proporção do PIB (%)........................................ 29

Figura 8 - Passos necessários para a elaboração do plano de negócio ...................... 38

Figura 9 - Roteiro esquematizado para o projeto do negócio, segundo o Sebrae ....... 39

Figura 10 - Representação dos nove blocos do modelo de negócio. .......................... 44

Figura 11 - Quadro de Modelo de Negócios (Business Model Canvas). ..................... 45

Figura 12 - Organograma de uma organização do terceiro setor com a descrição de

responsabilidades e habilidades necessárias para cada cargo ................................... 55

Figura 13 - Mapa de valor: posição competitiva das ofertas........................................ 60

Figura 14 - Modelo de demonstrativo de resultados ................................................... 66

Figura 15 - Modelo de fluxo de caixa .......................................................................... 67

Figura 16 - Gráfico de exposição do caixa .................................................................. 68

Figura 17 - Necessidade e gasto com reforma por classes de renda .......................... 76

Figura 18 - Distribuição dos domicílios particulares permanentes localizados em

aglomerados subnormais e áreas urbanas normais de municípios com aglomerados

subnormais por classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita ............. 77

Figura 19 - Os cinco municípios brasileiros com maior quantidade de domicílios

particulares ocupados em aglomerados subnormais .................................................. 78

Figura 20 - Motivação para ter um projeto de reforma feito por arquiteto .................... 80

Figura 21 - Origem da mão de obra (%)...................................................................... 80

Figura 22 - Moradores que fizeram projeto (%) ........................................................... 80

Figura 23 - Estrutura organizacional da Empresa X .................................................... 82

Figura 24 - Projeção de vendas .................................................................................. 86

Figura 25 - Análise SWOT da Empresa X ................................................................... 88

Figura 26 – Gráfico de exposição de caixa ................................................................. 92

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Empreendedorismo privado x empreendedorismo social ............................. 9

Tabela 2 - Causas de fracasso das startups americanas ............................................ 34

Tabela 3 - Público-alvo ............................................................................................... 37

Tabela 4 - Comparativo entre cinco estruturas de plano de negócio ........................... 46

Tabela 5 - Análise da concorrência: tabela comparativa ............................................. 53

Tabela 6 – Percepção dos entrevistados sobre a criação da Empresa X .................... 69

Tabela 7 - Estrutura dos itens e subitens do plano de negócio ................................... 71

Tabela 8 - Classe social por renda familiar mensal per capita .................................... 77

Tabela 9 - Complexo da Rocinha: o que está faltando para que sua moradia seja melhor?

................................................................................................................................... 79

Tabela 10 - Pacotes e serviços da Empresa X............................................................ 83

Tabela 11 - Encargos e impostos................................................................................ 88

Tabela 12 - Número de reformas por ano ................................................................... 89

Tabela 13 - Premissas comerciais .............................................................................. 89

Tabela 14 - Despesas operacionais ............................................................................ 89

Tabela 15 - Custos de operação ................................................................................. 89

Tabela 16 - Quantidade de funcionários ..................................................................... 90

Tabela 17 - Gastos totais com salários e benefícios ................................................... 90

Tabela 18 - Investimentos em infraestrutura ............................................................... 91

Tabela 19 - Resultados anuais ................................................................................... 91

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do tema

A base da pirâmide tem sido um campo fértil para a criação de negócios sociais, que

vêm sendo considerados um fenômeno cada vez mais importante em todo o mundo

(COMINI, BARKI e TRINDADE DE AGUIAR, 2012).

Existem três diferentes correntes no mundo que explicam os negócios sociais: as

perspectivas europeia, norte-americana e dos países em desenvolvimento, que inclui

as visões latino-americana e asiática. A visão latino-americana descreve os negócios

sociais como soluções de mercado para a redução da pobreza, além de os

considerarem como iniciativas que, necessariamente, geram impacto social positivo,

efetivo e, principalmente, de longo prazo (COMINI, 2011).

No Brasil, a região sudeste é onde se localiza a maioria dos negócios de impacto social.

As suas principais áreas de impacto são: educação, saúde, serviços e habitação. No

que diz respeito ao setor de habitação, 43% dos domicílios são inadequados e 1,7

milhões carecem de regularização fundiária. Essa inadequação dos domicílios expõe

famílias a riscos de saúde e segurança e, devido à falta de regularização dos terrenos,

investimentos de longo prazo na moradia são inibidos, o que aumenta a vulnerabilidade

das famílias (ARTEMISIA, 2018).

Nesse sentido, a Artemisia (2018) propõe melhorias que podem emergir dos negócios

de impacto social. Em relação ao setor de habitação, no sentido de melhorar as

condições de habitação da população de baixa renda, uma das propostas inclui

soluções de construção e reformas que se adequem às necessidades das famílias.

O segmento de reformas representa uma parcela importante do setor da construção civil

no Brasil e tem apresentado crescente demanda, apesar deste setor estar sendo um

dos mais afetados pela recessão econômica brasileira dos últimos anos

(EMPREENDEDOR, 2017).

De acordo com o PNAD-IBGE, o Brasil possui aproximadamente 62,8 milhões de

residências e estima-se que 80% desse total, pelo menos uma vez ao ano, necessite de

manutenção (SEBRAE, 2018). No entanto, um dos desafios a ser enfrentado pelo setor

envolve a execução de reformas com qualidade. Em um mercado marcado pela

informalidade e autogestão, falta mão de obra qualificada e profissionais capacitados

para realizar os projetos e especificações das obras. Nesse sentido, fica clara a

oportunidade de criação de novos negócios nesse segmento.

2

Contudo, além de ter um projeto em mente a ser colocado em prática na forma de um

negócio, é importante avaliar a viabilidade da sua implantação através de um

planejamento sólido e bem detalhado (CHIAVENATO, 2005).

Dessa forma, é importante que seja elaborado um plano de negócio bem estruturado

com o objetivo de orientar o empreendedor acerca das decisões estratégicas do negócio

antes de iniciá-lo (PEREIRA e SANTOS, 1995). O plano de negócio descreve tanto os

objetivos de um negócio como também quais passos devem ser dados para que estes

objetivos sejam alcançados, de forma a minimizar riscos e incertezas (SEBRAE, 2013a).

1.2. Objetivo

Este trabalho tem como objetivo a realização de um estudo a fim de determinar o que

um plano de negócio deve conter para que seja implementada uma empresa de

reformas de unidades habitacionais de baixa renda na cidade do Rio de Janeiro.

Nesse sentido, como esse tipo de empreendimento pode ser considerado um negócio

social, primeiramente faz-se necessário entender a proposta do empreendedorismo

social para, em seguida, avaliar o cenário do segmento de reformas e definir a melhor

forma de estruturação de um plano de negócio que garanta maiores chances de sucesso

para a empresa. Por fim, deve ser verificado na prática o conteúdo teórico estudado

através do desenvolvimento de um plano de negócio para implementação do

empreendimento.

1.3. Justificativa

Em uma pesquisa sobre os impactos de reformar casas de famílias de baixa renda, a

reforma de casas foi identificada como prioridade dentre as diversas necessidades das

famílias entrevistadas (PLANO CDE; INSTITUTO PHI, 2016).

No entanto, apesar de haver uma demanda considerável não atendida desse público

por serviços de reforma e de existir clientes com cada vez maior potencial de pagamento

na faixa da população com baixa renda, as empresas tradicionais que oferecem serviços

no setor de habitação costumam priorizar mercados que proporcionem maiores

margens de lucro e geralmente, nesses casos, oferecem apenas serviços de construção

de novas moradias, deixando, dessa forma, uma lacuna no mercado de reformas para

a entrada de novas empresas (ASSAD, 2012).

Contudo, no que se refere à criação de novas empresas, a falta de planejamento é

apontada como a principal causa para o seu insucesso. No Brasil, o índice de

mortalidade de micro e pequenas empresas em seus primeiros anos de funcionamento

3

chega a percentuais próximos aos 70% ou até mais altos (DORNELAS, 2005). Nesse

sentido, a elaboração de um plano de negócio é fundamental para que problemas sejam

antecipados e decisões possam ser tomadas de forma rápida. Com o plano de negócio

o risco assumido passa a ser mais calculado e as chances de sucesso da empresa

tendem a ser ampliadas (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

1.4. Metodologia

O conteúdo deste trabalho foi majoritariamente obtido através de pesquisas em

referências como trabalhos acadêmicos, artigos, livros, normas, sites, etc. acerca do

empreendedorismo social, do segmento de reformas e dos planos de negócio.

Já o plano de negócio elaborado também incluiu três entrevistas com moradores de

diferentes comunidades do Rio de Janeiro com o objetivo de aprofundar a compreensão

dos desafios inerentes à operação desse tipo de empresa nas comunidades da cidade.

Além disso, também foram levadas em consideração características dos modelos de

negócio de duas empresas que operam de forma semelhante em comunidades da

cidade de São Paulo.

1.5. Estrutura

O presente trabalho é composto por oito capítulos, sendo o primeiro esta introdução,

que conta com a apresentação do tema, os objetivos do trabalho, justificativa da escolha

do tema, metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho e sua estrutura.

O segundo capítulo busca apresentar a proposta do empreendedorismo social, trazendo

de início seus aspectos históricos e uma conceituação. Em seguida é mostrada a

relação entre empreendedorismo social e negócios sociais, bem como as diferentes

perspectivas sobre esse novo tipo de empreendimento nos contextos europeu, norte-

americano e de países em desenvolvimento.

O terceiro capítulo caracteriza o segmento de reformas, esclarecendo primeiramente as

principais diferenças entre restauração, reabilitação, retrofit e reforma. Após isso, é

apresentada uma contextualização do mercado de reformas no Brasil e seu potencial,

além dos aspectos legais relativos à abertura de uma empresa de reformas.

O quarto capítulo aborda conceitos sobre planos de negócio e sua importância para a

criação de novos empreendimentos. Descreve de forma sintetizada os elementos

constitutivos de um plano de negócio e como se dá a sua concepção. Também discute

a complementariedade existente entre o modelo de negócios Canvas e o plano de

negócio.

4

O quinto capítulo avalia as propostas de estruturas de planos de negócio de cinco

autores e adota a mais completa para detalhar as seções que compõem o plano de

negócio.

O sexto capítulo consiste em um estudo de caso com o objetivo de verificar na prática

o conteúdo teórico dos planos de negócio, discutido nos capítulos anteriores, através do

desenvolvimento de um plano de negócio para criação e implementação de uma

empresa de reformas de unidades residenciais em comunidades do Rio de Janeiro.

O sétimo capítulo apresenta considerações finais relativas a este trabalho e propõe

sugestões para trabalhos futuros.

Por fim, o oitavo capítulo lista a bibliografia utilizada na elaboração do trabalho.

5

2. EMPREENDEDORISMO SOCIAL

2.1. Aspectos históricos

A desigualdade social no Brasil, causada pelo crescimento dos problemas sociais, vem

exigindo dos diversos atores sociais e políticos um novo comportamento. Um

comportamento de mudança e inovação, voltado para o desenvolvimento sustentável

das comunidades como um todo e, principalmente, das comunidades de baixa renda.

Nesse sentido, é preciso que as barreiras da inércia política, social, cultural e econômica

sejam ultrapassadas. Uma pesquisa realizada em 1999 pelo Global Entrepreneurship

Monitor (GEM), apontou que o principal fator de desenvolvimento econômico de um país

é o empreendedorismo. O conceito de empreendedorismo remete a um processo

dinâmico no qual ideias e oportunidades são identificadas por indivíduos que as

transformam em empreendimentos para produzir bens e serviços a partir da associação

de capital, trabalho e outros recursos. Além disso, o empreendedorismo também pode

ser visto como uma política de ação dos governos, empresas e comunidades para

promover o desenvolvimento econômico e social locais (MELO NETO e FRÓES, 2002).

A figura do empreendedor foi apresentada pela primeira vez em 1755 pelo banqueiro e

investidor internacional Richard Cantillon em sua obra “Ensaio sobre a natureza do

comércio em geral”, em um contexto de transição do mercantilismo para o capitalismo

e sob forte influência do pensamento liberal, que estava em construção nessa época.

De acordo com a descrição de Cantillon, o empreendedor é o empresário disposto a

assumir riscos em sua busca por lucro e que adquire insumos a preços certos para

revende-los a preços incertos, além de possuir capacidade de inovar durante essa

busca (ROSA, 2006; VEIGA, 2005 apud BOSE, 2012, p. 32).

Em 1803, o economista e professor francês Jean-Baptiste Say reintroduz a importância

da figura do empreendedor em sua obra “Tratado de Economia Política”, sob grande

influência da obra “A riqueza das nações”, de Adam Smith e da tradição liberal de

Cantillon. Say descreve o empreendedor como um quarto elemento da produção, tão

importante quanto o capital, a terra e o trabalho, e tendo um papel essencial no processo

de crescimento da economia. Segundo o autor, sua característica principal é a

habilidade de reunir, planejar e combinar os diversos meios de produção de forma a

ofertar novos bens. Assim, o termo Entrepreneur começou a ser usado para descrever

pessoas que estimulassem o progresso da economia através da busca por inovação

(SAY, 1803 apud BOSE, 2012, p.32).

6

No século XX, o economista mais associado com o termo foi Joseph Schumpeter, que

descreveu os empreendedores como os inovadores que impulsionam o capitalismo,

revolucionando os padrões de produção. Para Schumpeter, os empreendedores são os

agentes de mudança da economia. No entanto, contemporaneamente são

apresentadas diversas teorias acerca do empreendedorismo (DEES, 1998).

Drucker (1985), amplia a definição de Say para focar em oportunidade. Para Drucker,

os empreendedores exploram as oportunidades trazidas pelas mudanças, não

necessariamente causando mudanças. Segundo o autor, os empreendedores

identificam, reagem e exploram mudanças como oportunidades para a geração de valor.

Howard Stevenson, um teórico do empreendedorismo na Harvard Business School,

define o “coração” da gestão empreendedora como a busca pela oportunidade,

independentemente dos recursos disponíveis no momento. De acordo com Stevenson,

os empreendedores não permitem que seus recursos iniciais limitem suas opções,

mobilizando recursos externos para atingir seus objetivos (DEES, 1998).

Ainda segundo Dees (1998), as ideias de Say, Schumpeter, Drucker e Stevenson a

respeito da figura do empreendedor convergem para a descrição de uma mentalidade

e comportamento que podem ser manifestados em qualquer lugar.

Para Dolabela (2006 apud Barros 2012, p.40), o âmbito empresarial é apenas uma das

formas de empreender e o empreendedor pode estar presente em qualquer área. O

autor ressalta ainda que o empreendedorismo não é só um fenômeno econômico, mas

também social.

Fischer e Comini (2012) afirmam que o trabalho do empreendedor pode ser reconhecido

em uma série de esferas organizacionais, incluindo organizações sem fins lucrativos,

cooperativas, empresas com propósitos sociais e ambientais, e iniciativas

socioambientais de empresas do setor privado e de agências públicas. Ou seja, o perfil

de habilidades e competências de um empreendedor pode ser encontrado em inúmeros

ambientes organizacionais.

Assim, especialmente em torno da década de 90, as definições a respeito da função

empreendedora e do comportamento empreendedor começam a ser transpostas da

esfera das atividades econômicas para a das atividades sociais. Emerge, então, a figura

do empreendedor social como uma liderança capaz de reunir recursos individuais,

coletivos e privados para tornar viável o desenvolvimento e implementação de soluções

para problemas sociais crônicos. A difusão do termo empreendedor social é atribuída a

Bill Drayton, fundador da Ashoka, uma organização mundial sem fins lucrativos pioneira

no trabalho e apoio a empreendedores sociais (BOSE, 2012):

7

O Empreendedor Social aponta tendências e traz soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, seja por enxergar um problema que ainda não é reconhecido pela sociedade e/ou por vê-lo por meio de uma perspectiva diferenciada. Por meio da sua atuação, ele(a) acelera o processo de mudanças e inspira outros atores a se engajarem em torno de uma causa comum (ASHOKA, 2011 apud BOSE, 2012, p. 36).

2.2. Empreendedorismo social e negócios sociais: conceituação

Dees (1998) considera que o empreendedorismo social combina a paixão de uma

missão social com a disciplina característica do mundo dos negócios, além de inovação

e determinação. Porém, o autor afirma que, apesar de estar ganhando cada vez mais

popularidade, o conceito de empreendedorismo social pode assumir significados

distintos. Para ele, contudo, empreendedores sociais são empreendedores com uma

missão social, os quais, devido a esta missão, enfrentam alguns desafios peculiares que

acabam por distingui-los dos demais.

Thompson (2002) também destaca que embora o termo “empreendedorismo social”

venha sendo amplamente adotado e utilizado, o seu significado ainda não é

compreendido em sua totalidade. No entanto, afirma que empreendedores sociais são

pessoas com as qualidades e comportamentos comumente associados aos

empreendedores comerciais, mas que operam nas comunidades e são mais

preocupados em ajudar do que propriamente lucrar.

Já para Azevedo (2015), o empreendedorismo social costuma ser visto como uma

alternativa às organizações sem fins lucrativos, já que além de gerar valor social

também permite a geração de receitas financeiras de forma concomitante. Ou seja, é

uma maneira de criar valor social através da utilização de processos e métodos do

empreendedorismo comercial. Segundo o autor, os empreendedores sociais costumam

usar uma variedade de ferramentas de gestão e modelos de negócio, adaptando-os as

suas necessidades. Nesse sentido, devido à competição estabelecida com

organizações do terceiro setor para obtenção de recursos financeiros, os mesmos

começaram a fazer com que práticas anteriormente estranhas ao terceiro setor, como

planejamento estratégico, mapeamento de competidores e análise de mercado

passassem a ser adotadas pelas organizações de forma a garantir uma maior obtenção

de recursos e aprimoramento da gestão (HUDSON, 1999; DEES, 2001; MELO NETO;

FRÓES, 2002; SEELOS; MAIR, 2005; DEES; ANDERSON, 2006; MAIR; MARTI, 2006;

WEERAWARDENA; MORT, 2006; PEREDO; MCLEAN, 2006; SHAW; CARTER, 2007;

AUSTIN et al., 2012; BORZAGA et al. 2012; FISCHER; COMINI, 2012 apud AZEVEDO,

2015, p. 59).

8

Essa adoção de métodos e processos da gestão empresarial contribui para reforçar a

concepção de que existem semelhanças entre o empreendedor social e o comercial,

uma vez que ambos pensam da mesma forma sobre os problemas, acabam fazendo

questionamentos parecidos e enfrentam tipos de dificuldade semelhantes (DRUCKER,

1985; DEES, 2001 apud AZEVEDO, 2015, p. 59).

No entanto, a proposição de valor é vista como a diferença preponderante entre o

empreendedor social e o empreendedor comercial. O valor social que guia a ação

inovadora do empreendedor social e sua motivação coletiva vão além da promoção de

mudanças a curto prazo, sendo as transformações sociais a longo prazo seu foco

principal (ALVORD et al., 2002; VERNIS; IGLESIAS, 2010; FISCHER 2011 apud BOSE,

2012, p. 36).

Barendsen e Gardner (2004) reforçam essa ideia afirmando que a principal diferença

entre empreendedores convencionais e sociais está no fato de que os primeiros criam

empresas enquanto os empreendedores sociais criam mudanças, aproximando-se de

problemas sociais com visão de negócio e espírito empreendedor.

Martin e Osberg (2007) ressaltam ainda que empreendedores sociais podem criar

empresas tanto que não tenham fins lucrativos quanto que gerem receita e tenham fins

lucrativos. O que fundamentalmente diferencia o empreendedor social é a prevalência

do benefício social.

Apesar da possibilidade de geração de receita, a medida de sucesso do empreendedor

social é o impacto social, ou seja, o número de pessoas beneficiadas com sua solução,

e não o sucesso de vendas, como no caso de empreendedores privados. Enquanto o

empreendedorismo privado é individual e visa não só a satisfação dos seus clientes,

mas também os objetivos do negócio (busca do lucro, aumento das vendas, retorno do

investimento, maior participação no mercado), o social é coletivo e tem foco na solução

de problemas sociais a curto, médio e longo prazos. Em termos de escopo de atuação,

o do empreendedorismo privado é o mercado atual e potencial, enquanto o do

empreendedorismo social são as comunidades afetadas pelos problemas. A Tabela 1

resume as diferenças entre o empreendedorismo privado e o social (MELO NETO e

FRÓES, 2002).

9

Fonte: adaptado de Melo Neto e Fróes (2002)

Oliveira (2004), também afirma que existem diferenças tênues entre empreendedorismo

social e responsabilidade social empresarial, um outro conceito historicamente

considerado próximo. Segundo o autor, a responsabilidade social empresarial tem foco

no mercado e atende a comunidade conforme sua missão. Seu objetivo é agregar valor

estratégico ao negócio e atender expectativas tanto do mercado quanto da percepção

da sociedade e consumidores, supondo um conjunto planejado e organizado de ações

internas e externas, com uma definição centralizada na atividade e missão da empresa.

Oliveira (2004) destaca ainda que as diferenças entre responsabilidade social

empresarial e empreendedorismo social, apesar de tênues, são substanciais, uma vez

que no caso da responsabilidade social empresarial as ações ficam restritas a causas

específicas e focadas, ao passo que a atuação do empreendedorismo social é voltada

para a geração de ações que causem impacto local, tendo como objetivo o resultado

coletivo, o que o diferencia também do empreendedorismo privado, conforme visto

anteriormente.

Contudo, de acordo com Scherer (2014), além de necessários, são cada vez mais

comuns debates entre as organizações sociais e o setor privado na busca de parcerias

com o objetivo de alcançar e expandir a geração de impacto social positivo.

Parenson (2010 apud BARROS, 2012, p. 45) afirma que o empreendedorismo social

compreende a atividade inovadora com um objetivo social, tanto no setor com fins

lucrativos quanto no setor sem fins lucrativos, ou até mesmo entre ambos os setores.

Tabela 1 - Empreendedorismo privado x empreendedorismo social

10

Com sua ênfase em inovação e solução de problemas sociais, atividades socialmente

empreendedoras vêm tornando indistinguíveis fronteiras tradicionais entre os setores

privado, público e sem fins lucrativos, e modelos híbridos de atividades com fins

lucrativos e sem fins lucrativos vêm sendo promovidos (JOHNSON, 2000).

Ainda de acordo com Johnson (2000), diversos exemplos documentados destacam o

potencial do empreendedorismo social em uma variedade de contextos. No entanto, em

sua extensa revisão da literatura norte-americana sobre o tema, a autora apontou que

a pesquisa sobre o assunto estava atrasada em relação a prática.

Conforme visto anteriormente, o termo “empreendedorismo social”, como é usado na

literatura acadêmica, abrange uma ampla variedade de atividades e iniciativas. Bose

(2012), afirma que passada uma década após a revisão de literatura de Johnson, a

tarefa de definir atividades e iniciativas que poderiam ser consideradas

empreendimentos sociais continuou difícil.

No entanto, apesar das variadas definições de empreendedorismo social, em quase

todas as descrições emerge um ponto comum: a proeminência da sua "natureza de

resolução de problemas", bem como a correspondente ênfase no desenvolvimento e

implementação de iniciativas que produzam resultados mensuráveis sob a forma de

mudanças e/ou impactos sociais (JOHNSON, 2000).

Nessa mesma linha de pensamento, Ashoka e McKinsey (2001) afirmam que um

empreendimento social geralmente se inicia a partir da combinação de um determinado

problema social percebido pelo empreendedor com a busca de soluções inovadoras ou

até mesmo já conhecidas pela comunidade.

Já para Godói-de-Souza (2010 apud BOSE, 2012, p. 38), o empreendedorismo social

também pode ser caracterizado pela criação de formas alternativas de produção

econômica através da intervenção social.

Ou seja, tanto a capacidade de inovação como a de identificação e aproveitamento de

oportunidades para criação de novos negócios, novos mercados e capital social podem

ter o papel de gerar valores social e econômico concomitantemente. E para isso, não

existe um modelo a ser seguido. A forma de organização de um empreendimento social

deve ser embasada na maneira mais eficaz de mobilizar os recursos necessários para

que os problemas sociais sejam solucionados (QUINTÃO, 2004; SEKN, 2006; GODÓI-

DE-SOUZA, 2010; FISCHER, 2011 apud BOSE, 2012, p. 38).

Segundo Comini (2011), até a década de 90 eram observados dois “mundos” –

empresarial e da sociedade civil – muito distantes e que apresentavam alta resistência

11

para trabalhar de maneira colaborativa. No entanto, essa realidade não só se alterou,

mas como o diálogo entre ambos começou a ser visto como essencial para que

passasse a haver uma relação “ganha-ganha” entre as partes.

Além desse redesenho das alianças intersetoriais, também foi possível observar o

surgimento de um novo tipo de organização que combina dois objetivos, vistos como

incompatíveis anteriormente: geração de valor social e sustentabilidade financeira. A

adição da dimensão econômica e da lógica de mercado abriu novas possibilidades para

as organizações, que até então atuavam em uma única dimensão – social ou econômica

(ROSOLEN, TISCOSKI e COMINI, 2013). Empresas sociais (social enterprises),

negócios inclusivos (inclusive business) e negócios sociais (social business) são alguns

dos termos comumente usados para designar organizações que que têm o objetivo de

solucionar problemas sociais com sustentabilidade financeira e eficiência através de

mecanismos de mercado (ofertas de bens e serviços obedecendo às leis de oferta e

demanda) (COMINI, 2011).

Os negócios sociais são um exemplo de desenvolvimento de soluções inovadoras, além

de representarem um modo de identificar novos produtos, serviços e mercados. Além

disso, se apresentam como uma tentativa de se trabalhar com um novo tipo de

desenvolvimento, que envolve tanto aspectos econômicos quanto sociais e atende uma

necessidade global explícita, refletida na realidade de muitos países (JAPPE, 2013).

De acordo com Barki (2015), os negócios sociais surgem como uma alternativa para um

capitalismo mais inclusivo. É notório que o capitalismo desencadeou inúmeros avanços

sociais e propiciou melhorias nas condições de vida de uma parcela significativa da

sociedade. São inegáveis o conforto e bem-estar proporcionados pelos avanços da

tecnologia. No entanto, a concentração de renda e a vulnerabilidade de grande parte da

população mundial que vive na pobreza também são evidentes. Na visão do autor,

nesse contexto, tornam-se necessárias soluções que não dependam da ação

governamental e que sejam mais inclusivas. Nesse sentido, os negócios sociais surgem

como uma dessas possibilidades e como uma resposta aos dilemas criados pelo

capitalismo.

Porter e Kramer (2011) também reconhecem a importância do capitalismo como veículo

para satisfação das necessidades humanas, criação de empregos, aumento da

eficiência e geração de riqueza, contudo acreditam que a atividade empresarial não

explorou todo seu potencial para enfrentar os desafios da sociedade devido a uma

concepção estreita do capitalismo. Ambos afirmam que as necessidades da sociedade

são consideráveis e continuam crescendo. Assim, uma forma mais sofisticada de

12

capitalismo se faz necessária, com um propósito social intrínseco. Porém, esse

propósito não deve resultar de caridade, mas sim de uma compreensão mais profunda

sobre a concorrência e criação de valor econômico. Segundo os autores, essa evolução

do modelo capitalista deve reconhecer novas e melhores formas de desenvolver

produtos, construir empresas produtivas e atender mercados. Para eles, a solução está

no princípio do valor compartilhado, envolvendo uma geração de valor econômico que

também propicie a criação de valor para a sociedade, de forma que o sucesso das

empresas seja reconectado com o progresso social. Porter e Kramer deixam claro que

valor compartilhado é diferente de responsabilidade social, filantropia e

sustentabilidade. É algo no centro do que a empresa faz, não na periferia, e que significa

uma nova forma de obter sucesso econômico.

Negócios sociais que geram valor compartilhado podem crescer muito mais

rapidamente do que programas sociais, que geralmente encontram dificuldades para

crescer e se tornarem autossustentáveis. Além disso, a iniciativa privada costuma ser

mais eficaz do que o terceiro setor e o poder público no marketing para motivar os

consumidores a adotarem produtos e serviços que gerem benefícios sociais, tais como

produtos ecologicamente corretos e alimentos saudáveis. Entretanto, as necessidades

da sociedade vão muito além desses benefícios. Saúde, menos danos ambientais,

melhores condições habitacionais, auxílio para o idoso e segurança financeira são

algumas das maiores necessidades ainda a serem satisfeitas na economia global e,

sobretudo, em comunidades carentes e países em desenvolvimento. Cada vez mais as

atenções estão sendo voltadas para países como Índia, China e Brasil, que podem

possibilitar que as empresas cheguem a bilhões de novos clientes na base da pirâmide

(PORTER e KRAMER, 2011).

2.3. A riqueza na base da pirâmide

A discussão sobre a base da pirâmide e seu potencial de mercado teve início com

Prahalad e Hart (2002), que cunharam o termo. De acordo com os autores, a verdadeira

promessa de mercado não se encontra na minoria rica dos países desenvolvidos ou nos

consumidores emergentes da classe média. Está nos 4 bilhões de pessoas mais pobres

do mundo, as quais representavam 2/3 da população mundial em 2002 (PRAHALAD e

HART, 2002).

Em 2002, no topo da pirâmide econômica mundial, encontravam-se os 75 a 100 milhões

de consumidores mais ricos, conforme pode ser observado na Figura 1. Esse primeiro

grupo é constituído pelas pessoas de renda alta e média dos países desenvolvidos, bem

como pelas elites dos países em desenvolvimento. Já nas camadas 2 e 3 estão tanto a

13

classe média emergente dos países em desenvolvimento como os consumidores

pobres dos países desenvolvidos. Enquanto isso, na base da pirâmide (camada 4) estão

os 4 bilhões de pessoas (aproximadamente 60% da população mundial em 2002) com

renda per capita anual inferior a $1.500, que na época era considerado o valor mínimo

necessário para o sustento de uma vida de forma decente (PRAHALAD e HART, 2002).

Figura 1 - A pirâmide econômica mundial

Fonte: Prahalad e Hart (2002)

De acordo com Jappe (2013), a concepção inicial de negócios para a base da pirâmide

proposta por Prahalad e Hart foi focada em grandes empresas multinacionais liderando

o processo.

No entanto, Goyal, Sergi e Jaiswal (2016) destacam o empreendedorismo social como

uma alternativa para gerar impacto socioeconômico escalável na base da pirâmide, uma

vez que, conforme destacado por Esposito, Kapoor e Goyal (2012), constante ênfase

vem sendo dada para o fato de que organizações que desejam entrar no mercado da

base da pirâmide devem não apenas focar no valor econômico, mas também no social.

2.4. Negócios sociais: as diferentes perspectivas no mundo

Comini, Barki e Trindade de Aguiar (2012) afirmam que a base da pirâmide tem sido um

campo fértil para a criação de negócios sociais, que vêm sendo considerados um

fenômeno cada vez mais importante em todo o mundo. Segundo os autores, é possível

encontrar na literatura três principais correntes que explicam os negócios sociais: as

perspectivas europeia, norte-americana e dos países em desenvolvimento.

As diferentes perspectivas acerca do tema podem ser explicadas principalmente pelo

fato de os empreendimentos sociais se formarem em diferentes contextos econômicos

e políticos, dependendo de cada região. Além disso, o fenômeno também se origina de

14

diversos segmentos da sociedade, acarretando concepções particulares de acordo com

a visão de cada um dos setores (YOUNG, 2008).

A perspectiva europeia, nascida da tradição da economia social, tem suas raízes no

associativismo e no cooperativismo, além de uma forte ênfase na atuação das

organizações civis com funções públicas. Já a perspectiva norte-americana entende os

empreendimentos sociais como organizações privadas (com lógica de mercado) que se

dedicam a solucionar problemas sociais. Por último, uma terceira perspectiva,

predominante nos países em desenvolvimento, é voltada para iniciativas de mercado

que têm como foco a redução da pobreza, bem como a transformação das condições

sociais de indivíduos considerados marginalizados ou excluídos (COMINI, 2011).

a) Perspectiva Europeia

No continente europeu, o termo empresa social vem sendo o mais utilizado para

designar empreendimentos sociais e é, inclusive, reconhecido como um formato jurídico

na maioria dos países. Conforme a definição da rede de pesquisadores Emergence of

Social Enterprise in Europe (EMES), as empresas sociais são “organizações com o

objetivo explícito de beneficiar a comunidade, iniciadas por um grupo de cidadãos, nas

quais o interesse material dos investidores capitalistas é sujeito a limites”. Uma outra

definição muito utilizada por organizações europeias é a do Departamento de Comércio

e da Indústria do governo do Reino Unido, que afirma que “as empresas sociais são

negócios com objetivos sociais primordiais, nos quais a receita gerada é reinvestida

principalmente para os propósitos do negócio ou na comunidade, ao invés de serem

destinados à necessidade de maximização de lucro dos acionistas e proprietários”. Já

na abordagem acadêmica europeia predomina a importância da participação direta das

comunidades beneficiadas nos processos de tomada de decisão, bem como o

reinvestimento do lucro na própria organização para que o crescimento e o impacto

social sejam potencializados. Esta visão pressupõe que a distribuição do lucro causaria

um direcionamento para a busca de maximização de resultados financeiros por parte

dos acionistas e investidores, o que seria conflitante com o objetivo de maximização do

impacto social (COMINI, 2011, p. 9-10).

De acordo com Travaglini, Bandini e Mancinone (2009), na Europa as empresas sociais

podem ser agrupadas em três categorias de atuação: (i) empresas de integração ao

trabalho, conhecidas como Work Integration Social Enterprise (WISE); (ii) empresas cujo

principal objetivo é produzir produtos e serviços com finalidade social ou que sejam

conduzidos por interesse coletivo; (iii) empresas que promovem o desenvolvimento

social e econômico local incentivando a participação dos cidadãos e governos locais

15

nas atividades. Ainda segundo os autores, as empresas sociais apresentam três

características principais: orientação para negócios, com envolvimento direto na

prestação de serviços e fabricação de produtos para o mercado; orientação para

objetivos sociais, possuindo causas sociais e/ou ambientais explícitas (como

treinamentos e criação de empregos), além de terem seus lucros reinvestidos de forma

que os objetivos sociais sejam atingidos; propriedade social (social ownership), sendo

organizações autônomas cujas estruturas de governança e propriedade são geralmente

baseadas na participação direta das partes interessadas (empregados, usuários,

clientes, comunidade local e investidores sociais, por exemplo) ou de administradores e

diretores que controlam as empresas com a finalidade de atender um determinado grupo

de partes interessadas. No que diz respeito à distribuição dos lucros, os autores afirmam

que podem ser distribuídos entre as partes interessadas ou empregados para benefício

da comunidade.

Dessa forma, em consonância com uma forte tradição europeia de cooperação, é

possível observar que no modelo europeu de empresas sociais há uma tendência

voltada para a valorização tanto do coletivo como da participação das partes

interessadas nas tomadas de decisão, reduzindo a probabilidade de ocorrência de

comportamentos oportunistas isolados (GALERA e BORZAGA, 2009)

O Banco Pérola é uma organização brasileira que apresenta muitas características da

perspectiva europeia, sendo uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

sem fins lucrativos, voltada à concessão de crédito para jovens (18 a 35 anos) da base

da pirâmide, sobretudo microempreendedores, microempresas e empresas de pequeno

porte. Sua operação é limitada à região de Sorocaba (SP) e tem o objetivo de

desenvolver a conscientização social nas comunidades onde atua. O banco oferece

assistência técnica para o gerenciamento de crédito além de orientação para grupos de

solidariedade empresarial. Através da melhoria da renda e inclusão dos jovens no

mercado de trabalho, a iniciativa também acaba contribuindo para o desenvolvimento

local, redução da pobreza e treinamento de novos empreendedores em comunidades

de baixa renda (COMINI, BARKI e TRINDADE DE AGUIAR, 2012; BANCO PÉROLA,

2018).

b) Perspectiva Norte-Americana

Nos Estados Unidos o termo com maior predominância é negócio social, sendo usado

não só para designar empresas com um objetivo social, de maneira semelhante a

Europa, mas também para definir unidades de negócio inseridas em empresas

tradicionais. Além disso, organizações sem fins lucrativos, que passaram a atuar no

16

mercado através da venda de produtos e serviços, também se apropriaram do termo.

Duas discussões acadêmicas e práticas, que ocorreram ao mesmo tempo nos anos

1990 no país, são responsáveis por essa aplicação do termo em diferentes contextos.

A primeira tem relação com o papel das multinacionais na mitigação dos problemas

socioambientais e foi abordada por autores como Prahalad e Hart (2002) que, conforme

visto anteriormente, identificaram potenciais consumidores na base da pirâmide e

questionaram a negligência das empresas multinacionais em relação aos mesmos

(COMINI, 2011).

De forma concomitante a esta discussão, ocorreu um debate acerca da limitação da

capacidade de obtenção de recursos por intermédio de doações no contexto das

organizações sem fins lucrativos. Essa segunda discussão pode ser explicada, em

parte, pela retração do financiamento estatal, que se iniciou no final da década de 1970

(KERLIN, 2006). Comini (2011) afirma que, dentro desse cenário, foi defendida a

possibilidade de empresas sem fins lucrativos ofertarem bens e serviços e alcançarem

resultados sociais de forma inovadora.

Devido ao fato dos negócios sociais poderem ser analisados por óticas disciplinares

distintas, Young (2009) sistematiza algumas possibilidades de identidades que os

negócios sociais podem assumir dentro do contexto norte-americano:

i. Filantropia corporativa: organizações com fins lucrativos que empregam uma

parcela de seus recursos em programas sociais, como parte de sua estratégia

competitiva;

ii. Empresas com fim social: organizações com um propósito social, as quais

operam no mercado para realizar seu propósito de forma mais eficaz;

iii. Modelo híbrido: organizações com o duplo objetivo de gerar recursos para suas

partes interessadas e endereçar objetivos sociais;

iv. Projeto de geração de recursos: atividade que existe com o objetivo exclusivo de

gerar receita para as organizações;

v. Projeto de finalidade social: atividade de uma organização voltada

exclusivamente ao endereçamento de uma missão social ou determinados

objetivos sociais;

vi. Projeto híbrido: atividade de uma organização destinada tanto a gerar receita

quanto para contribuir com uma missão social ou determinados objetivos sociais.

Dessa maneira, sob a perspectiva norte-americana, o conceito de negócio social inclui

qualquer atividade empreendedora de mercado que gere impacto social através de suas

atividades empresariais. Nesse sentido, os negócios sociais podem assumir formatos

17

legais variados, tais como sociedades anônimas, companhias limitadas, corporações e

organizações sem fins lucrativos (KERLIN, 2006, apud COMINI, 2011).

Comini, Barki e Trindade de Aguiar (2012) ressaltam que, apesar das ambiguidades e

da dificuldade para definir um único formato nos Estados Unidos, existe um interesse

crescente nesse tipo de empreendimento, que combina a operação de uma corporação

tradicional com valores sociais e ambientais característicos de empreendimentos

sociais.

No Brasil, algumas empresas multinacionais já se adaptaram a essa visão norte-

americana de negócios sociais. Um exemplo é a Coca-Cola, que lançou em junho de

2009 um projeto denominado Coletivo Coca-Cola, cujo principal objetivo é contribuir

para a melhoria das condições de vida na base da pirâmide através do oferecimento de

ferramentas para geração de renda e capacitação. A empresa oferece capacitação para

jovens de baixa renda poderem trabalhar no varejo ou se tornarem empreendedores.

Dessa forma, o projeto facilita a maior circulação de dinheiro na comunidade e, ao

mesmo tempo, a Coca-Cola ganha acesso a um mercado difícil de ser dominado,

melhorando assim tanto sua distribuição quanto seu brand equity (COMINI, BARKI e

TRINDADE DE AGUIAR, 2012).

c) Perspectiva dos países emergentes

Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos, nos países em desenvolvimento o

termo negócio inclusivo é o que aparece de forma mais recorrente, com exceção da

Ásia, onde a terminologia negócio social é a mais usual. Já na América Latina a única

exceção é o Brasil, que também adota o termo negócio social, ao contrário dos demais

países latino-americanos (JAPPE, 2013).

Apesar das diferentes terminologias, as visões latino-americana e asiáticas possuem

denominadores comuns, apontando os negócios sociais ou inclusivos como soluções

de mercado para a redução da pobreza, além de os considerarem como iniciativas que,

necessariamente, geram impacto social positivo, efetivo e, principalmente, de longo

prazo (COMINI, 2011).

Na América Latina, os pesquisadores da rede SEKN (Social Enterprise Knowledge

Network), formada por importantes escolas latino-americanas de administração de

empresas, não fazem distinção conceitual entre os termos negócio social e negócio

inclusivo e os tratam como sinônimos. A SEKN os define como empreendimentos ou

organizações que geram transformação social através de atividades de mercado. Isto

inclui organizações não governamentais (ONGs) e empresas do setor privado

18

engajadas em atividades típicas do setor público, produzindo bens e serviços de valores

significativos (COMINI, BARKI e TRINDADE DE AGUIAR, 2012).

Segundo Márquez, Reficco e Berger (2010 apud Comini, Barki e Trindade de Aguiar,

2012, p. 390), para ser um negócio inclusivo não é suficiente ser apenas

autossustentável. O negócio deve ser rentável e baseado na premissa de transformação

das condições de vida da população de baixa renda.

Já no caso da perspectiva asiática, o grande inspirador dos negócios sociais é

Muhammad Yunus, que popularizou o termo em escala global na cerimônia do prêmio

Nobel, do qual foi vencedor na categoria Paz em 2006. Yunus fundou o banco de

microcrédito Grameen Bank e seu modelo é amplamente reconhecido, principalmente

em países como Índia e Bangladesh (COMINI, 2011; JAPPE, 2013).

Yunus (2007 apud Comini, 2011, p. 14), considera de extrema importância o

reinvestimento do lucro no próprio negócio. Segundo ele, a coexistência de interesses

sociais e econômicos é possível, porém, na prática, é complicado operar um negócio

com dois objetivos, para ele, conflituosos: benefícios sociais e maximização do lucro.

Contudo, o autor afirma que os negócios sociais são diferentes de ações filantrópicas e

de organizações sem fins lucrativos, pois são empresas que possuem proprietários que

têm autorização para recuperar seus investimentos. Além disso, o autor classifica os

negócios sociais em dois tipos:

i. os que buscam benefícios sociais como redução da pobreza, tratamento de saúde para pobres, justiça social, sustentabilidade global, e assim por diante, buscando satisfação psicológica, emocional e espiritual da população marginalizada ao invés de maximização do lucro do proprietário;

ii. os que são propriedade dos pobres ou marginalizados. Nesse caso o benefício social deriva do fato de que os dividendos e o crescimento financeiro produzidos vão beneficiar os pobres e reduzir sua pobreza (YUNUS, 2007 apud COMINI, 2011, p. 14).

Yunus (2010 apud Jappe, 2013, p.37) também elenca potenciais áreas para criação e

desenvolvimento de negócios sociais, tais como: geração de emprego e renda,

segurança e estabilidade, acesso à tecnologia e infraestrutura, dentre outras.

2.5. Negócios sociais no Brasil

No Brasil, a organização que é referência no apoio aos negócios sociais é a Artemisia,

uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de

negócios de impacto social no Brasil. O conceito de negócios de impacto social vem

sendo disseminado pela Artemisia, que os define como “empresas que oferecem, de

forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa

19

renda”. Além disso, a organização elenca as principais características dos negócios de

impacto social (ARTEMISIA, 2017):

a) Foco na baixa renda: são concebidos em conformidade com as necessidades e

características da população de baixa renda;

b) Intencionalidade: tem como sua missão explícita a geração de impacto social e

são geridos por empreendedores profissionais e éticos;

c) Potencial de escala: podem ser ampliados através da sua própria expansão, de

sua replicação por outros atores em outras regiões ou pela disseminação de

elementos intrínsecos ao negócio por meio de outras organizações,

empreendedores e políticas públicas;

d) Rentabilidade: não dependem de doações ou subsídios, pois seu modelo

garante a rentabilidade;

e) Impacto social relacionado à atividade principal: sua atividade principal (produto

ou serviço oferecido) gera diretamente impacto social, não se tratando de uma

iniciativa ou projeto separado do negócio;

f) Distribuição ou não de dividendos: podem ou não distribuir dividendos a

acionistas, não sendo esse um critério para definir negócios de impacto social.

O Mapa de Negócios de Impacto 2017, realizado pela Pipe Social, aponta que a maioria

dos negócios de impacto se localizam na região sudeste (63%), seguida pela região Sul,

com 20%, enquanto o Nordeste apresenta 9% e ambas as regiões Norte e Centro-Oeste

apresentam 3% cada. Foram mapeados 579 negócios no ecossistema de impacto do

Brasil em diferentes estágios de maturação, sendo que 70% deles já estão formalizados

e 40% possuem menos de três anos de formação. Além disso, na Figura 2 podem ser

observadas as principais áreas de impacto desses negócios no Brasil. Ressalta-se que

as áreas de educação e tecnologias verdes são as que mais se destacam, enquanto

cidades, que inclui mobilidade e habitação, é a área que apresenta menor atuação

(PIPE, 2017).

20

O Sebrae (2013c), enquanto isso, destaca alguns setores prioritários de negócios

sociais no Brasil, tais como: água e saneamento básico, agricultura, artesanato, canais

de distribuição, cultura, educação, energia, habitação, meio ambiente, tecnologia de

informação e de comunicação, turismo, saúde e serviços financeiros/micro finanças.

Já a Artemisia (2018) selecionou quatro setores foco para a busca e seleção de

negócios de impacto. Entre eles estão: educação, habitação, saúde e serviços. No que

concerne o setor de habitação, a organização destaca que, no Brasil, 43% dos

domicílios são inadequados e 1,7 milhões carecem de regularização fundiária. Essa

inadequação dos domicílios expõe famílias a riscos de saúde e segurança e devido à

falta de regularização dos terrenos, investimentos de longo prazo na moradia são

inibidos, o que aumenta a vulnerabilidade das famílias. Dessa forma, são elencadas

algumas formas de melhoria com as quais os negócios de impacto social podem

contribuir para melhorar as condições de habitação da população de baixa renda

(ARTEMISIA, 2018):

i. Diminuir custos, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência de

construções e reformas;

ii. Oferecer soluções de construção e reformas que se adequem às necessidades

das famílias;

iii. Facilitar o acesso a financiamento imobiliário;

iv. Mediar negociações de regularização fundiária.

Nesse sentido, o Programa Vivenda, um negócio de impacto social incluído no portfólio

do setor de habitação da Artemisia, busca melhorar as condições de habitação da

Figura 2 - Áreas de Impacto (Mapa de Negócios de Impacto 2017)

Fonte: PIPE (2017)

21

população de baixa renda com uma solução de reformas habitacionais de baixo custo,

que beneficiam a saúde e o bem-estar de seus clientes. A empresa oferece kits de

reforma (banheiro, cozinha, área de serviço, sala e quarto) de rápida execução,

incluindo planejamento, material e mão de obra (local), além de parcelamento em até

30 vezes. O negócio começou sua atuação em 2014 na comunidade do Jardim

Ibirapuera, na zona sul de São Paulo e já foram realizadas mais de 600 reformas, com

um tempo médio de 6 dias por obra (PROGRAMA VIVENDA, 2018; EXAME, 2016).

A Figura 3 mostra um banheiro antes e após a reforma realizada pelo Programa

Vivenda.

Figura 3 - Banheiro antes e depois da reforma do Programa Vivenda

Fonte: Red Bull Amaphiko (2018)

O financiamento dos projetos foi um grande desafio que precisou ser vencido pelo

Programa Vivenda. Foi preciso estabelecer uma parceria multistakeholder para que

fosse possível contornar a falta de incentivos, de forma a tornar economicamente viável

a sua oferta de serviços de reformas e, assim, ampliar seu impacto social sobre a

população de baixa renda. Através das inversões financeiras recebidas por meio de

parcerias com a Artermisia, Instituto Azzi e Banco Pérola, a empresa conseguiu começar

a atender seus clientes com renda inferior a 1,5 salário-mínimo. Também foram

inseridos nos processos da empresa a ONG local Bloco do Beco, para fornecer apoio

22

logístico, e os agentes sociais municipais para ajudar na identificação de moradores em

situação de risco (PNUD, 2015).

Posteriormente, a empresa bateu recordes de captação pela Broota, uma plataforma de

equity crowdfunding brasileira. A meta de captação de R$500 mil foi superada em

menos de 8 horas de Oferta Pública, mobilizando mais de 90 investidores. A quantia

permitiu que a empresa iniciasse sua estratégia de expansão territorial, com a

inauguração da sua segunda loja, na Zona Leste de São Paulo, em 2017 (PIPE, 2017;

PROGRAMA VIVENDA, 2018).

Um outro negócio social que tem um objetivo semelhante ao do Programa Vivenda é o

Moradigna. Criado em 2015 por um estudante de engenharia civil, o empreendimento

também se localiza na cidade de São Paulo e realiza reformas de baixa complexidade

em residências localizadas na região periférica do Jardim Pantanal. No entanto, as

reformas têm foco em prevenção e combate à insalubridade e o negócio opera segundo

o modelo Yunus, ou seja, o lucro é reinvestido no empreendimento. Os três sócios

recebem remuneração de acordo com o mercado e não têm participação nos lucros. Os

pacotes de reforma oferecidos incluem mão de obra, material de construção, projeto e

gestão da reforma, que dura de 3 a 6 dias, têm garantia de um ano e podem ter seu

valor total parcelado em até 12 vezes. Para a análise de crédito não é exigida renda fixa

nem formal, porém o financiamento só é aprovado se o cliente tiver o nome limpo. O

Moradigna se encontra instalado no prédio de uma organização da sociedade civil, sem

fins lucrativos, por meio de contrato de comodato. Além disso, existem planos de

crescimento para o negócio social, que envolvem expansão para todo o Brasil

(HIGASHI, COMINI e D'AMARIO, 2017; PIRES, 2017).

23

3. CARACTERIZAÇÃO DO SEGMENTO DE REFORMAS

É notório que o desenvolvimento socioeconômico de um país e sua capacidade

produtiva se relacionam diretamente com o desempenho da construção civil, que é um

dos principais setores industriais do país e abrange atividades relacionadas à

construção de edificações e obras de infraestrutura. Todavia, a realização dessas

atividades muitas vezes envolve a mobilização de diferentes empresas que compõem

as vertentes da cadeia de valor do setor (SISTEMA FIRJAN, 2018).

Conforme ilustrado na Figura 4, a cadeia de valor da construção civil é dividida em seis

vertentes: extração (madeira, minerais não metálicos e minerais metálicos), indústria de

materiais de construção (serrarias, produtos acabados de madeira, argilas, areia e

cascalho, vidro plano, calcário, pedras e rochas, químicos e petroquímicos, siderurgia

do cobre, materiais elétricos, siderurgia do alumínio e siderurgia do aço), comércio

(atacadista e varejista de materiais de construção), serviços (escritórios de projetos e

serviços financeiros), construção (autoconstrução, construtoras, incorporadoras,

subempreiteiros, instalações elétricas e hidráulicas, pintura, alvenaria etc.) e uso e

operação, que inclui o segmento de reformas, reparos, adaptações e ampliações, como

mostra a Figura 5 (SEBRAE, 2016).

Figura 4 - Cadeia de valor da construção civil

Fonte: SEBRAE (2016)

Figura 5 - Mapa da construção civil da vertente de Uso e operação

Fonte: SEBRAE (2016)

24

3.1. Reformas: conceituação

A palavra reforma é apenas um dos termos usados para designar intervenções em

edificações com o objetivo de recuperá-las ou implementar novas funções. Termos

como restauração, retrofit, reabilitação e reforma são comumente usados sem distinção.

Com isso, faz-se necessário conceituá-los para um melhor entendimento de suas

particularidades e para que seja possível definir as atividades relacionadas ao segmento

de reformas, que são o foco deste trabalho (JESUS e BARROS, 2011).

3.1.1. Restauração

A restauração de edificações tem o objetivo de recuperar suas características originais,

conforme ocorre nos casos de patrimônios artísticos e culturais, em que pode ser

demandada a recuperação de fachadas (inclui não só revestimentos de paredes, mas

também esquadrias, vidros, gradis e ornatos) e coberturas originais (abrange a troca de

telhas e claraboias originais, mantendo as características do desenho e caimento das

águas) (CROCE, MELLO e AZEVEDO, 2008).

Já de acordo com Devecchi (2010), a restauração consiste no processo de recuperação

da concepção original de espaços e construções considerando técnicas e detalhes

construtivos especializados.

Marques de Jesus (2008) ratifica essa definição, afirmando que a restauração está

diretamente relacionada com ações de conservação do patrimônio que apresentem alto

grau de complexidade e necessitem de conhecimentos técnicos e científicos

especializados.

3.1.2. Retrofit

Segundo Maia (2004), o retrofit surgiu na Europa e Estados Unidos, associado à prática

de revitalização de edifícios antigos, com objetivo de aumentar a sua vida útil através

da adoção de novas tecnologias e materiais modernos.

No Brasil, por sua vez, observa-se o emprego desse termo quando se faz referência a

intervenções de maior magnitude que possuem a finalidade de adequar edificações à

novas demandas de uso (MARQUES DE JESUS, 2008). Asmussen (2004), no entanto,

aponta que o termo muitas vezes é usado equivocadamente como sinônimo de reforma.

Segundo o autor, o retrofit não tem os mesmos objetivos de uma reforma, uma vez que

se caracteriza pela substituição de elementos específicos de um produto considerado

obsoleto devido ao passar do tempo ou surgimento de novas tecnologias.

Romero e Gonçalves (2000) destacam a importância do retrofit no que diz respeito à

renovação dos sistemas prediais de edifícios com mais de 15 anos. Segundo os autores,

25

essas alterações costumam proporcionar diminuição de desperdícios relacionados ao

consumo de energia elétrica e água nas edificações, contabilizando uma redução de

30% nos seus custos de operação.

Ferreira, Ferrari e Bermejo (2003 apud MARQUES DE JESUS, 2008, p. 15-16) ratificam

essa abordagem, dando ênfase ao papel do retrofit na redução dos custos operacionais

dos edifícios por meio da atualização de seus sistemas prediais. Dessa forma, citam

como exemplos a troca de luminárias antigas por lâmpadas com maior eficiência

energética e a substituição de louças e materiais sanitários por linhas que possibilitem

a redução do consumo de água.

Já Devecchi (2010) afirma que o retrofit consiste no conjunto de intervenções que usam

tecnologias de reaproveitamento de água, isolamento térmico e painéis solares, ou seja,

voltadas especialmente à adequação da eficiência energética das edificações.

Marques de Jesus (2008), por outro lado, adota uma definição menos específica,

estabelecendo que o retrofit consiste na substituição de elementos obsoletos ou

inadequados, tanto devido à evolução tecnológica quanto ao passar do tempo e

surgimento de novas necessidades dos usuários, como a intensificação da utilização da

energia elétrica por computadores, microondas e outros equipamentos eletrônicos, além

da instalação de câmeras de segurança, redes de distribuição de gás, etc.

3.1.3. Reabilitação

No âmbito internacional, a reabilitação se caracteriza por intervenções que

proporcionem a recuperação das edificações como um todo, podendo alterar ou não

seu uso original (MARQUES DE JESUS, 2008).

Egbu, Young e Torrance (1997 apud MARQUES DE JESUS, 2008, p. 19) definem

reabilitação como o conjunto de ações que envolvem a melhoria, adaptação,

atualização, restauração, modernização, conservação, retrofit e reparo das edificações.

Já segundo Aguiar, Cabrita e Appleton (2002 apud MARQUES DE JESUS, 2008, p. 20),

a reabilitação tem o objetivo de solucionar problemas construtivos, ambientais e

funcionais das edificações ou até mesmo alterar sua função original através da

modernização e melhoria geral do imóvel, incluindo a renovação de instalações,

equipamentos e a organização de espaços existentes.

Marques de Jesus (2008), por sua vez, afirma que a reabilitação se refere ao conjunto

de ações que incluem restauração, manutenção, alteração, retrofit, reparo ou reforma,

e cujo propósito é atribuir ao edifício as mesmas características econômicas e funcionais

exigidas a um imóvel novo para a mesma finalidade. Além disso, o autor estabelece que

26

ela pode ser classificada conforme o grau de alteração necessário, de acordo com três

níveis:

Nível 1: aplicação, reuso ou remoção de componentes da edificação;

Nível 2: alterações que envolvam reconfiguração de espaços ou subsistemas da

edificação;

Nível 3: alterações em mais de 50% da área total da edificação.

3.1.4. Reforma

Maricato (2000 apud JESUS e BARROS, 2011, p. 60) afirma que empresas de reforma

são geralmente menores do que as ligadas à reabilitação que, ao contrário das

primeiras, costumam realizar intervenções nas edificações como um todo.

De acordo com Marques de Jesus (2008), reformas podem ser consideradas

reabilitações superficiais, as quais compreendem pequenos reparos nas instalações e

equipamentos já presentes na edificação, tais como: reparos em revestimentos,

melhoria das condições de iluminação e ventilação, reparos de esquadrias e

instalações.

Já segundo a definição da NBR 16.280, uma reforma de edificação compreende a

“alteração nas condições da edificação existente com ou sem mudança de função,

visando recuperar, melhorar ou ampliar suas condições de habitabilidade, uso ou

segurança, e que não seja manutenção”.

As obras de reforma podem ter a função de ampliar a edificação através do acréscimo

de áreas ou pavimentos e até mesmo reduzir o edifício e seus ambientes. Suas

dimensões e áreas também podem ser simplesmente mantidas se a reforma visar

apenas a alteração das características prediais. Nesse sentido, as reformas podem

compreender, por exemplo, a modernização das instalações, substituição de

revestimentos e elementos danificados, bem como a recuperação de estruturas. No

entanto, as obras de reforma de edificações costumam apresentar características de

execução muito diferentes umas das outras, o que tende a dificultar a padronização da

produção. Esse problema é resultante principalmente do desconhecimento da real

situação na qual se encontra a edificação, ou seja, faltam projetos originais precisos e

o levantamento das características da edificação não é simples (CROCE, MELLO e

AZEVEDO, 2008).

Além dos problemas acarretados pela imprevisibilidade da situação em que se

encontram os edifícios, o segmento de reformas também sofre com a informalidade,

27

uma característica comum no Brasil no que diz respeito à construção e, especialmente,

reformas de imóveis.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do

Brasil (CAU/BR) e pelo Instituto Datafolha, a maioria das reformas ou construções

particulares no Brasil é feita sem a assistência de um profissional especializado. A

Figura 6 mostra que 54% dos entrevistados já construiu ou reformou, porém apenas

15% utilizaram serviços de um arquiteto e/ou engenheiro na obra. A pesquisa também

confirmou que o principal motivo da preferência por mestres de obras e pedreiros é a

questão financeira (Pesquisa CAU/BR Datafolha, 2015).

Figura 6 - Como o brasileiro reforma e constrói

Fonte: Pesquisa CAU/BR Datafolha, 2015

Ainda segundo a Pesquisa CAU/BR Datafolha (2015), a maior parte dos entrevistados

que já realizou reforma ou construção afirmou que a experiência não foi boa devido a

uma série de problemas, sobretudo pela dificuldade de encontrar mão de obra

qualificada. Em geral, as três maiores dificuldades encontradas se relacionam à mão de

obra, planejamento e material de construção. No que se refere à mão de obra, os

28

entrevistados apontaram não só a baixa qualificação, mas também a falta de

comprometimento, já que muitos profissionais abandonam as obras pela metade. Além

disso, devido à sua baixa qualificação, prestam serviços ruins que muitas vezes

precisam ser refeitos, gerando mais gastos e extrapolando o cronograma. A falta de

conhecimento e assessoria na fase de planejamento também costuma gerar previsões

incorretas dos custos e atrasos nos prazos de entrega. Por último, a quantidade de

material certa a ser comprada também foi vista como um problema, uma vez que a

estimativa dos pedreiros não costuma ser exata, gerando desperdício, sobras e até

mesmo falta de material.

No entanto, apesar das dificuldades, o segmento de reformas demonstra ter potencial

de mercado, sobretudo no que diz respeito a reformas de unidades residenciais.

3.2. O mercado de reformas

Conforme mostrado nas Figuras 4 e 5, o segmento de reformas representa uma parcela

importante do setor da construção civil no Brasil e tem apresentado crescente demanda,

apesar deste setor estar sendo um dos mais afetados pela recessão econômica

brasileira dos últimos anos. Enquanto construtoras tiveram queda no número de

empreendimentos e imobiliárias observaram a redução da procura por imóveis, nos três

primeiros meses de 2017 empresas de reparos e reformas cresceram 5% em

comparação com o mesmo período de 2016 (EMPREENDEDOR, 2017).

Isso porque, ao contrário da construção de novas edificações, o segmento de reformas

não é tão dependente da situação da economia do país, uma vez que conta com uma

demanda mais constante e, em paralelo a isso, tem um valor de investimento menor do

que o da aquisição de um novo imóvel. Dessa maneira, devido a diminuição do poder

de compra causado pela crise financeira, muitas pessoas que gostariam de fazer essa

aquisição acabam adotando uma postura mais cautelosa e dão preferência pela reforma

em seu lugar. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de materiais de

Construção (Abramat), o setor da construção civil estaria sofrendo muito mais se não

fossem as reformas residenciais (DIÁRIO DO COMÉRCIO, 2015; EXAME, 2016).

Segundo a LCA (2012), o mercado de reformas residenciais tem grande importância no

Brasil principalmente devido a duas razões: o aumento efetivo e potencial do mercado

(aumento do estoque de habitações) e sua agenda social (aumento da qualidade de

vida e superação do déficit habitacional). No entanto, também existem dois grandes

desafios a serem enfrentados: a ampliação do mercado e a execução de reformas com

29

qualidade. Ainda segundo a LCA (2012), ambos os desafios estão diretamente

relacionados com a falta de crédito para materiais e mão de obra.

A Figura 7 mostra que há espaço para expansão do crédito habitacional no Brasil, que

representava apenas 4,8% do PIB brasileiro em 2011. Já outras economias em

desenvolvimento como Chile, China e México apresentavam maior oferta de crédito.

Figura 7 - Crédito habitacional como proporção do PIB (%)

Fonte: LCA (2012)

Ainda que um grande volume de operações caracterize o mercado de reformas, as

dificuldades enfrentadas no processo de melhoria das habitações também o marcam.

Além da escassez de crédito, o setor ainda enfrenta dificuldades estruturais como: falta

de mão de obra qualificada, baixa qualidade dos materiais ofertados e ausência de

profissionais capacitados para realizar os projetos e especificações das obras. Nesse

sentido, resultados comuns do processo de reformas incluem desperdício e entregas

finais que ficam mais caras e com uma qualidade inferior do que o esperado pelo cliente.

Além disso, mais de 50% das obras em domicílios brasileiros são feitas através de

autogestão, ou seja, o proprietário contrata a mão de obra e administra a obra, muitas

vezes sem orientação técnica apropriada e sem a participação de um profissional

capacitado da área (ABCP, 2012).

Apesar de ser uma prática mais frequentemente adotada pela população de baixa

renda, a autogestão habitacional também é um mecanismo utilizado por outras classes

sociais pois, supostamente, tende a reduzir os custos (BONDUKI; ROSSETTO, 2008

apud MUNHOZ, 2010, p. 30).

30

No entanto, as chances de sucesso das reformas por autogestão são minimizadas

porque o processo construtivo não é definido previamente e a escolha da

técnica/tecnologia a ser usada na reforma é feita sem a devida fundamentação técnica

(MUNHOZ, 2010).

Segundo o PBQP-H (2009 apud MUNHOZ, 2010, p. 31), nesse tipo de obra tem-se:

baixa qualidade da mão de obra, baixa eficiência e alto nível de desperdício de materiais

(de 30% a 50%), o que acaba aumentando os custos da obra.

A LCA (2012) afirma que, considerando que as habitações depreciem a uma taxa de

1,5% a.a., o gasto anual com reformas para recompor a depreciação de imóveis

corresponde a 62% do total da autogestão (considerando tanto a construção de novas

unidades como também reformas). Além disso, ainda de acordo com a LCA, os gastos

efetivos com reformas são baixos se comparados com a necessidade das famílias

reformarem suas habitações, o que indica que a alocação de recursos da autogestão

não está sendo realizada de maneira a atender adequadamente essa necessidade de

recomposição da depreciação dos imóveis.

De acordo com o PNAD-IBGE, o Brasil possui aproximadamente 62,8 milhões de

residências, sendo 73% casas e os outros 27% apartamentos. Estima-se que 80%

desse total, pelo menos uma vez ao ano, necessite de manutenção (SEBRAE, 2018).

Porém, segundo a ABCP (2012), foi estimado que apenas 25% das moradias brasileiras

passam por reformas e ampliações anualmente.

Além de apresentar um mercado potencial, o setor de reformas também possui

componentes sociais relevantes. Segundo a LCA (2012), as reformas possuem um

papel importante no contexto urbano, uma vez que a construção de novas unidades

habitacionais é dificultada pela escassez de terrenos. Já no que diz respeito à redução

do déficit habitacional e inadequação, 22% dos casos podem ser solucionados através

de uma aliança entre reformas e expansão dos serviços públicos.

As reformas são benéficas não só no que diz respeito à melhoria da estrutura física dos

imóveis, mas também nos âmbitos da saúde e social. A inadequação da iluminação

natural, qualidade do ar e acústica tem relação direta com problemas como proliferação

de fungos, doenças respiratórias e stress. Além disso, nos casos de alta densidade de

moradores pode ocorrer disseminação de doenças contagiosas. Nesse sentido, através

da melhoria física das habitações, as reformas podem ter impacto positivo na vida dos

moradores com o uso de revestimentos adequados, facilitação de incidência solar

apropriada e boa circulação de ar (LCA, 2012).

31

3.3. Aspectos legais

Para a criação de uma empresa de reformas residenciais alguns procedimentos

precisam ser realizados, a começar pelo registro da empresa. Para tal, é necessário

contratar um contador, para que ele auxilie no preenchimento dos formulários de

inscrição nos órgãos públicos. O registro da empresa deve ser feito perante a junta

comercial, Secretaria da Receita Federal (CNPJ), Secretaria Estadual de Fazenda,

Prefeitura do Município (deve ser verificada a necessidade de alvará de funcionamento),

Caixa Econômica Federal e Corpo de Bombeiros. Também deve ser feito o

cadastramento na Entidade Sindical Patronal, assim a empresa de reforma pode

recolher a Contribuição Sindical Patronal anualmente. No Rio de Janeiro a entidade é o

Sinduscon-Rio (SEBRAE, 2018).

O Código de Obras do Município do Rio de Janeiro traz alguns serviços que não

necessitam de licenciamento. Entre eles estão pinturas e pequenos consertos de

prédios, obras de reforma ou de modificação interna de fachada, sem acréscimo de área

e que não implique alterações das áreas comuns das edificações, de modo que esse

tipo de serviço não precisa de registro em órgãos específicos, nem em conselho de

classes. Por outro lado, serviços como reformas estruturais, reparos nas instalações

elétricas, de gás e água necessitam de registro nos órgãos específicos, juntamente de

uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) produzida por um Engenheiro ou

Arquiteto responsável (SEBRAE, 2018).

Ao se desenvolver um projeto de reforma, o responsável técnico deve se basear em

algumas normas de projeto, as principais delas são a ABNT NBR 15575:2013 – Norma

de desempenho; ABNT NBR 14037:2011 – Manual de uso, operação e manutenção;

ABNT NBR 5674:2012 – Gestão da manutenção; ABNT NBR 16280:2014 – Gestão das

reformas.

A norma sobre Gestão das Reformas traz mais detalhes sobre os requisitos que devem

ser atendidos em um plano de reformas de maneira mais geral, pois ela se aplica tanto

a reformas de edificações, englobando residências e comércios. Alguns desses

requisitos que se aplicam a reformas residenciais são (NBR 16280: 2014):

i. Atendimento a normas e legislações relacionadas à realização da obra de

reforma;

ii. Estudo que garanta a segurança dos usuários e da própria edificação durante e

após a execução;

iii. Autorização da circulação de insumos e funcionários na edificação durante os

horários de trabalho, além do armazenamento dos mesmos;

32

iv. Projetos, desenhos, memoriais, referências técnicas e cronograma, quando

aplicáveis;

v. Escopo do serviço realizado;

vi. Identificação das atividades que gerem alto ruídos sonoros;

vii. Se for o caso, identificação de resíduos tóxicos, inflamáveis e combustíveis;

viii. Planejamento de descarte, segundo a legislação vigente;

ix. Dados da empresa, profissionais envolvidos na reforma;

x. Responsabilidade técnica do projeto, execução e supervisão das obras, deve ser

documentada e apresentada com a nomeação do responsável.

33

4. PLANO DE NEGÓCIO: CONTEXTUALIZAÇÃO

4.1. Conceituação

De acordo com Chiavenato (2000), planejar significa definir objetivos e determinar os

meios adequados para alcançá-los evitando soluções apressadas e improvisadas, que

podem não ser as mais adequadas para a situação. O planejamento consiste em uma

relação entre o que deve ser feito e o tempo disponível para realizá-lo.

Chiavenato (2005) afirma que a consequência principal do planejamento são os planos.

Quando bem-sucedidos, conduzem ao alcance dos objetivos pretendidos através de um

propósito comum: prever, programar e coordenar uma sequência lógica de ações.

Representam uma tomada de decisões antecipada, antes mesmo de qualquer ação ser

necessária. Geralmente, o plano é um curso de ação dentre várias alternativas, que

abrange um período específico de tempo, e responde às seguintes questões: o que,

quando, como, onde e por quem.

No caso da abertura de um negócio, além de ter um projeto em mente a ser colocado

em prática, é importante avaliar a viabilidade da sua implantação através de um

planejamento sólido e bem detalhado (CHIAVENATO, 2005).

Segundo Salim (2005), o mundo dos negócios pertence cada vez mais aos

empreendedores, ou seja, àqueles que têm a capacidade de identificar as melhores

oportunidades e sabem como aproveitá-las.

Schumpeter amplia este conceito afirmando que “o empreendedor é a pessoa que

destrói a ordem econômica existente graças à introdução no mercado de novos

produtos/serviços, pela criação de novas formas de gestão ou pela exploração de novos

recursos, materiais e tecnologias” (SCHUMPETER, 1947 apud CHIAVENATO, 2005, p.

8).

No entanto, há empreendedores que tendem a negligenciar a fase de planejamento do

negócio, seja pela falta de conhecimento acerca da elaboração de um planejamento,

pela descrença na sua eficácia ou até pela ansiedade de iniciá-lo. Ao negligenciar o

planejamento do negócio estes empreendedores deixam de realizar uma simulação do

futuro que almejam e, assim, acabam não estabelecendo previamente os cursos de

ação necessários e os meios adequados para alcançá-los (CHIAVENATO, 2005).

A falta de planejamento é apontada como a principal causa para o insucesso de novas

empresas. No Brasil, o índice de mortalidade de micro e pequenas empresas em seus

primeiros anos de funcionamento chega a percentuais próximos aos 70% ou até mais

34

altos. Até mesmo nos Estados Unidos, referência em empreendedorismo e criação de

pequenas empresas de sucesso, estes percentuais se aproximam do caso brasileiro,

atingindo mais de 50% em determinadas áreas de negócio. Uma pesquisa do órgão do

governo americano que auxilia suas pequenas empresas (Small Business

Administration), mostra as causas de fracasso das start-ups norte-americanas,

conforme apresentado na Tabela 2 (DORNELAS, 2005):

Tabela 2 - Causas de fracasso das startups americanas

Fonte: SBA (1998) apud Dornelas (2005)

Observa-se na Tabela 2 que apenas 2% dos casos de fracasso de startups norte-

americanas são devidos a fatores desconhecidos. De acordo com Dornelas (2005), os

demais podem ser agrupados e resumidos em uma única causa: falha ou falta de

planejamento adequado do negócio. Já no Brasil, a conjuntura não é muito diferente,

conforme evidencia uma pesquisa realizada pelo Sebrae-SP a respeito dos fatores de

mortalidade de empresas nacionais criadas entre 1997 e 2001. Segundo a pesquisa, a

falta de planejamento aparece como a principal causa de insucesso, seguida de

deficiências de gestão e políticas de apoio insuficientes.

Assim, para evitar insucessos, é importante que seja elaborado um planejamento

através de um estudo prévio do negócio – o Plano de Negócio. Uma pesquisa realizada

com ex-alunos do curso de administração da Harvard Business School, nos Estados

Incompetência gerencial 45%

Inexperiência no ramo 9%

Inexperiência em gerenciamento 18%

Expertisedesbalanceada 20%

Negligência nos negócios 3%

Fraudes 2%

Desastres 1%

TOTAL 98%

Apenas 2% são fatores desconhecidos.

35

Unidos, mostrou que a probabilidade de sucesso dos negócios aumenta em 60%

quando existe o plano de negócio (BANGS, 1998 apud DORNELAS, 2005, p. 99).

Seu principal objetivo é orientar o empreendedor acerca das decisões estratégicas do

negócio antes de iniciá-lo. Além disso, também estrutura as principais ideias e opções

que o empreendedor deve avaliar para decidir sobre a viabilidade da nova empresa

(PEREIRA e SANTOS, 1995).

O Sebrae (2013a) define plano de negócio como um documento que descreve tanto os

objetivos de um negócio como também quais passos devem ser dados para que estes

objetivos sejam alcançados, de forma a reduzir os riscos e incertezas. Ele permite que

os erros sejam identificados e restringidos no papel, ao invés de serem cometidos no

mercado.

4.2. Importância do plano de negócio em novos empreendimentos

Pereira e Santos (1995) apresentam um outro aspecto do plano de negócio: nas fases

de alavancagem e consolidação da empresa, ele passa a ser um instrumento de

avaliação permanente da situação do empreendimento, possuindo, assim, um caráter

dinâmico. Além disso, ele também é útil para potenciais sócios, investidores e demais

pessoas ou entidades que possam vir a apoiar o empreendedor na fase inicial e até na

“decolagem” do negócio.

Neste sentido, o plano de negócio pode assumir três funções (CHIAVENATO, 2005):

1. Estudar o novo empreendimento do ponto de vista financeiro (Qual é o

investimento necessário para iniciar o negócio?), mercadológico (Qual é o

potencial do mercado onde a empresa irá atuar?), jurídico (Qual será o regime

jurídico adotado pela empresa?) e organizacional (Quais serão as principais

funções a serem desempenhadas e quem serão os responsáveis por elas?) de

forma que o empreendedor tenha uma noção prévia do funcionamento do

negócio.

2. Analisar, retrospectivamente, cada um dos aspectos definidos no plano de

negócio para comparar o que foi previsto inicialmente com o que foi realizado,

verificando, assim, a evolução do negócio durante a sua implementação. Para

cada aspecto avaliado e comparado, o empreendedor analisa se houve um

desvio e/ou prejuízo para fazer os devidos ajustes para o futuro. Por exemplo:

Estimou-se, no planejamento financeiro, uma determinada quantia para o

investimento inicial. Verifica-se, então, se o valor corresponde ao investimento

real.

36

3. Facilitar a busca do empreendedor por outros sócios ou acordos com bancos,

investidores de risco e fundos de investimento para cobrir os investimentos

iniciais quando o seu próprio capital não for suficiente.

Chiavenato (2005) faz uma analogia entre um plano de negócio e um plano de voo.

Ambos indicam o início, meio e fim de uma “viagem” e levam em consideração a

influência do clima externo, os acidentes de percurso e as possíveis turbulências no

meio do caminho. Dessa forma, pode-se dizer o que o plano de negócio retrata o início,

meio e fim de um empreendimento, e é essencial realizar revisões constantemente para

mantê-lo dinâmico e atualizado.

As utilidades do plano de negócio são muitas. Dornelas (2005) destaca algumas,

conforme a seguir:

a) Entender e estabelecer diretrizes para o negócio.

b) Gerenciar de forma mais eficaz a empresa e tomar decisões acertadas.

c) Monitorar o dia-a-dia da empresa e tomar ações corretivas quando

necessário.

d) Conseguir financiamentos e recursos junto a bancos, governo, Sebrae,

investidores, capitalistas de risco etc.

e) Identificar oportunidades e transformá-las em diferencial competitivo para a

empresa.

f) Estabelecer uma comunicação interna eficaz na empresa e convencer o

público externo (fornecedores, parceiros, clientes, bancos, investidores,

associações etc.).

Além disso, o público-alvo de um plano de negócio vai além de investidores e bancos.

A Tabela 3 apresenta possibilidades como mantenedora de incubadoras e

fornecedores, bem como suas respectivas funções (PAVANI et al., 1997 apud

DORNELAS, 2005, p. 100):

37

Fonte: adaptado de Pavani et al. (1997) apud Dornelas (2005)

4.3. Concepção e elementos constitutivos de um plano de negócio

Em sua composição, o plano de negócio deve apresentar a descrição do setor em que

está inserido o empreendimento, a sua natureza jurídica, a estrutura organizacional da

empresa, simulados dos relatórios financeiros, um plano estratégico e um plano

operacional. A Figura 8 ilustra todas essas etapas necessárias para a sua preparação

e detalha as informações a serem levantadas em cada uma delas:

Público-alvo Funções

Mantenedora das incubadoras (Sebrae,

universidades, prefeituras, governo,

associações etc.)

Outorgar financiamentos a estas

ParceirosDefinição de estratégias e discussão de

formas de interação entre as partes

Bancos

Outorgar financiamentos para

equipamentos, capital de giro, imóveis,

expansão da empresa etc.

Investidores

Empresas de capital de risco, pessoas

jurídicas, bancos de investimento,

angels,BNDES, governo etc.

FornecedoresNegociação na compra de mercadorias,

matéria-prima e formas de pagamento

Empresa (internamente)

Comunicação da gerência com o conselho

de administração e com os empregados

(efetivos e em fase de contratação)

ClientesVenda do produto e/ou serviço e

publicidade da empresa

Sócios

Convencimento em participar do

empreendimento e formalização da

sociedade

Tabela 3 - Público-alvo

38

Figura 8 - Passos necessários para a elaboração do plano de negócio

Fonte: Chiavenato (2005)

Para abordar de forma satisfatória todas essas etapas, o plano de negócio deve ter uma

estrutura lógica e sequenciada. Na Figura 9 é apresentado um esboço disponibilizado

pelo Sebrae para exemplificar essa estrutura:

39

Figura 9 - Roteiro esquematizado para o projeto do negócio, segundo o Sebrae

Fonte: Chiavenato (2005)

40

No entanto, segundo Dornelas (2005), como cada negócio possui tanto semelhanças

como particularidades, é impossível especificar um modelo que seja universal para

qualquer negócio. Não há uma estrutura específica e rígida que deva ser seguida na

elaboração do plano de negócio, mas ele deve conter um mínimo de seções que

possibilitem o entendimento completo do empreendimento. Ou seja, deve permitir que

o leitor entenda a organização da empresa, seus objetivos, seu mercado, seus produtos

e serviços, sua estratégia de marketing e sua situação financeira.

O tamanho ideal do plano de negócio também é uma questão muito discutida. Porém,

não existe uma quantidade padronizada de páginas e tão pouco um tamanho ideal. O

recomendado é que o plano de negócio seja baseado nas necessidades do público-

alvo. Caso o leitor seja um investidor, por exemplo, a sua parte financeira será mais

enfatizada. Jian (1997 apud DORNELAS, 2005, p. 107-108) descreve alguns tipos de

plano de negócio e seus respectivos tamanhos:

a) Plano de Negócio Completo: é usado para apresentar uma visão completa do

negócio e/ou para pleitear uma significativa quantidade de dinheiro. Geralmente

contém 15 a 40 páginas, além dos anexos.

b) Plano de Negócio Resumido: é utilizado para apresentar informações

resumidas a um investidor, por exemplo. Nesse caso, o objetivo seria chamar

sua atenção, de forma que, requisite um plano de negócio completo. Deve focar

nas informações específicas necessárias, assim como conter os objetivos macro

do empreendimento, mercado, investimentos e retorno financeiro. Pode variar

de 10 a 15 páginas.

c) Plano de Negócio Operacional: É muito importante para direcionar os esforços

internos de forma que atendam os objetivos estratégicos do empreendimento.

Pode ser utilizado internamente na empresa pelos funcionários, gerentes e

diretores.

Recursos usados na elaboração do plano de negócio, tais como softwares, também

podem interferir no seu tamanho. Geralmente esses softwares possuem formatos

predefinidos e não apresentam possibilidades de modificação de suas estruturas.

Porém, mesmo assim, podem proporcionar determinados benefícios ao empreendedor.

No caso da parte financeira, por exemplo, os softwares geram automaticamente as

projeções financeiras a partir do preenchimento de certas planilhas, agilizando o

trabalho do empreendedor. A decisão de utilizar ou não o software é do empreendedor,

que deve avaliar o negócio e suas respectivas necessidades (DORNELAS, 2005).

Rocha (2016) lista cinco softwares destinados à elaboração de planos de negócio:

41

1. Plano de Negócios 3.0: é um software disponibilizado pelo Sebrae de forma

gratuita com o objetivo de verificar a viabilidade do negócio. Através dele é

possível prever prazos, metas e resultados de forma interativa.

2. Make Money: Este programa é pago e também possibilita a criação do plano de

negócio de forma interativa. Além de verificar a sua viabilidade, também é

possível analisar os riscos envolvidos na sua operação e criar um plano de

inovação.

3. Empreenda!: Este software também é pago e facilita a análise dos planos de

negócio do ponto de vista mercadológico, financeiro e jurídico. Além disso, com

ele também é possível acompanhar o que já foi planejado e verificar se todas as

ações estão sendo realizadas de acordo com o plano inicial. Também possibilita

a criação de relatórios detalhados que podem facilitar a busca por investimento.

4. Smart Business Plan: Também é pago, mas possui o diferencial de funcionar

diretamente no navegador e armazenar os dados na nuvem, sendo necessária

apenas a conexão com a internet.

5. Luz: A sua versão completa é paga, porém possui uma versão teste gratuita.

Sua proposta consiste em uma planilha de Excel que gera o plano de negócio

através de fórmulas e códigos de programação. O usuário insere os dados que

alimentam a planilha e fazem com que o software calcule todas as variáveis

necessárias para serem incluídas no plano de negócio.

4.4. O Modelo de Negócio Canvas como complemento ao Plano de Negócio

O mundo dos negócios vem sendo afetado diretamente não só pela revolução digital,

mas também pela globalização e velocidade das mudanças nesta era dos clientes. A

partir do início do século XX, quando ganhou força, a ciência da administração de

empresas vem precisando incorporar uma série de novos conceitos para se adequar a

essas mudanças e atuar em meio a elas (SEBRAE, 2013b).

De acordo com Osterwalder e Pigneur (2011), “assim como ocorreu com a Qualidade

nos anos 1980, os Processos nos anos 1990 e a Estratégia na década seguinte,

Inovação é a palavra-chave no mundo da gestão nos tempos atuais”.

Uma das iniciativas inovadoras mais recentes é o Quadro de Modelo de Negócio

(Business Model Canvas), que tem por objetivo sintetizar as funções de uma empresa

em um único quadro. Esta ferramenta, muito bem recebida pelos empreendedores, é

resultado dos estudos e experimentações de Alexander Osterwalder e Yves Pigneur. A

ideia é que, usando o Quadro como um guia de hipóteses a serem validadas, o

empreendedor crie modelos de negócios. A seguir, ele valida essas hipóteses com o

42

cliente e, a partir da redução das incertezas, é definido o Modelo de Negócios, que

servirá de insumo para o planejamento e execução (SEBRAE, 2013b).

Segundo Dornelas (2013), há quem defenda a ideia de que a adoção da modelagem de

negócio no estilo Canvas como padrão representa o fim do plano de negócio. No

entanto, na verdade, as duas técnicas são complementares e podem ser usadas em

qualquer negócio.

A elaboração do modelo de negócio precede a do plano de negócio. É através da análise

do primeiro que é verificada a validade da ideia original e se todas as partes se encaixam

de forma a compor um sistema. A partir dessa verificação, o plano de negócio detalhará

esta oportunidade já validada e indicará o caminho para o empreendedor atingir os

objetivos do negócio. Caso o modelo de negócio seja alterado, o plano de negócio

também deverá ser. É importante que as duas ferramentas se mantenham conectadas

(SEBRAE, 2013b).

O modelo de negócio explica como a empresa funciona e cria valor. Proporciona a

visualização da descrição do negócio e das partes que o compõem. A sua essência se

resume em procurar entender as formas como a empresa captará dinheiro, qual será

seu modelo de receita e como as diversas áreas e processos se relacionam para que a

empresa funcione gerando valor aos clientes (DORNELAS, 2013).

O Canvas ajuda a rascunhar o modelo de negócio, testando (DORNELAS, BIM, et al.,

2015) principalmente a viabilidade de ideias de empresas que estão começando. Por

ser uma ferramenta simples, que facilita a visualização e a definição das variáveis do

empreendimento, o seu uso para a modelagem de negócios rapidamente se popularizou

no Brasil e no mundo (SEBRAE).

A ideia do Business Model Canvas surgiu a partir de uma tese de Ph.D sobre inovação

de modelo de negócios. Osterwalder (2004), em sua tese, a partir da avaliação e

comparação das construções dos modelos de negócio mais comuns na literatura,

identificou os elementos que apareciam com mais frequência. Com exceção dos

elementos relacionados aos concorrentes, o resultado do estudo considera todos os

componentes de modelos de negócios mencionados por pelo menos dois autores,

sendo constituído por uma síntese de nove blocos de construção.

A partir de 2006, o método abordado em sua tese passou a ser adotado em todo o

mundo com base em seu blog sobre modelo de negócios. Posteriormente, junto com o

professor Yves Pigneur, criou o livro Business Model Generation a partir de uma

plataforma colaborativa. Ambos acreditam que um modelo de negócio “pode ser melhor

descrito a partir de nove componentes básicos, que mostram a lógica de como uma

43

organização pretende gerar valor. Os nove componentes cobrem as quatro áreas

principais de um negócio: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira”

(OSTERWALDER e PIGNEUR, 2011).

Esses componentes propostos por Osterwalder e Pigneur (2011) para a construção do

modelo de negócio são:

1. Segmentos de Clientes: define os diversos grupos de pessoas ou empresas que

a organização pretende alcançar e atender.

2. Proposta de Valor: descreve o conjunto de produtos e serviços que criam valor

para um determinado segmento de clientes.

3. Canais: define canais de comunicação, distribuição e vendas que levam as

propostas de valor aos clientes.

4. Relacionamento com Clientes: descreve o tipo de relação estabelecida e

mantida com cada segmento de clientes.

5. Fontes de Receita: representa o dinheiro que uma empresa gera como resultado

de propostas de valor oferecidas com êxito aos clientes.

6. Recursos Principais: são os recursos mais importantes necessários para que o

modelo de negócio funcione.

7. Atividades-Chave: representam as ações mais importantes que a organização

deve executar para operar com sucesso.

8. Parcerias Principais: rede de parceiros e fornecedores que fazem o modelo de

negócio funcionar.

9. Estrutura de Custo: descreve todos os custos envolvidos na operação do modelo

de negócio.

A Figura 10 ilustra a conexão desses nove blocos do Business Model Canvas, que

formam a base para o Quadro de Modelo de Negócios.

44

Para obter o modelo de negócio, a ferramenta usada é o Quadro de Modelo de

Negócios, que utiliza o pensamento visual, representando ideias ou situações através

do uso de desenhos e, assim, permitindo a compreensão rápida sobre o tipo de negócio

abordado. A partir do mesmo é possível comparar a relação entre os nove blocos e

checar se eles se completam. Dessa forma, o Quadro também proporciona uma visão

sistêmica, já que se torna possível compreender o todo com base em uma análise das

partes e da relação entre elas. Além disso, por ser visual e por permitir uma visão

sistêmica, viabiliza também a cocriação. Ele funciona melhor quando impresso em uma

tela grande, pois os grupos de pessoas envolvidas podem rascunhar e discutir juntos os

seus elementos.

O Business Model Canvas é uma das ferramentas mais usadas, tanto para criar um

negócio quanto para inovar em empreendimentos já iniciados. Com mais clareza e em

um intervalo de tempo menor, através do Quadro é possível que empreendedores e

empresas foquem em tudo que é mais importante e percebam elos que não teriam sido

notados em longos textos descritivos (SEBRAE, 2013b).

A Figura 11 mostra o Quadro de modelo de negócios. A ideia é que os blocos sejam

preenchidos de maneira objetiva, iniciando pela Proposta de Valor ou Segmentos de

Figura 10 - Representação dos nove blocos do modelo de negócio.

Fonte: Osterwalder e Pigneur (2011)

45

Clientes e continuando depois pelos demais blocos do lado direito: Canais e

Relacionamentos com Clientes. Em seguida, devem ser preenchidos os blocos:

Atividades-Chave, Parcerias Principais e Recursos Principais e, finalmente, os blocos

de Estrutura de Custo e Fontes de Receita.

Figura 11 - Quadro de Modelo de Negócios (Business Model Canvas).

Fonte: Osterwalder e Pigneur (2011)

De acordo com Dornelas et al. (2015), o Canvas pode ser de grande auxílio na fase de

análise de oportunidade, que precede o plano de negócio e que é uma etapa importante

do processo empreendedor. Se a análise do Canvas for complementada com uma

pesquisa de mercado primária, é possível decidir se um plano de negócio tradicional

estruturado é necessário ou não para seguir em frente. Ou seja, o empreendedor terá

informações completas para definir se testará suas hipóteses colocando sua empresa

efetivamente para operar (empreendedorismo efectual) ou se fará uma análise mais

criteriosa da viabilidade do negócio através de um plano de negócio tradicional. Todavia,

vale ressaltar que uma análise mais cuidadosa de viabilidade é demandada da maioria

dos negócios antes que comecem a funcionar.

Como ultimamente o mercado tem exigido planos de negócio cada vez mais objetivos e

enxutos e com a parte financeira mais completa, a sua integração com o Canvas pode

ser muito útil para atender essa exigência de forma rápida, com planos de negócio

completos e simples.

46

5. A ESTRUTURA DE UM PLANO DE NEGÓCIO

5.1. Aspectos gerais

Segundo a PwC Brasil (2010), existem diversas maneiras de elaborar um plano de

negócio e não há um padrão para seu desenvolvimento ou formatação. No entanto,

alguns autores propõem estruturas básicas para sua elaboração, que contam com

particularidades que as diferenciam. A Tabela 4 apresenta simplificadamente as

diferenças entre estruturas propostas por cinco autores.

Tabela 4 - Comparativo entre cinco estruturas de plano de negócio

47

Nota-se que o sumário executivo é uma seção que aparece em todas as estruturas.

Mercado, Equipe de gestão, Produtos e serviços, Marketing e Finanças também são

seções adotadas de forma recorrente. Contudo, é importante ressaltar que as estruturas

propostas foram elaboradas com objetivos diferentes, os quais imprimem as

particularidades responsáveis por distingui-las.

Ashoka e Mckinsey (2001), propõem uma estrutura voltada para organizações do

terceiro setor, com enfoque em captação de recursos ou geração de recursos através

de um produto e/ou serviço. Já a estrutura de Salim (2005) é aplicável tanto a empresas

quanto a unidades de negócio (área de uma empresa responsável por um produto ou

serviço específico e que atua com certo grau de independência). Com uma seção

exclusiva voltada para a história da empresa, a proposta de estrutura da Pwc Brasil

(2010), por outro lado, tem um foco maior em empresas já existentes. A estrutura do

SEBRAE (2013a), enquanto isso, é voltada a empreendedores de pequenos negócios

e visa auxiliá-los na decisão de abrir, manter ou ampliar suas empresas. Por fim, a

proposta de Dornelas et al. (2015) é direcionada tanto a acadêmicos quanto a

empreendedores criando ou gerindo empresas em fases iniciais de desenvolvimento.

Além disso, também propõe a integração da estrutura do plano de negócio com o

modelo de negócios Canvas.

5.2. Proposta de itemização para o plano de negócio

Apesar de não haver um padrão é importante que se destaque os principais tópicos que

a parte textual de um plano de negócio deva conter. Uma das estruturas mais práticas

e completas identificada para planos de negócio é sugerida por Dornelas et al. (2015) e

por isso foi adotada como referência para discorrer sobre os diversos aspectos que

devem compor o escopo do plano de negócio. A estrutura proposta é composta por nove

seções. Para cada seção proposta é feita uma descrição detalhada do que a mesma

deve conter, comentários sobre a melhor forma de redação e apresentação e são

sugeridas ferramentas que possam ser utilizadas como apoio no desenvolvimento do

conteúdo, como o modelo de negócios Canvas.

De acordo com Dornelas et al. (2015), o documento não precisa ser extenso e pode ter,

em média, de 15 a 25 páginas. Ao invés de incluir questões estratégicas, táticas e

operacionais como no passado, com o passar do tempo os empreendedores

começaram a otimizar seus planos de negócio para garantir que ficassem mais enxutos,

de forma que pudessem ser atualizados de forma mais fácil. De forma geral, segundo

os autores, o mais importante é o seu processo de desenvolvimento, já que, através

48

dele, o empreendedor começa a ter mais detalhes sobre como, de fato, será o seu

negócio.

5.2.1. Seção 1 - Sumário executivo

Esta é a principal seção do plano de negócio, apesar de ser a última a ser desenvolvida,

já que depende da conclusão das outras oito seções. É recomendado que seja

apresentada de forma objetiva, sintetizando as informações mais relevantes de cada

seção. Além disso, existem duas opções de desenvolvimento do sumário que podem

ser usadas de acordo com a preferência do empreendedor. Alguns preferem fazê-lo sem

subdivisões, através de texto corrido, enquanto outros preferem desenvolvê-lo em

subseções, para que o leitor entenda mais rapidamente o que está sendo exposto

(DORNELAS, BIM, et al., 2015).

Vale ressaltar que o sumário executivo deve não só fornecer uma visão geral do plano

de negócio, mas também focar em atrair a atenção do público-alvo e despertar o

interesse de potenciais fontes de financiamento. Um resumo do plano de negócio

também permite que investidores, gestores e parceiros estratégicos entendam

rapidamente seu conceito e sua direção, de forma que ao avançar na leitura, possam

ter uma ideia clara das intenções do empreendedor (PWC BRASIL, 2010).

Salim (2005), também reitera a importância da elaboração do sumário executivo para

que seja fornecida de forma eficaz uma ideia geral e clara acerca do conteúdo do

documento para possíveis financiadores, empregados e sócios. No entanto, Ashoka e

McKinsey (2001) ressaltam que essa seção não é uma introdução genérica ao plano e

deve ser independente do mesmo. Tampouco assemelha-se a uma carta de intenções

ou representa uma forma de promover a ideia retratada no plano.

O SEBRAE (2013a), também destaca que o sumário executivo não é uma introdução

ou justificativa do plano de negócio, e sim um resumo, que deve deixar clara a

viabilidade de implantação do negócio.

Dessa forma, em síntese, essa seção deve explicar com objetividade o que é o negócio,

a oportunidade, as vantagens competitivas da empresa, sua estratégia e seus objetivos.

Também deve ressaltar quem são os envolvidos no negócio, qual é o mercado-alvo e o

motivo de se mostrar promissor, além de quantificar o investimento necessário e explicar

como e quando será utilizado (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

49

5.2.2. Seção 2 - Conceito do negócio

Esta seção deve apresentar a história da empresa, caso a mesma já exista. O histórico

deve incluir informações como: número de funcionários, quantidade de clientes,

crescimento dos últimos anos, participação no mercado e faturamento (DORNELAS,

BIM, et al., 2015).

Caso o plano de negócio esteja sendo desenvolvido exclusivamente para uso interno

da empresa, o seu histórico pode ser omitido. O objetivo dessa seção é destacar pontos

relevantes para parceiros estratégicos ou potencias fontes de investimento, que

precisam entender a trajetória da empresa e como fez para chegar ao cenário atual.

Além das informações-chave, é recomendado que o histórico da empresa aborde os

seguintes aspectos (PWC BRASIL, 2010):

a) Evolução da empresa, desde a sua fundação até a data atual e uma descrição

sucinta dos fundadores, abrangendo suas experiências.

b) Descrição de todos os serviços e/ou produtos que a empresa tenha desenvolvido

e/ou comercializado no decorrer da sua trajetória.

c) Localização dos escritórios, depósitos e fábricas. Ou seja, estrutura e

abrangência logística.

d) Investimentos feitos não só pela atual gestão da empresa e ainda em curso, mas

também investimentos ou empréstimos realizados anteriormente por outras

fontes.

De acordo com Dornelas et al. (2015), se a empresa ainda estiver em processo de

criação, o empreendedor deve apresentar uma síntese do seu modelo de negócio

mencionando o que é ou será o negócio e o que/para quem a empresa vende ou

venderá. Além disso, ele também deve expor objetivamente a linha de produtos e/ou

serviços da empresa, bem como seu diferencial competitivo e seu mercado-alvo

(oportunidade de negócio identificada). Certificações, aspectos societários, legais etc.

apenas devem ser analisados nesta seção se forem indispensáveis para a compreensão

do negócio. Na maior parte dos casos, estas informações não aparecem na parte

principal do texto, mas sim, em anexo. Por fim, ainda de acordo com os autores, deve-

se abordar: principais parcerias, localização da empresa, área de abrangência e se

existem filiais.

50

5.2.3. Seção 3 - Mercado e competidores

Após a descrição do conceito do negócio, é importante analisar o cenário atual do

mercado, destacando oportunidades e identificando riscos e dificuldades existentes

(PWC BRASIL, 2010).

Dornelas et al. (2015) afirmam que o objetivo da análise de mercado é verificar o

potencial de sucesso da empresa através do levantamento de informações acerca do

mercado macro ou do setor principal em que a empresa se insere. Podem ser utilizadas

informações do modelo de negócio Canvas e de uma pesquisa primária, cujo propósito

é validar, junto ao público-alvo primário ou o cliente-alvo principal, as hipóteses do

modelo de negócios, de forma a confirmar se as propostas de valor do modelo estão

alinhadas às expectativas e necessidades dos clientes.

De acordo com Salim (2005), para que a pesquisa primária tenha sucesso, é importante

que alguns aspectos sejam levados em consideração, tais como: a escolha adequada

da amostra de mercado, elaboração de questionários objetivos para que as perguntas

sejam respondidas de modo rápido e fácil, a forma de aplicação dos questionários com

a população a ser pesquisada e a maneira mais adequada de apurar os dados coletados

após a aplicação da pesquisa.

Dornelas et al. (2015) recomendam que seja feito um questionário com poucas

perguntas (10 a 15, no máximo) sugerindo alternativas de múltipla escolha que podem

ser comparadas depois da conclusão da coleta de dados. Além do questionário,

detalham as etapas da pesquisa a serem seguidas, ratificando as considerações de

Salim (2005):

a) Definição do tamanho da amostra

Nesta fase é definida a quantidade de pessoas que devem participar da pesquisa para

que a mesma possua uma validade adequada. Caso seja aceita uma margem de erro

de, aproximadamente, 5 a 10%, geralmente em torno de 100 a 150 respondentes são o

bastante para validar as premissas das pesquisas. No entanto, se houver necessidade

de maior precisão, é sugerido que sejam aplicados cálculos estatísticos mais

detalhados, levando em consideração, por exemplo, a homogeneidade ou

heterogeneidade do público em termos de comportamento e estilo de vida, pois esses

dados podem ter influência significativa nas análises.

b) Validação do questionário

O questionário elaborado deve ser validado junto a uma parte do público que participará

da pesquisa. O objetivo é verificar se o questionário está adequado e se as pessoas

51

conseguem responder às questões com facilidade. Através do resultado dessas

respostas, deve-se verificar a necessidade de fazer mudanças no questionário antes

que a totalidade do público-alvo participe da pesquisa.

c) Aplicação do questionário

Após a validação do questionário, o mesmo pode ser aplicado junto ao público-alvo e

os dados devem ser coletados.

d) Análise dos dados

Por fim, os dados coletados devem ser analisados para serem usados na elaboração

do plano de negócio da empresa.

Já Ashoka e McKinsey (2001) propõem tanto uma avaliação quantitativa quanto uma

avaliação qualitativa para que seja possível compreender o potencial do mercado.

Segundo os autores, a avaliação qualitativa ajuda a evitar a criação de negócios com

aparentes chances de terem sucesso, mas que na verdade são fadados ao fracasso.

Para esse tipo de avaliação, os autores sugerem pesquisas em seções de negócio de

revistas e jornais, entrevistas com especialistas e publicações sobre o mercado sendo

analisado, de forma a determinar suas principais tendências e fatores que o influenciam.

A avaliação qualitativa fornece subsídios para a avaliação quantitativa, que consiste na

análise de dados estatísticos para estimativa do tamanho de mercado. Para isso, três

etapas são recomendadas:

i. Definição do público-alvo em termos demográficos: caracterização em termos

de localização geográfica, faixa etária, renda, sexo, entre outros;

ii. Quantificação do público-alvo: pode ser feita a partir de fontes de informações

públicas que contém dados demográficos da população e dados estatísticos de

empresas;

iii. Quantificação dos gastos do público-alvo com o produto e/ou serviço: caso não

haja dados diretamente relacionados com o negócio disponíveis em fontes

públicas, esse levantamento pode ser feito através da análise de produtos e/ou

serviços similares.

Dornelas et al. (2015), também afirmam que é possível obter muitas informações na

internet, em relatórios setoriais e publicações de entidades representativas do setor de

atuação da empresa, como associações industriais e comerciais ou até prefeituras. As

informações mais relevantes que devem ser identificadas nesses relatórios referem-se

ao potencial de crescimento do mercado para os anos seguintes. Alguns dados

52

fundamentais para que sejam tiradas conclusões a respeito desse potencial de

crescimento são: taxa percentual histórica e perspectivas de crescimento, número de

pessoas ou empresas que são clientes típicas do mercado, volume financeiro

movimentado pelo consumidor em um determinado período e região ou abrangência

geográfica. Porém, no caso de empresas iniciantes, somente esses dados macro não

são suficientes, já que estas empresas dificilmente conseguirão atender a totalidade do

mercado e a tipos de clientes variados. Dessa forma, é recomendado que seja definido

um nicho de mercado principal, para que seja estabelecida a sua prioridade. Para isso,

deve ser levado em consideração principalmente o que o cliente está disposto a

consumir, qual é a sua necessidade básica (que, de preferência, os demais

competidores do referente mercado ainda não estejam atendendo), bem como o que vai

vender e as peculiaridades dos seus produtos e/ou serviços. No entanto, é difícil obter

esse tipo de informação em um nível de detalhamento que confirme a oportunidade de

negócio. Uma forma de definir com mais clareza o nicho de mercado é realizando a

pesquisa primária, que já foi apresentada anteriormente.

Se não for possível obter informações conclusivas acerca do tamanho do mercado, a

PwC Brasil (2010) recomenda que seja descrito um plano de como essas informações

serão obtidas e de como será feito o acompanhamento do mercado. Além disso, caso

o produto ou serviço da empresa represente a melhoria de algo que já esteja disponível,

para contextualizar o que se pretende atingir inicialmente, é possível usar dados

históricos e previsões.

Além disso, para que a análise do potencial de mercado do negócio fique completa,

também é necessário conhecer quais outras empresas competem pelos mesmos

clientes e quais são seus pontos fortes e deficiências. Essas informações são

importantes para auxiliar a definição de uma estratégia para ganhar participação e

crescer no mercado priorizado pela empresa (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

O SEBRAE (2013a) sugere que os pontos fortes e deficiências sejam enumerados em

relação a: localização, preço cobrado, qualidade dos materiais empregados,

atendimento prestado, condições de pagamento, serviços disponibilizados (horário de

funcionamento e entrega em domicílio, por exemplo) e garantias oferecidas.

Salim (2005) ratifica que a análise da concorrência deve ser feita com base em fatores

e características importantes de um produto/serviço, e ressalta que estes devem ser

comparados com cada um dos produtos/serviços da concorrência. As fontes de

informação podem variar desde a compra do produto concorrente e avaliação das

53

características anunciadas, até a busca de informações na literatura, internet, com

usuários etc.

Nesse sentido, para melhor visualização da análise, o autor propõe a Tabela 5, que

compara aspectos de um produto/serviço da empresa com cada um daqueles oferecidos

pelos seus concorrentes:

Tabela 5 - Análise da concorrência: tabela comparativa

Fonte: adaptado de Salim (2005)

Vale ressaltar ainda a importância dos “novos entrantes” na análise da concorrência.

Muitas vezes, principalmente em mercados competitivos, sua avaliação na dinâmica do

mercado é esquecida quando o plano de negócio é preparado aliado ao planejamento

estratégico da empresa. Caso os “novos entrantes” sejam deixados de lado, é possível

que toda a análise de produtos e mercados seja prejudicada, precisando, assim, ser

atualizada com informações mais detalhadas e precisas (PWC BRASIL, 2010).

Em síntese, esta seção deve abordar pelo menos três subitens principais: análise do

setor, mercado-alvo e análise da concorrência. Em relação à análise do setor, deve-se

apontar por que o mercado se mostra promissor, como está estruturado, qual é seu

tamanho (em termos de dinheiro, número de clientes e competidores), oportunidades e

riscos, além de tendências no setor e fatores que influenciam as projeções de mercado.

Já sobre o mercado-alvo, é importante entender o perfil do comprador, o que costuma

comprar e por que, onde ele se encontra, como chegar até ele, fatores que influenciam

a compra e com que periodicidade é feita. Por fim, quanto à análise da concorrência,

deve-se levantar quem são os concorrentes, como se organizam, sua capacidade de

tomar decisões e responder a mudanças rapidamente, eficiência da equipe gerencial e

como seus produtos e/ou serviços se assemelham (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

54

5.2.4. Seção 4 - Equipe de gestão

Segundo Dornelas et al. (2015), os criadores do negócio, aqueles que definem o modelo

de negócios, além dos que gerenciam e concretizam as estratégias, representam o

principal diferencial do negócio. Dessa forma, o foco dessa seção deve ser apresentar

e destacar os pontos fortes dos principais envolvidos no empreendimento, porém, sem

a necessidade de descrever detalhadamente o curriculum vitae de cada um deles, já

que essas informações podem ser anexadas ao plano. Os autores também ressaltam

que, para evitar que os empreendedores acabem detalhando excessivamente o texto,

o que é um equívoco comum, questões operacionais não devem ser tratadas aqui. O

foco deve ser apenas nos funcionários de nível estratégico, ou seja, sócios do negócio

e eventuais diretores. De acordo com os autores, caso existam conselheiros e parceiros

estratégicos, eles também devem ser apresentados pois a criação de conselhos

administrativos ou consultivos pode ser um diferencial para as empresas em fase inicial.

Salim (2005) afirma que na composição da equipe gerencial deve ser estabelecida a

estrutura organizacional da empresa, deixando claro as atribuições de cada área.

Segundo o autor, em geral são feitos organogramas com as áreas e a distribuição de

responsabilidades e atribuições de acordo com a hierarquia da empresa.

Segundo Ashoka e McKinsey (2001), no organograma devem estar contidas

informações como estrutura da equipe de gestão, forma como ocorre a tomada de

decisão na empresa e distribuição de responsabilidades. Além disso, são mencionadas

três características de bons organogramas: definição das atividades referentes à cada

função, determinação dos responsáveis pelas atividades e designação de

responsabilidades de acordo com as habilidades requeridas por cada função. A Figura

12 exemplifica um organograma com essas características.

55

Além do organograma, Dornelas et al. (2015) também sugerem que seja apresentada

uma projeção da quantidade de profissionais contratados pela empresa para cada

diretoria ou setor ao longo dos anos seguintes. É importante que essas informações

estejam de acordo tanto com os demais dados e números relacionados a funcionários

no plano de negócio quanto com o crescimento planejado para a empresa.

Nesse sentido, antes de desenvolver essa seção é importante que seja identificada a

forma como a empresa irá crescer e quais serão as competências necessárias para

possibilitar e sustentar esse crescimento, já que novos funcionários deverão ser

contratados conforme o planejamento do crescimento do negócio (PWC BRASIL, 2010).

Por fim, além de definir os principais envolvidos no negócio, sua experiência prévia e as

responsabilidades de cada área, Dornelas et al. (2015) também ressaltam que caso

existam posições-chave não ocupadas, deve-se apontar quais são e explicar como

devem ser preenchidas.

Figura 12 - Organograma de uma organização do terceiro setor com a descrição de responsabilidades e

habilidades necessárias para cada cargo

Fonte: adaptado de Ashoka e McKinsey (2001)

56

5.2.5. Seção 5 - Produtos e serviços

Dornelas et al. (2015) afirmam que nesta seção deve-se descrever quais são os

produtos e/ou serviços principais da empresa e mostrar os benefícios que podem trazer

ao público-alvo de consumidores. Nesse sentido, as suas qualidades e o valor que

agregam aos clientes devem ser priorizados, como por exemplo: simplicidade, facilidade

de uso, segurança, tecnologia inovadora, agilidade e praticidade. Os autores destacam

ainda que muitos empreendedores tendem a dar detalhes excessivos sobre as

características dos seus produtos e/ou serviços, como cor, formato, material usado na

produção, tamanho etc. Porém, tais informações técnicas não devem ser detalhadas

nesta seção. Aqui devem ser priorizados os benefícios dos produtos e/ou serviços em

detrimento dos seus aspectos técnicos que, se forem pertinentes, podem ser anexados

ao plano de negócio.

Além de descrever os benefícios específicos de cada produto e/ou serviço, é importante

dar uma atenção especial para as características que os diferem de outros já existentes.

Esse é um dos pontos chave do planejamento estratégico da empresa e,

consequentemente, da elaboração do plano de negócio. Vale ressaltar que a descrição

deve ser resumida e clara, de forma que aqueles que não possuam conhecimento total

sobre o respectivo mercado possam compreender facilmente o que está sendo

abordado (PWC BRASIL, 2010).

Salim (2005) ratifica a importância de se fazer uma comparação com os produtos e/ou

serviços dos concorrentes para que fiquem claros os benefícios que os fazem ser mais

vantajosos. O autor também afirma que deve ser explicado como as soluções da

empresa podem resolver as principais necessidades dos clientes, ou seja, como podem

ser úteis e qual apelo procuram atender.

Conforme ressaltado pela PwC Brasil (2010), neste tópico também devem ser

consideradas, caso existam, discussões a respeito de proteções jurídicas que a

empresa apresente ou tenha solicitado sobre seus produtos, tais como: patentes marcas

registradas, direitos autorais etc. Se essas proteções conferirem alguma vantagem aos

seus produtos e/ou serviços em relação aos da concorrência, esta seção deve ser

explorada para uma melhor exemplificação.

Apesar de o horizonte de tempo dos planos de negócio geralmente não ultrapassarem

cinco anos, o empreendedor deve abordar ainda o planejamento da empresa para o

lançamento de novos produtos e/ou serviços, pois não é recomendado assumir que os

produtos e/ou serviços da empresa no primeiro ano serão exatamente os mesmos do

quinto ano (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

57

5.2.6. Seção 6 - Estrutura e operações

De forma geral, esta seção deve focar no principal processo de negócio da empresa.

Um fluxograma do processo pode ser elaborado, bem como uma representação visual

ou uma descrição dos processos essenciais ao funcionamento do negócio. Apesar do

tópico ser abrangente e envolver temas diversos, é importante ressaltar que o viés do

plano de negócio não é operacional e sim estratégico. Dessa forma, o processo a ser

abordado deve ser aquele que começa com a produção do principal produto da empresa

e termina com a sua oferta ao mercado. Caso o empreendedor sinta a necessidade de

detalhar todos os processos de negócio da empresa, poderá optar por desenvolver um

plano operacional, que é derivado de um plano de negócio e pode contemplar

informações mais específicas no que concerne a estrutura do negócio (DORNELAS,

BIM, et al., 2015).

Nos casos em que a empresa decidir terceirizar sua produção com parceiros

estratégicos, a descrição dos seus pontos-chave deve ser feita da mesma maneira. Em

ambos os casos deve-se abordar tanto as limitações da produção como seus pontos

fortes. Porém, no caso das limitações é necessário explicar de que forma serão

endereçadas (PWC BRASIL, 2010).

Quanto à estrutura da empresa, Dornelas et al. (2015) afirmam que apesar desta se

referir também aos recursos necessários para a existência do negócio, não se deve

descrever nesta seção todos os detalhes da infraestrutura, todos os equipamentos etc.

É suficiente resumir o que apresentar maior relevância.

De acordo com a PwC Brasil (2010), também devem ser indicados o local onde será

gerida a produção e se esta será subcontratada em partes ou inteiramente. Nesse

sentido, deve ser explicitado como será feita a seleção dos potenciais subcontratados,

ou seja, com base em proximidade, agilidade na entrega etc.

Dornelas et al. (2015) recomendam ainda que sejam abordados os tópicos:

a) Alianças estratégicas (parceiros-chave para a prosperidade do negócio);

b) Critérios de seleção e investimento em novos produtos;

c) Produção e distribuição;

d) Pesquisa e Desenvolvimento (caso exista um setor de P&D e um plano de

investimentos nessa área);

e) Serviços pós-venda;

f) Regulamentações e certificações (se existirem questões legais cruciais para a

operação da empresa).

58

5.2.7. Seção 7 - Marketing e vendas

Este tópico é um dos mais importantes na elaboração de um plano de negócio, já que é

onde será mostrado como será feita a promoção e divulgação dos produtos e/ou

serviços, o posicionamento estratégico da empresa, sua política de precificação e

amplitude de atuação do negócio. Além disso, nesta seção deve ser apresentada a

projeção de vendas para os próximos anos com base nas informações obtidas na seção

de Mercado e Competidores e na estratégia de marketing da empresa. A partir dessas

informações, é possível mensurar a potencial audiência das ações de marketing

previstas pela empresa e, assim, estimar a quantidade de compradores do produto e/ou

serviço. Nesse sentido, a estratégia de marketing deve contemplar os 4 P: Praça (canais

de distribuição), Preço, Promoção e Posicionamento do produto e/ou serviço

(DORNELAS, BIM, et al., 2015).

i. Praça (canais de distribuição)

SEBRAE (2013a) define um canal de distribuição como o meio a ser utilizado para fazer

com que os produtos e/ou serviços cheguem até o cliente.

Nesse sentido, Ashoka e McKinsey (2001) afirmam que o canal de distribuição é

essencial na composição de uma proposta de valor de sucesso, uma vez que o canal

representa a ponte entre o negócio e o público-alvo.

Os canais de distribuição podem ser de venda direta ou indireta. No primeiro caso, a

venda é feita de forma direta ao consumidor, como nos casos de lojas próprias, venda

pela internet, por telefone e porta a porta. Já nos canais de venda indireta, as vendas

são feitas a intermediários para posteriormente serem feitas aos consumidores, como

nos casos de revendedores autorizados, cadeias de varejo e franquias de serviço

(correios, por exemplo). Após fazer um levantamento dos potenciais canais de

distribuição, dependendo do tipo de venda apropriado para o negócio, deve-se fazer a

escolha levando três aspectos em consideração: contexto do negócio (a estratégia do

negócio deve ser levada em conta na escolha do canal de distribuição. Não seria

recomendado, por exemplo, fazer uma parceria com uma rede de varejo se a empresa

tiver uma capacidade de produção suficiente para apenas duas lojas da rede),

características dos segmentos do público-alvo (segmentos distintos de público-alvo

podem ser atingidos de forma mais eficiente por canais de distribuição diferentes) e

custo do canal (os custos de cada canal devem ser analisados pois têm impacto direto

no resultado do negócio e no preço final cobrado aos consumidores) (ASHOKA

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY, 2001).

59

Dornelas et al. (2015), no entanto, recomendam outros parâmetros para escolha dos

canais de distribuição, tais como: prazo de entrega, logística de distribuição e uso de

canais alternativos.

ii. Preço

Segundo o SEBRAE (2013a), preço é quanto o consumidor está disposto a pagar pelo

que a empresa tem a oferecer. A composição do preço deve incluir os custos do produto

e/ ou serviço e ainda proporcionar a margem bruta desejada.

Contudo, segundo Salim (2005), os preços não necessariamente podem ser definidos

a partir dos custos do produto ou serviço. O autor considera ultrapassado o método de

cálculo no qual incide-se um fator sobre o custo para representar o valor desejado para

o lucro. De acordo com ele, o preço de venda é determinado pelo quanto o mercado se

dispõe a pagar, ainda que o valor seja inferior ao custo de fabricação. No entanto,

também há a possibilidade de se estabelecer o preço a partir do qual o produto ou

serviço pode ser lucrativo e, então, estipular um cenário no qual se processariam as

vendas necessárias.

De acordo com Ashoka e McKinsey (2001), dois critérios devem ser levados em

consideração na definição do preço de um produto ou serviço: a posição competitiva da

empresa e o impacto do preço no volume e margem do negócio. Essa etapa é

fundamental para o sucesso do negócio, uma vez que muitas empresas que fazem

precificações errôneas dos seus produtos e/ou serviços acabam não prosperando. Para

estabelecer a posição competitiva do negócio é fundamental fazer uma avaliação

qualitativa para comparar os produtos e/ou serviços com os dos concorrentes. Para isso,

é necessário analisar como o público-alvo percebe o preço cobrado e os benefícios

oferecidos. O valor percebido pelo público-alvo é representado pela diferença entre

essas duas análises, onde os benefícios percebidos envolvem qualidade, gosto pessoal,

serviços adicionais abrangidos no preço, conveniência e como o consumidor vê a

marca. Já o preço percebido é formado não só pelo preço de aquisição, mas também

por custos de manutenção e taxas de uso, por exemplo. A avaliação de ambas as

dimensões pode ser feita através de pesquisas em campo com concorrentes e

consumidores. A partir das informações coletadas em ambas avaliações, pode-se

elaborar um “mapa de valor”, que consiste em um gráfico onde no eixo horizontal está

o valor percebido pelo consumidor, enquanto no eixo vertical está o preço percebido

pelo mesmo, conforme ilustrado na Figura 13.

60

Figura 13 - Mapa de valor: posição competitiva das ofertas

Fonte: adaptado de Ashoka e McKinsey, p. 95 (2001)

Os produtos e/ou serviços oferecidos com melhor posição competitiva localizam-se mais

à direita e abaixo no gráfico. Se estiverem mais acima do que seus concorrentes, devem

sofrer uma redução nos preços. Já no caso de estarem muito à direita em relação aos

seus concorrentes, os preços podem ser aumentados. O competidor B, por exemplo,

apesar de apresentar um maior preço percebido, possui um valor percebido maior do

que os competidores A e C, que demonstram estar em uma situação estável, sem

ganhar nem perder mercado. Já o competidor C, que encontra-se mais à direita e abaixo

no gráfico, demonstra estar ganhando mercado.

No entanto, geralmente este mapeamento é feito quando existem dados disponíveis

sobre a concorrência. Caso contrário, o mapa perde aplicabilidade. É válido ressaltar

também que à medida que os preços são modificados, a margem do negócio também

sofre alterações. Dessa forma, é importante garantir que a margem não fique negativa,

ou seja, que os custos não assumam valores maiores do que a as receitas. Além disso,

o preço também pode influenciar o volume total de vendas. Nesse sentido, é necessário

levar em consideração que um aumento no volume de vendas pode compensar uma

possível redução de margem, já que a geração de receita aumenta nesse caso

(ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY, 2001).

Já Dornelas et al. (2015) sugerem algumas opções estratégicas para a definição da

política de preços a ser praticada pela empresa. Dentre elas estão definições de:

a) Preços, formas de pagamento e prazos para segmentos de mercado

específicos;

61

b) Políticas de penetração e atuação em mercados seletivos;

c) Diretrizes de descontos especiais.

iii. Promoção: propaganda/comunicação

O SEBRAE (2013a) define promoção como toda ação com o objetivo de informar,

apresentar, lembrar ou convencer os clientes a comprarem os produtos e/ ou serviços

da empresa sendo promovida em detrimento dos seus concorrentes. Nesse sentido, são

sugeridas algumas ações para uma promoção efetiva, tais como: internet, propaganda

em rádio, jornais e revistas, amostras grátis, panfletos, descontos (conforme os volumes

comprados) e participação em feiras e eventos.

Dornelas et al. (2015) sugerem quatro opções estratégicas mais genéricas para a

criação ou mudança da política de promoção/ comunicação:

1. Definição de novas formas de vendas, além de mudança/ escolha de equipe e

canais de venda;

2. Mudança/ definição de agência de publicidade e escolha de novas mídias

prioritárias;

3. Mudança/ definição de política de relações públicas;

4. Definição de feiras e exposições a serem priorizadas.

Já Ashoka e McKinsey (2001) ressaltam cinco pontos que devem ser analisados a

respeito de boas estratégias de comunicação. O primeiro envolve o alinhamento entre

as estratégias do negócio e da empresa (nesse caso, já existente). Ao se desenvolver

um novo negócio em uma empresa já em operação é preciso ter cautela para não

negligenciar as mudanças nas estratégias de comunicação já existentes. Já o segundo

ponto compreende a definição prévia do orçamento de comunicação para um

determinado período de tempo, com o objetivo de garantir que a empresa esteja

presente nos meios de comunicação durante esse período, de forma a facilitar a

divulgação de projetos futuros. Para isso, segundo os autores, a manutenção de um

cronograma de ações de comunicação é muito efetiva a médio e longo prazos. Porém,

para empresas que possuam mais de um produto e/ou serviço, é necessário levar em

consideração o impacto de ações de comunicação concomitantes, para que os

consumidores não se confundam. Nesse sentido, no terceiro ponto os autores

recomendam que as ações sejam divididas por segmentos de público-alvo, de forma a

garantir que uma única pessoa não receba diferentes mensagens simultaneamente e

acabe não assimilando a mensagem central designada a ela durante o planejamento

das ações de comunicação. Além do planejamento, uma boa estratégia de comunicação

62

também é resultado de aprendizado constante. Assim, o penúltimo ponto envolve o

monitoramento das ações. Os autores afirmam que para que o aprendizado seja

possível, é preciso experimentar diferentes meios de comunicação e, posteriormente,

medir e avaliar a eficiência de cada ação reproduzida. No entanto, para garantir a

eficiência da comunicação é essencial definir primeiramente o seu objetivo de acordo

com cada segmento de público-alvo. Dessa maneira, o último ponto ressaltado pelos

autores diz respeito à diferenciação do público-alvo, uma vez que o objetivo da

comunicação deve se adaptar às necessidades de cada um dos segmentos.

iv. Posicionamento

Consiste em como a empresa deseja que os produtos e/ou serviços sejam enxergados

pelos clientes e de que forma se diferenciarão dos competidores, em termos de

características, qualidade e funcionalidades. Nesse sentido, existem algumas

alternativas estratégicas para o empreendedor definir ou mudar como os produtos e/ou

serviços da empresa serão percebidos pelo público-alvo e como irão se diferenciar dos

concorrentes. Essas opções incluem: consolidação, padronização ou diversificação;

definição ou promoção de mudanças na combinação de produtos; mudança/ definição

de design, características técnicas, embalagem, qualidade, estilo e tamanho; exclusão,

adição ou modificação dos produtos (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

Por fim, a partir da definição da estratégia de marketing contemplando os 4 P, deve-se

elaborar a projeção de vendas e, se possível, quantificar a participação de mercado para

o negócio, de forma a mensurar quanto a empresa irá vender ao longo de um

determinado período de tempo e quanto de participação de mercado irá conseguir nesse

intervalo.

5.2.8. Seção 8 – Estratégia de crescimento

Dornelas et al. (2015) definem estratégia, quando relacionada a planejamento, como um

instrumento útil para determinar quais ações uma empresa deverá realizar para alcançar

seus objetivos. Dessa forma, segundo os autores, o desenvolvimento de uma estratégia

de crescimento demanda que o empreendedor tenha uma visão clara do futuro da

empresa e dos objetivos a serem atingidos, uma vez que a utilização de parâmetros ou

métricas são essenciais para a visualização do rumo que a empresa tomará ao longo

do tempo. Ainda de acordo com os autores, geralmente os objetivos têm relação com

resultados que tenham relevância e impacto para o empreendedor e para a empresa, e

ficam ainda mais sólidos quando complementados por metas, que apresentam uma

relação mais direta com números.

63

Assim, além de focar em seus objetivos, os empreendedores precisam planejar um

conjunto de ações para alcançá-los, bem como usar indicadores para medir e

acompanhar o seu desempenho ao longo do tempo. Nesse sentido, o método SMART

de gerenciamento de metas, desenvolvido por Peter Drucker, pode ser bastante útil

quando os objetivos a serem alcançados pela empresa são conhecidos pelo

empreendedor. A definição de metas assertivas, conforme recomendado pelo método

SMART, proporciona previsões de qualidade sobre potenciais cenários, além de

possibilitar uma boa avaliação sobre a entrada no negócio e futuras estratégias de

sobrevivência. O método é muito utilizado na verificação da validade das metas

estabelecidas e é conhecido pelo acrônimo SMART, composto pelas seguintes letras

(QUINTELLA, 2017):

S – Specific (Específico)

Os objetivos devem ser específicos e precisos, detalhando exatamente o que se deseja

atingir, bem como limitações, necessidades, benefícios que serão proporcionados,

prazo, localização e quem estará envolvido no processo, de forma a não gerar dúvidas

e garantir maiores chances para seu atingimento.

M – Measurable (Mensurável)

De acordo com Peter Drucker, “o que pode ser medido, pode ser melhorado” e para que

isso seja aplicado na prática, deve ser possível medir, acompanhar e avaliar

quantitativamente os objetivos. Para verificação do atingimento ou não dos objetivos é

necessário que estes sejam transformados em números. Dessa forma, se a empresa

não tiver as ferramentas ou meios requeridos para fazer as medições, deverá

desenvolvê-los antes de estabelecer definitivamente os objetivos.

A – Attainable (Atingível)

É importante que os objetivos sejam realistas, além de potencialmente alcançáveis e

concretizáveis. Eles podem até ser agressivos e ousados, porém não devem ser

impossíveis de serem atingidos. Para isso, a capacidade técnica e as habilidades da

equipe devem ser levadas em consideração durante o desenvolvimento de objetivos

atingíveis, assim como a qualidade dos produtos e/ou serviços da empresa e a

existência de potencialidade no mercado para permitir o atingimento das metas.

R – Realistic (Realista)

Os objetivos devem estar alinhados com o cenário econômico do momento, assim como

com a realidade da empresa, tanto financeira quanto mercadológica. Dessa forma, é

preciso verificar se os objetivos estão em consonância com a missão e visão da

64

empresa e se estão de acordo com princípios morais e éticos, pois muitas vezes eles

são possíveis, mas não são realistas, e é fundamental saber distinguir estas situações.

T – Time-bound / Tangible (Temporizável / Tangível)

É essencial que os objetivos tenham prazos definidos para serem atingidos, ou seja,

devem ter um tempo limitado. Para isso, os prazos não podem ser tão longos que

acabem causando sua dispersão ao longo do tempo e nem tão curtos para não os

tornarem impossíveis de serem alcançados.

Além disso, devem ser tangíveis, ou seja, palpáveis e possíveis de serem observados

por todos, de forma a proporcionar motivação à equipe e garantir maiores chances de

sucesso.

Segundo Dornelas et al. (2015), a etapa seguinte da definição da estratégia de

crescimento consiste em analisar tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo,

que está fora do controle do empreendedor. Para isso, os autores recomendam a

análise SWOT, que, de acordo com Daychoum (2016), é uma ferramenta utilizada na

análise de cenários e geralmente serve como base para o planejamento estratégico das

empresas. A palavra SWOT é uma sigla proveniente do idioma inglês e cada letra

representa respectivamente: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (Strengths,

Weaknesses, Opportunities e Threats).

A análise é dividida em duas partes: ambiente interno (pontos fortes e pontos fracos da

empresa) e ambiente externo (oportunidades e ameaças). Os pontos fortes e fracos são,

respectivamente, vantagens e desvantagens internas da empresa em relação aos seus

concorrentes. Já as oportunidades e ameaças representam, respectivamente, os

aspectos positivos e negativos relacionados a possibilidade de potencializar ou

comprometer a vantagem competitiva da empresa (DAYCHOUM, 2016).

Depois de realizar a análise dos ambientes interno e externo da empresa e definir os

objetivos e metas (não é recomendado que haja mais de três grandes objetivos no plano

de negócio), é possível finalmente determinar a estratégia de crescimento da empresa.

Alguns exemplos de estratégias para o objetivo de liderança de mercado em dois anos

incluem: focar em parcerias regionais, expandir a fábrica para que seja possível atender

a demanda regional, ter os preços mais competitivos, focar em inovação etc. A mostra

as perguntas-chave que podem auxiliar na elaboração desta seção (DORNELAS, BIM,

et al., 2015).

65

5.2.9. Seção 9 - Finanças

De acordo com Ashoka e McKinsey (2001), o planejamento financeiro tem o objetivo de

avaliar se a empresa é capaz de se manter operante do ponto de vista financeiro. Para

isso, devem ser feitas estimativas sobre a evolução financeira da empresa ao longo de

um determinado período de tempo com base na consolidação das informações

apresentadas nas demais seções do plano de negócio.

Basicamente, nesta seção devem ser mostradas em números as informações contidas

nos demais tópicos: investimentos a serem feitos, despesas, custos e resultados da

empresa desde o momento inicial (no caso de empresas em fase de criação) ou desde

o momento pré-operacional (quando despesas e custos já são incorridos apesar do

negócio ainda não ter começado efetivamente) (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

A PwC Brasil (2010) recomenda que as projeções financeiras sejam elaboradas para

um período de três a cinco anos, de forma que os objetivos da empresa possam ser

comunicados a potenciais investidores ou instituições financeiras e possam orientar a

equipe de gestão nesse período. Já Dornelas et al. (2015) sugerem um horizonte de

tempo para o planejamento financeiro de, em média, cinco anos, apesar de ressaltarem

que este período depende não apenas do negócio, mas também de quando a empresa

atingirá o ponto de equilíbrio, ou seja, o momento a partir do qual suas receitas serão

capazes de cobrir os custos fixos e variáveis e a mesma deixará de gastar mais do que

é capaz de arrecadar. Ainda de acordo com os autores, o ponto de equilíbrio geralmente

é atingido pela maioria das empresas depois de dois anos e o retorno do investimento

acontece entre três e cinco anos, porém há empresas que demoram mais tempo para

equilibrar suas contas enquanto outras conseguem até mesmo antes.

Além dessas informações, também devem ser apresentados um demonstrativo de

resultados e um fluxo de caixa. Um balanço patrimonial também deve ser elaborado no

caso de planos de negócio que são apresentados a bancos e fundos de investimento

com o objetivo de conseguir empréstimos. Todavia, na maioria dos casos de empresas

em fase de criação, não é necessário apresentar o balanço patrimonial e o planejamento

financeiro pode ser elaborado de modo simples, já que sua principal função é embasar

a análise de viabilidade do negócio (DORNELAS, BIM, et al., 2015).

Cada um desses instrumentos a serem utilizados no planejamento financeiro

(demonstrativo de resultados, fluxo de caixa e balanço patrimonial) possui um objetivo

distinto. O demonstrativo de resultado mostra se a empresa é autossustentável e se, ao

final do período avaliado, o patrimônio líquido sofre aumento ou diminuição a partir das

operações da empresa. Já o fluxo de caixa indica se a empresa tem capacidade de

66

quitar suas dívidas a qualquer momento. Por fim, o balanço patrimonial tem o objetivo

de mostrar a procedência do capital da empresa e onde foram/serão feitos seus

investimentos (ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY,

2001).

A Figura 14 mostra a estrutura padrão de um demonstrativo de resultados proposta por

Ashoka e McKinsey (2001), que é composta por: receitas (medem o acréscimo de ativos

proveniente da venda de produtos e/ou serviços), custos (gastos efetuados em troca de

produtos que podem ser estocados), despesas (gastos efetuados em troca de produtos

ou serviços que não podem ser colocados em estoque) e superávit/déficit (resultado

final das receitas com descontos dos custos e despesas).

Figura 14 - Modelo de demonstrativo de resultados

Fonte: adaptado de Ashoka e McKinsey, p. 121 (2001)

Já a Figura 15 apresenta o modelo de fluxo de caixa, cujo princípio consiste na

comparação entre recebimentos e desembolsos. Se a soma de recebimentos for maior

do que a de desembolsos em qualquer período, significa que a empresa está bem

financeiramente. Caso contrário, é necessário revisar o planejamento financeiro de

forma a reduzir custos ou pensar em outras formas de obter receita (ASHOKA

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY, 2001).

67

Figura 15 - Modelo de fluxo de caixa

Fonte: adaptado de Ashoka e McKinsey, p. 123 (2001)

Após a conclusão do planejamento financeiro por meio dos demonstrativos financeiros,

podem ser obtidos os resultados anuais do negócio e, com base nestes resultados, um

gráfico de exposição do caixa da empresa pode ser feito conforme apresentado na

Figura 16. Este gráfico mostra a evolução do caixa da empresa desde sua criação até

o seu crescimento nos primeiros anos, além de fornecer dados como: investimento

inicial (ponto A), maior exposição do caixa (ponto B), ponto de equilíbrio (ponto C) e

quando acontecerá o retorno do investimento (ponto D). Além desses dados, devem ser

apresentados indicadores financeiros que sirvam de base para a análise de viabilidade

e rentabilidade do negócio. Alguns indicadores que podem ser apresentados são: valor

presente líquido (valor presente do negócio levando em consideração todos os fluxos

de caixa futuros que serão gerados e considerando as premissas de crescimento da

empresa), taxa interna de retorno (porcentagem de retorno que o negócio é capaz de

proporcionar em um determinado período de tempo), payback (prazo de retorno do

investimento), além do valuation (valor da empresa, caso seja de interesse do

empreendedor uma negociação com investidores para possíveis fusões/aquisições)

(DORNELAS, BIM, et al., 2015).

68

Figura 16 - Gráfico de exposição do caixa

Fonte: Dornelas et al., p. 39 (2015)

Em síntese, devem constar nessa seção do plano de negócio as informações

(DORNELAS, BIM, et al., 2015):

a) Composição de custos e despesas decorrentes da operacionalização da

empresa;

b) Premissas adotadas nas projeções financeiras;

c) Evolução dos resultados financeiros em um horizonte médio de cinco anos

(demonstrativo de resultados, fluxo de caixa e, opcionalmente, balanço

patrimonial);

d) Investimentos necessários para que a empresa posso iniciar suas operações;

e) Indicadores financeiros de viabilidade e rentabilidade (taxa interna de retorno,

valor presente líquido, breakeven e payback);

f) Necessidade de aporte a ser obtido através de fontes externas de investimento

ou financiamento e respectiva contrapartida;

69

6. ESTUDO DE CASO

6.1. Aspectos gerais

De forma a verificar na prática o conteúdo teórico dos planos de negócio, estudado e

descrito nos capítulos anteriores, neste capítulo é apresentado, o conteúdo de um plano

de negócio desenvolvido objetivando a criação e implementação de empresa de

reformas de unidades habitacionais de baixa renda na cidade do Rio de Janeiro. Assim

sendo, este capítulo está estruturado em três subitens: no subitem 6.1. é apresentado

os aspectos gerais do estudo de caso; no subitem 6.2. é apresentado o plano de negócio

propriamente dito, com a descrição de cada item da estrutura concebida para o mesmo;

no subitem 6.3. são apresentadas considerações finais sobre o estudo de caso

desenvolvido.

Antes do início da concepção do plano de negócio foram realizadas entrevistas junto a

três moradores de comunidades do Rio de Janeiro com o objetivo de aprofundar a

compreensão dos desafios inerentes à operação desse tipo de empresa nas

comunidades da cidade. A Tabela 6 apresenta a percepção dos entrevistados no que

diz respeito à criação da empresa de reformas de unidades habitacionais de baixa

renda.

Tabela 6 – Percepção dos entrevistados sobre a criação da Empresa X

Fonte: A autora, 2018

70

O tipo de entrevista realizado foi informal, uma vez que visou oferecer uma visão

aproximada da percepção dos moradores de comunidades do Rio de Janeiro sobre a

criação da empresa de reformas. Esse tipo de entrevista é pouco estruturado e é

recomendado em estudos que visam abordar realidades que são pouco conhecidas pelo

entrevistador (GIL, 1999). Nesse sentido, após contextualização da empresa e

explicação sobre seus diferenciais aos entrevistados, as três entrevistas foram guiadas

pela seguinte pergunta: “Considerando os desafios a serem enfrentados (como a

violência, por exemplo), qual é a sua percepção sobre a criação de uma empresa de

reformas residenciais na comunidade onde você reside?”.

Além das entrevistas, para a concepção do plano de negócio, levou-se em consideração

características do modelo de negócios de duas empresas de reformas que operam de

forma semelhante em comunidades na cidade de São Paulo conforme descrito no item

2.5 desta monografia.

Para efeito de facilitar a citação e contextualização da empresa de reformas de unidades

habitacionais de baixa renda na cidade do Rio de Janeiro a ser criada optou-se por

identificá-la como Empresa X.

Naturalmente um plano de negócio objetiva em primeiro lugar validar a viabilidade da

implantação de uma ideia concebida pelos interessados na criação da empresa.

Objetiva também estabelecer os objetivos e metas do negócio a ser criado e o caminho

a ser percorrido para que estes objetivos e metas sejam materializados, mantendo sob

controle e mitigando as incertezas e riscos identificados durante o desenvolvimento do

plano. Dessa forma, no item 6.3 são feitas considerações conclusivas acerca do plano

de negócio estabelecido em termos da viabilidade do negócio e das dificuldades

encontradas e consideradas no plano de negócio.

Para manter o alinhamento com a estrutura desta monografia e para facilitar o

entendimento do leitor acerca do plano de negócio apresentado no subitem 6.2 é

descrita na Tabela 7 a estrutura dos capítulos e dos respectivos subitens do plano de

negócio. Para não ocorrer confusão com os subitens desta monografia, utilizou-se no

plano de negócio numeração dos itens em letras maiúsculas do alfabeto e subitens

mesclando a letra maiúscula que lhe dá origem seguida de algarismos indicando a

sequência numérica.

71

Tabela 7 - Estrutura dos itens e subitens do plano de negócio

Item / Subitem

Título Síntese do item

A.

A.1

A.2

A.3

A.4

A.5

A.6

A.7

Sumário executivo

O conceito do negócio e a oportunidade

Mercado

Equipe de Gestão

Serviços e vantagens competitivas

Estrutura e operações

Marketing e projeção de vendas

Finanças

Informações mais relevantes de cada seção do plano de negócio.

B. Conceito do negócio Modelo de negócio, produtos/ serviços, mercado-alvo e diferencial competitivo da

empresa.

C.

C.1

C.2

Mercado e competidores

Análise do setor e mercado-alvo

Análise da concorrência

Descrição do setor de negócio, do segmento de mercado e da concorrência.

D. Equipe de gestão Apresentação dos principais envolvidos no negócio, sua experiência e responsabilidades

de cada área.

E. Produtos e serviços Benefícios, diferenciais, utilidade e apelo dos produtos/ serviços.

F. Estrutura e operações Descrição do principal processo necessário para o funcionamento da empresa, parceiros-

chave e questões legais.

G.

G.1

G.2

G.3

G.4

G.5

Marketing e vendas

Posicionamento

Preço

Praça

Propaganda/ Comunicação

Projeção de vendas

Definição de como será feita a divulgação dos produtos/ serviços, posicionamento

estratégico, política de preços, canais de distribuição e projeção de vendas.

H. Estratégia de crescimento Apresentação das ações a serem realizadas para que a empresa atinja seus objetivos.

I.

I.1

I.2

I.3

I.4

I.5

Finanças

Premissas

Despesas e custos operacionais

Funcionários

Investimentos em infraestrutura

Resultados

Principais premissas usadas como base para as projeções financeiras, custos, despesas, resultados financeiros para um horizonte de

cinco anos, indicadores financeiros de rentabilidade/ viabilidade e necessidade de

aporte.

Fonte: A autora, 2018

72

6.2. Plano de negócio

A. Sumário Executivo

A.1 O conceito do negócio e a oportunidade

A Empresa X é uma empresa de reformas, cujo público-alvo são famílias de baixa renda

da comunidade da Rocinha. As reformas proporcionarão condições dignas de moradia

para essa população, além da valorização do seu patrimônio e melhoria da autoestima,

através de serviços de reformas de qualidade e baixa complexidade, cujos diferenciais

compreendem: facilidade de pagamento, garantia, mão de obra qualificada e gestão da

obra.

A oportunidade de gerar impacto social em escala foi identificada, uma vez que a

Rocinha apresenta uma alta concentração populacional e grande parte dos moradores

considera o serviço de reformas como prioritário em comparação com outras

necessidades. Além disso, os serviços de reforma podem ter um papel importante na

inibição da disseminação da tuberculose, uma doença que ainda precisa ser contida em

muitas comunidades do Rio de Janeiro com casas precárias, sem ventilação e que

recebem pouca luz do sol.

A.2 Mercado

O mercado de reformas para as classes D e E no Brasil possui grande potencial. Uma

pesquisa mostra que há uma distância significativa entre a sua necessidade por

reformas e o seu gasto efetivo com esse serviço.

As classes D e E concentram-se majoritariamente em aglomerados subnormais e dados

do IBGE apontam que o Rio de Janeiro é a cidade do Brasil que possui maior quantidade

de domicílios particulares ocupados em aglomerados subnormais. Essa quantidade

corresponde a 13% do total de domicílios particulares ocupados no município.

Nesse sentido, a Rocinha conta com o público-alvo potencialmente mais expressivo da

cidade para o negócio da Empresa X, sendo a comunidade mais populosa do Rio de

Janeiro, com aproximadamente 69 mil habitantes e cerca de 25 mil domicílios.

A.3 Equipe de Gestão

O negócio terá três sócios, que dirigirão segmentos específicos do negócio, de acordo

com sua área de formação. Além dos sócios-diretores, a Empresa X também contará

com uma assessoria jurídica para oferecer suporte principalmente nas questões

contratuais.

73

A.4 Serviços e vantagens competitivas

Serão oferecidos pacotes de reformas por cômodo, com o objetivo de proporcionar bem-

estar e ambientes saudáveis para famílias em situações precárias de habitação. As

reformas serão realizadas em até 8 dias úteis e os valores dos pacotes poderão ser

parcelados em até 12 vezes sem juros. O financiamento das reformas é uma das

vantagens competitivas do negócio, que ainda conta com gestão da obra (inclui compra

e entrega dos materiais de construção, além de manejo de resíduos das obras), garantia

e acompanhamento dos clientes no pós-venda.

A.5 Estrutura e operações

Os processos de operação da empresa consistirão em: visita para levantamento das

demandas e necessidades do cliente, elaboração do projeto e orçamento, análise de

crédito, assinatura do contrato, execução da obra e pós-venda.

Cada obra será executada por uma equipe composta por um pedreiro e um ajudante de

pedreiro, com supervisão do diretor de operações. Todos os profissionais da empresa,

com exceção da equipe de gestão, serão necessariamente moradores da comunidade.

Nos dois primeiros meses de operação, além da equipe de gestão, a empresa contará

com duas equipes de obra e um auxiliar de limpeza. No mês seguinte serão contratados

um estagiário e um auxiliar administrativo.

A.6 Marketing e projeção de vendas

A divulgação da empresa e a captação de clientes acontecerá através de panfletagem

e publicidade online, através do site da empresa e de mídias sociais (página no

Facebook e Facebook Ads). A empresa também será divulgada através de palestras em

parceria com organizações locais, com o objetivo de apresentar o negócio e promover

uma maior aceitação entre os moradores da comunidade.

Essa estratégia tem como objetivo atingir um número médio de 20 obras executadas

mensalmente ao longo do segundo ano de operações, com incrementos anuais de 30%,

20% e 15%, a partir do terceiro ano. Dessa forma, estima-se um faturamento de cerca

de R$ 430 mil no primeiro ano e da ordem de R$ 3 milhões no quinto ano de operação

da empresa.

Ao final do quinto ano, assume-se que a empresa será reconhecida como referência no

setor de reformas para a população de baixa renda no Rio de Janeiro e poderá expandir

sua atuação para outras comunidades da cidade.

74

A.7 Finanças

O investimento total necessário para operacionalizar a Empresa X é de R$ 505.266,90

e o primeiro fluxo de caixa positivo acontece no mês 20. Além disso, o negócio terá

equilíbrio financeiro por volta do mês 55. O VPL é de cerca de R$ 1 milhão para uma

taxa de desconto de 9% e a TIR após cinco anos é de 9%.

A Empresa X oferece 33% de participação no negócio a potenciais investidores pelo

aporte de R$ 505.266,90 ao longo dos primeiros 20 meses do negócio.

B. Conceito do negócio

A ideia da Empresa X surgiu da percepção de um problema recorrente em unidades

residenciais localizadas em comunidades: a precariedade das condições de moradia.

Em uma pesquisa realizada pelo Plano CDE em parceria com o Instituto Phi (2016)

sobre os impactos de reformar casas de famílias de baixa renda, foi identificado que a

reforma de casas é prioridade dentre as diversas demandas das famílias entrevistadas.

Isso porque além da casa proporcionar a segurança que a rua não os oferece, esta

também é considerada o local de conforto e privacidade das famílias. Contudo, as casas

apresentam alguns problemas recorrentes, tais como a falta de acabamento (falta forro,

reboco, pintura, azulejos e pisos), insalubridade (mofo, umidade, infiltrações e buracos

onde moram ratos e baratas), falta de ventilação, problemas nas instalações elétricas e

hidráulicas, entre outros.

No entanto, apesar de haver clientes com cada vez maior potencial de pagamento na

faixa da população com renda de até três salários mínimos e de existir uma grande

demanda não atendida desse público por serviços de reforma, as empresas tradicionais

que oferecem serviços de provisão habitacional costumam priorizar mercados com

maior potencial de lucro e geralmente oferecem apenas serviços de construção de

novas moradias, deixando, dessa forma, uma lacuna no mercado de reformas no que

tange a população de baixa renda (ASSAD, 2012).

Nesse sentido, o objetivo da Empresa X é proporcionar condições dignas de moradia

para famílias de baixa renda de comunidades da cidade do Rio de Janeiro através de

serviços de reformas de qualidade e baixa complexidade, com garantia e concessão de

crédito para a obra.

O modelo de receita da Empresa X estará concentrado na venda de pacotes de

reformas por cômodos (banheiro, cozinha, sala, quarto e área de serviço), contendo

75

serviços de: ventilação, antiumidade, revestimento, pisos e instalações elétricas e

hidrossanitárias.

Os diferenciais do empreendimento residem no acesso à crédito, garantia, mão de obra

qualificada e gestão da obra, que inclui a compra e entrega dos materiais de construção,

além do correto manejo dos resíduos de cada reforma.

O início das operações se dará exclusivamente no Complexo da Rocinha, na cidade do

Rio de Janeiro. A escolha da localização se deve à alta concentração populacional da

comunidade (aproximadamente 69 mil habitantes, de acordo com o Censo Demográfico

de 2010 do IBGE) e ao fato de os moradores da comunidade considerarem o serviço de

reformas como prioritário em comparação com diversas outras necessidades (conforme

dados do Censo Domiciliar de 2010), o que configura uma boa oportunidade de geração

de impacto social em escala. Fatores econômicos e mercadológicos da comunidade

também indicam um grande potencial de sustentabilidade financeira para o negócio

(CIESPI, 2010; O GLOBO, 2017).

Além disso, o Rio de Janeiro é considerado uma área endêmica da tuberculose, que é

ainda mais agravante nas comunidades devido às péssimas condições de moradia e de

alimentação das pessoas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, em 2016 a taxa

de incidência da doença na cidade do Rio de Janeiro chegou a 99 casos por 100 mil

moradores, valor ainda mais alto do que o registrado em 2014 (90 casos por 100 mil

moradores). A média nacional, em contrapartida, é de 33,7 por 100 mil. A comunidade

da Rocinha já foi conhecida como o maior foco de tuberculose do país, atingindo 455

casos por 100 mil moradores. O último registro aponta uma redução desse número para

179 casos por 100 mil moradores, um resultado atribuído não só ao trabalho das equipes

de saúde, mas também a obras como as do Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC). No entanto, esse cenário ainda está longe de ser satisfatório. Assim como na

maioria das comunidades da cidade, casas precárias, sem ventilação e que recebem

pouca luz do sol continuam oferecendo riscos (EL PAÍS BRASIL, 2015). Carlos Basilia,

coordenador do Observatório Tuberculose Brasil vinculado à Ensp/Fiocruz, em uma

reportagem da Gazeta Online (2017), afirmou que “para combater a doença, é preciso

melhorar a atenção básica, e também intensificar intervenções urbanísticas e em

moradias, ampliando ruas e reformando casas”.

76

C. Mercado e competidores

A análise de mercado foi realizada com base no modelo de negócios Canvas (ANEXO

A) e em relatórios setoriais selecionados durante a etapa de análise de oportunidade,

anterior à elaboração do plano de negócio.

C.1 Análise do setor e mercado-alvo

De acordo com a consultoria econômica LCA (2012), é necessário que o mercado de

reformas avance na economia, tanto devido ao aumento do estoque de habitação

quanto para constituir uma solução para o déficit habitacional brasileiro. A consultoria

aponta que o setor de reformas no Brasil está aquém do mercado potencial,

especialmente no que tange as classes sociais D e E. Conforme mostrado na Figura 17,

82% da população das classes D e E declaram haver necessidade de reformar seus

domicílios. Porém, menos da metade gastou com serviços de reforma e materiais de

construção, indicando que há uma distância significativa entre a necessidade e o gasto

efetivo com reformas.

Figura 17 - Necessidade e gasto com reforma por classes de renda

*Fonte: LatinPanel (2008) apud LCA (2012) **Fonte: POF (2008/2009) apud LCA (2012)

Na definição das classes sociais, o Censo Demográfico do IBGE (2010a) considerou

faixas de salário mínimo por família:

i. Classe A: acima de 20 salários mínimos

ii. Classe B: 10 a 20 salários mínimos

iii. Classe C: 4 a 10 salários mínimos

iv. Classe D: 2 a 4 salários mínimos

v. Classe E: até 2 salários mínimos

77

Considerando um tamanho familiar médio de 4 pessoas, foi obtida a Tabela 8, que

apresenta as classes sociais de acordo com a renda familiar mensal per capita:

Tabela 8 - Classe social por renda familiar mensal per capita

Dessa forma,Erro! Fonte de referência não encontrada. pode-se observar através da

Figura 18 que as classes D e E se concentram majoritariamente em aglomerados

subnormais, os quais, de acordo com a definição do IBGE (2010b) são: “assentamentos

irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas,

ressacas, mocambos, palafitas, entre outros”.

Figura 18 - Distribuição dos domicílios particulares permanentes localizados em aglomerados subnormais

e áreas urbanas normais de municípios com aglomerados subnormais por classes de rendimento nominal

mensal domiciliar per capita

Fonte: Censo Demográfico IBGE (2010a)

78

O Censo Demográfico do IBGE (2010a) também aponta que em 2010 o Brasil possuía

aproximadamente 11 milhões de pessoas morando em aglomerados subnormais (dados

de 2015 do Instituto Data Favela mostram que esse número aumentou em cerca de 1,3

milhão), o que corresponde a cerca de 6% da população brasileira. Foram identificados

6.329 aglomerados subnormais no país com 3.224.529 domicílios particulares

ocupados, o que corresponde a cerca de 11% do total de domicílios particulares

ocupados nos municípios com presença de aglomerados subnormais.

Além disso, mais de 3 milhões de pessoas tinham intenção de reformar suas casas em

comunidades entre 2015 e 2016 e entre 2005 e 2015 a massa de renda das

comunidades cresceu mais de 50%, atingindo R$68,5 bilhões (INSTITUTO DATA

FAVELA, 2015).

O IBGE (2010a) também aponta que o Rio de Janeiro é a cidade do Brasil que possui

maior quantidade de domicílios particulares ocupados em aglomerados subnormais,

sendo seguida por São Paulo, Salvador, Belém e Fortaleza, conforme mostrado na

Figura 19. Os 426.965 domicílios correspondem a 13% do total de domicílios

particulares ocupados no município. Além disso, são habitados por aproximadamente

1,4 milhão de pessoas, que correspondem a 22% do total da população residente em

domicílios particulares ocupados na cidade.

Figura 19 - Os cinco municípios brasileiros com maior quantidade de domicílios particulares ocupados em

aglomerados subnormais

Fonte: Censo Demográfico IBGE (2010a)

79

Na cidade do Rio de Janeiro, a comunidade mais populosa é a Rocinha, com

aproximadamente 69 mil habitantes e cerca de 25 mil domicílios, de acordo com o IBGE

(2010a). Já o Censo Domiciliar realizado na Rocinha em 2010, estima que a população

chegue a aproximadamente 98 mil pessoas e que o total de imóveis domiciliares seja

de 34.576. Esse mesmo Censo aponta que, quando questionados sobre “o que está

faltando para que sua moradia seja melhor”, os moradores recenseados indicaram que

suas prioridades estão relacionadas à ampliação da casa, construção de mais cômodos

e execução de reformas, conforme mostrado na Tabela 9 (CIESPI, 2010):

Tabela 9 - Complexo da Rocinha: o que está faltando para que sua moradia seja melhor?

Fonte: CIESPI (2010)

Além disso, uma pesquisa realizada pela Inova Urbis (2014) mostra que 81% das

pessoas entrevistadas na comunidade da Rocinha gostariam de ter um projeto de

reforma feito por um arquiteto, como mostra a Figura 20:

80

Figura 20 - Motivação para ter um projeto de reforma feito por arquiteto

Fonte: Inova Urbis (2014)

No entanto, a maioria dos habitantes da Rocinha que fez obra nos últimos 5 anos (53%),

não fez projeto e já conhecia a mão de obra para a realização da obra, conforme

mostrado nas Figuras 21 e 22 (INOVA URBIS, 2014):

Figura 21 - Origem da mão de obra (%)

Fonte: Inova Urbis (2014)

Figura 22 - Moradores que fizeram projeto (%)

Fonte: Inova Urbis (2014)

Assim, pode-se concluir que existe a oportunidade de explorar o setor de reformas nas

comunidades do Rio de Janeiro e o Complexo da Rocinha é uma boa localização para

iniciar o negócio na cidade. Os moradores demonstram ter interesse em fazer projetos

81

para suas reformas e uma das suas principais prioridades, em termos de melhorias para

suas moradias, é a realização de reformas. Além disso, por ser a maior comunidade do

Rio de Janeiro, a Rocinha conta com o público-alvo potencialmente mais expressivo da

cidade para o tipo de negócio da Empresa X.

C.2 Análise da concorrência

Quando se faz uma pesquisa sobre as opções de empresas de reformas em

comunidades do Rio de Janeiro, o único resultado obtido é a empresa Favelar, que tem

uma proposta de arquitetura sustentável para comunidades e periferias. A empresa

também desenvolve projetos e realiza a gestão das obras, no entanto, não na

comunidade da Rocinha.

Já na Rocinha, além dos pedreiros que realizam reformas de maneira informal, também

há a Inova Urbis, um escritório popular de arquitetura que realiza projetos com o objetivo

de incentivar os moradores a melhorarem suas moradias. Contudo, ambos os

concorrentes não realizam a gestão da obra.

Vale ressaltar também que na cidade de São Paulo há duas empresas com propostas

semelhantes à da Empresa X, que podem vir a ser concorrentes diretos no caso de

possíveis expansões: Programa Vivenda e Moradigna.

D. Equipe de gestão

A equipe de gestão foi estruturada de forma enxuta, abrangendo os seguintes papéis

estratégicos:

Sócio-diretor Comercial: responsável pelo planejamento estratégico, divulgação da

empresa, captação de novas reformas, compra de materiais de construção, logística e

orçamentos.

Sócio-diretor de operações: responsável pelas visitas para levantamento das

necessidades do cliente, projetos e gestão das obras.

Sócio-diretor administrativo-financeiro: suas responsabilidades envolvem a gestão de

contratos com empresas parceiras e clientes, concessão de crédito, recursos humanos,

jurídico e contabilidade.

Assume-se que os sócios-diretores irão trabalhar em um escritório físico localizado na

comunidade da Rocinha. A Figura 23 ilustra a estrutura organizacional do negócio. No

entanto, destaca-se que as posições de diretores de operações e administrativo-

financeiro ainda não foram preenchidas. É esperado que o diretor de operações seja

82

um arquiteto ou um engenheiro civil com experiência em obras de reforma. Já o diretor

administrativo-financeiro deve ter formação na área de contabilidade. Uma consultoria

será contratada para dar apoio ao diretor administrativo-financeiro nas questões

jurídicas, principalmente no que diz respeito aos contratos.

A diretoria comercial será ocupada pela sócia do negócio, Caroline Sá da Costa, com

formação em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo

interesse por negócios de impacto social a motivou a empreender nessa área. Além

disso, tem um histórico de envolvimento com projetos sociais, incluindo uma ONG na

qual é voluntária atualmente.

Figura 23 - Estrutura organizacional da Empresa X

E. Produtos e serviços

A proposta do negócio de reformas da Empresa X consiste em promover melhorias nas

condições de moradia dos moradores da comunidade da Rocinha que vivem em

situações precárias de habitação, além de proporcionar conforto e bem-estar.

Serão oferecidos pacotes de reformas por cômodo: banheiro, cozinha, sala, quartos e

área de serviço. Os pacotes incluem serviços de: ventilação (abertura e instalação de

portas e janelas), antiumidade (impermeabilização e remoção de infiltrações e mofos),

revestimento (paredes e tetos), pisos e instalações elétricas e hidrossanitárias,

conforme mostrado na Tabela 10.

83

Tabela 10 - Pacotes e serviços da Empresa X

O negócio prevê facilidades nas condições de pagamento através da concessão de

crédito. As reformas serão realizadas em até 8 dias úteis e os valores dos pacotes

poderão ser parcelados em até 12 vezes sem juros. Não será exigida renda fixa e formal

para aprovação do financiamento. O parcelamento do pagamento é uma das vantagens

competitivas do negócio, que ainda conta com gestão da obra (inclui compra e entrega

dos materiais de construção, além de manejo de resíduos das obras), garantia e

acompanhamento dos clientes no pós-venda.

F. Estrutura e operações

A Empresa X se estabelecerá na comunidade da Rocinha após a busca de um espaço

no local a ser concedido por ONGs ou Organizações da Sociedade Civil por meio de

contrato de comodato nos dois primeiros anos. A parceria com esses tipos de

organizações é considerada fundamental para o início das operações da empresa, uma

vez que as mesmas costumam ser respeitadas pelos moradores da comunidade e

facilitariam a entrada da empresa. Um outro tipo de parceria essencial para a

sustentabilidade do negócio deve ser feito com empresas de materiais de construção,

de forma a garantir preços de compra abaixo da média do mercado.

O processo de operação da empresa iniciará com o agendamento da visita, que ocorrerá

através de contato por telefone ou presencialmente. Após o agendamento da visita, um

arquiteto ou engenheiro civil irá à casa do cliente para mapear suas demandas e

necessidades de melhoria na casa. Como as reformas serão de baixa complexidade,

não serão feitas intervenções no caso de problemas estruturais. Ainda durante a visita,

o profissional fará o levantamento de informações relevantes para a execução do projeto

e da obra, incluindo fotos e medições. A partir das informações coletadas nessa visita,

serão feitos o projeto e um orçamento pelo mesmo profissional. Posteriormente, ambos

84

serão apresentados presencialmente pela diretora comercial e, no mesmo dia, o diretor

administrativo-financeiro fará a análise de crédito que indicará as possíveis condições

de parcelamento. Caso o cliente decida realizar a reforma proposta, prosseguirá para a

assinatura do contrato, que conterá todas as informações sobre o serviço e a garantia.

A seguir, a data de início da obra será agendada e o arquiteto ou engenheiro civil

conceberá o projeto de acordo com as preferências do cliente em relação aos materiais

a serem utilizados. Por fim, a Empresa X iniciará a execução e gestão da obra. Vale

ressaltar ainda que haverá um processo de pós-venda com o objetivo de fidelizar os

clientes.

Cada obra será executada por uma equipe composta por um pedreiro e um ajudante de

pedreiro, com supervisão do diretor de operações. Todos os profissionais da empresa,

com exceção da equipe de gestão, serão necessariamente moradores da comunidade.

Nos dois primeiros meses de operação, além da equipe de gestão, a empresa contará

com duas equipes de obra e um auxiliar de limpeza. No mês seguinte serão contratados

um estagiário e um auxiliar administrativo.

Destaca-se que, de acordo com a Lei Federal 6496/77, nenhuma obra ou serviço nas

áreas de engenharia e arquitetura pode ser iniciada sem o registro da respectiva ART

(Anotação de Responsabilidade Técnica). Além disso, as reformas da Empresa X

deverão estar de acordo com quatro normas técnicas:

i. ABNT NBR 16280:2015 - Reforma em edificações — Sistema de gestão de

reformas — Requisitos

ii. ABNT NBR 5626:1998 - Instalação predial de água fria

iii. ABNT NBR 5410:2004 Versão Corrigida: 2008 - Instalações elétricas de baixa

tensão

iv. ABNT NBR 8160:1999 - Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e

execução

G. Marketing e vendas

G.1 Posicionamento

A Empresa X busca consolidar-se na cidade do Rio de Janeiro como a principal

referência em serviços de reformas para a população de baixa renda que vive em

comunidades. As reformas proporcionarão condições dignas de moradia para essa

população, além da valorização do seu patrimônio e melhoria da autoestima. Bem-estar

e ambientes saudáveis serão alguns dos benefícios dos serviços de reforma da

85

empresa, que oferecerá um relacionamento diferenciado com os clientes através da

cocriação dos projetos, assistência pessoal dedicada e acompanhamento no pós-

venda.

G.2 Preço

Os serviços de reforma da Empresa X seguem a média de preço oferecida por empresas

semelhantes. Para realização da reforma de um cômodo, a média de R$ 6.700,00 será

praticada, de acordo com apuração feita em janeiro de 2018. Além disso, esse valor

poderá ser parcelado em até 12 vezes, dependendo do perfil financeiro de cada cliente

(profissão e tipo de renda). Não será exigida renda fixa nem formal, mas condições

melhores serão concedidas para os clientes que apresentarem ambos os tipos de renda.

A única exigência para aprovação do financiamento da reforma será a inexistência de

inadimplência junto ao SERASA/SPC.

G.3 Praça

A captação de clientes será feita por intermédio de palestras em parceria com

Organizações Não Governamentais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público, além de mídias sociais, site da empresa e próprio escritório, que terão o intuito

de mostrar para os moradores das comunidades a importância e benefícios dos serviços

de reforma da Empresa X. Além disso, assume-se que nos dois primeiros anos a

operação do negócio se dará em um escritório que ficará situado dentro de uma das

organizações parceiras citadas (ONGs ou OSCIPs), com o objetivo de reduzir os custos

iniciais de locação.

G.4 Propaganda/Comunicação

Os principais meios de divulgação da Empresa X serão panfletagem e publicidade

online, através do site da empresa e de mídias sociais (página no Facebook e Facebook

Ads). A empresa também será divulgada através de palestras em parceria com

organizações locais, com o objetivo de apresentar o negócio e promover uma maior

aceitação entre os moradores da comunidade. O orçamento de marketing anual para o

os cinco primeiros anos de operação é de cerca de R$17 mil.

G.5 Projeção de vendas

Conforme dados apresentados na Tabela 9, aproximadamente 2.100 domicílios da

comunidade da Rocinha necessitam de reformas. Com base nesse dado, sete

premissas foram consideradas para a projeção de vendas:

i. Pretende-se atingir 7% desse público no primeiro ano de operação da empresa,

o que representa um total de 147 domicílios;

86

ii. O crescimento do número de pacotes vendidos do primeiro para o segundo ano

será de 70% e nos próximos anos será de 30%, 20% e 15%, respectivamente;

iii. Cada domicílio poderá ter apenas um cômodo reformado por vez;

iv. O preço médio inicial de R$ 6.700,00 por pacote será reajustado anualmente de

acordo com o índice IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo);

v. No primeiro ano os custos de mão de obra representam 56% do valor do pacote

e os materiais de construção equivalem a 22%. Já os juros da concessão de

crédito compõem 3% do valor, enquanto a garantia do serviço representa 1% e

o marketing 2%;

vi. Cada cliente poderá parcelar a compra do serviço em até 12 vezes sem juros,

mediante uma entrada de 10% do valor do pacote no ato da compra. Essa

entrada será reduzida para 9% no quinto ano;

vii. Cada equipe de obra fará três reformas por mês e será composta por um

pedreiro e um ajudante de pedreiro.

A Figura 24 mostra a projeção de receita para a Empresa X para o horizonte dos cinco

primeiros anos de operação, levando em conta as premissas apresentadas.

Figura 24 - Projeção de vendas

87

H. Estratégia de crescimento

A Empresa X pretende atingir cinco metas em um prazo de cinco anos:

i. 147 reformas realizadas e aproximadamente 588 pessoas impactadas no

primeiro ano

ii. 249 reformas realizadas e aproximadamente 996 pessoas impactadas no

segundo ano

iii. 324 reformas realizadas e aproximadamente 1.296 pessoas impactadas no

terceiro ano

iv. 390 reformas realizadas e aproximadamente 1.560 pessoas impactadas no

quarto ano

v. 447 reformas realizadas e aproximadamente 1.788 pessoas impactadas no

quinto ano

Ao final do quinto ano, assume-se que a empresa será reconhecida como referência no

setor de reformas para a população de baixa renda no Rio de Janeiro e poderá expandir

sua atuação para outras comunidades da cidade. Essa expansão também é necessária

para garantir a sustentabilidade financeira do negócio, uma vez que o ganho de escala

é necessário para melhorar cada vez mais as condições de pagamento e concessão de

crédito para os clientes.

A estratégia de crescimento da empresa tem como referência a análise do ambiente de

negócio (oportunidades e ameaças) e as características específicas (forças e fraquezas)

da Empresa X apresentadas na análise SWOT (Figura 25) e concentra-se em quatro

ações-chave:

i. Realizar nova rodada de investimentos ao fim do quinto ano para viabilizar a

expansão para outras comunidades;

ii. Com o ganho de escala, facilitar cada vez mais as condições de pagamento,

oferecendo a possibilidade de um número maior de parcelas para o pagamento

dos pacotes de reforma;

iii. Fortalecer parcerias com empresas de materiais de construção;

iv. Treinar e desenvolver equipes de obra para garantir um padrão de qualidade de

referência na cidade.

88

I. Finanças

I.1 Premissas

A Tabela 11 apresenta as premissas relacionadas à tributação. Foi adotada a taxa Selic

para o reajuste de salários, tendo como referência o ano de 2017. Além disso, como a

empresa possui faturamento inferior a R$ 4.800.000,00 foi adotado o Simples Nacional

como o regime tributário a ser aplicado, de acordo com o Anexo III do Simples Nacional

2018 para empresas que oferecem serviços de instalação, reparos e manutenção.

Tabela 11 - Encargos e impostos

A Tabela 12 mostra a estimativa do número de reformas a serem realizadas dentro de

um horizonte de tempo de cinco anos.

Forças

- Sem concorrência direta no Rio de Janeiro

- Mão de obra qualificada

- Facilidades de pagamento

- Acompanhamento no pós-venda

- Qualidade do serviço

- Garantia

Fraquezas

- Empreendimento novo no Rio de Janeiro; pode haver dificuldade no início

- Marca desconhecida

- Alto investimento inicial

- Baixa margem de lucro

Oportunidades

- Reformas em crescente demanda nas classes D e E

- Tornar-se referência no Rio de Janeiro (atualmente não há referências)

- Expansão para outras comunidades no Rio de Janeiro

Ameaças

- Desconfiança do público-alvo em relação ao serviço

- Expansão dos concorrentes em regiões próximas

- Aumento da violências nas comunidades

- Grandes empresas de reformas que podem vir a ser concorrentes

- Altos índices de inadimplência

Análise SWOT

Figura 25 - Análise SWOT da Empresa X

89

Tabela 12 - Número de reformas por ano

Já a Tabela 13 mostra os valores médios adotados para as reformas de um cômodo.

Foi estimado o valor de R$ 6.700,00 para o primeiro ano, enquanto os dos anos

seguintes foram reajustados de acordo com o índice IPCA (Índice de Preços ao

Consumidor Amplo) do último mês de 2017 (3%).

Tabela 13 - Premissas comerciais

I.2 Despesas e custos operacionais

Considerando as premissas apresentadas, foram definidos os custos e despesas para

a operação da Empresa X, conforme mostrado nas Tabelas 14 e 15. Considerou-se que

nos dois primeiros anos a empresa ficará alocada em espaço cedido por uma

Associação local e, dessa forma, as despesas com aluguel e IPTU só foram

contabilizadas a partir do terceiro ano de operação. Já os custos de materiais de

construção foram estimados com base nas premissas do número de reformas a serem

realizadas anualmente e em um custo médio de R$ 1.500,00 por pacote de reforma

vendido. Para garantir tal valor é de extrema importância que sejam feitas parcerias com

empresas de materiais de construção. Além disso, nos custos de publicidade e

marketing foram levados em consideração os gastos com Facebook Ads (1 dólar por

dia) e panfletagem (2.500 panfletos por mês).

Tabela 14 - Despesas operacionais

Tabela 15 - Custos de operação

Número de reformas Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5

Número de reformas/ano 147 249 324 390 447

90

I.3 Funcionários

A Tabela 16 mostra a quantidade de funcionários e as respectivas funções necessárias

para a operação da empresa nos cinco primeiros anos. A partir desses dados foi

consolidada a folha de pagamento, já levando em conta os encargos e benefícios,

conforme sintetizado na Tabela 17.

Tabela 16 - Quantidade de funcionários

Tabela 17 - Gastos totais com salários e benefícios

I.4 Investimentos em infraestrutura

Considerando a quantidade de funcionários e as premissas apresentadas, foram

definidos os investimentos em infraestrutura necessários para a operação da Empresa

X, conforme mostrado na Tabela 18.

91

Tabela 18 - Investimentos em infraestrutura

I.5 Resultados

A projeção de receita com horizonte de cinco anos e os resultados consolidados são

apresentados na Tabela 19. A projeção de receita foi feita considerando a concessão

de crédito aos clientes. Portanto, as receitas mensais não englobam os valores integrais

dos pacotes de reforma vendidos nos respectivos meses, mas apenas os valores

correspondentes das entradas e prestações de pacotes vendidos nos meses anteriores.

Os dados detalhados mensalmente podem ser consultados no ANEXO B.

Tabela 19 - Resultados anuais

O investimento total necessário para operacionalizar a Empresa X é de R$ 505.266,90

(equivalente à máxima exposição do caixa). A partir do gráfico de exposição de caixa

mostrado na Figura 26 e das tabelas apresentadas anteriormente, é possível observar

que o primeiro fluxo de caixa positivo acontece no mês 20. A Figura 26 também mostra

a evolução do caixa da empresa desde sua criação até o seu crescimento nos cinco

primeiros anos de operação, além de fornecer dados como: maior exposição do caixa e

ponto de equilíbrio (mês 19) e quando acontecerá o retorno do investimento do negócio

(mês 55). O VPL é de R$ 1.008.998,44 para uma taxa de desconto de 9% e a TIR após

cinco anos é de 9%. A Empresa X oferece 33% de participação no negócio a potenciais

investidores pelo aporte de R$ 505.266,90 ao longo dos primeiros 20 meses do negócio.

O valor do negócio antes e depois do aporte são de R$ 1.008.998,44 e R$ 1.514.265,34

respectivamente.

92

Figura 26 – Gráfico de exposição de caixa

6.3. Considerações finais sobre o estudo de caso

As projeções financeiras atestam a viabilidade da criação da Empresa X, apesar de o

retorno sobre o investimento ocorrer apenas no final do quinto ano.

Todas as tabelas das projeções financeiras e o gráfico de exposição do caixa foram

elaborados usando como referência as planilhas disponibilizadas por Dornelas (2018).

Vale ressaltar que, no caso de abertura da empresa, os aspectos legais (registro da

empresa, Código de Obras e normas de projeto) devem ser respeitados, conforme

discutido no item 3.3. deste trabalho.

Destaca-se ainda que não foi realizada uma pesquisa primária na comunidade da

Rocinha, uma vez que a finalidade do estudo de caso é acadêmica. No entanto, a

realização de uma pesquisa seria importante para validar as premissas consideradas

no plano de negócio.

Não foi considerado o índice de inadimplência, mas estima-se que seja de 2% a 5%.

93

7. CONCLUSÕES

Apesar do termo empreendedorismo social ainda não ser compreendido em sua

totalidade e de existirem diferentes percepções sobre o seu significado no mundo, é

notória a sua capacidade de combinar dois objetivos antes considerados incompatíveis:

a geração de valor social e a sustentabilidade financeira. Os negócios sociais surgem

como uma alternativa para um capitalismo mais inclusivo, já que possibilitam a geração

de impacto social através de mecanismos de mercado.

Nesse sentido, países em desenvolvimento são considerados propícios para o

desenvolvimento desse tipo de iniciativa, uma vez que constituem grande parte da base

da pirâmide mundial, vista como um terreno fértil para esse tipo de negócio.

No Brasil, entre os principais setores que podem ser impactos positivamente através de

negócios sociais está o setor de habitação, já que o país apresenta uma grande

quantidade de unidades residenciais que se encontram em situação precária. Muitas

dessas residências se localizam em comunidades e apresentam problemas recorrentes,

tais como falta de acabamento, insalubridade, falta de ventilação, problemas nas

instalações elétricas e hidráulicas, entre outros.

No entanto, para a criação de qualquer negócio, somente a existência de uma

oportunidade não basta. Para que a empresa tenha sucesso, é importante que sejam

previstos os riscos e incertezas inerentes à sua operação, de forma que eles possam

ser minimizados na prática. Isso pode ser feito através da elaboração de um plano de

negócio bem estruturado, que também deve demonstrar a viabilidade do negócio e

estabelecer os objetivos a serem atingidos pela empresa.

Assim, a partir da percepção da oportunidade de geração de impacto social através da

criação de uma empresa de reformas em comunidades da cidade do Rio de Janeiro, foi

elaborado um plano de negócio que demonstrou a viabilidade do negócio através dos

diversos aspectos que compõem as suas seções. No que se refere ao potencial de

mercado, o Rio de Janeiro possui a maior quantidade de domicílios particulares

ocupados em aglomerados subnormais do país, sendo a comunidade da Rocinha a mais

populosa e, consequentemente, o melhor lugar para iniciar a operação da empresa

antes da sua expansão para outras comunidades da cidade. Além disso, a análise

financeira demonstra que mesmo com o desafio de financiamento das reformas, é

possível operacionalizar o negócio com um investimento total dentro dos padrões do

que é praticado no mercado. Por fim, uma vez que a escalabilidade é essencial tanto

para a sustentabilidade da empresa como para a ampliação do impacto social, também

94

foi prevista uma expansão para outras comunidades da cidade após o fim do quinto ano

de operações.

No entanto, caso haja interesse de colocar em prática o negócio proposto, é

recomendado que seja feita uma pesquisa primária para validar as premissas

consideradas na etapa de análise de oportunidade. Recomenda-se também que nas

projeções financeiras seja levado em consideração o índice de inadimplência e que se

estude a melhor maneira de aplicação do lucro da empresa, seja em participação dos

sócios e/ ou reinvestindo no negócio.

95

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARTEMISIA. Negócios de impacto social. Disponivel em:

<http://artemisia.org.br/conteudo/negocios/nosso-conceito.aspx>. Acesso em: 16 de

Dezembro de 2017.

ARTEMISIA. Busca e Seleção de Negócios. Setores Foco. Disponivel em:

<http://www.artemisia.org.br/conteudo/frentes/busca/busca.aspx>. Acesso em: 12 de

Janeiro de 2018.

ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY.

Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios para

organizações sociais. São Paulo: Peirópolis, 2001.

ASMUSSEN, M. W. Entendendo o jargão hoteleiro: conceitos e terminologia básicos do

ramo hoteleiro. Real Estate: Economia & Mercados, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 141, jan.-

jun. 2004.

ASSAD, F. A. Negócios sociais no Brasil: oportunidades e desafios para o setor

habitacional. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-graduação em Administração)

- Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 136. 2012.

ABCP. Press Kit. Associação Brasileira de Cimento Portland. São Paulo, p. 31. 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 16280:2014 –

Gestão das reformas.

AZEVEDO, L. P. D. As distintas percepções sobre o empreendedorismo social.

Dissertação (Mestrado – Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) –

Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, p. 123. 2015.

BANCO PÉROLA. Disponivel em: <http://www.bancoperola.org.br/>. Acesso em: 10 de

Janeiro de 2018.

BARENDSEN, L.; GARDNER, H. Is the social entrepreneur a new type of leader?

Leader to Leader, New York, n. 34, p. 43-50, Fall 2004.

96

BARKI, E. Negócios de Impacto: Tendência ou Modismo? GV-executivo, v. 14, n. 1, p.

14-17, jan./jun. 2015.

BARROS, I. C. F. Atitude empreendedora e competência social: uma análise com

empreendedores individuais e sociais. Dissertação (Mestrado – Centro de Ciências

Sociais e Humanas) - Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, p. 132. 2012.

BOSE, M. Empreendedorismo social e promoção do desenvolvimento local. Tese

(Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Administração) – Universidade de São

Paulo. São Paulo, p. 182. 2012.

CHIAVENATO, I. Administração nos Novos Tempos. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus,

2000.

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 6. ed.

São Paulo: Saraiva, 2005.

CIESPI. Rocinha em números. Censo Domiciliar, 2010. Disponivel em:

<http://www.ciespi.org.br/media/Cartografias/Rocinha/2%20Rocinha%20em%20numer

os_PDF/5%20PAC%20Domiciliar%20Rocinha_marco%202010.pdf>. Acesso em: 12

de Janeiro de 2018.

COMINI, G. M. Mapas de soluções inovadoras: tendências de empreendedores na

construção de negócios sociais e inclusivos, 2011. Disponivel em:

<https://www.issuelab.org/resources/20483/20483.pdf>. Acesso em: 9 de Janeiro de

2018.

COMINI, G.; BARKI, E.; TRINDADE DE AGUIAR, L. A three-pronged approach to social

business: a Brazilian multi-case analysis. Rev. Adm., São Paulo, v. 47, n. 3, p. 385-397,

jul./ago/set. 2012. ISSN ISSN 0080-2107.

CROCE, J.; MELLO, S.; AZEVEDO, W. Decisão por empreitada global ou unitária

em obras públicas de reformas de edificações. Monografia (especialização em

auditoria de obras públicas) — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio

de Janeiro. 2008.

DAYCHOUM, M. 40+16 Ferramentas e Técnicas de Gerenciamento. 6ª. ed. Rio de

Janeiro: Brasport, 2016.

97

DEES, J. G. The meaning of social entrepreneurship, 1998.

DEVECCHI, A. M. Reformar não é construir: a reabilitação de edifícios verticais:

novas formas de morar em São Paulo no século XXI. Tese (Doutorado - Área de

concentração: Habitat) - FAUUSP. São Paulo, p. 547. 2010.

DIÁRIO do Comércio. Reformas de casa salvam o varejo de material de construção,

2015. Disponivel em: <https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/reformas-de-casa-

salvam-o-varejo-de-material-de-construcao>. Acesso em: 10 de Fevereiro de 2018.

DORNELAS, J. Empreendedorismo. Disponivel em:

<http://www.josedornelas.com.br/download/>. Acesso em: 3 de Fevereiro de 2018.

DORNELAS, J. Modelo de negócio Canvas ou Plano de negócios?, 2013. Disponivel

em: <http://www.josedornelas.com.br/artigos/modelo-de-negocio-canvas-ou-plano-de-

negocios/>. Acesso em: 24 de Abril de 2017.

DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: Transformando Ideias em Negócios. 2. ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

DORNELAS, J. et al. Plano de Negócios com o Modelo Canvas. 1. ed. Rio de Janeiro:

LTC, 2015.

DRUCKER, P. F. Innovation and entrepreneurship: practice and principles. London:

Heinemann, 1985.

EL PAÍS BRASIL. Tuberculose na Rocinha expõe o Brasil que estacionou no século XIX,

2015. Disponivel em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/01/politica/1441120198_053979.html>. Acesso

em: 12 de Janeiro de 2018.

EMPREENDEDOR. Negócios que envolvem reparos e reformas crescem em

tempos de crise, 2017. Disponivel em: <http://empreendedor.com.br/noticia/101515/>.

Acesso em: 10 de Fevereiro de 2018.

98

ESPOSITO, M.; KAPOOR, A.; GOYAL, S. Enabling healthcare services for the rural and

semi-urban segments in India: when shared value meets the bottom of the pyramid.

Corporate Governance: The international journal of business in society, v. 12, n.

4, p. 514-533, 2012.

EXAME. Plataforma digital aposta na demanda por reformas em todo o país, 2016.

Disponivel em: <https://exame.abril.com.br/negocios/dino/plataforma-digital-aposta-na-

demanda-por-reformas-em-todo-o-pais-dino89094708131/>. Acesso em: 10 de

Fevereiro de 2018.

EXAME. Negócio espera faturar R$ 1 milhão com reformas em favelas, 2016.

Disponivel em: <https://exame.abril.com.br/pme/negocio-espera-faturar-r-1-milhao-

com-reformas-em-favelas/>. Acesso em: 20 de Março de 2017.

FISCHER, R. M.; COMINI, G. Sustainable development: from responsibility to

entrepreneurship. Revista de Administração, São Paulo, v. 47, n. 3, p. 363-369,

jul./set. 2012.

GALERA, G.; BORZAGA, C. Social enterprise: An international overview of its

conceptual evolution and legal implementation. Social Enterprise Journal, London, v.

5, n. 3, p. 210-228, 2009.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GOYAL, S.; SERGI, B. S.; JAISWAL, M. P. Understanding the challenges and strategic

actions of social entrepreneurship at base of the pyramid. Management Decision, v. 54,

n. 2, p. 418-440, 2016.

HIGASHI, L. N.; COMINI, G. M.; D'AMARIO, E. Q. A Competitividade e os Desafios

dos Negócios Sociais: Um Estudo de Casos do Brasil e de Bangladesh. XX SemeAd:

Seminários em Administração. São Paulo: [s.n.]. 2017. p. 16.

IBGE. Censo Demográfico, 2010a. Disponivel em:

<https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/populacao/9662-censo-

demografico-2010.html?edicao=9675&t=destaques>. Acesso em: 15 de Janeiro de

2018.

99

IBGE. Notas técnicas, 2010b. Disponivel em:

<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-

noticias/releases/14157-asi-censo-2010-114-milhoes-de-brasileiros-60-vivem-em-

aglomerados-subnormais.html>. Acesso em: 15 de Janeiro de 2018.

INOVA URBIS. A Rocinha em números. Programa de Melhorias Habitacionais de

Interesse Social (PMHIS). Rio de Janeiro, p. 30. 2014.

INSTITUTO DATA FAVELA. As Favelas no Brasil: Percepções e Perspectivas. , p.

122. 2015.

JAPPE, M. L. M. Fatores Contributivos e fatores limitadores para negócios sociais

no Brasil: Um estudo exploratório nas regiões sul e sudeste. Dissertação (Mestrado

– Programa de Pós-graduação em Administração) – Universidade Federal do Rio

Grande do Sul. Porto Alegre, p. 96. 2013.

JESUS, C. R. M. D.; BARROS, M. M. S. B. D. Recomendações para elaboração de

orçamento de obras de reabilitação de edifícios habitacionais. Ambiente Construído,

Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 57-72, abr./jun. 2011.

JOHNSON, S. Literature Review on Social Entrepreneurship. Canadian Centre for

Social Entrepreneurship, November 2000.

KERLIN, J. Social enterprise in the United States and Europe: understanding and

learning from the differences. International Journal of Voluntary and Nonprofit

Organizations, v. 17, n. 3, p. 247-263, sept. 2006.

LCA. Estruturação do mercado de reformas no Brasil: Diagnóstico e Diretrizes.

São Paulo, p. 57. 2012.

MAIA, F. Retrofit é uma boa opção? Precisão Consultoria, 2004. Disponivel em:

<http://www.precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/retrofit.htm>. Acesso em: 29 de

Janeiro de 2018.

MARQUES DE JESUS, C. R. Análise de custos para reabilitação de edifícios para

habitação. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

São Paulo, p. 178. 2008.

100

MARTIN, R. L.; OSBERG, S. Social Entrepreneurship: The Case for Definition. Stanford

Social Innovation Review , Stanford, v. 5, n. 2, p. 28-39, Spring 2007.

MELO NETO, F. P. D.; FRÓES, C. Empreendedorismo social: a transição para a

sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

MUNHOZ, C. B. D. Subsídios para a melhoria da gestão de reformas de edificações

unifamiliares no mercado de autogestão. Dissertação (Mestrado - Escola Politécnica

da Universidade de São Paulo). São Paulo, p. 148. 2010.

O GLOBO. Rocinha: maior favela do país, 2017. Disponivel em:

<https://oglobo.globo.com/rio/rocinha-maior-favela-do-pais-21834104>. Acesso em: 12

de Janeiro de 2018.

OLIVEIRA, E. M. Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas

e desafios – notas introdutórias. Revista da FAE, Curitiba, v. 7, n. 2, p. 9-18, jul./dez.

2004.

OSTERWALDER, A. The Business Model Ontology: a proposition in a design

science approach. Université de Lausanne. Lausanne, Switzerland. 2004.

OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business Model Generation - Inovação em

Modelos de Negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio

de Janeiro: Alta Books, 2011.

PEREIRA, H. J.; SANTOS, S. A. Criando seu próprio negócio: Como desenvolver o

potencial empreendedor. Brasília: SEBRAE, 1995.

PESQUISA CAU/BR Datafolha. CAU/BR, 2015. Disponivel em:

<http://www.caubr.gov.br/pesquisa2015/>. Acesso em: 9 de Fevereiro de 2018.

PIPE. Mapa de Impacto 2017, 2017. Disponivel em:

<https://www.pipe.social/mapa2017>. Acesso em: 12 de Janeiro de 2018.

PIRES, L. D. L. Negócios sociais em contexto brasileiro: Estudo de casos

múltiplos. Dissertação (Mestrado em Administração - Universidade Estadual de

Londrina). Londrina, p. 134. 2017.

101

PLANO CDE; INSTITUTO PHI. Avaliação Qualitativa: Projeto de Reformas, 2016.

Disponivel em: <http://planocde.com.br/wp-

content/uploads/2017/05/Relato%CC%81rio_Final-Resumido_2.pdf>. Acesso em: 12

de Janeiro de 2018.

PNUD. Mercados inclusivos no brasil: desafios e oportunidades do ecossistema de

negócios, 2015. Disponivel em:

<http://www.iniciativaincluir.org.br/Public/upload/ckfinder/files/PNUD_Mercados%20Incl

usivos%20no%20Brasil_Desafios%20e%20oportunidades.pdf>. Acesso em: 12 de

Janeiro de 2018.

PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. The big ideia: Creating shared value. Harvard

Business Review, v. 89, n. 1, p. 2-17, jan./feb. 2011.

PRAHALAD, C. K.; HART, S. L. The Fortune at the Bottom of the Pyramid. Strategy +

Business, v. 26 (First Quarter), p. 2-14, 2002.

PROGRAMA VIVENDA. Disponivel em: <http://programavivenda.com.br/>. Acesso em:

12 de Janeiro de 2018.

PWC BRASIL. Como Criar um Plano de Negócio, Julho 2010. Disponivel em:

<https://rdstation-

static.s3.amazonaws.com/cms%2Ffiles%2F6588%2F1425325585Folder_Plano_Nego

cio_10.pdf>. Acesso em: 15 de Outubro de 2017.

QUINTELLA, M. Empreendedorismo & Gestão de Negócios. Rio de Janeiro: Synergia

Editora, 2017.

RED BULL AMAPHIKO. Reforma para todos. Disponivel em:

<https://amaphiko.redbull.com/pt-BR/magazine/reforma-para-todos>. Acesso em: 12 de

Janeiro de 2018.

ROCHA, E. 5 Softwares de Plano de Negócios Para Facilitar a Vida do

Empreendedor, 2016. Disponivel em: <http://www.ignicaodigital.com.br/5-softwares-

de-plano-de-negocios-para-facilitar-vida-do-empreendedor/>. Acesso em: 23 de Abril de

2017.

102

ROMERO, M. D. A.; GONÇALVES, J. C. S. Reforma necessária. Téchne, São Paulo,

n. 46, Maio 2000.

ROMERO, M. D. A.; GONÇALVES, J. C. S. Reforma necessária: sinônimo de

atualização predial, o retrofit pode contribuir para o melhor desempenho de antigas

edifficações, algumas vezes remodeladas para novos usos. Téchne, São Paulo, v. 46,

p. 44-47, maio/jun. 2000.

ROSOLEN, T.; TISCOSKI, G. P.; COMINI, G. M. Empreendedorismo Social e Negócios

Sociais: Um Estudo Bibliométrico da Produção Nacional e Internacional. Artigo

apresentado no XXXVII Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, Setembro 2013.

Disponivel em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_APB1365.pdf>.

Acesso em: 16 de Dezembro de 2017.

SALIM, C. S. et al. Construindo Planos de Negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus,

2005.

SCHERER, P. C. Entendendo os negócios com impacto social : uma análise dos

elementos constituintes do modelo de negócio. Dissertação (Mestrado - Programa

de Pós-graduação da Faculdade de Administração) – Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p. 114. 2014.

SEBRAE. Como montar um serviço de reparos residenciais. Disponivel em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/Como-montar-um-

servi%C3%A7ode-reparos-residenciais>. Acesso em: 03 de Janeiro de 2018.

SEBRAE. Dê o primeiro passo e veja logo se a sua ideia dá negócio usando o

Canvas. Disponivel em: <http://startupsebraeminas.com.br/de-o-primeiro-passo-e-veja-

logo-se-a-sua-ideia-da-negocio-usando-o-canvas/>. Acesso em: 24 de Abril de 2017.

SEBRAE. Como elaborar um plano de negócio, 2013a. Disponivel em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/COMO%20ELABORAR

%20UM%20PLANO_baixa.pdf>. Acesso em: 17 de Abril de 2017.

SEBRAE. O Quadro de Modelo de Negócios, 2013b. Disponivel em:

<http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/b

e606c09f2e9502c51b09634badd2821/$File/4439.pdf>. Acesso em: 23 de Abril de 2017.

103

SEBRAE. Negócios sociais: uma maneira inovadora de empreender e promover o

bem, 2013c. Disponivel em: <http://maratonadenegociossociais.com.br/sc/wp-

content/themes/maratona/file/cartilha_ns_ii.pdf>. Acesso em: 16 de Dezembro de 2017.

SEBRAE. Cadeia de valor: oportunidades na construção civil. Boletim de Inteligência,

2016. Disponivel em:

<http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/bis/download.zhtml?t=D&uid=0a89f5690e9915b

db69ac92a41783a44>. Acesso em: 29 de Janeiro de 2018.

SISTEMA FIRJAN. Construção civil: O setor de construção civil e o Sistema FIRJAN. O

Sistema FIRJAN, 2018. Disponivel em: <http://www.firjan.com.br/o-sistema-

firjan/setores-de-atuacao/construcao-civil.htm>. Acesso em: 29 de Janeiro de 2018.

THOMPSON, J. L. The world of the social entrepreneur. The International Journal of

Public Sector Management, v. 15, n. 5, p. 412-431, 2002.

TRAVAGLINI, C.; BANDINI, F.; MANCINONE, K. Social enterprises in Europe:

governance models. An analysis of social enterprises governance models through a

comparative study of the legislation of eleven countries. Second EMES International

Conference on Social Enterprise. Trento, Italy: EMES. 2009. p. 1-26.

YOUNG, D. Alternative Perspectives on Social Enterprise. In: CORDES, J.; STEUERLE,

E. Nonprofits and Business. Washington, D.C.: The Urban Institute Press, 2009.

YOUNG, D. R. A unified theory of social enterprise. In: SHOCKLEY, G. E.; STOUGH, R.

R.; FRANK, P. M. Non-market Entrepreneurship - Interdisciplinary Approaches.

Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing, 2008.

104

ANEXO A – MODELO DE NEGÓCIOS CANVAS DA EMPRESA X

105

ANEXO B – DADOS FINANCEIROS MENSAIS DA EMPRESA X

Ano 1

Despesas operacionais

Custos operacionais

106

Funcionários

107

Investimentos em infraestrutura

Resultados

108

Ano 2

Despesas operacionais

Custos operacionais

109

Funcionários

110

Investimentos em infraestrutura

Resultados

111

Ano 3

Despesas operacionais

Custos operacionais

112

Funcionários

113

Investimentos em infraestrutura

Resultados

114

Ano 4

Despesas operacionais

Custos operacionais

115

Funcionários

116

Investimentos em infraestrutura

Resultados

117

Ano 5

Despesas operacionais

Custos operacionais

118

Funcionários

119

Investimentos em infraestrutura

Resultados