Estudos sobre Narrativa

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OS MODOS DE NARRAR COM AUDIOVISUAL (WINCK) O CINEMA CLÁSSICO HOLLYWOODIANO: normas e princípios narrativos (BORDWELL) IUVA, Patricia de Oliveira Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). [email protected]

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Aula sobre Narrativa Cinematográfica e Modelo Clássico Hollywoodiano.

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OS MODOS DE NARRARCOM AUDIOVISUAL (WINCK)

O CINEMA CLÁSSICO HOLLYWOODIANO:normas e princípios narrativos (BORDWELL)

IUVA, Patricia de OliveiraDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

[email protected]

3 ASPECTOS DA NARRATIVA

NARRATIVA COMO REPRESENTAÇÃO

NARRATIVA COMO ESTRUTURA

NARRATIVA COMO ATO

A NARRATIVA CLÁSSICA

PADRÃO CANÔNICO DE ESTABELECIMENTO DE UM ESTADO INICIAL DE COISAS QUE É VIOLADO E

DEVE SER RESTABELECIDO.

A TRAMA É COMPOSTA POR UM ESTÁGIO DE EQUILÍBRIO, SUA PERTURBAÇÃO, A LUTA E A ELIMINAÇÃO DO ELEMENTO PERTURBADOR.

O FINAL CLÁSSICO

POR UM LADO CONCLUSÃO LÓGICA DE UMA CADEIA DE EVENTOS, EFEITO FINAL DE UMA

CAUSA INICIAL.

POR OUTRO LADO PODE SER UM AJUSTE ESTRUTURAL MAIS OU MENOS ARBITRÁRIO, TAL COMO UMA NORMA EXTRÍNSECA QUE FORÇA O

FINAL FELIZ.

ver pg. 283

A NARRATIVA CLÁSSICA

De um modo geral a narração clássica tende a ser ONISCIENTE, possuir alto grau de

COMUNICABILIDADE e ser apenas moderamente AUTOCONSCIENTE.

A narração sabe mais do que qualquer um, esconde relativamente pouco e quase nunca reconhece que está se dirigindo ao público.

[universo diegético]

A NARRATIVA CLÁSSICA

A partir da forma de tratamento do TEMPO e do ESPAÇO, a narração clássica faz do mundo da

fábula um constructo internamente consistente, sobre o qual a narração parece intervir de fora.

A manipulação da mise-en-scene (personagens, iluminação, cenários, figurinos) cria um evento

pró-fílmico aparentemente independente, que se torna o mundo tangível da história, enquadrado e

registrado a partir do exterior. A NARRAÇÃO EM SIM

A NARRATIVA CLÁSSICA

FORNECE INDICAÇÕES PARA CONSTRUÇÃO DA TEMPORALIDADE, DA ESPACIALIDADE E DA LÓGICA (CAUSALIDADE, PARALELISMOS) DA HISTÓRIA, SEMPRE DE MODO A FAZER COM QUE OS EVENTOS À FRENTE DA CÂMERA SEJAM NOSSA PRINCIPAL FONTE DE INFORMAÇÕES .

NARRATIVAS HOLLYWOODIANAS SÃO REDUNDANTES, A FIM DE QUE OS FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA SEJAM REITERADOS E O ESPECTADOR NÃO SE PERCA NO ENTENDIMENTO.

A NARRATIVA CLÁSSICA

(1) EM SEU CONJUNTO, A NARRAÇÃO CLÁSSICA TRATA A TÉCNICA CINEMATOGRÁFICA COMO UM VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE

INFORMAÇÕES SOBRE A FÁBULA PELA TRAMA.[Pg.291] CENA

(2) NA NARRAÇÃO CLÁSSICA, O ESTILO CARACTERISTICAMENTE ESTIMULA O ESPECTADOR A CONSTRUIR UM TEMPO E UM ESPAÇO DA AÇÃO DA FÁBULA QUE SEJA COERENTE E CONSISTENTE.

(3) O ESTILO CLÁSSICO CONSISTE EM UM NÚMERO ESTRITAMENTE LIMITADO DE DISPOSITIVOS TÉCNICOS ESPECÍFICOS ORGANIZADOS EM UM PARADIGMA ESTÁVEL E CLASSIFICADOS PROBABILISTICAMENTE DE ACORDO COM AS DEMANDAS DA TRAMA.

A NARRATIVA CLÁSSICA

ESSES TRÊS FATORES CONTRIBUEM COM BOA PARTE DA EXPLICAÇÃO DE POR QUE O ESTILO HOLLYWOODIANO PASSA RELATIVAMENTE DESPERCEBIDO. CADA FILME RECOMBINA NORMAS FAMILIARES EM PADRÕES PREVISÍVEIS, CONFORME AS EXIGÊNCIAS DA TRAMA. O ESPECTADOR RARAMENTE TERÁ DIFICULDADES PARA COMPREENDER OS ELEMENTOS DO ESTILO PORQE ESTÁ ORIENTADO NO TEMPO E NO ESPAÇO, E PORQUE AS FIGURAS ESTILÍSTICAS SERÃO INTERPRETÁVEIS À LUZ DO PARADIGMA EM 3 ATOS.

1. O ROTEIRO LINEAR EM 3 ATOS

FORMA NARRATIVA AUDIOVISUAL CLÁSSICA

UNIDADE NARRATIVA – desenvolve-se uma única ação à qual se subordinam ações secundárias

TRAMA – fragmentada numa sequência de eventos conflituosos, encadeados numa relação de causa e efeito

O ROTEIRO LINEAR EM 3 ATOS

Questão central = premissa dramática = aceleração programática da tecnologia narrativa audiovisual

PREMISSA DRAMÁTICA LINEAR – é contestada no desenrolar da narrativa e resolvida no final da mesma.

É o fio lógico que costura todos os fragmentos sequenciais da obra e lhes confere substância

argumentativa LINEAR, DIACRÔNICA e COERENTE.

Caracterização da Narrativa em 3 atos

a) Atuação de um sujeito (geralmente herói)

b) Ação no sentido de superar as adversidades para resolver a premissa

dramática (conflito)

Caracterização da Narrativa em 3 atos

A resolução da premissa dramática instaura uma unidade de sentido da narrativa de caráter silogístico de vertente aristotélica, traduzida no

drama audiovisual contemporâneo.

Obs: silogismo - argumentação lógica perfeitaTodo homem é mortal (premissa maior) Sócrates é homem (premissa menor) 

Sócrates é mortal (conclusão)

NARRATIVA

Mensagem pré-programada, “cujos cânones não permitem que

nenhum dos agentes possa distanciar-se da premissa dramática dada, quer pela

afirmação, quer pela negação, sob pena de romper a estrutura

narrativa em 3 atos”

A estrutura em 3 atos

1º ATO – apresentação da premissa dramática e os objetivos das personagens,

pondo a trama em movimento

2º ATO – conflito de interesses antagônicos

3º ATO – o conflito é resolvido quando o protagonista alcança seus objetivos

A estrutura em 3 atos paradigma de syd field

A estrutura em 3 atos – design das relações

-Contextualização temporal

-Contextualização espacial

-Contextualização temática

-Contextualização de personagem

A estrutura em 3 atos

1º ato

centra a situação em uma linha argumentativa coerente, coloca em

marcha o relato e orienta o espectador para que o mesmo possa prosseguir o

filme

A estrutura em 3 atos

2º ato

a platéia é induzida para “dentro da trama”, os agentes dramáticos operam

a fim de que o protagonista trilha o caminho do “ser mais”

A estrutura em 3 atos

3º ato

a narrativa transita do estado de conflito para o estado de resolução do problema, posto difusamente no início e “experimentado” no desenrolar da

trama.

A estrutura em 3 atos

O EPÍLOGO

A platéia promove no seu íntimo a compleição do sentimentos

experimentados no decorrer da narrativa. Há aqui, neste momento,

convencimento e catarse, impostos pela narrativa.

A estrutura em 3 atos Desenvolvendo a CENA

As cenas são demarcadas por meio de critérios neoclássicos:

Unidade de tempoUnidade de espaçoUnidade de ação

E os limites da seqüência são indicados por pontuações padronizadas (fusão,

escurecimento, chicote, pontes sonoras)

A estrutura em 3 atos Desenvolvendo a CENA

A fase de introdução de uma cena envolve um plano que estabelece os personagens no tempo e no espaço.

À medida que os personagens interagem, a cena é segmentada em imagens mais próximas de ação e reação, enquanto o cenário, a iluminação, a música, a composição e os movimentos de câmera ajudam acentuar o processo

de formulação de objetivos, de luta, de decisão.

A cena geralmente finaliza com uma porção de espaço –uma reação facial, um objeto significativo- que fornece

uma transição para a próxima cena.

A estrutura em 3 atos

Se no primeiro ato a premissa dramática está condensada, em estado potencial e hipotético, no segundo ela transita para

sua atualização, pelo litígio retórico entre forças contraditórias. No terceiro, finalmente, a premissa se realiza em

termos de comprovação da tese que a narrativa pretendia demonstrar.

ANÁLISE - MATRIX

DO PROTAGONISTA?

DA PREMISSA DRAMÁTICA ?

DOS OBSTÁCULOS ?

DA RESOLUÇÃO?

ANÁLISE - MATRIX

DO PROTAGONISTA?

Neo (Sr. Anderson) durante o dia é um operador de sistemas e à noite um hacker. Personagem cuja angústia vem do fato de saber que algo está errado em sua vida, mas ele não sabe o quê. Neo é um personagem movido pela busca de maior controle sobre a sua vida. Tal busca, já no início do filme, toma forma na pergunta:

"O que é a Matrix?".

ANÁLISE - MATRIX

DA PREMISSA DRAMÁTICA ?

Trata-se de um jovem que deseja eliminar suas dúvidas a respeito de sua própria vida e tomar controle da mesma, mas percebe-se envolto numa outra realidade, uma realidade imposta/construída pela Matrix. Aqui começa a luta para compreensão e superação desse mundo dominado pelas Máquinas.

ANÁLISE - MATRIX

DOS OBSTÁCULOS ?

Centram-se na dúvida se Neo conseguirá superar as leis impostas pela Matrix e assumir o comando (conflitos internos – suas dúvidas/descrença; conflitos externos – os agentes, Cypher o traidor, as máquinas). A tensão é sempre reforçada pela dúvida de se ele é ou não o Escolhido.

ANÁLISE - MATRIX

DA RESOLUÇÃO?

A resolução vem com a afirmação de Neo, o protagonista, de que ele vai libertar as pessoas dominadas pela Matrix. Nesse ponto Neo se afasta da cabine telefônica que estava falando e alça vôo.

2. O ROTEIRO NÃO-LINEAR CONTEMPORÂNEO

Os artistas contemporâneos voltam-se para os ideais de informalidade,

desordem, indeterminação de resultados

2. O ROTEIRO NÃO-LINEAR CONTEMPORÂNEO

FORMA NÃO SEQÜENCIAL DE ORGANIZAÇÃO DA NARRATIVA.

O ESPECTADOR ESTÁ LIBERADO DA OBRIGATORIEDADE DE UM LEITURA LINEAR.

O PARADIGMA DA DIVISÃO EM 3 ATOS FOI HEGEMÔNICO DURANTE O SÉCULO XX.

Contexto de obras não lineares

• Busca de inovações na linguagem audiovisual (movimentos/escolas neo-realismo italiano, nouvelle

vague, o novo cinema alemão, cinema novo no Brasil.

•Movimentos sociais e políticos dos anos 60 e 70

•A partir dos anos 80 – tecnologia [vídeo, televisão]

NARRATIVAS NÃO-LINEARES

FORMULAÇÃO DE PREMISSAS DRAMÁTICAS MAIS FLUIDAS OU IMPLÍCITAS.

UMA CENA NÃO PRECISA, NECESSARIAMENTE REMETER À PRÓXIMA

PODE HAVER SALTOS DESCONEXOS DE TEMPO E ESPAÇO, CORTES ABRUPTOS DE RACIOCÍNIO

NARRATIVAS NÃO-LINEARES

TIPO DE ROTEIRO QUE DERIVA EM PRODUTOS CUJOS RUMOS DA NARRATIVA SOFREM INTERFERÊNCIA DO PÚBLICO OU ENTÃO FORMULAÇÃO DE CONCLUSÕES

POUCO PREVISÍVEIS.

NARRATIVAS NÃO-LINEARESclassificação a partir das premissas dramáticas (pg.58)

1. Ordenações horizontaisEx: Iñarritu, BABEL

2. Ordenações VerticaisEx: Gus Van Sant, ELEFANTE

3. Ordenações conceituais Ex: Christopher Nolan, Amnésia

3. O ROTEIRO INTERATIVO DA MULTIMÍDIA

TECNOLOGIAS DIGITAIS

INTERATIVIDADE

REDE

USUÁRIO COMUM PRODUTOR DE ROTEIROS

3. O ROTEIRO INTERATIVO DA MULTIMÍDIA

O autor de audiovisuais interativos “há de conceber sua obra de maneira reticular, arborescente e relacional, em estreita

parceria com as ferramentas de síntese e com os usuários.

3. O ROTEIRO INTERATIVO DA MULTIMÍDIA

NOVA CLASSE DE NARRATIVAS QUE EXIGE DA AUDIÊNCIA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMPLEXOS.

NOS GAMES INAUGURAM-SE NOVAS SOLICITAÇÕES COGNITIVAS: NÃO SE EXIGE A CAPACIDADE DE

ENTENDER SIMPLESMENTE, MAS DE CALCULAR SAÍDAS POSSÍVEIS (PRÉ-PROGRAMADAS)