EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO · da preocupação de um sábio, – D. Evarista era...

19
EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO 1. (Pucrj 2013) Leia. As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isto, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência, explicável mas inqualificável, devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção, o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de “louros imarcescíveis”, – expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores. A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico. ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Ática, 1982, pp. 9-10. a) A compreensão do jogo entre o narrador, as personagens e o leitor é um dos procedimentos críticos necessários à análise da obra literária. Comente, utilizando as suas próprias palavras, a problemática do foco narrativo no conto “O alienista” tendo como referência o início do texto. b) Dois dos mais significativos aspectos da obra do autor de “Dom Casmurro” estão relacionados ao seu ceticismo e à crítica corrosiva e sarcástica da sociedade brasileira do seu tempo. Publicado entre outubro de 1881 e março de 1882, O alienista narra a trajetória de Simão Bacamarte, médico voltado para a pesquisa, entendimento e cura dos males do espírito. Tomando por base o fragmento selecionado, comente criticamente a visão de Machado de Assis sobre os postulados do pensamento positivista e da ideologia do progresso tão valorizados no fim do século XIX. 2. (Unicamp 2013) Leia. NOITE DE AUTÓGRAFOS Ivan Ângelo Página 1 de 19

Transcript of EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO · da preocupação de um sábio, – D. Evarista era...

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

1. (Pucrj 2013) Leia.

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não

podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. – A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isto, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando

as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte

explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, – únicas dignas da preocupação de um sábio, – D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo,

agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois

quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às

admoestações do esposo; e à sua resistência, – explicável mas inqualificável, – devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe

chamou especialmente a atenção, – o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de “louros imarcescíveis”, – expressão usada por

ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores. – A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.

ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Ática, 1982, pp. 9-10.

a) A compreensão do jogo entre o narrador, as personagens e o leitor é um dos procedimentos críticos necessários à análise da obra literária. Comente, utilizando as suas próprias

palavras, a problemática do foco narrativo no conto “O alienista” tendo como referência o início do texto.

b) Dois dos mais significativos aspectos da obra do autor de “Dom Casmurro” estão relacionados ao seu ceticismo e à crítica corrosiva e sarcástica da sociedade brasileira do

seu tempo. Publicado entre outubro de 1881 e março de 1882, O alienista narra a trajetória de Simão Bacamarte, médico voltado para a pesquisa, entendimento e cura dos males do espírito. Tomando por base o fragmento selecionado, comente criticamente a visão de Machado de Assis sobre os postulados do pensamento positivista e da ideologia do

progresso tão valorizados no fim do século XIX.

2. (Unicamp 2013) Leia.

NOITE DE AUTÓGRAFOS

Ivan Ângelo

Página 1 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

A leitora, vistosa, usando óculos escuros num ambiente em que não eram necessários,

se posta diante do autor sentado do outro lado da mesa de autógrafos e estende-lhe o livro, junto com uma pergunta:

– O que é crônica? O escritor considera responder com a célebre tirada de Rubem Braga, “se não

aguda, crônica”, mas se cont m, temendo que ela não goste da brincadeira. (...) Responde com aquele jeito de quem falou disso algumas vezes:

– É um texto de escritor, necessariamente de escritor, não de jornalista, que a imprensa usa para pôr um pouco de lirismo, de leveza e de emoção no meio daquelas páginas

e páginas de dados objetivos, informações, gráficos, notícias... É coisa efêmera: jornal dura um dia, revista dura uma semana.

Já se prepara para escrever a dedicatória e ela volta a perguntar: – E o livro de crônicas, então?

Ele olha a fila, constrangido. Escreve algo brevíssimo, assina e devolve o livro à leitora (...). Ela recebe o volume e não se vai, esperando a resposta. Ele abrevia, irônico:

– É a crônica tentando escapar da reciclagem do papel. Ela fica com ambição de estante, pretensiosa, quer status literário. Ou então pretensioso é o autor, que acha que ela

merece ser salva e promovida. (...) – Mais respeito. A crônica é a nossa última reserva de estilo.

(Veja São Paulo, São Paulo, 25/07/2012, p. 170.)

efêmero: de pouca duração; passageiro, transitório.

A certa altura do diálogo, a leitora pergunta ao escritor que dava autógrafos:

“– E o livro de crônicas, então?”

a) A pergunta da leitora incide sobre uma das características do gênero crônica mencionadas

pelo escritor. Explique que característica é esta. b) Explique o funcionamento da palavra então na pergunta em questão, considerando o sentido

que esta pergunta expressa.

3. (Uerj 2013)

Nos quadrinhos, as duas tartarugas fazem uma crítica em relação ao casal que está no carro.

Explicite essa crítica em uma frase, usando palavras diferentes daquelas utilizadas pelas tartarugas.

Página 2 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Em seguida, justifique por que a crítica é reforçada pela imagem das próprias tartarugas.

4. (Fgv 2013) Leia o seguinte texto.

A existência de todo grupo social pressupõe a obtenção de um equilíbrio relativo entre as suas necessidades e os recursos do meio físico, requerendo, da parte do grupo, soluções mais ou menos adequadas e completas, das quais depende a eficácia e a própria natureza daquele equilíbrio. As soluções, por sua vez, dependem da quantidade e qualidade das

necessidades a serem satisfeitas. São estas, portanto, o verdadeiro ponto de partida, todas as vezes que o sociólogo aborda o problema das relações do grupo com o meio físico.

Com efeito, as necessidades têm um duplo caráter natural e social, pois se a sua manifestação primária são impulsos orgânicos, a satisfação destes se dá por meio de

iniciativas humanas que vão-se complicando cada vez mais, e dependem do grupo para se configurar. Daí as próprias necessidades se complicarem e perderem em parte o caráter estritamente natural, para se tornarem produtos da sociedade. De tal modo a podermos dizer que as sociedades se caracterizam, antes de mais nada, pela natureza das necessidades de

seus grupos, e os recursos de que dispõem para satisfazê-las. O equilíbrio social depende em grande parte da correlação entre as necessidades e

sua satisfação. E sob este ponto de vista, as situações de crise aparecem como dificuldade, ou impossibilidade de correlacioná-las.

Antonio Candido, “Os parceiros do Rio Bonito”.

a) Segundo o texto, as necessidades dos grupos sociais têm um “duplo caráter”. O que

distingue um caráter do outro?

b) Atenda ao que se pede: b1) O referente dos pronomes sublinhados em “satisfazê-las” e “correlacioná-las” o

mesmo? Explique. b2) Reescreva a frase “todas as vezes que o sociólogo aborda o problema das rela es do

grupo com o meio físico”, pondo o verbo na voz passiva.

5. (Fgv 2013) Leia estas frases:

I. Mandou, chegou.

(Slogan publicitário de uma empresa de serviço de encomenda expressa)

II. Vim, vi, venci.

(Tradução de uma frase latina, atribuída ao general e cônsul romano Júlio César)

a) A ordem dos verbos, nas duas frases, é aleatória ou é determinada por algum fator

específico? Explique. b) Transcreva essas frases, unindo as orações que compõem cada uma delas mediante o

emprego das conjunções adequadas à relação de sentido que nelas se estabelece.

6. (Unesp 2013) Texto 1

IBGE: No nível superior, 29% dos alunos saem de sua cidade para estudar.

No nível superior, 29,2% dos alunos estudam em uma cidade diferente daquela em que

vivem. Os dados são do Censo Demográfico 2010 e foram apresentados nesta quarta-feira [19.12.2012] pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No caso de creches, apenas 2% dos alunos saem de seu município para frequentar a educação infantil. Na pré-escola e em classes de alfabetização o índice de deslocamento se mantém baixo: 2,1%. No ensino médio, 7,2% dos alunos estudam em cidade diferente daquela em que vivem.

Página 3 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

O deslocamento para outros municípios cresce conforme a escolaridade e está

relacionado à distribuição desigual das unidades de ensino no país, segundo o IBGE. 32,6% dos alunos de cursos de especialização de nível superior, mestrado ou doutorado se deslocam para outro município para estudar no curso desejado.

Dentre os alunos de especialização de nível superior, mestrado ou doutorado, 1,1%

dos brasileiros estavam fora do país para realizar seus estudos.

(http://educacao.uol.com.br. Adaptado.)

Texto 2

Vale a pena estudar em outra cidade?

Quem já pensou em sair de sua cidade e estudar longe de casa tem lá seus motivos. Pode ser a vontade de estudar em uma universidade de prestígio, a vontade de fugir dos grandes centros em busca de uma vida mais calma, a dificuldade em ser aprovado numa universidade pública da região ou até a necessidade de se ver mais independente dos pais.

Qualquer uma das opções é uma experiência e tanto e é, de longe, a forma mais rápida de adquirir maturidade. Morar numa cidade estranha implica em adaptação. Ficar a quilômetros de distância dos pais pode ser divertido, mas é uma responsabilidade enorme.

Abastecer a despensa, os armários, organizar a casa, cozinhar, fazer movimentação

bancária, andar de ônibus... Não, esta não é a pior parte. A pior parte é aprender a dividir as tarefas e a casa com outros estudantes de que você nunca ouviu falar. Raramente os pais conseguem bancar um apê só para o filho e as opções variam entre pensões, pensionatos, repúblicas ou dividir um apartamento com outros estudantes.

Em qualquer uma das alternativas, o desafio é compartilhar um espaço com pessoas de culturas, costumes e personalidades muito diferentes. Nesses casos, o mais sensato é agir com disciplina e tolerância. Disciplina para cumprir com os acordos prévios entre os moradores e tolerância para lidar com as diferenças e conviver harmoniosamente.

(www.alunosonline.com.br. Adaptado.)

Texto 3

Os melhores anos de sua vida

“E agora? Se eu passar, como será? Como será viver longe de meus familiares, numa cidade tão distante da minha? Será que aguentarei?”

Claro que aguentará. Aliás, não só aguentará, como também se sentirá o tempo todo premiado por sua decisão. Você sabe que o momento do ingresso em um curso superior, em um tão sonhado curso superior de qualidade, como são os da Unesp e de outras universidades públicas, é um momento de passagem, de mudança, de crescimento. É o marco de sua

afirmação como uma pessoa que, por necessidade da própria existência, se tornará em breve independente e ativa. A universidade traz realmente esse símbolo pessoal para você. O curso que fará não será mais um curso, será o curso. Nele você estabelecerá aos poucos suas metas futuras de trabalho, analisará as possibilidades de exercer a profisssão em sua cidade

ou aceitar propostas em lugares ainda mais distantes, mas com perspectivas de um crescimento profissional consistente e definitivo. O curso universitário é, de certo modo, o ensaio de toda a sua vida futura. Mais que isso: é já uma parte de sua vida futura.

Não fique pensando, porém, que a passagem pela universidade seja aquela coisa

careta, lotada apenas de seriedade, em que não cabem momentos de alegria e prazer. Muito pelo contrário. A grande maioria das pessoas formadas por universidades, quando indagadas a respeito de como julgam o tempo que passaram no câmpus, abrem sorrisos de saudade e começam a narrar suas reminiscências. E são sempre boas reminiscências. Nada mais natural.

Os câmpus universitários representam uma espécie de microcosmo, uma comunidade formada por indivíduos otimistas em busca de realização. Lá acontece de tudo, desde a seriedade das reflexões e das tarefas das diferentes disciplinas até as relações sociais mais gratificantes, sem falar no prazer das atividades culturais e, mesmo, das brincadeiras, que por vezes trazem tanta

euforia quanto as da infância.

(BlogUnesp, 04.07.2012.)

Página 4 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Proposição

Os textos apresentados como apoio focalizam uma das questões mais importantes para os

estudantes de cursos superiores que terão de residir em cidades distantes da sua. Você já

deve ter pensado muitas vezes nesse assunto e, por certo, tem opinião formada a respeito. Com base em sua experiência e levando em consideração os textos apresentados bem como a letra de Saudade de minha terra, escreva uma redação de gênero dissertativo, empregando a

norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Curso universitário em outra cidade: motivações e desafios.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Texto 1

A história dos povos está atravessada pela viagem, como realidade ou metáfora.1

Todas as

formas de sociedade, compreendendo tribos e clãs, nações e nacionalidades, colônias e

impérios, trabalham e retrabalham a viagem, seja como modo de descobrir o “outro”, seja como

modo de descobrir o “eu”. É como se a viagem, o viajante e a sua narrativa revelassem todo o tempo o que se sabe e o que não se sabe, o conhecido e o desconhecido, o próximo e o remoto, o real e o virtual. A viagem pode ser breve ou demorada, instantânea ou de longa

duração, delimitada ou interminável, passada, presente ou futura. Também pode ser peregrina, mercantil ou conquistadora, tanto quanto turística, missionária ou aventurosa. Pode ser filosófica, artística ou científica. Em geral, a viagem compreende várias significações e conotações, simultâneas, complementares ou mesmo contraditórias. São muitas as formas das

viagens reais ou imaginárias, demarcando momentos ou épocas mais ou menos notáveis da vida de indivíduos, famílias, grupos, coletividades, povos, tribos, clãs, nações, nacionalidades, culturas e civilizações. São muitos os que buscam o desconhecido, a experiência insuspeitada, a surpresa da novidade, a tensão escondida nas outras formas de ser, sentir, agir, realizar,

lutar, pensar ou imaginar.

IANNI, Octavio. A metáfora da viagem. In: IANNI, Octavio. Enigmas da Modernidade-Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 13-14.

7. (Pucrj 2013) Responda.

a) Identifique, no trecho abaixo, a palavra que denota uma ação recorrente das sociedades no tratamento do tema viagem.

“Todas as formas de sociedade, compreendendo tribos e clãs, nações e nacionalidades,

colônias e impérios, trabalham e retrabalham a viagem, seja como modo de descobrir o

‘outro’, seja como modo de descobrir o ‘eu’.” (ref. 1) b) Segundo Octavio Ianni, “a viagem compreende várias significa es e conota es,

simultâneas, complementares ou mesmo contraditórias”. Ao longo do texto, o autor relaciona

a noção de viagem a traços distintos e opostos entre si. Observando os recursos coesivos empregados, faça o que é pedido a seguir. i. Transcreva a passagem em que esses traços distintos estão contidos simultaneamente na

noção de viagem. ii. Transcreva a passagem em que esses traços distintos são postos de forma excludente na

caracterização de viagem. c) Mantendo o sentido original, reescreva a frase abaixo sem empregar a expressão em

destaque. Faça alterações, se necessárias. “A viagem tamb m pode ser peregrina, mercantil ou conquistadora, tanto quanto turística, missionária ou aventurosa”.

8. (Pucrj 2013) Texto 2

Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado. Inúmeros

Página 5 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

escritores se dedicaram ao gênero, e eram muitos os leitores aficionados pelos relatos de

aventuras. Na forma de diários, memórias ou simplesmente impressões de viagens, os textos surgiam aos borbotões, nos séculos XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo Mundo, expressando sempre o olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do viajante de deixar registrada a sua experiência, que ele julgava ímpar.

Na Europa, os destinos mais buscados eram a Alemanha, a Itália e a Espanha, fosse pela mitologia, pela glória passada ou pela profusão de ruínas históricas. E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero. Dentre os mais ilustres viajantes, Goethe, Mme. de Stäel, Victor Hugo,

Michelet, Lamartine e Mérimée foram autores que incentivaram outros escritores a também excursionar e a escrever sobre as novas terras. A América foi igualmente pródiga em inspirar viajantes - em sua maioria pintores, botânicos, naturalistas, arqueólogos ou simples aventureiros -, ainda que a maioria não tivesse

pretensões literárias e quisesse apenas fazer anotações acerca da geografia, fauna e flora tropical das novas terras. Octavio Ianni, em A metáfora da viagem, afirma que a história dos povos “está atravessada pela viagem”, não importa se real (se ocorre o deslocamento geográfico, espacial e temporal),

ou metafórica (sem o deslocamento físico, mas apenas o sensível ou sensorial), pois toda sociedade trabalha a viagem, “seja como modo de descobrir o ‘outro’, seja como modo de descobrir o ‘eu’”. A viagem destina-se, portanto, a ultrapassar fronteiras, a demarcar as diferenças e as semelhanças entre os povos.

E, se consideramos as condições em que os deslocamentos eram realizados, as enormes distâncias, o desconforto de navios, carros de bois e ferrovias, além dos perigos de toda natureza a que estavam sujeitos, causa espanto encontrar tantas mulheres, dentre os viajantes, que ousaram deixar a segurança de seus lares, suas famílias e enfrentar o

preconceito, as novas fronteiras, o desconhecido.

DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci. Pensar o outro ou quando as

mulheres viajam. Revista Estudos Feministas. vol.16 n.3. Florianópolis. Setembro/dezembro.

2008. Apresentação. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104- 026X2008000300018&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 ago. 2012.

a) A voz do pensador Octavio Ianni, autor do texto 1, foi empregada no texto 2 com um

propósito discursivo. Explique a relação que se estabelece entre a citação de Ianni e o texto 2.

b) A diferença de sentido entre as frases abaixo é decorrente da posição do adjunto adverbial

“durante muito tempo”. Justifique essa afirmativa, explicitando a diferen a. i. “Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da

literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado.” ii. Apesar de consideradas pela crítica uma manifestação menor da literatura, as narrativas

de viagem, durante muito tempo, viveram momentos de glória no passado.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:

Tempo: cada vez mais acelerado

Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer tudo — além da certeza de

que sua vida está passando rápido demais. Essas são as principais consequências de vivermos num mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais, o tempo é linear e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que estamos tirando o máximo dele. E a única solução que encontramos é acelerá-lo”, afirma Carl

Honor . “É um equívoco. A resposta a esse dilema qualidade, não quantidade.”

Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A acelera ão uma escolha que fizemos. Somos como crianças descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira,

queremos mais velocidade”, diz. O problema que nem tudo ao nosso redor consegue atender à demanda. Os carros podem estar mais rápidos, mas as viagens demoram cada vez mais por culpa dos congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando nossa paciência,

obrigando-nos a frear a cada quarteirão.1Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o

botão que aciona o sinal verde — uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas com efeito

Página 6 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

muitas vezes nulo. Em Nova York, esses sistemas estão desligados desde a década de 1980.

Mesmo assim, milhares de pessoas o utilizam diariamente.

É um exemplo do que especialistas chamam de “bot es de acelera ão”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na prática, servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos

com os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E quem disse que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência?

Elevadores, aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os primeiros modelos se moviam a vinte centímetros por segundo. Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Engenheiros são obrigados a desenvolver sistemas para conter nossa irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é

aplacar a ansiedade da espera. Até onde isso vai?

SÉRGIO GWERCMAN Adaptado de <super.abril.com.br>.

9. (Uerj 2013) O texto apresenta palavras de dois especialistas – Carl Honoré e James Gleick

– como defensores de opiniões diferentes em relação à aceleração do tempo. Explicite, sem transcrever partes do texto, a opinião de cada um deles acerca desse tema.

10. (Uerj 2013) Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o

sinal verde (ref. 1)

No fragmento, é empregada uma expressão que pode ser considerada irônica, se for relacionada ao conjunto do 2º parágrafo.

Transcreva do fragmento a expressão que configura a ironia e explique por que essa expressão é irônica.

11. (Uerj 2013) O autor do texto aborda uma situação que diz respeito a toda a sociedade, envolvendo tanto ele como o leitor. Nomeie a marca linguística empregada para indicar a inclusão do autor e dos seus leitores na

situação. Em seguida, transcreva um trecho que exemplifique sua resposta.

12. (Ufmg 2012) Leia estes trechos, atentando para os conectivos neles destacados:

TRECHO 1

Ouvimos o ferrolho da porta que dava para o corredor interno; era a mãe que abria Eu, uma

vez que digo tudo, digo aqui que não tive tempo de soltar as mãos da minha amiga...

MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo. 1997. p. 67.

TRECHO 2

Fomos jantar com a minha velha. Já lhe podia chamar assim, posto que os seus cabelos brancos não o fossem todos nem totalmente; e o rosto estivesse comparativamente fresco...

MACHADO DE ASSIS. J. M. Dom Casmurro, São Paulo: Globo, 1997. p.165.

a) Reescreva cada um desses trechos, substituindo o conectivo destacado por outro de igual valor e fazendo as adaptações necessárias.

b) Explicite o tipo de relação que cada um desses conectivos estabelece entre as orações, nos trechos em que estão empregados.

13. (Ufmg 2012) Leia estes trechos:

Página 7 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

TRECHO 1

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a

fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe tia barba e nos cabelos, e que apenas conserva

o hábito eterno, como se diz nas autopsias; o interno não aguenta tinta.

MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 3.

TRECHO 2

Desse antigo verão que me alterou a vida restam ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que efetivamente me recorde. O hábito me leva a criar um ambiente, imaginar fatos a

que atribuo realidade.

RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record. 1984. p. 26.

A partir da leitura desses trechos, explique como, em cada uma das obras referidas, o narrador aborda as possibilidades de a escrita reconstituir o passado.

14. (Uerj 2012) TEXTO II

Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda de enxugar.

Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e,1

por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)

Prevenido, desvia-se do aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.

Ele respira fundo e, cabisbaixo, entra no quarto.2

A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.

No banheiro, veste em surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios. Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.

– Ai, como é triste a velhice... – confessa para o espelho, e são palavras que não querem dizer nada.

Aperta as torneiras da pia, do chuveiro e do bidê – se uma delas pingasse ele já não poderia dormir.

Na passagem, apanha o livro sobre o guarda-roupa – ele a olhou de relance, mas ela não o olhou – e dirige-se para a sala, onde acende a lâmpada ao lado da poltrona. Em seguida, descalço, sobe na cadeira e com a chave dá corda ao relógio. Entra na cozinha e, ao abrir a luz, pretende não ver a mesma barata na sua corrida tonta pelos cantos. Deita um jarro d’água no filtro e bebe meio copo, que enxuga no pano e põe de volta no armário.

Antes de sentar na poltrona, detém-se diante do quarto da filha – a porta está aberta, mas ele não entra. Esboça um aceno e presto encolhe a mão. Por mais que afine o ouvido não escuta o bafejo da criança em sossego – e se ela deixou de respirar?

(...) Abre o livro e concentra-se na leitura: frases sem nenhum sentido. Na casa silenciosa, apenas o voltear das folhas lá no quarto, às suas costas o peixinho

estala o bico a modo de um velho que rumina a dentadura. Por vezes, cansado demais, cabeceia e o livro cai-lhe no joelho – enquanto não se apaga a luz do quarto ele não vai deitar.

(...)

Está salvo desde que ignore a porta do quarto da filha; ergue, com esforço, as pálpebras pesadas de sono e lê mais algumas linhas, evitando levar a mão ao rosto, onde um músculo dispara de repente a tremer no canto da boca. (...)

Ao extinguir-se enfim a outra luz, ele deixa passar alguns minutos e, arrastando os pés

no tapete, recolhe-se ao quarto, acende a lâmpada do seu criado-mudo, com cautela infinita

Página 8 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

para não encarar a esposa que, voltada para o seu lado, pode estar com um olho aberto ou,

quem sabe, até com um sorriso nos lábios. (...) Será uma grande demora até que na rua clarinem* as primeiras buzinas – os galos da

cidade. (...) Prepara-se para a noite em que há de entrar numa casa deserta e, ao abrir a porta, assobiará duas notas, uma breve, outra longa: todos os quartos vazios, o assobio é para a sua

alma irmã, a baratinha no canto escuro. (...) Longe vai a manhã, mas resta-lhe o consolo de que, ao saltar do leito, esquecerá entre

os lençóis o fantasma do seu terror noturno. Outra vez ergue-se no quarto o ressonar tranquilo

da esposa; cuidadoso de não ranger o colchão, ele volta-se para o outro lado. Pouco importa se nunca mais chegar a dormir. Afinal você não pode ter tudo.

DALTON TREVISAN

A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

* Clarinem - soem como clarim

Nos trechos transcritos a seguir, estão sublinhados dois verbos que podem ser usados com variação da regência: transitivo direto ou transitivo indireto. A variação da regência altera o sentido do verbo “agradar”: fazer agrados ou ser agradável. Já o verbo “olhar” expressa o mesmo sentido nos dois casos.

por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (ref.1) A mulher, sentada na cama, (...) olha para ele, mas ele não a olha. (ref. 2)

Identifique, no primeiro trecho, a regência do verbo “agradar” e o sentido em que ele foi empregado. Em seguida, reescreva o segundo trecho, variando a regência do verbo “olhar” em cada ocorrência.

15. (Ufmg 2012) E eles não foram felizes para sempre...

João e Maria não são mais as crianças ingênuas que se deixavam iludir por uma casa

feita de doces no meio da floresta. 1

Adultos, se tornaram 2

caçadores mercenários que querem vingança contra a bruxa que um dia ameaçou suas vidas. A Bela Adormecida, por sua vez, já

não é vítima do feitiço de uma bruxa invejosa. Por vontade própria,3

ela cai em sono profundo para satisfazer o fetiche dos homens.

Não, não deu a louca nos contos de fadas. Foi o cinema que decidiu cortar o "felizes para sempre" do roteiro mais popular dessas histórias e recontá-las sob perspectiva mais

adulta e, em alguns casos, mais sombria também, como 4

nos exemplos acima. Seguindo "A

Garota da Capa Vermelha", longa baseado no conto Chapeuzinho Vermelho que estreou nos cinemas este mês, pelo menos mais outros seis filmes inspirados em contos de fadas, mas com uma abordagem bem diferente das doces adaptações feitas pela Disney [...],devem chegar à tela grande entre este ano e o próximo.

O olhar menos ingênuo e mais pesado que os novos filmes lançam sobre os contos de fadas espelha aspectos da própria atualidade. "A Fera", por exemplo, que ainda não tem data de estreia no Brasil, traz "A Bela e a Fera" para o século XXI propositalmente. "Eu adorei a ideia de tornar contemporânea a história e ambientá-la em um colégio. O conto trata da forma como se lida com a aparência e achei a escola o cenário ideal para explorar a obsessão que a nossa cultura e a nossa juventude têm pelo visual", comentou o diretor Daniel Barnz, em entrevista de divulgação do filme.

5Essa sintonia com o presente ultrapassa a questão da temática e encontra eco

também na própria origem dessas narrativas, cujas primeiras versões, de séculos atrás, nada tinham de infantil.

Jornal Pampulha, 30 abr./6 maio 2011, Capa 3. (Fragmento.)

a) Com base nessa leitura, justifique o título do texto.

b) Indique os elementos a que cada um destes termos, ou expressões, faz referência no texto:

Página 9 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Adultos (ref.1):

Caçadores mercenários (ref.2): Ela (ref.3): Nos exemplos acima (ref.4): Essa sintonia (ref.5):

16. (Ufmg 2012) Leia estes cartazes:

a) Explique, do ponto de vista da gramática normativa, o problema que ocorre na frase

apresentada em cada um desses cartazes. b) Reescreva a frase apresentada em cada um desses cartazes, de modo a adequá-la às

regras do português padrão.

17. (Fgv 2012) Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de direito têm o objetivo de defender o indivíduo dos abusos do poder. Em outras palavras, são garantias de

liberdade, da assim chamada 1

liberdade negativa, entendida como esfera de ação em que o

indivíduo não está obrigado por quem detém o poder coativo a fazer aquilo que não deseja ou não está impedido de fazer aquilo que deseja. Há uma acepção de liberdade – que é a acepção prevalecente na tradição liberal – segundo a qual “liberdade” e “poder” são dois

termos3

antitéticos, que denotam duas realidades em contraste entre si e são, portanto, incompatíveis: nas relações entre duas pessoas, à medida que se estende o poder (poder de comandar ou de impedir) de uma diminui a liberdade em sentido negativo da outra e, vice- versa, à medida que a segunda amplia a sua esfera de liberdade diminui o poder da primeira. Deve-se agora acrescentar que para o pensamento liberal a liberdade individual está garantida, mais que pelos mecanismos constitucionais do Estado de direito, também pelo fato de que ao Estado são reconhecidas tarefas limitadas à manutenção da ordem pública interna e internacional. No pensamento liberal, teoria do controle do poder e teoria da limitação das tarefas do Estado procedem no mesmo passo: pode-se até mesmo dizer que a segunda é a

2conditio sine qua non da primeira, no sentido de que o controle dos abusos do poder é tanto

mais fácil quanto mais restrito é o âmbito em que o Estado pode estender a própria intervenção, ou mais breve e simplesmente no sentido de que o Estado mínimo é mais controlável do que o Estado máximo. Do ponto de vista do indivíduo, do qual se põe o liberalismo, o Estado é concebido como um mal necessário; e enquanto mal, embora

necessário (e nisso o liberalismo se distingue do 4

anarquismo), o Estado deve se intrometer o menos possível na esfera de ação dos indivíduos.

Noberto Bobbio, Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 2006.

a) Considerada no contexto, a expressão “liberdade negativa” (ref. 1) deve ser entendida como algo positivo para o indivíduo. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

b) Considerando o gênero a que pertence o texto, é adequado, do ponto de vista lógico, o emprego da expressão latina “conditio sine qua non” (ref. 2)? Justifique sua resposta.

c) É correto afirmar que os prefixos que ocorrem nas palavras “antit ticos” (ref. 3) e “anarquismo” (ref. 4) têm o mesmo sentido que os prefixos formadores, respectivamente,

das palavras “antediluviano” e “amoral”? Justifique sua resposta.

Página 10 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

18. (Ufmg 2012) Texto 1

Em defesa dos adjetivos

Muitas vezes nos mandam cortar nossos adjetivos. O bom estilo, conforme dizem,

sobrevive perfeitamente sem eles; bastariam o resistente arco dos substantivos e a flecha dinâmica e onipresente dos verbos. Contudo, um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo. A luz azul se infiltra pelas janelas frias, as lâmpadas fluorescentes emitem um murmúrio débil.

Substantivos e verbos bastam apenas a soldados e líderes de países totalitários. Pois o adjetivo é o imprescindível avalista da individualidade de pessoas e coisas. Vejo uma pilha de melões na bancada de uma quitanda. Para um adversário dos adjetivos, não há dificuldade: “Mel es estão empilhados na bancada da quitanda.” Todavia um dos mel es pálido como a

tez de Talleyrand quando discursou no Congresso de Viena; outro é verde, imaturo, cheio de arrogância juvenil; outro ainda tem faces encovadas e está perdido num silêncio profundo e fúnebre [...]

Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de

você, esbelto e maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade. Cidades e ruas sombrias se banham de um sol pálido e cruel. Nuvens cor de asa de pombo, nuvens negras, nuvens enormes e cheias de fúria, o que seria de vocês sem a retaguarda dos voláteis adjetivos?

A ética também não sobreviveria um dia sem adjetivos. Bom, mau, sagaz, generoso, vingativo, apaixonado, nobre – essas palavras cintilam como guilhotinas afiadas.

E também não existiriam as lembranças não fosse pelo adjetivo. A memória é feita de adjetivos. Uma rua comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente que dá para um

jardim e ali, em meio aos pés de groselha cobertos pelo pó do verão, os teus dedos despachados... (tudo bem, teus é pronome possessivo).

Texto 2

Vamos chamar de nomes um grupo dc itens tradicionalmente chamados “substantivos” e “adjetivos”: os nomes, nessa definição, são uma subclasse dos nominais.

PERINI, Mario. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola. 2010. p. 300.

a) Apresente dois argumentos de que o autor se vale, no Texto 1, para defender o emprego do

adjetivo. b) Relacionando o conteúdo dos textos e 2, analise a principal diferença entre eles.

19. (Ufes 2012) REDAÇÃO

TEXTO 1

O Brasil é hoje mercado prioritário para países como Argentina, Chile e Peru, na área de intercâmbio, principalmente para o aprendizado do espanhol. Com o crescimento das relações comerciais entre o Brasil e países da América Latina, cresce a necessidade do conhecimento da língua pelos brasileiros. “Nota-se que muitas empresas passam a procurar pessoas que

dominam o espanhol; a busca não mais por profissionais que falem apenas inglês”, comemora Ângela Alves, gerente de marketing da Moinhotur. A valorização do real frente às moedas dos países vizinhos tamb m facilitou o intercâmbio na Am rica Latina. “O pre o muito mais acessível que na Europa. Não precisa de visto e brasileiros não enfrentam nenhum

problema para entrar no país”, explica Ângela.

(BELTA on line. Reportagens Especiais: O crescimento da América Latina. Disponível em: <http://www.belta.org.br/noticia.asp?varcPassos=NoticiaExibir&inte CodNoticia=994996974>.

Acesso em: 25 jul. 2011).

TEXTO 2

Página 11 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Governo do Estado do Espírito Santo – Rede de Comunicação Curso de Idiomas – Oferecido

pela Sedu desde abril de 2009, o curso de inglês tem duração de até 36 meses com carga horária de até 300 horas/aula, divididas em duas aulas semanais de 1h15. Ministrado no horário contrário ao das aulas regulares do estudante, o curso é oferecido nos seis Centros Estaduais de Idiomas (CEI), localizados em escolas estaduais polo nos municípios de

Cariacica, Vila Velha, Serra e Vitória, e também em Colatina e Cachoeiro de Itapemirim. Programa de Intercâmbio – Há ainda o Programa de Intercâmbio da Sedu, que oferece bolsas de estudo no exterior para os melhores alunos dos Centros de Idiomas. [...].

O Programa de Intercâmbio 2011 ofertou 20 bolsas de estudo para Canadá, Irlanda, Nova Zelândia e África do Sul. Elas foram destinadas a alunos dos Centros Estaduais de Idiomas de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Colatina e Cachoeiro de Itapemirim.

(ESPÍRITO SANTO [Brasil]. Portal do Governo do Estado. Notícias. Disponível em: <http://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspex?noticiaId=99722419>. Acesso em: 25 jul. 2011).

Observadas as informações da coletânea, escreva um editorial com enfoque na importância de

se implementar, como política pública, um programa diferenciado de ensino de línguas estrangeiras.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:

O homem que queria eliminar a memória

(...) Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre

assim, derrotando a gente logo de entrada? O médico: — Sim? — Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro.

— Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro? — Porque eu quero. — Sim, mas precisa me explicar. Justificar. — Não basta eu querer?

— Claro que não. — Não sou dono do meu corpo? — Em termos. — Como em termos?

— Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estou impedido de fazer no senhor.

— Quem impede? — A ética, a lei.

— A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo que desejo.

E se acabou. — Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão boba. E não tenho tempo a

perder. Por que o senhor quer cortar um pedaço do cérebro? — Quero eliminar a minha memória. — Para quê? — Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê? por quê? para quê? Falei com

dezenas de pessoas e todos me perguntaram: por quê? Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a memória.

— Já que o senhor veio a mim para fazer esta operação, tenho ao menos o direito dessa informação.

— Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. As coisas passaram, passaram. Fim! — Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar

pequenas coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc. — É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto.

Página 12 de 19

assim.

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

— Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada

— Em lugar nenhum posso eliminar a minha memória? — Que eu saiba não. — Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. O dia de hoje para a frente.

Entende o que eu quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. O passado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado. Não seria engraçado? Não se lembrar sequer do que se tomou no café da manhã? E para que quero me lembrar do que tomei no café da manhã?

(Ignácio de Loyola Brandão. Cadeiras proibidas: contos. Rio de Janeiro: Codecri, 1984, p. 32- 34.)

Os avanços da genética nos filmes

Uma boa forma de se pensar as possibilidades e riscos no avanço das ciências é se aventurar nas ficções literárias e cinematográficas. Enquanto os cientistas devem zelar para

não fazer especulações infundadas, os autores de ficção tratam de dar asas à imaginação e projetar em histórias emocionantes as possíveis aplicações da ciência e alguns de seus efeitos inesperados.

A possibilidade de recriação da vida humana ou do controle que poderíamos ter sobre

seus corpos e destinos são alguns dos grandes temas que há muito tempo vêm sendo explorados. O que seria de nossa vida se soubéssemos como prolongá-la indefinidamente? Como ficariam nossos corpos se pudéssemos transformá-los à vontade ou se conseguíssemos fabricar seres para nos substituírem nas tarefas duras e chatas? Não seria uma maravilha se

pudéssemos implantar ou fazer um download de memórias e conhecimentos que nos dispensassem de ter que aprender “na marra”, com muito estudo e algumas experiências ruins? Que tal poder escolher e reconfigurar nossas características e as das pessoas com quem convivemos?

Nosso imaginário é povoado por robôs, clones, artifícios fantásticos, instrumentos poderosos e tecnologias sofisticadas que aparecem sob variadas formas nos enredos de diversos filmes. Metrópolis, Frankenstein, Blade Runner, Inteligência Artificial, Eu Robô e Matrix

são alguns que se tornaram clássicos, pois foram marcantes para gerações e continuam sendo

referidos e revisitados. De maneira geral, retratam como boas ideias podem ter desdobramentos imprevistos e indesejáveis. É o que acontece, por exemplo, nas narrativas utópicas que descrevem sociedades ideais, mas que se revelam sombrias e nada atraentes

quando conhecidas de perto, como nos filmes 1984 ou Brazil. Isto obviamente não invalida, nem deveria desestimular, os avanços do conhecimento.

Pelo contrário! Juntamente com as dúvidas que essas histórias lançam sobre nossas certezas e expectativas, elas suscitam interrogações e recolocam questões fundamentais. Se a

engenharia genética pode fazer as pessoas melhores, mais saudáveis, mais desejáveis, por que não seguir em frente? Quais seriam as implicações dessa seleção artificial?

Assistir e conversar sobre o filme GATTACA é uma boa forma de entrar nessa discussão. O nome da produção e do local onde se passa vem das letras com que

representamos as sequências do DNA (G, A, T, C). Mais precisamente, as iniciais das bases químicas dessas moléculas: Guanina, Adenina, Timina e Citosina. O filme retrata uma sociedade organizada e estratificada de forma racional, tomando como base o levantamento genético dos indivíduos. Aparentemente, uma forma de se aproveitar melhor, e para o bem

comum, as características e o potencial de cada um. Acontece que um jovem, inconformado com o destino que seus genes “defeituosos” lhe reservara, falseia sua identidade gen tica para assumir a profissão com que sempre sonhara, a de espaçonauta. Boa parte da trama e do suspense do filme advém do fato de que sua verdadeira identidade biológica, inválida para

aquela atividade, tinha que ser ocultada todo o tempo e com muita astúcia, pois a manutenção da ordem social se baseava em constantes escaneamentos genéticos. As situações enfrentadas pelo personagem nos levam a compartilhar sua percepção de injustiça, e torcer pela subversão ao sistema.

(Bernardo Jefferson de Oliveira. Os avanços da genética nos filmes. pré-Univesp, edição 6, 15.11.2010: www.univesp.ensinosuperior.sp.gov)

Página 13 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

20. (Unesp 2012) A personagem do conto de Loyola Brandão, em suas tentativas de

demonstrar ao médico que seria bom eliminar a memória, apresenta, entre seus argumentos, no último parágrafo, um de ordem emocional, sentimental. Identifique esse argumento e justifique-o do ponto de vista da personagem.

21. (Unesp 2012) Depois de comparar os dois textos, demonstre que, quanto à questão da

memória, o homem do conto, que procura o médico, e o pesquisador Bernardo Jefferson de

Oliveira manifestam opiniões bem distintas.

22. (Unesp 2012) Segundo se depreende da síntese de Bernardo Jefferson de Oliveira, ao apresentar uma sociedade organizada e estratificada de forma racional, tomando como base o

levantamento genético dos indivíduos, o filme GATTACA focaliza uma utopia cuja aplicação, como em todas as utopias, acaba não dando inteiramente certo. Indique qual o aspecto da natureza humana que a organização da sociedade de GATTACA ignorou e que acabou gerando toda complicação focalizada no enredo do filme.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Geração Canguru

Gilberto Dimenstein

Ao mapear novas tendências de consumo no Brasil, publicitários acreditam ter detectado a "Geração Canguru". São jovens bem-sucedidos profissionalmente, têm entre 25 e 30 anos de idade e vivem na casa dos pais. O interesse neles é óbvio: compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo.

Ainda na "bolsa" da mãe, eles mostram que mudaram as fronteiras entre o jovem e o adulto. Até pouquíssimo tempo atrás, um marmanjão de 30 anos, enfiado na casa dos pais, seria visto como uma anomalia, suspeito de algum desequilíbrio emocional que retardou seu crescimento.

O efeito "canguru" revela que pais e filhos estão mutuamente mais compreensivos e tolerantes, capazes de lidar com suas diferenças. Para quem se lembra dos conflitos familiares do passado, marcados pelo choque de gerações, os "cangurus" até sugerem um grau de

civilidade. Não é tão simples assim.

Estudos de publicitários divulgados nas últimas semanas indicam um lado tumultuado – e nem um pouco saudável – dessa relação familiar. Por trás das frias estatísticas sobre tendência do

mercado, a pergunta que aparece é a seguinte: até que ponto os brasileiros mais ricos estão paparicando a tal ponto seus filhos que produzem indivíduos com baixa autonomia?

Ao investigar uma amostra de 1.500 mães e filhos, no Rio e em São Paulo, a TNS InterScience

concluiu que 82% das crianças e dos adolescentes influenciam fortemente as compras das famílias. A pressão é especialmente intensa nas classes A e B, cujas crianças, segundo os pesquisadores, empregam cada vez mais a estratégia das birras públicas para ganhar, na marra, o objeto de desejo.

Com medo das birras, as mães tentam, segundo a pesquisa, driblar os filhos e não levá-los às compras, especialmente nos supermercados, mas, muitas vezes, acabam cedendo. Os responsáveis pelo levantamento da InterScience atribuem parte do problema ao sentimento de

culpa. Isso porque, devido ao excesso de trabalho, os pais ficam muito tempo longe de casa e querem compensar a ausência com presentes.

Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jovem da Abril detectou que muitos dos novos

consumidores vivem uma ansiedade tamanha que nem sequer usufruem o que levam para casa. Já estão esperando o produto que vai sair. É ninfomania consumista. Jovens relataram que nunca usaram, nem mesmo uma vez, roupas que adquiriram. Aposentam aparelhos eletrodomésticos comprados recentemente porque já estariam defasados.

Página 14 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Psicólogos suspeitam que essa atitude seja uma fuga para aplacar a ansiedade e a carência, provocadas, em parte, pela falta de limite. Imaginando-se modernos, pais tentam ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se a obrigação de dizer não e enfrentar o conflito. O resultado é, no final, uma desconfiança, explicitada pelos entrevistados, ainda maior em relação aos

adultos.

Outro estudo, desta vez patrocinado pela MTV, detectou um início de tendência entre os jovens de insatisfação diante de pais extremamente permissivos. Estão demandando adultos mais

pais do que amigos. Para complicar ainda mais a insegurança das crianças e dos adolescentes, a violência nas grandes cidades leva os pais, compreensivelmente, a pilotar os filhos pelas madrugadas, para saber se não sofreram uma violência. Brincar nas ruas está desaparecendo da paisagem urbana, ajudando a formar seres obesos, presos ao computador.

Há pencas de estudo mostrando como a brincadeira, dessas em que nos sujamos, ralamos o joelho na árvore, ajuda a desenvolver a criatividade, o senso de autonomia e de cooperação. É um espaço de estímulo à imaginação.

Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração. Muito se estuda sobre a importância da resiliência – a capacidade de levar tombos e levantar como um elemento educativo fundamental.

Professores contam, cada vez mais, como os alunos não têm paciência de construir o conhecimento e desistem logo quando as tarefas se complicam um pouco. Por isso, entre outras razões, os alunos decepcionam-se rapidamente na faculdade que exige mais foco em

poucos assuntos.

Os educadores alertam que muitos jovens têm dificuldade de postergar o prazer e buscam a realização imediata dos desejos; respondem exatamente ao bombardeamento publicitário,

inclusive na ingestão de álcool, como vamos testemunhar, mais uma vez, nas propagandas de cerveja neste verão. Daí o risco de termos "cangurus" que fiquem cada vez mais na bolsa (e no bolso) dos pais.

P.S. – Em todos esses anos lidando com educação comunitária, posso assegurar que uma das melhores coisas que as escolas de elite podem fazer por seus alunos é estimulá-los ao empreendedorismo social. É um notável treino para enfrentar desafios. Enfrentam-se em

asilos, creches e favelas os limites e as carências. Conheci casos e mais casos de alunos problemáticos que mudaram sua cabeça ao desenvolver uma ação comunitária e passaram, até mesmo, a valorizar o aprendizado curricular.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd121205.htm

23. (Ufjf 2012) O autor do texto aponta algumas consequências físicas, emocionais e

pedagógicas no processo de formação do jovem canguru. Com base em sua leitura, construa o perfil físico e emocional dos membros dessa geração. Para reforçar a sua descrição, mencione partes do texto.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

A resposta de qualquer pai ou mãe, questionado sobre o que deseja para os filhos, está sempre na ponta da língua: “Só quero que sejam felizes”. A frase não deixa d vidas de

que, numa sociedade moderna, livre de muitas das restrições morais e culturais do passado, a felicidade é vista como a maior realização de um indivíduo. Até governos nacionais se viram na obrigação de fazer algo a respeito. Neste ano, a China e o Reino Unido anunciaram a intenção de medir o grau de felicidade de seus habitantes. Os governantes, espera-se, querem o melhor

para seu país, assim como os pais querem o melhor para seus filhos. Mas a ambição de sempre colocar um sorriso no rosto pode ter um efeito contrário. A pressão por ser feliz, condição nada fácil de ser definida, pode acabar reduzindo as chances de as pessoas viverem bem.

Página 15 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

“Quero que meus filhos sejam felizes, mas tamb m que encontrem um propósito e

conquistem seus objetivos”, diz o americano Martin Seligman, considerado o mestre da psicologia positiva. Depois de estudar a busca da felicidade por mais de 20 anos, ele afirma ser tolice elegê-la como a única ambição na vida. Ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, professor da Universidade da Pensilvânia, pai de sete filhos e avô pela quarta vez,

Seligman reviu suas teorias e concluiu que é preciso relativizar a importância das emoções positivas. “Perseguir apenas a felicidade enganoso”, diz Seligman a ÉPOCA. Segundo ele, a felicidade pode tornar a vida um pouco mais agradável. E só. Em seu lugar, o ser humano deveria buscar um objetivo mais simples e fácil de ser contemplado: o bem-estar.

(Letícia Sorg e Juliana Elias, http://revistaepoca.globo.com, 27.05.2011.)

24. (Uftm 2012) Considerando as informações do texto, responda:

a) Como a sociedade moderna compreende a felicidade? b) Na busca pela felicidade, o que pode diminuir as chances de as pessoas viverem bem?

25. (Uftm 2012) a) Reescreva o trecho – ... Seligman reviu suas teorias e concluiu que é

preciso relativizar a importância das emoções positivas. – preservando o sentido do texto e fazendo as adaptações necessárias para substituir a forma verbal concluiu pelo substantivo

conclusão. b) Que atitude deve ser tomada para se relativizar a importância da felicidade, segundo Martin

Seligman?

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Previsões de especialistas

A mídia nos bombardeia diariamente com as previsões de especialistas sobre o futuro. Esses experts mais erram do que acertam, mas nem por isso deixamos de recorrer a eles

sempre que o horizonte se anuvia. Como explicar o paradoxo? Uma boa tentativa é o recém-lançado livro do escritor e jornalista Dan Gardner. As

passagens mais divertidas do livro são sem dúvida aquelas em que o autor mostra, com exemplos e pesquisas científicas, quão precária é a previsão econômica e política.

Num célebre discurso de 1977, por exemplo, o então presidente dos E.U.A., Jimmy Carter, ancorado nos conselhos dos principais experts do planeta, conclamou os americanos a reduzir drasticamente a dependência de petróleo de sua economia, porque os preços do

hidrocarboneto subiriam e jamais voltariam a cair, o que inevitavelmente destruiria o “American way”*. Oito anos depois, as cota es do óleo despencaram e permaneceram baixas pelas duas décadas seguintes.

Alguém pode alegar que Gardner escolhe de propósito alguns exercícios de futurologia

que deram errado apenas para ridicularizar a categoria toda. Para refutar essa objeção, vamos conferir algumas abordagens do problema. Em 1984, uma revista britânica pediu a 16 pessoas que fizessem previsões sobre taxas

de crescimento, câmbio, inflação e outros dados econômicos. Quatro dos entrevistados eram

ex-ministros de finanças; quatro eram presidentes de empresas multinacionais; quatro, estudantes de economia de Oxford; e quatro, lixeiros de Londres. Uma década depois, as predições foram contrastadas com a realidade e classificadas pelos níveis de acerto. Os lixeiros terminaram empatados com os presidentes de corporações em primeiro lugar. Em

último, ficaram os ministros – o que ajuda a explicar uma ou outra coisinha sobre governos. A razão para tantas dificuldades em adivinhar o futuro é de ordem física. Nós nos

habituamos a ver a ciência prevendo com enorme precisão fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas lineares ou, pelo menos, sistemas em que dinâmicas impostas pelo

caos podem ser desprezadas. E, embora um bom número de fenômenos naturais seja linear, existem muitos que não o são. Quando o homem faz parte da equação, pode-se esquecer a linearidade.

Nossos cérebros também trazem de fábrica alguns vieses que tornam nossa espécie

presa fácil para adivinhos. Procuramos tão avidamente por padrões que os encontramos até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável

Página 16 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

de estar no controle. Assim, alguém que ofereça numa narrativa simples e envolvente a

previsão do futuro pode vendê-la facilmente a incautos. Não é por outra razão que oráculos, profecias e augúrios estão presentes em quase todas as religiões.

Como diz Gardner, “vivemos na Idade da Informa ão, mas nossos c rebros são da Idade da Pedra”. Eles não foram concebidos para processar o papel do acaso, no cerne do

conhecimento científico atual. Nós continuamos a tratar as falas dos especialistas como se fossem auspícios** divinos. Como não poderia deixar de ser, frequentemente quebramos a cara.

HÉLIO SCHWARTSMAN Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 30/06/2011

(*)“American way”: estilo americano de vida

(**)auspícios: prenúncios, presságios

26. (Uerj 2012) A fim de reforçar seu ponto de vista acerca do tema abordado, o autor

emprega argumentos do tipo indutivo, ou seja, usa um fato ou dado particular para dele extrair

conclusões gerais. Identifique, no texto, dois exemplos de fatos ou dados particulares empregados para reforçar a ideia geral do texto.

27. (Uerj 2012) O texto de Hélio Schwartsman distingue fenômenos que podem ser previstos

com precisão de outros que não o podem.

Apresente um exemplo do texto para os fenômenos do primeiro tipo e outro para os fenômenos do segundo tipo. Depois, aponte o que, para o autor, distingue os dois tipos de fenômeno.

28. (Unicamp 2011) Os dicionários de meu pai

Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa

estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. E por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas que eu o folheava à toa. Palavra puxa palavra e

escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo (desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da Sala Cecília Meireles, o mesmo dicionário em

encadernação de percalina. Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. E ao vê-lo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito, fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora,

só em São Paulo adquiri meia dúzia de exemplares, e ainda rematei o último à venda na Amazon.com antes que algum aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também

tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, busanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros).

Hoje sou surpreendido pelo anúncio dessa nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade,

revirassem meus baús, espalhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível (funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia.

(Adaptado de Francisco Buarque de Hollanda, em Francisco F. dos S. Azevedo, Dicionário

Analógico da Língua Portuguesa: ideias afins/thesaurus. 2ª edição atualizada e revista, Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.)

Página 17 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

a) A partir do texto de Chico Buarque que introduz o dicionário analógico recentemente reeditado, proponha uma definição para esse tipo de dicionário.

b) Mostre a partir de que pistas do texto sua definição foi elaborada.

Página 18 de 19

EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

Página 19 de 19