Estudos da Amazônia:Avaliação de Vinte Projetos PDA

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O Estudo da Amazônia abrangeu vinteprojetos que constituem um corte representativodas experiências promovidaspelo PDA na Amazônia Legal. Esse esforçofaz parte da avaliação de implementaçãodo PDA com a participação doFundo Fiduciário das Florestas Tropicais(RFT) e representou uma oportunidade deintegração interinstitucional.

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  • Estudos da Amaznia:Avaliao de Vinte Projetos PDA

    Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil

    N 5 Maio de 2004

  • 1Estudos da Amaznia:Avaliao de Vinte Projetos PDA

    Estudos da Amaznia:Avaliao de Vinte

    Projetos PDA

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    Subprograma Projetos Demonstrativos PDA

    Secretrio-Tcnico: Jorg Zimmermann

    Secretria-Tcnica Adjunta: Anna Ceclia Cortines

    Equipe Tcnica Atual: Alice Guimares, Demstenes de Moraes, Elmar Castro, Klinton Senra, Luciana Silva e Paulo Spyer

    Equipe Financeira: Allyson Duarte, Cludia Alves, Francisca Kalidaza e Nilson Nogueira

    Equipe Administrativa: Eduardo Ganzer, Lorena Reis, Lcia Amaral e Neide Castro

    Peritas da GTZ: Denise Lima Pufal e Monika Grossmann

    Cooperao Financeira: Repblica Federal da Alemanha KfW, Unio Europia CEC, Rain Forest Trust Fund RFT, Fundo Francs para o Meio Ambiente Mundial FFEM

    Cooperao Tcnica: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUD, Projeto BRA/03/009

    Agncia Alem de Cooperao Tcnica, Deutsche Gesellschaft fr Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH

    Agente Financeiro: Banco do Brasil

    Esta publicao produto de estudo realizado pelo Subprograma Projetos Demonstrativos nos meses de abril e maio de 2003 a partir de visitas de avaliao a vinte projetos desenvolvidos na Amaznia. Para a elaborao da metodologia de avaliao, contou com o apoio do Projeto AMA/PPG7.

    Equipe de avaliao: Alice Guimares (AMA/PPG7/MMA), Antnio Macedo (Funai), Clia Chaves (PDA), Demstenes de Moraes (PDA), Denise Lima (PDA), Ekkehard Gutjahr (DED), Gilberto Nagata (PDA), Ino-cncio Gasparin (MDA), Luiz Csar Siqueira (PNS/PPG7/MMA), Luiz Fernando de Barros (SCA/MMA), Mara Vanessa Dutra (PDA), Maria Clara Soares (Funbio), Martin Knossalla (DED), Petra Ascher (AMA/PPG7/GTZ), Ricardo Frana (Proteger/GTA), Ricardo Russo (PDA), Slvia Nicola (Proteger/GTA), Valdenira Lameiras (CEX/SCA/MMA)

    Organizao do estudo e sistematizao: Denise Valria de Lima e Mara Vanessa Dutra

    Copy desk e reviso de texto: Mara Vanessa Dutra, Mrcia Lage e Tereza Moreira

    Projeto Grfico: Luiz Dar

    Apoio para elaborao de grficos e tabelas: Karla Rosane

    Fotos: Acervo PDA, Alice Guimares, Ekkehard Gutjahr, Gilberto Nagata, Mara Vanessa Dutra, Petra Ascher e Ricardo Russo

    ISBN 85-87166-61-1

    Brasil. Ministrio do Meio Ambiente. Secretaria de Coordenao da Amaznia. Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais do Brasil. Subprograma Projetos Demonstrativos.Estudos da Amaznia : avaliao de vinte projetos PDA / Ministrio do Meio Ambiente. Secretaria de

    Coordenao da Amaznia, Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais do Brasil, Subprograma Projetos Demonstrativos. -- Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004.

    134 p.

    1. Amaznia - estudos. 2. I. Ttulo. II. Ttulo: avaliao de vinte projetos PDA.

    CDU 504.06(811)

    Ministrio do Meio Ambiente MMA

    Centro de Informao, Documentao Ambiental e Editorao Lus Eduardo Magalhes CID Ambiental

    Esplanada dos Ministrios Bloco B trreo - 70068-900 - Braslia - DF

    Tel.: 55 61 317 1235 - Fax: 55 61 224 5222 - e-mail: [email protected]

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    Sumrio

    APRESENTAO ...............................................................................................................5INTRODUO ................................................................................................................7ASPECTOS METODOLGICOS ..............................................................................................81. PROJETOS ESTUDADOS ..................................................................................................102. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O XITO DOS PROJETOS .......................................................34 2.1. Onde as coisas deram mais certo pistas do porqu .................................35 2.2. Principais fatores de xito ...........................................................................36 2.3. Planejamento e participao .......................................................................37 2.4. Capacitaes, intercmbios e algumas palavras sobre assistncia tcnica ...37 2.5. Olhando em volta e buscando sinergias .....................................................383. AS PEDRAS NO CAMINHO: PROBLEMAS E DIFICULDADES DOS PROJETOS .....................................40 3.1. Assistncia tcnica e barreiras culturais ......................................................40 3.2. Gerenciamento, planejamento, nvel de organizao e mobilizao social.41 3.3. Produo ....................................................................................................42 3.4. Ambiente externo .......................................................................................43 3.5. Beneficiamento ...........................................................................................44 3.6. Comercializao .........................................................................................454. O QUE FICA PARA AS COMUNIDADES E PARA O MEIO AMBIENTE: BENEFCIOS CONCRETOS ........................................................................................46 4.1. Fortalecimento organizacional e ganhos sociais ..........................................47 4.2. Comendo melhor, vivendo melhor e com mais dinheiro no bolso ..............50 4.3. A natureza agradece ...................................................................................51 4.4. Produzindo mais e melhor ..........................................................................52 4.5. Profissionais, sim senhor .............................................................................53 4.6. Flertando com o poder pblico: as diferentes relaes e seus impactos ......535. SISTEMAS DE PRODUO ...............................................................................................56 5.1. Sistemas Agroflorestais ................................................................................57 5.2. Apicultura/Meliponicultura .........................................................................59

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    5.3. Manejo Florestal .........................................................................................60 5.4. Manejo de Recursos Aquticos e Piscicultura .............................................606. SUSTENTABILIDADE .......................................................................................................63 6.1. Sustentabilidade scio-cultural ...................................................................66 6.2. Sustentabilidade organizacional/institucional .............................................68 6.3. Sustentabilidade ambiental .........................................................................69 6.4. Sustentabilidade econmica .......................................................................71 6.5. Indicadores de sustentabilidade: grficos ....................................................747. APRENDENDO COM AS EXPERINCIAS: LIES DE TODOS PARA TODOS ......................................85 7.1. Gesto e organizao .................................................................................86 7.2. Aspectos tcnicos e produtivos ...................................................................88 7.3. Assistncia tcnica, capacitao, informao e mudana............................89 7.4. Polticas pblicas e atuao do Estado.........................................................90 7.5. Sustentabilidade e ampliao das propostas................................................92 7.6. Gnero .......................................................................................................92 7.7. Lies e recomendaes para o PDA e para os financiadores .....................92

    ANEXO 1: A CONTRIBUIO DO PDA/PPG7 NA AMAZNIA .................................................95ANEXO 2.ROTEIRO PARA ENTREVISTAS EM CAMPO .................................................................101ANEXO 3: ALGUMAS TCNICAS PARA MOTIVAR REUNIES DE GRUPOS ........................................113ANEXO 4: DADOS DOS PROJETOS .....................................................................................117ANEXO 5: AVALIAO DE PROJETOS DA AMAZNIA LEGAL .....................................................118ANEXO 6: INDICADORES DE AVALIAO POR PROJETO ............................................................125

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    AO PDA, em seus nove anos de existncia, vem acumulando a maturidade de um projeto que nasceu do propsito comum de homens, mulheres, brasileiros e no-brasileiros, que ousaram imaginar uma forma diferente de conviver com as flores-tas tropicais e preserv-las.

    Impulsionado por esse anseio coletivo inicial, o PDA inaugurou uma forma inovadora de analisar e aprovar projetos, colocando na mesma mesa e com igual poder de deciso, Governo e sociedade civil, para o difcil exerccio da busca do equilbrio entre diferentes regies, institui-es, percepes e necessidades.

    Ao longo desses anos, 188 experincias muito particulares, frutos de demanda es-pontnea, desenvolveram-se e ainda esto se desenvolvendo. Os primeiros projetos, alguns deles com maiores dificuldades de concepo, execuo e at mesmo falhas no momento de anlise e aprova-o, foram dando lugar a projetos mais consistentes, mais participativos e com resultados mais efetivos. Por isso impor-tante conhecer o momento em que cada projeto passou pelo PDA e sua histria de concepo.

    Este estudo demonstra que, nesses nove anos, todos aprendemos muito. Governo, sociedade civil, doadores, cooperao tcnica, parceiros, equipes tcnicas de Braslia, dos projetos e comunidades. E, assim como na vida, nem sempre a aprendizagem vem s com os acertos. O aprendizado da gesto participativa, da inovao no manejo dos recursos natu-rais e da busca do equilbrio com o meio ambiente vem tambm dos tropeos, do que precisou ser refeito, das mudanas de rumo, de consertar o errado e concertar o recomeo.

    Vinte projetos da Amaznia foram estuda-dos e significam muito mais do que vinte experincias demonstrativas. So vinte ve-zes um nmero enorme de famlias, quer dizer, de pessoas, de vidas que se propem a experimentar uma nova forma de convi-vncia com a natureza e nos convidam a experimentar uma nova forma de olhar. Olhar para suas comunidades, seus mu-nicpios, seus contextos e para a prpria natureza. Um novo olhar da burocracia e da tecnocracia que precisa incorporar o grande desafio da humanidade que que-brar paradigmas, olhar para o diferente e

    Apresentao

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    acreditar que essas diferenas de cultura e mesmo de taxonomia podem trazer em si o germe de grandes aprendizagens. Ento, tudo pode ser fonte de saber: gente, bicho, planta...

    Este estudo incorpora tambm uma longa caminhada do PDA na busca da eficin-cia em termos de monitoria e avaliao. Diversos instrumentos foram testados, experimentados, refeitos. Nesse exerccio, incorporamos um pouco de tudo o que foi discutido e utilizado nos ltimos anos. Buscamos tambm olhar para as falhas do prprio PDA, num exerccio nem sempre fcil de autocrtica e silncio, ouvindo mais e falando menos.

    Dessa forma, buscamos no s saber o que mudou no comportamento das pes-soas e das instituies em relao ao meio ambiente, mas tambm o que precisamos mudar no relacionamento do PDA com as pessoas e as instituies para que, dentro das nossas possibilidades e limitaes, possamos contribuir mais para a grande mudana rumo ao desenvolvimento sus-tentvel. E incorporar as recomendaes dessas pessoas e instituies para todos ns que ficamos a maior parte do tempo em Braslia, sem ter a oportunidade de to-car a terra, sentir sua textura, sua umidade e a possibilidade de receber a semente e transform-la em vida.

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    O

    IIntroduoO Estudo da Amaznia abrangeu vinte projetos que constituem um corte repre-sentativo das experincias promovidas pelo PDA na Amaznia Legal. Esse es-foro faz parte da avaliao de imple-mentao do PDA com a participao do Fundo Fiducirio das Florestas Tropicais (RFT) e representou uma oportunidade de integrao interinstitucional. O Estudo foi realizado conforme Termo de Referncia especfico concebido em conjunto com o Banco Mundial, que acompanhou a exe-cuo do estudo (Anexo 1).

    Participaram de todas as etapas do traba-lho, alm da equipe do PDA e do Banco Mundial, tcnicos do PPG7 lotados no Projeto de Monitoramento e Anlise (AMA), Projeto Negcios Sustentveis (PNS) e da cooperao tcnica alem (GTZ), juntamente com tcnicos de outros programas da Secretaria de Coordenao da Amaznia (SCA), do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) e Funda-o Nacional do ndio (Funai), fundos de financiamento, como o Fundo Nacional para a Biodiversidade (Funbio), o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e o Servio Social Alemo (DED).

    Alm de avaliar os projetos, o estudo de-veria gerar recomendaes para o PDA na implementao de seus novos componen-tes: Consolidao e Alternativas ao Des-matamento e Queimadas (Padeq), e para polticas pblicas correlatas, a exemplo do Programa de Desenvolvimento Scio-Ambiental da Produo Familiar Rural (Proambiente).

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    Aspectos Metodolgicos Trs critrios foram usados para selecio-nar os projetos estudados: estes deveriam abranger tipologias diferentes de expe-rincias; conterem indicativos de lies significativas, no s pelos acertos, mas tambm pelos erros cometidos; e, por lti-mo, deveriam ser priorizadas experincias ainda no incorporadas em outros estudos realizados pelo PDA. Dos vinte projetos estudados, quatro foram refinanciados: APA, Apruram, Juna e Wanderlndia. Para referncia aos projetos, utilizamos apelidos que esto expressos no Anexo 4 (Dados dos Projetos).

    A execuo do estudo deu-se em vrias etapas. Primeiro, foram revistas as metodo-logias utilizadas em avaliaes anteriores, incorporando indicadores e um pequeno leque de mtodos e tcnicas para aborda-gem das comunidades - uma espcie de guia com dicas para a avaliao, onde so apresentadas algumas tcnicas para reali-zao de reunies (Anexos 2, 3 e 5).

    Merece destaque o conjunto de indica-dores desenvolvidos com o objetivo de reduzir a subjetividade dos avaliadores. Alguns desses indicadores no esto di-retamente relacionados com os objetivos da primeira e da segunda fases do PDA, mas buscam sinalizar para impactos que foram verificados em outros estudos. Pro-curou-se investigar a recorrncia ou no desses impactos, ou temas diretamente relacionados com os novos componentes do PDA (por exemplo, impactos sobre a reduo das queimadas e aspectos de gnero e gerao). Com isso, o Estudo da Amaznia gerou subsdios fundamentais para o redesenho do sistema de monitora-mento e avaliao da nova fase do PDA.

    As visitas foram planejadas de forma a permitir reunies comunitrias, reunies com grupos de mulheres e entrevistas com tcnicos e comunitrios. Tambm fo-ram recomendadas entrevistas nas prefei-turas e com parceiros relevantes. Porm, cada equipe, sempre composta por um tcnico do PDA e um tcnico de entidade parceira, teve liberdade para montar sua agenda. A recomendao mais veemente foi a de que as equipes buscassem ouvir mais, numa postura de receptividade para com as lies e aprendizagens das comu-nidades.

    Sobre o teste dos indicadoresDos 26 indicadores formulados inicialmente, alguns deles mostraram-se inconsistentes em campo ou de difcil aferio, ou demonstra-ram que no se aplicavam ao contexto de um ou outro projeto especfico. o caso, por exemplo, da reduo do uso de agrotxicos a maioria dos produtores j no utilizava agrotxicos; ento este indicador perde o sentido.

    No caso de inconsistncia, o indicador foi eliminado do corpo do estudo. Isso ocorreu com os indicadores sobre disponibilidade e acesso a linhas de crdito oficiais. Por um lado, no havia informao suficiente por parte dos grupos visitados nem por parte da equipe avaliadora para aferir a existn-cia de linhas de crdito para determinadas atividades. Por outro, a formulao mesma dos indicadores no revelava o que se queria saber, que era a perspectiva de continuidade ou ampliao da iniciativa, porque a relao dessa perspectiva com o crdito no feita de forma direta pelos produtores e comuni-dades. Portanto, o indicador no revelava suas estratgias reais.

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    Os indicadores no aferidos por motivos di-versos (falta de acesso a informao segura, no entendimento dos indicadores pelos avaliadores ou outros), so considerados apenas para os projetos onde foi possvel aferi-los. O relatrio sobre o projeto de Ju-na (Paca) no respondeu aos indicadores; portanto, este projeto no consta dos grfi-cos e anlises do captulo 6 deste estudo.

    Este foi o conjunto de temas para os quais foram elaborados indicadores, cada um com possveis respostas escalonadas de 0 a 4 (detalhes no Anexo 5):

    Aspectos sociais, culturais e institu-cionais:

    1- Apropriao da proposta pela comunidade (ownership)

    2- Aprendizagem comunitria

    3- Motivao para a continuidade da pro-posta

    4- Ausncia de conflitos na organizao

    5- Parcerias

    6- Endividamento da organizao

    Aspectos Ambientais:

    1- Conservao dos Recursos hdricos

    2- Recuperao da biodiversidade

    3- Identificao do fogo como problema

    4- Controle do fogo

    5- Reduo do desmatamento

    Aspectos econmicos:

    1- Renda familiar

    2- Benefcios econmicos

    3- Planta das unidades de beneficiamento

    4- Qualidade dos produtos

    5- Regularidade da oferta

    6- Ocorrncia de anlise de viabilidade

    7- Acesso a mercados

    8- Comercializao autnoma

    Temas transversais

    1- Assistncia tcnica

    2- Gnero

    3- Gerao

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    OOs vinte projetos que formam a base deste estudo espalham-se pelo mosaico ambiental, geopoltico, social, cultural e econmico da Amaznia. So projetos em todos os estados Amaznicos e com vrias temticas. Do manejo de recursos aquticos ao beneficiamento de produtos da biodiversidade. Tm um pouco de todo tipo de produto, de gente, de atividade, enfim, diversos como s a regio amaz-nica, com sua multiplicidade de ecossiste-mas, consegue ser.

    A princpio, pensou-se em categorizar os projetos considerando as propostas ini-ciais ou os resultados mais importantes. No entanto, verificamos que os projetos normalmente atuam em vrias frentes e geram resultados diversos. Dessa forma, a categorizao nos pareceu mais um limi-tador da compreenso do que um facilita-dor. Formatamos ento um quadro onde so apresentadas informaes pertinentes relao formal com o PDA (data de incio/trmino e valores repassados Ane-

    11. Projetos Estudadosxo 4) e um outro que sinaliza principais grupos de atividades e impactos dos pro-jetos (ver quadro no final deste captulo).

    O quadro de atividades e impactos foi construdo considerando o que foi pro-posto e executado pelo projeto e o que teve impacto significativo. Dessa forma, para uma atividade proposta e executada com problemas ou necessitando ser me-lhorada, associamos um s minsculo. Para uma atividade prevista e executada de forma adequada, associamos um S mai-sculo. Para uma atividade realizada com muito sucesso ou impacto significativo do projeto, associamos dois SS maisculos. s atividades no previstas ou no execu-tadas associamos um N.

    Apresentamos, a seguir, uma sntese de cada projeto com uma interpretao das suas principais atividades e resultados, destacando seus desafios e impactos mais expressivos.

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    Distribuio dos projetos visitados

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    OO Projeto Ja executado pela Fundao Vitria Amaznica (FVA), entidade con-servacionista que tem como rea priorit-ria de atuao a Bacia do Rio Negro.

    O Parque Nacional do Ja, com 2,27 milhes de hectares, est em uma rea de difcil acesso, que pode significar at cinco dias de viagem em barco grande (ou dez dias de rabeta). O projeto apoia-do pelo PDA envolve oito comunidades do rio Unini, organizadas na Associao dos Moradores do rio Unini (Amoru), alm do STR e outras entidades locais de Novo Airo, congregando quase duas mil pessoas.

    O problema que motivou o projeto foi a ocorrncia de populaes vivendo irregu-larmente dentro do Parque do Ja e no seu

    Projeto Parque Nacional do Ja e rea do Entorno: Fortalecimento da Organizao Social em Busca da Melhoria de Qualidade de Vida

    entorno, com baixo grau de organizao e em condies precrias. O projeto ob-jetivava contribuir para a consolidao do Parque Nacional, difundindo para essas populaes conhecimentos sobre a rea e estimulando o exerccio da cidadania.

    A contribuio principal deste projeto tem sido a organizao social e o aumento da auto-estima das comunidades envolvidas. O maior problema enfrentado foi o dese-nho inicial do projeto, apresentado como um conjunto de aes pouco orientadas a objetivos claros e equivocado tambm quanto s reais carncias organizativas da rea, aos entraves logsticos (dificuldades de acesso s comunidades) e imprevista descontinuidade do arranjo institucional com o Ibama.

    Amazonas

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    TTem como objetivo o repovoamento do rio Abun com tracajs e ias. um projeto inovador em vrios sentidos. Primeiro, porque se trata de um projeto muito limi-tado em termos de recursos e de tempo de execuo; segundo, porque promove uma atividade realmente nova na regio, e, por ltimo, porque abrange reas brasileiras e bolivianas, mobilizando as populaes, autoridades e entidades dos dois lados da fronteira.

    A Associao dos Moradores de Plcido de Castro (Amplac) a entidade executora desse pequeno projeto. Trata-se de uma entidade muito particular, que se divide em duas comisses: Direitos Humanos e Ecologia. Conta com quatrocentos scios, dois grupos de jovens e dois grupamen-tos ecolgicos, compostos por alunos de escolas municipais e da populao ribei-rinha.

    A Amplac funciona em um antigo galpo do Ibama, abandonado h vinte anos.

    Projeto SOS Quelnios

    Alm do projeto PDA, a entidade conta com o apoio do Governo do Estado, da Fundao Elias Mansur e de pequenas doaes do comrcio e dos associados. Parte do prdio que ocupa foi reformado e utilizado para a implantao de uma biblioteca de acervo precrio.

    A grande realizao desse pequeno pro-jeto tem sido a promoo da mudana de comportamento de uma populao acostumada a consumir e a comercializar tracajs e ias, e que agora se mobiliza para a sua preservao. Os nmeros relati-vos soltura de animais so significativos: no primeiro ano foram 3.500 filhotes, no segundo ano 10.000 e no terceiro ano 12.000 filhotes (o PDA apoiou a iniciativa por apenas um ano).

    O maior problema enfrentado a descon-tinuidade dos recursos para apoiar as ati-vidades, que tm custos recorrentes e so realizados de forma voluntria.

    Acre

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    E

    Projeto Valorizao dos Seringueiros da Floresta Estadual do Antimari

    Acre

    Este projeto traz uma histria de recomeo e de parcerias que deram certo. Parte da comunidade atendida estava envolvida em uma das primeiras propostas aprovadas pelo PDA, tendo como proponente a Coopereco. Tal projeto pretendia capacitar os seringuei-ros para produzirem couro vegetal a partir do ltex, construir unidades de beneficia-mento nas colocaes e apoiar na comer-cializao do produto. Porm possua pro-blemas de concepo e execuo. O diretor da Coopereco considerava-se inventor da tecnologia do couro vegetal e centralizava todo o processo, gerando desconfiana en-tre os seringueiros. A relao terminou com a sada desse personagem e com o encami-nhamento de nova proposta ao PDA.

    Tendo como proponente a Associao dos Produtores Agroextrativistas da Floresta Esta-dual do Antimary, este projeto foi aprovado sob condies pela Comisso Executiva do PDA, pois tambm apresentava proble-mas de concepo. O PDA dialogou com as comunidades envolvidas e verificou a possibilidade de melhorar a proposta, pro-

    porcionando-lhe maior chance de sustenta-bilidade.

    Participaram desse esforo tcnicos do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentvel das Populaes Tradicionais (CNPT/Ibama), da Fundao de Tecnologia do Acre (Funtac) e da Ong Pesacre que, utilizando tcnicas participativas e teatrais, conseguiu que a proposta fosse discutida pelos seringueiros, a grande maioria analfa-beta e residindo em locais afastados. A par-ticipao da Universidade de Braslia (UnB) no projeto permitiu a incorporao de novas tecnologias de manejo e de beneficiamento da borracha.

    Atualmente pode-se afirmar que a gesto participativa do projeto tornou-se realidade e que as famlias conseguem melhor preo pelo produto. Entre os desafios atuais esto a viabilidade da usina de beneficiamento de crepe claro (com financiamento alavancado a partir deste projeto), que um dos produ-tos pr-beneficiados nas unidades familiares construdas nas colocaes.

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    EEste provavelmente um dos projetos mais inovadores em termos de uso da biodiversidade. Como o ttulo indica, a comunidade envolvida coleta sementes nativas para comercializao, com orien-tao de engenheiros florestais e seguindo critrios de qualidade e sustentabilidade das coletas. Para a realizao das coletas utilizam tcnicas de alpinismo, envolven-do os jovens da comunidade.

    O projeto, datado de 1996, com refinan-ciamento em 1999, executado pela Associao Nossa Senhora de Ftima, entidade formada em 1990 por famlias de um assentamento do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra) e moradores extrativistas da Reserva Extra-tivista (Resex) Chico Mendes. O projeto envolve trinta famlias. O critrio para participar que estas tenham pelo menos cinqenta hectares de floresta em p na propriedade.

    Projeto Manejo Florestal de Sementes Nativas

    Os agroextrativistas mantm suas ativida-des tradicionais e participam das coletas de sementes, que ocorrem nas estradas de seringa j abertas. A atividade exige pouco tempo e gera uma renda do mesmo nvel que a da lavoura e da extrao de castanha. No entanto, por problemas de divulgao/marketing e variaes nas car-gas anuais de sementes produzidas pelas matrizes, a renda gerada oscila muito.

    A grande contribuio do projeto a valo-rizao da floresta em p, o engajamento da juventude e a renda adicional gerada. Os maiores problemas so a comerciali-zao e a articulao com instituies de pesquisa para a certificao das sementes. No entanto, deve-se ressaltar o apoio que a Prefeitura de Brasilia vem prestando ao projeto, incluindo os seus resultados na viso de futuro da poltica municipal.

    Acre

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    FFoi desenvolvido pelos ndios poyanawa, organizados na Associao Agroextrati-vista Poyanawa do Baro e Ipiranga, em 1998-99. O projeto era parte de uma srie de iniciativas que os poyanawa queriam realizar dentro de sua estratgia de desen-volvimento com identidade.

    O objetivo do projeto era a mecanizao em reas j plantadas com roas de mandioca para fazer farinha - para reu-tilizao, evitando a abertura de novas reas. O apoio do PDA foi basicamente para a compra de um trator. Como resulta-dos dessa iniciativa realmente no houve novas derrubadas durante seis anos; no stimo ano que j houve necessidade de abrir novas reas para roa. A comu-nidade indgena, muito organizada e com forte liderana o coordenador do proje-to e presidente da Associao tambm vereador em Mncio Lima conseguiu manter muito bem o equipamento com-prado. Sete anos depois, o trator est em boas condies e seu uso normatizado

    Projeto Aproveitamento de reas Desmatadas e Degradadas

    pela associao. A comunidade respeita as normas, que incluem o pagamento das horas de trabalho.

    Os resultados alcanados so muito posi-tivos seis anos sem desmatar, aumento do volume de produo com reduo de horas de trabalho, resultando em maior volume de farinha vendida e aumento de renda para as famlias. Todo esse processo gerou tambm maior auto-estima da co-munidade, que considera muito positivo ter aprendido a gerenciar seu prprio pro-jeto, sua idia.

    Os problemas esto relacionados com deficincias no desenho do projeto, que no previa assistncia tcnica e terminava na compra do trator. Todo o trabalho de manejo de solos, para que o modelo seja sustentvel e possa ser evitada a abertura de novas reas, no foi considerado no planejamento do projeto e hoje uma ne-cessidade identificada pelos poyanawa.

    Acre

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    EExecutado pela Associao dos Produ-tores Alternativos (APA), de Ouro Preto DOeste, Rondnia, este um dos pro-jetos com maior potencial demonstrativo pelos resultados apresentados, com si-nergias importantes com o Planafloro, o Funbio e a Pastoral da Sade.

    A primeira fase do projeto executado pela APA iniciou-se em 1997 e, em 2001, foi aprovado o refinanciamento, que contri-buiu significativamente para que a entida-de superasse em quatro vezes a previso de rea de SAFs implantada e dobrasse o nmero de agricultores atendidos. Em termos numricos, a APA congrega 240 famlias associadas, mas, indiretamente, envolve outras 300 famlias. A indstria de palmito implantada est exportando para o mercado europeu; os agricultores tiveram sua renda monetria dobrada; foram gerados 45 empregos diretos; e for-mados vinte agricultores tcnicos. A APA comercializa tambm quatorze toneladas de mel por ano.

    Projeto Desenvolvimento Sustentvel para Agricultores na Amaznia Ocidental

    Em termos ambientais, os agricultores atendidos pela APA disseminam um novo modelo de agricultura, baseado na diversificao da produo, no reaprovei-tamento de reas alteradas, nas prticas de adubao verde, no engajamento das mulheres e na busca da sustentabilidade.

    O grande desafio da APA consolidar as unidades de beneficiamento de palmito e de polpa (em fase de finalizao), en-gajando mais agricultores na estratgia adotada e incorporando mais fontes de matria-prima. Outro desafio conjunto com o PDA resgatar as aprendizagens (no s dos SAFs, mas tambm da api-cultura, beneficiamento, comercializao e relaes de gnero) e disponibiliz-las para outras entidades, inclusive de fora da Amaznia brasileira, uma vez que o projeto uma referncia dentro e fora do Estado de Rondnia e na Bolvia, onde j ocorrem intercmbios.

    Rondnia

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    executado pela Associao de Produto-res Rurais Rolimourenses para Ajuda M-tua (Apruram), no municpio de Rolim de Moura, Rondnia.

    O projeto teve uma primeira fase em que buscou trabalhar os SAFs em dois tipos de combinaes. A primeira, integrada ao cultivo de caf, que a atividade princi-pal dos agricultores, incorporando cacau, cupuau e algumas espcies madeireiras. A segunda combinao buscava associar algumas fruteiras ao cultivo de mandio-ca (deciso guiada por uma conjuntura favorvel do preo do produto). Com a queda do preo da mandioca, essa segun-da combinao foi praticamente aban-donada pelos agricultores. Atualmente, os SAFs promoveram uma retomada de antigos cafezais, j ocorrem processos de regenerao natural de algumas espcies e foi reduzida a presso sobre novas reas. Alm disso, pode-se falar em incremento da dieta alimentar e renda dos agriculto-res, que comercializam todo o cupuau que produzem, alm de outros produtos do SAF.

    Projeto Promover o Estmulo ao Desenvolvimento Scio-econmico e Cultural das Famlias Rurais

    A partir de uma monitoria do PDA, acom-panhada de um tcnico de outro projeto (APA, de Ouro Preto do Oeste), abriram-se novas perspectivas para a Apruram. Em visita de intercmbio, os produtores da entidade tomaram conhecimento da for-ma de trabalhar da APA, motivaram-se a incorporar a questo de gnero e fizeram uma proposta de refinanciamento mais consistente ao PDA.

    Deve-se destacar que a Apruram, j deti-nha uma organizao social madura que, a partir do projeto apoiado pelo PDA, ganhou credibilidade e firmou parcerias importantes com a APA, a Emater local e a Ceplac. O tino comercial de sua diretoria um diferencial dessa entidade, que con-segue comercializar seus produtos com muita desenvoltura.

    Atualmente a Apruram est finalizando uma unidade de beneficiamento de polpa de fruta e tem bons resultados do trabalho com os grupos de mulheres. Pode-se afir-mar que este projeto constitui alternativa para o desenvolvimento regional susten-tvel.

    Rondnia

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    executado pela Associao Rural Juinen-se Organizada para a Ajuda Mtua (Ajo-pam) em Juna, Mato Grosso.

    A primeira fase iniciou-se em abril de 1996, sendo refinanciado em abril de 1999 e concludo em outubro de 2002. No caso desse projeto, a sinergia com a prefeitura, o Prodeagro e a Pastoral da Sa-de foram importantes.

    A experincia foi pensada como alterna-tiva de desenvolvimento sustentvel que, em primeiro lugar, quebrasse o ciclo de desmatamento, explorao de culturas anuais e formao de pasto. Em segundo lugar, visava diversificao da produo e incorporao de atividades econmi-cas no perodo da entressafra do caf; e, por ltimo, pretendia reduzir a depen-dncia dos agricultores em relao aos atacadistas, gerando novas alternativas de renda. Os sistemas agroflorestais foram

    Projeto Agroflorestal e Consrcio Adensado (Paca)

    identificados como uma alternativa que atendia a essas necessidades.

    Um componente importante desse projeto, ainda na sua primeira fase, foi a proposta ter sido assumida pelo candidato a prefei-to que, reeleito, passou o mandato ao vice para candidatar-se a deputado estadual. O vice-prefeito foi um dos idealizadores do projeto PDA. Dessa forma, o projeto tem uma relao estreita com a poltica local, o que contribui para o seu xito e aumen-ta o seu potencial de disseminao junto aos prefeitos municipais da regio.

    Embora tenha problemas relacionados ao isolamento geogrfico e aos desafios prprios da agricultura familiar, o projeto consegue gerar benefcios concretos para os envolvidos, como a recuperao de reas alteradas, e tem servido de exemplo para outras localidades.

    Mato Grosso

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    PProjeto elaborado pela Ong Poema e execu-tado pela Associao Agrcola dos Produto-res Rurais do Aramaquiri (AAPA), de Currali-nho, Par. Seu foco a implantao de SAFs por meio do enriquecimento de castanhais e de capoeiras, fornecendo matria-prima para uma agroindstria de beneficiamento de castanhas-do-brasil e de caju.

    Apesar do processo de elaborao ter sido pouco participativo, a comunidade assumiu a proposta e est bastante engajada, espe-cialmente porque percebe na agroindstria, que ainda no entrou em funcionamento, a possibilidade de gerar renda para os jovens e demanda para os produtos dos SAFs.

    Os SAFs foram bem-sucedidos nas reas de capoeira. As espcies implantadas so principalmente cajueiro, mogno, aaizeiro e castanheira, alm da ocorrncia natural da andiroba, angelim-pedra, cedroarana, entre outras. Verificou-se que o enriquecimento de capoeira tem evitado a abertura de novas reas. Quanto aos SAFs em reas de casta-nhais, os resultados no so animadores em virtude da escolha equivocada de espcies e do excesso de sombreamento na rea. No entanto, estes tiveram efeitos indiretos be-

    Projeto Preservao e Enriquecimento de reas de Castanhais em Degradao para a Valorizao da Produo

    nficos, tais como a eliminao do fogo na rea dos castanhais, a melhoria do manejo e a reduo de acidentes com cobras.

    O projeto tem uma estreita relao com a prefeitura e prev-se a compra da produo da agroindstria pela merenda escolar. Alm disso, est firmando convnio com a escola agroambiental do municpio para que os alunos possam realizar visitas ao projeto. Recebe ainda uma assessoria espordica do Poema, o qual, em conjunto com o aporte inicial do PDA, possibilitou outro financia-mento, do FNMA e do IFC, para um projeto de seqestro de carbono.

    Os resultados mais imediatos do projeto so: fortalecimento organizacional e aumento da unio entre os agricultores, que realizam mutires semanais; reduo do uso de fogo nas reas dos castanhais; e reduo da aber-tura de novas reas, diminuindo a presso sobre a floresta.

    Os grandes desafios relacionam-se com a gesto da agroindstria de castanha, a co-mercializao dos produtos e o reforo importncia da diversificao da produo para evitar pragas, especialmente com o possvel crescimento das reas de cajueiros.

    Par

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    OO projeto, que j recebeu refinanciamen-to do PDA, tem a proposta de testar as seguintes alternativas econmicas: coleta de frutas, sistemas agroflorestais, piscicul-tura, apicultura e beneficiamento de mel e frutas. Os SAFs mostram-se ainda prec-rios, com grandes problemas decorrentes da falta de assistncia tcnica, solos muito pobres e manejo inadequado para enfren-tar o perodo de estiagem. A piscicultura tambm apresenta problemas relaciona-dos baixa capacidade de reproduo da atividade e pela dependncia de recursos externos. A apicultura tem sido a experi-ncia mais bem-sucedida, com gerao de renda para as famlias, motivando um processo de educao ambiental e percepo das interaes sistmicas, apresentando alternativa para a questo da sade na comunidade. A agroindstria ainda uma incgnita.

    No entanto, este projeto, com tantos pro-blemas decorrentes principalmente da ca-rncia de capital humano, gerou grandes avanos na questo da organizao social, com participao de mulheres, respeito ao saber dos mais velhos, organizao de

    Projeto Reviver

    brigada de combate a incndio florestal, mobilizao dos estudantes das escolas municipais em torno da questo am-biental, tornando-se um referencial tanto para a Secretaria de Meio Ambiente do Tocantins quanto para outras instituies pblicas e Ongs que percebem o poten-cial e a seriedade do trabalho da entidade. Tambm constitui plo do Proambiente.

    Quanto aos desafios, verifica-se a neces-sidade de aprofundar a discusso sobre os SAFs e o manejo de solo, e promover uma articulao regional que contribua para a gesto e a viabilidade econmica da uni-dade de beneficiamento de frutas.

    Executado pela Associao dos Trabalha-dores Rurais do Vale do Corda, imple-mentado no municpio de Wanderlndia, Tocantins, rea de grandes carncias no s econmicas e sociais, mas tambm ambientais. A entidade recebeu o apoio da Viso Mundial e est selecionada para receber recursos da SCA/MMA, por meio da Coordenadoria de Agroextrativismo (CEX).

    Tocantins

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    executado pela Cooperativa Mista dos Produtores Rurais da Regio de Carajs (Cooper), localizada no municpio de Parauapebas, PA, regio de influncia de Marab, com muitos assentamentos im-plantados e forte presena da pecuria, alm da Companhia Vale do Rio Doce.

    O projeto foi aprovado num momento em que o PDA discutia o crescimento de pro-jetos de beneficiamento de frutas e as di-ficuldades que estas vinham enfrentando (maro de 2001). A despeito disso, trata-se de um projeto cujo objetivo implantar uma agroindstria de beneficiamento de frutas para a produo de xaropes, polpa e doces. A unidade de beneficiamento bem elaborada e est em fase de certifi-cao pelo Ministrio da Agricultura. H produo para ser beneficiada, tanto pro-veniente de consrcios financiados pelo FNO quanto de reas de extrativismo de aa e tapereb (caj). Alm da agroinds-

    Projeto Beneficiamento Integral das Frutas com Incentivo ao Extrativismo Ecologicamente Sustentvel

    tria, o projeto pretende atuar no manejo de aaizais, atividade prevista que ainda no teve incio.

    O projeto relaciona-se com a prefeitura, de cuja parceria originou-se a assistncia tcnica prestada cooperativa. Outro fa-tor importante a ser destacado o merca-do local e regional, com grande potencial em virtude da presena da empresa Vale do Rio Doce no municpio, que gera uma massa de salrios, conformando um inte-ressante mercado consumidor.

    O grande desafio incorporar em suas aes um carter mais ambientalista, especialmente por estar em uma rea de grande crescimento da pecuria e que convive com o problema das queimadas. O projeto tem potencial para se tornar um sinalizador de alternativas mais sustent-veis para o desenvolvimento regional.

    Par

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    implementado pelo STR de Esperantin-polis, municpio do Maranho, e envolve 80 famlias diretamente e 150 indireta-mente.

    Tem como objetivo principal a promoo da segurana alimentar e a recuperao de reas degradadas, sendo bem sucedido na misso escolhida. A meta de recupe-rar 44 hectares, prevista inicialmente, foi extrapolada antes do trmino do projeto, atingindo 60 hectares. H apropriao da proposta pelos agricultores, que se sentem orgulhosos com o que j conseguiram, especialmente a melhoria dos solos, a mudana da paisagem, a reduo das queimadas e a melhoria da alimentao.

    O projeto inaugurou uma forma inovadora de monitoria e assistncia tcnica partici-pativa em que todos aprendem com os er-

    Projeto Recuperao de reas Degradadas com Plantio de Fruteiras Tropicais e Espcies Madeireiras Nativas

    ros e acertos de cada um. Outro elemento inovador o uso de um programa de rdio que contribui para a conscientizao de um nmero maior de agricultores, que esto estimulados a plantar espcies frut-feras. O programa de rdio trata de temas como legislao ambiental, agrotxicos, transgnicos, alimentao alternativa, en-tre outros. Alm disso, o projeto tornou-se um referencial regional na produo de mudas por enxertia, profissionalizando os viveiristas.

    O grande desafio criar mecanismos que favoream a continuidade da assistncia tcnica e das atividades do projeto. Tal-vez o prximo passo seja pensar em co-mercializar as frutas que comeam a ser produzidas, ou consolidar o viveiro como fonte de renda para a entidade.

    Maranho

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    EExecutado pela Colnia de Pescadores Z-16, de Camet, Par, o projeto surgiu como parte da estratgia traada para solucionar alguns dos impactos da construo da barra-gem de Tucuru. Tem como principais ativi-dades a piscicultura, o manejo de aaizais e a formao de acordos de pesca.

    A piscicultura realizada principalmente em tanques de terra firme e, experimental-mente, em tanques-rede. A despeito de uma monitoria do PDA ter proporcionado aporte tcnico, o projeto enfrenta o problema tradi-cional da atividade que a alta dependncia de recursos externos (rao e alevinos). No entanto, tem conseguido manter a ativida-de, que possui um papel importante para as famlias. Os tanques so chamados de caderneta de poupana, porque provem dinheiro em casos de emergncia, e de ge-ladeira, porque servem alimentao das famlias.

    O manejo de aaizais bem-sucedido, com tcnicas inovadoras que incorporam alguns elementos de SAFs, gerando resulta-dos melhores do que as tcnicas adotadas

    Projeto de Apoio a Iniciativas Comunitrias: Preservao de Recursos Aquticos; Manejo Florestal e Piscicultura Familiar como Estratgia de Viabilizao de Comunidades Ribeirinhas

    pela Emater. Como o extrativismo de aa j vinha sendo realizado, bem aceito pela comunidade e gera renda.

    Talvez o principal destaque desse projeto sejam os acordos de pesca comunitrios, que influenciaram, em conjunto com outras experincias e comunidades, a elaborao de norma do Ibama para a Regio Amaz-nica. Apesar disso, o Ibama local no d o apoio necessrio aos pescadores, em termos de fiscalizao.

    Outro feito interessante a busca de par-cerias e de outros apoios pela Colnia. Em convnio com o IEEB-Padis sero pro-duzidos materiais didticos para as escolas municipais. Obtiveram tambm apoio do FNMA e do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O princi-pal desafio do projeto consolidar a orga-nizao social, o manejo de aaizais e criar maiores sinergias com outras comunidades, inclusive e especialmente as atendidas pelo PDA e o Projeto Provrzea, componente do PPG7, de forma a dar maior consistncia a suas propostas.

    Par

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    executado pela Associao dos Produ-tores Rurais da Vicinal 18, em So Lus do Anau, municpio de Roraima.

    Tem como objetivo contribuir para a me-lhoria da alimentao da comunidade por meio da criao de peixes e da preserva-o de margens e nascentes dos corpos dgua.

    O projeto tem um pblico reduzido, aten-dendo diretamente a vinte famlias. A es-tratgia adotada foi a de construir tanques de piscicultura e em torno dos tanques implantar sistemas agroflorestais. O ma-nejo comunitrio dos tanques funciona com regras rgidas, em que cada famlia tem direito a dez quilos de peixe por ms, porm devendo atender s escalas de tra-balho. Alm dessa cota, o que for comer-cializado dividido entre os associados.

    Projeto Piscicultura, Reflorestamento e Proteo de Nascentes e Igaraps

    A unio entre os agricultores uma das principais contribuies destacadas.

    As reas de reflorestamento, como so denominados os SAFs, no atraam a ateno e o cuidado dos participantes do projeto, por demandar mo-de-obra e s apresentar resultados a mdio e longo prazos.

    O apoio do Sebrae e de um pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (Inpa) deu impulso piscicultu-ra e transformou o projeto em uma vitrine para o Sebrae, que aproveita o seu carter demonstrativo. No entanto, trata-se de um modelo com as mesmas dificuldades na aquisio de alevinos e rao que cons-tituem impedimentos sustentabilidade desse tipo de projeto em outras regies.

    Roraima

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    EExecutado pelo Fundo de Desenvolvi-mento e Ao Comunitria (Fundac) em Santarm, Par, tem por objetivo geral a sensibilizao, capacitao e instrumen-talizao material e financeira de cem fa-mlias de moradores da Regio do Planal-to Santareno, para implantao de vinte roados ecolgicos, que permitam melhor uso dos recursos naturais disponveis, a recuperao das reas j degradadas e a melhoria alimentar e econmica dessa populao.

    O objetivo geral expressa metas quanti-tativas que foram reduzidas metade ao longo da implementao do projeto e metas qualitativas que se mostram difceis de serem atingidas, caso seja mantido o modelo proposto. O uso de trao animal, outra proposta do projeto, no foi aceita pelos agricultores e apenas um nmero reduzido de pessoas a vm adotando.

    Considerando que o projeto retirou reas de capoeira grossa para a implantao de um modelo de menor complexidade e com problemas de sustentabilidade ambiental, a inteno de recuperar reas degradadas no se concretizou, apesar do

    Projeto Roados Ecolgicos na Amaznia

    esforo de enriquecimento de uma borda de capoeira mantida em torno de cada um dos roados.

    Os agricultores conseguiram retirar pro-dutos dos roados que contriburam com a dieta alimentar das famlias. Tendo em vista a carncia e a situao de pobre-za da maioria dos agricultores, essa foi a maior contribuio do projeto at o momento, alm da organizao social. Quanto a ganhos econmicos traduzidos em aumento da renda, a probabilidade de alcanar esse objetivo ainda uma incg-nita que depende de esforos de capaci-tao e organizao que parecem estar alm da capacidade tcnica e financeira do Fundac neste momento.

    No obstante, o projeto apresenta um grande potencial de organizao social, flexibilidade e empenho dos executores e das comunidades (no foi por falta de es-foro, dedicao e trabalho que o projeto foi pouco exitoso), alm de estar promo-vendo o fortalecimento das organizaes de mulheres e jovens. Nessa temtica situa-se a contribuio do projeto aos ob-jetivos do PDA.

    Par

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    TTem como proponente o Centro de Apoio aos Projetos de Ao Comunitria (Ceapac) e como executora a Central de Comercializao de Produtos Agrossilvi-pastoris de Origem Familiar da Regio do Lago Grande (Centralago).

    O projeto nasceu com o propsito de constituir uma parceria pblico-privada, em que os principais atores seriam a Mercedes Benz, o Projeto Pobreza e Meio Ambiente na Amaznia (Poema), o PDA e a prefeitura de Santarm, Par. Alm dis-so, o governo estadual sinalizou com po-lticas de apoio s atividades de plantio e beneficiamento do curau, inclusive com financiamento para a pesquisa. No entan-to, as parcerias no tiveram continuidade, surgindo novos atores no processo, entre eles a empresa Pematech Triangel, que fornece peas Volkswagen.

    O objetivo do projeto viabilizar um mo-delo sustentvel de cultivo do curau por pequenos produtores na regio do Lago Grande, gerando ganhos de renda e qua-lidade de vida. Ainda em fase de imple-mentao, com atrasos significativos do cronograma de execuo e necessidades

    Projeto Implantao e Conduo de Sistemas Agroflorestais em Consrcio com Curau nas Microrregies do Lago Grande do Curua

    de reavaliao das estratgias de implan-tao e conduo dos consrcios agroflo-restais, o projeto no caminha em direo a um modelo ambientalmente sustentvel de cultivo do curau. Entretanto, est ge-rando ganhos de renda monetria para os envolvidos.

    As falhas do projeto decorrem de um con-junto de fatores, inclusive falhas de moni-toria e acompanhamento do PDA, que si-nalizam para a necessidade de estratgias mais efetivas na soluo de problemas to logo sejam identificados.

    O atual relacionamento com a empresa Pematech gera uma grande presso sobre a organizao social, com acordos duvi-dosos quanto aos ganhos reais da comu-nidade. Dessa forma, o risco de impactos negativos do projeto deve ser considerado com cuidado pelo PDA e parceiros, de forma a implementar medidas mitigadoras o mais rpido possvel. Como resultado da monitoria realizada por ocasio deste estudo, iniciou-se um processo de repla-nejamento do projeto, com forte apoio tcnico do PDA/DED.

    Par

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    OO Projeto Lontra foi implementado pela Associao de Agricultores da Comu-nidade do Lontra da Pedreira (ACL), em Macap, no Amap, entre maio de 1997 e abril de 1999.

    O projeto propunha-se a executar uma srie de atividades muito diferenciadas e sem um foco central. Essa caracterstica foi o resultado da tentativa da entidade executora de atender a diferentes an-seios da comunidade. A incapacidade de chegar a um denominador comum em conjunto com as famlias manifestou-se novamente em meio execuo do proje-to, quando divises internas contriburam para o insucesso e a descontinuidade da proposta.

    Alm da imaturidade organizacional da comunidade, outros fatores contriburam

    Projeto Lontra

    para o pouco xito do projeto. Em primei-ro lugar, as parcerias no tiveram conti-nuidade. O Poema e o Governo do Estado no cumpriram o pactuado. Em segundo lugar, o projeto tinha como um dos focos a implantao de uma fbrica de farinha de banana, mas os bananais foram ataca-dos por pragas que resultaram na extino de 75% das plantas. O manejo dos bana-nais tambm no era adequado.

    Dessa forma, um projeto que tinha, a princpio, condies muito favorveis para o xito (ambiente poltico favorvel, instituio executora com capacidade tcnica, parcerias interessantes) falhou pela ausncia de uma organizao social slida e pela m concepo do projeto, no detectada a tempo pelo PDA.

    Amap

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    Projeto Valorizao e Conservao das Reservas Florestais nos Lotes dos Pequenos Produtores Rurais de Medicilndia e Pacajs

    famlias, contribuindo para a valorizao dessas reas. Esses inventrios geraram o interesse dos agricultores pelas plantas medicinais, em especial a andiroba e a copaba. Os agricultores j comercializam o leo, conseguindo uma renda pequena, mas que contribui com a famlia. Outra atividade de destaque a apicultura, que gerou efeitos imediatos em aumento de renda, segurana alimentar e alternativas de tratamento da sade.

    A grande contribuio do projeto com-por esse quadro de mudanas rumo ao desenvolvimento regional sustentvel, valorizando as reas de reserva legal e demonstrando o seu potencial de gerar renda, ao passo em que mantm a floresta em p.

    Par

    executado pela Fundao Viver, Pro-duzir e Preservar (FVPP). Trata-se de um projeto que se insere em uma dinmica muito mais ampla, que a do Movimento de Desenvolvimento da Transamaznica e Xingu (MDTX), e por isso deve ser analisa-do no contexto de proximidade com ou-tros oito projetos PDA. O movimento re-ne 110 entidades em doze municpios e tem como personalidade jurdica a FVPP. Dessa forma, a equipe do projeto e parte dos agricultores envolvidos esto ocupa-dos tambm em articular investimentos para a regio, focados na produo diver-sificada e sustentvel dos lotes.

    Esse projeto tem de inovador o envolvi-mento dos alunos da Casa Familiar Rural de Medicilndia, os quais realizam inven-trios nas reas de reserva legal de suas

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    EExecutado pela Associao Pioneira Tran-saleste (Aspat), foi implementado em uma rea destinada pelo Incra para a explora-o de madeira e a pecuria.

    Com a ocupao por pequenos agriculto-res, formou-se uma rea caracterizada por conflitos, em que se contrapem interes-ses e propostas de desenvolvimento quase antagnicos.

    Os objetivos do projeto so: recuperao de reas degradadas, com implantao de SAFs (agricultura em andares); manejo e enriquecimento de aaizais; fortalecimen-to da associao de mulheres; e elevao da renda das famlias.

    A despeito de no ter cumprido rigo-rosamente suas metas fsicas, o projeto disseminou o cultivo de espcies perenes, o questionamento da forma tradicional de produzir (broca e queima) e proporcionou a valorizao dos lotes dos pequenos pro-dutores a partir do plantio de essncias florestais.

    Esse conjunto de resultados, associado ao fortalecimento organizacional e partici-pao do MDTX, tem contribudo para a

    Projeto Recuperao de reas Degradadas para o Desenvolvimento Sustentvel do Municpio de Anapu

    resistncia e a permanncia dos pequenos agricultores em seus lotes.

    No entanto, o projeto sofre de uma crise de identidade e propsitos. A despeito de pretender aumentar a renda do agricultor, e para tanto ter implantado uma indstria de farinha de banana (para a qual no h matria-prima suficiente), fatores de racio-nalizao das atividades produtivas so preteridos em funo de fatores relaciona-dos ao movimento social e poltico.

    Por outro lado, a agricultura em andares no funcionou e os agricultores adotaram outras estratgias, inclusive a monocultura de banana.

    Porm, considerando a unidade do grupo, o projeto tem um grande potencial de re-verter o seu quadro de insucessos em di-reo a uma proposta de desenvolvimento sustentvel mais consistente. Soma-se a esse potencial o dinamismo dos jovens da Casa Familiar Rural, que do assistncia tcnica ao projeto e que, uma vez capaci-tados com conceitos mais consistentes de manejo sustentvel, podem dar um novo rumo proposta.

    Par

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    FFoi executado pela Cooperativa de Produ-tores Rurais da Regio do Apia (Cepra), em duas fases, a primeira iniciada em dezembro de 1998 e a segunda em agosto de 2001.

    O projeto, afetado por dois grandes incn-dios que destruram os consrcios implan-tados e o viveiro, apresentou vrias falhas de execuo, especialmente relacionadas com a falta de apropriao da proposta pela comunidade e o centralismo do pro-jeto na figura do seu ex-coordenador. Ou-tro fator de tenso foram os antagonismos polticos que culminaram em suspeitas levantadas por agentes das polticas locais sobre interesses internacionais esprios nas reas do projeto e possvel apropria-o irregular de terras.

    Os SAFs no foram bem aceitos pelas co-munidades. Afetados por grandes queima-

    Cultivo do Urucum Consorciado com Cinco Espcies Nativas Madeirveis e Apicultura Integrando ndios e No-ndios num Manejo Ambiental Sustentvel

    das, a comunidade est repensando um sistema de produo sustentvel que no necessariamente o SAF, mas com incorpo-rao de matria orgnica ao solo.

    Deve-se destacar tambm que, na segun-da fase, muitas famlias se fixaram em apenas uma atividade SAF ou apicultura , a despeito do PDA ter evitado apoiar es-sas atividades isoladamente, especialmen-te no caso da apicultura e da piscicultura, buscando promover maiores interaes ecolgicas.

    De aspecto positivo, o projeto tem a estra-tgia de assistncia tcnica, que formou agricultores e apicultores tcnicos. Como grande desafio, que tem sido acompanha-do pelo PDA e pelo MMA, tem a recons-truo das propriedades aps o ltimo grande incndio em Roraima.

    Par

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    Quadro Sntese de Atividades e Impactos

    Associa-se um s minsculo para atividades ou impactos propostos e executados ou verificados, porm, necessitando ser melhoradas (os). Para atividades ou impactos previstos e executados de forma adequada, associa-se um S maisculo. Para atividades ou impactos realizados com muito sucesso, ou que tenham potencial demonstrativo, associam-se dois esses maisculos SS. s atividades no previstas ou no executadas associa-se um N.

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    importante comear este captulo lem-brando que, na vida real, as coisas no ocorrem de forma quimicamente pura no h projetos totalmente exitosos, nem h situaes de fracasso nas quais no se possam observar momentos ou aspectos de acerto. Quando falamos em fatores de xito, estamos nos referindo a fatores ou elementos que contribuem para que uma proposta avance de alguma maneira, seja em seu aspecto global, seja em aspectos especficos.

    De maneira geral, pode-se dizer que quinze dos vinte projetos em estudo so experincias exitosas, porque apresentam mais caractersticas de sucesso mais fatores positivos, impactos considerados importantes por seus beneficirios e pelos avaliadores que problemas. Outros cin-co manifestam mais tendncias negativas pelo modelo adotado, pela forma de execuo, por problemas internos de par-ticipao e gesto e trazem importantes lies especialmente sobre o que no fazer para as comunidades e as orga-nizaes envolvidas e para o PDA e seus parceiros.

    Essa classificao geral dos projetos uma tentativa de criar um divisor de guas em

    22. Fatores que Contribuem para o xito dos Projetos

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    situaes que, na vida real, so comple-xas e indivisveis, apresentando sempre ganhos e perdas. Algumas vezes o sucesso est relacionado grande mobilizao da comunidade na busca de solues para seus problemas produtivos e de convi-vncia com o meio ambiente, embora os aspectos propriamente tcnicos da expe-rincia apresentem muitas falhas e limi-taes, como o caso de Wanderlndia. Nos outros casos de projetos considerados exitosos, embora a experincia esteja se desenvolvendo com sucesso, h pontos de estrangulamento que funcionam como fatores de risco, podendo, em algumas situaes no caso dos projetos Antimari, Esperantinpolis, Poyanawa e dos quel-nios comprometer a sustentabilidade da proposta, se no forem corrigidos a tempo.

    2.1. Onde as coisas deram mais certo pistas do porquAlguns projetos podem ser considerados muito exitosos, com poucas situaes de risco e muitas solues funcionando.

    o caso da APA, que consegue comercia-lizar toda a produo de seus associados, tornando a marca Apaflora conhecida em diferentes regies do Brasil e at no exterior. A APA tambm sobressai pelo en-volvimento das mulheres nas atividades, o que tem significado um considervel acrscimo na renda das famlias, com ga-nhos adicionais em nutrio e sade.

    O projeto de Esperantinpolis tambm um exemplo de sucesso at onde avanou, com um bom viveiro funcionando, 39 hectares de rea degradada recuperados, solo mais frtil, reduo de queimadas e melhoria da alimentao das famlias.

    Em Camet, o acordo de pesca est sendo respeitado, o manejo de aaizais d bons resultados, h aumento de renda familiar, melhoria da alimentao, mais coeso da comunidade e aumento da diversidade biolgica nos aaizais. Um dos fatores limitantes que o projeto sofre a necessi-dade de rao para piscicultura, problema que ainda no foi contornado com solu-o local, e o outro a falta de uma atua-o mais efetiva do Ibama na fiscalizao do acordo de pesca.

    Os projetos de Juna, da Apruram e de Parauapebas, embora ainda no estejam com as agroindstrias em plena ativida-de, apresentam resultados concretos que incluem prticas ecolgicas, reduo de queimadas, melhoria de renda e de alimentao, incluso de mulheres e de jovens. Parecem caminhar em boa dire-o, tendo em vista as expectativas muito positivas tanto dos participantes quanto de seu entorno em relao s propostas.

    Entre as experincias exitosas h tambm o projeto dos quelnios, executado pela Amplac no rio Abun, na fronteira entre Acre e Bolvia. Apesar de pequeno, este projeto tem apresentado grandes resulta-dos quanto conservao de uma espcie e formao de conscincia ambiental.

    A observao desses projetos bem-sucedi-dos suscita a pergunta: o que eles tm em comum? Que pistas suas histrias pode-riam dar para explicar o sucesso das ini-ciativas? Algumas respostas poderiam ser:

    Lideranas com grande capacidade de articulao, de viso e de mobilizao.

    Apropriao da proposta por todos os envolvidos.

    Mecanismos de participao que le-vem diviso de responsabilidades.

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    Capacidade para correo rpida dos rumos.

    Empenho em capacitar e profissiona-lizar o pessoal responsvel por tocar o trabalho.

    Equipes que buscam solues para os problemas com criatividade.

    Disposio para aprender com outras experincias.

    nfase no planejamento, conside-rando as condies reais e sabendo aproveitar oportunidades.

    Foco no que se quer efetivamente trabalhar, evitando dispersar energias em atividades desconexas.

    Capacidade para abrir espaos nos mercados local e regional.

    Essas caractersticas, marcas recorrentes em grande parte dos projetos conside-rados exitosos, parecem dar pistas de fatores relevantes para o sucesso das ex-perincias. Evidentemente, cada iniciativa possui formas diferenciadas de manifestar essas caractersticas e algumas destas - como lideranas com viso prospectiva - dependem mais de caractersticas indivi-duais de quem encabea o projeto. Mas a maioria tem a ver com organizaes din-micas, flexveis e empenhadas em atender s exigncias do momento.

    2.2. Principais fatores de xitoDos vinte projetos analisados, dezoito apontam a situao de boa gesto, bom nvel organizacional, participao real dos beneficirios e motivao como fa-tores que contribuem fortemente para o xito do empreendimento. A exceo so os projetos de Anapu (493) e do Ceapac

    (767), nos quais a ausncia desses fatores contribuiu para a situao de pouco avan-o das propostas.

    O segundo fator mais comentado como forte contribuio para o xito o rela-cionado com capacitao, intercmbios e assistncia tcnica. Todas as capacitaes e situaes de intercmbio, onde e quan-do ocorreram, foram consideradas muito positivas pelos beneficirios e executores dos projetos, ajudando a impulsionar as experincias. A questo da assistncia tcnica, ao mesmo tempo em que apa-rece como fator de sucesso, apontada fortemente como fator limitante, pois nem sempre se pode contar com tcnicos em nmero suficiente, que entendam das atividades desenvolvidas e demonstrem capacidade para dialogar em p de igual-dade com os produtores e as comunida-des. Entre os projetos avaliados, porm, dezoito consideraram-se bem assessora-dos tecnicamente.

    Onze dos vinte relatrios apontam ques-tes de renda, melhoria da alimentao, autoconsumo e processos de produo e de comercializao como fatores de xito, porque estimulam os produtores e demonstram a viabilidade das propostas. Quando aparecem os resultados concre-tos, com benefcios tangveis, os produto-res j envolvidos na proposta se animam mais e outros se aproximam com inteno de aprender a novidade.

    O entorno favorvel seja no contexto poltico, geogrfico ou de disponibilidade de servios tambm reconhecido em onze relatrios como parte dos fatores que favoreceram o sucesso da proposta.

    Finalmente, quatro relatrios apontam questes de infra-estrutura, conseguida pelo projeto ou pela organizao, como

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    elemento que contribuiu para o xito do projeto ou de parte dele.

    2.3. Planejamento e participaoCapacidade de planejar outra caracte-rstica que leva ao xito dos projetos. Os projetos PDA tm um papel educativo nessa rea, pois desde a formulao das propostas desafiam as comunidades e gru-pos a exercitarem coletivamente a viso prospectiva. Os projetos que demonstram mais resultados positivos no planejamen-to caracterizam-se por estabelecer metas realistas e por evitar dispersar-se em ativi-dades desconexas.

    Em Esperantinpolis, o planejamento inicial considerou as necessidades das famlias como principal motivador, e por isso o projeto foi orientado mais para a segurana alimentar que para o mercado. Isso se mostrou um acerto, possvel graas ao profundo conhecimento da realidade das comunidades pela coordenao.

    Em So Lus do Anau, o planejamento foi feito aos poucos, de forma participativa, o que facilitou a apropriao do projeto por todos os envolvidos. Na Associao Nossa Senhora de Ftima, como em Espe-rantinpolis e em vrios outros projetos, o hbito de reunies regulares para discutir os rumos do trabalho o monitoramento da experincia tem sido muito positivo.

    Vrios projetos destacam a formao de parcerias como elemento propulsor, dando mais credibilidade e visibilidade experincia, como em Wanderlndia. A gesto financeira hbil e competente merece destaque nos projetos da FVPP e do Fundac.

    No projeto dos quelnios, como tambm no dos poyanawa, a habilidade pessoal dos lderes, aliada a um tipo de postura cultu-ral o sentimento comunitrio do povo indgena, um certo moralismo evangli-co de seus lderes; a forma ldica, com esprito de voluntariado, de aventura e um gosto por rituais meio de escoteiros, meio de militares, que caracteriza as lideranas da Amplac certamente pesou muito no xito das experincias.

    Existir uma base de organizao anterior ao projeto um elemento destacado em alguns relatrios, mas nem sempre cons-titui fator determinante. Pode haver muita tradio de organizao, porm sem foco, ou privilegiando a mobilizao e a forma-o polticas, o que no necessariamente contribui para o sucesso das experincias de desenvolvimento sustentvel.

    2.4. Capacitaes, intercmbios e algumas palavras sobre assistncia tcnicaCapacitaes e situaes de intercmbio foram apontadas pelos beneficirios e executores dos projetos como oportuni-dades de impulsionar as experincias. H sempre desejo de aprender mais, j que grande parte dos grupos e comunidades envolvidos em projetos financiados pelo PDA vive em localidades remotas e tem dificuldades de locomoo.

    Participar de cursos, intercmbios, dias de campo fora da propriedade uma impor-tante chance para os integrantes dos pro-jetos conhecerem outras pessoas e grupos que desenvolvem trabalhos similares, tro-carem experincias, enfim abrirem janelas

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    para outras realidades. E as organizaes que aproveitam mais essas oportunidades, tornam-se mais visveis, articulam novos projetos e novas parcerias, qualificando-se mais para desenvolver seus prprios empreendimentos.

    Experincias do tipo aprender fazendo, como o inventrio florestal nas proprieda-des dos associados do projeto das semen-tes, realizado com a finalidade de sinali-zar matrizes e feito de forma participativa (engenheiro florestal mais produtor), de-monstram que essa uma das melhores maneiras de fazer capacitao.

    A assistncia tcnica foi citada por dezoi-to entre vinte projetos como fator decisivo para o xito, quando possvel dispor de tcnicos em quantidade suficiente, que conhecem do assunto SAFs, pis-cicultura, apicultura, borracha... com linguagem acessvel e dispostos a dialogar com o produtor. Este quadro, no entanto, mostra-se algo atpico para a realidade amaznica.

    De maneira geral, os projetos que busca-ram formar sua prpria equipe de AT tm conseguido responder de maneira satis-fatria a essa necessidade. Em algumas localidades, os integrantes dos projetos at preferem iniciar uma experincia por conta prpria a contar com elementos vindo de fora para fornecer assistncia tcnica. Procuram formar seus prprios quadros tcnicos, selecionando-os entre os produtores. Esse o caso do projeto das sementes, de Anapu, da FVPP e da APA.

    O modelo de assistncia tcnica adotado em Esperantinpolis merece destaque e talvez seja o que mais se aproxima das necessidades apontadas pelos projetos. A AT prestada de forma horizontal, nas reunies de monitoramento. Ali os proble-

    mas so trazidos, discutidos e as possveis solues so sugeridas por outros produ-tores. Os intercmbios realizam-se como parte da metodologia de monitoramento.

    H tambm projetos, como os da FVPP e Anapu, que apostam no envolvimento dos jovens das Casas Familiares Rurais (CFR). Este engajamento da juventude consi-derado muito positivo, pois aumenta a auto-estima das comunidades rurais, con-tribui para o elevao do nvel tcnico das famlias produtoras e, embora apresente limitaes pelo desenho da grade curricu-lar da CFR (os contedos so definidos a partir do interesse dos alunos, o que mui-tas vezes fecha a possibilidade de estudo de temas diferentes, novos, e ainda no identificados por eles) contribuem para a profissionalizao dos jovens e para mant-los nas localidades em que vivem, atuando de forma adaptada realidade que os rodeia.

    2.5. Olhando em volta e buscando sinergiasOs projetos mais bem-sucedidos so aqueles que olham continuamente para fora, em busca de oportunidades. Partici-par de instncias maiores, como as redes de entidades, as cooperativas e as centrais de comercializao que se formam na Amaznia parece ser o caminho encon-trado por algumas das iniciativas para se fortalecer e garantir a continuidade das experincias. A alternativa articular-se politicamente, aproveitando conjunturas favorveis nos governos municipais e es-taduais.

    O projeto das sementes, por exemplo, est inserido na rede da Capeb/Compaeb, que uma central de comercializao da

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    produo agroextrativista em Brasilia, Acre. Conta com o apoio da Prefeitura Municipal (o prefeito vem do movimen-to popular) e tem a seu favor as polticas estaduais de valorizao da floresta. Com essas condies favorveis, cabe ao proje-to usar melhor essa situao para ganhar mais impulso. Na poca da visita do PDA, a prefeitura e a associao fizeram um acordo para buscar soluo, junto a ins-tituies estaduais e federais, para o pro-blema da certificao cientfica do ndice de germinao das sementes. A viso de futuro da Associao, da Capeb e da pre-feitura, em relao ao projeto, Brasilia reconhecida como municpio provedor de sementes florestais nativas de qualidade para todo o Brasil.

    Em Wanderlndia h condies favor-veis com o governo do estado, mas no com o poder pblico local. Afinal, santo de casa... Mas h santos de casa que fazem verdadeiros milagres, como os coordenadores do projeto dos quelnios, que conseguem mobilizar a imprensa, o comrcio, e conquistaram a simpatia da populao local e regional para a defesa da fauna aqutica.

    Desde o incio, o projeto de Lontra cha-mou a ateno do governo do estado do Amap, que criou na poca um GT para viabilizar as obras de infra-estrutura rei-vindicadas pela comunidade. Parcerias institucionais realizadas nessa ocasio contriburam para a continuidade do projeto, mas com a mudana de governo nada mais avanou.

    Em Juna, a prefeitura incentiva a adoo do modelo dos SAFs como alternativa de explorao da pequena propriedade. A Ajopam participa de um projeto de de-senvolvimento sustentvel regional com outros parceiros. H todo um contexto favorvel.

    O pessoal de Parauapebas soube aprovei-tar as oportunidades de seu contexto o fato de ter um bom mercado consumidor em Carajs e consrcios de frutas finan-ciados pelo FNO. Alm disso, o projeto soube aprender com seu prprio erro na construo de uma agroindstria ante-rior. Esta nova, com apoio do PDA, est localizada em rea rural e, portanto, tem energia subsidiada; o acesso por estrada asfaltada e em bom estado.

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    EEm todo caminho tem uma pedra, mas s vezes a gente se depara com toda uma pe-dreira e a no tem alternativa seno des-viar totalmente o rumo da caminhada. No entanto, tropear com pedras pequenas e grandes parte da rotina de qualquer pro-jeto; e a sabedoria est na flexibilidade, na criatividade e na rapidez com que se resolve o problema.

    Quando no se aprende logo com os er-ros, buracos diferentes seguem ensinando os mesmos tombos; mas, quando o pro-cesso de aprendizagem e correo de ru-mos ocorre a tempo e com a profundidade necessria, o projeto se fortalece.

    Os principais problemas identificados no universo dos vinte projetos correspondem s reas de: gerncia, planejamento, nvel de organizao, mobilizao social; pro-duo; beneficiamento; comercializao; assistncia tcnica e barreiras culturais; e ambiente externo, ou seja, o contexto em que se insere a experincia.

    3.1. Assistncia tcnica e barreiras culturaisDezoito dos vinte projetos colocam como problemas a relao com a assistncia

    33. As Pedras no Caminho: Problemas e dificuldades dos projetos

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    tcnica e/ou com barreiras culturais. Problemas especficos de assistncia tc-nica foram relatados em dezesseis desses dezoito. Os problemas referem-se a trs classes e em umas delas verificam-se im-plicaes de ordem cultural:

    Falta de pessoal com perfil adequado para o tipo de apoio tcnico que as experin-cias requerem. No projeto do Fundac, por exemplo, o tcnico ligado Emater local ofereceu orientao inadequada. Impor-tante ressaltar a falta de entendimento do que so Sistemas Agroflorestais. H muita lacuna de informao nessa rea e uma tendncia dos tcnicos que desconhecem o assunto de orientarem a implantao de consrcios, sem maiores interaes ecol-gicas, chamando-os de SAFs.

    Freqncia com que a assistncia tcnica provida. Isso ocorre por causa do nmero insuficiente de tcnicos disponveis e tam-bm porque a rotatividade dos tcnicos uma realidade no dia-a-dia dos projetos, resultando em atrasos e perdas.

    Interessante observar que, nos casos em que os projetos trabalham com AT prpria contratada pelo projeto como equipe permanente, ou pela formao de tcni-cos locais dentre os produtores os pro-blemas de quantidade e qualidade tam-bm ocorrem, embora de outra maneira. Nessas situaes, muitas vezes a equipe sobre-demandada, ficando sem condies de acompanhar efetivamente o cotidiano dos produtores, tendo que atender a um pblico mais amplo, em aes relaciona-das ao movimento social (casos da FVPP e de Anapu). Tambm ocorre que esses tc-nicos formados localmente esbarrem em limitaes de sua prpria formao, como o caso dos jovens tcnicos da FVPP que se formam nas Casas Familiares Rurais.

    Abismos de entendimento entre tcnicos e produtores. Relatam-se, com freqn-cia, casos de tcnicos com posturas verti-cais e intransigentes, sem prestar ateno realidade e ao conhecimento prtico do produtor. Mas h tambm dificuldades culturais dos produtores para aceitar no-vidades. Muitos dos projetos analisados afirmam que houve resistncia inicial dos produtores s propostas de SAFs por ser algo totalmente fora de sua experincia. S os primeiros resultados concretos so capazes de mudar essa mentalidade. No caso da apicultura, a resistncia inicial por medo das abelhas tambm existiu em vrios projetos, mas somente em um deles o de Lontra esse medo no foi vencido.

    No outro extremo esto os projetos que no recebem nenhuma AT (caso poyana-wa), ou nos quais a AT absolutamente divorciada da comunidade (caso do Ce-apac).

    A busca de parcerias para AT nem sem-pre funciona, como demonstra o caso de Lontra mudou a poltica estadual e a assistncia prevista da Rurap nunca se concretizou.

    3.2. Gerenciamento, planejamento, nvel de organizao e mobilizao socialDezessete dos vinte projetos apresentam ou apresentaram, em diferentes etapas de sua execuo, algum tipo de problema nessas reas.

    Deficincias gerenciais, entendendo-se aqui a capacidade de organizar e fazer fluir os processos, foram fatais em alguns

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    casos Apia, Lontra, Ceapac. Em outros casos, houve problemas iniciais supera-dos depois, ou h problemas para os quais ainda se est buscando soluo. impor-tante observar que, quando a instituio executora/proponente conta com quadros profissionais, nota-se uma tendncia a equacionar melhor esses problemas. Uma dificuldade realmente grande a persona-lizao da boa gesto do projeto na figura do lder isso, que comum ocorrer e que em si mesmo no um problema, torna-se grave quando h o afastamen-to dessa pessoa por alguma razo (caso Apia, por exemplo) ou quando no h perspectiva de continuidade com novos quadros, como no caso do Antimari.

    Erros de planejamento aparecem com freqncia na avaliao dos prprios pro-jetos e devem-se ao desconhecimento da realidade, a uma viso demasiado otimis-ta de suas possibilidades de execuo ou a um subdimensionamento das reais ne-cessidades para deslanchar os processos. Verificam-se, no estudo, falhas menores e maiores de planejamento; algumas, como no caso poyanawa, que geram atraso; ou-tras que chegam a inviabilizar a proposta, porque definem modelos inviveis (casos Ceapac e Fundac). Quando as falhas so identificadas a tempo e h alguma agilida-de em adaptar o planejamento, podem-se obter resultados interessantes e salvar o projeto, como no caso do Ja.

    O nvel de organizao e de mobilizao social tambm um ponto que merece destaque. Quanto menos mecanismos de participao h, quanto menor o nvel de organizao e de mobilizao, mais problemas na execuo do projeto. Fica evidente que os projetos menos exitosos primam pelo divrcio entre proponente/executor e vontade/realidade dos benefi-

    cirios. A ausncia de participao, que gera ausncia de apropriao, na maioria das vezes inviabiliza as mudanas dese-jadas.

    Uma questo que se coloca a dimenso dos problemas gerenciais e de organiza-o social na sustentabilidade das propos-tas. No caso do Antimari, o lder da Asso-ciao vinha conseguindo fazer uma boa gesto do projeto, com resultados con-cretos e com ganhos sociais importantes. Mas, no embalo do entusiasmo de seus parceiros institucionais (Funtac e CNPT), a Associao deu um passo maior que as pernas, comprando uma usina de benefi-ciamento de crepe claro em Rio Branco, com financiamento da ITTO. Enfrenta agora o desafio de capacitar-se gerencial-mente para fazer funcionar essa usina. Os produtores passaram de produtores de borracha que realizavam beneficiamento caseiro (financiado pelo PDA) a empre-srios regionais. Seus parceiros institucio-nais no tm experincia na rea. O lder da Associao/Cooperativa est lutando bravamente para levar adiante a idia e o PDA foi chamado a auxiliar, no que ainda resta de tempo e recursos de execuo do projeto. Mas o problema continua.

    3.3. ProduoMuitos problemas relatados referem-se s questes tcnicas dos Sistemas Agro-florestais, levando a perdas de mudas, desestmulo, abandono. Algumas experi-ncias com piscicultura tambm relatam dificuldades, como a morte de alevinos e a baixa produtividade. Alm disso, si-tuaes imprevistas, como os incndios ocorridas no Apia, so responsveis por grandes perdas. Esses fatores pem em ris-

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    co algumas iniciativas, pois desmotivam seus participantes.

    Quando os modelos de SAFs so ina-dequados, no incorporam a dimenso da segurana alimentar, no so aceitos pelos produtores, obviamente o processo produtivo tende a fracassar, como no caso do Apia; e podem transformar-se em ve-tores de risco ambiental, como no caso do Ceapac.

    Dezessete das dezenove experincias analisadas (duas Ja e quelnios no tratam de aspectos produtivos) apresen-tam algum tipo de problema na rea da produo. Esses problemas decorrem de deficincias do planejamento (semen-tes, Anapu, Wanderlndia, Apruram), da assistncia tcnica, ou dos dois fatores conjugados.

    Nas situaes em que h apropriao da proposta pela comunidade e boa capaci-dade de gesto, esses problemas so mais bem encaminhados. Em outros casos, e a situao de Wanderlndia exemplar, mesmo com alto nvel de mobilizao e de organizao da comunidade no se consegue vencer as dificuldades na pro-duo, at porque as condies externas naturais e sociais so muito adversas.

    3.4. Ambiente externoTreze relatrios reportam problemas no ambiente externo afetando negativamente o desempenho dos projetos. Esses pro-blemas podem ser de ordens variadas, como as condies do tempo (longas es-tiagens), situaes imprevistas (incndios florestais), deficincias de infra-estrutura (estradas, esquemas de comercializao), mudanas no ambiente poltico da locali-dade, regio ou estado, entre outros.

    No caso de Apia, por exemplo, o pro-blema so os incndios, provocados pela falta de aceiros, pela falta de conscincia dos vizinhos sobre o problema do fogo, pela baixa umidade do ar e por falta de tcnicas eficientes de combate ao fogo aplicadas a tempo. Embora o problema do fogo possa tambm ter razes internas (en-tre os envolvidos no projeto), a avaliao que a comunidade faz que as queimadas descontroladas vm do ambiente externo. Na realidade, trata-se de um problema recorrente em Roraima, amplamente noti-ciado a cada grande incndio que devasta a regio. Mas h tambm o exemplo do projeto de Camet, no Par, que sofreu um revs com o incndio de sua sede.

    A baixa fertilidade dos solos e o regime concentrado de chuvas, provocando longas estiagens (Wanderlndia, Fundac, Ceapac) so problemas tambm identifi-cados. No caso de Wanderlndia, os solos alterados e o clima severo, com longos perodos de seca, aliados extrema po-breza regional e falta de capital humano qualificado, so fatores que se contra-pem fortemente grande motivao e ao bom nvel organizacional da comunidade no esforo por sair desse crculo de extre-ma pobreza.

    A ausncia de escolas na rea rural, por exemplo, outro grande motivador da migrao das famlias para os centros ur-banos, abandonando seus lotes Anau, Wanderlndia, Fundac, Ceapac, o que compromete seriamente a continuidade dos projetos.

    Em Esperantinpolis, a falta de energia eltrica impede a implantao do sistema de irrigao. Na APA, o custo da energia trifsica para manuteno das cmaras frias to alto que pode vir a inviabilizar

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    o funcionamento da fbrica da maneira como est hoje.

    A falta de estradas em boas condies para trazer matria-prima at a agroinds-tria ou para o escoamento dos produtos citada como problema especialmente em Wanderlndia, Esperantinpolis e na APA.

    A infra-estrutura deficiente est atrelada, muitas vezes, a problemas mais amplos, ligados a correlaes de foras polticas adversas. Em Wanderlndia, por exemplo, conflitos poltico-partidrios dificultam a resoluo do problema do transporte e das estradas. O Fundac se queixa de falta de apoio municipal ao projeto, enquanto em Lontra, onde a proposta teve apoio estadual, a mudana poltica no governo levou ao abandono do projeto pelos par-ceiros governamentais a fbrica nunca foi concluda, porque no se concretizou a contrapartida do governo.

    A indefinio fundiria impediu a im-plantao do manejo florestal no projeto de Lontra. E o descaso ou a ausncia do Ibama so apontados, tanto no projeto do Ja como no de Camet, como fatores de desestmulo. No caso de Camet, trata-se de fiscalizar a regio em que vigora o acordo de pesca das comunidades; no Ja, todo um programa com fiscais volun-trios naufragou por falta de vontade dos dirigentes locais do Ibama. Tampouco foi possvel firmar um acordo entre esse r-go e a Fundao Vitria Amaznica para implementao do plano de manejo do Parque Nacional.

    Entre os outros problemas elencados nos relatrios de campo, podem-se citar os atrasos no repasse de recursos ou na en-trega de equipamentos como fatores que prejudicam o cronograma dos projetos; e

    tambm a disperso geogrfica e pblico difuso de alguns projetos (FVPP e Ja), di-ficultando a realizao das atividades.

    3.5. Beneficiamento Onze dos vinte projetos visitados tinham o beneficiamento da produo como parte de sua estratgia. Todos apresentam algum tipo de problema. Estes vo des-de a questo de fluxo de matria-prima para o pleno funcionamento da indstria, como nos casos da APA e de Anapu, at a necessidade de certificao cientfica dos ndices de germinao das sementes florestais, como ocorre com a Associao Nossa Senhora de Ftima. Ou o atraso ge-rado pela entrega dos equipamentos em Parauapebas, que provoca, por efeito do-min, atraso na inaugurao da fbrica.

    Em Wanderlndia e Curralinho alguns problemas apresentados nas indstrias podem ser corrigidos, mas h a questo dos custos de produo tempo de estu-fagem, custo da energia para manuteno de cmaras frias ou custo do gs (Anapu) que so um risco para a viabilidade eco-nmica dos empreendimentos.

    Em Lontra, a fbrica no foi concluda porque faltou a contrapartida do gover-no estadual. A primeira agroindstria da Apruram, construda em rea urbana, teve que ser desativada e agora a associao est iniciando a segunda, financiada pelo PDA, em rea apropriada. Em Juna, a fbrica de palmito est prestes a entrar em funcionamento, gerando grande ex-pectativa; houve atrasos na construo e a Vigilncia Sanitria exigiu alteraes na obra. No projeto do Ceapac, a situao a mais grave: a indstria est muito prxi-ma vila, com risco de impacto ambiental

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    negativo. Essa unidade, que inicialmente seria da Centralago, hoje tocada por uma empresa privada, j que a Centralago no conseguiu pagar os equipamentos. No entanto, no h qualquer documen-to que registre as bases do acordo entre Centralago e a empresa utilizao das mquinas por cinco anos, condies de devoluo, etc.

    3.6. ComercializaoDois dos projetos analisados no tinham nenhum propsito ligado comercializa-o: o do Ja e o dos quelnios. Alguns outros, embora a princpio privilegiem a segurana alimentar das famlias, tm tambm um objetivo de comercializar parte da produo, visando aumento de renda das famlias, como no caso do pro-jeto de Esperantinpolis.

    Treze relatrios apontam problemas com a comercializao, geralmente definidos como falta de estratgia. Isso significa desde desconhecimento do mercado, pouca habilidade ou instrumentao

    para alcanar esse mercado, ausncia de certificaes que diferenciem os pro-dutos, abrindo espao para novos nichos de mercado e falta de capital de giro das associaes para compra dos produtos de seus associados.

    A falta de regularidade na entrega de pro-dutos beneficiados outro problema que inviabiliza possveis acordos comerciais, como ocorreu com o projeto de Anapu. E algumas opes que inicialmente pare-ciam seguras, como a venda para merenda escolar, nem sempre funcionaram: houve caso de convnio cortado, como na APA.

    Os projetos mais adiantados na comer-cializao de produtos percebem com clareza a necessidade de estimular novos hbitos alimentares no pblico regional para que este possa absorver parte da produo. Um exemplo concreto o da farinha mltipla, que embora seja consi-derada prodigiosa na capacidade de nutrir e largamente empregada pela Pastoral da Criana sofre de preconceito porque vis-ta como comida para doente.

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    T.

    Todos os vinte projetos resultaram em al-gum tipo de benefcio para as comunida-des envolvidas; uns mais, outros menos. No estudo, os avaliadores perguntavam s comunidades se o projeto havia trazido algum benefcio, e, em caso positivo, qual era. Essa pergunta foi respondida por dife-rentes atores equipe tcnica, executores, proponentes, produtores em diferentes situaes: reunies, entrevistas, conversas informais.

    Todos os projetos analisados (vinte) apon-tam algum benefcio relativo ao fortale-cimento organizacional e/ou a ganhos sociais. Fica evidente que sempre h um ganho importante nessas reas a partir da execuo do projeto. Dezoito apontam melhorias na renda, na alimentao ou em outros aspectos da vida material dos produtores. Os nicos que no fazem meno a esse tipo de benefcios so projetos de conservao (quelnios e Ja). Desses dezoito que trabalham com uso dos recursos naturais, quinze apon-tam mudanas positivas no sistema de produo. Mudana de atitude e apren-dizado em relao aos recursos naturais importncia, conservao, formas de

    44. O que Fica para as Comunidades e para o Meio Ambiente:Benefcios concretos

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    uso so benefcios citados por dezoito projetos. Dez conseguiram algum nvel de influncia sobre polticas pblicas e sete apontam situaes de profissionalizao dos beneficirios como um dos resultados concretos da experincia.

    4.1. Fortalecimento organizacional e ganhos sociaisAssociaes e cooperativas fortalecidas, funcionando melhor ou comeando a funcionar onde no existiam. Associados participando das reunies e das decises de suas organizaes. Aumento na auto-estima dos grupos e das comunidades. Maior projeo e influncia destes no seu ambiente de atuao. Esses so benefcios identificados imediatamente na maioria dos projetos.

    Atravs do PDA conseguimos mais scios, mudanas de conhecimentos, estamos conseguindo a fbrica de palmito. O PDA trouxe um horizonte para a gente chegar mais na frente. Sem ele no teramos a casa do mel e o Proambiente. A Ajopam foi o carro-chefe para trazer o PDA e o PDA o carro-chefe para ajudar a sustentar o trabalho da Ajopam. Antnio, Juna/MT

    No Antimari, a matur