ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
-
Upload
geografia-de-costa-rica -
Category
Documents
-
view
224 -
download
0
Transcript of ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
1/15
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
2/15
2
forma equilibrada e socialmente justa (LIMA, 2005). Esse fenmeno tem como
objetivo principal a gerao de renda utilizando os recursos naturais, que por ora so
explorados e apropriados (DIAS, 2003).
Assim, o fenmeno turstico cresce com o desenvolvimento tecnolgico de
vrios setores e com as mudanas econmicas ocorridas, principalmente, no final do
sculo XX, sobretudo no ps-guerra, quando se observou que as atividades
tursticas tinham significncia tanto econmica, quanto social, especialmente para
pases em desenvolvimento como o caso do Brasil, que atrai a ateno de
profissionais, pesquisadores, empresrios e turistas com diversas motivaes e
propsitos para buscar os destinos tursticos (SOUZA, 2005).
Desse modo, essa crescente demanda pelo turismo traz junto de si doisaspectos fundamentais: um positivo e um negativo. O impacto positivo a gerao
de emprego e renda que potencializa benefcios comunitrios e tenta minimizar a
diferena e a desigualdade social. O impacto negativo o crescente interesse de
turistas por ambientes naturais frgeis e a rpida disseminao deste tipo de
atividade com capacidade de alterar o meio ambiente em curto espao de tempo
(DIAS, 2003). A identificao dos impactos negativos permite encontrar solues
que diminuam os efeitos destrutivos do turismo s comunidades receptoras e nomeio ambiente, garantindo o bem-estar dos atores sociais.
Atualmente, garantir o bem-estar das populaes , para Silva (2001),
colocar a comunidade em destaque, voltar as atenes para o desenvolvimento
local, uma vez que a comunidade receptora o principal ator no desenvolvimento,
implantao, gesto e controle do turismo, pois, a participao garante a
sustentabilidade da atividade turstica e permite que se identifique as problemticas
locais e as prioridades da populao envolvida.Swarbrooke (2000) tece consideraes importantes acerca da participao
da comunidade local, afirmando que esta para estar envolvida no planejamento e
administrao do turismo sustentvel, ou seja, o modelo mais ideal que no degrada
os recursos naturais e culturais, a comunidade deve falar em uma s voz, deve
sentir que pertence a um grupo que motivados por outras pessoas, se envolvem
com os ideais da comunidade.
Para Ghedin (2006) a participao comunitria pode ser entendida como
uma organizao de pessoas que almejam um objetivo, a partir de assuntos que
condizem com as atividades a serem realizadas pela comunidade de forma coletiva.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
3/15
3
Assim a participao permite que o processo de organizao social intervenha nas
decises e, consequentemente, promova o desenvolvimento comunitrio.
Por essa razo a presente pesquisa parte do olhar da comunidade receptora
da serra do Tepequm, localizada no municpio de Amajar, que est vivenciando as
experincias com o turismo, aps depararem-se com um problema que ps em jogo
a sobrevivncia dos moradores, sobretudo com a extino do garimpo, principal
atividade econmica da regio. Assim, o turismo se tornou uma oportunidade, vista a
priori, como impossvel, mas que hoje se percebem muitos resultados positivos,
especialmente no bem estar da populao local.
A relevncia de introduzir estes aspectos nas discusses acerca do turismo
desenvolvido na Serra do Tepequm devido ao seguinte fato: do ponto de vistaeconmico, a maioria das reas onde so praticadas atividades tratada como
recursos de todos, com livre acesso e, considerados como recursos de propriedade
comum, so sistematicamente explorados sem nenhum tipo de preocupao com a
manuteno dos mesmos.
Nesse sentido, vale ressaltar a importncia de se pensar no respeito s
comunidades locais e na sua preservao mediante a postura tica dos turistas,
preocupando-se com a proteo e sustentabilidade do meio natural e socioculturalonde as comunidades esto inseridas.
Isto se remete a pensar no futuro, e de que forma encarar a dignidade da
vida e o bem-estar da comunidade com tantas desigualdades sociais, objetivando
reverter ou minimizar este quadro, uma vez que o ambiente no qual estas
comunidades esto inseridas vem passando por descaracterizaes para a
construo de diversos atrativos tursticos que negligenciam a cultura local,
apropriam-se das terras para a criao de parques e complexos hoteleiros que estoassociados a riscos e injustias sociais (RODRIGUES, 1999).
Partindo desta anlise que se objetiva mostrar neste estudo a trajetria
histrica do turismo que hoje realidade para os moradores da Serra do Tepequm,
municpio de Amajar Roraima. No entanto, necessrio o entendimento do antes
e depois da chegada do turismo, haja vista se tratar de uma comunidade tradicional,
que ainda guarda sua cultura arraigada nos costumes e modo de vida dos
moradores. Por isso, cabe a esta pesquisa incentivar uma nova forma de
desenvolvimento das atividades tursticas na Serra do Tepequm, visando o
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
4/15
4
envolvimento dos atores sociais desta localidade, partindo do pressuposto histrico-
cultural da comunidade em estudo.
2 METODOLOGIA DE PESQUISA
A metodologia escolhida se baseou, alm da pesquisa bibliogrfica e
documental, na pesquisa de campo, atravs das entrevistas semi-estruturadas,
definidas como as mais adequadas para atender ao problema a ser investigado.
Neste sentido, optou-se para a presente pesquisa a do tipo descritiva, por observar,
registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenmenos sem manipul-los, reunindo
todas as variveis acima descritas (CERVO, BERVIAN, DA SILVA, 2007, p.61).Essa fase exploratria inicial, em que comeam a ser detectados os
problemas, os atores e os tipos de aes possveis e necessrias, foi essencial para
a obteno de um nmero significativo de informaes que auxiliaram na elaborao
de um quadro conceitual que pudesse orientar a presente pesquisa, pela definio
de objetivos e fixao de metas que nortearam as aes futuras.
Assim, a pesquisa de campo foi de fundamental importncia para que se
pudesse entender a relao existente entre as variveis socioculturais, econmicas
e ambientais do objeto em estudo, a fim de entender os anseios e os desejos
comunitrios sobre o turismo que se desenvolve na rea e o grau de envolvimento
dos atores sociais no processo de desenvolvimento do turismo. Entendido que os
atores sociais se baseiam na comunidade receptora.
Para tanto, foi necessria a utilizao da metodologia de Estudo de Caso
descritivo analtico, um tipo de pesquisa de enfoque qualitativo cujo objeto a
anlise em profundidade de uma unidade, neste caso especfico, a Comunidade da
Serra do Tepequm, municpio de Amajar, Roraima. Para Alencar (2003) o Estudo
de Caso no , em si, uma escolha metodolgica, mas a escolha de um objeto a ser
estudado, pois uma estratgia de pesquisa abrangente.
Nesse sentido, as entrevistas semi-estruturadas realizadas com os
moradores da comunidade compreenderam uma amostragem de 30 (trinta)
entrevistados, que habitam a Serra do Tepequm e que direta ou indiretamente so
influenciados pela atividade turstica neste local. Tambm, foram realizadas
entrevistas com os donos dos estabelecimentos divididos em dois grandes grupos,
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
5/15
5
conforme classificao do Ministrio do Turismo, que so os meios de hospedagem
e os meios de alimentao.
Desta forma, foram identificados 08 estabelecimentos, voltados para o
comrcio alimentcio e 06 estabelecimentos que trabalham com o segmento de
hotelaria e rea de camping. Ressaltando que estes dados sero melhores
esclarecidos nas discusses dos dados.
As anlises das entrevistas e a observao participativa auxiliaram na
compreenso da histria da comunidade, de seu processo participativo e do sistema
turstico atual existente na comunidade da Serra do Tepequm (construo,
funcionamentos, desafios).
Os dados coletados serviram para traar o perfil da comunidade no quetange o poder de tomada de deciso ou no acerca do turismo desenvolvido nesta
localidade, que est inserida no contexto histrico, econmico e poltico do Estado
de Roraima.
3 ESTUDO DE CASO: A SERRA DO TEPEQUM
3.1 Localizao e Histrico do Tepequm
O estado de Roraima est cortado de norte ao sul pela estrada federal BR-
174, com 850 km, une a Repblica Bolivariana da Venezuela com Manaus,
passando pela capital do estado, Boa Vista. Todos os municpios se comunicam por
essas estradas federais ou estaduais, que formam uma malha viria de 2.851 km,
dos quais 937 km esto asfaltados. Destes somente 150 km pertencem ao municpio
de Amajari e apenas 50 km favorecem a Serra do Tepequm (GHEDIN, 2006).
O municpio de Amajar est localizado no extremo noroeste do Estado de
Roraima, distante de 158 km de Boa Vista, capital do Estado. Faz fronteira ao nortecom o municpio de Pacaraima e Venezuela, ao sul com os municpios de Alto
Alegre e Boa Vista, ao leste com Boa Vista e Pacaraima e a oeste com a Venezuela
De acordo com os estudos realizados por Ghedin no ano de 2006, na
mesma regio de estudo pode-se retirar algumas informaes acerca do municpio
de Amajar, bero que abriga a Serra do Tepequm. Este municpio foi criado em
1995 com uma rea de 28.598,40 km2. A populao residente desta rea de 5.299
habitantes, dos quais 56% so homens e 44% so mulheres. Este mesmo estudoaponta, com base nos dados do IBGE que rea urbana habitada, representa 17%,
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
6/15
6
ao passo em que 83% das pessoas que vivem ali moram em reas rurais. Uma
parte do municpio formada por rea indgena Yanomami e Terra Indgena So
Marcos.
Conforme aponta Ghedin (2006), o municpio de Amajar teve seu
surgimento com um pequeno grupo de pessoas que se instalou, tendo o comrcio
como principal motivo, s margens do rio Amajar, esta rea passou a ser conhecida
como Vila Brasil, que logo passou condio de municpio. Esta regio conta com
outros ncleos populacionais, tais como a Vila do Tepequm, objeto de estudo e o
Trairo, com marco para a atuao de garimpeiros que formaram a economia do
estado, na primeira metade do sculo XX.
A Serra do Tepequm est localizada no municpio de Amajar, a 250 km dacapital de Boa Vista. O acesso possvel por via terrestre, pela BR-174, com
estrada esquerda no km 100, no sentido Brasil/Venezuela. Seguem-se mais 55 km
de estrada da RR-203, at a Vila Brasil, sede do municpio de Amajar e mais 100
km de estrada em boas condies de trafego e um cenrio encantador, chega-se a
Serra, definida pelas seguintes coordenadas 346'-3 51' N / 61 40'-61 49' W
(BRIGLIA, 2005). O clima da regio caracterizado por duas estaes bem
definidas: uma estao seca, com incio no final de dezembro, estendendo-se atmeados de abril; e uma estao chuvosa, entre maio e novembro, com precipitaes
pluviomtricas anuais de cerca de 2250 mm. As temperaturas mdias mximas e
mnimas giram em torno de 32C e 20C, respectivamente. J nas reas de maior
altitude registram-se temperaturas mais baixas (MELO e ALMEIDA FILHO, 1996).
A Serra Tepequm constitui uma rea com caractersticas particulares no
ambiente amaznico, onde predominam solos arenosos e friveis cobertos por
vegetao rala formada por campos limpos (MELO e ALMEIDA FILHO, 1996). Doponto de vista geolgico a regio localiza-se no Escudo das Guianas, entidade
tectnica integrante do Crton Amaznico, compondo uma imensa cadeia de
montanhas que recebe vrias denominaes, entre elas: Pararaima e Parima, com
altitudes mdias de 1.500 m e de acordo com os mesmos autores formada por
conglomerados, arenitos finos, siltitos, argilitos, arenitos grosseiros a
conglomerticos com intercalaes de conglomerados. cortada por vrios rios que
formam grandes e belas quedas dgua.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
7/15
7
Figura 1 Serra do Tepequm. Fonte: Zanona Neto, 2004
De acordo com Ghedin (2006) a histria da Serra do Tepequm est
intimamente relacionada com a prtica do garimpo na regio desde 1936, ao mesmo
tempo em que havia trabalhos nas fazendas de gado. A atividade garimpeira se
intensificou nas dcadas de 1950 e 1960, quando houve o auge do garimpo de
diamante, atraindo a ateno de grande parte das pessoas.
Figura 02: Barraco de garimpeiro do Tepequm. Fonte: NORTON, 2010.
Por volta da dcada de 1930, divulgaram-se notcias sobre a abundncia de
ouro e diamantes nessa regio amaznica, especialmente nas fronteiras de Roraima
com a Repblica Bolivariana da Venezuelae de Roraima como a Guiana Inglesa. A
partir disso, grupos de comerciantes e fazendeiros investiram na minerao, como
tambm chegaram garimpeiros de vrias reas brasileiras, buscando riqueza sem
esforo. Em 1943, a produo de ouro e diamante representaram cerca de 59,6% do
valor total da produo em Roraima (OLIVEIRA, 2003).
Os estudos de Brglia (2005) sobre a Histria e Cultura Garimpeira de
Tepequm: produtos do ecoturismo, afirmam que na Serra do Tepequm
encontram-se a Vila do Cabo Sobral e a Vila do Paiva. A primeira foi uma
homenagem ao militar que se instalou na regio por volta da dcada de 40 para a
explorao de grandes quantidades de diamantes no igarap da referida vila. De
acordo com os relatos dos habitantes mais antigos, foi nessa vila que se iniciou a
histria do garimpo no Tepequm.
J a Vila do Paiva, concentra hoje a maior comunidade da Serra. Em 2005,
viviam aproximadamente 150 pessoas morando na parte central do Tepequm,
porm atualmente, conforme relatos orais dos moradores da serra, esse nmero
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
8/15
8
vem aumentando, pois vivem aproximadamente 105 famlias, com mdia de trs
membros por famlia, totalizando um nmero superior a 300 pessoas habitando este
local. O nome da Vila do Paiva tambm homenagem a um homem que lutou pela
construo da primeira pista de pouso no Tepequm, e tambm nomeia o igarap
que est prximo Vila (BRIGLIA, 2005).
Os habitantes da Vila do Paiva so originrios das primeiras famlias de
garimpeiros que ali viveram e tinham uma riqueza cultural infindvel, devido
grande iluso de se tornar rico com a atividade garimpeira. Mas em 1985 pelodecreto de lei federal o garimpo de qualquer espcie estava terminantemente
proibido. No entanto, esta lei no foi cumprida pelos nativos, haja vista ser a nica
atividade econmica vigente na poca. Assim, em 2001 o Congresso Nacional
aprovou a lei complementar que autorizava a prtica do garimpo de forma manual,
sem a utilizao de maquinrios, que ocasionasse o mnimo de impacto ambiental
na Serra do Tepequm (GHEDIN, 2006).
3.2 Do Garimpo ao Turismo: a herana do local.
A atividade de garimpagem no Tepequm engrenagem funcional da
histria de Roraima. A riqueza mineral do estado atraiu os olhares de milhares de
pessoas, especialmente os imigrantes nordestinos, responsveis pelo povoamento
de Roraima, e ao mesmo tempo vieram em busca do cobiado El Dourado. Este fato
justifica o desenvolvimento rpido do municpio de Amajar, sobretudo da Serra do
Tepequm, bero de uma herana natural de minrios.
Figura 03: Vila do Paiva em 2006.Fonte, NORTON, 2006.
Figura 04: Vila do Paiva em 2010.Fonte: Autora, 2010.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
9/15
9
A atividade garimpeira particularmente importante no estado de Roraima,
onde praticada h mais de cinqenta anos, constituindo-se na nica fonte de renda
de uma parcela substancial da populao do estado.
O fator histrico e cultura da Serra do Tepequm esto intimamente ligados
atividade do garimpo, pois a relao de parte dos garimpeiros do Tepequm com a
terra que l desbravaram foi intensa e significativa ao ponto de faz-los
permanecerem na regio, utilizando as mais rudimentares ferramentas para garantir
sua subsistncia.
Os garimpeiros do Tepequm praticamente no tiveram acesso educaoformal. Suas ambies estavam mais relacionadas ao atendimento de suasnecessidades bsicas e tinham pouca noo dos impactos que agarimpagem representa para o meio ambiente. Suas histrias de vida sodignas de respeito e considerao pelo trabalho desenvolvido e pelo queessa fase representou para o desenvolvimento de Roraima. (BRIGLIA,2005, p. 10)
Brglia (2005) aponta que em 1940, no auge do garimpo na Serra do
Tepequm, o local j era habitado por mais de mil pessoas, a fim de enriquecer
rapidamente, trabalhando dia e noite para encontrar diamante. A grande explorao
de minrios nessa regio se consolidou at o ano de 1955, pois a partir da dcada
de 60, o garimpo defronta-se com o declnio da produo, haja vista que o diamanteiniciava seu processo de escassez.
Dentre as atividades extrativas, o garimpo a que mais contribui para a
degradao do meio ambiente. Desenvolvido atravs de tcnicas rudimentares, tem
como conseqncias mais drsticas o desmatamento de matas ciliares e
contaminao por mercrio de igaraps e rios.
A despeito dos problemas ambientais envolvidos, a atividade garimpeira
constitui uma importante fonte de renda, talvez a nica, para uma parcela
significativa da populao brasileira na regio norte do pas.
A despeito do problema social envolvido, torna-se cada vez mais urgente, a
necessidade do estabelecimento de normas que possam ordenar e estabelecer
alguma forma de controle da atividade garimpeira. Outra necessidade imediata diz
respeito tomada de aes concretas por parte de rgos governamentais,
direcionadas recuperao ambiental das reas j destrudas e contaminadas.
De acordo com Ghedin (2006, p.22) atualmente a Serra do Tepequm
apresenta grandes problemas ambientais decorrentes do garimpo, iniciando um
processo erosivo surpreendente, mesmo assim:
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
10/15
10
no se desenvolveu alternativas para solucionar a problemtica desatisfazer necessidades atuais dos habitantes desta regio, semcomprometer a capacidade das geraes futuras na aplicao dasestratgias comunitrias, que permitam a sustentabilidade turstica,mediante o emprego de tecnologias eficientes, que produzam trocas nas
formas de executar aes que almejem o desenvolvimento turstico.
O Tepequm sofreu grandes impactos ambientas e que podem ser
percebidos nos recursos naturais ali localizados, pois o resultado dessa ao est
presente nos leitos dos igaraps do Paiva e Cabo Sobral, que hoje tem seu volume
de gua reduzido a fios dgua (BRIGLIA, 2005).
Figura 06: Igarap do Cabo Sobral aps atividade de garimpo.Fonte: Autora, 2009.
O processo histrico da Serra do Tepequm representado, tambm, por
manifestaes culturais que expressam o modo de vida da comunidade: o
artesanato, a pesca (por meio do Projeto de Piscicultura), festas tradicionais e a
culinria.
Em 2001, a comunidade do Tepequm deparou-se com um problema que
colocaria em jogo a sobrevivncia tanto econmica como social de seus moradores,
pois receberam uma ordem judicial de que estava proibida qualquer atividade degarimpo que utilizasse mquinas de grande porte, ficando acordado que apenas o
garimpo manual seria liberado. O Tepequm passou a enfrentar grandes
dificuldades de gerao de renda, pois a nica forma que garantia a economia local
era o garimpo.
Diante deste fato, em 2002, a comunidade da Serra do Tepequm
participou, conforme Ghedin (2006) do planejamento estratgico do municpio de
Amajar, no qual formularam aes para o desenvolvimento do turismo na regio,pois o garimpo havia sido proibido. Assim, os habitantes comearam a participar de
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
11/15
11
programas de capacitao e sensibilizao quanto atividade turstica, tendo o
apoio de instituies pblicas e privadas preocupadas com o futuro da comunidade
que, a passos curtos, vivenciava o incio de uma atividade econmica e social para a
comunidade, o turismo.
O incio da atividade turstica no Tepequm foi bastante rduo, pois mesmo
a comunidade percebendo que os recursos naturais e culturais so suas grandes
riquezas, a mesma ainda no estava preparada, no que tange a infra-estrutura de
apoio ao turismo, para oferecer um servio de qualidade aos visitantes. Ao mesmo
tempo, o perfil do turista que se desenvolveu durante esse perodo foi de encontro
com os anseios da comunidade, pois as pessoas que visitavam o local, a maioria
aventureiros, no tinham em mente que a nica fonte de renda da populao era oturismo, e assim no investiam seus gastos na prpria comunidade, levando seu
alimento e deixando apenas lixo.
Outra estratgia de ao para garantir a renda e emprego da comunidade,
aps a proibio do garimpo foi o Projeto de Piscicultura, onde foram criados
grandes tanques naturais, herdados da ao do garimpo, para a criao de peixes
regionais, com o intuito de vender para a prpria comunidade, bem como nas outras
localidades, tais como Vila Brasil e Pacaraima.Aliado a este projeto, nasce tambm o Ncleo de Artesanato com a
organizao de moradores para a produo e venda de artesanatos com a utilizao
de matria-prima local, como a pedra sabo e a madeira pau rainha. Segundo
Brglia (2005, p. 24) o processo de fabricao do artesanato teve sua origem numa
prtica de escultura de um garimpeiro da comunidade, que percebeu a pedra sabo
como uma matria-prima para esculpir objetos (signos), e logo socializou as tcnicas
com outros companheiros da regio.Ghedin (2006) aponta em seu estudo o papel do SEBRAE (Servio Brasileiro
de Apoio a Pequenas Empresas) em reunir a comunidade em prol do
desenvolvimento de projetos de produo de artesanatos local (Figuras 07 e 08), a
fim de ser comercializados nos hotis da regio, pois h muita visitao de
estrangeiros no Tepequm.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
12/15
12
Diante do exposto e da vocao natural para o turismo, percebe-se aimportncia de ter essa atividade aliada participao comunitria no processo de
planejamento, organizao e gesto da atividade turstica, pois, a participao e o
grau de mobilizao dos atores sociais se apresentam como principais responsveis
pela qualidade dos resultados finais dos projetos de desenvolvimento e pela
conquista de sua auto-gesto pelos beneficirios (MENDONA, 2004).
CONCLUSES
A comunidade da Serra do Tepequm, de maneira contraditria s demais
prticas tursticas em curso no Brasil e, cansada de esperar do Estado solues
para a melhoria da qualidade de vida, buscou o engajamento e a autonomia para o
desenvolvimento de seu prprio turismo. Assim, o desafio se tornou realidade e, o
discurso se expressou na prtica.Do resultado da aplicao destes instrumentos de pesquisa podem-se inferir
algumas consideraes como:
1. Em relao ao tempo mdio de residncia na serra, se pode perceber que a
maioria dos habitantes oriunda da comunidade original de garimpeiros que deu
origem vila; o que se pode perceber tambm, atravs das conversas no
estruturadas com os moradores, que, quem no morador original do local, busca
de alguma forma justificar sua estada ali, no por que veio em busca de montar um
negcio para se beneficiar do ecoturismo, mas por que seu pai ou av foi morador
do lugar e lhes deixou o terreno, enfim, nunca admitindo que comprou o terreno por
Figura n 07: Artesanatos em pedra sabo.Fonte: Autora, 2009.
Figura n 08: Jias em pedra sabo.Fonte: Autora, 2009.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
13/15
13
preo desvalorizado de algum morador especificamente com o objetivo de montar
um negcio.
2. A maioria tem conhecimento das atividades tursticas que ali se
desenvolvem, conhecem os atrativos, desenvolvem uma atividade turstica mas,
subjetivamente, deixaram claro que no esto envolvidos ou conscientes de que seu
lucro como empresrio do local, depende da sobrevivncia destes atrativos; em
nenhum local visitado se pode perceber cartazes, folders, folhetos ou outro tipo de
material de sensibilizao do turista com informaes, sugestes e orientaes para
serem distribudos a eles. Isso nos leva a considerar que o trabalho de
sensibilizao deve comear primeiramente com os empresrios locais, e depois
com os turistas que visitam a serra.3. Nota-se tambm que todos os empresrios e a comunidade em geral so
conscientes de que o benefcio ou o retorno financeiro que o turismo traz para a
comunidade de suma importncia, pois atualmente, a principal (se no a nica)
fonte de renda dos moradores da Vila do Paiva, entendendo que este retorno
financeiro importantssimo para a sua subsistncia. Como resultado, se percebe as
melhorias na infra-estrutura da comunidade, nas residncias, no crescimento do
nmero de reformas que esto acontecendo, no aumento do nmero de mercearias,restaurantes, padaria e dos meios de hospedagem, alm do asfalto e do maior
cuidado que se est tendo com a sade e a educao na vila;
4. Quando se participa da vida cotidiana da comunidade, so constatados os
conflitos existentes, a no homogeneidade de seus membros, mas, tambm, so
observadas atitudes que freqentemente expressam a estima elevada e alta
confiana, alm da crena que a comunidade ir alcanar os resultados esperados,
traados de forma coletiva, mesmo no tendo o apoio efetivo das instituiesgovernamentais e apesar da limitada disponibilidade de recursos financeiros. Assim,
a comunidade o real sujeito de sua histria.
5. Pode-se considerar que, quando a participao disponibilizada aos
membros de um grupo social de forma mais qualificada, ela distribui poder aos
atores sociais. Quanto maior for a qualidade da participao, em termos de deciso
poltica, maior ser o poder compartilhado. Porm, a participao sem auto-
sustentao uma farsa. Assim, esta comunidade somente ir resistir lgica do
mercado, se sua emancipao for uma verdade tambm em termos de
sustentabilidade econmica, social e poltica.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
14/15
14
Assim, entende-se que o turismo, bem como a pesca e o artesanato ou
outras alternativas econmicas que possam surgir, deve conduzir a comunidade
sua auto-sustentao tambm sob tica econmica, para que no haja dependncia
extrema dos agentes externos. A auto-sustentao, sob essa tica, se constitui em
um dos elementos essenciais para a promoo do desenvolvimento local.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
- ALENCAR, Edgard. Pesquisa social e monografia. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003.
- BRIGLIA, Thiago. Histria e Cultura Garimpeira de Tepequm: produtos do
ecoturismo. Trabalho de Concluso de Curso, Boa Vista RR, 2005.
- CERVO, A. L, BERVIAN, P. A, DA SILVA, R. Metodologia Cientfica. 6. Ed. So
Paulo: Pearson Prentice Hall: 2007.
- DIAS, Reinaldo. Turismo sustentvel e meio ambiente. So Paulo: Atlas, 2003.
- LIMA, rika Oliveira. Contribuies para o desenvolvimento do turismo local
social: um estudo de caso em Carrancas MG. Dissertao de Mestrado.Varginha, MG: 2005.
- GHEDIN, Leila Mrcia. Plan de gestin comunitaria del turismo para la Sierra
de Tepequem, municipio Amajari, Estado Roraima-Brasil. Dissertao de
mestrado. Maracaibo, Marzo de 2006.
- MELO, Edileuza Carlos de; ALMEIDA FILHO, Raimundo. Mapeamento de reas
Degradadas Pela Atividade de Garimpos na Regio da Serra Tepequm (RR),
Atravs de Imagens Landsat-TM. Anais VIII Simpsio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto, Salvador, Brasil, 14-19 abril 1996, INPE, p. 639-645.
- MENDONA, Teresa Cristina de Miranda.Turismo e participao comunitria:
Prainha do Canto Verde a Canoa que no quebrou e a Fonte que no
Secou?. Rio de Janeiro, 2004.
- OLIVEIRA, Reginaldo Gomes. A herana dos descaminhos na formao do
estado de Roraima. Tese de Doutorado em Histria. So Paulo: USP, 2003.
-
8/6/2019 ET-039 Eweline Mikaely Gomes Monteiro
15/15
15
- RODRIGUES, Adyr Balastreri (org.). Turismo e Desenvolvimento Local. So
Paulo: Hucitec, 1999.
- SILVA, Yolanda Flores e. Pobreza, violncia e crime conflitos e impactos sociais
do turismo sem responsabilidade social. In: BANDUCCI, lvaro Jr e BARRETO,
Margarita (orgs). Turismo e identidade local: uma viso antropolgica. So
Paulo: Papirus, 2001.
- SOUZA, Nadson Nei da Silva de. Alternativa Ecoturstica bajo los lineamientos
de Sostenibilidad para la Comunidad Indgena de Nova Esperanza Estado de
Roraima Brasil. Santa Ana de Coro, 2005.
- SWARBROOKE, John. Turismo Sustentvel meio ambiente e economia. SoPaulo: Aleph, 2000.