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    forma equilibrada e socialmente justa (LIMA, 2005). Esse fenmeno tem como

    objetivo principal a gerao de renda utilizando os recursos naturais, que por ora so

    explorados e apropriados (DIAS, 2003).

    Assim, o fenmeno turstico cresce com o desenvolvimento tecnolgico de

    vrios setores e com as mudanas econmicas ocorridas, principalmente, no final do

    sculo XX, sobretudo no ps-guerra, quando se observou que as atividades

    tursticas tinham significncia tanto econmica, quanto social, especialmente para

    pases em desenvolvimento como o caso do Brasil, que atrai a ateno de

    profissionais, pesquisadores, empresrios e turistas com diversas motivaes e

    propsitos para buscar os destinos tursticos (SOUZA, 2005).

    Desse modo, essa crescente demanda pelo turismo traz junto de si doisaspectos fundamentais: um positivo e um negativo. O impacto positivo a gerao

    de emprego e renda que potencializa benefcios comunitrios e tenta minimizar a

    diferena e a desigualdade social. O impacto negativo o crescente interesse de

    turistas por ambientes naturais frgeis e a rpida disseminao deste tipo de

    atividade com capacidade de alterar o meio ambiente em curto espao de tempo

    (DIAS, 2003). A identificao dos impactos negativos permite encontrar solues

    que diminuam os efeitos destrutivos do turismo s comunidades receptoras e nomeio ambiente, garantindo o bem-estar dos atores sociais.

    Atualmente, garantir o bem-estar das populaes , para Silva (2001),

    colocar a comunidade em destaque, voltar as atenes para o desenvolvimento

    local, uma vez que a comunidade receptora o principal ator no desenvolvimento,

    implantao, gesto e controle do turismo, pois, a participao garante a

    sustentabilidade da atividade turstica e permite que se identifique as problemticas

    locais e as prioridades da populao envolvida.Swarbrooke (2000) tece consideraes importantes acerca da participao

    da comunidade local, afirmando que esta para estar envolvida no planejamento e

    administrao do turismo sustentvel, ou seja, o modelo mais ideal que no degrada

    os recursos naturais e culturais, a comunidade deve falar em uma s voz, deve

    sentir que pertence a um grupo que motivados por outras pessoas, se envolvem

    com os ideais da comunidade.

    Para Ghedin (2006) a participao comunitria pode ser entendida como

    uma organizao de pessoas que almejam um objetivo, a partir de assuntos que

    condizem com as atividades a serem realizadas pela comunidade de forma coletiva.

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    Assim a participao permite que o processo de organizao social intervenha nas

    decises e, consequentemente, promova o desenvolvimento comunitrio.

    Por essa razo a presente pesquisa parte do olhar da comunidade receptora

    da serra do Tepequm, localizada no municpio de Amajar, que est vivenciando as

    experincias com o turismo, aps depararem-se com um problema que ps em jogo

    a sobrevivncia dos moradores, sobretudo com a extino do garimpo, principal

    atividade econmica da regio. Assim, o turismo se tornou uma oportunidade, vista a

    priori, como impossvel, mas que hoje se percebem muitos resultados positivos,

    especialmente no bem estar da populao local.

    A relevncia de introduzir estes aspectos nas discusses acerca do turismo

    desenvolvido na Serra do Tepequm devido ao seguinte fato: do ponto de vistaeconmico, a maioria das reas onde so praticadas atividades tratada como

    recursos de todos, com livre acesso e, considerados como recursos de propriedade

    comum, so sistematicamente explorados sem nenhum tipo de preocupao com a

    manuteno dos mesmos.

    Nesse sentido, vale ressaltar a importncia de se pensar no respeito s

    comunidades locais e na sua preservao mediante a postura tica dos turistas,

    preocupando-se com a proteo e sustentabilidade do meio natural e socioculturalonde as comunidades esto inseridas.

    Isto se remete a pensar no futuro, e de que forma encarar a dignidade da

    vida e o bem-estar da comunidade com tantas desigualdades sociais, objetivando

    reverter ou minimizar este quadro, uma vez que o ambiente no qual estas

    comunidades esto inseridas vem passando por descaracterizaes para a

    construo de diversos atrativos tursticos que negligenciam a cultura local,

    apropriam-se das terras para a criao de parques e complexos hoteleiros que estoassociados a riscos e injustias sociais (RODRIGUES, 1999).

    Partindo desta anlise que se objetiva mostrar neste estudo a trajetria

    histrica do turismo que hoje realidade para os moradores da Serra do Tepequm,

    municpio de Amajar Roraima. No entanto, necessrio o entendimento do antes

    e depois da chegada do turismo, haja vista se tratar de uma comunidade tradicional,

    que ainda guarda sua cultura arraigada nos costumes e modo de vida dos

    moradores. Por isso, cabe a esta pesquisa incentivar uma nova forma de

    desenvolvimento das atividades tursticas na Serra do Tepequm, visando o

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    envolvimento dos atores sociais desta localidade, partindo do pressuposto histrico-

    cultural da comunidade em estudo.

    2 METODOLOGIA DE PESQUISA

    A metodologia escolhida se baseou, alm da pesquisa bibliogrfica e

    documental, na pesquisa de campo, atravs das entrevistas semi-estruturadas,

    definidas como as mais adequadas para atender ao problema a ser investigado.

    Neste sentido, optou-se para a presente pesquisa a do tipo descritiva, por observar,

    registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenmenos sem manipul-los, reunindo

    todas as variveis acima descritas (CERVO, BERVIAN, DA SILVA, 2007, p.61).Essa fase exploratria inicial, em que comeam a ser detectados os

    problemas, os atores e os tipos de aes possveis e necessrias, foi essencial para

    a obteno de um nmero significativo de informaes que auxiliaram na elaborao

    de um quadro conceitual que pudesse orientar a presente pesquisa, pela definio

    de objetivos e fixao de metas que nortearam as aes futuras.

    Assim, a pesquisa de campo foi de fundamental importncia para que se

    pudesse entender a relao existente entre as variveis socioculturais, econmicas

    e ambientais do objeto em estudo, a fim de entender os anseios e os desejos

    comunitrios sobre o turismo que se desenvolve na rea e o grau de envolvimento

    dos atores sociais no processo de desenvolvimento do turismo. Entendido que os

    atores sociais se baseiam na comunidade receptora.

    Para tanto, foi necessria a utilizao da metodologia de Estudo de Caso

    descritivo analtico, um tipo de pesquisa de enfoque qualitativo cujo objeto a

    anlise em profundidade de uma unidade, neste caso especfico, a Comunidade da

    Serra do Tepequm, municpio de Amajar, Roraima. Para Alencar (2003) o Estudo

    de Caso no , em si, uma escolha metodolgica, mas a escolha de um objeto a ser

    estudado, pois uma estratgia de pesquisa abrangente.

    Nesse sentido, as entrevistas semi-estruturadas realizadas com os

    moradores da comunidade compreenderam uma amostragem de 30 (trinta)

    entrevistados, que habitam a Serra do Tepequm e que direta ou indiretamente so

    influenciados pela atividade turstica neste local. Tambm, foram realizadas

    entrevistas com os donos dos estabelecimentos divididos em dois grandes grupos,

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    conforme classificao do Ministrio do Turismo, que so os meios de hospedagem

    e os meios de alimentao.

    Desta forma, foram identificados 08 estabelecimentos, voltados para o

    comrcio alimentcio e 06 estabelecimentos que trabalham com o segmento de

    hotelaria e rea de camping. Ressaltando que estes dados sero melhores

    esclarecidos nas discusses dos dados.

    As anlises das entrevistas e a observao participativa auxiliaram na

    compreenso da histria da comunidade, de seu processo participativo e do sistema

    turstico atual existente na comunidade da Serra do Tepequm (construo,

    funcionamentos, desafios).

    Os dados coletados serviram para traar o perfil da comunidade no quetange o poder de tomada de deciso ou no acerca do turismo desenvolvido nesta

    localidade, que est inserida no contexto histrico, econmico e poltico do Estado

    de Roraima.

    3 ESTUDO DE CASO: A SERRA DO TEPEQUM

    3.1 Localizao e Histrico do Tepequm

    O estado de Roraima est cortado de norte ao sul pela estrada federal BR-

    174, com 850 km, une a Repblica Bolivariana da Venezuela com Manaus,

    passando pela capital do estado, Boa Vista. Todos os municpios se comunicam por

    essas estradas federais ou estaduais, que formam uma malha viria de 2.851 km,

    dos quais 937 km esto asfaltados. Destes somente 150 km pertencem ao municpio

    de Amajari e apenas 50 km favorecem a Serra do Tepequm (GHEDIN, 2006).

    O municpio de Amajar est localizado no extremo noroeste do Estado de

    Roraima, distante de 158 km de Boa Vista, capital do Estado. Faz fronteira ao nortecom o municpio de Pacaraima e Venezuela, ao sul com os municpios de Alto

    Alegre e Boa Vista, ao leste com Boa Vista e Pacaraima e a oeste com a Venezuela

    De acordo com os estudos realizados por Ghedin no ano de 2006, na

    mesma regio de estudo pode-se retirar algumas informaes acerca do municpio

    de Amajar, bero que abriga a Serra do Tepequm. Este municpio foi criado em

    1995 com uma rea de 28.598,40 km2. A populao residente desta rea de 5.299

    habitantes, dos quais 56% so homens e 44% so mulheres. Este mesmo estudoaponta, com base nos dados do IBGE que rea urbana habitada, representa 17%,

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    ao passo em que 83% das pessoas que vivem ali moram em reas rurais. Uma

    parte do municpio formada por rea indgena Yanomami e Terra Indgena So

    Marcos.

    Conforme aponta Ghedin (2006), o municpio de Amajar teve seu

    surgimento com um pequeno grupo de pessoas que se instalou, tendo o comrcio

    como principal motivo, s margens do rio Amajar, esta rea passou a ser conhecida

    como Vila Brasil, que logo passou condio de municpio. Esta regio conta com

    outros ncleos populacionais, tais como a Vila do Tepequm, objeto de estudo e o

    Trairo, com marco para a atuao de garimpeiros que formaram a economia do

    estado, na primeira metade do sculo XX.

    A Serra do Tepequm est localizada no municpio de Amajar, a 250 km dacapital de Boa Vista. O acesso possvel por via terrestre, pela BR-174, com

    estrada esquerda no km 100, no sentido Brasil/Venezuela. Seguem-se mais 55 km

    de estrada da RR-203, at a Vila Brasil, sede do municpio de Amajar e mais 100

    km de estrada em boas condies de trafego e um cenrio encantador, chega-se a

    Serra, definida pelas seguintes coordenadas 346'-3 51' N / 61 40'-61 49' W

    (BRIGLIA, 2005). O clima da regio caracterizado por duas estaes bem

    definidas: uma estao seca, com incio no final de dezembro, estendendo-se atmeados de abril; e uma estao chuvosa, entre maio e novembro, com precipitaes

    pluviomtricas anuais de cerca de 2250 mm. As temperaturas mdias mximas e

    mnimas giram em torno de 32C e 20C, respectivamente. J nas reas de maior

    altitude registram-se temperaturas mais baixas (MELO e ALMEIDA FILHO, 1996).

    A Serra Tepequm constitui uma rea com caractersticas particulares no

    ambiente amaznico, onde predominam solos arenosos e friveis cobertos por

    vegetao rala formada por campos limpos (MELO e ALMEIDA FILHO, 1996). Doponto de vista geolgico a regio localiza-se no Escudo das Guianas, entidade

    tectnica integrante do Crton Amaznico, compondo uma imensa cadeia de

    montanhas que recebe vrias denominaes, entre elas: Pararaima e Parima, com

    altitudes mdias de 1.500 m e de acordo com os mesmos autores formada por

    conglomerados, arenitos finos, siltitos, argilitos, arenitos grosseiros a

    conglomerticos com intercalaes de conglomerados. cortada por vrios rios que

    formam grandes e belas quedas dgua.

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    Figura 1 Serra do Tepequm. Fonte: Zanona Neto, 2004

    De acordo com Ghedin (2006) a histria da Serra do Tepequm est

    intimamente relacionada com a prtica do garimpo na regio desde 1936, ao mesmo

    tempo em que havia trabalhos nas fazendas de gado. A atividade garimpeira se

    intensificou nas dcadas de 1950 e 1960, quando houve o auge do garimpo de

    diamante, atraindo a ateno de grande parte das pessoas.

    Figura 02: Barraco de garimpeiro do Tepequm. Fonte: NORTON, 2010.

    Por volta da dcada de 1930, divulgaram-se notcias sobre a abundncia de

    ouro e diamantes nessa regio amaznica, especialmente nas fronteiras de Roraima

    com a Repblica Bolivariana da Venezuelae de Roraima como a Guiana Inglesa. A

    partir disso, grupos de comerciantes e fazendeiros investiram na minerao, como

    tambm chegaram garimpeiros de vrias reas brasileiras, buscando riqueza sem

    esforo. Em 1943, a produo de ouro e diamante representaram cerca de 59,6% do

    valor total da produo em Roraima (OLIVEIRA, 2003).

    Os estudos de Brglia (2005) sobre a Histria e Cultura Garimpeira de

    Tepequm: produtos do ecoturismo, afirmam que na Serra do Tepequm

    encontram-se a Vila do Cabo Sobral e a Vila do Paiva. A primeira foi uma

    homenagem ao militar que se instalou na regio por volta da dcada de 40 para a

    explorao de grandes quantidades de diamantes no igarap da referida vila. De

    acordo com os relatos dos habitantes mais antigos, foi nessa vila que se iniciou a

    histria do garimpo no Tepequm.

    J a Vila do Paiva, concentra hoje a maior comunidade da Serra. Em 2005,

    viviam aproximadamente 150 pessoas morando na parte central do Tepequm,

    porm atualmente, conforme relatos orais dos moradores da serra, esse nmero

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    vem aumentando, pois vivem aproximadamente 105 famlias, com mdia de trs

    membros por famlia, totalizando um nmero superior a 300 pessoas habitando este

    local. O nome da Vila do Paiva tambm homenagem a um homem que lutou pela

    construo da primeira pista de pouso no Tepequm, e tambm nomeia o igarap

    que est prximo Vila (BRIGLIA, 2005).

    Os habitantes da Vila do Paiva so originrios das primeiras famlias de

    garimpeiros que ali viveram e tinham uma riqueza cultural infindvel, devido

    grande iluso de se tornar rico com a atividade garimpeira. Mas em 1985 pelodecreto de lei federal o garimpo de qualquer espcie estava terminantemente

    proibido. No entanto, esta lei no foi cumprida pelos nativos, haja vista ser a nica

    atividade econmica vigente na poca. Assim, em 2001 o Congresso Nacional

    aprovou a lei complementar que autorizava a prtica do garimpo de forma manual,

    sem a utilizao de maquinrios, que ocasionasse o mnimo de impacto ambiental

    na Serra do Tepequm (GHEDIN, 2006).

    3.2 Do Garimpo ao Turismo: a herana do local.

    A atividade de garimpagem no Tepequm engrenagem funcional da

    histria de Roraima. A riqueza mineral do estado atraiu os olhares de milhares de

    pessoas, especialmente os imigrantes nordestinos, responsveis pelo povoamento

    de Roraima, e ao mesmo tempo vieram em busca do cobiado El Dourado. Este fato

    justifica o desenvolvimento rpido do municpio de Amajar, sobretudo da Serra do

    Tepequm, bero de uma herana natural de minrios.

    Figura 03: Vila do Paiva em 2006.Fonte, NORTON, 2006.

    Figura 04: Vila do Paiva em 2010.Fonte: Autora, 2010.

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    A atividade garimpeira particularmente importante no estado de Roraima,

    onde praticada h mais de cinqenta anos, constituindo-se na nica fonte de renda

    de uma parcela substancial da populao do estado.

    O fator histrico e cultura da Serra do Tepequm esto intimamente ligados

    atividade do garimpo, pois a relao de parte dos garimpeiros do Tepequm com a

    terra que l desbravaram foi intensa e significativa ao ponto de faz-los

    permanecerem na regio, utilizando as mais rudimentares ferramentas para garantir

    sua subsistncia.

    Os garimpeiros do Tepequm praticamente no tiveram acesso educaoformal. Suas ambies estavam mais relacionadas ao atendimento de suasnecessidades bsicas e tinham pouca noo dos impactos que agarimpagem representa para o meio ambiente. Suas histrias de vida sodignas de respeito e considerao pelo trabalho desenvolvido e pelo queessa fase representou para o desenvolvimento de Roraima. (BRIGLIA,2005, p. 10)

    Brglia (2005) aponta que em 1940, no auge do garimpo na Serra do

    Tepequm, o local j era habitado por mais de mil pessoas, a fim de enriquecer

    rapidamente, trabalhando dia e noite para encontrar diamante. A grande explorao

    de minrios nessa regio se consolidou at o ano de 1955, pois a partir da dcada

    de 60, o garimpo defronta-se com o declnio da produo, haja vista que o diamanteiniciava seu processo de escassez.

    Dentre as atividades extrativas, o garimpo a que mais contribui para a

    degradao do meio ambiente. Desenvolvido atravs de tcnicas rudimentares, tem

    como conseqncias mais drsticas o desmatamento de matas ciliares e

    contaminao por mercrio de igaraps e rios.

    A despeito dos problemas ambientais envolvidos, a atividade garimpeira

    constitui uma importante fonte de renda, talvez a nica, para uma parcela

    significativa da populao brasileira na regio norte do pas.

    A despeito do problema social envolvido, torna-se cada vez mais urgente, a

    necessidade do estabelecimento de normas que possam ordenar e estabelecer

    alguma forma de controle da atividade garimpeira. Outra necessidade imediata diz

    respeito tomada de aes concretas por parte de rgos governamentais,

    direcionadas recuperao ambiental das reas j destrudas e contaminadas.

    De acordo com Ghedin (2006, p.22) atualmente a Serra do Tepequm

    apresenta grandes problemas ambientais decorrentes do garimpo, iniciando um

    processo erosivo surpreendente, mesmo assim:

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    no se desenvolveu alternativas para solucionar a problemtica desatisfazer necessidades atuais dos habitantes desta regio, semcomprometer a capacidade das geraes futuras na aplicao dasestratgias comunitrias, que permitam a sustentabilidade turstica,mediante o emprego de tecnologias eficientes, que produzam trocas nas

    formas de executar aes que almejem o desenvolvimento turstico.

    O Tepequm sofreu grandes impactos ambientas e que podem ser

    percebidos nos recursos naturais ali localizados, pois o resultado dessa ao est

    presente nos leitos dos igaraps do Paiva e Cabo Sobral, que hoje tem seu volume

    de gua reduzido a fios dgua (BRIGLIA, 2005).

    Figura 06: Igarap do Cabo Sobral aps atividade de garimpo.Fonte: Autora, 2009.

    O processo histrico da Serra do Tepequm representado, tambm, por

    manifestaes culturais que expressam o modo de vida da comunidade: o

    artesanato, a pesca (por meio do Projeto de Piscicultura), festas tradicionais e a

    culinria.

    Em 2001, a comunidade do Tepequm deparou-se com um problema que

    colocaria em jogo a sobrevivncia tanto econmica como social de seus moradores,

    pois receberam uma ordem judicial de que estava proibida qualquer atividade degarimpo que utilizasse mquinas de grande porte, ficando acordado que apenas o

    garimpo manual seria liberado. O Tepequm passou a enfrentar grandes

    dificuldades de gerao de renda, pois a nica forma que garantia a economia local

    era o garimpo.

    Diante deste fato, em 2002, a comunidade da Serra do Tepequm

    participou, conforme Ghedin (2006) do planejamento estratgico do municpio de

    Amajar, no qual formularam aes para o desenvolvimento do turismo na regio,pois o garimpo havia sido proibido. Assim, os habitantes comearam a participar de

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    programas de capacitao e sensibilizao quanto atividade turstica, tendo o

    apoio de instituies pblicas e privadas preocupadas com o futuro da comunidade

    que, a passos curtos, vivenciava o incio de uma atividade econmica e social para a

    comunidade, o turismo.

    O incio da atividade turstica no Tepequm foi bastante rduo, pois mesmo

    a comunidade percebendo que os recursos naturais e culturais so suas grandes

    riquezas, a mesma ainda no estava preparada, no que tange a infra-estrutura de

    apoio ao turismo, para oferecer um servio de qualidade aos visitantes. Ao mesmo

    tempo, o perfil do turista que se desenvolveu durante esse perodo foi de encontro

    com os anseios da comunidade, pois as pessoas que visitavam o local, a maioria

    aventureiros, no tinham em mente que a nica fonte de renda da populao era oturismo, e assim no investiam seus gastos na prpria comunidade, levando seu

    alimento e deixando apenas lixo.

    Outra estratgia de ao para garantir a renda e emprego da comunidade,

    aps a proibio do garimpo foi o Projeto de Piscicultura, onde foram criados

    grandes tanques naturais, herdados da ao do garimpo, para a criao de peixes

    regionais, com o intuito de vender para a prpria comunidade, bem como nas outras

    localidades, tais como Vila Brasil e Pacaraima.Aliado a este projeto, nasce tambm o Ncleo de Artesanato com a

    organizao de moradores para a produo e venda de artesanatos com a utilizao

    de matria-prima local, como a pedra sabo e a madeira pau rainha. Segundo

    Brglia (2005, p. 24) o processo de fabricao do artesanato teve sua origem numa

    prtica de escultura de um garimpeiro da comunidade, que percebeu a pedra sabo

    como uma matria-prima para esculpir objetos (signos), e logo socializou as tcnicas

    com outros companheiros da regio.Ghedin (2006) aponta em seu estudo o papel do SEBRAE (Servio Brasileiro

    de Apoio a Pequenas Empresas) em reunir a comunidade em prol do

    desenvolvimento de projetos de produo de artesanatos local (Figuras 07 e 08), a

    fim de ser comercializados nos hotis da regio, pois h muita visitao de

    estrangeiros no Tepequm.

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    Diante do exposto e da vocao natural para o turismo, percebe-se aimportncia de ter essa atividade aliada participao comunitria no processo de

    planejamento, organizao e gesto da atividade turstica, pois, a participao e o

    grau de mobilizao dos atores sociais se apresentam como principais responsveis

    pela qualidade dos resultados finais dos projetos de desenvolvimento e pela

    conquista de sua auto-gesto pelos beneficirios (MENDONA, 2004).

    CONCLUSES

    A comunidade da Serra do Tepequm, de maneira contraditria s demais

    prticas tursticas em curso no Brasil e, cansada de esperar do Estado solues

    para a melhoria da qualidade de vida, buscou o engajamento e a autonomia para o

    desenvolvimento de seu prprio turismo. Assim, o desafio se tornou realidade e, o

    discurso se expressou na prtica.Do resultado da aplicao destes instrumentos de pesquisa podem-se inferir

    algumas consideraes como:

    1. Em relao ao tempo mdio de residncia na serra, se pode perceber que a

    maioria dos habitantes oriunda da comunidade original de garimpeiros que deu

    origem vila; o que se pode perceber tambm, atravs das conversas no

    estruturadas com os moradores, que, quem no morador original do local, busca

    de alguma forma justificar sua estada ali, no por que veio em busca de montar um

    negcio para se beneficiar do ecoturismo, mas por que seu pai ou av foi morador

    do lugar e lhes deixou o terreno, enfim, nunca admitindo que comprou o terreno por

    Figura n 07: Artesanatos em pedra sabo.Fonte: Autora, 2009.

    Figura n 08: Jias em pedra sabo.Fonte: Autora, 2009.

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    preo desvalorizado de algum morador especificamente com o objetivo de montar

    um negcio.

    2. A maioria tem conhecimento das atividades tursticas que ali se

    desenvolvem, conhecem os atrativos, desenvolvem uma atividade turstica mas,

    subjetivamente, deixaram claro que no esto envolvidos ou conscientes de que seu

    lucro como empresrio do local, depende da sobrevivncia destes atrativos; em

    nenhum local visitado se pode perceber cartazes, folders, folhetos ou outro tipo de

    material de sensibilizao do turista com informaes, sugestes e orientaes para

    serem distribudos a eles. Isso nos leva a considerar que o trabalho de

    sensibilizao deve comear primeiramente com os empresrios locais, e depois

    com os turistas que visitam a serra.3. Nota-se tambm que todos os empresrios e a comunidade em geral so

    conscientes de que o benefcio ou o retorno financeiro que o turismo traz para a

    comunidade de suma importncia, pois atualmente, a principal (se no a nica)

    fonte de renda dos moradores da Vila do Paiva, entendendo que este retorno

    financeiro importantssimo para a sua subsistncia. Como resultado, se percebe as

    melhorias na infra-estrutura da comunidade, nas residncias, no crescimento do

    nmero de reformas que esto acontecendo, no aumento do nmero de mercearias,restaurantes, padaria e dos meios de hospedagem, alm do asfalto e do maior

    cuidado que se est tendo com a sade e a educao na vila;

    4. Quando se participa da vida cotidiana da comunidade, so constatados os

    conflitos existentes, a no homogeneidade de seus membros, mas, tambm, so

    observadas atitudes que freqentemente expressam a estima elevada e alta

    confiana, alm da crena que a comunidade ir alcanar os resultados esperados,

    traados de forma coletiva, mesmo no tendo o apoio efetivo das instituiesgovernamentais e apesar da limitada disponibilidade de recursos financeiros. Assim,

    a comunidade o real sujeito de sua histria.

    5. Pode-se considerar que, quando a participao disponibilizada aos

    membros de um grupo social de forma mais qualificada, ela distribui poder aos

    atores sociais. Quanto maior for a qualidade da participao, em termos de deciso

    poltica, maior ser o poder compartilhado. Porm, a participao sem auto-

    sustentao uma farsa. Assim, esta comunidade somente ir resistir lgica do

    mercado, se sua emancipao for uma verdade tambm em termos de

    sustentabilidade econmica, social e poltica.

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    Assim, entende-se que o turismo, bem como a pesca e o artesanato ou

    outras alternativas econmicas que possam surgir, deve conduzir a comunidade

    sua auto-sustentao tambm sob tica econmica, para que no haja dependncia

    extrema dos agentes externos. A auto-sustentao, sob essa tica, se constitui em

    um dos elementos essenciais para a promoo do desenvolvimento local.

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