Evangelho familia

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Evangelho e Família

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  • 1. Evangelho e Famlia

2. 2 EdioDo 4 ao 8 milheiroCriao da capa: Objectiva Comunicao e MarketingDireo de Arte: EscobarReviso: Jacqueline Sampaio, Silzen Furtado e Hugo P. HomemPesquisa no Evangelho: Dalva Duarte Diagramao: Joseh CaldasCopyright 2002 byFundao Lar HarmoniaRua da Fazenda, 560 Piat41650-020 Salvador, Bahiaatendimento@larharmonia.org.brwww.larharmonia.org.brfone-fax: (71) 286-7796 Impresso no Brasil ISBN: 85-86492-10-8 Todo o produto desta obra destinado manuteno das obras da Fundao Lar Harmonia. 3. Adenuer NovaesEvangelho e Famlia FUNDAO LAR HARMONIACNPJ /MF 00.405.171/0001-09 Rua da Fazenda, 560 Piat 41650-020 Salvador Bahia Brasil2004 4. Novaes, Adenuer Marcos Ferraz deEvangelho e FamliaSalvador: Fundao Lar Harmonia, 10/2004272p.1. Espiritismo. I. Novaes, Adenuer Marcos Ferrazde, 1955. II. Ttulo.CDD 133.9ndice para catlogo sistemtico:1. Espiritismo 133.92. Psicologia154.6 5. A famlia o ncleo bsico da sociedade.Nenhuma instituio se transformou tantoquanto a famlia no sentido do respeito ao outro e dabusca da felicidade coletiva. O Evangelho um roteiro para a famlia har-monizada.No h frmula padro para a soluo dosconflitos psquicos, pois cada mente tem seus pr-prios processos que a fizeram estar na situao emque se encontra. Aos meus pais, Hostlio e Terezinha, os quais me proporcionaram os ali- cerces morais bsicos da formao e manuteno de uma famlia, minha profunda gratido. 6. Evangelho e FamliandiceO Evangelho como roteiro para a famlia ......................9Um olhar amoroso sobre o mal do outro ...................... 13Valores no lar ..............................................................17O perdo no lar ...........................................................23O convvio em famlia ...................................................26Evangelho no lar ..........................................................38O Evangelho ................................................................ 46O lar ...........................................................................53A paz no lar ................................................................. 61A famlia ...................................................................... 66A famlia universal ........................................................ 71A famlia originria ....................................................... 75A famlia gerada ........................................................... 80A famlia crmica ........................................................ 84A famlia inconscientemente desejada (expectativa) ....... 88A famlia-lar .................................................................93A famlia espiritual ........................................................99O segundo enlace ........................................................ 103Filhos do outro ............................................................109Pais estimuladores. Filhos que usam drogas .................. 114Separao amigvel e litigiosa ...................................... 122Inimizade entre irmos. dios em famlia ...................... 127 7 7. adenuer novaesFilhos problemas .........................................................134Condies financeiras da famlia ...................................139A mulher que supera o marido financeiramente .............145Vida em condomnio .................................................... 150Problemas de herana .................................................. 156Alcoolismo na famlia ................................................... 160Hipocondrismo ............................................................166Pais que sufocam filhos ................................................171Pais rgidos .................................................................. 177Pais permissivos e pais ausentes ...................................182Filhos que no querem estudar. Profisso dos filhos ......188Adolescentes, gravidez precoce e homossexualismo .....196Abuso sexual ...............................................................204Doenas congnitas .....................................................210Mortes prematuras ......................................................216Transtornos psquicos na infncia ..................................221Obsesso na infncia e na adolescncia ........................ 229Idosos na famlia ..........................................................235Adoo .......................................................................241Auto-imagem e auto-estima. Timidez ............................ 247Relaes amorosas conflitivas na adolescncia ............. 254Famlia e opo religiosa ..............................................260Parentes impertinentes .................................................2678 8. Evangelho e FamliaO Evangelho como roteiropara a famlia Por detrs das palavras escritas pelos evangelistas a res-peito do que Jesus disse, existem preciosas lies de sabedoriaque, quando contextualizadas, oferecem roteiros para a compre-enso dos mais diversos problemas familiares. Para alcanarmosum significado mais profundo, alm das palavras, preciso abriro corao para o sentimento do amor e a mente para a sabedoriaespiritual. A utilizao do Evangelho, como ferramenta para o tratosocial, no exclui sua aplicao ao mundo ntimo de cada um,sobretudo quando na vivncia das relaes familiares. Nelas oesprito se desenvolve e retoma seus processos psquicos deixa-dos em aberto nas encarnaes precedentes. O Evangelho ou Boa Nova um guia precioso que podenos fazer entender melhor, do ponto de vista psicolgico, os maiscomplexos problemas envolvendo o relacionamento familiar. Je-sus falou para pessoas que viviam num contexto familiar, portantosuas palavras no se dirigiam apenas a eles, mas tambm famliada qual faziam parte. Jesus trouxe idias que podem nos levar ao entendimentode que a vida em famlia um sistema possvel, no qual a convivn-9 9. adenuer novaescia e o auxlio mtuo podem proporcionar a felicidade ao grupo deespritos que dela fazem parte. Suas idias penetram o Esprito fa-zendo com que este olhe para si mesmo, mostrando-lhe que a Vida mais do que o corpo e do que sua exclusiva felicidade. No estamos mais no tempo em que uma nica pessoa responsvel pelos destinos de uma famlia. Todos agora so con-vidados a assumir os rumos que o grupo familiar vai seguir. Pais,filhos e agregados so co-responsveis pelo futuro da famlia. Apartir da adolescncia o esprito assume sua encarnao, saindoda condio de criana que precisa de cuidados para a de adultoque j colabora e participa das decises coletivas. O esprito cada vez mais precocemente assume seus pro-cessos crmicos que influenciaro o prprio destino. Por essemotivo, a famlia se torna mais cedo o palco onde todos so con-vocados a colaborar uns com os outros, no qual se misturam dese-jos e expectativas com as provas que a Vida prope a cada um. O Evangelho em famlia deve ser passado principalmentepelo exemplo. Quando verbalizado deve mostrar-se como liesimortais de amor e luz, proferidas com suavidade e sem manipu-laes moralistas. Que adianta proferir palavras para convenceralgum de uma moral que ainda no se pratica? O Evangelho no pode ser transformado numa camisa defora para as geraes que esto reencarnando. Deve ser passa-do principalmente pelo comportamento, pois as palavras passame as atitudes se impregnam em quem as v. No se deve obrigar algum a aceitar uma idia. Muitoembora se deva tentar pass-la, preciso respeitar os limites decada um e seu momento evolutivo. A luz do Evangelho pode ce-gar aqueles que no esto acostumados claridade, por isso preciso ter pacincia para que eles se acostumem. precisomostr-la em doses adequadas para que sua divina claridade noprejudique sua absoro. As palavras de Jesus foram utilizadas para diversos fins.Uns fizeram delas bandeira para dominar e matar. Outros, como10 10. Evangelho e Famliafio condutor do esprito para os caminhos do amor. Os exemplosso muitos de parte a parte. Temos que nos conscientizar do usoque delas fazemos para que os espritos que conosco convivemno morram pelo nosso dogmatismo. A tolerncia e a pacincia,alm do desejo sincero de auxiliar o outro, so instrumentos maiseficazes do que palavras, por mais verdadeiras que sejam. Cada um traz seus processos crmicos a serem resolvidos.Eles so intransferveis. O Evangelho, se bem vivido, torna-se po-deroso instrumento para que a encarnao seja um abenoadomomento de equilbrio e aprendizado. Os ensinamentos nele conti-dos podem ser encontrados em outras religies, pois o amor e asabedoria no so privilgios dos cristos e sim patrimnio de Deus. A famlia o ncleo bsico da sociedade e sua expressomais simples. Cada ser humano no convvio familiar deve apren-der e vivenciar experincias que sero teis em sua vida social.Deve buscar ser na sociedade o que em famlia e vice-versa.Ausentar-se dela, sob pretexto de que diferente dos demaiscom quem convive, fugir do prprio destino e da oportunidadede crescer espiritualmente. A convite da inspirao amorosa decidi por fazer um livrodiferente. Neste trabalho trouxe alguns casos verdicos envolven-do conflitos familiares com que tive contato ao longo de mais devinte cinco anos de atendimento ao pblico. Analiso cada caso luz do Evangelho, da Psicologia Analtica e do Espiritismo, tra-zendo uma mensagem ao final de cada captulo. Evitei trazer idias que se encontram no imaginrio coleti-vo, optando por grafar histrias do cotidiano da vida real comoela e com personagens que nem sempre encontramos nos li-vros. So histrias simples com pessoas tambm simples quepodem ser encontradas na prpria famlia da qual fazemos partecomo tambm em nossos vizinhos. No pertencem s galerias defamosos nem so conhecidos do grande pblico. So pessoascomo eu e voc e que esto em busca da felicidade. No tenho a pretenso de esgotar o assunto nem tampoucode me aprofundar demasiadamente, mas oferecer queles que se11 11. adenuer novaesencontram sob a proteo da famlia subsdios no Evangelho paraque possam guiar-se diante dos desafios e no venham a soo-brar sem suas claridades. Interessei-me por reunir algumas palavras do Cristo numpequeno estudo sobre a famlia por considerar que na famliaque sua mensagem deva ter importante aplicabilidade. A vida emsociedade uma parte da vida do esprito. A outra se d na fam-lia. Na sociedade ele vive o mundo da persona1 , o mundo cheiode mscaras. Em famlia ele se revela o mais prximo possvel desua realidade existencial. Decidi por trazer aspectos especficos da mensagem doCristo que pudessem atender ao mundo interior do ser humano,fugindo das interpretaes generalistas ou exclusivamente orto-doxas. Neste modesto trabalho procuro levar o leitor a entenderque em algumas palavras atribudas ao Cristo se pode encontrarlies preciosas que o conduziro soluo dos mais diversosconflitos vividos em famlia.1A persona uma espcie de personalidade auxiliar que nos permite a comunicaocom o mundo de forma adequada.12 12. Evangelho e Famlia Um olhar amorososobre o mal do outroO olhar moral enviesado sobre o mundo pode nos afastarda viso de totalidade e da percepo do significado espiritualpleno da vida. Tanto quanto o vis permissivo sobre o mundo,assim como o olhar pesado e pecaminoso que se tenha, contribu-em para o atraso moral do planeta. Nem sempre nosso estado deesprito permite-nos a percepo desejada quando observamosas atitudes humanas. Quando nos detemos na anlise, por exem-plo, de um vcio de algum e o fazemos numa perspectiva mora-lista, vendo-o como um mal em si, desconectado da totalidadeexistencial do indivduo, poderemos atingir somente a superficia-lidade do problema. Alm da considerao do vcio, que consi-derado como um mal, h a qualidade evolutiva do esprito que aele se escraviza e que sempre o faz por razes no alcanveisimediatamente, por ele mesmo ou por qualquer pessoa que sedebruce na reflexo do conflito, por mais especialista que seja ementender os problemas humanos. Devemos lembrar que o serhumano individual e coletivo ao mesmo tempo, isto , ele agepor seu livre arbtrio e motivao prpria, mas tambm pelas in-fluncias que recebe, sejam de seu meio ambiente ou pelas inter-ferncias espirituais. Suas aes no decorrem apenas do mo-13 13. adenuer novaesmento atual, tampouco apenas de seu passado reencarnatrio.Tudo se conecta, passado, presente e expectativas futuras paraque um comportamento to complexo como um vcio se instale.Nossa viso no se deve limitar a estabelecer o que bem e oque mal e a partir da determinar qual o tratamento para o mal. Nesse sentido, o Evangelho utilizado apenas com essa fi-nalidade, isto , de referendar um enquadramento do que bem edo que mal, estaria sendo utilizado com uma finalidade muitoaqum de suas possibilidades transformadoras. A claridade desua essncia estaria sendo de alguma forma depreciada. Quandoenquadramos as atitudes humanas entre as extremas polaridadesde bem e de mal, promovemos falsas sensaes de felicidade ede culpa. Essas sensaes sero inevitavelmente atribudas a Deusou ao que se imagina opor-Lhe. O Evangelho, nesses casos, serutilizado como uma camisa de fora. Os limites ao ser humanoso necessrios, mas no se devem constituir numa priso que oimpea de avanar no conhecimento de si mesmo e na sua ascen-so espiritual. Aqueles que se constituem em intrpretes das claridadesdo Evangelho devem buscar evitar se transformarem em profetasdo apocalipse para que no lhe embace a luminosidade que deveconduzir o ser humano felicidade. As advertncias so vlidas epreciosas, visto que alertam aos menos avisados quanto s con-seqncias de seus equvocos, porm so igualmente necessriaspropostas de aplicabilidade na vida material e em suas rotinaspara que no se preguem atitudes exeqveis apenas num mundoimaginrio ou que se situe no alm. O vcio, o erro ou mesmo alguma atitude inadequada, de-vem ser considerados como parte de um contexto psquico maiordo que sua ocorrncia. O combate a eles no se deve limitar aadvertncias punitivas, mas tambm se estender a levar o indiv-duo reflexo sobre os motivos que levaram a que se instalassemem sua personalidade; que ele identifique o sistema de valoresque o leva a classificar suas atitudes como erro.14 14. Evangelho e Famlia A profilaxia dos desequilbrios humanos ou daquilo que otorna infeliz e que gera a ausncia de paz, inicia-se na medida queele desperta para se questionar. Propor medidas comportamentaispara resolver aqueles desequilbrios como pular ou saltar umdegrau importante da escada natural de crescimento espiritual doser humano. Que se curem os males, mas que se questione a simesmo. Nesse sentido, o conselho do Cristo no Evangelho deMateus, captulo 5, versculo 14, fundamental ser repensado: Vs sois a luz do mundo; no se pode esconder a cidadeedificada sobre um monte. Portanto, aquele que tem luz sufici-ente para iluminar os equvocos alheios deve possu-la para apontarcaminhos exeqveis com o fim de transform-los em virtudes apartir de seu prprio exemplo. ...Mdico, cura-te a ti mesmo;2 A personalidade de quem veicula a mensagem do Evange-lho sem sombra de dvidas interfere na forma como esta veicu-lada e na interpretao que se lhe d. Por mais que a pessoa seesforce em apresentar, atravs do exemplo pessoal, uma visopura e lmpida, a interpretao sempre conter algo de particular.Por esse motivo toda generalizao ser incompleta. A interpre-tao genrica serve para situaes tpicas, as quais atingiro in-divduos que passem por semelhante padro crmico daqueleque a expe. O Cristo prope que o curador se cure, isto , que sua falaseja tambm, e principalmente, dirigida a si mesmo. Seu exemplopessoal a verdadeira mensagem que passa, tendo como base oque assimilou da original. A partir do que entendeu da mensagem2Lucas 4:23. 15 15. adenuer novaesque lhe inspira a vida, levar aos outros, de uma forma tpica,aplicvel aparentemente a todos, mas prpria para aqueles quetm carma semelhante ao seu.Numa famlia seus membros devem buscar aplicar o quepregam e aquilo que acreditam. Quando no se sintam em condi-es de faz-lo devem pedir ajuda aos outros membros a fim deque todos compartilhem de problemas que pertencem a todos.Omitir os problemas queles que podem ajudar demonstraode insegurana. Em alguns casos compreensvel que certos pro-blemas possam ser omitidos a fim de no expor terceiros, pormdeve-se buscar a participao de todo o grupo na soluo e dis-cusso de problemas comuns, inclusive das crianas, para quecomecem logo cedo a entender a vida.A fala do Cristo demonstra segurana e autoconfiana emsi mesmo. Ele se exps diante da Sinagoga sem esconder suascapacidades e disse para que veio. Ns devemos colocar emfamlia o que ali estamos fazendo. Devemos ter equilbrio e auto-determinao suficientes para assumir nossas responsabilidadesem famlia.16 16. Evangelho e FamliaValores no lar Quais os valores que devem nortear a formao de um lar?Aqueles oriundos da religio? Os das tradies familiares vindosdos avs maternos ou paternos? Os do pai? Os da me? Os domeio social? Aqueles adquiridos nos livros e filmes televisivos? Talvez devamos escutar mais o corao e perceber que elecontm uma mensagem divina, gravada pelo Criador da Vida aonos fazer existir. Raramente conseguimos escut-la por estarmosdemasiadamente ligados ao mundo externo. Ouvimos muitos sons, prestamos ateno ao mundo parapoder domin-lo, ouvimos as pessoas para compreend-las, ou-vimos nossos pensamentos para orden-los, mas dificilmenteaprendemos a escutar o que vem de nosso ntimo, do corao.Dali partem as intuies que nos elevam e nos fazem divinos. del que vem a mensagem e os valores que devem nortear nossacaminhada evolutiva. Foi dali que o Cristo retirou sua mensagemde amor. Escutar esse canto divino pressupe silncio, humildade econfiana. A cada momento, em cada segundo de nossa vida eleenvia um pulso que permite-nos enxergar melhor o mundo, nosfortalecendo para os desafios que ele promove. Os valores que devem ser utilizados pelo esprito em suasexperincias evolutivas devem conter aqueles que nos legaram 17 17. adenuer novaesnossos antepassados, os que adquirimos no convvio social, osque admitimos pelas relaes que estabelecemos com algum,mas devem receber, sobretudo, o que vem do corao como umrecado direto de Deus ao ser humano individualmente. As religies nos oferecem importantes balizas orientadorasque nos auxiliam, sobretudo nos momentos de tempestades nti-mas. So valiosas contribuies queles que necessitam vivenciaraquilo que lhe sagrado. Os que se pautam pelas diretrizes lumi-nosas de uma religio devem, dia-a-dia, acrescentar-lhes aquelasque lhe vm do corao para que se elevem ainda mais. O maior valor que se deve vivenciar no lar e passar adianteaos filhos a amorosidade para com os outros, para com a vida,para consigo mesmo e para com Deus. A sociedade est sempre em mudana de costumes e devalores. No diferente na famlia. Ela passa por transformaesmais sutis que aquelas que percebemos na sociedade, cujos mei-os de comunicao conseguem nos mostrar com mais evidncia. Evolumos da sociedade tribal, na qual a famlia vivia parao grupo e no tinha sua identidade, para a urbana que tambmpassa pelo desaparecimento de um status. No perodo medievaleuropeu pode-se notar uma certa conquista de identidade em fun-o da distino entre nobres e plebeus, mas na idade modernavia-se o declnio da tradio calcada no nome e na riqueza. A famlia hoje se constitui mais pela atrao entre as pes-soas do que pela necessidade de transmitir valores de um deter-minado cl para seus descendentes. Os problemas de relaciona-mento, de afetividade, de poder e financeiros so a tnica domundo moderno. Os valores a serem passados aos filhos estoem segundo plano ou em nenhum. A famlia o campo de entrada do esprito pelas portas dareencarnao na vida material. Nela ele ir desempenhar papis18 18. Evangelho e Famliaimportantes para sua vida psquica e para sua evoluo. Sua menteir lembrar e consolidar estruturas psicolgicas de relevncia parasua existncia no corpo fsico. Com ela o esprito se insere na vida social o que o farconcorrer para o progresso da humanidade. Dessa forma ele sesentir responsvel pelo progresso que ele mesmo experimenta. Na famlia o esprito evita o isolamento que contribui parao egosmo e para a no utilidade da reencarnao, visto que oconvvio social proporciona o progresso da humanidade e o aper-feioamento pessoal. Para Deus no h sacrifcio necessrio que possa ser maiordo que o esprito fazer o bem que esteja a seu alcance. O bempara si e para a sociedade. na famlia que o esprito inicia seuprocesso de auto-ajuda e de colaborao com o progresso soci-al. em famlia que o esprito recicla suas emoes e aprende areconhec-las como instrumento precioso para sua evoluo. Evoluiquem aprende a lidar com elas.No h um esprito igual a outro como no existe outroDeus se no a inteligncia suprema do Universo. Somos singula-ridades de Deus, gerados pelo seu amor. Existimos para alcan-armos a perfeio. At l muitas etapas sero vencidas e muitosdesafios ultrapassados. Todos eles atravs da internalizao dacapacidade de amar.Nascemos para a prpria glria e para a construo doamor no Universo como a Realizao de Deus. Porm, essa gl-ria no se encontra nos lugares de destaque da sociedade nemnos registros de imveis dos cartrios, nem tampouco nos valo-res das contas bancrias. Ela se realiza na intimidade do lar querepresentar o trofu de vitria de quem o constri.Certos valores devem ser consolidados em cada pessoa eestabelecidos como normas de convivncia para que se alcance 19 19. adenuer novaeso lar desejado. Valores que no estaro escritos nem precisaroser verbalizados, visto que se encontram no corao de cada um. Existem princpios consagrados pela sociedade e inscritosnos cdigos religiosos da humanidade que podem nos ser teispara determinao de tais valores. Princpios como o amor, acaridade, a f, a fraternidade e a paz so fundamentais e bsicospara a compreenso dos reais valores. Do amor podemos alcanar o sentimento de respeito aooutro. Toda pessoa que se sente respeitada por algum tem cons-cincia de pertencimento e identidade. Quanto mais respeitamos aspessoas como filhos de Deus, por mais imerecedoras que possamparecer, estaremos contribuindo para o fortalecimento do amor. Da caridade podemos estabelecer o valor da doao queser fundamental para a conquista da amizade do outro. Quantomais pudermos renunciar em favor de algum mais conquistare-mos essa pessoa. Ceder o princpio que permite a conquista dealgum. Todo ser humano grato a outro quando percebe nesteoutro um ato de renncia em favor de sua felicidade, pois assim agratido despertada. Da f podemos extrair a crena no ser humano comocapaz de superar seus limites e vencer desafios. Acreditar na ca-pacidade das pessoas auxilia a que elas confiem em si mesmas.As pessoas precisam ser acreditadas, pois assim estimulam opotencial de realizao que naturalmente tm. Da fraternidade extramos a aproximao e o maior con-tato com o mundo do outro, no sentido de auxiliar sua compreen-so da Vida. Quanto mais nos aproximamos das pessoas, respei-tando sua privacidade, mais podemos nos mostrar filhos de ummesmo Pai, irmos em humanidade. Da paz extramos a capacidade de ouvir o outro. Ouvir aspessoas significa dar-lhes o direito de se mostrarem e de fazerparte de nosso mundo. Cada vez mais as pessoas querem falar,porm cada vez menos encontramos escutadores. Escutar sairde si e destinar a ateno ao outro20 20. Evangelho e FamliaAlm dos valores que a sociedade nos oferece devemoscultivar o respeito, a doao, a crena no outro, a aproximao ea audio ao prximo. Os valores que passamos queles que convivem conoscona famlia no se transmitem apenas pelas palavras que lhes dirigi-mos ou atos que praticamos, mas principalmente, pelo que nofalamos e pelo que no fazemos. O que sentimos e pensamos daspessoas nossa volta, e que no traduzimos em palavras, mani-festa-se pelas expresses corporais e, invisivelmente, pelas co-nexes que se estabelecem mente a mente, no obedecendo sbarreiras condicionadas pela matria e pelo ego3 . Portanto, o que falamos, fazemos e sentimos, alcana aque-les com quem nos relacionamos, mas os sentimentos se tornammais relevantes por serem transmitidos de forma inconsciente, emvirtude de nos ligarmos uns aos outros pelas imperceptveis e sutisvibraes do Esprito. Emitir bons pensamentos, desejar paz e equilbrio para al-gum no apenas um exerccio para o ego que deseja seu pr-prio bem estar, mas uma emisso psquica que alcana a outrapessoa onde quer que se encontre. Da mesma forma, a orao sentida alcana seu objetivo quan-do se destina em favor de algum. Neste caso, o benefcio duplo,pois enriquece quem a faz e a pessoa para qual foi destinada. Cada transformao no indivduo, que implique em aquisi-o de valores espirituais profundos, promove uma melhoria emsua vibrao pessoal. Essa vibrao mental pessoal se constituinuma marca individual que se torna automaticamente perceptvelaos espritos desencarnados e, sutilmente, s pessoas em geral.3O ego o centro da conscincia, atravs do qual o Esprito se relaciona com omundo. 21 21. adenuer novaes O que se passa dentro das quatro paredes onde vive umafamlia a ela pertence. Quando algum assunto necessite extrapolarseus limites, o motivo deve ser para o equilbrio e a manutenodo lar. Todas as vezes que deixamos que entrem ou saiam assun-tos que no levem em considerao a harmonia do lar estaremosabrindo flancos perigosos para os ataques psquicos. Um lar um campo de amor onde devem vibrar os senti-mentos de seus indivduos. Ali deve se tornar um lugar sagradono qual a entrada de outras vibraes deve ser examinada paraque nada possa contaminar o equilbrio do conjunto. A maledicncia, a revolta, o dio, bem com as lembranasde experincias que tragam sentimentos aversivos e contrriosaos valores do lar devem ser tidos como danosos. Precisam sertratados com cuidado e com o necessrio equilbrio para no setornar lugar comum na famlia. O campo do lar pouso e, s vezes, morada de bons esp-ritos que encontram um refgio para que possam proporcionar obem entre os encarnados. Valoriz-lo como uma importante clu-la no organismo social dever de quem o constituiu. Quanto maisassim o fizermos, mais estaremos seguros e no caminho adequa-do nossa evoluo espiritual. Cada um de ns sempre encontra justificativas para evitar-mos assumir responsabilidades quando o desequilbrio se instalanuma famlia. No ambiente familiar, quando algum se apresentadoente ou em desequilbrio, todos aqueles que convivem comaquela pessoa, de alguma forma, tornam-se co-responsveis peloencontro de solues que visem restabelecer a paz e a harmoniaao conjunto. Manter psiquicamente um lar tarefa que exige esforo,renncia e abnegao. No h vitria possvel sem luta interna,sem esforo pessoal e sem doao de amor.22 22. Evangelho e FamliaO perdo no lar Cultivar o perdo no ambiente domstico capacitar-separa a convivncia social plena. S cresce quem sabe perdoar eabre o corao em acolhimento ao outro. As relaes podem gerar mgoas quando criamos expec-tativas para o comportamento dos outros. Essas mgoas vo seacumulando ao longo da Vida, so fomentadoras e geradoras decomplexos4 e passveis de serem somatizadas, apresentando-secomo doenas. Quando identificarmos atitudes realmente arbitrrias con-tra ns, devemos, para que se evite a mgoa, tentar compreenderque tambm poderamos ser capazes de cometer o mesmo equ-voco da pessoa que nos atinge. Importante lembrar que aquilo, que nos incomoda na atitu-de do outro, muitas vezes decorrente da conexo que aconteceentre aquele ato e algo em nosso psiquismo inconsciente aindano resolvido. Provavelmente existem situaes gravadas em nsque provocaram mgoa e raiva em algum. Esses registros arqui-vados em nossa mente decorrem de vrias experincias vividasnas existncias reencarnatrias e que necessitam de ateno.4O complexo um ncleo psquico inconsciente que contm resduos de experinci-as que se associam por semelhana de idias, pensamentos e sentimentos em tornode um ou mais arqutipos.23 23. adenuer novaes Perdoar doar mais, isto , no se permitir abrigar o egos-mo que s v a si mesmo, compreendendo o equvoco do outro. Quem ama realmente no precisa ter de perdoar, pois, des-de que percebeu o equvoco do outro, viu-lhe a ingenuidade e aignorncia das leis de Deus e passou a buscar uma forma de ajud-lo a entender seu equvoco. O cultivo do perdo comea na medida que se busca o re-equilbrio aps discusses domsticas tpicas do estresse e da faltade dilogo e sempre que se deixa de transferir responsabilidadespara os outros. comum buscar-se um culpado e isso fomentadorde revoltas, de sentimentos contaminados e de novas discusses. O perdo liberta o outro da culpa permitindo-lhe refletirsobre os acontecimentos que geraram as discusses. Abre-lhe ocorao para o entendimento de si mesmo e do outro. Todas as experincias em famlia que geraram culpas me-recem ser revistas para que no se formem ncleos fomentadoresde discrdias nem se ampliem antigos carmas negativos. Fundamental que o senso de justia das pessoas acolha amisericrdia. Sem ela as relaes passam a se basear na causa eefeito que sugere o olho por olho dente por dente. A miseri-crdia a presena de Deus na chamada lei de causa e efeito.Tal lei, que no se fundamenta no amor, apenas uma expres-so, a qual nos deve levar apenas compreenso da lei de retor-no a uma nova encarnao. a misericrdia que nos liberta daexperincia culposa pela ao do perdo. O perdo sugere a compaixo. Ela deve estar sempre pre-sente quando dirigirmos o olhar sobre o outro que se encontra emequvoco ou em desequilbrio de qualquer natureza. A compai-xo nos permite abrir a mente e o corao simultaneamente paraa empatia com o outro, fazendo-nos vibrar numa freqncia quenos aproxima de Deus. Quando falamos em carma queremos que se entenda comouma ao e no como algo pesado e negativo. uma palavra quedeve nos levar conscincia da reencarnao e que pode ser,24 24. Evangelho e Famliadepois de ocorrido, modificado de acordo com o livre-arbtriode cada um. Nenhum carma definitivo como nenhuma aoter suas conseqncias rigidamente pr-determinadas. necessrio que no se adie o dilogo que se queira edeva ter com algum para se sanar conflitos. Quanto mais se de-mora em solucionar um conflito, mais se pretende ter a razo.Isso promove a espera de que o outro tome a iniciativa, fazendocom que o orgulho aparea. Para que o perdo realmente ocorra preciso removervelhas feridas que ainda sangram no corao promovendo a m-goa. Antigas desavenas, velhas inimizades, dios no aplaca-dos, devem ser, em face do perdo, removidos para que o amorseja sentido em plenitude. 25 25. adenuer novaes O convvio em famliaFernanda, embora tenha apenas 16 anos, se sente muitoresponsvel em casa desde o dia em que seu pai faleceu h doisanos. Ela mora com a me e um irmo de oito anos. Sua metrabalha como gerente de uma loja de roupas e tem muito poucotempo para se dedicar aos afazeres da casa. Sua me no ganhao suficiente para pagar uma empregada domstica, o que a colo-ca como colaboradora e responsvel por tarefas importantes nacasa. Todos os dias, antes de ir aula, acorda mais cedo, e, juntocom a me, prepara o caf e veste o irmo para a escola.Muitas vezes ela se lembra do pai e da falta que ele faz.Sua morte, alm de ter reduzido um pouco o padro de confortoda famlia, tambm lhe trouxe mais maturidade e um certo ar detristeza em seu semblante. Ela costumava ouvir dele as recomen-daes para que se preocupasse com seu prprio futuro a fim deno depender futuramente de um marido. As palavras dele, ditasem tom amoroso, sempre ecoavam em sua mente. Compreendiaque ele queria para ela o mesmo que proporcionara sua me,isto , independncia para trabalhar e ter seus amigos sem que adesconfiana ou a posse pairasse na relao.S agora, depois de se perceber uma adolescente madurae responsvel, era capaz de avaliar a importncia das conversasproporcionadas pelos seus pais, mesa, quando almoavam, nas26 26. Evangelho e Famliaquais os assuntos eram tratados de forma clara e aberta. Com-preendeu que, naqueles momentos, valores como honestidade,respeito ao outro, segurana, autoconfiana, fraternidade, dentreoutros, lhes foram transmitidos de forma natural, sem imposies.Percebia que seus pais vivenciavam o que pregavam. Sua percepo lhe permitiu acreditar que uma boa convi-vncia familiar calcada no dilogo aberto capaz de preparar aspessoas para tempos difceis e de sustent-las para superar osdesafios da vida. Aps o falecimento de seu pai e por influncia de uma ami-ga, passara a assistir reunies pblicas num Centro Esprita pr-ximo sua casa. Isso lhe deu conforto e a certeza de que seu paivivia em algum lugar muito bom, em face da pessoa responsvel,madura e amorosa que era. Ela compreendia que naquela famlia ela tinha um papel eno pretendia deixar de cumpri-lo. Sabia que seu irmo mais novo,que j no contava com o pai, teria de aprender com ela e com ame os valores que ela recebera. Muitas vezes entendia quando sua me ficava nervosa ebrigava com seu irmo. Geralmente adotava uma postura concili-adora, valorizando a harmonia. Evitava confrontos com a me ecom o irmo, pois decidira no transferir para ningum as causasde seus conflitos ntimos, embora os dividisse com os outros. Fazia tudo para que sua famlia permanecesse em paz, poissempre aprendera que onde se vive, se come e se dorme, se cons-tri um tesouro e se aprende o verdadeiro conceito de felicidade. A vida em famlia se caracteriza pelas projees, transfe-rncias e manifestaes de sentimentos. Sempre estamos reali-zando uma dessas condies mesmo que inconscientemente.Quando reencarnamos, no sabemos como vamos encontraraqueles com os quais contracenaremos na vida material. Criamos 27 27. adenuer novaesexpectativas antes e durante o reencarnar. Quando criana, ten-der-se- a adotar-se uma postura mais receptiva, mas no passiva,a qual torna o esprito vulnervel s transferncias, pois se atribui-ro s pessoas poderes e qualidades que nem sempre possuem.A partir da adolescncia, sem que cessem as tendnciastransferenciais, iniciam-se as projees que afastaro o espritopor um bom tempo da possibilidade de que se enxergue o si mes-mo, vivendo num mundo de personas.Na vida adulta e at que venha a morte do corpo, as emo-es e sentimentos adquiridos ao longo das encarnaes bemcomo aqueles resultantes das experincias da vida atual, estaroem ebulio exigindo direcionamento adequado.Os conhecimentos intelectuais, que tanto capacitam as pes-soas a viver no mundo, so vetores importantes para que o esp-rito lide adequadamente com seus sentimentos. Estes sim, devemmerecer ateno dobrada, pois a natureza humana se move so-bre seu terreno movedio. Quando ele se alicera em bases sli-das, o esprito est pronto para o encontro consigo mesmo. Quan-do os sentimentos so percebidos e tratados com o contributo dadimenso intelectiva, se constituem em poderosos recursosestruturantes no psiquismo.O convvio em famlia requer a percepo das transfern-cias, a eliminao das projees e a expresso equilibrada dossentimentos. Torna-se muito importante, para qualquer filho, os adjeti-vos empregados pelos pais na convivncia com eles. Quanto maiselogiarmos sinceramente nossos filhos, mais eles tendero acorresponder ao que ouviram. Filhos que foram estimulados pe-los pais tendem a alcanar mais sucesso do que aqueles que noforam impulsionados a um futuro promissor. Uma palavra bemcolocada, um adjetivo aplicado no momento adequado, podemser sempre lembrados para o sucesso de uma encarnao.28 28. Evangelho e FamliaAs relaes humanas, alm de serem permeadas de proje-es e de transferncias, se estruturam em cima de papis pr-definidos que norteiam a comunicao entre as pessoas. Tende-mos a exigir que as pessoas assumam modelos de comporta-mento que criamos e idealizamos. Sempre esperamos que as si-tuaes se desenrolem dentro de um esquema tal que no fujamde nossas expectativas. No gostamos quando as coisas saem deum padro pr-estabelecido. Nem sempre sabemos lidar com oque nos foge ao controle. No difcil observar em famlia quequeremos que cada um siga seu papel e no nos aborrea. preciso estar atento para no despejar crticas duras so-bre os filhos por eles no estarem fazendo as escolhas que seesperava que fizessem. As escolhas deles podem frustrar as ex-pectativas dos pais, no por rebeldia ou agresso, mas por esta-rem seguindo o impulso natural, prprio, de crescimento que tra-zem no ntimo. Educar flexibilizar ou rever as prprias convic-es em favor da singularidade do outro.Aquele pai funcionou como um pescador de valores no-bres para sua filha, pois em to pouco tempo de convivncia nes-sa encarnao, deixou marcas estruturantes em seu psiquismo Nem sempre nos damos conta de que as relaes familia-res so influenciadas por espritos que delas participam. A quali-dade dessas influncias varia de acordo com o tipo de vnculoque entre eles existe. Em face de suas vinculaes de naturezaafetiva que conservam com seus entes queridos, como tambmdevido a ligaes crmicas negativas que os atraem, a atuaodos espritos pode ou no contribuir para o equilbrio familiar. Pode-se considerar que uma famlia no se constitui ape-nas de seus membros encarnados, visto que no entorno delesvivem entidades desencarnadas dos mais variados tipos. Nelaencontram-se desencarnados cujos laos se devem atual29 29. adenuer novaesencarnao ou outros que se encontram vinculados pelo convvioem encarnaes passadas. Por outro lado, pode-se encontrareventualmente numa famlia espritos que no tenham nenhum vn-culo com ela, mas que ali se encontram por intercesso de tercei-ros, com os mais variados objetivos.Considerar a existncia desse universo espiritual partici-pante da famlia propicia a percepo das causas no s de con-flitos como tambm das mais inusitadas alegrias. No basta crerna existncia dos espritos. Importa considerar suas influnciasconscientizando-se da relevncia que elas tm. Dar-se conta dapresena dos espritos e da influncia que exercem constante-mente pode ser o diferencial entre famlias. Enquanto ela no sed conta de suas influncias, sofre-lhes as conseqncias, ficandoseus membros passivos, tal qual autmatos. Caso os considerecomo participantes da dinmica familiar, podem lhes aproveitar apresena para o crescimento espiritual do grupo. As relaes humanas so permeadas por mecanismos ps-quicos conscientes e inconscientes. Por este ltimo aspecto nemsempre sabemos os motivos que nos levam a essa ou aquela ati-tude, pois eles podem nascer das camadas mais profundas damente at alcanar a conscincia. O inconsciente contm experi-ncias (e emoes delas resultantes) acumuladas nas vriasencarnaes do esprito. Por esse motivo, as relaes so influ-enciadas por outras que tivemos com os mesmos espritos quehoje renascem e convivem no mesmo teto. Poucos espritos es-to juntos pela primeira vez, pois, via de regra, j se relacionaramantes, no desempenho dos mais diversos papis sociais. A lei de Deus nos rene ao necessrio aprendizado e paraa manifestao do amor pleno. A vida em famlia , portanto, ogrande laboratrio onde os espritos reciclam-se para a prpriafelicidade. ali onde se renem antigos amores e velhos desafetos30 30. Evangelho e Famliapara que, no desempenho dos papis familiares, aprendam a seamar verdadeiramente. Ao reencarnarmos, trazemos gravados os sentimentos quetivemos em relao a cada pessoa que reencontramos. Em nos-sos arquivos perispirituais constam as mgoas, tanto quanto asgratides, bem como tudo que foi projetado por ns naquele es-prito em vidas passadas. Quando falo em projeo quero dizeraquilo que se configura a imagem da pessoa em ns, carregadadas emoes que lhe endereamos. Se, por exemplo, reencon-tramos, pela reencarnao, um antigo pai que nos foi muito que-rido no qual confivamos e o vamos como uma pessoa provedo-ra, honesta, sria e competente, tenderemos a projetar essa ima-gem nele caso o reencontremos. Se ele renasce, como irmo con-sangneo, tenderemos a projetar nele a imagem daquele pai, gra-vada em ns. Em famlia estamos sempre projetando as emoesgravadas internamente, oriundas do passado, nos espritos queretornam nossa convivncia. Quando, por algum motivo, aque-les espritos no retornam nossa convivncia, tenderemos a pro-jetar aquelas imagens em pessoas que ocupem o mesmo papelfamiliar. No exemplo citado, caso o antigo pai no tenhareencarnado, tender-se- a exigir do novo pai que ele corresponda projeo atribuda ao anterior. Escolhemos entre pessoas que fazem parte de nosso uni-verso consciente, tenhamos ou no relaes estreitas com elas,para que ocupem funes de destaque no psiquismo. Queremosque os personagens do universo familiar sejam modelos de per-feio e de carter. O pai ser aquele indivduo bem sucedido,sbio, experiente, moderno e conselheiro, semelhana da ima-gem arquetpica5 gravada psiquicamente. Da mesma forma ofazemos com a me.5Vide definio de arqutipo em nota adiante. 31 31. adenuer novaesEssas imagens so modelos cunhados pela tendncia quetodos temos de encontrar um pai ou ua me exemplares e idea-lizados. Cristalizamos psiquicamente figuras cujas caractersticasse aproximam daqueles modelos e as transformamos em imagensrecorrentes na mente inconsciente.Imaginemos algum que teve um pssimo pai, na atual ouem outra encarnao. Ter que fazer algum esforo para aceitarum novo pai, mesmo que ele seja efetivamente um bom pai. Omesmo ocorrer em relao aos outros papis familiares.O acmulo dos papis resultantes das vidas sucessivas for-mar internamente uma imagem de pai, que tender a ser projeta-da externamente, sendo que o ltimo exercer maior influncia naencarnao posterior.Devemos entender que todos temos a tendncia arquetpi-ca de projetar nosso mundo interno no externo. As pessoas comquem convivemos servem tambm para que, inconscientemente,lancemos nosso prprio carter nelas. Os aspectos inconscientesda personalidade do ser humano so invariavelmente colocadossobre aqueles com os quais nos relacionamos. Da a importnciade analisar a idia que se tem dos prprios familiares como partedo seu psiquismo inconsciente. Assim pode-se conhecer um poucomais sobre si mesmo travs da relao com o outro, pois neleprojetamos boa parte daquilo que somos. Fundamental para o equilbrio e a paz em famlia o dilo-go afetivo entre seus membros, principalmente nos momentos ondea tenso interna da casa ameace a harmonia domstica. Cabesempre aos responsveis pelo lar a iniciativa, no se esperandoque quem no tenha razo pea desculpas ou fale primeiro. Quemcompreende mais deve iniciar o processo de harmonizao. Tais dilogos devem tambm ocorrer fora dos momentosde tenso, quando os nimos no estejam exaltados. Aps as32 32. Evangelho e Famliadiscusses deve-se refletir sobre qual a melhor forma de retomaro dilogo e de que maneira ele deve ser conduzido para no ferira suscetibilidade dos outros. Ser sempre importante observar otom da voz e as palavras, que devem ser colocadas de forma aexpressarem afetividade e amorosidade. s vezes no conta oque dizemos, mas com que modulao de voz e emoo o faze-mos. Uma mesma crtica poder ser aceita por algum que tenhadificuldade de admitir que est equivocado, se o fizermos comamorosidade. Quando conversarmos com algum, devemos procurarpoupar a pessoa do nosso mau humor e da agressividade queporventura tenhamos, pois, caso contrrio, estaremos nas mes-mas condies de quem assim age conosco e, sabemos por ex-perincia, o quanto tal tratamento desagradvel. A fala amoro-sa desperta no outro um sentimento recproco que permite a co-municao num nvel profundo, conectando os coraes. Foi dessaforma que o Cristo conseguiu atingir as pessoas e perpetuar suaspalavras at hoje. Quando falamos com o corao, quem nos ouve guardanossas palavras e permite que elas repercutam por muito tempoem sua mente. Todos ns somos suscetveis s influncias do meio da mes-ma forma que interferimos nele. Difcil determinar o que tem maisimportncia. No diferente na vida em famlia. Todos interferemno grupo como tambm sofrem interferncia dos demais. Porm,h um fator que influencia o grupo familiar e que, de to sutil, no percebido por ningum. Trata-se do modo de ser de cada um queno aparece explicitamente nos atos nem nas palavras e que no dito, mas que captado inconscientemente por todos. O que no se diz, mas se pensa; o que no se expressa,mas se sente; o que no se faz, mas se deseja; moldam o com-33 33. adenuer novaesportamento do outro, exercendo tanta influncia quanto o meio equanto aquilo que dito e feito pelos demais. Quando se aconselha que prevalea o dilogo tambmno intuito de diminuir a influncia do que no dito. Quanto maisse exercita o dilogo buscando explicar aquilo que se pretendepara com o outro, estreitam-se os laos e se estabelece a confianamtua. Tudo que se deseje fazer e que implique em reciprocidadeou atuao por parte de algum, deve ser explicitado com o mxi-mo de clareza possvel. Quanto mais se puder explicar o que se faz,mais se obtm xito quando o que se quer depende de terceiros. Quando falta o dilogo na relao com algum ou quandose economizam as palavras, permite-se que se estabelea umacerta distncia com o outro. Isso contribui para que o outro pos-sa exercer sua imaginao e criatividade para com o desejo dequem lhe aciona. Abre-se um campo imenso de possibilidadespara que o outro possa pensar o que lhe aprouver quanto s reaisatitudes de quem o busca. Quando isso se refere aos filhos, cujas personalidades po-dem ainda estar em vias de consolidao, sobretudo na juventu-de, torna-se fundamental que a comunicao se estabelea commuita preciso e clareza. A vida muito voltada para o trabalho que naturalmente exi-ge ateno, pois sem ele no se sobrevive, limita uma maior apro-ximao entre as pessoas na famlia. O dilogo se d em temporestrito e as conversas so prejudicadas pelo estresse dirio. Ocansao, o sono, dentre outros fatores, interferem na disposioem se conversar com algum. Muitas vezes, chega-se em casadisposto apenas a ir para a cama. Qualquer outra coisa seria exaus-tiva demais. Acresce a essa dificuldade, a natural timidez e dificuldadeem falar de si mesmo aos outros. Restringem-se os dilogos sreivindicaes, queixas e ao trivial, sem que se tenha o cuidadode abordar questes relevantes da vida de cada um.34 34. Evangelho e FamliaAs acusaes, mesmo que tenham fundamento, que sofeitas contra um outro membro da famlia, tendem a desestabilizara estrutura familiar e levar dificuldades ao dilogo e ao convviofraterno. Pode-se abordar algum que cometeu um equvoco semacus-lo ou agredi-lo. Tendo-se o cuidado de colocar a questocom o objetivo de educar e no de punir sumariamente.As brigas domsticas, as quais ocorrem naturalmente, nun-ca devem ameaar o equilbrio e a harmonia do lar. Quem discutecom outra pessoa deve atentar para que, aps a discusso, a pazse estabelea.No se pode esquecer que estamos cercados de testemu-nhas invisveis, espritos desencarnados, que participam de nos-sas vidas, com os mais diversos interesses e que contribuem po-sitiva ou negativamente para o que ocorre em casa. Vinde aps mim, e eu vos farei pescadores de ho-mens.6 Interessante a fala de Jesus no que diz respeito a compararpessoas a peixes. Parece que ele quis mostrar queles pescado-res que havia algo mais nobre a fazer alm de pescar peixes. Pes-car retirar de dentro da gua para fora, isto , colocar no claroalgo que est no escuro; iluminar o que se encontra nas som-bras; permitir que algo saia do inconsciente para a conscincia; elevar o que est em baixo; exaltar o que se encontra emsituao de inferioridade. Poder-se-ia pensar que o Cristo estariacolocando que necessrio estimular aquele cuja auto-estima seencontra baixa. Suas palavras podem servir para os pais que po-dem se transformar em pescadores de seus filhos a fim de queeles se sintam confiantes em si mesmos. Nenhuma das palavras6Mateus 4:19. 35 35. adenuer novaesdo Cristo deve ser entendida apenas em seu sentido genrico ouliteral, mas considerando-as como dirigidas ao mundo psquicode cada um. Ele falava para poucos, pois, naquela poca, nohavia recursos tcnicos de propagao da fala. Comparar pesso-as a peixes mais do que uma figura de retrica. colocar quecada ser humano pode, com suas palavras e atos, contribuir paraestimular o outro em seu processo de desenvolvimento da cons-cincia espiritual. Estimular os filhos dever dos pais e no lhesexige nenhum preparo especial. Basta que se tenha o cuidado deestar atento a essa necessidade para que eles, um dia, se sintammais do que peixes no fundo das guas, mas criaturas de Deus,nascidas para a iluminao. O Cristo convidou pescadores para se transformarem emapstolos, num ministrio diferente do que estavam habituados.Enxergou habilidades que eles mesmos desconheciam que pode-riam exercer. Agiu como um pai ao descobrir as potencialidadesdos filhos estimulando-os a que as utilizem em suas vidas. Aoconvoc-los diretamente transmitiu segurana no que fazia nodeixando margem de dvidas quanto ao que queria. Serviu deguia para aquelas pessoas simples. Essa a tarefa que nos cabe diante da indeciso dos filhos.Iluminar suas conscincias para a escolha do caminho mais segu-ro em suas vidas. Dar-lhes educao domstica, a qual no podeser substituda pela educao formal. Nesse aspecto tambm importante para os pais passaraos filhos a confiana no auxlio espiritual, visto que somos segui-dos por eles, os filhos, quando reencarnamos. Eles tambm nosinfluenciam nas escolhas profissionais e contribuem para que en-contremos o melhor caminho de acordo com os planejamentosreencarnatrios que fizemos. Nenhum ser humano uma ilha, poismesmo encarnado no se encontra isolado daqueles que fazemparte de sua famlia espiritual. Saber que contamos com os BonsEspritos contribui para nosso sucesso. Tornar-se pescador de homens significa ser capaz deentender a natureza humana e encantar-se com ela iluminando os36 36. Evangelho e Famliacaminhos dos outros que vm atrs de ns. Nenhum egosmodeve fazer parte de nossa vida quando estivermos atuando naeducao de nossos filhos. Eles so um dos mais importantescampos de realizao nas nossas vidas. Todas as vezes que colo-carmos o egosmo frente de nossas aes, estaremos longe doverdadeiro encontro conosco mesmos, do encontro com o Self.Cada ser humano pode se tornar o nosso peixe, poispoderemos elev-lo luz, e assim iluminarmos seu caminho damesma forma que alcanamos as claridades da superfcie. 37 37. adenuer novaesEvangelho no larAmilton dedicado expositor esprita num Centro em bair-ro distante de onde mora. Mesmo casado e com trs filhos, con-segue dedicar-se tarefa evanglica sem comprometer suas obri-gaes para com a famlia. Divide-se entre seu trabalho profissi-onal como empregado de uma empresa bancria de economiamista, o Centro Esprita a que ajudou a fundar e a famlia, qualele dirige seus sentimentos mais nobres, dando a cada dimensode sua vida o devido tempo.A esposa, embora no o acompanhe em suas tarefas esp-ritas, compreende e aceita quando o companheiro sai, pelo me-nos uma vez por semana, para suas palestras pelos bairros dagrande cidade onde moram.Ele acredita que est desempenhando com sucesso seuscompromissos espirituais e acha que sua misso na Terra estindo bem. Porm, em casa onde ele sente mais dificuldade.No entende a causa de, s vezes, no lar, no conseguir o quealcana fora dele.Quando faz suas exposies sobre temas espritas conse-gue convencer as pessoas daquilo que diz. Sabe argumentar emfavor das teses espritas. Mas, em casa, quando realiza o encon-tro semanal para leitura e anlise de temas do Evangelho, sentedificuldade em fazer com que seus filhos os aceitem.38 38. Evangelho e Famlia Vez por outra, pode-se v-lo tentando organizar as idi-as para que seus filhos adolescentes aceitem as claridades doEvangelho. Desde que comeou a fazer as reunies contava com aboa vontade de todos para que se iniciasse no horrio pr-deter-minado. Porm, medida que os filhos foram crescendo, notavaa dificuldade em reunir os trs e em faz-los participar da anlisedas lies. O desinteresse dos filhos no ocorria por conta das motiva-es adolescenciais voltadas para o imediato e para o mundo ex-terno. Acontece que nosso Amilton aproveitava as reunies evan-glicas para cobrar dos filhos e para lhes chamar ateno quandocometiam algum deslize. Continha-se para no deixar a raiva vir tona quando, em meio s reunies, um dos filhos demonstrava de-sinteresse ou falta de ateno. Amilton era bom no verbo, mas de-satento psicologia da alma, que exige pacincia e amorosidade. Todos queremos convencer os outros para nossas con-vices e com isso formar um mundo tal qual o concebemos.Achamos que, se ele fosse como ns o pensamos, viver-se-iamelhor. Esse o desejo do ego que ainda no se encontraconectado ao Self 7 . Aplicar no lar os princpios contidos no Evangelho no tarefa fcil como pode parecer. No se trata de transmitir conhe-cimentos como se estivesse numa escola comum. Tampouco sepode acreditar que, o simples fato de estarem juntos, sob inspira-o dos bons espritos, interpretando as mensagens nele conti-das, suficiente para a resoluo dos problemas da famlia e paraa aceitao rpida pelos filhos dos contedos dissertados. Nemsempre o que se escuta, se consegue internalizar imediatamente.7Self o arqutipo central do psiquismo humano, o qual nos leva busca daindividuao. a tendncia coletiva perfeio inerente ao ser humano. 39 39. adenuer novaes O Evangelho no lar mais do que uma reunio semanal emtorno de uma leitura que, indiscutivelmente, providncia salutara todos que ali vivem e momento de paz que beneficia a quantosparticipem. O verdadeiro Evangelho no lar mais do que umculto semanal, pois se constitui no exemplo daqueles que ali vi-vem. O exemplo que os pais passam na sua conduta que, aomenos, ali, deveria ser pautada nas mensagens do Cristo, o querealmente se fixa na mente dos filhos. O processo evolutivo humano passa pelo desvestimentodas mscaras sociais to comuns na vida em grupo. Com o Evan-gelho no lar, a persona deve dar lugar ao Self, pois ningum con-seguir enganar tanto tempo aqueles com quem convive. Em casa todos percebem quem somos e o que esconde-mos. O Evangelho no lar deve contribuir para que a transparnciaseja a tnica no convvio. Dedicar uma das noites na semana leitura do Evangelhocom a participao da famlia empreendimento oportunamentesalutar em qualquer circunstncia da vida domstica. Representaa unio da famlia em torno da conexo com a espiritualidade decada um. Nem sempre se inicia em face da unio e do encontro entreas pessoas que convivem sob um mesmo teto, mas justamentepelo contrrio, por falta de entendimento entre eles, exigindo aquelemomento para que busquem aproximar-se uns dos outros. um momento de comunho em torno do amor e dafraternidade entre as criaturas. Nele cessam as desavenas paraque o equilbrio no lar seja possvel. A expresso Evangelho no Lar conduz percepo deque se trata de um momento de encontro espiritual na famlia. Anatureza deste transcende a de outros encontros nos quais no secoloca como algo consciente a presena e intercesso (invis-40 40. Evangelho e Famliavel) de espritos desencarnados benfeitores. Difere de reuniesfamiliares para se tratar de questes graves e difceis de seremconduzidas. momento de paz, alegria pessoal e de intimidadecom Deus. um momento especial onde o mais importante a comu-nho que se pretende entre o indivduo e sua espiritualidade, isto ,entre espritos de diferentes vibraes, para que se unam em favordo crescimento de todos e para que se desanuviem as conscinciasde cada um em benefcio do entendimento do significado da Vida. Certamente que ser constitudo de expectativas e espe-ranas para que a situao em que se encontra o grupo venha amelhorar. Espera-se uma melhora no relacionamento entre aspessoas e a construo de um ambiente harmnico no lar. Aquelareunio no promover mgicas nem mudanas a curto prazo; noentanto se espera que a partir dela cada um faa a sua parte embenefcio do bem estar do grupo em que vive, pois dever detodos colaborar para sua harmonia. No dever se tornar um campo de atuao que substituao dilogo franco e fraterno que deve existir em outros momentos,sobre temas delicados que digam respeito a questes graves decada componente da famlia. Em outras ocasies deve haver di-logos sobre tais questes, aproveitando-se o entendimento jhavido, proporcionado pelas reunies sob a inspirao do Evan-gelho do Cristo. O momento da leitura do Evangelho no lar nodeve ser utilizado para se tratar de questes que tragam cons-trangimento ou causem melindres s pessoas. No se deve aproveitar aquele momento como espao paracrticas aos outros ou tentar mudar convices das pessoas oumesmo para chamar a ateno sobre comportamentos inadequa-dos de presentes ou ausentes. O centro da ateno deve ser aclaridade das lies do Evangelho para que todos se enriqueamcom suas orientaes positivas. No ser naquele momento que, por exemplo, o pai ou ame dever repreender filhos, e vice-versa, ou estocar um ao 41 41. adenuer novaesoutro. Por outro lado, os filhos no devem transform-la em frumde debates dos seus problemas ou de reivindicao para com ospais ou entre si. Nem tampouco fazer queixas sobre os irmosperante os pais. O privilgio dever ser o de aprender a viver luz dosensinamentos do Cristo para que todos cresam. O lar o campo de realizao da misso de cada espritoem aprender a se relacionar com seu semelhante. A reunio nodeve ser transformada em campo de doutrinao semelhanade um Centro Esprita, devendo-se respeitar as convices decada pessoa. Nenhum dos presentes dever estar ali a contra-gosto ou obrigado por quem o dirija, pois educar libertar. Aoportunidade de reunir a famlia para a orao no ser o mo-mento para se doutrinar algum tentando faz-lo aceitar o que jconsolidamos na conscincia. contraproducente tentar mudaras convices de algum quando no h receptividade ou apro-veitar momentos de sublimidade para impor idias. O lar no deve ser transformado numa escola formal, poisse trata do local onde o amor deve se manifestar em plenitude nocorao das pessoas. O Evangelho no Lar pertence intimidadeda famlia. Nem a reunio nem o lar devem ser transformados emCentro Esprita, pois pode trazer danos paz e ao desenvolvi-mento do grupo. A famlia que deseje viver sob a designao deum lar deve preservar-se, mantendo sua privacidade. Quandooutras pessoas, no componentes da famlia, comecem a partici-par da reunio, aumentando sobremaneira o nmero de partici-pantes, hora de mud-la de lugar e de objetivos, mantendo-se aleitura do Evangelho em famlia. A evocao direta aos desencarnados no momento do en-contro no lar torna-se desnecessria tendo em vista suas presen-as naturalmente requisitadas, no s pela orao que se faz du-rante o ato, como tambm pela elevao dos pensamentos quedeve vigorar entre os presentes, antes, durante e depois. A mani-festao de espritos desencarnados no momento da reunio deve42 42. Evangelho e Famliaser encarada como eventualidade, no se constituindo emobrigatoriedade. As comunicaes medinicas no devem serproibidas, tampouco estimuladas, mas tratadas com equilbrio paraque elas no transformem a reunio em atendimento espiritual,qualquer que seja sua natureza. O encontro de coraes naquele momento que propor-ciona a elevao da vibrao espiritual do ambiente e objetivacontribuir para o crescimento pessoal dos componentes da fam-lia. No uma reunio de culto externo nem deve ser de carterritualstico. Deve proporcionar satisfao e paz a quem dela par-ticipe. o momento de se eliminar as diferenas e se escutar nosilncio da orao a alma de cada um. O evangelho no lar o momento de leitura e aprendizagemcom alegria e satisfao. A reunio no deve substituir outras quedevam ocorrer em benefcio de todos. o encontro com Jesus para que a vida se torne mais agra-dvel e as dores, os sofrimentos e a ignorncia possam ser maisbem compreendidos. Ningum na Terra est suficientemente se-guro que no precise de uma luz em seu caminho. O Evangelho,tanto quanto outros cdigos de amor que a humanidade possui,permite que enxerguemos a Vida como um presente de Deus. Nas relaes humanas predominam a exteriorizao devalores e aspectos da personalidade que so agradveis ao meiono qual nos encontramos. Mostramos o que condiz com uma ima-gem externa prpria aos interesses pessoais, muitas vezesinconfessveis, mas que satisfaz ao ego. Chama-se essa imagemexterna ou sub-personalidade de persona. Confundimos a pes-soa que somos com a persona que mostramos. Esquecemo-nosde que tambm h uma parte da personalidade que raramenteaparece, mas que nem por isso deixa de exercer influncia sobreo comportamento humano. Essa parte, que tambm uma sub-43 43. adenuer novaespersonalidade, contm os aspectos negados e desconhecidos dopsiquismo humano. Chama-se essa imagem interna de sombra8 .Sombra e persona so aspectos do psiquismo humano que secontrapem e que exercem grande influncia sobre a vida e aevoluo do esprito. No devemos esquecer de como funciona a mente humanae como esses dois importantes arqutipos9 atuam a fim de quepossamos aproveitar melhor a encarnao. Geralmente quando dialogamos com nossos filhos, princi-palmente quando ainda so crianas, deixamos que a personaaparea a fim de que eles conservem uma boa imagem de ns.Escondemos a sombra por ela ter aspectos condenveis exter-namente e por acreditarmos que daramos pssimo exemplo aeles se a deixssemos aparecer. Assim vivemos por muito tempoviciando-nos em mostrar a persona e esconder a sombra. importante que, de vez em quando, mostremos aos nos-sos filhos e com quem convivemos, um pouco de nossa sombra edeixemos a persona de lado em benefcio de uma relao maistransparente e verdadeira.No so os que tm sade que precisam de mdico,mas sim os doentes. Ide, pois, e aprendei o que significa: Mi-sericrdia que eu quero, e no sacrifcio. Com efeito, euno vim chamar justos, mas pecadores.10Talvez tenhamos uma dimenso acanhada do significadode pregar o Evangelho ou mesmo os princpios espritas. Pensa-mos que o fazemos principalmente para que a humanidade se8 Sombra a parte da personalidade que desconhecemos ou que negamos em ns.9 Arqutipo uma estrutura psquica que se traduz numa tendncia padronizada a pensar ou agir de uma determinada maneira coletiva.10 Mateus 9:12 e 13.44 44. Evangelho e Famliatorne melhor. Ainda no percebemos que o desejo de pregar vemde uma necessidade interna de crescimento espiritual da pessoaque o faz. A primeira pessoa que deve se beneficiar o prpriodivulgador. H quem aproveite inconscientemente as palavras ditas peloCristo para dar suporte e credibilidade ao seu senso de justia e sua rigidez. Nossos inimigos no esto fora de ns, tampoucoso aqueles que se encontram conosco no mesmo teto. Em famlia, mais do que em outros ambientes, deve-se uti-lizar a misericrdia e o amor. Querer doutrinar os membros dafamlia advogar em causa prpria com o risco de no alcanarsucesso. Nossos familiares no so os pecadores nem devem sercolocados no pelourinho para que neles projetemos nossa sedede justia que, na maioria dos casos, de injustia. Os doentes a que o Cristo se referia so todos aqueles quepensam que apenas o outro quem deve mudar. A crtica ao filho(a) ou ao companheiro(a) deve ser feitaem momento adequado e de forma amorosa a fim de que a raivae o desequilbrio no tomem conta da reunio evanglica. Nenhuma verdade, por mais clara que possa ser, deve serimposta, pois a cada um se ensina segundo sua possibilidade deentendimento. Nossos filhos no so nossos inimigos nem devemser tomados como infiis ou pecadores. A tolerncia, a compre-enso, alm da compaixo, so mais convincentes do que toda algica que as palavras possam formar. As claridades do Evange-lho se assemelham pequena lmpada que ilumina apenas o ne-cessrio. Os holofotes costumam cegar queles que olham emsua direo. 45 45. adenuer novaesO Evangelho Luiz Augusto costumava conversar com seus colegas detrabalho a respeito das letras do Evangelho. s vezes, ficava ho-ras aps o expediente na tentativa de demonstrar as verdadesque ele enxergava nas Escrituras, sobretudo no Novo Testamen-to. Sabia de cor algumas frases do Cristo e tinha sempre um exem-plo mo para demonstrar que nada ali estava errado, conscien-te de que tudo o Evangelho explicava. Ele no entendia como as pessoas no alcanavam as ver-dades do Evangelho. Embora fossem to claras a ele, nem sem-pre conseguia fazer-se entender quando as explicava. Em casa, costumava expor aos filhos as interpretaes cls-sicas das parbolas do Cristo a fim de que eles no esquecessemjamais. Era um pregador constante. Assim agia por acreditarfirmemente no que dizia. Apesar de, por vezes, radicalizar, erahonesto e puro em suas crenas. Um belo dia, despreocupado das lies que a Vida ofere-ce independentemente das crenas pessoais, Luiz Augusto en-frenta uma pergunta de seu filho mais novo. noite, enquantojantavam, o garoto de nove anos pergunta ao pai: Meu pai, eu devo sempre praticar as lies que o senhorl durante o Evangelho no Lar? Sim meu filho, por que?46 46. Evangelho e Famlia Eu disse professora que a vida verdadeira era a espiri-tual e ela me disse que era preciso eu me concentrar na vida es-colar e que essa era a minha verdade a ser seguida. Meu filho, sua professora no sabe das verdades eter-nas. Um dia ela aprender. Embora a vida verdadeira seja mes-mo a espiritual, voc deve se concentrar em seus estudos. Esse pequeno dilogo, ocorrido em tom amistoso, nos levaa perceber que a interpretao ao p da letra pode promoverequvocos no entendimento, sobretudo em crianas. precisosempre contextualizar e exemplificar o que se transmite.O Evangelho um manual de sabedoria e contm princpios,os quais, quando seguidos, contribuem sobremaneira para que oprocesso de evoluo espiritual se d com segurana. Porm, essevalioso instrumento nem sempre utilizado de forma adequada.s vezes, prevalece o desejo do ego em se colocar emdestaque por possuir a mensagem sem que se d conta de queela deve ser vivida de forma pessoal e intransfervel. Por se tratardo centro da conscincia e pelo fato de que se estrutura paracongregar seus contedos, torna-se sua essncia bsica o poder.Sua atividade cotidiana , atravs do poder, unir os elementos daconscincia.Os conceitos ticos do Evangelho so aplicveis a todas aspessoas, mas sua vivncia prtica individual, isto , cada indiv-duo os aplicar de acordo com sua natureza ntima e com o nvelde evoluo em que se encontre.Geralmente prevalece o mundo da persona quando se di-vulga suas claridades, pois que, aquele que o faz no pretendeque lhe vejam a sombra, a qual ainda no pode ser mostrada.Em famlia ele se torna valioso instrumento para se reduziros poderes do ego e as influncias das mscaras que a personacristaliza. Sua mensagem deve alcanar primeiramente aquele que47 47. adenuer novaeslhe identificou a luminosidade. Deve ele utiliz-lo em sua vida nti-ma e no apenas no trato social. Ele no simples norma deetiqueta, mas um cdigo que interfere nas estruturas psquicas doser humano. Fazer dele um instrumento egico lanar prolasa porcos o que pouca utilidade ter. Penetrar em seu contedo e vivenciar sua mensagem re-tirar o vu que impede o Self de prevalecer no processo de cres-cimento psicolgico e espiritual. As psicologias caminham para levar o ser humano ao ca-minho o qual o Evangelho tem iluminado desde muito tempo. Suapsicologia alcana a natureza essencial do esprito e, quandointrojetada, leva o indivduo iluminao. O que faz do Evangelho um livro especial no o fato dese referir a Jesus nem por ser parte constituinte da Bblia, maspela sabedoria contida em boa parte de seu contedo. O quenele est escrito sobre Jesus e seus feitos reflete ensinamentosprofundos e que podem fazer o ser humano compreender melhora si mesmo e ao Universo em sua volta. o cdigo religioso de boa parte da humanidade e temservido de apoio s atitudes perante a vida. Embora seu alcanceseja muito maior do que aquele que tem sido utilizado, a cristali-zao das interpretaes que se lhe do so perigosas para ocrescimento de quem dele se beneficia. Parece que o que nele est contido veio de quem teve umamaior percepo da Vida ou de quem saiu da humanidade terres-tre e alcanou o sentido do existir a partir de uma perspectivadivina. Naturalmente que a linguagem utilizada, adequada po-ca, est repleta de smbolos e de arqutipos que merecem inter-pretao coerente e contextualizada. Utilizar o contedo do Evangelho para radicalizar interpre-taes parece ser um contra-senso sua mensagem libertadora48 48. Evangelho e Famliaque exige sempre uma conexo com a amorosidade do corao.Qualquer posio que implique em excluso de pessoas pela dis-criminao, que leve afirmao da violncia, que afirme a supe-rioridade de uns sobre outros ou que negue o amor e suas mani-festaes, se afasta do sentido essencial da mensagem do Cristo.Nada pode justificar atitudes que levem ausncia da paz.Mesmo tendo sido escrito por pessoas, o Evangelho trazem suas entrelinhas o amor e a mensagem de esperana e deimortalidade necessrias ao ser humano em sua busca por Deus. Enquanto estivermos precisando estabelecer um cdigo noqual apoiemos nossas idias e nele afirmemos nossos princpios,estaremos ainda no aprendizado e no exerccio da fixao dessesprincpios, sem que ocorra sua internalizao definitiva. Aps essafase, estaremos com aqueles mesmos princpios internalizados emns, de tal forma, que os cdigos externos j estaro necessitan-do de atualizao. A evoluo do esprito imortal exige contextualizao deidias e de princpios. Sempre que novos paradigmas forem apa-recendo, o ser humano necessitar de crescimento intelectual eemocional para prosseguir sua evoluo. Todo conhecimento, seja escrito, falado, ou gravado emalgum sistema, necessita de contextualizao na medida em que asociedade evolui. Os sinais utilizados para comunicar aquele co-nhecimento necessitam de interpretao adequada para que nopromovam a estagnao do ser humano e no consolidem dogmasrgidos e ultrapassados. O saber espiritual, seja vindo pelo Espiritismo ou por qual-quer outro veculo de esclarecimento ao ser humano, pode serencontrado nos sinais dos diversos princpios religiosos. preci-so abrir a mente para o entendimento de que a exclusividade deinterpretao e a adoo de um nico veculo como verdadeirotem separado as pessoas entre si. 49 49. adenuer novaes Nenhum livro, nenhuma obra, ou nenhum veculo de divul-gao deve ser canonizado ou sacralizado sob pretexto de contera verdade. Embora possa ser de inspirao divina, sempreconstrudo por pessoas, para elas e para outras pessoas. Deve-se sim, preservar a originalidade do meio e do autorpelo qual aqueles princpios foram revelados. Porm, no se devecristalizar o contedo na forma em que surgiu. Devemos lembrarsempre que a letra mata e o esprito vivifica. Em famlia, no devemos radicalizar princpios ou fazer aspessoas aceitarem normas por estarem escritas em algum livro,por mais respeitveis que sejam. As normas que se pretendampassar aos filhos ou a algum devem ser lgicas e bem explicadasa fim de que possam ser compreendidas e seguidas. Todas as vezes que adotamos um referencial externo paraapoio incondicional de nossas idias, demonstramos que nos en-contramos inseguros em relao ao que ela significa. Do ponto de vista psicolgico, quando assim procedemos,queremos esconder nossa ignorncia ou o receio de que a som-bra seja mostrada em relao quele princpio que est sendoreafirmado com base em algo sacralizado. Insistimos, com essaatitude, em impedir que a manifestao autnoma da sombra venhaa ferir os princpios conscientes, aos quais nos aferramos vee-mentemente, numa tentativa de evitar o contato com aquelas par-tes repulsivas em ns mesmos, atravs do dogmatismo de algumacrena religiosa. necessrio que nos libertemos dos dogmas, sejam escri-tos ou presentes na conscincia. Todo saber evolui com o pr-prio ser humano. Uma pessoa psicologicamente madura afirma seus princ-pios ticos de vida com base no bom senso, na lgica e na expe-rincia emocional que extrai deles. Um princpio, para ser vlido,deve estar sempre, quando vivido, levando o ser humano felici-dade em si e com os outros com quem convive. Nenhuma verdade aprisiona ou separa uma pessoa de ou-tra. As interpretaes do que se escreveu ou se firmou como prin-50 50. Evangelho e Famliacpio bsico para a humanidade no devem separar as pessoasou lev-las violncia. Devem, acima de tudo, conduzi-las feli-cidade. Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus pr-prios mortos.11 Embora possa parecer primeira vista insensibilidade deJesus ao colocar isso para um discpulo que lhe falara que primei-ro iria enterrar seu pai, veremos que se trata de um ensinamentoimportante. Existem pessoas que costumam protelar seu processo detransformao interior em face dos convites que a vida cotidianalhe exige escolher. Vivem sempre encontrando desculpas paraadiar as mudanas necessrias ao seu processo evolutivo. Quei-xam-se das exigncias sociais, dos compromissos materiais e dafalta de motivao. Preferem manter-se na postura rgida queaprenderam desde a infncia. Foi-lhes ensinado que a f resolve ou que acreditar em al-guns princpios evanglicos lhes traria a tranqilidade para seufuturo. O que implica na falta de esforo pessoal para a necess-ria transformao. So mortos para a Vida. So pessoas cristali-zadas em princpios que se tornaram estreis pela falta de atuali-zao vivencial. Estabeleceram dogmas sob a capa de que per-tencem ao livro tal ou qual. No se atualizam nem permitem outraviso a respeito daqueles temas. So mortos por carregarem co-nhecimentos mortos. As leis de Deus so passadas ao ser humano atravs desinais e smbolos dinmicos, que se encontram nas mais diversasreas e dimenses da Vida. Qualquer tentativa de se instituir ve-11 Mateus 8:22.51 51. adenuer novaesculos exclusivos de gerao e de divulgao levar o ser humano estagnao. O Cristo nada escreveu para registro de seus fei-tos. Preferiu a convivncia simples com pessoas tambm simples,visto que o ser humano, na sua prtica de vida, o maior veculode divulgao de suas prprias idias.52 52. Evangelho e Famlia O lar Luciana tem trinta e oito anos, mora com o marido Jorge,de quarenta, e dois filhos. Ambos trabalham e os filhos estudam.A mais nova tem oito anos e o mais velho tem dez. Com elesconvive tambm uma empregada que no dorme em casa, masque considerada uma amiga por eles e pelos filhos. Jorge e Luciana se conheceram numa festa de formaturade um amigo comum. Aps apresentaes e conversas em tornode trabalho, passaram a sair e veio o namoro. Namoraram portrs anos e se casaram com promessas de amor eterno. Ambos no se lembravam, mas j se conheciam de outrasencarnaes, embora nunca tenham chegado a um relacionamen-to marital. Seria a primeira vez que o fariam. Havia grande proba-bilidade de dar certo, pois no havia nenhum carma negativounindo-os. Antes de se casarem, tiveram uma longa conversa na qualcada um exps o que mais preocupava no outro. Jorge colocouque o incomodava a independncia dela que, por vezes, se reve-lava com uma necessidade de mandar e dominar as pessoas. Elalhe disse que se preocupava com sua tendncia a iniciar projetose no termin-los. Viram que essas duas preocupaes poderiam ser sanadasdesde que se esforassem. Prometeram envidar esforos para53 53. adenuer novaesevitar que desistissem dos propsitos de mudana e de estarematentos um em auxiliar ao outro. Inevitavelmente as duas preocupaes se materializaramlogo no oitavo ano de casamento. Ela queria controlar tudo etodos e ele mudava de trabalho quase que todo ano. A maneira de ser dela provocava irritao nele e conse-qentes brigas por motivos fteis. A alternncia de trabalhos delefazia oscilar o oramento domstico provocando cobranas daparte dela. Numa das brigas entre eles, por intercesso da filha maisnova que pediu que no brigassem, resolveram por fim quelasituao fazendo novos votos de ficarem juntos e de se melhorarem. Ela buscou ser mais paciente e menos controladora pro-poro que reconhecia sua dificuldade em ser menos ansiosa etemerosa quanto ao futuro. Pediu a ele que, sempre que ela seexcedesse, chamasse a ateno de forma carinhosa. Ele decidiu tomar um curso de capacitao e especializa-o em sua rea profissional e pediu a ela que lhe desse pelomenos mais um ano para que se estabelecesse definitivamentenuma empresa de grande porte. Embora argumentasse para elaque o mercado de trabalho era instvel, reconhecia que no seesforara muito para adquirir excelncia profissional no que fazia. E assim ambos caminhavam com suas dificuldades pessoais,mas fazendo planos para continuarem juntos. Ele dizia a ela queseu objetivo de vida era ser feliz e chegar velhice com netos e aseu lado. Ela lhe dizia que tinha os mesmos objetivos acrescendoo querer fazer uma obra de caridade junto a crianas carentes. Os filhos foram crescendo e os votos eram sempre reno-vados, sobretudo nas ocasies especiais de aniversrio de cadaum e, principalmente, nos de casamento. Ao chegarem aos vinte anos de casados notaram que al-guns projetos novos foram incorporados aos objetivos iniciais.Por fora da filha mais nova, que pedia ao pai um curso de espe-cializao no exterior, eles tiveram de adiar o sonho de ter umapartamento prprio.54 54. Evangelho e FamliaPara que o mais velho se casasse, eles tiveram que venderum dos dois carros que possuam.Embora ocorressem mudanas, o casal seguiu feliz seu pla-no existencial. Levaram a cabo seus projetos de vida e souberamconstruir um lar. A vida a dois, por mais amor que exista, sempre o desa-fio no qual a unio harmnica deveria prevalecer no final. O en-contro inicial se d por vrios fatores que fazem com que umapessoa se relacione com outra. Para a manuteno da relaodevem concorrer os seguintes requisitos: identidade de propsi-tos, amizade e atrao sexual. Sem eles a relao corre o risco dese tornar instvel. Quando um deles falta, o casal deve tomarconscincia disso e buscar juntos alternativas de soluo. Psicologicamente uma relao a busca por um comple-mento que se realiza de forma arquetpica. So opostos que ten-tam se conciliar no encontro amoroso, e assim o fazem para quea necessria coniunctionis ocorra, isto , para que cada um inte-gre em si o que projeta no outro e o que com ele aprende. Cada um busca seu complemento, por esse motivo nodeve esperar que pensem da mesma maneira ou que gostem dasmesmas coisas. Querer a igualdade entre os dois anular umdeles. No se deve pensar que, por serem diferentes, no possaa relao dar certo ou ser bem conduzida. Um outro na vida de algum deve lev-lo ao encontro con-sigo mesmo e transformao de que necessita na vida. A unioa dois deve levar ambos ao autoconhecimento, descoberta desi mesmo, transformao na vida social e iluminao do Esprito. Podemos sonhar com um lar no qual gostaramos de viver,com caractersticas ideais e que nos permitisse viver em paz efeliz. Porm, esse lar sempre fruto da construo pessoal de55 55. adenuer novaescada um. No algo que recebemos gratuitamente, mas que cons-trumos ao longo das vidas sucessivas do esprito que somos.Pode-se pensar num lar onde haja discusses e preocupa-es, visto que so contingncias naturais da vida em grupo. Avida, mesmo num ambiente em harmonia, exige que no perca-mos de vista o nvel de evoluo de cada pessoa e suas dificulda-des ntimas.Construamos um lar como um ambiente de paz e de har-monia, mas constitudo por pessoas que possam, momentanea-mente, apresentar algum tipo de insatisfao ou angstia. Afinalde contas a Vida oferece desafios constantes, os quais nos cabevencer e com eles aprender.Aqueles espritos que no tm um lar devem considerar queesto em regime de experimentao para aprender a constru-lo ouento esto sob expiao para se habilitarem a merec-lo.Nascer sob a proteo da famlia uma beno que nemtodos merecem, pois ainda h criaturas na Terra que, ou se tor-nam ou nascem rfs, em funo de processos educativos neces-srios. Pelo mesmo motivo, outros lutam para constru-la e noconseguem. Se ter uma famlia no privilgio de todos, rarosconseguem ter direito a um lar. Aqueles que conseguem sabem oquanto custa de sacrifcio e renncia form-lo.Do ponto de vista psicolgico muito importante ao esp-rito nascer abrigado sob a proteo da famlia e sob a orientaode um lar.Em ambos, o esprito se sente mais seguro e protegido pelaexistncia de um referencial, principalmente no lar. A mente seestrutura para vencer os desafios externos sem que se ocupe de-masiadamente com as preocupaes inerentes queles que aindaprecisam constru-lo. Protegido numa famlia, e mais ainda numlar, o esprito consegue disponibilizar sua energia psquica para osdesafios externos que deve enfrentar. A famlia e o lar lhe do osuporte estrutural para suas realizaes reencarnatrias.56 56. Evangelho e Famlia O lar o campo de realizao do esprito no qual seu passa-do se mistura ao presente em vistas ao futuro. nele que o espritorevela sua natureza essencial, pois contracena com antigos afetos edesafetos que lhe despertam suas mais recnditas emoes. A impossibilidade, por qualquer motivo, de merecer um aonascer ou de ger-lo, representa prova em curso, a qual deve oesprito suplantar buscando meios de constru-lo. Os espritos que juntos renascem num mesmo ambientedomstico detm a oportunidade de refazer suas vidas apagandoas manchas que porventura tragam. Aqueles que reencarnam semcarma negativo para com seus pares, conseguem no s harmo-nizar o ambiente como tambm dar seu testemunho de renncia,desapego e amor ao prximo. no ambiente domstico que o esprito se revela, se des-nuda de suas mscaras sociais, mostrando sua face perante osque lhe acompanham a jornada evolutiva. Sob o escafandro do corpo ele ganha nova oportunidadede atuar, muitas vezes com os mesmos personagens do passado,a fim de prosseguir sua evoluo sem marcas dolorosas. no corpo que se torna possvel o reencontro de antigosdesafetos para o trabalho de reconciliao no convvio. Ali, diospodem ser aplacados, complexos dissolvidos e amores fortaleci-dos. Cabe ao esprito iniciar, de forma determinada, seu proces-so de autotransformao. Um lar em harmonia se transforma em centro de irradiaode luz e amor em sua volta. Isso se torna possvel quando aquelesque o constroem se tornam antenas de ligao com Deus,vivenciando a lei de amor. De tempos em tempos companheiros de outras vidas bemcomo outros que ali viveram retornam em visitas afetivas parareduzir a saudade e estimular os que ainda se encontram no corpo. Proporcionado pela reencarnao, outros retornam para ocumprimento de tarefas prprias e a continuidade de seus pro-cessos educativos. Trazem, s vezes, suas energias perturbadoras,outras vezes, harmonizadoras do lar.57 57. adenuer novaes No so poucas vezes que espritos mais adiantados, res-ponsveis pela orientao reencarnatria, alcanam os lares deseus tutelados, a fim de manter o equilbrio e evitar tragdias queteriam graves conseqncias para eles. Os motivos que levam os espritos a se unir so to diver-sos que encontramos desde interesses puramente materiais e f-teis at as ligaes sublimes de almas afins. Muitas vezes as pessoas querem se unir para cumprir ape-nas um ritual social de acasalamento ou o fazem por que queremuma companhia, filhos, uma casa, etc. Nem sempre h conscin-cia para a formao de um lar. O lar o campo no qual cada indivduo desempenha suafuno de manuteno do mesmo. Cada um deve ser educadopara regular seu equilbrio. O lar um campo vibracional mantidopelas mentes e coraes que o constroem. A casa o ambientefsico que abriga a famlia, o lar a sintonia psquica e espiritualentre os membros que o instituem. O lar, se no mantido adequa-damente, desaparece e se esvai to sutilmente quanto se instalouem face da ausncia dos elementos mantenedores. A falta de defesas psquicas oriundas das vibraes emi-tidas, nascidas dos sentimentos negativos dos indivduos, cons-titui-se em brecha mental para a invaso de agressores encar-nados ou desencarnados. Quando encontram possibilidades deataques psquicos, se tornam predadores do equilbrio e da har-monia domstica. A orao, o estudo edificante, o desejo sincero de pro-gredir, as idias e ideais nobres e os sentimentos positivos sofontes emissoras de vibraes amorosas e saudveis para amanuteno do lar. Muitas vezes, uma s pessoa, quando assim procede, con-segue neutralizar os ataques psquicos indesejveis e preservar aharmonia do lar.58 58. Evangelho e FamliaA vida a dois um desafio para todo casal. na convivnciamarital que cada um descobre, nas projees que faz sobre o ou-tro, quem verdadeiramente . sempre uma construo difcil umavida marital equilibrada. Ainda no temos a devida maturidade paraque o encontro com o outro se torne uma realizao feliz e plena.A unio dos opostos sempre vai exigir renncia, abnegaoe pacincia. Quem pensa que o casamento sempre um encontrofeliz e harmonioso vai perceber que ele est muito longe disso. Pormais que se ame algum haver sempre arestas a serem aparadas.Um casamento ou unio marital deveria comear com ofirmamento de propsitos que cada um tem para o futuro da rela-o. Deveriam colocar um para o outro como querem que este-jam dentro de cinco, dez e vinte anos, no que diz respeito a: vidaintelectual (escolaridade), nmero e situao de filhos, patrimnio,vida profissional, opes de lazer, aspectos afetivos da relao,etc. Tais preocupaes no significam um engessamento do ca-samento, mas apenas um prognstico possvel, que evidentemen-te dever ser renovado continuamente.As expectativas veladas de uma relao, quando noverbalizadas e no atendidas, costumam por minar os sentimen-tos que se nutre para com o outro. importante que cada um doscnjuges se coloque de tal forma que o outro sempre possa sabercomo est, a fim de se evitarem surpresas desagradveis.O desenvolvimento efetivo de uma relao alimentadopelos dilogos entre o casal. Quando eles escasseiam no h cres-cimento da ligao entre eles, tendendo a que se afastem um dooutro. A vibrao que une um casal alimentada pelos dilogosafetivos que devem ocorrer.Esses dilogos, quando maduros, tendem a atrair os bonsespritos que acompanham o desenvolvimento da relao a fimde que o planejamento reencarnatrio havido tenha mais possibi-lidades de sucesso.59 59. adenuer novaesTodo reino dividido contra si mesmo acaba em runae nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma podersubsistir.12 Um lar um reino no qual deve prevalecer a paz, a harmo-nia e o amor; onde idias so fomentadas para o crescimentoespiritual dos que dele fazem parte; todos que o constituem de-vem contribuir para sua manuteno buscando em todos os mo-mentos fazer prevalecer os ideais nobres que ali esto sendoedificados. O Cristo prope que a conscincia da unidade de propsi-tos esteja sempre presente a fim de que se alcance a felicidade.Sua palavra esclarecedora deve calar em cada conscincia, prin-cipalmente nos momentos de crise em famlia, para que no seperca de vista o propsito maior de edificar um lar. Dissenses so cabveis em qualquer grupamento humano,porm devem sempre levar no s compreenso do que sediscute, como tambm ao encontro dos coraes que se encon-tram momentaneamente desalinhados. Uma casa dividida uma famlia perdida sem que seusmembros saibam da necessidade de construir um lar; onde nin-gum est preocupado com ideais superiores para a felicidade detodos. O reino do lar abrigo ao esprito cansado de tantos fra-cassos e desditas, no qual encontrar entes queridos que lhe pro-porcionaro o amor de que tanto precisa.12 Mateus 12:25.60 60. Evangelho e FamliaA paz no lar Isaura casada, tem quarenta e trs anos e um filho. O paidela era alcoolista. Ela no esquece quantas vezes se viu entre elee a me a fim de evitar que ele a agredisse. De tanto lutar contraa agressividade do pai, tornou-se uma pessoa pacfica, de falamansa e sempre preocupada em conter nimos mais exaltados.Tornou-se naturalmente conciliadora. Porm ela no esperava queseu filho nico se tornasse agressivo. Desde que entrou na ado-lescncia passou a brigar com o pai com quem disputava a aten-o dela. Aprendera desde a infncia a conciliar os pais e agoratinha de exercer sua habilidade com os dois homens de sua vida. Amava o filho como tambm ao marido o qual, muitas ve-zes, se calava para no afrontar o filho inconseqente. Ele j tinhavinte anos e acabara de entrar na universidade. Namorava umacolega que lhe fora amiga no grmio estudantil no terceiro anocolegial. Sua me tentava de tudo para que ele fizesse as pazescom o pai, mas ele sempre encontrava um motivo para culp-lopor alguma coisa. A esperana dela que seu filho, com a universidade, anamorada e a vida adulta, entendesse melhor a vida e se tornasseamigo do pai. Um dia, ela chega mais cedo do trabalho e encontra osdois conversando na sala da casa. Educadamente evita participar61 61. adenuer novaesda conversa. Vai ao quarto, mas fica curiosa em saber o que sepassa. Mais tarde, seu marido lhe conta. Seu filho o procuroupara conversar. Ele foi receptivo e ouviu do filho suas dificulda-des em relao vida profissional. Fora convidado para traba-lhar, mas teria de trancar a faculdade. O pai o aconselhou e apro-veitou para falar sobre sua relao com ele e o quanto gostariaque entendesse que tm personalidades diferentes e que devemaprender a conviver como adultos. A conversa foi franca e amis-tosa. Ningum culpou ningum nem tinham a pretenso de tudoresolver numa simples conversa. Ela sentiu que aquele era um dia especial. Eles haviam con-versado. Sabia que era apenas o comeo e que muitos outrosdilogos viriam pela frente para que realmente a paz vigorasseentre eles. A paz um estado interior de conexo com o Self. Nela aconscincia se tranqiliza pela aceitao de suas limitaes, de suasombra e pelo respeito s possibilidades alheias. O ego compre-ende que, conectado ao Self, no deve extrapolar seu desejo depoder a ponto de inferiorizar o outro. Quando o ego est conectadoao Self ele dirige suas aes para a realizao da totalidade do ser,evitando que venham conscincia o orgulho e o egosmo. No possvel alcanar a paz sem que estejam satisfeitasalgumas condies ntimas que dizem respeito integridade doego. O ego insatisfeito consigo mesmo e com seus desejos noconseguir estar em estado de paz. Por esse motivo, deveroser-lhe garantidas algumas condies para que tal ocorra. Condi-es de sobrevivncia, de segurana, de ser estimado, de perten-cer ao grupo, de ter um fu