Eurovision por Ana Paula Garrido

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ViaG Turismo e Diversidade 36 EUROVISION Por: Ana Paula Garrido E ste é um festival de música muito popular, um verda- deiro sucesso de audiência de TV na Europa e um dos even- tos mais adorados pela comuni- dade LGBT em todo o continente. A ideia nasceu no pós-guerra, há 60 anos, com o intuito de unificar Sabe o clima gostoso de copa do mundo com turmas animadas de caras pintadas, camisas e bandeiras da seleção seguindo para estádios, praças e bares para torcer pelo país? Coloque uma pitada de astral carnavalesco com fantasias, plumas e paetês e músicas cantaroladas pelas ruas, metrôs e bondes. Agora misture isso com uma mega produção de show da banda preferida, com requintes hollywoodianos e festa de Oscar. Imaginou? Pois essa é a melhor forma de descrever o Eurovision O maior acontecimento musical do planeta os países europeus. A versão 2015 aconteceu na Áustria. Com o tema Building Bridges, algo como cons- truindo pontes ou criando laços, o Eurovision teve a participação de 27 países e Viena recebeu milhares de turistas do mundo inteiro para participar da festa. A Europa inteira gruda na TV para assistir ao espetáculo. Na ca- pital austríaca, quem não consegue comprar os disputados ingressos, corre para bares e praças como a do Eurovision Village, que recebeu cerca de 20 mil animados torcedo- res para acompanhar por um telão. Para os felizardos que assistem ao vivo, o espetáculo começa cedo

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EUROVISION

Por: Ana Paula Garrido

Este é um festival de música muito popular, um verda-deiro sucesso de audiência

de TV na Europa e um dos even-tos mais adorados pela comuni-dade LGBT em todo o continente. A ideia nasceu no pós-guerra, há 60 anos, com o intuito de unificar

Sabe o clima gostoso de copa do mundo com turmas animadas de caras pintadas, camisas e bandeiras da seleção seguindo para estádios, praças e bares para torcer pelo país? Coloque uma pitada de astral carnavalesco com fantasias, plumas e paetês e músicas cantaroladas pelas ruas, metrôs e bondes. Agora misture isso com uma mega produção de show da banda preferida, com requintes hollywoodianos e festa de Oscar. Imaginou? Pois essa é a melhor forma de descrever o Eurovision

O maior acontecimento musical do planeta

os países europeus. A versão 2015 aconteceu na Áustria. Com o tema Building Bridges, algo como cons-truindo pontes ou criando laços, o Eurovision teve a participação de 27 países e Viena recebeu milhares de turistas do mundo inteiro para participar da festa.

A Europa inteira gruda na TV

para assistir ao espetáculo. Na ca-pital austríaca, quem não consegue comprar os disputados ingressos, corre para bares e praças como a do Eurovision Village, que recebeu cerca de 20 mil animados torcedo-res para acompanhar por um telão.

Para os felizardos que assistem ao vivo, o espetáculo começa cedo

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com o clima contagiante das pesso-as pelas ruas e em festas incríveis que rolam pela cidade. No Wiener Stadhalle, local onde é realizado, parte significativa dos torcedores era formada por animada galera LGBT de todas as nacionalidades e com fantasias tão produzidas que mereciam um concurso a parte. Para essa turma, o clima alegre e de azaração total já dava pista do que iria rolar no after party.

Bandeiras de todas as cores e nacionalidades se agitam pelos quatro cantos, delegações tomam seus lugares, uma contagem regres-siva começa e Conchita chega voan-do como uma fênix e aterrissa no palco para abrir o espetáculo. Co-meça o show com megaprodução, a plateia em êxtase parece conhecer

Pelas ruas, semáforos para pedestres com representação

de casais hetero e homoafetivos

instalados em Viena. Tudo muito divertido e

de bom gosto

Wiener Stadhalle

Bandeiras do arco-íris presentes em diversos estabelecimentos

como na sede da prefeitura.

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cada música e refrão. Cantam, dançam, vibram e aplaudem. Pelo volume dos gritos, já se tem ideia dos favoritos e o clima é de pura vibração durante as cinco horas de apresentações.

Três cantores italianos parecem bem cota-dos, não se sabe se pela música ou pela bele-za. Os garotos de Israel também cantam uma música contagiante e fazem coreografia onde balançam os quadris, levando a galera ao delí-rio. O candidato da Austrália é muito aplaudi-do. (Sim, bem distante da Europa, a Austrália, país que acompanha o Eurovison por muitos anos foi convidada para participar pela primei-ra vez). Mas, quando o guapo sueco Mans Zel-merlow com seu jeitinho low profile cantou o hit Heroes com refrão “chicletinho”, daqueles que grudam no ouvido, usando efeitos espe-ciais com desenho animado, parecia que a pla-teia já havia decidido quem seria o vencedor.

Chega a hora da contagem de votos que nos quinze minutos finais recebe as escolhas feitas pelo público, por telefone. Nesse momento rola uma tensão, na medida em que a graciosa can-didata Polina Gararina, da Rússia ia pontuando em primeiro lugar. A cada contagem de votos, uma vaia constrangedora ecoa no ambiente. Com elegância, Conchita foge do script e senta-se a o lado de Polina e lhe enche de elogios com a intenção de diminuir os ânimos da galera.

As vaias na verdade não foram para a fofa Polina, mas para seu país, nada gay friendly, que por esse motivo, não merecia ser palco de um evento que tem cada vez mais fãs GLS.

Mas nos últimos minutos, a Suécia passa a Rússia e vence. Carismático e querido, seu can-didato abraça e beija Conchita e manda para a plateia o recado: “Quero dizer que somos todos heróis. Não importa a quem amamos o que so-mos e em que acreditamos”. E assim, Conchita encerra com chave de ouro o evento impecável. Mans Zelmerlow, o vencedor, leva para a Sué-cia o desafio de fazer em 2016 um evento ainda melhor.

Delegações de toda Europa chegam para o Festival. A animação e criatividade dos grupos tomam conta das ruas de Viena e o clima é contagiante

O estilo irreverente de ser ‘Conchita’ contagia o público

Grupo de espanhóis marca presença no festival com alegria e bom humor

O Reino Unido escandalosamente ‘montado’ vira foco de fotógrafos de todas as partes

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Os números são superlativos.Participação de quarenta países, destes, vinte e sete chegaram ao final.Em impostos, Viena faturou cerca de 16 milhões de euros. O mercado publicitário bateu outros 100 milhões

ViaG faz sucesso em Viena. Um público interessado quis conhecer um pouco mais do que o Brasil oferece para gays e lésbicas

Momentos para novas amizades com a bandeira brasileira na área

O orgulho gay estampado com bandeira de país onde a diversidade impera.

Tensão toma conta do público nos momentos finais da seleção

Este grupo decidiu acompanhar o festival num dos inúmeros pubs que Viena oferece

Australianos sorriem para as fotos

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Curiosidades• Mais de 1400 músicas foram interpretadas nos 60 anos do festival• Celine Dion e o grupo ABBA já participaram e venceram o festival • ABBA venceu a edição de 1974 e até hoje sua música é ouvida em todo o mundo • Cerca de 200 milhões de telespectadores assistiram em 2015• Em 2008 e 2011, teve um recorde com a participação de 43 países• A Irlanda venceu sete vezes. A Suécia, país anfitrião em 2016, seis• Canções em inglês sempre têm mais chances de vencer• A música italiana Nel Blu Di Pinto de Blu, conhecida em todo o mundo como Volare, foi revelada no concurso

Os 5 primeiros lugares1-Suécia: Mans Zelmerlow - Heroes2- Rússia: Polina Gagarina –A Million Voices3. Itália: Il Volo –Grande Amore4. Bélgica: Loic Nottet - Rhythm Inside5. Austrália: Guy Sebastian - Tonight Again

Cerca de vinte mil telespectadores acompanharam o evento em telões no Eurovision Village, espaço montado em frente a prefeitura

Mans Zelmerlow foi o grande vencedor de 2015

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O visual impressiona, des-de vestidos elegantes, cabelos incríveis, traços

perfeitos e valorizados por ótima maquiagem, até a barba impecá-vel num rosto feminino que fugia ao contexto. Choque, repulsa, sur-presa e encantamento. Foi assim que a Áustria inicialmente se divi-diu tentando entender o significa-do daquele look andrógino e o que isso representava.

E quando este personagem de voz doce, porém poderosa, inter-

O voo da

fênixUm homem de vestido ou uma mulher de barba? Foi assim o primeiro impacto das pessoas em todo o mundo ao conhecerem o candidato que concorria pela Áustria em 2014, para representar o país no mais popular concurso de música realizada na Europa, o Eurovision. Nascido em uma pequena vila da Áustria, o jovem Tom Neuwirth, de 26 anos, já havia tentado a sorte em outros concursos de música. Mas somente depois que teve a grande sacada de transformar-se em Conchita Wurst é que garantiu a estrada para o sucesso

pretou a música “Rise Like a Pho-enix”, o mundo jamais imaginaria que não seria o mesmo depois dele. Todos os holofotes se voltaram para Conchita e mesmo diante de grande polêmica gerada pela sua figura, quando pequenos grupos homofóbicos na Rússia, Turquia e até mesmo da própria Áustria mostraram-se indignados pela sua participação no Eurovision, ela en-cantou milhares de pessoas e con-sagrou-se vencedora.

Para essa minoria, com muita

doçura e inteligência, Conchita la-menta o fato das pessoas se preo-cuparem com coisas tão pequenas e preconceituosas, quando existem milhares de problemas no mundo. Acrescentou ainda que não deve-riam se ligar na aparência dos ou-tros. Sabe que a barba pode chocar. Acredita que ao motivar as pessoas a olharem para as outras por um novo ângulo, atinge seu objetivo. Com isso, rapidamente, virou uma diva e uma voz ativa para a comuni-dade LGBT.

Por: Ana Paula Garrido

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Sua história não é diferente da maioria. Nascida em uma pequena vila de um país conservador, quan-do adolescente tentou com muito esforço se “enquadrar” para ser aceita, mas, segundo disse, cansou de tentar ser o que não era e que resultava em sofrimento com a in-tolerância e o preconceito. Foi em frente e, das cinzas, renasce como Conchita Wursh.

Seu nome artístico, segundo di-zem na Áustria, tem duas versões: Conchita significa concha ou vagi-na em espanhol, já Wursh significa salsichão em alemão. Uma brinca-deira para designar os dois sexos, mas também existe outra linha que defende que Wursh, uma expressão que significa “tanto faz”, também faria bastante sentido para quem

defende que não importa o que se é para o mundo. Mas, como a pessoa se vê.

Mais importante do que nomes ou barbas, a popularidade tem tra-zido mudanças expressivas e des-construindo as arcaicas definições sobre gêneros e a forma como as pessoas rotulam os papéis sexuais na sociedade.

Da noite para o dia, ela virou a pessoa mais pop do país. Seus looks, cabelos e a cinturinha são compara-dos às da Imperatriz Sissi, que vem perdendo o posto de Queen para a nova celebridade do momento e foi com o seu sucesso que o Eurovision teve ainda mais popularidade.

O país que vence o concurso, ganha o direito de realizar o evento no ano seguinte. Por isso, a Áustria

foi o anfitrião em 2015. Foi o rosto e a alma da grande festa que tomou conta da cidade. Sua imagem estava por todas as partes. Seu rosto esteve estampado em todas as peças pu-blicitárias do Eurovision; sua voz era ouvida nos metrôs anunciando de forma humorada as próximas paradas e até, quem diria, fez pro-paganda para um banco. Sim, uma das mais tradicionais instituições financeiras da Áustria tem Conchi-ta Wurst como garota propaganda.

Isso representa uma quebra de paradigmas sem precedente e cer-tamente o início de uma grande mudança que está por vir. Que essa fênix voe cada vez mais alto e que o respeito e o amor tomem o lugar do preconceito e da intolerância. Good Job, Conchita.

Sucesso na entrevista coletiva. Dezenas de fotógrafos disputam espaço para conseguir a melhor imagem

A artista está presente nos grandes festivais de música pelo mundo

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A imagem de Conchita vende de tudo. Desde cartão de crédito do Bank of Austria, até produtos em lojas de departamentos.