Estudos sobre Lógica

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Introdução à Lógica "Es admirable la miseria y la grandeza de la simple aprehensión. Es admirable su miseria, porque deja de lado infinidad de aspectos de la realidad; pero es más admirable su grandeza porque alcanza lo esencial." Pe Álvaro Calderón - Umbrales de la Filosofia (pág 53) 1-Introdução É muito comum em discussões informais , o interlocutor afirmar que tal conclusão não possui lógica. Mas na maioria das vezes nenhum os interlocutores sabe realmente do que se trata. A lógica (do grego logos) é impreterível para qualquer ciência, uma vez que toda ciência se utiliza do raciocínio para se fundamentar. Lógica: Arte de conduzir o raciocínio corretamente. Já Aristóteles, tentava justificar a Lógica como Arte e como Ciência ao mesmo tempo, uma vez que a Lógica se comporta tanto como um quanto outro. Observemos as definições Tomás de Aquino de arte e ciência: Arte: Conhecimento regulador da atividade exterior. (Recta Rabo Factibilium) Ciência: Conhecimento desinteressado das coisas pelas suas causas. (Cognitio per Causas) Ora, nessas duas acepções, vemos que a Lógica se encaixa. Se encaixa na acepção de Arte, pois a Lógica possui um conjunto de regras e orientações que vêm dirigir uma atividade exterior, no caso o raciocínio. E se encaixa na acepção de Ciência, pois a Lógica é um conjunto de conhecimentos desinteressados acerca de algo, a saber: as operações do Espírito. 2- As operações do Espírito Segundo Aristóteles, são três as operações do Espírito: Apreensão - É o simples ato pelo qual a inteligência concebe a idéia, sem nada afirmar ou negar. Juízo - Simples ato de negar ou afirmar alguma coisa a respeito de algo. Raciocínio - Ato complexo onde de duas ou mais relações conhecidas, observa- se outra relação. Podemos perceber que as três operações estão relacionadas, de forma que uma contém a outra. Assim é que o Juízo contém idéias e o Raciocínio contem Juízos. Se, ao olhar para uma maçã, crio imediatamente uma idéia de maçã, posso posteriormente fazer juízos a respeito dela. Tal é

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Introdução à Lógica

"Es admirable la miseria y la grandeza de la simple aprehensión.

Es admirable su miseria, porque deja de lado infinidad de aspectos de la realidad; pero es más admirable su grandeza porque alcanza lo esencial."

Pe Álvaro Calderón - Umbrales de la Filosofia (pág 53)1-Introdução

É muito comum em discussões informais , o interlocutor afirmar que tal conclusão não possui lógica. Mas na maioria das vezes nenhum os interlocutores sabe realmente do que se trata.A lógica (do grego logos) é impreterível para qualquer ciência, uma vez que toda ciência se utiliza do raciocínio para se fundamentar.

• Lógica: Arte de conduzir o raciocínio corretamente.Já Aristóteles, tentava justificar a Lógica como Arte e como Ciência ao mesmo tempo, uma vez que a Lógica se comporta tanto como um quanto outro. Observemos as definições Tomás de Aquino de arte e ciência:

• Arte: Conhecimento regulador da atividade exterior. (Recta Rabo Factibilium)• Ciência: Conhecimento desinteressado das coisas pelas suas causas. (Cognitio

per Causas)Ora, nessas duas acepções, vemos que a Lógica se encaixa. Se encaixa na acepção de Arte, pois a Lógica possui um conjunto de regras e orientações que vêm dirigir uma atividade exterior, no caso o raciocínio. E se encaixa na acepção de Ciência, pois a Lógica é um conjunto de conhecimentos desinteressados acerca de algo, a saber: as operações do Espírito.

2- As operações do Espírito

Segundo Aristóteles, são três as operações do Espírito:• Apreensão - É o simples ato pelo qual a inteligência concebe a idéia, sem nada

afirmar ou negar.• Juízo - Simples ato de negar ou afirmar alguma coisa a respeito de algo.• Raciocínio - Ato complexo onde de duas ou mais relações conhecidas, observa-

se outra relação.Podemos perceber que as três operações estão relacionadas, de forma que uma contém a outra. Assim é que o Juízo contém idéias e o Raciocínio contem Juízos.

Se, ao olhar para uma maçã, crio imediatamente uma idéia de maçã, posso posteriormente fazer juízos a respeito dela. Tal é

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quando expressamo-nos "A maçã é vermelha" ou "A maçã é pequena". No juízo apenas explicita-se uma característica da maçã que foi apanhada(apreendida), tomada quando se construiu a idéia. Emitimos falsos juízos quando temos falsas idéias, em geral. No caso do juízo "A maçã é azul" ou o indivíduo não apreendeu corretamente a maçã, por motivos vários ou está mentindo, fazendo mau juízo do objeto. Na emissão do juízo sempre temos um substantivo, um verbo e às vezes um predicado. Ex.: O homem fala. O homem é animal.Quando relaciona-se um juízo com outro, emitimos um raciocínio. Assim é que, quando ao observar a cor do sangue, dizemos que é semelhante à cor da maçã. Notamos através no raciocínio uma relação de igualdade entre o sangue e a maçã através da cor. Ainda quando fazemos deduções como "Os homens são Animais. Esse ser-vivo é homem, logo é animal", estabelecemos relações entre duas ou mais relações.No que diz respeito às operações do espírito, a lógica pode encará-las individualmente ou conjuntamente. A parte da lógica que estuda cada operação separadamente chama-se Lógica Formal (ou Lógica Menor) , a parte da lógica que estuda as operações como um todo chama-se Lógica Material (ou Lógica Maior).

3- A apreensão

a) A idéiaTodo homem quando se depara com um estímulo sensorial, pode criar uma idéia a respeito do objeto que o estimula e esse exercício, como vimos, é chamado de apreensão. O processo de estímulo até chegar ao intelecto do indivíduo é estudado em Psicologia. A lógica evita tratar das questões subjetivas da apreensão.A apreensão é obrigatoriamente simples pelo fato de não concluir nem relacionar nada, como se fosse uma foto do objeto que se apreendeu. É um ato intelectual, pois somente os espíritos dotados de inteligência podem exercê-la e é uma expressão, pois a apreensão se dá ao representar no intelecto aquilo que os sentidos averiguaram. Essa representação (essa "fotografia") chamamos de idéia.

• Idéia - Simples representação determinada de um objeto sensível.

b) Idéia objetiva e Idéia SubjetivaA idéia é o elemento mínimo de raciocínio. Sem idéia não é possível emitir um juízo e um raciocínio. A idéia também pode ser denominada de conceito ou noção.A idéia se categoriza em:

• Idéia objetiva - A idéia objetiva é a representação mental do objeto enquanto objeto

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• Idéia subjetiva - A idéia subjetiva é a representação mental do objeto enquanto idéia.

A idéia é o meio pelo qual a inteligência conhece, mas pode ser distinguida dessa forma já que a inteligência pode encarar a idéia como o próprio objeto que ela conhece, quase como se não distinguisse a idéia de maçã da maçã propriamente, já que a inteligência não tem acesso direto à maçã (isto é: precisa que os sentidos lhe informem).O termo idéia subjetiva é quando a inteligência nota que está lidando com uma representação de maçã e não com a maçã propriamente. A idéia subjetiva só pode ser apreendida dentro da inteligência através da reflexão, em que a inteligência olha para si mesma e percebe o seu funcionamento e os objetos com que ela lida.A idéia subjetiva também pode ser chamada de Conceito Mental (Jolivet). Contudo, me parece confuso tal termo, uma vez que toda idéia é a representação mental de algo.

c)Ente Real x Ente de RazãoO objeto que se conhece pode ser realizável fora ou dentro da inteligência. Assim distingue-se entre ente real e ente de razão.

• Ente real - seres cuja essência pode ser realizada fora da inteligência humana• Ente de razão - seres cuja essência não pode ser realizada fora da inteligência

humana.Existem alguns seres que a inteligência cria através de abstração ou de simples representação. Assim são os casos dos números e do conceito(idéia) de nada. Quando aprendemos matemática, lidamos com a quantidade abstraída dos objetos. Não precisamos quando calculamos de que os objetos venham a nossa mão para calcular um resposta. Da forma semelhante é o caso do nada ou da virtude. A virtude é a característica de alguém. podemos abstrair a virtude do ser-humano e tratá-la na inteligência de diversas formas. O nada não existe senão na representação mental. Ora todos esses entes são entes de razão, pelo simples fato de que não possuem essência realizada fora da inteligência. No caso do nada, a inteligência empresta-lhe uma essência, já que o nada não pode possuir essência. Os entes de razão se subdividem em três categorias:

• Negação - Aqueles entes que na verdade são a negação de outro. ex.: Nada, não ser etc.

• Privação - Aqueles entes que pretendem representar a perda de algum ente. ex.: Cegueira, surdez etc.

• Noções universais - Aqueles entes que pretendem generalizar um grupo de entes. ex.: humanidade, bondade etc.

Em oposição aos entes de razão, tem-se os entes reais, aqueles entes cuja essência tem realização dentro e fora da inteligência, mesmo dentro da impossibilidade técnica ou material. Ex.: este gato, esta flor, montanha de ouro, prédio de mil andares etc.

4- Conclusão

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Estes termos devem ser bem associados, pois serão adotados ao longo de todo o curso, bem como em obras filosóficas. Também suas definições deverão ser bem memorizadas, uma vez que delas dependem os raciocínios complexos da metafísica aonde demonstraremos claramente os equívocos dos pensadores contemporâneos.Segue para auxílio, um conjunto de cinco vídeos aonde estarei explicando os termos.

5- Bibliografia

Jolivet, Regis - Curso de Filosofia, Vol I (Lógica e Cosmologia)Collin, Enrique - Manual de Filosofia Tomista, Vol I (Lógica Formal, Ontologia e Psicologia)Gardeil, H.D. - Iniciação à Filosofia de S. Tomás de AquinoTomás de Aquino - De ente et Essentia.Aristóteles - OrganonÁlvaro Calderón - Umbrales de la Filosofia

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AULA 2 1-IntroduçãoA lógica é a ciência que rege a relação das idéias. Por isso mesmo, em lógica menor, disseca-se a ideia do ponto de vista lógico e todas as consequências da mesma no ser raciocinante, a saber o homem.

2- O TermoO termo é a expressão verbal da ideia.[1]É preciso distinguir entre expressão verbal e palavra. Certos idiomas precisam de duas ou palavras para designar aquilo que outros idiomas o fazem com uma palavra. Assim, temos "onnanohito" em japonês que em inglês se traduz como woman. Na língua japonesa, hito quer dizer pessoa e no é uma partícula que indica relação de posse ou propriedade. Literalmente onnanohito poderia ser traduzido por pessoa do sexo feminino. Note que apesar de usar mais de uma palavra, existe só uma ideia lógica relacionada à palavra onnanohito. O problema do idioma nao ter uma palavra para expressar a ideia é meramente prático. Da mesma maneira, o grande cão, a poderosa virtude são termos, embora possuam duas palavras cada.

3- O Sinal

O sinal é uma coisa que faz conhecer outra. Vimos na Aula 1, que a ideia é a representação mental da coisa. Podemos ter inúmeras formas de representação, a mental é uma delas. Nesse ponto de vista, a ideia é sinal do objeto, pois através dela é que conhecemos as coisas.

Em outra acepção a própria escrita é sinal da palavra, uma vez que a escrita faz conhecer a palavra. Além do mais, a palavra, como vimos, sendo um sinal da idéia, acaba por ser um sinal , ainda que indireto, do objeto que se conhece. Da mesma forma, a escrita pode ser um sinal indireto do objeto.

3.1- Divisãoa)O sinal pode ser classificado conforme o tempo de conhecimento em:

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• Sinal Instrumental: Conhecido antes do objeto que se conhece. É usado como intermédio do conhecimento. Assim é que a bandeira representa determinado país e uma determinada placa indica a mão da avenida.

• Sinal Formal: É conhecido concomitantemente ao objeto. Em outras palavras é o conceito mental que vimos na Aula 1. Assim que conhecemos a idéia (sinal mental do objeto), conhecemos o objeto (nem antes, nem depois).

b)Também pode ser dividido conforme a causalidade envolvida:• Sinal Natural: É conhecido devido a uma relação de causa entre o objeto e o

sinal. A fumaça é sinal de fogo.

• Sinal Convencional: O objeto é conhecido devido a uma atribuição arbitrária de significado. Assim, certos sinais de fumaça podem significar guerra ou pedido de socorro.

As letras também são sinais convencionais de um som.

Na figura acima, todos os caracteres sinalizam o mesmo som, o som de "a'.

4- ConclusãoA importância de se conhecer esses termos advem da necessidade, para o lógico, de poder inteligibilizar o discurso, bem como verificar a inteligibilidade de outros discursos. Além do mais, é de suma importância ao raciocinar, esmiuçar os termos do raciocínio, uma vez que uma pequena indistinção no princípio, pode causar um erro tremendo ao final do mesmo.

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5-Bibliografia[1]Jolivet, Regis - Lógica, pág 59 e 60

"A linguagem exprime, pois, ou significa do nosso pensamento, tudo aquilo que é necessário para que uma outra inteligência, ao ouvir as palavras pronunciadas,

possa apresentar a si própria o mesmo pensamento."Jacques Maritain - Lógica Menor

1- IntroduçãoAristóteles dizia que não era possível trazer as coisas à discussão e por isso trazemos as idéias que vêm substituir as coisas. Por isso se faz necessário tanto para o raciocínio quanto para a comunicação deste que se tenha precisado o termo que representa o objeto da intelecção.Além do mais, quando enunciamos uma ou outra característica de um objeto, não enunciamos o objeto na sua totalidade, mas sim na sua parcialidade. Essa afirmação embora óbvia, é totalmente necessária quando lidamos com lógica, uma vez que através dos acidentes é que o homem conhece as coisas. 2- A SuplênciaAnteriormente, vimos o significado de termo (expressão verbal da idéia). Um termo pode ter diversos significados. O termo "homem", por exemplo, pode significar o humano do sexo masculino, o ser-humano como tal entre outras coisas. Quando tomamos um termo por um dos objetos que ele significa, podemos imediatamente conhecer esse objeto. Na oração "Pedro é homem", tomamos o termo "homem" pelo significado de humano do sexo masculino e atribuímos ao ser Pedro. Imediatamente, podemos conhecer tanto a natureza de Pedro, quanto o significado que tomamos do termo.A importância do estudo da suplência, advém de se corrigir as inferências lógicas.No caso em que concluímos a possibilidade de separação das sílabas do ser Pedro devido ao tomar equivocadamente o termo "homem" em seu outro sentido, temos uma conclusão lógica legítima, mas uma suplência lógica ilegítima, pois não podemos tomar um termo no seus significados múltiplos e atribuí-lo a algo de significado único. Daí é que seguem inúmeros problemas da filosofia moderna, onde consideram-se a multiplicidade significativa dos termos, uma multiplicidade do real, desfazendo, portanto, toda a unidade significativa.

Suplência - acepção de um termo em lugar de uma coisa para a qual esta substituição élegítima.

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3- Divisão da Suplênciaa) Propriedade da Suplência

• Suplência própria: Quando o termo é empregado no seu sentido próprio. Ex.: O leão é um mamífero.Nesse caso o termo leão tem o significado do animal que conhecemos

• Suplência imprópria: Quando o termo é empregado em sentido figurado. Ex.: Pedro é um leão.Neste caso, o termo leão pode ter o significado de voraz, feroz ou algo que o leão tenha, que Pedro possa ter.

b)Natureza da Suplência• Suplência essencial: Quando o termo designa algo que pertence essencialmente

à coisa. Na frase "Pedro é homem", homem é algo que Pedro tem que ter necessariamente para ser Pedro. Caso contrário, pedro seria essencialmente outra coisa.

• Suplência acidental: Quando o termo designa algo que pertence acidentalmente à coisa. Na frase "Pedro é cientista", cientista não é algo que Pedro precisa ter para ser Pedro, ou melhor, não é algo essencial a Pedro. Pedro pode ser ou cientista ou futebolista ou pintor e isso não muda sua essência.

c)Realidade da SuplênciaComo vimos na aula 1, seção 3, letra c, o ente pode ser real ou lógico. Caso tomemos um termo que represente um ente real ou um ente lógico, temos duas possibilidades.

• Suplência Real: Quando o termo designa um ente real.• Suplência Lógica: Quando o termo designa um ente de razão.

d)Grupalidade da Suplência• Suplência Distributiva: Quando o termo é designado a um grupo aonde cada

indivíduo adquire a característica individualmente. Na frase "Os políticos são corruptos.", cada político é corrupto individualmente, apesar da enunciação coletiva, isto é a característica se distribui à cada membro da coleção.

• Suplência Coletiva: Quando o termo é designado a um grupo e somente em grupo é que a característica é exercida. "Os políticos são em grupo de 15", essa suplência não se aplica aos políticos individualmente.

e) Determinação da Suplência:• Suplência Determinada: Quando o termo se aplica a um objeto tomado em

sentido determinado (específico, preciso e conhecido). ex.: "Algum homem é mentiroso" (este aqui e aquele lá)

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• Suplência Indeterminada: Quando o termo se aplica a um objeto tomado em sentido indeterminado(em geral, impreciso e desconhecido). ex.:"Algum homem é mentiroso" ( alguns homens entre os homens)

4-Conclusão:O fato de ignorar as diferentes formas de se tomar um termo, pode levar à inúmeros erros de lógica, por isso mesmo é que Aristóteles esmiuçou as diversas formas de tomar um termo, para que, ao raciocinar, não cometamos equívocos. 5-Bibliografia:Jolivet, Regis - Tratado de Filosofia, vol I - Lógica, pág 60 e 61.Maritain, Jacques - Ordem dos Conceitos: Lógica Menor, Páginas 82 a 99.http://kartei.blogspot.com/2010/09/logic-i.htmlhttp://www.dicio.com.br/suplencia/

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Aula 41-IntroduçãoAs idéias enquanto representação dos objetos podem atingir um determinado número de seres tanto internamente quanto externamente. Atingidos, podemos classificar tais seres em relação de compreensão e extensão.

2-A compreensão x Extensãoa)CompreensãoA definição de homem é animal racional. Tanto a idéia de animal quanto a idéia de racional tem seus significados próprios e independentes. Ambas se juntam para formar a idéia de homem. Nesse caso tanto animal quanto racional, estão compreendidos na idéia de homem. Assim sendo, podemos dizer com Jolivet, que a compreensão é o conteúdo de uma idéia.[1] b)A extensãoA definição de homem é animal racional. Essa definição se aplica a Aristóteles, a Tomás de Aquino, a Brähms, a Paulo, a João, a Zumbi dos Palmares... Assim sendo, esses seres aos quais essa idéia se aplica formam a compreensão da idéia. Segundo Jolivet, extensão é o conjunto de seres aos quais tal idéia convém.[2]2-RelacionamentoQuanto mais objetos compreenderem uma idéia, a menos seres tal idéia se extende. Assim é que a compreensão está na ordem inversa da extensão.A idéia de animal se extende a diversos seres vivos, a medida que associamos a idéia de racional a idéia de animal, diminuímos os seres aos quais tal idéia convém. E se ainda adicionarmos a idéia de oriental (animal racional oriental -> Homem oriental) reduzimos ainda mais a extensão da idéia. Fazendo isso sequencialmente, chegaremos ao indivíduo. Percebe-se que o conteúdo, isto é, a compreensão da idéia vai aumentando em ordem inversa a sua extensão. Assim, pode-se concluir que a idéia de ser é a idéia mais extensa que existe e também a mais despojada de todas.

3- A árvore de PorfírioTendo já observado uma relação entre extensão e compreensão, pode-se ainda organizar as idéias hierarquicamente conforme a extensão. Basta partir das idéias mais gerais até as idéias mais específicas.

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As idéias mais substanciais são chamadas gênero e as idéias mais individuais são chamadas espécie. Em prática, somente são chamados gênero as idéias que contiverem outras idéias gerais, e, espécie, toda idéia que contiver apenas indivíduos.[3]

4- O IndivíduoSe avançarmos a árvore de porfírio por mais um degrau, veremos que chegamos aos indivíduos. O indivíduo possui tantas características que se torna impossível extender sua idéia para além dele próprio.

5-ConclusãoApesar da aparente desnecessidade desse estudo, o conhecimento desses conceitos vai se mostrar de suma importância para os métodos de inferência que serão estudados futuramente. O raciocínio correto e elegante depende da precisão e situação adequadas das idéias no discurso, de forma que o estudo da extensão e compreensão se fazem indispensáveis.

5-Bibliografia[1],[2],[3]: Jolivet, Regis - Lógica, pág: 61, tese 46.http://www.ceismael.com.br/filosofia/nocoes-de-logica.htmhttp://www.simpozio.ufsc.br/Port/1-enc/y-micro/SaberFil/PeqLogica/2211y029.htmlhttp://spider.ufrgs.br:8001/servlet/SBReadResourceServlet?rid=1152023351581_2010903385_434&partName=htmljpeg

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Aula 5"Mox de generibus et speciebus illud quidem sive subsistunt sive in soles nudisque intellectibus posita sunt, sive substantia corporalia sunt an incorporalia, et utrum separata a sensibilibus an in sensibus posita et circa ea constantia, dicere recusabo."

Porfírio

1- IntroduçãoCom o fim das explanações introdutórias anteriores, damos sequência a uma importante questão para o Realismo Moderado: os predicáveis.Toda noção da filosofia realista parte do princípio da inteligência humana e das leis que a regem. Por determinar que a inteligência humana funciona através de idéias, considerações sobre idéias são sempre presentes na filosofia realista.

Já esboçamos anteriormente a diferença entre o Realismo Moderado e as outras correntes filosóficas no primeiro post. Resta agora especificar clara e minuciosamente a lei que determina ser a idéia exatamente a expressão mental da realidade.Insistimos em dizer que o raciocínio opera por idéias. A proposição é uma operação intelectual que utiliza idéias como meios. Ex.: O mar é azul.Na proposição de exemplo existem pelo menos duas idéias abstratas; a de mar e a de azul. Atribuindo-se azul ao mar através do verbo ‘ser’, estamos mencionando uma das características desse ser ‘mar’ que é o ser ‘azul’. Como tal proposição se dá no pensamento, segue-se que temos uma idéia mencionada de outra idéia.Podendo uma idéia se referir a outra, deve-se considerar duas possibilidades:[1]

• Afirmam algo de um sujeito em função da extensão. São os predicáveis que existem em número de 5.

• Afirmam algo de um sujeito em função da compreensão. São os predicamentos, que existem em número de dez.

As duas possibilidades são chamadas de universais.

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Ainda, Gardeil no seu tratado de lógica, afirma que o predicável é algo que possa ser encontrado em muitas coisas. E de fato, ‘azul’ pode se encontrar não só em mar, como no céu e em tantos outros seres. [2]Já discutimos anteriormente sobre a extensão e a compreensão. Vide aqui.

2- O PredicávelO predicável é a maneira pela qual uma coisa pode ser dita pelo sujeito. [3] Também podemos chamar o predicável de universal reflexo, pois não passa de um objeto de ato de reflexão. Isso, pois somente a reflexão pode ‘separar’ o azul do mar e na proposição enunciar tal característica de mar, econtrada por fruto da sua reflexão.Como se notou na árvore de porfírio, o gênero é determinado por uma diferença específica. Assim é que corpo se diferencia em corpo vivo e corpo não vivo (ex.: o vegetal e a pedra) através do fator ‘vida’.As diferenças específicas são em númerode cinco:

• Gênero (ou essência determinável): Universal relativo a seus inferiores especificamente diferente um dos outros aonde sua essência é exprimida de maneira incompleta. Ex.: O homem é animal. O cachorro é um ser vivo.

• Espécie (ou essência determinada): Universal relativo a seus inferiores que exprime completamente sua essência. Ex.:O cão é um ser vivo sensível.

• Diferença Específica (ou essência determinante): Universal relativo a seus inferiores que exprime sua qualidade essencial. Ex.: O homem é animal(1) racional.

• O próprio: Universal relativo a seus inferiores como qualidade necessária. Ex.: O homem é capaz de rir.

• O acidente: Universal relativo a seus inferiores como qualidade contingente. Ex.: Tomás é filósofo.

(1)Animal –> ser vivo sensível(2)Contigente –> Pode ser ou não ser.Segundo Jolivet, os universais não são coisas ou objetos de atribuição, são primeiramente entes de razão. Ao deparar com essa afirmação, pode-se perguntar imediatamente se o animal (ser vivo sensível) é apenas um ente de razão. O problema implica na questão da atribuição, aonde o universal é um modo de atribuição e não a coisa propriamente. Quando atribuo a tal ser o predicado ‘animal’, apenas exprimo desse ser sua categoria de existência. Se o ente de razão é o ente realizável apenas na inteligência, isso significa que não podemos apontar em uma direção na floresta e dizer: “Veja o animal enquanto tal.” Apenas podemos apontar em direção a um ser que possui dentre algumas características algumas que são comuns a outros seres exprimidas, ‘embaladas’ numa idéia que é a idéia de ‘animal’. Tanto é que a idéia de animal se extende a gato, a rato, a homem e a pólipo.

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3- ConclusãoA língua opera exatamente por predicações. Por isso, no estudo da língua temos o sujeito e o predicado. Contudo no estudo da linguagem sujeito e predicado só são observados enquanto ferramentas da linguagem, mas ignorados enquanto seres ontológicos que são. Na realidade, a língua é apenas o sinal sonoro da idéia e tentamos por meio da língua, comunicar ao exterior o que o pensamento já estruturou. Ainda assim, não são os predicáveis meros exercícios de abstração. São mesmo a expressão do real que a inteligência agrupa e a língua exprime da forma de texto. Mais tarde discutiremos tal assunto precisamente.A importância de se conhecer sobre os universais advém da necessidade de se colocar as proposições e inferências delas retiradas a devida realidade e aguçar a inteligência em direção da verdade, que sem a análise minuciosa da proposição e de seus universais não seria possível.

4- Bibliografia:[1] Collin, Enrique – Manual de FIlosofia Tomista; Tomo I – pág 28[2] Gardeil, H.D. – Introdução a Filosofia de São Tomás de Aquino; pág 206[3] Jolivet, Regis – Tratado de Filosofia; Lógica – pág 63

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Aula 61-Introdução Como vimos, o predicável é o que se diz do sujeito. Como os predicáveis não possuem realização fora do indivíduo, mas na inteligência que o conhece, depreende-se que os predicáveis não são entes reais, mas sim entes lógicos. Isso não significa que eles sejam falsos ou que não correspondam a realidade. O predicável é apenas o meio de que a inteligência dispõe, ao analisar um objeto, para discriminar suas propriedades. Contudo existe uma outra forma de classificação, os atributos reais do sujeito.

2- Os Predicamentos Os predicamentos, ao contrário dos predicáveis, são entes reais. Em outras palavras, os predicamentos são modos de existência. Assim, os modos de existência são dois:

• Substância - Existe em si mesmo• Acidente - Existe em outro ser

Por isso dizemos que "leão" existe em si mesmo, é substância. Mas vermelho é acidente, já que apenas existe em outro. Daí leão vermelho é um termo para explicitar o acidente de um ser(cor).

2.1- Os acidentes Os acidentes existem em outros seres de diversas formas. Aristóteles cita, pelo menos nove modos de existir em outro ser.

1. Qualidade2. Quantidade3. Relação4. Ação5. Paixão6. Localização7. Posição8. Situação no tempo (presente, passado ou futuro)9. Ter

Apesar de Aristóteles ter suscitado 9 categorias de acidentes, Jolivet afirma[1] que essas categorias são passíveis de melhoria, podendo-se hipoteticamente adicionar a categoria "movimento"

3- Acidente predicável e acidente predicamento Se volvermos ao texto anterior (Aula 5), poderemos relembrar que entre os predicáveis havia um classificado como acidente. Da mesma maneira, há um predicável classificado como acidente, ou melhor existem 9 predicamentos que são acidentes. Também vimos que os predicáveis são de ordem lógica e os predicamentos são de ordem real, assim há que de distinguir entre o acidente tido como predicável e o acidente tido como predicamento.

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O acidente predicável se opõe ao "próprio" (quinto predicável), já o acidente predicamento se opõe à "substância".

4- Pré-predicamentos e pós-predicamentos4.1- Pré-predicamentos Os pré-predicamentos são, como diz Aristóteles, preâmbulos à teoria dos predicamentos e se manifestam sob a forma de distinções.a)É preciso distinguir entre o que se diz e o que existe;b)É preciso distinguir entre ser dito de um sujeito e estar em um sujeito;c)Coisas que estão em um sujeito e se atribuem a eled)Coisas que não estão no sujeito e não estão no sujeito4.2- Pós-predicamentosOs pós-predicamentos são as propriedades dos predicamentosa)Oposição e suas espécies

• Relação • Contradição• Privação• Contrariedade

b)Prioridade e suas espécies• Tempo• Conhecimento• Dignidade• Natureza• Causalidade

c)Simultaneidade• De tempo• De natureza

d)Movimento5- Conclusão Embora pareça meramente teórico, o conhecimento dos predicamentos pode alicerçar todo o discurso lógico. Primeiro, pois se distinguimos corretamente os entes de razão (predicáveis) dos entes reais (predicamentos) podemos ter a noção completa do que se está raciocinando. Afinal, quando um termo é tomado em sentido de predicável, devemos considerá-lo como tal. Segundo, pois se tivermos noção dos pré-predicamentos, teremos o domínio completo do discurso lógico, isto é saberemos distinguir os termos. Terceiro, se soubermos a natureza dos pós-predicamentos, como a contradição, poderemos conduzir o discurso evitando ou facilitando conclusões. Quarto, pois é necessário que todo o discurso tenha valor racional e isso só se pode ao esmiuçar os termos, expressões verbais da idéia.6-Bibliografia[1]Jolivet, Regis - Logica (pág 66)

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Aula 71-Introdução Depois de examinarmos cuidadosamente os predicáveis e predicamentos, convém analisar a atribuição por si.

2-Atribuição por si• Predicado que convém por si mesmo e necessariamente ao seu sujeito e lhe pode ser atribuído imediatamente.

3- Os três modos de atribuição• Modo 1: Quando o predicado compõe a essência e parte da essência do sujeito• Modo 2: Quando o predicado é uma propriedade do sujeito• Modo 3: Quando o predicado exprime ação própria do sujeito

O modo 1 pode ser exemplificado como na frase: O homem é um animal racional. Animal racional compõe a essência (racional) e parte de essência (animal) do sujeito. O modo 2 pode ser exemplificado com a frase: O homem é capaz de rir. O modo 3 pode ser exemplificado com a frase: O pintor pinta. 4- ConclusãoOs modos são observáveis após elucidarmos a natureza lógica dos predicados.

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Aula 8"Quia vero ex compositis simplicium cognitionem accipere debemus (...)" Santo Tomás de Aquino - De ente et Essentia, capítulo 1 - parágrafo 2

1- Introdução As idéias podem ser classificadas em diferentes grupos, dependendo do ponto-de-vista. Nesta aula trataremos dos pontos de vista da compreensão e extensão. Lembrando que a extensão são os seres aos quais convém uma ideia e a compreensão é o conteúdo de uma ideia. Assim, a ideia de números racionais convém a determinados sujeitos (3/4; 2/5 etc) e compreende a ideia de números inteiros (2; -3) e números naturais ( 0; 1; 5).

2- Quanto à Compreensão• Simples ou Composta

A ideia pode conter um ou mais elementos. Caso contenha apenas um elemento, a chamamos de simples. Caso contenha mais elementos a chamamos de composta. Assim a ideia de "ser" é simples em relação a ideia de "homem".A ideia também pode ter seus elementos apreendidos separadamente. Caso seja possível essa apreensão separada, classificamos, da mesma forma, a ideia como composta. Caso contrário a chamamos de simples. Neste sentido, a ideia de "homem" é simples em relação a ideia de "montanha de ouro".

• Concreta ou AbstrataA ideia pode ser aplicada a um sujeito ou a natureza de um sujeito. Quando a ideia se aplica somente ao sujeito, dizemos que é uma ideia concreta. Quando se aplica ao gênero do sujeito, é abstrata. No primeiro sentido teríamos a ideia de "homem", no segundo sentido teríamos a ideia de "humanidade".

• Positiva ou NegativaA ideia também pode exprimir um ente possível ou uma privação. (Vide aula 1, 3 -c) Caso exprima um ente real, a chamamos positiva, caso exprima uma privação, a chamamos de negativa. (Vide de Ente et Essentia).

• Direta ou ReflexaA ideia é a representação intelectual do objeto. (Vide aula 1) O objeto pode ser um objeto interior ou exterior, isto é , uma coisa ou uma ideia. Quando a ideia representa um ou mais objetos, a chamamos direta. Quando a ideia represente

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uma ou mais ideias, a chamamos reflexa. Neste caso, a ideia é um produto de reflexão da inteligência sobre as ideias que detém.

3- Quanto a Extensão• Ideia Singular

Aplica-se somente a um indivíduo. Como no caso "este livro".• Ideia Particular

Aplica-se somente a uma parte da espécie ou gênero dado. Como no caso "alguns homens". Em geral vem sempre acompanhada pelo termo "alguns".

• Ideia UniversalAplica-se a todos os indivíduos de uma espécie ou gênero dado. Como no caso "homem".

• Conceitos Coletivos e DivisivosOs conceitos coletivos são aplicados a indivíduos em conjunto e os conceitos divisivos são aplicados a indivíduos tomados como tais.

É estranho que haja uma classificação de idéias como idéias universais, uma vez que por definição a ideia é universal. Sobre essa questão, traduzimos um excerto de Enrique Collin: "Esta divisão afeta a ideia desempenhando a função de sujeito na proposição, e serve para determinar a zona de aplicação do atributo, diferente segundo a quantidade do sujeito; por exemplo na proposições seguintes: Este homem (singular) , algum homem (particular), todo homem (universal) é mentiroso. A ideia coletiva difere da universal em que expressa um grupo enquanto tal, o único a quem convém o predicado que se atribui-lhe; por exemplo Os apóstolos eram doze. Os Capetos reinaram muitos séculos. Considerada em si mesma, sem nenhuma partícula determinativa, toda ideia é abstrata, como vimos, e, por tanto, universal. Quando se comparam muitas, somente pode dizer-se que tal ideia é mais geral que outra, se inclui a esta em seus inferiores; assim, a ideia de polígono é mais geral que a de triângulo, porque esta não é mais geral que a de triângulo, porque esta não é mais que um dos inumeráveis inferiores daquela." Em concordância com Collin, Gardeil afirma em seu tratado de Lógica Tomista: "Do ponto de vista da extensão, em si mesmo, todo conceito é universal, quer dizer, ele tem tôda a sua extensão."4- Conclusão Essa distinção é de suma importância, pois em uma discussão ou argumentação, tanto falada quanto escrita, se inferirmos algo a partir da ideia "homem" somente será possível verificar a legitimidade da inferência se tiver em conta qual sentido cobre a ideia "homem" .5- BibliografiaH.D. Gardeil - Iniciação a Filosofia de Tomás de Aquino ; Tomo I, pág 176Enrique Collin - Manual de Filosofia Tomista; Tomo I, págs 27 e 28Regis Jolivet - Curso de Filosofia; Tomo I, págs 68 e 69Tomás de Aquino - De Ente et Essentia

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Aula 91- Introdução As idéias também se relacionam mutuamente. Como o raciocínio é uma concatenação de idéias, ter claramente os modos pelos quais as idéias se relacionam é um meio de ter claramente o meio pelo qual as idéias se concatenam; em outras palavras, conhecer as diferentes relações entre idéias favorece a clareza de raciocínio e essas diferentes relações são classificadas pela lógica.

2- Relações Mútuas entre as Idéias As idéias podem se relacionar de 4 formas:

•Idéias Contrárias - São idéias que admitem meio termo entre elas. Assim a ideia de cão branco é contrária a ideia de cão preto, já que pode haver um cão preto e branco.•Idéias Contraditórias - São idéias que não admitem meio termo entre elas. Desta maneira a ideia de desempregado é contraditória a ideia de empregado, já que não é possível ser e não ser empregado ao mesmo tempo. Em geral, ideias contraditórias são expressas uma pela negação da outra. Amizade - Inimizade; Verdadeiro - Falso; Ser - Não ser são exemplos de idéias e suas respectivas negações.•Idéias Privativas - São idéias que representam a ausência de qualidades em um sujeito que as possui naturalmente. Assim a ideia de homem cego em relação a ideia de homem que vê é privativa, já que a cegueira é a privação da visão.•Idéias Relativas - São idéias as quais uma não se dá sem a outra. A ideia de pai é relativa a ideia de filho, já que não há um pai que não tenha tido um filho.

3- Conclusão Em geral quando se discorda de um indivíduo, é necessário demonstrar a ideia contraditória para que a tese adversária seja julgada falsa. Assim a tese de que o cachorro é azul só pode ser refutada a medida que fique estabelecido que o cachorro não é azul. Demonstrar que o cachorro é branco ou demonstrar que o azul é relativo ao verde não destrói completamente a tese de que o cachorro é azul. No máximo adicionam à tese notas que não haviam sido mencionadas.

4- BibliografiaRegis Jolivet - Manual de Filosofia, tomo I (Lógica e Cosmologia, pág 69)

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Aula 101- Introdução Relembrando a Aula 1 aonde depreendeu-se que a ideia é a representação intelectual do objeto, continuamos com as classificações das idéias, separando-as conforme sua perfeição.

2- Perfeição das Idéias

• Quanto a Adequação1.Adequada - se apresenta à inteligência todas os elementos do objeto.2.Inadequada - se não apresenta à inteligência todos os elementos do objeto.

Assim, uma ideia de boi não é adequada ao gato, por não apresentar à inteligência todas os elementos do objeto. Mesmo que a ideia de boi comporte a ideia de mamífero , sendo o gato também um mamífero ela não é suficiente para representar "gato".

• Quanto a Claridade 1. Clara - se basta para fazer reconhecer seu objeto entre os outros objetos.2. Obscura - se não basta para fazer reconhecer seu objeto entre os outros objetos.

Assim, dizer que Maurício é homem pouco distingue ele dos outros alunos da sala. Esse fato é bastante claro para a lógica interior do indivíduo. A professora pergunta: "Quem sujou a sala?" Joãozinho responde: "Um ser humano!" Apesar de a ideia ser adequada à espécie do indivíduo que realizou tal ato, ela não esclarece qual indivíduo dentre tantos indivíduos realizou o ato.

• Quanto a Distinção1. Distinta - Quando se faz conhecer os elementos que compõem seu objeto.2. Confusa - Quando não se faz conhecer os elementos que compõem seu objeto.

O que se verifica na distinção das idéias é que muitas delas podem ser claras, mas ao mesmo tempo confusas. Desta forma é que o jardineiro possui uma ideia clara da flor-de-maio, mas confusa. Ao contrário, o botânico conhece todos os elementos que compõem a flor-de-maio, gineceu, androceu e suas diversas características que diferenciam a espécie. (Ver diferença específica e árvore de Porfírio)

3- Conclusão O conhecimento das perfeição da ideia pode auxiliar no raciocínio da seguinte maneira: Analisando-se uma ideia conforme sua perfeição (distinção, claridade e adequação) pode-se corrigir erros de raciocínio quando se conectam idéias as quais uma ou várias são imperfeitas. Aperfeiçoando a ideia, o raciocínio pode prosseguir seguramente seguindo as regras lógicas.4- BibliografiaRegis Jolivet - Curso de Filosofia, Lógica e Cosmologia (pág 71)

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Aula 11

"Estamos, portanto, de acordo em que as palavras são signos."Santo Agostinho - De Magistro

1- Introdução

A charge acima nos denuncia algo comum na linguagem: a de que as palavras podem ter diferentes significados. O cômico ali ocorre devido a um erro de lógica que é a consideração do significado das palavras. No português, a palavra "manga" pode ter dois significados ao menos: parte de uma camisa aonde enfia-se o braço ou uma fruta. Ao tomar "manga" sempre por fruta, erraríamos ao concluir que toda camisa possui uma fruta e que seria doce por isso. Obviamente na linguagem corrente e popular tais problemas não acontecem, mas nos textos de raciocínio mais delicado e abstrato aonde uma mínima diferença de significados pode determinar uma conclusão completamente errônea, é importantíssimo ter em conta o significado das palavras.Como vimos anteriormente, as palavras são sinais da ideia. Falsos significados linguísticos podem ser sinal de falsos significados de ideias. E, se por um lado parece claro que as palavras pode ter significados diversos, não parece claro que as ideias que elas representam (bem como as ideias em geral) possuem significados diversos. Para isso a lógica estuda as ideias do ponto de vista da significação.

2- Classificação das idéias quanto a significaçãoQuanto a significação, uma ideia pode ter três classificações a seguir: As palavras possuem a mesma classificação.

•Equívoca - que expressa coisas distintas.

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•Unívoca - que expressa uma coisa unicamente. •Análoga - que expressam coisas distintas, mas de alguma forma semelhantes.

Assim é que a palavra "manga" é equívoca, isto é , expressa duas coisas totalmente diferentes. Já a palavra cão aplica-se tanto a Totó quanto a Zeca, embora ambos os animais pertençam a mesma espécie, são indivíduos distintos. Por este motivo, a palavra cão é unívoca, isto é, aplica-se a distintos sujeitos da mesma forma, com o mesmo significado. Por fim, a palavra ser aplica-se a vários indivíduos, mas de forma distinta. Todo ser é, mas é de forma diferente.Outra maneira de se pensar os termos análogos é como um meio-termo entre os termos equívocos e os termos unívocos. Por isso a palavra "saudável" pode se aplicar à aparência de Pedro, ao arroz integral e ao corpo de Pedro. Como escreve Jolivet: "O alimento produz a saúde, o aspecto fisionômico a exprime, mas só o corpo a possui.". Assim podemos perceber que entre termos análogos há sempre certa relação, mas nunca total unidade e nem total distinção.

3- Significado e InterpretaçãoComo as palavras podem ter diversos significados, somente quando se sabe seu significado no contexto é que um texto pode fazer sentido para o leitor. Assim é que quando um autor quer despistar o real sentido das suas palavras, utiliza-se de maior quantidade de palavras ambíguas.Os textos sagrados, como é o texto bíblico, são textos cuja interpretação depende do conhecimento do que aquelas palavras podem significar e sobretudo do conhecimento do que aquelas palavras significam em um tal contexto. De certo modo, a interpretação da Sagrada Escritura não é para todos. Somente para os indivíduos que detenham o significado correto das palavras ali contidas. Não significa que ninguém deva conhecer a bíblia, mas significa que deve-se conhecer a bíblia através da interpretação legítima e crível de uma autoridade legitimada para exercer tal finalidade.Não só a Sagrada Escritura tem essa propriedade, bem como qualquer livro de conteúdo aprofundado. O leigo que toma um volume de Contraponto, mas não sabe o que são os termos musicais contidos no texto, ou tirará conclusões falsas ou não concluirá nada. O leigo que abrir um livro de Física Matemática, mas não dominar os sinais que representam os diversos fenômenos físicos, também sucederá o mesmo. Por isso, pode-se dizer que de certa forma somos analfabetos para um determinado assunto, ou seja, certos signos não nos dizem nada.

4- Significado e SerAinda se admitirmos que o conceito é a representação intelectual do objeto, temos que, de certa maneira, as diferentes classificações quanto ao significado dos termos podem estender-se até diferentes modos de ser da coisa que tal conceito representa. Por esse motivo será conveniente em Metafísica, analisarmos se o ser é unívoco, equívoco ou análogo. As diferentes respostas são assumidas por diferentes correntes do pensamento humano: A gnose, o panteísmo e o realismo moderado.

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Segundo Orlando Fedeli em seu livro "Nos Labirintos de Eco", a gnose toma o ser por equívoco, o panteísmo toma o ser por unívoco e o realismo moderado toma o ser por análogo.A grosso modo pode-se dizer que ou o ser é de idêntica forma em todos o seres, ou é da mesma forma no ser e no não-ser ou é de formas semelhantes, porém distintas em todos os seres.

5- ConclusãoPara análise lógica de um texto, é fundamental sua interpretação legítima, pois erros de interpretação obviamente conduzirão a erros de raciocínio, se é que já não constituem-se propriamente em erros de raciocínio.

6- BibliografiaSanto Agostinho - De Magistro, pág 76 (Vozes 2009)Regis Jolivet - Lógica e Cosmologia, pág 70 (AGIR 1969)Orlando Fedeli - Nos labirintos de Eco, págs 28 a 31 (Veritas 2004)Enrique Collin - Manual de Filosofia Tomista/Tomo I, pág 34 (Luis Gili 1950)

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Aula 12"São ditas análogas as realidades que apresentam entre si algumas similitudes."

H.D. Gardeil

1- Introdução

Uma das questões mais interessantes em lógica é o estudo da analogia. Por dois motivos:

1.A analogia é muito utilizada para fazer entender conceitos complexos.2.A analogia é o método que utilizamos para perceber o ser.

Contudo se vê claramente que é preciso uma direção para aplicar a analogia corretamente e esta direção é a lógica que nos dá.

2- Da Analogia A Analogia consiste em uma unidade relativa entre dois seres e, por conseguinte, entre duas ideias. Isso quer dizer que não é uma unidade do tipo matemática aonde X = 3 e nem uma unidade linguística como burro (animal) é a mesma palavra que burro (ignorante). Uma se refere a dois termos unívocos (x e 3) a outra se refere a dois termos equívocos(burro e burro). Na verdade, a analogia consiste em um meio termo entre essas duas relações. Vejamos o que diz Santo Tomás acerca da analogia:"As atribuições analógicas nos aparecem manifestamente como intermediárias entre as atribuições unívocas e as atribuições equívocas. No caso de univocidade, com efeito, um mesmo nome é atribuído a sujeitos diversos segundo uma razão ou uma significação semelhante, assim o termo animal reportado ao cavalo e ao boi significa substância animada sensível. No caso da equivocidade, um mesmo nome vê-se atribuído à diversos sujeitos segundo uma razão totalmente diferente, como aparece evidentemente para o nome cão, atribuído ao astro e uma certa espécie animal. No que concerne às noções ditas analogicamente, um mesmo nome é atribuído a diversos sujeitos segundo uma razão parcialmente a mesma e parcialmente diferente: diferente pelos mesmos modos de relação: a mesma por aquilo a que se reporta a relação. (...)" Metafísica , XI , 1, 3 , n 2197. Assim fica estabelecido que a analogia é uma certa semelhança entre dois termos ou seres.

3- Espécies de Analogia1. Analogia de Atribuição

A analogia de atribuição é quando atribuímos um termo a outro termo que não o contém. Assim diz-se que maçã é saudável, mas quando na verdade, saudável só o corpo. A maçã produz a saúde.

2. Analogia de ProporcionalidadeÉ aquela analogia que se encontra na semelhança entre duas relações. Desta forma, olho está para visão como ouvido está para audição.

• Analogia Própria - Exatamente como a anterior

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• Analogia Metafórica - Analogia em que apenas um dos analogados possui o termo analogado. É quando se diz que os campos riem, quando na verdade eles não riem e nem sequer produzem o riso objetivamente. Mas por certa similitude entre o movimento da vegetação com o movimento do lábio no riso, pode-se dizer que os campos riem. Esta analogia é muito utilizada em teologia.

Figura: Analogia de Proporcionalidade

4- Conclusão A analogia de atribuição é pouco utilizada cientificamente. Contudo a analogia de proporcionalidade é utilizada tanto em ciências empíricas quanto em ciências abstratas como a metafísica. Em metafísica o uso da analogia de proporcionalidade é bastante reduzido e só é utilizado na demonstração de que o ser é análogo. Já a analogia metafórica só é utilizada em teologia. Assim, sabendo da ciência que se está utilizando, deve-se escolher o tipo de analogia legítimo e, caso escolha, saber aplicar a analogia corretamente, conforme o quadro acima pôde evidenciar.

5- BibliografiaH.D. Gardeil - Introdução à Filosofia de S. Tomás de Aquino (páginas 833 a 842)E. Collin - Manual de Filosofia Tomista (páginas 34 e 35)R. Jolivet - Lógica e Cosmologia (páginas 70 e 71)

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Aula 13 "Uma ideia definida é como um botão convertido em flor."

Enrique Collin1 - Introdução À pergunta "O que é" respondemos com uma definição [1]. Mais claramente: respondemos com a essência do objeto. Assim se perguntarmos o que é homem, deve-se responder animal racional. Saber o que a coisa é, em outras palavras dizer a essência da coisa, é de suma importância para a ciência , uma vez que toda ciência tem um objeto. Uma ciência do homem, precisa saber o que é homem (animal racional) para então debruçar a razão sobre tal objeto. Como um alvo, o objeto precisa ser definido para ser alcançado. Um arqueiro que não sabe o que é o alvo e aonde está, não poderá acertar a flecha no alvo, a menos por acidente. Desta maneira, das mais importantes questões para a lógica é a definição. Etimologicamente, definir é limitar, e o limite das coisas conhecemos mediante análise da sua extensão e compreensão (vide aula 8) e dos predicáveis da coisa (vide aula 5). Logicamente, definir é explicitar a natureza da coisa ou a significação de um termo. A finalidade da definição é clarear o termo em meio a confusão dos dados sensoriais na apreensão. Para que sejam feitas boas definições, a Lógica nos oferece um conjunto de reflexões e regras que nos asseguram o êxito.

2- Método para definição Os métodos para definir algo são a síntese e a análise. (Enrique Collin)

•Síntese - Partindo de um elemento universal que pertence ao objeto em questão para chegar , através dos gêneros inferiores sucessivos, ao gênero próximo e à diferença específica do objeto. •Análise - Extraindo de diferentes sujeitos a quem se aplicam a ideia que há de se definir o elemento comum em que se baseia essa atribuição comum observando-os no caso mais comum e típico.

2.1- Exemplo de Síntese Caso queira se definir ser humano, deve-se ir primeiro resolvendo os gêneros mais superiores e depois os gêneros mais inferiores.a) É ser ou não-ser? Ser.b) É corpóreo ou imaterial? Corpóreo.c) É vivo ou inanimado? Vivo.d) É sensível ou vegetativo? Sensível.e) É racional ou irracional? RacionalAssim pode-se definir homem por "ser corpóreo vivo sensível e racional". Como "ser vivo" implica que seja um ser material e "ser vivo sensível" é a definição de animal, pode-se substituir na sentença o termo "ser vivo sensível" por "animal". O resultado final da definição é: "Animal Racional".

2.2- Exemplo de Análise

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Caso queira se definir ser humano, necessita-se aplicar a ideia aos seres aos quais convém. Assim se aplicaria a ideia de homem a Pedro, a João, a Joaquim, a Maria, a Fernando, a Júlia e a medida que se enumerarem indivíduos suficientes, procurar as características em comum: São corpóreos, são vivos, são animais, são racionais etc. E assim definir finalmente a ideia de homem: animal racional.

3- Divisão A definição pode se dividir em duas classes.

• Definição nominal - É a que fixa o emprego de uma palavra, expondo a significação do termo, mas não dizendo o que a coisa é. Ex.: Definição nominal de hipócrita - falso. De nada adianta definir desse jeito, caso não se saiba o que é "falso".

• Definição real - É a que exprime a natureza da coisa, dizendo o que é.3.1- Tipos de Definição Real A definição real pode ser:

• Extrínseca - pelas causas exteriores (eficiente e final). Ex.: Choro é resultado da dor.

• Intrínseca - pelos elementos necessariamente ligados à essência. Ex.: Lágrima é líquido que possui tal enzima e tal sal.

• Descritiva - pelas propriedades e pelos seus efeitos. Ex.: Ferro é elemento de tal cor, que conduz eletricidade, possui tal e tal característica.

• Essencial Física - pelas partes físicas essenciais, matéria e forma. Ex.: Pizza é alimento circular feito com trigo.

• Essencial Racional - pelo gênero e diferença específica. Ex.: Homem é animal racional.

4- Regras da Definição1. Deve ser mais clara que o definido - Dizer que o homem é um certo ser não

define a sua natureza.2. Deve convir a todo o definido e só ao definido - Dizer que o homem é animal

não define o que é homem. Da mesma maneira dizer que o homem é animal racional de cor branca também não.

3. Que não contenha o definido - Dizer que a luz é um corpo luminoso não define luz.

4. Que não seja negativa - Dizer que vegetal não é um mineral não define vegetal.5. Que seja breve - Uma definição muito longa torna difícil a sua utilização.

5- Limites da definição Há quatro casos em que não é possível a definição. São eles:

1. Ideias simplíssimas 2. Noções generalíssimas3. Indivíduos4. Dados sensoriais

As ideias muito simples como a ideia de ser não são definíveis por não haver o que clarear; ser é o que é. Noções muito gerais como qualidade, quantidade por serem

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gêneros supremos não possuem gêneros próximos que as definam. Os indivíduos por possuírem uma alta complexidade e compreensão são indefiníveis. Os dados sensoriais já são naturalmente claros, sem necessidade de definição para os clarear; azul é azul.

6- Conclusão Uma boa definição é crucial para o raciocínio Lógico. Sempre que possível deve tentar-se criar uma definição essencial racional, mas quando não for possível, tentar utilizar as outras formas de definição.

7- Bibliografia

Jacques Maritain - A Ordem dos Conceitos, Lógica Menor (AGIR - 13 Edição/ págs 100 a 103)Regis Jolivet - Curso de Filosofia, Lógica e Cosmologia (AGIR - 4 Edição/ págs 71 a 73)H. D. Gardeil - Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino, Introdução a Lógica (L. 4 - C. 1, C. 2, C. 3 e C. 4)Enrique Collin - Manual de Filosofia Tomista/Tomo I (Luis Gili Editor - 2 edição/ págs 36 e 37)Pe Álvaro Calderón - Umbrales de La Filosofia [1]

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Aula 14"Como se viu em Lógica, a demonstração deve proceder de princípios evidentes, anteriores e mais notórios que as conclusões, pois nada pode esclarecer-se do mais obscuro."Pe Alvaro Calderon - Los Umbrales de La Filosofia, pág 360

1- IntroduçãoComo visto anteriormente definir é , sob certo aspecto, dizer o que é a coisa. Uma ideia é uma representação intelectual de um objeto, para definir-se uma ideia é necessário não só dizer qual objeto ela representa, mas também o que é este objeto. Assim, procedemos delimitando o objeto que a ideia representa, dizendo o que é e sobretudo dizendo o que não é. Esse procedimento lógico é consequência natural da extensão e compreensão dos seres e por conseguinte da extensão e compreensão das ideias.Por outro lado, para se obter uma boa definição de uma ideia, é preciso analisar seu conteúdo, expor seus elementos, mostrar suas partes. A esse procedimento lógico chamamos de divisão.

2- A divisãoDividir é separar um todo em partes. Assim dividir um dinheiro é separar a quantia total em partes menores. Dividir um livro é separar devidamente os capítulos. Dividir uma família é individualizar, desvincular seus parentes. Dividir uma ideia é expor corretamente seu conteúdo. Assim, podemos perceber que há pelo menos três formas de divisão.

•Física•Lógica•Moral

a)Divisão FísicaUm todo físico pode se distinguir em quantitativo, essencial, potencial ou acidental. De qualquer maneira, em um todo físico, as partes são bem distintas umas das outras.O todo quantitativo é um todo cujas partes são homogêneas, quer dizer , como no caso do dinheiro em que todas as partes são homogêneas.Ao contrário do todo quantitativo , o todo potencial é constituído por diferentes partes. O livro é constituído de capítulos essencialmente diversos.Um todo acidental é um todo formado por partes que não são essenciais para sua formação. Pode ser o caso de uma casa, cujos tijolos estão ordenados para formar acidentalmente um imóvel ou o caso de dr. Pedro que não precisa ser médico para ser Pedro, mas ser médico é uma das partes desse ser que é o todo que chamamos Pedro.Já um todo essencial é o inverso de todo acidental. É quando as suas partes são "essenciais" por assim dizer, para formar um todo.Dessa forma, conforme os diferentes tipos de todo físico, haverão diferentes tipos de divisões físicas.

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b)Divisão MoralUm todo moral é um todo cujas partes estão unidas moralmente para o mesmo fim. Um exército é um exemplo de todo moral. Dividir um exército é desmembrá-lo nos seus soldados individualmente.

c)Divisão LógicaA divisão lógica é a que propriamente nos interessa. Contudo, a exposição de outros tipos de divisões nos deixa confortáveis para entender o que é uma divisão lógica, principalmente se procedermos por analogia para chegarmos a conclusão da sua existência.Quando analisamos a árvore de Porfírio, definimos o homem como um animal racional. Mas o que quer dizer essa definição?Se dividirmos o termo "animal racional" em duas partes, percebemos que há uma parte simples, o termo "racional" e uma parte composta, o termo "animal". Dividindo o termo "animal" em suas partes, percebemos que animal é um vivente sensível. E quando dividimos o termo "vivente" em suas partes, percebemos que se compõe de "ser vivo".Isso quer dizer que a ideia de homem pode ser expressa em ser vivo sensível racional. Com a ideia dividida, podemos muito facilmente entender o que é o homem, podemos dizer o que é. Sabemos que o gênero é um ente de razão, realizáveis na inteligência, mas com fundamento na coisa, contudo.Dessa forma sabemos que a divisão lógica versa sobre entes de razão, que são os gêneros e seus gêneros subalternos.

3- Regras para uma boa divisãoA lógica é uma ciência diretiva da razão. Deste modo sempre lidaremos com regras para proceder corretamente no raciocínio. Não podia ser diferente com a divisão. Para uma divisão ser boa é preciso:

• ser completa - enumerar todos os elementos do todo lógico• ser irredutível - enumerar suas partes sem redundância• ser fundamentada sob mesmo aspecto - enumerar princípios da mesma natureza

Conforme essas diretrizes consistiriam erros dizer que um livro é composto de capítulos e letras (elementos devem pertencer a um mesmo aspecto); um corpo é constituído de braços (falta de elementos); um corpo é constituído de braços e dedos (redundância).5- ConclusãoO objeto da lógica é o raciocínio, o objetivo da lógica é o bom raciocínio. Como não podemos racionar a partir de conceitos obscuros, a divisão e a definição são processos altamente necessários para se proceder racionalmente.

6-BibliografiaPe Alvaro Calderón - Los Umbrales de la FilosofiaC. Lahr - Manual de Filosofia (pág 320 e 321)Regis Jolivet - Curso de Filosofia, tomo I ( página 73 e 74)

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Aula 151- IntroduçãoAnteriormente vimos que a primeira operação do espírito é aquela pela qual a inteligência apreende a essência do objeto. Chamamos isso de apreensão. A apreensão é uma operação devidamente simples: toma os caracteres do objeto e os interioriza na forma de uma representação intelectual, a ideia. Contudo é possível dividir os elementos da ideia e os colocar sob uma perspectiva mais complexa, o juízo. Segundo st Tomás, o juízo é a própria atividade do conhecimento, aonde a inteligência se pronuncia sobre um objeto, dizendo o que é ou o que não é.

2-Definição de juízoVamos buscar diversas definições de juízo para entendermos o que é precisamente.

•Ato da inteligência que une, por afirmação ou divide, por negação. (St Tomás)•Afirmação de uma conveniência ou de não conveniência entre dois conceitos. (Kant)•Ato de afirmar ou de negar a existência de um sujeito ou de uma determinação do sujeito. (Jolivet)•É a afirmação ou negação. (Calderón)•Afirmação de uma coisa de outra. (Aristóteles - citação de C. Lahr e E. Collin)

Embora as primeiras definições não estejam equivocadas, para uma definição Aristotélica, vamos adotar a última, que é mais realista, inclusive, por ser mais sintética que analítica. As definições anteriores nos colocam diante de uma explicação ou definição detalhada do juízo, nos informam a noção geral através do senso comum e precisa o que compõe o juízo. Mas a definição aristotélica, por simples que é, obedece inclusive ao próprio princípio do juízo, que consiste em afirmar algo. Já as anteriores, não só definem o objeto (a saber o juízo) como definem os termos que definem o objeto, tornando a inteligibilidade do termo "juízo" um pouco mais complexa.Assim, quando dizemos

• A bola é vermelha.• A baleia é um mamífero• O céu é azul• Deus existe• Não existe quimera

estamos diante de juízos, meras afirmações das coisas. Parece, entretanto, que o juízo pode ser também uma negação, mas a negação consiste numa afirmação de não conveniência entre os dois conceitos, sendo portanto uma redundância as definições que se afastam da definição de Aristóteles.

3- Processo do Juízo A) Apreensão B) Seu relacionamento

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C) A percepção da conveniência (ou da não conveniência) D) A afirmação da conveniência (ou negação) E) A enunciação do juízo

Obviamente para haver juízo, é necessário que haja apreensão, pois se o juízo estabelece a conveniência entre duas ideias, é preciso que antes hajam essas duas ideias. Contudo não bastam duas ideias isoladas para existir juízo. É preciso que as ideias estejam relacionadas. Há ideias que estão relacionadas, mas não estão julgadas. É o caso de céu azul, borboleta negra etc. Para haver juízo é necessário perceber se as duas ideias envolvidas são convenientes ou não. Isto é, se azul é conveniente a céu, se negra é conveniente a borboleta etc. Após essa percepção, imediatamente a inteligência se pronuncia afirmando ou negando: o céu é azul, a borboleta não é negra etc. Todas as partes essenciais do juízo já estão prontas, contudo por necessidade de comunicação, o homem pode escolher expressar linguisticamente o juízo através de uma enunciação linguística, que também chamamos de proposição.

4-Quatro aspectos do juízo• O juízo é um ato uno e indivisível, porém tem objeto complexo.• O juízo supõe necessariamente a apreensão• O juízo se distingue da proposição• Na proposição, um predicado se diz de um sujeito

O objeto do juízo é a relação entre duas ideias. Sendo um objeto divisível, é complexo. Contudo o juízo é uma operação una. Ou afirma ou nega. Ou diz "é" ou diz "não é". Afirmação e negação são operações indivisíveis.Como dito acima, o juízo sempre estabelece a relação entre ideias. Para estabelecer relação entre elas, é preciso que elas existam primeiramente e é através da apreensão que as ideias tomam existência. Logo o juízo pressupõe a apreensão.Assim como o termo é a expressão verbal da ideia, a proposição é a expressão verbal do juízo. Enquanto o juízo é um ato meramente intelectual, a proposição é um ato linguístico.

5- Regras Formais do JuízoSíntese é o ato pelo qual a inteligência simplifica um objeto complexo. Análise é o processo inverso, aonde a inteligência esmiuça um objeto complexo expondo suas partes.Assim, os juízos podem ser analíticos ou sintéticos. Os juízos analíticos são o juízos cuja em que o atributo é idêntico ao sujeito. Ex.: o homem é animal racional; o animal é ser vivo sensível etc. Os juízos analíticos consistem, pois em julgar uma ideia conforme seu conteúdo. Os juízos sintéticos são os juízos em que o atributo não é essencial ao sujeito. Ex.: Esta bola é vermelha; Este gato é gordo; Pedro é novo etc.Conforme esses dois tipos de juízo, C. Lahr propõe 3 regras para a formação de juízos.

• Todo juízo analítico é necessariamente verdadeiro

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• Todo o juízo sintético em que o atributo não é contraditório a ideia do sujeito, não é verdadeiro nem falso, mas é possível.

• Todo o juízo sintético em que o atributo é contraditório a ideia do sujeito é falso, isto é, impossível.

Os juízos analíticos são verdadeiros pois constituem apenas em expor o conteúdo de uma ideia (sua compreensão), dessa forma são sempre verdadeiros. Se afirmo as coisas que uma ideia é, estou afirmando a verdade. Os juízos sintéticos não-contraditórios são possíveis, por não incluir nos atributos características opostas ao sujeito. Já os juízos sintéticos contraditórios são impossíveis por afirmar do sujeito algo que ele não é e nem nunca poderá ser. Ex.: esta bola é quadrada. (se for quadrada não é bola, é cubo).

6- ConclusãoTerminemos com uma conclusão não nossa, mas de St Tomás.

"A inteligência pode conhecer sua conformidade com a coisa inteligível, todavia ela não a percebe no momento em que ela apreende a quididade de uma coisa. Porém, é quando ela julga que a coisa é realmente tal nela mesma, que ela a concebe, que essa faculdade conhece e exprime pela primeira vez a verdade. E ela o faz compondo e dividindo. Porque, em toda proposição, ou ela aplica a uma coisa significada pelo sujeito uma forma significada pelo predicado, ou ela o nega. Eis porque, falando propriamente, a verdade está na inteligência que compõe e que divide, e não nos sentidos, ou na inteligência enquanto ela percebe a quididade das coisas."

7- BibliografiaPe Alvaro Calderon - Umbrales de la Filosofia (pág 64 a 67)C. Lahr - Manual de Filosofia (pág 321 e 322)R. Jolivet - Lógica e Cosmologia (pág 75, 76 e 82)J. Maritain - Lógica Menor (pág 109)H.D. Gardeil - Introdução Filosofia de St Tomás de Aquino/Lógica (pág 235 a 239)Aristóteles - Categorias IV, V e VI(pág 84 a 86)st Tomás de Aquino - Suma Teológica (1a parte , questão 16)E. Collin - Manual de Filosofia Tomista/Lógica (pág 38 e 39)

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Aula 161- IntroduçãoVimos anteriormente que o juízo é a afirmação de algo. Contudo o homem tem necessidade de comunicar sua atividade intelectual ao exterior. Em geral essa comunicação é feita mediante linguagem. Na Aula 2, ficou demonstrado que:

•O termo é expressão verbal da ideia•O sinal convencional não apresenta causa natural

Embora a Aula 2 fale da ideia, o mesmo se aplica ao juízo. As observações são pertinentes ao fato de que a linguagem é um sinal convencional. Nenhuma palavra ou frase significa algo naturalmente. Apenas o homem impõe convencionalmente um significado a um som ou conjunto de sons, em que os outros homens partilhando da mesma convenção podem compreender o interior da inteligência de um homem. Assim "bala", "bolo", "bola", "bela", "bule etc são sinais convencionais de certas ideias. Porém não só por ideias procede o intelecto humano, mas também por juízos e raciocínios. Se a língua é um sinal convencional, e o termo é expressão verbal da ideia, o que seria a expressão verbal do juízo?

2- A sentençaA sentença é fala dotada de significação. Apesar disso, nem toda sentença expressa um juízo. Por exemplo:

• Venha conosco!• O que é átomo?

As sentenças anteriores não expressam juízos por não afirmar nem negar algo sobre algum objeto. Além disso há de se notar que mera associação de palavras não constitui um juízo, pelo mesmo motivo. Exemplo: Ser vivo bípede, movimento uniformemente variado etc.

3- A proposição.As sentenças que encerram falsidade ou verdade são chamadas de proposição. Em outras palavras, a proposição é uma expressão verbal do juízo.Toda proposição exige como partes um sujeito, um predicado e um verbo, quer dizer uma coisa e algo dito dessa coisa (afirmação ou negação). O verbo e o sujeito são partes essenciais da proposição. O sujeito e o predicado são chamados de elementos materiais do juízo, o elemento formal é o verbo, já que o verbo é a afirmação ou negação do sujeito e o juízo constitui exatamente em uma afirmação ou negação de um sujeito.Em outras palavras, quando temos dois nomes "Pedro" e "músico", não temos ainda o juízo, mas temos elementos quer servem de material para construção do juízo. A medida que inserimos o elemento fundamental, o verbo, transformamos aquela ideia composta ("Pedro músico") em juízo: Pedro é músico. Assim o verbo "ser" é o que dá forma ao juízo, mas precisa de material para isso, o sujeito e o predicado.Por outro lado, há diversas sentenças que são juízos, mas parecem não ser. É o caso de "Pedro corre".

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Dependendo do sentido da sentença "Pedro corre", pode-se interpretar como um juízo se a sentença "Pedro corre" puder ser reduzida a "Pedro é corredor" ou "Pedro é habituado a correr" ou "Pedro é capaz de correr" etc. Desta maneira, fica evidente que muitas vezes a linguagem corrente pode ser um obstáculo para a elucidação da atividade lógica, por isso aconselha-se a devida análise das sentenças e proposições a fim de verificar seu real significado. Como observa Lahr, há na lógica apenas o verbo ser. Se por ventura há um juízo que não possui o verbo ser, como no caso de "Pedro corre" é sinal de que o verbo ser deste tal juízo está acidentado de algum predicado. Há ainda o caso em que o verbo ser parece estar livre de predicado, quando usado no sentido existencial. Como "Cavalo existe", ou "Pégasus não existe" ou "Deus é" etc. Ora nesses casos o juízo pode ser decomposto em "Cavalo é existente", "Pégasus não é existente" e "Deus é existente".

4- ConclusãoPara a lógica, utilizaremos juízo em que se utilizam o verbo ser. Os juízos devem ser bem estabelecidos e analisados antes de qualquer raciocínio a fim de evitar sofismas e péssimas conclusões.

5- BibliografiaAristóteles - (Da interpretação) Perihermeneias cap IV e VH.D. Gardeil - Iniciação a Filosofia de Tomás de Aquino/Lógica (A segunda operação do espírito)R. Jolivet - Lógica (Pág 76 e 77)E. Collin - Manual de Filosofia Tomista (pág 39)C. Lahr - Manual de Filosofia (pág 322)

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Questões de Lógica Formal1.O que 'e ideia?2.O que é termo?3. O que se entende por gênero e espécie?4.O que se entende por compreensão e extensão?

5.Compare em compreensão e extensão os seguintes conceitos:a) Barco e Naviob) Militar e Generalc) Branco e Cord) Artefato e Casae) Ciência e História

6.O que são predicáveis? Dê exemplos.7.Construa uma árvore de Porfírio (por exemplo com elementos matemáticos ou zoológicos).8. Diferencie termos unívocos, equívocos e análogos. Exemplifique.9.Faça uma lista de termos unívocos.

10.Dê os diversos significados dos termos abaixo:a) Péb) Mãoc) Raizd) Folhae) Diaf) Horag) Dietah) Ladrão

11.Dê pares de termos equívocos.12.Dê pares de termos análogos.13.Quais as regras para uma boa definição?