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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS CURSO LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA LAYANE SILVA ABREU ÉTICA NA VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRASCURSO LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA

LAYANE SILVA ABREU

ÉTICA NA VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD

UNIÃO – PIAUÍ

2015

LAYANE SILVA ABREU

ÉTICA NA VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD

UNIÃO – PIAUÍ

2015

LAYANE SILVA ABREU

ÉTICA NA VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD

Monografia apresentada a Universidade Federal do Piauí como requisito para a obtenção do

Linha de Pesquisa: Ética

Orientador: Prof Dr.

UNIÃO – PIAUÍ2015

LAYANE SILVA ABREU

ÉTICA NA VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD

TCC aprovado em 26/09/2015

BANCA EXAMINADORA

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Profª. Drª.

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Profª. Drª.

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Profª. Drª.

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Profª. Drª.

TERESINA – PIAUÍ

2015

Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.

Boaventura de Souza Santo

DEDICATORIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ser essencial em minha vida, autor de

meu destino, meu guia.

Aos meus pais Paulo e Socorro que me trouxeram com todo o amor e carinho a este

mundo. Sobretudo a minha mãe, que sempre me apoiou nos estudos e nas horas

difíceis. Foi ela que me incentivou a fazer o vestibular.

Em especial a minha irmã Pauliane por ter gerado essa joia que é meu sobrinho Paulo

Adriano e trazer a alegria a nossa família.

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo fim de mais uma etapa, pelos sonhos que se

concretizam. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.

Aos meus pais pela existência, e por terem me dado o apoio necessário para seguir

nessa caminhada.

As minhas irmãs e meu irmão pelo carinho.

Aos meus professores que me ensinaram e orientaram ao longo do curso.

Ao Bruno, por todo o apoio, compreensão e carinho.

Muito Obrigado!

RESUMO

ABSTRAC

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................

2 - IMPORTÂNCIA DA OBRA DE SOREN AABYE KIERKEGAARD NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA.................................................................................................

3 EM DEFESA DO INDIVÍDUO KIERKEGAARD SE CONTRAPÕE A HEGEL .......................................................................................................

4 - PERSPECTIVA ÉTICA DE KIERKEGAARD ..................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ .........

REFERÊNCIAS............................................................................................... ........

INTRODUÇÃO

A minha preocupação em relação a como podemos individualmente influenciar

eticamente a sociedade, me levaram a desenvolver este trabalho na busca por

entender a concepção complexa e valorizada de indivíduo em Kierkegaard. Chamou-

me a atenção a sua reflexão no que diz respeito a individualização, percebida como um

processo que ocorre nas frequentes situações críticas da existência.

Esta valorização do indivíduo singular no pensamento de Kierkegaard reflete o

seu contexto histórico, no qual o público, o coletivo era hipervalorizado, levando-o a

constatar a superioridade da exterioridade sobre a interioridade, com o Estado se

impondo de ampla forma ao indivíduo, o que para ele era inaceitável.

Este trabalho resulta de um percurso metodológico bibliográfico, com pesquisas

realizadas na biblioteca Carlos Castelo Branco da Universidade Federal do Piauí e em

material do acervo pessoal e em revistas eletrônicas de Filosofia.

No primeiro capítulo, é delineada a importância da obra de Soren Aabye Kierkegaard na

história da filosofia. No capítulo posterior a este, é abordada sua contraposição a Hegel

e no último capítulo é discutida perspectiva ética de Kierkegaard e a seguir são

realizadas as considerações finais.

1 - IMPORTÂNCIA DA OBRA DE SOREN AABYE KIERKEGAARD NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Kierkegaard elaborou e desenvolveu seu pensamento a partir de sua crítica ao

sistema idealista de Hegel, defendendo que o existente é sempre particular, que a única

verdade é o homem em sua individualidade. Seu pensamento lançou as bases do que

posteriormente veio a ser o Existencialismo.

A primeira fase produtiva de Soren Aabye Kierkegaard tem em sua composição

um viés teológico/filosófico com uma profunda crítica a condição humana. Na segunda

fase a marca magna representada pelo olhar existencialista, influenciando

posteriormente a elaboração de um existencialismo estruturado por outros filósofos.

Kierkegaard sempre se interessou por temas diretamente ligados a natureza

humana, as questões existenciais, tanto sob a perspectiva cultural, quanto religiosa,

tendo ido de encontro ao hegelianismo e ao dogmatismo religioso. Sua obra destaca a

realidade humana em detrimento do pensamento abstrato, acentuando a gravidade do

compromisso pessoal e da escolha.

Em sua obra, escrita sob diversos pseudônimos, só assina seus escritos a partir

dos textos “Dois discursos edificantes” e “Três discursos edificantes”, publicados em

1844. Seus dramas familiares e amorosos influenciaram bastante sua obra, com uma

maior religiosidade e profundidade nos textos citados e discriminando mais o lado

amoroso em outros, como por exemplo, em “Diário de um sedutor”.

Sua primeira dissertação, criticada pela academia como tendo pouco rigor

acadêmico, tinha como tema: “O conceito de ironia”, com referência continua a

Sócrates. Por outro lado, em “Eller”, sua segunda obra, interligou seu pensamento ao

de grandes mestres, como Schelling e Hegel. .

Ao se mudar para a Alemanha começou a rascunhar os seus textos mais

importantes e em 1843 publica suas primeiras obras extra acadêmica, cujos temas

foram: “A Alternativa”, “Temor e Tremor”, um discurso sobre a natureza da fé humana e

“A Repetição”, obra na qual aborda entre outros temas, o amor, a religião e a

linguagem,. Em 1844 publica: “Migalhas Filosóficas” e “O Conceito de Angústia”. E em

1845 publica: “As Etapas no Caminho da Vida”. Em 1846 lança o “Post-scriptum a

Migalhas Filosóficas”. Na verdade, estas temáticas representaram tentativas de

responder as suas demandas pessoais e de explicar as contradições da religião.

Kierkegaard formulou seu pensamento tendo como ponto de partida o exame do

homem religioso no contexto histórico. Desta forma, englobou o autoconhecimento, no

sentido socrático e o entendimento ao refletir na dimensão da verdade cristã, criticando

de forma dura e firme a Igreja oficial da Dinamarca. Após a essa fase de crítica religiosa

em 1849, Kierkegaard publicou “Doença Mortal”. E em 1850, “Escola do Cristianismo”,

obra na qual criticou a degradação do sentimento religioso, como consequência da

hipocrisia e do cristianismo burguês.

2 - KIERKEGAARD SE CONTRAPÕE A HEGEL EM DEFESA DO INDIVÍDUOO conjunto do pensamento de Kierkegaard se direciona para o indivíduo,

enquanto sujeito singular, tentando perceber a realidade existencial inter-relacionando o

indivíduo com a existência do mesmo. Neste norte, ele caracteriza o seu contexto

histórico como sendo um período de desagregação. Na obra de Kierkegaard, o

indivíduo singular tem seu ônus, perante a própria existência, percebida esta como algo

dinâmico, um processo, portanto ímpar, singular.

Kierkegaard critica a razão moderna que tenta situar, compartimentabilizar a vida

em conceitos abstratos. Para ele, a dimensão racional não tem capacidade de analisar

a existência humana, pois esta é impar, diferente para cada ser. Assim, ele caracteriza

que falar de forma abstrata em relação a existência singular é um erro, pois, colocar a

existência no âmbito do desenvolvimento do espírito, como defende Hegel, na verdade

envolve minimizar a perspectiva individual para atingir um plano coletivo e amplo,

assim, dilui a singularidade característica do mundo efetivo.

Ao criticar Hegel, Kierkegaard evidenciou os pontos equívocos de um sistema

formal da existência, defendendo que o ato de existir equivale a viver um paradoxo,

portanto não comportando sistematização racional, que ao conceituar a realidade e a

existência, assenta no mesmo parâmetro o destino do indivíduo e do espírito.

Em oposição aos sistemas abstratos e a racionalização da existência humana

desenvolvida por estes sistemas, advoga que o indivíduo singular está sempre

distanciado de qualquer forma de sistematização.

Para o pensamento hegeliano o homem só se completa na universalidade, qual

seja, no Estado, responsável pela liberdade do cidadão, pois só preconizando sua ação

em nome daquele ente, este revitaliza a individualidade. O cidadão em Hegel só é

sujeito quando a individualidade é sujeita a universalidade, quando o universal

predomina sobre o individual, com este absorvendo e defendendo o discurso

corporativo, perdendo o diferencial, a individualidade.

Nesse discurso, o indivíduo se equivale ao outro, ou seja, perde aquilo que ele

realmente é: sua individualidade. Tornar-se indivíduo, em Hegel, é adotar o discurso da

corporação, equivalendo, grosso modo, a um resultado do seu desenvolvimento

histórico, negando, assim, sua responsabilidade em relação ao ato de decisão.

Kierkegaard foi de encontro a este pensamento, asseverando que a par do fato

do homem ser resultado do seu contexto histórico social,

PERSPECTIVA ÉTICA DE KIERKEGAARD

No pensamento de Kierkegaard a subjetividade prepondera sobre a objetividade

do valor ético, visto que para ele, a subjetividade é ética, no sentido de que esta

representa a própria incorporação da subjetividade, atuando reflexivamente sobre si

mesmo no contexto da interioridade, levando a uma relação trina composta por si

mesmo, pelo próximo e pelo Absoluto.

Assim, percebe a interioridade como sendo ética. Esta é a concepção central

oriunda do Post- Scriptum conclusivo não científico às Migalhas filosóficas, escrito em

1846. Nesta perspectiva, a subjetividade real é ética, o ser humano se forma

intrinsecamente na condição e fundamentação da ética, tanto nos contextos tranquilos

quanto nos mais conturbados, não cabendo distinção entre o valor e a ação.

Na obra O conceito de angústia, Kierkegaard elabora uma profunda crítica aos

intelectuais e a sociedade do seu contexto histórico, evidenciando que as teorias éticas

foram incapazes de criar homens e sociedades éticas, na verdade, parece que o

distanciamento entre a norma e a ação faz com que os homens se sintam débeis diante

da ética. Como o autor delineia ao afiançar que:

Apenas a mentira prospera, que somente o mal triunfa que só o

amor-próprio é amado, que não mais do que a mediocridade é

aclamada, que apenas a esperteza é estimada [...] e

exclusivamente a mesquinharia obtém sucesso.

(KIERKEGAARD, 2001, p. 13).

Assim, visto que nem os ditames éticos objetivos efetivaram a ética; a

perspectiva de percebê-la como um ultimato da subjetividade se torna fundamental

filosoficamente. Defender que “a subjetividade é ética” equivale a afiançar que ser

humano, na crise ética contemporaneamente, significa assumir a nossa

responsabilidade na efetivação da ética.

Na objetividade o singular é despersonalizado em sua intimidade, inexiste o

compromisso pessoal. Nesta dimensão, Kierkegaard se contrapõe a Filosofia do

conceito defendendo uma Filosofia da situação-tensionada. Assim, vai de encontro a

uma Filosofia da objetividade pura, propondo uma Filosofia da singularidade

responsável, que se identifica como alteridade do outro como condição para se

concretizar.

Portanto, fica claro que a diferenciação entre a primeira e a segunda ética esta

no diferencial entre Objetividade e Subjetividade. Para Kierkegaard o entendimento da

subjetividade tem de ser realizado ultrapassando a percepção no âmbito do ser,

interagindo e construindo a própria ética.

Kierkegaard foi pioneiro ao deslocar a subjetividade da ordem do ser e inseri-la

no âmbito da ética, em função deste posicionamento desenvolveu a tese de que a

subjetividade é ética. No que tange a subjetividade pura, Deus, evidencia que se deve

suplantar a visão de um Deus restrito a um ser.

Kierkegaard supera a tradição filosófica que abordava a verdade no âmbito da

relação entre o pensamento e o ser, retirando-a do contexto essencialmente intelectual

e a insere na existência, partindo do princípio que o existente deve, por existir, se tornar

a própria verdade, e assim, concretizar a ética. Destaca que o indivíduo singular tem

que assumir o risco radical, mesmo que não tenha a perspectiva de nenhuma certeza

objetiva, assumindo, desta forma, todo e qualquer risco em relação ao seu destino, no

salto diante da incerteza objetiva. Sem esta dimensão do risco, o indivíduo não salta e

na realidade não existe. . Como anuncia em:

Arrisca-te a renunciar tudo, entre outro, aquela frequentação

aristocrática e ilusória com a consideração histórico mundial,

arrisca de se tornar um puro nada, de se tornar um indivíduo

singular, de quem Deus, eticamente tudo exige, sem que tu, deixe

de ser entusiasta; eis o risco autêntico..

(KIERKEGAARD, 1993, p. 337).

André, 16/09/15,
Caberia uma citação aqui para fundamentar...
André, 16/09/15,
Você está só afirmando várias coisas sem fundamentá-las
André, 16/09/15,
O que significa, para Kierkgaard, ultrapassar a percepção no âmbito do ser?
André, 16/09/15,
Não tem nada claro, você não explicou detalhadamente o que são estas duas éticas, tampouco definiu a diferença entre subjetividade e objetividade no contexto de seu tema.

Inexiste diferenciação entre o estar-sendo do sujeito e a verdade, porque, de

acordo com Kierkegaard, a verdade é o processo transmutador do indivíduo singular

em si mesmo, através da reduplicação em que o indivíduo concretiza a verdade, com

sua ação, visto que concebe a verdade como introspecção e não uma sequencia

dogmática de conjecturas.

Logo, a subjetividade no pensamento de Kierkegaard é percebida como verdade,

introjeção, ética e paixão, com a perspectiva de desenvolver e preservar a ética em si

mesmo. Neste diapasão ele discorda frontalmente, do viés da subjetividade imanente

do “eu pensante” cartesiano e do “eu inteligível” da formulação kantiana, concepções

que limitaram a subjetividade ao pensamento abstrato. E realiza esta oposição no

percurso de concretização de si, a própria ética, ao decidir tornar-se ou negar-se, visto

que se a subjetividade é a verdade, a subjetividade existente, ela desemboca na paixão

e a paixão do infinito é a subjetividade, logo, a subjetividade é a verdade, evidenciando

que a paixão representa o ápice da subjetividade.

A alteridade, no pensamento de Kierkegaard é uma experiência amorosa, uma

relação e uma condição da ética da alteridade, pois, ao firmar o compromisso de

construir a existência, este fato só ocorre a partir da relação reduplicada a partir de si. A

alteridade desenvolve a igualdade na diferença, sem ela o eu não existe, pois a

alteridade institui a responsabilidade da dialética da alma, geradora de uma consciência

comprometida com a vida e com o outro.

Ele justifica também a identificação do tornar-se si mesmo com a própria ética,

pois a única realidade para um existente é a sua realidade ética. Nesse âmbito, fica

evidente a responsabilidade como a culminância da subjetividade, como esteio da

especificidade humana, desenvolvendo a subjetividade enquanto interioridade,

atribuindo, desta forma, um continente específico à categoria da subjetividade,

defendendo a necessidade vital da existência de uma segunda potência da

subjetividade, uma subjetividade da subjetividade. Esta posição é firmada por ele

através da ironia, enquanto categoria do espírito; determinação da existência e célula

da paixão ética que no âmbito da interioridade destaca o eu na órbita da vindicação

ética.

André, 16/09/15,
Onde leu isso? Fundamentação? Você saberá explicar oralmente?

A ironia é imperativa para discriminar que sem a um salto, não há como distinguir

entre a verdade da eternidade, a verdade histórica e a verdade lógica. A objetividade

limita a verdade a um instante da mediação, no entanto, para ele, a verdade é muito

mais do que um conceito, é uma existência, uma vida. A ironia, como cultura do

espírito, esta sempre presente no pensamento de Kierkegaad, afiançando que é

impossível a existência sem ironia, por ela ser o percurso para o verdadeiro ato de

existir.

É a ironia que delimita a fronteira entre o ser anatômico e o eu impessoal. É com

a categoria do indivíduo singular, necessariamente subjetiva, que Kierkegaard contribui

com a ética, visto que só aquele decide o sentido da sua existência, capaz de viabilizar

em si mesmo a ação ética, como destaca KIERKEGAARD (1993, p. 276) ao asseverar

que:

Logo que se exclui a subjetividade, e se tira da subjetividade a paixão,

e da paixão o interesse infinito, não resta absolutamente nenhuma decisão,

nem sobre este problema nem sobre qualquer outro. Toda decisão, toda

decisão essencial, baseia-se na subjetividade.

Evidencia que quando o indivíduo singular por algum motivo não pode se realizar

subjetivamente, ele não tem como agir eticamente e se dilui no coletivo mergulha no

anonimato, na padronização e na alienação.

Ao abordar os conceitos de ser, essência, espécie, na dimensão do conceito da

identidade lógica através da mediação, Kierkegaard, assim como os hegelianos, não

visualiza existencialmente o individual, a liberdade, o existir e a existência em suas

distinções essenciais, levando a que o movimento preconizado pela mediação se torna

ineficaz perante o devir do existente, do existir e da existência. Segundo ele:

“... o que confunde toda a doutrina sobre a “essência” na lógica é

o não estar atento que se opera sempre com o “conceito” de existência.

Mas o conceito de existência é uma idealidade, e a dificuldade está

exatamente no ver a existência resolvida em conceitos”

(KIERKEGAARD, 1980, D X2 A 328).

André, 16/09/15,
Sim, mas qual a definição deste conceito em Kierkgaard?

. Para ele, Deus representa a essência da subjetividade; percebido na órbita do

Paradoxo e não da lógica, distinção perceptível ao discriminar a diferença entre a

subjetividade do indivíduo e a de Deus, acentuando que este representa a

subjetividade, a simplicidade, não tendo um ser objetivo em si; visto que tudo que tem

objetividade cai na relatividade. Marca esta distinção entre a subjetividade em Deus e

no sujeito singular, afirmando que Deus, em seu ser, nada tem de objetivo, porque

esta situação demarcaria um limite para Deus, reduzindo-o ao nível da relatividade,

mas ele se relaciona de forma objetiva à sua subjetividade. No entanto, isto é somente

uma reduplicação da sua subjetividade, porque o Seu ser subjetivo não apresenta nada

de imperfeito que deva ser descartado, assim como não precisa de nenhum acréscimo,

como no caso da subjetividade humana: razão pela qual relacionar-se objetivamente à

própria subjetividade é uma correção. Na verdade, Deus é uma reduplicação infinda,

perspectiva que o indivíduo singular nunca poderá ser, pois ele não pode se tornar

completamente superior a ele mesmo para se relacionar objetivamente consigo, nem

pode se tornar subjetivo de poder cumprir o que na reflexão objetiva acima de si mesmo

tem compreendido de si mesmo.

De acordo com o pensamento de Kierkegaard a objetividade pura compreende o

indivíduo consciente de si como razão e se a razão é puramente objetiva, equivale dizer

que o indivíduo só se reconhece na objetividade pura, neste patamar, o indivíduo é

sacrificado no fundamento da sua razão de ser: existir enquanto escolhe a si mesmo no

interior da existência, existir eticamente.

Em relação à impossibilidade da existência poder ser caracterizada e

sistematizada no cerne de qualquer sistema, Kierkegaard realizou uma síntese,

propondo que o ser singular que quer ser ético tem que, a princípio, entrar em si,

desenvolvendo o processo de interiorização e adquirindo consciência de si de forma a

que nada o desvie de se construir eticamente. Para ele, o maior erro da Ética-primeira

está em entender a ética e o homem de forma abstrata, e não como parte inerente a

persona do ser singular, que aprioristicamente deve ser transparente para si mesmo,

para assumir a responsabilidade assimétrica no que tange ao outro, deixando claro que

quando um homem tem medo da transparência, ele sempre evitará a ética. Kierkegaard

enfatiza que a concepção de sistema envolve a identidade de sujeito-objeto, a unidade

do pensamento e do ser; a existência é necessariamente a separação. É óbvio que a

existência também comporta o pensamento, mas coloca o intervalo e diferencia o

sujeito do objeto, o pensamento do ser. Kierkegaard defende o caráter do outro, quer

seja ele mesmo, Deus ou o próximo, enquanto singularidade ética para que o ser

singular se transforme em ética e não seja reduzido a mero objeto da razão.

A subjetividade existencial corresponde à particularidade ética e da gênese a

responsabilidade, enquanto abnegação radical. É assimetria ética como premissa para

diferenciar a primeira ética, do pensamento de Kant e Hegel, da segunda ética, da

alteridade.

A formulação de Kierkegaard contribui para novos horizontes filosóficos no que

diz respeito a compreensão da subjetividade diante da crise existencial e filosófica. Ele

propicia o retorno a condição de efetivar o si mesmo e optar pelo que realmente é vital

no tempo e na eternidade.

Kierkegaard caracteriza a resposta a Kant sobre o que devo fazer eticamente como

fonte da distinção entre ética-primeira e segunda ética, com a resposta: sendo a própria

ética não efetuada por meio de um eu inteligível e autônomo; mas, no contexto da

interioridade, na experiência com potencial para construir abnegação e

responsabilidade, doar ao outro e ganhar a si mesmo. Esta é a maior diferença entre

Kierkegaard e Kant e Hegel, devo me transformar reduplicativamente, no testemunho

da verdade, na edificação do profundo do homem, sobre o acidental, pois, entre ser um

homem no âmbito espiritual e ser essencialmente um animal, comporta grande

diferença de qualidade.

A compreensão da Ética-segunda só se firma ao recepcionar duas condições

essenciais para Kierkegaard. A primeira delas é a de que o homem torna-se causa de

si mesmo quando passa a aceitar materializar o dom que recebe. A outra condição é a

parte da concepção de que Deus gera e posteriormente se afasta, para que o homem

seja o artífice de sua existência em toda a sua singularidade, neste diapasão, a

subjetividade esta em identificar e acolher o dom e realizar a tarefa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resalto nas considerações finais que a concepção ética de kierkegaard, ao não

admitir como considerável que o Estado se imponha ao indivíduo, tirando deste o poder

de decisão tem, além da sua importância filosófica, uma repercussão política contra os

estados totalitários em seus vários matizes. Defende que ao nos sujeitarmos a

superioridade da exterioridade sobre a subjetividade, nos deparamos com um conceito

de indivíduo, fechado em si mesmo, e não com uma cinética concepção deste,

“tornando-se o que é” em um processo que ocorre durante toda a sua existência, e a

consciência deste fato, deste existir, representa a condição plena da filosofia.

Como na antiguidade, na reflexão de Kierkegaard o indivíduo possui uma

unidade originária e singular. Nesta dimensão fica evidente que para ele o indivíduo é o

homem que se encontra existencialmente, se pautando pela decisão e não pelo

arrebatamento.

Assim, nos é dada a opção de assumirmos nossa condição como indivíduo

singular, somos resultante da nossa interioridade, da nossa subjetividade enquanto

indivíduo real, no seu espaço e no seu contexto histórico.

Cabe destacar que para ele a singularidade esta acoplada a originalidade, pois

não há como ser singular e comum igual aos outros.

Na ótica de Kierkegaard, fundamental não é a igualdade entre os homens, mas

sim, a convicção da individualidade cristã, asseverando o eu-mesmo individual como

indivíduo diante de Deus, situação na qual aquele alcança sua plena essência.

Destacando que o indivíduo deve aceitar Deus e não ser forçado a tomar esta atitude

forçado pelo Estado. A decisão não é deste, deve ser sempre do indivíduo, neste

sentido, indo de encontro ao pensamento de Hegel, que advogava que o Estado era a

matriz dos direitos do indivíduo.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Jorge Miranda. Subjetividade e Ética em Kiekkegaard. Revista Filosofia Capital Vol. 6, p. 79-91 (2011) - Edição Especial - Dossiê Søren Aabye Kierkegaard. ISSN 1982 6613.

DE PAUA, Marcio Gimenes de. Subjetividade e Objetividade em Kierkegaard. São Paulo: Annablume, 2009.

FERRAGO, France. Compreender Kierkegaard. Trad. Ephraim F. Alves. Rio de janeiro: Vozes, 2006. 446 Anais do VII Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar (2011)

GARDINER, Patrick. Kierkegaard. Trad. Antônio Carlos Vilela. São Paulo: Edições Loyola, 2010.

GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão pelo Paradoxo: uma introdução a Kierkegaard. São Paulo: Fonte Editorial, 2006.

KIERKEGAARD, Soren. Três discursos edificantes de 1849. 3. ed. Traduzido e editado por Henri Nicolay Levinspuhl: Edição do autor, 2001.

______. O conceito de angústia. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2010.