EXPLORAÇÃO DA BAUXITA E IMPACTOS NO … · a diversidade da g eografia brasileira: escalas e...
Transcript of EXPLORAÇÃO DA BAUXITA E IMPACTOS NO … · a diversidade da g eografia brasileira: escalas e...
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
802
EXPLORAÇÃO DA BAUXITA E IMPACTOS NO MUNICÍPIO DE JURUTI (PA)
MARCICLEI BERNARDO DA SILVA1 REINALDO CORRÊA COSTA2
Resumo: Este trabalho trata dos impactos oriundos da chegada e funcionamento da mineradora
Alcoa (Aluminum Company of America) no município de Juruti (PA). O objetivo é a dinâmica da
mineração que tem sua concretude em lugares específicos e a partir disso como são construídas
estruturas de diversas matrizes que dão suporte para o funcionamento da atividade envolvendo
diferentes sujeitos com diferentes racionalidades. Na execução da pesquisa foram realizadas
entrevistas a partir de questionários semielaborados com diferentes a gentes e a identificação e
análise da formação e estruturação dos impactos. O município teve que se adaptar ao projeto
minerador e não o contrário, o que demonstra a força do projeto empresarial. Uma das questões
pauta-se de que forma o município poderia aproveitar o funcionamento do projeto de mineração, sem
se tornar totalmente dependente e não correr o risco que fique como herança apenas os impactos
negativos, pois o problema não é a mineração em si, mas a forma como o projeto é estruturado.
Palavras-chave: Mineração, impactos, sociedade e natureza.
Resumen: Este artículo trata sobre los impactos de la llegada y el funcionamiento de la empresa
minera Alcoa (Aluminum Company of America) en el municipio de Juruti (PA). El objetivo de la
dinámica es que la minería tiene su concreta en lugares específicos y de allí como numerosas
estructuras que soportan matrices para el funcionamiento de la actividad que involucra diferentes
sujetos con diferentes fundamentos se construyen. En la aplicación de las entrevistas de la encuesta
se realizaron a partir de cuestionarios semi-acabados con diferentes personas y para la identificación
y el análisis de la formación y estructuración de los impactos. El municipio tuvo que adaptarse al
proyecto minero y no al revés, lo que demuestra la solidez del proyecto empresarial. Uno de los
temas es guiado cómo el municipio podría utilizar la operación del proyecto minero sin llegar a ser
totalmente dependiente y no correr el riesgo de que se ve como la herencia sólo efectos negativos,
porque el problema no es la propia minera, pero cómo se estructura el proyecto.
Palabras clave: Minería, impactos, la sociedad y la naturaleza.
1 - Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas. E-mail
de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas. Pesquisador
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. E-mail de contato: [email protected]
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
803
1 – Introdução
Este trabalho trata dos impactos oriundos da chegada e funcionamento da
mineradora Alcoa (Aluminum Company of America) no município de Juruti (PA). A
presença da atividade empresarial da mineração gera uma série de impactos
(ambientais, políticos, econômicos, sociais) nas áreas em que ocorre, não tem como
um projeto de mineração se estabelecer em determinado lugar e não impactar
(COELHO, 2009).
O município de Juruti está localizado na região Oeste do estado do Pará, com
uma área de 8.305,125 km², na mesorregião do Baixo Amazonas. Segundo dados
do IBGE (2014) possui uma população estimada em 52.755 habitantes. A seguir,
mapa de localização do município:
Mapa 01: Localização do Município de Juruti (PA).
Cabe destacar como dinâmicas espaciais do processo de exploração da
bauxita se territorializam, possuindo tempos diferenciados e espacialidades com
magnitudes diferentes, um processo contraditório e soma-se a isso os interesses de
classe ou grupo social. Conforme Lefebvre (1976) “existen, pues, contradiciones del
espacio, incluso si se las dissimula y camufla (...) son produto del contenido prático y
social”. A mineração atua como um agente modelador do espaço, modificando não
apenas o espaço local, mas também outras atividades, outros espaços, classes e
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
804
grupos sociais e étnicas com os quais mantém relações de natureza diversa
(COELHO, 2009).
No caso de Juruti, apenas a etapa de exploração da bauxita é concentrada no
município, as demais são realizadas em outros lugares. Conforme Cardoso, et. al,
(2010) as áreas ou regiões submetidas à atividade de extração de recursos minerais
em larga escala industrial têm se caracterizado por amplo reordenamento
econômico, social e político, tendo a figura do Estado e das empresas mineradoras
como sendo os principais protagonistas dessas transformações.
2 – Desenvolvimento
2.1. Referenciais para o estudo e técnicas de pesquisa.
Abordar o tema da mineração na Amazônia, Conforme Coelho (2009) é
“desafiador”, visto que não ocorre de forma isolada, também, não significa ignorar as
relações de atividades econômicas em progresso ou em fase de implantação. A
primeira vista parece não haver incompatibilidade entre a floresta e a mineração que
é recorrentemente apresentada como atividade pontual. Porém, sua simples
presença gera uma série de impactos (ambientais, políticos, econômicos, culturais e
sociais) nas áreas em que ocorre, não tem como um projeto de mineração se
estabelecer em determinado lugar e não impactar (COELHO, 2009).
Para Porto et. al (2008) a mineração caracteriza-se como uma atividade
econômica que: “objetiva atender a demanda e aos interesses do mercado global,
controlados pelas nações e corporações mais poderosas do capitalismo
globalizado”. A procura de matérias-primas que foram transformadas em recursos,
como a bauxita, pelo capitalismo nada mais é do que sua expansão na lógica
acumulativa.
Neste contexto, segundo Pecqueur (2009:79) enfatiza que ocorre o
deslocamento de grandes empresas para áreas onde os custos de produção são
mais favoráveis, no bojo atual do processo de globalização, entendido no sentido da
interconexão simultânea dos mercados em escala planetária. É o que ocorreu em
Juruti, onde a Alcoa incentivada pela disponibilidade de recurso natural, no caso a
bauxita e incentivos de políticas estatais, encontrou suportes para o
desenvolvimento da atividade mineradora.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
805
Ainda no âmbito dos estudos de impactos, “o senso comum vê o impacto
ambiental como um mero resultado, com conexões causais relativamente claras, ou
seja, para cada perturbação haveria um desdobramento, isto é, um efeito”
(COELHO, et al; 2007). O que se tem de levar em consideração é que os novos
objetos espaciais, como a Alcoa em Juruti e seu funcionamento, acarretam:
Redirecionamento de processos históricos, sociais e
ambientais, dos quais resultam novos efeitos que afetam de forma sistêmica e diversificada as condições de reprodução da vida nos ecossistemas e das classes ou grupos sociais, que ocupam territórios diferenciados (COELHO et al. 2007)
Neste sentido, avançando no entendimento, conforme Coelho (2008) “o
impacto ambiental [social, político e econômico] não é, obviamente, só resultado (de
uma determinada ação realizada sobre o ambiente): é relação (de mudanças sociais
e ecológicas em movimento) (...) São mudanças de relações ecológicas e sociais
que precisam ser interrogadas incessantemente”.
Há uma necessidade de análise da relação sociedade e natureza em Juruti
capitaneada pela mineração, visto que a Alcoa não causou somente danos aos
ecossistemas ali existentes, além da atuação de forças “externas” como o consumo
chinês que vem aumentando continuamente por alumínio, por exemplo,
influenciaram direta ou indiretamente para a Alcoa iniciar a operação de mais uma
mina extrativa de bauxita no mundo, frente a outras que a corporação já detém. Não
é possível tratar dos impactos somente pelo seu dano natural, é necessário em sua
abordagem a análise social e econômica dos sistemas (naturais, sociais e
econômicos) impactados e impactantes.
Neste caminho da interconexão de elementos naturais e sociais nos mais
diversos tipos de estudos, Ross (2009) destaca que o espaço geográfico “só pode
ser entendido na perspectiva do papel interativo da sociedade e natureza”. E ainda
complementa; “os arranjos espaciais, produzidos pelo trabalho humano sobre a
natureza também são mutantes no tempo e no espaço porque ao mesmo tempo em
que dependem da natureza, estão submissos as mudanças dos hábitos sociais e
das conjecturas da economia global”, denominando de sistemas sócio-ambientais.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
806
Neste contexto, conforme Coelho (2008) é preciso “problematizar a realidade e
construir um objeto de investigação. É necessário articular uma interpretação
coerente dos processos ecológicos (biofísico-químico) e sociais à degradação do
ambiente urbano”, ou seja, procurar relacionar os processos que se está estudando
e não separá-los. Neste sentido, Ab’Sáber (1998) dá ênfase que nos estudos de
impacto ambiental está em “jogo uma avaliação de sua viabilidade econômica e
técnica, cruzada com sua viabilidade ambiental. Há que aprofundar-se no
conhecimento técnico do projeto e em sua funcionalidade plena”.
A relação sociedade-natureza se materializa no espaço geográfico, portanto é
necessária a compreensão do espaço investigado. Primeiro identificar sobre qual
espaço estamos nos referindo, que é o espaço da bauxita que incorporou ou
subsumiu Juruti à sua lógica espacial e territorial.
Ainda relacionado aos mais diferentes tipos de impactos, estudá-los requer
também a contradição em um processo que “dialeticamente conjuga a manutenção
de uma economia cuja reprodução se fundamenta na exaustão de recursos naturais”
e um discurso ambientalista (COELHO, et. al; 2007).
Em um contexto regional, a perpetuação de uma economia extrativa fez com
que a realidade econômica e social da Amazônia se contrastasse com a economia
de produção representada, particularmente pelo sudeste do país, que se
industrializara no contexto de um processo de industrialização orientado para a
substituição das importações. Porém, os propósitos governamentais de reverter o
curso da história de um país rural, minerador e atrasado incluíram apenas
perifericamente a integração do espaço amazônico (BUNKER,1985 apud COELHO
e MONTEIRO, 2005).
Com relação ao trabalho de campo da pesquisa, foi realizado na cidade de
Juruti, onde foram feitas entrevistas baseadas em roteiros de conversas pré-
estabelecidos com temas econômico, social e político, concomitantemente com
levantamento bibliográfico pertinente ao assunto. Além de levantamento de
informações secundárias acerca de órgãos e instituições como IBGE, Prefeitura,
Secretarias Municipais e Alcoa. Entre os a gentes entrevistados podemos destacar:
moradores, representantes de igrejas, sindicatos, associações, representante de
secretarias municipal e funcionários da Alcoa.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
807
2.2. Implantação do empreendimento e dinâmicas espaciais.
No processo de reprodução e produção espacial há uma lógica que no caso da
Alcoa, envolve a dominialidade e poder (território) e o lugar (no sentido geográfico e
não no sentindo de localização). O estabelecimento desse empreendimento em
Juruti não ocorreu de forma aleatória à lógica de reprodução ampliada do capital
encontrou naquele local um fator (dentre outros) que possibilitou esse tipo de
relação, a disposição de recurso natural a ser explorada, a bauxita.
De acordo com Marialva (2011) “antes da chegada da Alcoa no município, a
geração de renda se caracterizava pelas atividades diversas de extração de madeira
e plantio de mandioca, da qual se derivam vários produtos como farinha, carimã,
tucupi, entre outros, o comércio se constituía de pequenas vendas e serviços
informais”.
A Alcoa se instalou no município de Juruti no ano de 2005, estabelecendo um
empreendimento direcionado para a exploração da bauxita. Como estratégia, para
aceitação de suas atividades, apresentou uma proposta de novo gerenciamento que
se basearia no diálogo com a comunidade e seus vários segmentos (MARIALVA,
2011). Abaixo, imagem 01 mostrando a localização da mina de exploração, ferrovia
e área urbana, onde estar localizado o porto de exportação da Alcoa.
Imagem 01: Localização da mina de exploração (na cor vermelho), área urbana (na cor verde-claro), ferrovia (na cor roxa) e topografia da ferrovia na parte inferior da imagem. Fonte: Adaptado do Google Earth.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
808
Neste contexto, Juruti se adaptou ou foi adaptado para o funcionamento da
atividade mineradora? Mesmo o projeto da atividade mineradora ser embasado em
um discurso ambiental sustentável defendido pela Alcoa, nas fases de implantação e
funcionamento da mina, não foi o empreendimento que teve que se adaptar ao
lugar, mas o lugar teve de se adaptar a expansão da mineração no município, pois a
mineração está próxima de centros decisórios de poder e mercado e o município
não.
2.3. Exploração da bauxita e impactos.
Conforme Wanderley (2008) a atividade mineradora e sustentabilidade
ambiental são processos antagônicos. Mesmo com o aparato técnico e tecnológico,
a extração mineral ainda provoca grandes impactos socioambientais. Neste
contexto, ao mesmo tempo em que as empresas criam novas formas de regulação
do uso do território numa escala setorial mundial e local, elas atuam pressionando
os mercados (nacional e internacional), o poder estatal, no intuito de flexibilizar as
normas territoriais nacionais, ou ainda contornam os dispositivos constitucionais,
para favorecer ou facilitar a instalação e ação do capital. Em muitos casos isso
ocorre com apoio de classes locais e nacionais, e o desenvolvimento é o discurso
básico, seguido e melhoria de qualidade de melhoria de vida, emprego, entre outros.
Prova disso é um trecho de uma carta enviada pela Alcoa em maio de 2013 a
determinados movimentos sociais de Juruti:
É importante que movimentos que visam obter novos recursos da companhia e que disseminam rumores sobre mobilizações para impedir a continuidade das operações, tenham a ciência de que suas posições tornam mais difíceis as condições para manutenção da presença da Alcoa em Juruti. Estes movimentos podem forçar a companhia a antecipar uma eventual de reduzir ou mesmo parar a operação em Juruti, tendo como consequência a redução da arrecadação de taxas, impostos e compensações (ALCOA, 2013).
Para Borba (2012), com a chegada da Alcoa os principais impactos
desencadeados foram que:
O governo local foi sobrecarregado com demandas, sobretudo com relação
aos serviços de saúde e educação;
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
809
Houve falta de planejamento prévio para o recebimento de um
empreendimento do porte da Alcoa e do investimento decorrente dele;
Houve falta de preparo/capacidade técnica por parte do governo local para
lidar com as novas demandas e nova realidade orçamentária.
Identificamos que a partir do ano 2000, o município teve um crescimento
demográfico acentuado, comparado com a década anterior. Em 2000, quando ainda
corriam notícias “de que a mineradora iria se instalar na cidade” a população era de
31.198 habitantes, já em 2014, com a Alcoa em pleno funcionamento essa
população foi estimada em 52.755 habitantes, conforme mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 01: Crescimento Populacional no município de Juruti.
Fonte: Dados do IBGE.
Quanto à educação, a partir de 2007, quando intensificou a vinda de imigrantes
para Juruti, os serviços de educação foram um dos mais sobrecarregados. Como
ocorreu como algumas famílias, o imigrante não vem sozinho, traz consigo, a
esposa e filhos. Nas entrevistas foi relatado que “não existia escola suficiente para
atender a demanda, eram milhares de pessoas que chegaram em Juruti, de uma
hora para outra”. O crescimento, por exemplo, no número de matrículas, segundo a
Secretaria Municipal de Educação e Desporto, foi de quase 10% no número total de
2007, que eram de 16.813 matrículas para em 2008 um total de 18.356.
Outro ponto importante foi a vinda de empresas terceirizadas para prestarem
serviços a Alcoa. Nas entrevistas, alguns moradores destacaram essas empresas
estiveram presentes com maior presença no período de instalação da Alcoa. Iniciado
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
1991 1996 2000 2007 2010 2014
Colunas1
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
810
o processo de exploração algumas destas, tiveram o contrato rompido e tiveram que
sair do município, deixando algumas famílias desempregadas. Abaixo gráficos
mostrando, os empregos diretos e indiretos relacionados à Alcoa:
Gráfico 02: Empregados indiretos da Alcoa por origem.
Fonte: Alcoa (2013)
Gráfico 03: Empregados diretos pela Alcoa por origem.
Fonte: Alcoa (2013)
No caso do gráfico 02, ocorre uma diminuição dos empregos indiretos para
jurutienses em relação a outros paraenses e empregados vindos de outras partes do
país. Quanto ao gráfico 03, mesmo tendo um aumento no número de empregos
diretos para jurutienses, como alguns moradores destacam: “é muito pouco os
empregos gerado pela Alcoa, frente aos impactos que foram gerados e ao lucro que
a empresa detém cima da exploração da bauxita”.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
2006 2007 2008
Juruti
Outras cidades do Pará
Outros Estados
0
20
40
60
80
100
120
140
160
2006 2007 2008
Juruti
Outras Cidades do Pará
Outros Estados
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
811
Os principais impactos físicos da atividade de mineração são: “alterações no
lençol freático, poluição sonora, visual, da água, ar, solo, os impactos sobre a fauna
e a flora, mudança na drenagem, esgotamento dos recursos hídricos, assoreamento,
erosão, movimento de massa, instabilidade do talude, encostas e terrenos e
lançamentos de fragmentos e vibrações; que apesar de se localizarem,
predominantemente, em áreas de menor densidade populacional, afetam povos,
transformando totalmente suas realidades locais” BARRETO, 2001).
Uma das preocupações da população local se refere ao fato de que com a
construção da ferrovia (aproximadamente 55 km de extensão) que liga a mina de
exploração ao porto, localizado na cidade, colocou em risco algumas nascentes de
igarapés por estar muito próximo dos cursos d’água. A ALCOA ainda é acusada de
contaminar, com resíduos de seu restaurante industrial, o principal manancial de
abastecimento da cidade de Juruti. Abaixo, figura mostrando trecho da ferrovia:
Figura 01: Trecho da ferrovia que liga a mina de exploração ao Porto da Alcoa na cidade de Juruti. FONTE: Marciclei Bernardo, 2014.
2.4. Considerações
Neste trabalho foram abordados somente alguns impactos no espaço
jurutiense como forma de reestruturação espacial que a atividade mineradora
exerce. Entretanto cabe ressaltar que não foram entendidos como algo negativo e
positivo fora do contexto de interesses (de classes, de governo, de economia entre
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
812
outros), mas como dinâmicas espaciais do processo de exploração da bauxita,
intrínseco ao mesmo, isto é produtores de desigualdades e injustiças espaciais. Foi
levado em consideração que os impactos possuem tempos diferenciados,
espacialidades com magnitudes diferentes. Quanto a classificação em negativo e
positivo, o que pode ser positivo para um determinado grupo social pode não ser
para outro.
A Alcoa, dentre outros processos, construiu estruturas (porto, estradas,
ferrovias, entre outros) de diversas magnitudes que deram condições para o
funcionamento da mineradora. No caso de Juruti, essas estruturas estão
direcionadas para atender a primeira etapa da cadeia produtiva do alumínio: a
exploração. As seguintes etapas ocorrem em outros lugares.
Não foi a Alcoa que teve de se adaptar ao município, mas Juruti teve que se
adaptar a mineradora e não estava preparado para tal. Relacionado a esse
processo, inúmeras vezes foi enfatizado nas entrevistas que no período de
instalação da mineradora, teve um pico populacional que impactou o atendimento de
serviços básicos oferecidos na cidade, isto é, o atendimento ficou pior.
A partir da chegada dessas empresas, os lugares deixam de pertencer a uma
escala regional e a economia metamorfoseada entra em um circuito global. Espaços
antes periféricos e desprovidos de visibilidade se tornam o centro de interesses
regionais, nacionais e globais, atraindo diversas instituições públicas e privadas
(WANDERLEY, 2008).
Uma das questões pauta-se de que forma o município poderia aproveitar o
funcionamento do projeto de mineração, sem se tornar totalmente dependente e não
correr o risco após o término da exploração mineral fique como herança apenas os
impactos negativos para a maior parte das pessoas, visto que inviabiliza ou dificulta
a reprodução do modo de modo de vida com áreas desmatadas e tanques de
rejeitos da mineração. Pois o problema não é a atividade mineradora, pois esta
sempre teve um papel de importância na história da humanidade, o problema é a
forma como essa atividade é realizada, produzindo localmente e reproduzindo
regional e globalmente a desigualdade e injustiças espaciais.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
813
3. Referenciais
AB’SABER, A. N.; PLATEBERG, C. M. (orgs.). Previsão de Impactos Ambiental no Leste, Oeste e
Sul: experiências no Brasil, na Rússia e na Alemanha. 2ª ed. São Paulo: EDUSP, 1998.
BARRETO, M. L. Mineração e Desenvolvimento Sustentável: Desafios para o Brasil. Rio de
Janeiro: CETEM/MCT, 2001.
BORBA, M. R. M. A exploração de bauxita em Juruti (PA) e o modelo “Juruti Sustentável”.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade de São Paulo
(USP), São Paulo, 2009.
CARDOSO, J. G. R.; CARVALHO, P. S. L.: FONSECA, P. S. M.; SILVA, M. M.; ROCIO, M. A. R. A
indústria do Alumínio: estrutura e tendências. São Paulo. 2010.
COELHO, M.C. N.; MONTEIRO, M. A. M.; FERREIRA, B. C.; BUNKER, S. Impactos Ambientais da
estrada de Ferro Carajás no Sudeste do Pará. Belém, 2007.
COELHO, M. C. N.; MONTEIRO, M. A. As economias extrativas e o subdesenvolvimento da
Amazônia brasileira: contribuições do Prof. Stephen Bunker. Novos Cadernos NAEA, Vol. 8. Nº
1, Belém, 2005. P. 5-17.
COELHO, M. C. N. Impactos ambientais em áreas urbanas – teorias, conceitos e métodos de
pesquisa. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (orgs.). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil.
São Paulo: Bertrand, 2008.
COELHO, M. N. Grandes Mineradoras e processos de territorialização na Amazônia Brasileira.
In: BICALHO, M. S. M.; GOMES, P. C. C. (orgs.). Questões metodológicas e novas temáticas na
pesquisa geográfica. Rio de Janeiro: Publit, 2009.
LEFEBRVE, H. Espacio y politica. Ediciones Península, 1976.
MARIALVA, D. A. Novas dinâmicas territoriais na Amazônia: desdobramentos da mineração de
bauxita em Juruti (PA). Dissertação de Mestrado, USP, São Paulo, 2011.
PECQUEUR, B. A guinada territorial da economia global. Tradução: Anne-Sophie. Revista Política
e Sociedade. Nº 14, 2009.
PORTO, M. F. S.; HENRIQUES, A. B. A insustentável leveza do alumínio: impactos
socioambientais da inserção do Brasil no mercado mundial de alumínio primário. 2008.
WANDERLEY, L. J. M. Conflitos e Movimentos Sociais Populares em Área de Mineração na
Amazônia Brasileira. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Rio de Janeiro, 2008.