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Formação Continuada Profª Mestre Joina Bomfim Falcão EXERCÍCIOS 1. Leia o texto abaixo. 2. Sublinhe as palavras e expressões que pertencem à língua informal, ou popular. 3. Substitua os elementos que você sublinhou por expressões da linguagem comum (ou cuidada). INFERNO NACIONAL A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá, numa versão política. Não é o nosso caso. Vou contá-la aqui no seu mais puro estilo folclórico, sem maiores rodeios. Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Ao morrer nem conversou: foi direto para o inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou: _ Qual é o lance aqui? Satanás explicou que o Inferno está dividido em diversos departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrativo pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento. Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade. Entrou no Departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime. _ Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de 200 graus. Na parte da tarde, ficar numa geladeira de 100 graus abaixo de zero até às três horas, e voltar ao forno de 200 graus. O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no Jordão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que era tudo igual: a divisão em departamento era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo o lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de 200 graus durante o dia e geladeira de 100 graus abaixo de zero, pela tarde. O falecido já caminhava desconsolado por uma infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do angu”. Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:

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Formação ContinuadaProfª Mestre Joina Bomfim Falcão

EXERCÍCIOS

1. Leia o texto abaixo.2. Sublinhe as palavras e expressões que pertencem à língua informal, ou popular.3. Substitua os elementos que você sublinhou por expressões da linguagem comum (ou cuidada).

INFERNO NACIONAL

A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá, numa versão política. Não é o nosso caso. Vou contá-la aqui no seu mais puro estilo folclórico, sem maiores rodeios.

Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Ao morrer nem conversou: foi direto para o inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou:

_ Qual é o lance aqui?Satanás explicou que o Inferno está dividido em diversos departamentos, cada um administrado por

um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrativo pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.

Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade. Entrou no Departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime.

_ Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de 200 graus. Na parte da tarde, ficar numa geladeira de 100 graus abaixo de zero até às três horas, e voltar ao forno de 200 graus.

O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no Jordão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que era tudo igual: a divisão em departamento era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo o lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de 200 graus durante o dia e geladeira de 100 graus abaixo de zero, pela tarde.

O falecido já caminhava desconsolado por uma infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do angu”. Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:

_ Fica na moita, e não espalha não: O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio enguiçada. Não dá mais de 35 graus por dia.

_ E as quinhentas chibatadas? _ perguntou o falecido._ Ah... o sujeito encarregado desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.

(PONTE PRETA, Stanislaw. In: SILVA, Antônio Jesus da et al. Português interpretação. São Paulo: Nacional, 1976. p. 18-19)

TEXTO 2

A PALAVRA É MAIS QUE O SEU SIGNIFICADO

O significado não é o único elemento importante de uma palavra. Seu ritmo, sua sonoridade, por si sós, são suficientes para despertar reações nas pessoas. Tanto é que, às vezes, mesmo sem conhecermos o significado de uma palavra, reagimos diante dela das mais variadas maneiras: gostando, não gostando, achando-a bonita, feia, esquisita, antipática e assim por diante. Ou seja, as palavras, mesmo quando sem significado para nós, podem despertar emoções. Acontece até de atribuirmos a elas significados diferentes dos que realmente possuem.

Isso, com toda a certeza, não é novidade para ninguém. No entanto, geralmente deixamos de lado os outros aspectos da palavra, só nos importando com o seu significado. Agora, vamos adotar um procedimento mais amplo, tentando “sentir” também esses outros elementos das palavras.

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A – Leia as palavras seguintes, sem se preocupar com seus significados. Apenas sinta seu aspecto gráfico, sua sonoridade. Que idéias vêm à sua cabeça? Escreva livremente em seu caderno.1. Falácia2. Hermeneuta3. Traquinagem4. Plúmbeo5. Defenestração

B – A seguir, leia o texto de Luís Veríssimo e veja como o cronista sente essas palavras.

DEFENESTRAÇÃO

Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.

Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.__ Os hermeneutas estão chegando!__ Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...

Os hermeneutas ocupariam a cidade de paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.

__ Alô...__ O que é que você quer dizer com isso?Traquinagem devia ser uma peça mecânica.__ Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de

procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

__ Defenestras?A resposta seria um tapa na cara. Mas, algumas... Ah, algumas defenestravam.Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa.

Haveria, assim, defenestradores profissionais.Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais?

“Nestes termos, pede defenestração... Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:

__ Aquele é um defenestrado.Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a

palavra exata.Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurélião que não me deixa mentir.

“Defenestração” vem do francês defenestration. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.

Ato de atirar alguém ou algo pela janela!Acabou a minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e

lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu sabia, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?

Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.

__ Lês defenestrations. Devem ser proibidas.__ Sim, monsieur lê Ministre.__ São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.__ Sim, monsieur lê Ministre.

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__ Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: interdit de defenestrer*. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.

* é proibido defenestrar.Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão,

mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.

(Verrísimo, Luís Fernando. O analista de Bagé. 6ª ed. Porto Alegre, L&PM, ed. 1981. p. 29-31.)

C – Agora é sua vez:

1. Faça uma lista de cinco palavras que, para você, sejam atraentes. Escolha, de preferência, termos cujo significado você desconheça.

2. Escreva uma história curta, utilizando as palavras que você escolheu. Pode seguir o modelo do cronista, se quiser. Seu texto é absolutamente livre.

3. Troque de texto com um colega. Veja se você concorda com o sentido que ele seu às palavras escolhidas. Depois discutam as duas redações.

4. Por fim, se quiser, leia sua história para os demais.

O URSO AMIGO..............................................................................................................................................................................

Não deu outra coisa! Abriram a barriga do bicho e dentro, muito bem arrumadinho, estavam nada mais nada menos de 500 calcinhas femininas de nylon.

Podemos garantir que é o primeiro urso a usar calcinhas em consumo interno.

(PONTE PRETA, Stanislaw. Febeapá 3: na terra do crioulo doido. 4ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1976. p. 18.)

Agora suprimimos o meio da narrativa...

ESCONDERIJO MAL ESCOLHIDO

Depois de assaltarem a Panificadora Estrela de Guarulhos, na madrugada de sábado, B. R. de A. e J. N. A. N. tiveram a infelicidade de buscar refúgio exatamente na casa do delegado, B. L. B.

.............................................................................................................................................................................

Com os assaltantes foram encontrados mais de Cr$ 200 mil que haviam roubado pouco antes da padaria, localizada no número ... da rua ...(Jornal da Tarde, 6/7/1982.)