FÁBIA ALINE SCARAVONATTO -...

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U U N N I I V V E E R R S S I I D D A A D D E E E E S S T T A A D D U U A A L L D D O O O O E E S S T T E E D D O O P P A A R R A A N N Á Á C C A A M M P P U U S S D D E E T T O O L L E E D D O O FÁBIA ALINE SCARAVONATTO TRABALHO INFANTIL: SEU SIGNIFICADO PARA A EQUIPE TÉCNICA E ADOLESCENTES BENEFICIÁRIAS DO PETI VINCULADAS À ENTIDADE DORCAS DO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR TOLEDO 2011

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FÁBIA ALINE SCARAVONATTO

TRABALHO INFANTIL: SEU SIGNIFICADO PARA A EQUIPE TÉCNICA E

ADOLESCENTES BENEFICIÁRIAS DO PETI VINCULADAS À ENTIDADE

DORCAS DO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR

TOLEDO

2011

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FÁBIA ALINE SCARAVONATTO

TRABALHO INFANTIL: SEU SIGNIFICADO PARA A EQUIPE TÉCNICA E

ADOLESCENTES BENEFICIÁRIAS DO PETI VINCULADAS À ENTIDADE DORCAS

DO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ms. Cristiane Carla Konno

TOLEDO

2011

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FÁBIA ALINE SCARAVONATTO

TRABALHO INFANTIL: SEU SIGNIFICADO PARA A EQUIPE TÉCNICA E

ADOLESCENTES BENEFICIÁRIAS DO PETI VINCULADAS À ENTIDADE DORCAS

DO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como

requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social pelo Curso de

Serviço Social Centro de Ciências Sociais

Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – UNIOESTE/Campus de Toledo – PR,

pelos seguintes componentes da banca

examinadora:

___________________________________

Profª. Ms. Cristiane Carla Konno

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

___________________________________

___________________________________

Toledo, novembro de 2011.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por estar presente em todos os momentos da minha vida!

À minha mãe Silvanice, pela força, carinho e dedicação. OBRIGADA POR TUDO. Te amo!

Obrigada principalmente pelo apoio e incentivo.

Agradeço ao meu namorado Claudemir, por me entender, por compreender minha falta de

tempo e acima de tudo por acreditar no meu sonho.

À Unioeste e todos os funcionários que proporcionaram minha formação profissional.

Agradeço a todos os professores, que nesses quatro anos fizeram parte da minha formação

profissional, obrigada: Alexandre; Alfredo; Amália; Carmen; Cristiane; Cleonilda; Diuslene;

Esther; Eugênia; Ineiva; João Carlos; Luciana; Marise; Marize Rauber; Mileni; Ricardo;

Roberto; Rosana; Vanessa e Zelimar.

Agradeço à assistente social Ereni que me proporcionou o primeiro contato com o estágio em

Serviço Social no programa Atitude em Cascavel, Ereni aprendi muito com você.

Como não agradecer alguém tão especial: OBRIGADA Marilia, por ser esta grande

profissional, pessoa e amiga e principalmente obrigada por ser minha supervisora de campo.

Obrigada por me mostrar como trabalhar com ética e respeito aos usuários da política de

assistência social, você é um grande exemplo a ser seguido, “quando crescer quero ser como

você”, VALEU! Aprendi muito com você. Nunca vou me esquecer de ti.

À Raquel minha supervisora de campo, você foi mais que uma supervisora de estágio, quantas

vezes me ouviu, me aconselhou, me ajudou... Eu nunca vou me esquecer de você, obrigada

por fazer parte da minha vida, da minha história e principalmente da minha formação

profissional, agradeço por sua amizade e por ser esta grande e competente profissional. Você

me ensinou muito.

Agradeço a Secretaria Municipal de Assistência Social de Toledo e todos os profissionais com

os quais convivi durante meu estágio que é uma importante etapa na formação profissional.

À entidade Dorcas e a assistente social Rejane que me abriu as portas quando decidi fazer

minha pesquisa.

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Às adolescentes da entidade Dorcas, sujeitos da minha pesquisa. Obrigada sem vocês não

poderia ter realizado esse trabalho dessa maneira.

Obrigada a toda minha família, especialmente meu avós: Vó Gema e Vô Luis, vocês são

exemplos de vida, de luta, de garra. Amo vocês.

Agradeço à Carmen e Geraldo (pais do meu namorado) por acreditarem em mim e me

receberem sempre bem.

Às minhas amigas de curso: Aline; Claudete; Jéssica e Josiane, obrigada pelos trabalhos em

grupo, pelo apoio e incentivo. Aline e Claudete obrigada por me ajudarem sempre.

Obrigada Dani Foscarini, Joice e Mari por me escutar e por fazerem parte desse processo de

formação profissional, nunca vou esquecer vocês.

Agradeço a Adjaneide por tudo, por me entender e apoiar sempre.

Às meninas que conheci no decorrer dos quatro anos, Dani Bonfim e Lauana, obrigada pelo

apoio e ajuda.

Agradeço todos os colegas com os quais convivi os durante os quatro anos de graduação.

A minha amiga de sempre, com quem eu posso sempre contar, Eliane, obrigada por tudo.

Enfim obrigada a todos que mesmo involuntariamente me ajudaram neste processo de

formação profissional.

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Ando devagar

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei, ou nada sei [...]

Penso que cumprir a vida

Seja simplesmente

Compreender a marcha

E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro

Levando a boiada

Eu vou tocando os dias

Pela longa estrada, eu vou

Estrada eu sou [...]

Todo mundo ama um dia,

Todo mundo chora

Um dia a gente chega

E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história

Cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz

E ser feliz [...]

(Almir Sater e Renato Teixeira)

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SCARAVONATTO, Fábia Aline. Trabalho Infantil: seu significado para a equipe técnica

e adolescentes beneficiários do PETI vinculados à Entidade Dorcas do município de

Toledo – PR. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Serviço Social). Centro de

Ciências Sociais Aplicadas Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus – Toledo,

2011.

RESUMO

O trabalho infantil não é algo recente, ele existe desde antes da sociedade capitalista, porém, é

intensificado nesta ordem societária. É visto pela sociedade como forma de aprendizagem e

formador de caráter. De acordo com a Constituição Federal de 1988 é proibida qualquer

forma de trabalho a pessoas menores de 18 anos de idade, salvo na condição de aprendiz a

partir dos 14 anos. Mesmo com legislações que proíbem o trabalho infantil, ele ainda continua

presente em nossa sociedade, para dar resposta a esta expressão da questão social o Estado e a

sociedade passam a intervir nessa situação através de políticas publicas relacionadas à área da

criança e do adolescente. Uma dessas políticas diz respeito ao Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil - PETI que foi criado pelo Governo Federal no ano de 1996, que tem como

objetivo erradicar o trabalho infantil. Diante disto, o presente estudo objetiva analisar a

problemática do trabalho infantil no município de Toledo a partir da equipe técnica do PETI,

bem como das adolescentes inseridas no programa. Desta forma constitui-se objetivo geral da

presente pesquisa: compreender o trabalho infantil a partir da equipe técnica e dos

adolescentes inseridos no PETI vinculados a entidade Dorcas. Para a realização do estudo

utilizou-se a pesquisa quantiqualitativa. A obtenção das informações se deu através da análise

documental e a realização de entrevistas aplicadas com o uso de questionário, junto aos

técnicos do PETI, com uma amostra de três profissionais, e com as adolescentes que

freqüentam a entidade Dorcas e são beneficiárias do programa totalizando sete adolescentes

mediante critérios de seleção que foram: ser do sexo feminino; ter entre doze e dezesseis anos;

estar no PETI há mais de dois anos; realizar as atividades do programa no período vespertino

e receber PETI urbano. Após a realização das entrevistas houve a tabulação das informações e

a análise das mesmas.

Palavras-chave: Trabalho Infantil; Políticas Públicas; Erradicação do Trabalho Infantil

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1 Idade das Adolescentes 41

GRÁFICO 2 Escolaridade das Adolescentes 42

GRÁFICO 3 Como as Adolescentes ficaram sabendo do PETI 42

GRÁFICO 4 Idade das Profissionais 43

GRÁFICO 5 Local de Trabalho das Profissionais 43

GRÁFICO 6 Formação Profissional 43

GRÁFICO 7 Há quanto tempo trabalham na área da Criança e do Adolescente 44

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Comparativo entre os Códigos de Menores de 1927 e 1979 e o

ECA

27

QUADRO 2 Entidades que desenvolvem o PETI 33

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LISTA DE SIGLAS

CEP Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos

CF/88 Constituição Federal Brasileira de 1988

CIAF Centro Integrado Amigos da Família

CLT Constituição das Leis Trabalhistas

CMAS Conselho Municipal de Assistência Social

CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FASUL Faculdade Sul Brasil

GRD Ginástica Rítmica Desportiva

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

NACA Núcleo de Atendimento à Criança e ao Adolescente

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PVMC Piso Variável de Média Complexidade

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11

1 O TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA .............................................................. 14

1.1 O TRABALHO INFANTIL: DA ESCRAVIDÃO À SOCIEDADE CAPITALISTA, CAUSAS E

CONSEQUÊNCIAS ................................................................................................................... 16

2 RESPOSTAS DA SOCIEDADE E DO ESTADO AO TRABALHO INFANTIL ANTES DA

DÉCADA DE 1980: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO ................................................ 22

2.1 O ECA E O RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E SEUS DIREITOS:

UM GRANDE PASSO NA HISTÓRIA BRASILEIRA ............................................................ 26

2.2 O PETI E A PERSPECTIVA DE ERRADICAR O TRABALHO INFANTIL ................... 28

2.2.1 O TRABALHO INFANTIL E O PETI NO MUNICÍPIO DE TOLEDO ......................... 31

2.2.2 O Atendimento do PETI nos Núcleos ................................................................................ 33

2.2.3 O atendimento do PETI na Entidade Dorcas ...................................................................... 34

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................................... 36

3.1. EIXO 1: Caracterização Social das Adolescentes ................................................................ 41

3.1.2 EIXO 3: Trabalho Infantil e seu Entendimento para os Entrevistados ............................... 44

3.1.3 EIXO 4: Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente .......................................... 48

3.1.4 EIXO 5: ECA versus Trabalho Infantil .............................................................................. 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 60

APÊNDICES .............................................................................................................................. 64

APÊNDICE A - Formulário de Entrevista para as Adolescentes Beneficiárias do PETI ........... 65

APÊNDICE B – Formulário de entrevista para a Equipe Técnica do PETI ............................... 67

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................................. 69

ANEXO ...................................................................................................................................... 74

ANEXO A – Parecer 313/2011 – CEP: Avaliação de Proposta de Projeto de TCC – Aprovado75

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INTRODUÇÃO

O presente estudo é o resultado do processo de aprendizado, pesquisa e investigação

realizado durante a graduação do curso de Serviço Social, da Universidade Estadual do Oeste

do Paraná, ou seja, é uma resposta ao processo de formação profissional e de todo

conhecimento adquirido durante esta etapa. Para que este estudo se materializasse, foi

extremamente necessário experimentar a intervenção profissional, ou seja, o Serviço Social no

seu exercício profissional cotidiano, e isso só foi possível a partir da inserção no campo de

estágio.

O Estágio Supervisionado I e II é um espaço muito importante para a formação

profissional e proporciona aprendizado e imprescindível aproximação com a realidade e de

acordo com o Projeto Político Pedagógico do curso de Serviço Social: “O Estágio

Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do

aluno no espaço sócio-institucional durante o processo de formação profissional,

concomitantemente do ano letivo, a partir da terceira série do curso.” (PPP- Projeto Político

Pedagógico, 2004, p.32). Foi justamente a partir da realização do Estágio Supervisionado,

realizado nos anos de 2010 e 2011 na Secretaria Municipal de Assistência Social de

Toledo/PR, especificamente na Gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI), que surge a escolha pela temática apresentada neste Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC).

No decorrer do processo do estágio foram surgindo inquietações acerca do debate

central que norteia o PETI: o trabalho infantil, se as atividades realizadas nas entidades que

desenvolvem o PETI proporcionavam a saída de crianças e adolescentes do mundo do

trabalho? O que é o trabalho infantil? Entre outras questões. Dessa maneira, estas indagações

proporcionaram uma maior aproximação com o tema e com a área da criança e do

adolescente.

A entrada compulsória da criança e do adolescente no mercado de trabalho é

conseqüência da pobreza familiar que é, por sua vez, conseqüência de um sistema

social excludente, antidemocrático, privatista que valoriza privilégios pessoais ou de

restritos grupos, em detrimento de interesses humano-genéricos. As crianças das

famílias pobres têm poucas chances de escapar do círculo da pobreza. Elas

abandonam precocemente a escola para ingressar precocemente no mercado de

trabalho, o que leva a reproduzir o padrão de miséria de suas famílias. (BATTINI,

1997, p .5).

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“É proibido qualquer forma de trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na

condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.” (Nova redação, conforme Emenda

Constitucional nº 20, de 16/12/1998).

Embora as legislações proíbam a situação de trabalho infantil, esta ainda se manifesta

nas mais variadas formas, trazendo consigo diversas conseqüências para as crianças e

adolescentes que adentram no mundo do trabalho precocemente.

O trabalho infantil começa a se manifestar na medida em que as cidades começam a

crescer e a desenvolver suas indústrias e em Toledo esta situação não foi muito diferente.

No município de Toledo/PR o trabalho infantil começou a se manifestar publicamente e

de forma mais marcante no ano de 2000, onde se identificou 110 crianças e adolescentes que

trabalhavam na coleta de lixo reciclável. Em dezembro do mesmo ano 582 crianças e

adolescentes estavam sendo atendidas pelo PETI, pois trabalhavam com lixo reciclável,

comércio informal e trabalho de bóia fria.

Diante dessa expressão da questão social que estava posta, em meados do ano de 2000,

foi iniciado no município as atividades do PETI que tem como objetivo principal retirar

crianças e adolescentes do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre e degradante, ou

seja, daquele trabalho que coloca em risco a saúde, a segurança e o desenvolvimento desses

sujeitos. Em Toledo, as atividades do PETI são realizadas através de 8 entidades sociais

vinculadas à operacionalização das políticas sociais da gestão municipal.

A partir de toda a experiência vivenciada no campo de estágio, conhecendo melhor o

objetivo do PETI e para responder todas as inquietações foi estabelecido como objetivo geral

da pesquisa: “Compreender o significado de trabalho infantil a partir da equipe técnica e dos

adolescentes inseridos no PETI vinculadas a entidade Dorcas.”

Com base no objetivo geral foram definidos os objetivos específicos que são: a)

Conceituar o trabalho infantil na sociedade capitalista; b) Situar o trabalho infantil, expressão

da questão social no âmbito da Política de Atendimento à criança e ao adolescente, ou seja, o

PETI no município de Toledo; c) Identificar o atendimento junto às entidades e famílias

beneficiárias do PETI em Toledo e d) Verificar junto à Entidade Dorcas as famílias

beneficiárias do PETI.

Para alcançar o objetivo da pesquisa foi realizada uma reflexão teórica sobre o assunto

tratado, bem como uma investigação com abordagem quantitativo-qualitativa que não se

preocupa apenas com dados, números, mas também com a realidade na qual vivem os sujeitos

da pesquisa, proporcionando dessa maneira uma melhor reflexão acerca do tema e seu

significado. E para que isso se tornasse possível utilizou-se da pesquisa documental e da

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entrevista semi-estruturada como instrumental que proporcionou a obtenção das informações

que foram registradas em formulário.

Este TCC está estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo é abordada a

temática do trabalho infantil e seus desdobramentos na sociedade capitalista. No resgate

histórico é realizada uma abordagem acerca do trabalho infantil da escravidão até os dias

atuais, suas causas e conseqüências e o trabalho infantil no município de Toledo/PR.

No segundo capítulo é realizada uma contextualização histórica e a evolução das leis

de proteção a criança e ao adolescente e em específico a legislação brasileira criada para o

enfrentamento ao trabalho infantil, abordando de maneira mais específica a Constituição

Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ainda neste capítulo é

tratado sobre a criação do PETI, focando-se no município de Toledo.

O terceiro e último capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para

a realização da pesquisa, bem como os resultados da pesquisa e a análise das informações

obtidas.

Para a coleta das informações utilizou-se a técnica da entrevista por meio do

instrumental – formulário, que foram aplicadas junto aos sujeitos, no espaço da entidade em

dias e horários previamente agendados.

Em seguida após a tabulação das informações, estabeleceu-se didaticamente 5 eixos de

análise que tratam das respostas do formulário: Caracterização Social das Adolescentes e

Equipe Técnica, Trabalho Infantil.

Posteriormente são apresentadas as considerações finais.

Ressalva-se que todo processo foi operacionalizado conforme recomendado pela ética

na pesquisa com seres humanos, através da aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comitê de

Ética em pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEP), conforme anexo A.

Dessa forma espera-se que esse trabalho possa contribuir para o aprimoramento

intelectual de quem tiver acesso à pesquisa, uma maior visibilidade do tema ao Serviço

Social, já que se trata de uma das expressões da questão social onde o assistente social tem

que intervir, bem como para outros profissionais que trabalham na busca e garantia de direitos

da criança e do adolescente, e acima de tudo que possa alertar a sociedade em geral em

relação ao trabalho infantil, desmistificando a cultura de que o trabalho infantil é formador de

caráter e que a criança e o adolescente têm que trabalhar, e para que juntamente com o Poder

Público possam criar Políticas Públicas que vão de encontro às necessidades da criança e do

adolescente.

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1 O TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Para discutir o trabalho infantil é necessário analisar e refletir sobre alguns conceitos

como o trabalho e o trabalho na sociedade capitalista, diante disso também é necessário

analisar de uma forma crítica a sociedade em que estamos inseridos, seu processo histórico e

como o trabalho infantil entra nesse processo, bem como, suas causas e conseqüências.

O trabalho faz parte de nossas vidas, pois é ele a primeira forma da existência humana, é

através dele que criamos e reproduzimos valores para satisfazer as necessidades primárias e as

novas necessidades que criamos no decorrer do tempo.

O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o

homem, por sua ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza [...]

o processo de trabalho [...] é a atividade orientada a um fim para produzir valores de

uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas, condição

universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição natural eterna da

vida humana [...] (MARX apud NETTO; BRAZ, 2007, p. 31-32).

Portanto, é através do processo de trabalho que nos diferenciamos dos animais e nos

socializamos com outras pessoas. O trabalho nada mais é que uma atividade que transforma a

natureza e também todos os seres que se envolvem nesse processo, assim sendo, o trabalho é

uma etapa muito importante na história que significou a constituição da humanidade tal como

ela é, e transformou o ser humano em ser social1.

Segundo Netto e Braz (2007, p. 41) “somente o ser social é capaz de agir

teleologicamente2, só ele propõe finalidades e antecipa metas e só ele dispõe da capacidade de

projetar.” E isso somente é possível a partir do trabalho.

É a partir do trabalho que também são constituídas as formas de sociedade, aqui será

destacada a sociedade capitalista e de que maneira é desenvolvido o trabalho nessa ordem

social.

As condições de trabalho e a própria definição de trabalho varia conforme a

conjuntura histórica vigente. Percebe-se, portanto, que o entendimento do que é trabalho e

como este se processa é diferente em cada sociedade e época específica.

Na sociedade capitalista o trabalho é caracterizado como trabalho assalariado onde

as pessoas começam a vender sua força de trabalho para sobreviver. Em troca de sua

1 “Entende-se que o ser social surge da natureza e que suas capacidades essenciais são construídas por ele em seu

processo de humanização: ele é autor e produto de si mesmo, o que indica a historicidade de sua existência.”

(BARROCO, 2009, p. 20) 2 “Por teleologia entende-se a projeção ideal de finalidades e dos meios para a sua efetivação, um determinado

grau de cooperação de certas formas de comunicação, tal como a linguagem articulada com o conhecimento e o

domínio sobre a natureza.” (BARROCO, 2009, p. 24).

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mercadoria, o trabalhador recebe a titulo de salário uma parte do produto em que se

traduz parcela de seu trabalho: o trabalho necessário para a sua conservação e

reprodução. O salário, embora à primeira vista apareça como o preço do trabalho, é

o preço da força de trabalho. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 48).

A expansão do modo de produção capitalista e a revolução industrial no final do

século XVIII trouxeram grandes transformações econômicas, políticas e sociais. Nesse

contexto, a sociedade se estruturou em duas classes: a classe burguesa – que são os

proprietários dos meios de produção e a classe trabalhadora – que possuem apenas a força de

trabalho.

Nesse processo da revolução industrial e do novo modelo de produção capitalista que

estava surgindo, houve também a introdução de máquinas e a divisão nos processos de

trabalho dentro das fábricas, onde foi introduzido o modelo de produção fordista/taylorista

que vigorou na sociedade capitalista durante o século XX. Este processo segundo Antunes se

caracteriza da seguinte forma:

Esse padrão produtivo estruturou-se com base parcelar e fragmentada, na

decomposição de tarefas, que reduzia a ação operária a um conjunto repetitivo de

atividades [...] Esse processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla da

produção em série fordista com o cronômetro taylorista, além da vigência de uma

separação nítida entre elaboração e execução. Para o capital tratava-se de apropriar-

se do trabalho, suprimindo a dimensão intelectual do trabalho operário, que era

transferida para as esferas da gerência científica. A atividade do trabalho reduzia-se

a uma ação mecânica e repetitiva. (ANTUNES, 2002, p. 37).

Porém este padrão produtivo também entrou em crise a partir da década de 1970,

trazendo transformações para o processo de trabalho e também outras transformações, e as

respostas para essa crise foi:

Um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político de

dominação, cujos contornos foram o advento do neoliberalismo, com a privatização

do Estado, a desregulamentação dos direitos trabalhistas e a desmontagem do setor

produtivo estatal [...] seguiu também um intenso processo de reestruturação da

produção do trabalho com vistas a dotar o capital do instrumental necessário para

tentar repor os patamares de expansão anteriores. (ANTUNES, 2002, p. 31).

Portanto, esse processo denominado de reestruturação produtiva envolve uma série de

inovações tecnológicas, assim como o aperfeiçoamento da maquinaria e da organização dos

elementos constitutivos do trabalho.

Entendendo essas mudanças para além do universo do trabalho, tendo, contudo,

implicações sob diferentes aspectos no âmbito social, político, econômico e cultural. Assim,

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essas alterações possibilitaram maior concentração e acumulação do capital, permitindo, dessa

maneira, mudanças na divisão social do trabalho, que segundo Netto (1996, p. 92) “esse

processo reestrutura radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a relação entre

excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação [...]”. (grifo do

autor).

No que se refere a estas novas modalidades de contratação, pose-se destacar “o

emprego precário, trabalho autônomo via terceirização a microempresas ou via serviços pagos

por tarefa”. (NETTO, 1996, p. 92/94).

A partir desse processo se deflagra as condições precárias em que os sujeitos que

vivem desse mundo do trabalho são submetidos. Diante desse contexto é que se evidencia a

situação de trabalho infantil, sendo que a família, inserida nesse processo de exploração do

trabalho, não consegue manter o sustento da casa e dos filhos, “obrigando-os” assim, a

colocar seus filhos no mercado de trabalho para ajudar a complementar a renda da família.

O trabalho infantil se evidencia a partir desse contexto, porém, é anterior a essa

conjuntura sócio-histórica.

1.1 O TRABALHO INFANTIL: DA ESCRAVIDÃO À SOCIEDADE CAPITALISTA,

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Com as mudanças que ocorreram no mundo do trabalho, principalmente a introdução

da tecnologia, o mercado procura trabalhadores mais especializados/qualificados, e com os

trabalhos terceirizados os trabalhadores passam a receber menos, sendo “obrigados” então a

colocar toda sua família no mercado de trabalho inclusive as mulheres e seus filhos. Foi nesse

contexto de transformações no mundo do trabalho e da sociedade que o trabalho infantil

passou a ser visto como uma expressão emergida das classes mais pobres da sociedade.

Porém, não foi somente a partir da introdução do modo de produção capitalista que esta

situação gerou o trabalho de crianças e adolescentes, o que demonstra que é anterior à

sociedade capitalista.

No Brasil, durante a colonização e o período da escravidão já era possível verificar

que o trabalho infantil estava fortemente presente onde crianças negras, filhas dos escravos,

eram inseridas no trabalho precoce e ainda eram castigadas. Nessa época, o trabalho era visto

como formador de caráter e estava relacionado com a pobreza, portanto, as crianças pobres

tinham que trabalhar.

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17

A vida de trabalho das crianças escravas começava precocemente, aos 5 e 6 anos de

idade e além do trabalho, essas crianças eram submetidas a maus tratos, eram separadas de

suas famílias e levavam consigo muitas marcas físicas dos castigos e excesso de trabalho. As

principais atividades desenvolvidas por estas crianças, conforme Silva (2006, p. 18) era:

“apanhar frutos, semear, cuidar de animais, passar, engomar, remendar roupas, lavar os pés

dos do senhor e dos visitantes da casa, servir a mesa, engraxar [...]”, entre outras atividades.

Esta situação de exploração da força de trabalho infantil de crianças escravas foi

amenizada, mas não extinta, pois, existe até os dias de hoje, foi somente a partir da criação da

Lei Áurea em 13 de maio de 1988, que declarava a extinção da escravidão no Brasil,

momento em que segundo Silva (2006, p.19) “a população jovem escrava se tornava livre.”

A extinção da escravatura foi um divisor de águas no que diz respeito ao debate

sobre o trabalho infantil, multiplicaram-se, a partir de então iniciativas públicas e

privadas, dirigidas ao preparo da criança e do adolescente para o trabalho, na

indústria e na agricultura. O debate sobre a teoria de que o trabalho seria a solução

para o “problema do menor abandonado/delinqüente” começava, na mesma época, a

ganhar visibilidade. A experiência da escravidão havia demonstrado que a criança e

o jovem trabalhador constituíam-se em mão-de-obra mais dócil, mais barata e com

mais facilidade de adaptar-se ao trabalho. (RIZZINI, 2004, p. 376).

Neste contexto, crianças e adolescentes passaram a ser requisitados para o trabalho em

todas as épocas e em todas as formas de trabalho. É através de cada momento histórico que

surgem as mais variadas formas de exploração da força de trabalho infantil.

O Brasil tem uma longa história de exploração da mão-de-obra infantil. As crianças

pobres sempre trabalharam [...] para seus donos, no caso das crianças escravas da

Colônia e do Império; para os “capitalistas” do inicio da industrialização, como

ocorreu com as crianças órfãs, abandonadas ou desvalidas a partir do final do século

XIX; para os grandes proprietários de terras como bóias-frias; nas unidades

domésticas de produção artesanal ou agrícola; nas casas de família; e finalmente nas

ruas, para manterem a si e suas famílias. (RIZZINI, 2004, p. 376).

É possível perceber que o trabalho de crianças e adolescentes não é recente, mas ele

tem uma visibilidade maior dentro das fábricas, um ambiente onde crianças e adolescentes

apesar de sua fragilidade, eram vistas e cobradas como adultos, um lugar impróprio para essas

pessoas e que segundo Moura, (2004, p. 264) “trazia em sua esteira a indiferença às

particularidades e às necessidades da infância e da adolescência.”

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Além de estar evidente a não preocupação com as necessidades das crianças dentro

das fábricas, também era possível visualizar os acidentes de trabalho e a violência contra as

crianças que ocorriam neste ambiente de trabalho como destaca Moura:

Os acidentes do trabalho não esgotam, no entanto, as situações nas quais as crianças e

adolescentes defrontaram-se com a violência no mundo do trabalho. Merece destaque,

também, os ferimentos resultantes dos maus-tratos que patrões e representantes dos

cargos de chefia – como mestres e contramestres – infligiam aos pequenos operários e

operárias, no afã de mantê-los “na linha”, em situação igualmente reveladora de

extrema violência que permeava o cotidiano do trabalho. (MOURA, 2004, p. 266).

O trabalho infantil nessa época era visto como uma maneira de tirar a criança e o

adolescente da criminalidade e da vagabundagem, do ambiente da rua. Nesse sentido, o

trabalho era visto como formador de caráter, de responsabilidade e de algo útil na vida desses

então trabalhadores.

Mas o trabalho infantil no decorrer da história foi ganhando maior visibilidade e

atenção e pode ser entendido segundo Oliveira (2002, p. 193) “como aquele trabalho que se

realiza abaixo da idade mínima básica, que passou a ser 16 anos pela emenda 20 da

Constituição Federal de 1988.”

Segundo Batinni (1997)3, “o trabalho infantil é conseqüência da pobreza familiar, que

é por sua vez, conseqüência de um sistema social excludente, antidemocrático, privatista que

valoriza privilégios pessoais [...]”

O trabalho infantil também pode ser caracterizado e dividido mundialmente em sete

grandes grupos, como aponta o UNICEF4 (apud Carneiro, 2002, p. 26-27):

1. “Serviços Domésticos: realizados em casa de estranhos, que são as mais

difíceis de localizar e que são responsáveis por um número imenso de crianças,

principalmente meninas fora da escola, sem contar a exposição destas a um

trabalho quase escravo e que lhes deixa muito perto da exploração sexual;

2. Trabalho escravo e trabalho forçado: bastante comum em alguns países

onde a prática da venda de crianças para pagamento de dívida é comum, e que

não prevê qualquer tipo de remuneração;

3 Esta citação foi retirada de uma Palestra proferida por Dra. Odária Battini, no Curso de Qualificação de

Conselheiros Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente e de Conselheiros Tutelares da região de

Cascavel, promovido pela PROCURSO, em dezembro de 1997. 4 O UNICEF e seu processo histórico serão abordados com mais ênfase no capítulo dois deste trabalho.

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3. Exploração sexual comercial: uma das mais degradantes atividades

desenvolvidas por crianças. Além da degradação moral, as expõe à violência, à

contaminação pela AIDS, à drogadição e à gravidez indesejada;

4. Trabalho em indústrias e plantações: expõe as crianças à contaminações, uso

excessivo da força física, locais insalubres e perigosos e jornadas muito além

do que se regulamenta até para trabalhadores adultos;

5. Trabalho na rua: uma das atividades que congrega o maior número das

crianças que trabalham, seja em lixões, vendendo pequenas mercadorias ou

esmolando, colocando as crianças em contato direto com a violência e a falta

de proteção, uma vez que sempre realizam estas atividades longe de seus pais;

6. Trabalho para a família: pode ser considerado exploração na medida em que

afasta a criança da escola e lhe exige mais do que ela pode dar devido a seu

tamanho;

7. Trabalho das meninas: é realizado em casa, geralmente na manutenção desta

e no cuidado com os irmãos para que os pais possam trabalhar. Compromete a

escolarização e a infância, além de sobrecarregar de responsabilidade a criança

que não tem desenvolvimento cognitivo para este tipo de tarefa.”

Dentro das várias formas de trabalho existem algumas que são expressamente

proibidas às crianças e adolescentes, por serem consideradas como trabalho: perigoso e

penoso.

O adjetivo “perigoso” é sinônimo de inseguro, não se limitando, portanto o trabalho

efetuado em contato com inflamáveis e explosivos ou no setor de energia elétrica. É

tido como perigoso todo trabalho que, de fato, ponha em risco a integridade física do

adolescente, por exemplo, trabalho com serras elétricas desguarnecidas, com facões

nas condições, em geral, oferecidas pela construção civil. (OLIVEIRA, 2002, p. 194).

Há também o trabalho considerado insalubre que também é proibido à criança e ao

adolescente, indivíduos que se encontram em situação peculiar de desenvolvimento5, esta

forma de trabalho é caracterizada da seguinte forma:

Trabalho insalubre é aquele prestado em condições que expõe o trabalhador a

agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixada em razão da natureza

e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL,

Cartilha PETI, 2004, p. 25).

5 Expressão utilizada e reconhecida no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90 que será abordada

de forma mais especifica no capitulo 2 deste trabalho.

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É possível entender o trabalho infantil no âmbito das desigualdades sociais na

sociedade capitalista, é nesta ordem social que o trabalho de crianças e adolescentes se

configura como uma das expressões da questão social6 materializada na contradição entre

capital e trabalho.

O trabalho infantil se configura como um grave problema na vida de crianças e

adolescentes, esses problemas se apresentam em vários âmbitos, tanto no ingresso ao trabalho

precoce quanto na vida após a inserção neste tipo de trabalho.

Entre as causas do ingresso no trabalho precoce estão: a pobreza, onde a renda da

criança é indispensável para o sustento da família. Outro fator é a precarização da

educação, onde a ineficiência do sistema de ensino não contempla as necessidades

da população. E na condição de pobreza vivenciada, a criança deixa de estudar para

trabalhar, garantindo a perpetuação da falta de qualificação profissional, jornadas

cansativas e longas, baixos salários e a conseqüentemente a reprodução da miséria

já vivenciada pelos pais. Ainda um fator apontado são os valores e tradições

presentes na sociedade atual e capitalista, onde o trabalho é visto como a “única

forma de ser digno”. Assim, a sociedade passa a ser conivente com essa forma de

exploração já que compartilha da idéia de que a educação se dá através do

trabalho. (CIPOLA, 2001, p. 23, grifo nosso)

É muito comum ainda nos dias de hoje achar que a educação e a formação de caráter

de crianças e adolescentes se dão através da inserção dos mesmos no trabalho o que não se vê,

são as conseqüências que o trabalho na fase da infância e adolescência pode trazer para a vida

desses sujeitos.

O trabalho da criança e do adolescente das classes populares é visto em nossa

sociedade como um mecanismo disciplinador, capaz de afastá-los das companhias

maléficas e dos perigos da rua. A “escola do trabalho” é percebida como a

verdadeira “escola da vida” – a criança é socializada desde cedo para ocupar o seu

lugar em uma sociedade extremamente estratificada, onde lhe são reservadas as

funções mais subalternas. (RIZZINI, 2004, p. 389).

Dentre as conseqüências do trabalho infantil têm-se as físicas, onde como seres em

formação estão mais suscetíveis aos elementos agressivos como lesões, doenças,

deformidades físicas e outras situações.

Outra forma é em relação aos efeitos psicossociais, que se dá por sua situação peculiar

de desenvolvimento, construção da identidade e da autoconfiança, ao assumir

responsabilidades que não são próprias da idade, frustra-se por não responder à altura ao que

6Por questão social entende-se o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da

classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. “É a manifestação, no cotidiano da vida

social da contradição entre proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além

da caridade e repressão”. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 77).

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lhe é imposto, podendo tornar-se um adulto inseguro, cabisbaixo, frustrado, depressivo, com

inclinações para suicídio e com comportamentos agressivos.

Entre essas conseqüências sociais indesejáveis do trabalho infantil a mais grave é: “o

prejuízo que o trabalho causa à educação escolar das crianças, dado que as inovações

tecnológicas têm requerido um novo tipo de trabalhador”. (BRASIL, Cartilha PETI, 2004, p.

12).

Dessa maneira, pode-se ressaltar que o mercado de trabalho exige um profissional

cada vez mais qualificado e desenvolvido, porém, se a criança e o adolescente estão

trabalhando ao invés de estarem estudando, não responderão quando adultos às exigências

estabelecidas pelo mercado. Assim pode-se afirmar que a educação tem um papel muito mais

importante na vida de crianças e adolescentes a fim de prepará-los para uma vida capaz de

qualificá-lo como cidadão trabalhador, do que sua inserção precoce no mercado de trabalho.

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2 RESPOSTAS DA SOCIEDADE E DO ESTADO AO TRABALHO INFANTIL

ANTES DA DÉCADA DE 1980: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO

Para dar resposta à situação de trabalho infantil que estava posta e que ainda se

encontra em evidência no país foi preciso que o Estado juntamente com a sociedade, ou por

pressão da mesma formulasse leis de proteção à infância e adolescência, bem como políticas

públicas que atenda as necessidades desses sujeitos. Neste capítulo, será abordado um breve

histórico acerca da evolução dos direitos e a proteção da criança e do adolescente e o

reconhecimento destes como sujeitos em situação de desenvolvimento.

No âmbito de legislações de proteção à criança e ao adolescente no Brasil, as que têm

maior destaque são as normas que se encontram na Constituição Federal de 1988 e no

Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 (ECA). Porém, antes destas legislações, havia

outras que regulamentavam sobre o trabalho de menores7 no país.

O decreto federal 1.313 de 17 de janeiro de 1891 é a primeira normativa que segundo

Neto (2003, p. 78) “garantia que a criança não trabalharia antes dos doze anos de idade,

admitindo, porém, o trabalho do menor a partir dos oito anos, na função de aprendiz, nas

fábricas de tecidos.”

No ano de 1919 surge a Organização Internacional do Trabalho (OIT) como parte do

Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Fundou-se sobre a convicção

primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social e

tem como principal objetivo a formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho

(convenções e recomendações). As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de

um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. As principais convenções da OIT

que tratam do trabalho infantil são:

[...] a Convenção 5 [...], definia a idade mínima de 14 anos para o trabalho na

indústria [...], a Convenção 138 propõe em seu primeiro artigo a abolição do

trabalho infantil e define que a idade mínima para o trabalho infantil não será

inferior à idade compulsória ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15 anos.

(UNICEF, 1998).

7 A expressão menor “[...] já vinha desde a virada do século sendo utilizada num sentido jurídico, para se referir

à menoridade etária, entra para o vocabulário corrente e se torna categoria classificatória da infância pobre,

marcando-a e diferenciando-a da infância dos segmentos sociais.” (SANTOS 1993 apud ZIGLIOLI, 1995, p.

13). Esta expressão menor não é mais utilizada, pois a legislação atual considera discriminatória por se referir

apenas a um grupo de crianças e adolescentes, porém será utilizada neste trabalho por estar se referindo a

determinados momentos históricos de nossa sociedade.

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A criação da OIT é um marco histórico internacional no que se refere aos direitos

humanos e principalmente de crianças e adolescentes e foi fundamental para a construção de

legislações brasileiras que estivessem interessadas e comprometidas com os direitos desses

sujeitos e num primeiro momento pode ser caracterizada da seguinte maneira:

A idéia de uma legislação trabalhista internacional surgiu como resultado das

reflexões éticas e econômicas sobre o custo humano da Revolução Industrial

ocorrida ainda no século XIX. A legislação visava à melhoria das relações de

trabalho em todo o mundo, principalmente no período pós-guerra que demandaria

todo um esforço de reconstrução dos países envolvidos. (BIDARRA; OLIVEIRA,

2007, p. 167).

A OIT através de suas Convenções tinha como principal objetivo proporcionar a vida

em segurança para a infância, esse foi o primeiro instrumento normativo/legislativo com

caráter protetivo para a infância.

O UNICEF8 rege-se pela Convenção dos Direitos da Criança e trabalha para que esses

direitos se convertam em princípios éticos permanentes e em códigos de conduta

internacionais para as crianças. Tem como objetivo promover a defesa dos direitos das

crianças ajudar a dar respostas às suas necessidades básicas e contribuir para seu pleno

desenvolvimento. Foi fundada em 11 de dezembro de 1946 num primeiro momento foi criada

para ajudar as crianças que viviam na Europa e que sofreram com a 2ª Guerra Mundial. Em

1953 tornou-se uma instituição permanente de ajuda e proteção a crianças de todo mundo. É a

única organização que se dedica especificamente às crianças. Trabalha no Brasil desde 1950,

atuando na articulação, no monitoramento, avaliação e promoção de políticas públicas para a

área da infância e adolescência.

A Convenção Internacional dos Direitos da Criança adotada pela Resolução nº 44/25

da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 20 de novembro de 1989

e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 estabelece um novo marco em prol da

infância mundial e declara que o bem estar e as condições de vida da criança e do adolescente

não são uma questão de filantropia, mas um direito que a sociedade, o Estado e a família

precisam garantir, a respeito do trabalho infantil em seu artigo 32 dispõe o seguinte:

1. Os Estados-partes reconhecem o direito da criança de estar protegida

contra a exploração econômica e contra o desempenho de qualquer

trabalho que possa ser perigoso ou interferir em sua educação, ou seja,

8 O histórico do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) foi retirado da internet o site está

referenciado no final deste trabalho.

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nocivo para saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, espiritual,

moral ou social. 2. [...] adotarão medidas legislativas, administrativas,

sociais e educacionais com vistas a assegurar a aplicação do presente

artigo [...] deverão em particular: a) estabelecer uma idade ou idades

mínimas para admissão em empregos; b) estabelecer regulamentação

apropriada relativa a horários e condições de emprego; c) estabelecer

penalidades ou outras sanções apropriadas a fim de assegurar o

cumprimento efetivo do presente artigo. ( BRASIL, 1959).

No Brasil os Códigos que tratam da questão da infância e adolescência, naquele

momento entendidos como menor, conforme Neto (2003, p. 77) “sempre se voltaram mais

para o controle social do que para a garantia dos direitos da criança e do adolescente [...]

caminharam na linha do confinamento, da privação dos direitos e não da proteção.” Vale

ressaltar também que os Códigos não eram direcionados para todas as crianças e adolescentes

da época, eles se voltaram para os menores e jovens que se encontravam em situação de

incômodo e perigo para a sociedade.

Em 1927, entra em vigor o Código de Menores9 Decreto nº 7.493-A de 12 de outubro,

este código consolidou as leis de assistência e proteção aos menores. Segundo Rosa (2001, p.

190), “assim o Brasil começa a implantar um sistema público de atenção às crianças e aos

jovens, sob a égide de proteção e tutela do Estado.” No que se refere ao trabalho infantil, este

era proibido para menores de12 anos e para os menores de 14 anos que não tivessem

concluído o ensino primário, esta legislação também determinou a proibição do trabalho

noturno para menores de 14 anos em todas as atividades, porém, abria exceções para os

menores que comprovassem que o trabalho era indispensável para a sua subsistência e de sua

família.

Nesse contexto as crianças e adolescentes acima de 12 anos eram contratadas pelas

indústrias sendo submetidos a longas jornadas de trabalho e recebendo por seu trabalho

salários inferiores ao dos adultos. Percebe-se, portanto que o Código de Menores de 1927 se

constituiu em um pacto social entre o Estado e os empresários da época, onde o trabalho

infantil era permitido e explorado, embora tenha se manifestado dessa maneira, esse Código

de Menores, foi à primeira legislação que se voltava à questão do menor no Brasil.

Em 1943 ocorre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que determina a

proibição do trabalho para menores de 12 anos e condiciona o trabalho dos 12 aos14 anos à

9 Este Código também ficou conhecido como Código Melo Mattos, pelo fato de ter tido como base projetos do

então professor e deputado Mello Matos, que foi o primeiro juiz de menores do Brasil, no Rio de Janeiro, capital

federal, tendo se empenhado ao longo de sua vida, em aprimorar e fazer cumprir essa legislação.” (FAVERO,

1990, apud CASTRO, 2000, p. 7)

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garantia de freqüência na escola, o trabalho realizado por crianças e adolescentes deveria ser

de natureza leve.

O Código de Menores de 1979 promulgado pela Lei Federal 6.697 de 10 de outubro é

a continuação do Código de 1927, pois valorizava a manutenção da ordem pela via da

autoridade jurídica, atuando por meio da repressão, do controle, internamento e ainda atribuía

à criança, ao adolescente e sua família a responsabilidade sobre os problemas sociais que

vivenciavam, ou seja, considerava esses sujeitos como: “menor em situação irregular” a partir

dessa visão o Código de Menores de 1979 define em seu artigo 2º quem eram esses sujeitos:

[...] aqueles privados de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução

obrigatória; vítimas de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou

responsáveis; em perigo moral, pois se encontravam de modo habitual, em

ambiente contrário aos bons costumes ou por sofrer exploração em atividade

contrária aos bons costumes; privados de representação ou assistência legal, pela

falta eventual dos pais ou dos responsáveis; com desvios de conduta, em virtude de

inadaptação familiar ou comunitária; ou autores de infração penal. (BRASIL. Lei nº

6.697, 1979).

Nota-se através das primeiras legislações que estas não estavam voltadas e

comprometidas com todas as crianças e adolescentes, mas apenas com aquelas que eram

consideradas perigosas e que atrapalhavam e comprometiam o sossego da sociedade. Ainda

que todas as Legislações brasileiras, antes da década de 80, referentes à criança e ao

adolescente, não os reconheciam como pessoas em desenvolvimento, os concebiam iguais aos

adultos em responsabilidades, deveres e cobranças.

Foi somente com a Constituição Federal de 1988 (CF/88), construída e embasada na

democracia, que às crianças e os adolescentes passaram a ser reconhecidos e protegidos,

diante disso A CF88 expressa em seu Artigo 227:

É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao adolescente,

absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL,

CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1998, p. 131).

É a Constituição Federal de 1988 que prevê a doutrina da Proteção Integral, onde a

criança e o adolescente passam a ser vistos como sujeitos de direitos. Esta prevê o trabalho de

adolescentes a partir dos 14 anos na condição de aprendiz, somente a partir dos 16 anos, para

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trabalho executado fora do processo de aprendizagem, e somente a partir dos 18 anos, para

trabalho noturno.

2.1 O ECA E O RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E SEUS

DIREITOS: UM GRANDE PASSO NA HISTÓRIA BRASILEIRA

Depois de muita luta e mobilizações a sociedade interessada nas questões voltadas à

infância e adolescência conseguiram através do Poder Público, a promulgação da Lei nº 8.069

de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e

regulamenta o estabelecido na CF/88 que tem como principal objetivo a proteção integral à

criança e ao adolescente.

O ECA nasce com a perspectiva de mudança e a principal característica do estatuto em

relação a isto se trata da mudança de doutrina, que trazia em seu entendimento que esta lei

deveria ser para todas as crianças e adolescentes, ou seja, é uma lei universal e para além

disso reconhece a criança e o adolescente como pessoa de direito, que necessita de proteção

integral e é prioridade absoluta.

Em relação ao trabalho infantil o ECA possui um capítulo10

inteiro que trata sobre o

direito à profissionalização e à proteção no trabalho, ou seja, nesta legislação o trabalho é

visto como um direito e não mais como um dever, respeitando a idade para a entrada no

mercado de trabalho, bem como a situação de desenvolvimento da criança e do adolescente.

Em seu Artigo 60 o ECA traz a proibição de qualquer trabalho para menores de 14

anos, salvo na condição de aprendiz. (Nova redação, conforme Emenda Constitucional nº20,

de 16/12/1998). Como trabalho em condição de aprendizagem entende-se que:

[...] o adolescente, a partir dos 14 nos, só pode executar trabalho dentro de um

programa de profissionalização porque a aprendizagem é uma das primeiras etapas

da formação técnico-profissional. Vulgarmente, às vezes por conveniência,

qualifica-se como aprendiz o adolescente que executa tarefas, tais como estafeta,

Office-boy, ensacador de compras, vigilância de carros na rua, cuja execução não

comporta passagem prévia por um processo de aprendizagem. Se não tomar a

expressão “na condição de aprendiz” no sentido estrito ou técnico, a Constituição

estaria fixando aos 16 anos a idade mínima para o trabalho fora de um processo de

profissionalização e, ao mesmo tempo, anulando seu próprio enunciado,

rebaixando-a para quatorze anos. (OLIVEIRA, 2002, p. 194, grifo do autor).

10

O capítulo do ECA que trata sobre a questão do direito a profissionalização e à proteção no trabalho é o

capítulo V do título II e é composto pelos artigos: 60; 61; 62; 63; 64; 65; 66; 67; 68 e 69.

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27

O ECA ainda dispõe sobre a profissionalização e proteção no trabalho. Traz a

perspectiva de proteção e não de obrigação e exploração do trabalho. Nesse sentido, dispõe

em seu artigo 67 sobre as formas de trabalho proibidas às crianças e adolescentes.

ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de

escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é

vedado trabalho: I-noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as

cinco horas do dia seguinte; II- perigoso, insalubre ou penoso; III- realizado em

locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral

e social.; IV- realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à

escola. (BRASIL, ECA, 1990, ARTIGO 67).

Portanto foi somente a partir da CF/88 e do ECA que a criança e o adolescente

passaram a ser vistos como sujeitos de direitos, em condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento. A evolução dos direitos em relação à criança e ao adolescente está

totalmente visível no quadro abaixo que traz algumas comparações entre o Código de

Menores de 1927, o Código de Menores de 1979 e o ECA de 1990.

QUADRO 1: Comparativo entre os Códigos de Menores de 1927 e 1979 e o ECA

Aspecto Considerado Código de menores

(Decreto nº 17943, de

12/10/27)

Código de menores

(Lei nº 6697/79)

Estatuto da Criança e

do Adolescente (Lei nº

8069/90)

Concepção política

social implícita

Instrumento de proteção

e vigilância da infância

e adolescência, vítima

da omissão e

transgressão da família,

em seus direitos

básicos.

Instrumento de controle

social da infância e da

adolescência vítima da

omissão e transgressão

da família, da sociedade

e do Estado em seus

direitos básicos.

Instrumento de

desenvolvimento social,

voltado para o conjunto

da população infanto-

juvenil do país,

garantindo proteção

especial àquele

segmento considerado

de risco social e

pessoal.

Visão da criança e do

adolescente

Menor abandonado ou

delinqüente, objeto de

vigilância da autoridade

pública (juiz).

Menor em situação

irregular, objeto de

medidas judiciais.

Sujeito de direitos e

pessoa em condição

peculiar de

desenvolvimento.

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28

Mecanismos de

Participação

Institui o Conselho de

Assistência e Proteção

aos Menores, como

associação de utilidade

pública, com

personalidade jurídica.

As funções dos

Conselheiros,

nomeados pelo

Governo, eram auxiliar

o Juízo de Menores,

sendo os Conselheiros

denominados

“Delegados da

Assistência e Proteção

aos Menores”. Era de

competência do juiz,

auxiliado pelo Conselho

de Assistência e

Proteção aos Menores

Não abria espaço à

participação de outros

atores, limitando os

poderes da autoridade

policial judiciária e

administrativa.

Institui instâncias

colegiadas de

participação (Conselhos

de Direitos, paritários,

Estado e Sociedade

Civil), nas três

instâncias da

administração, e cria no

nível municipal os

Conselhos Tutelares,

formado por membros

escolhidos pela

sociedade local e

encarregados de zelar

pelos direitos de

crianças e adolescentes.

Fiscalização do

cumprimento da lei

Era de competência

exclusiva do Juiz e de

seu corpo de auxiliares.

Cria instâncias de

fiscalização na

comunidade, podendo

estas utilizar os

mecanismos de defesa e

proteção dos interesses

difusos e coletivos para

casos de omissão e

transgressões por parte

das autoridades

públicas.

FONTE: PEREIRA, Rosemary Ferreira de Souza. Tese de Mestrado em Serviço Social, PUC/SP, 1998.

A perspectiva de profissionalização e proteção no trabalho inscrito no ECA, ante à

realidade explicita da existência do trabalho infantil como expressão da questão social, é

respondida a partir do Estado com a criação de programas, no âmbito da política social de

proteção integral à criança e ao adolescente, o que será tratado no item seguinte.

2.2 O PETI E A PERSPECTIVA DE ERRADICAR O TRABALHO INFANTIL

Conforme a CF/88 e o ECA, o Estado passa a assumir a função de proteção e a

constituir políticas públicas11

para o atendimento integral à criança e ao adolescente, para dar

11

“Toda política pública é uma forma de intervenção na realidade social, envolvendo diferentes sujeitos,

portanto, condicionada por interesses e expectativas em torno de recursos. Pode também ser concebidas como

um conjunto de ações ou omissões do Estado decorrente de decisões e não decisões, tendo como limites e

condicionamentos os processos econômicos, políticos e sociais. Seu desenvolvimento se expressa por momentos

articulados e, muitas vezes, concomitantes e interdependentes, que comportam seqüências de ações em forma de

respostas, mais ou menos institucionalizadas, a situações consideradas problemáticas, materializadas mediante

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29

resposta a isso o ECA traz em seu artigo 86 a importância das políticas de atendimento às

crianças e adolescentes, dispondo o seguinte:

A política de atendimento aos direitos da criança e do adolescente far-se-á através

de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, ECA, 1990,

ARTIGO 86).

E ainda, define as linhas de ação da política de atendimento: “I – políticas sociais

básicas; II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo para aqueles que

deles necessitem [...]” (BRASIL, ECA, 1990, ARTIGO 87).

A partir da CF/88, a assistência social passa a ser definida, como um direito do

cidadão e dever do Estado, devendo ser prestada a quem dela necessitar. Passando a ser

subsidiada nos artigos constitucionais 203 e 204 que trazem:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de

contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I- a proteção social à família, à

maternidade, à infância, à adolescência e a velhice; II – o amparo a crianças e

adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV –

a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de beneficio

mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme

dispuser a lei. Art 204. As ações governamentais na área da assistência social serão

realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previsto no art. 195,

além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I –

descentralização político- administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais

à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas

estadual e municipal, bem como entidades beneficentes e de assistência social; II –

participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação

das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (BRASIL,

CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).

Foi nesse contexto que o Estado junto com a sociedade e por pressão desta, passa a

responder as demandas relacionadas à criança e ao adolescente que estavam postas, uma das

respostas foi à criação de políticas públicas voltadas às necessidades

desses sujeitos. Uma destas políticas diz respeito ao Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI)12

.

programas, projetos e serviços. Vista como mecanismo que contém contradições, contrapõe-se, aqui, a percepção

da política pública como mero recurso de legitimação política ou como intervenção estatal subordinada tão

somente à lógica da acumulação capitalista.” (SILVA, 1998, p. 67) 12

O histórico do PETI foi retirado do Relatório Anual do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do ano

de 2009, documento elaborado na Secretaria Municipal de Assistência Social de Toledo/PR.

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O PETI surge, em 1996, com o objetivo de “retirar crianças e adolescentes do

trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante, ou seja, daquele trabalho que

coloca em risco sua saúde e sua segurança.” (BRASIL, Manual Operacional do PETI, 2002).

O programa foi pensado sob três eixos de atuação: a concessão da Bolsa Criança Cidadã,

execução da Jornada Ampliada e o Trabalho com as famílias (socioeducativo e de geração de

trabalho e renda).

1- Bolsa Criança Cidadã: o PETI prevê o repasse de uma bolsa auxílio para as

famílias que tem filhos no PETI. O valor do recurso é de R$40,00 para moradores da zona

urbana e R$25,00 para moradores da zona rural. O pagamento da bolsa é realizado através do

cartão cidadão e/ou do cartão bolsa família.

2- Jornada Ampliada: as crianças e os adolescentes inseridos no PETI participam da

jornada ampliada. Esta se constitui enquanto atividades de contra turno escolar, sendo

oferecidas atividades lúdicas, esportivas, de saúde, convivência comunitária, entre outras. O

contra turno escolar visa uma complementação na formação escolar para crianças e

adolescentes, para tanto são realizadas diversas atividades que auxiliam tanto na formação

escolar como na formação da vida social desses sujeitos.

3- Trabalho com as famílias: como um dos eixos de atuação do PETI está o

trabalho que deve ser desenvolvido com as famílias que tem filhos no programa. Para estas

deve ser oferecidas formas de geração de emprego e renda, visando à superação da condição

de vulnerabilidade.

O PETI ainda prevê a criação das Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil

que, junto com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, Conselhos de

Assistência Social e Conselhos Tutelares devem realizar o controle social. O Programa é

destinado prioritariamente às famílias com renda per capita13

de até meio salário mínimo com

crianças e adolescentes em idade inferior a dezesseis anos, atendendo as diversas situações de

trabalho. (texto alterado pela Portaria nº 285, de 26 de julho de 2006). Deve ser executadas

em parceria com as três esferas de governo. Em 3 de dezembro de 2008 foi lançada a Portaria

nº 431 a qual modificou a forma de co-financiamento entre as esferas de governo. Assim os

atendimentos do PETI são realizados em forma de coletivos14

. O financiamento para a

13

A situação da renda familiar é verificada através do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Este

foi criado pelo Decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007, onde consta no Art. 2º que o CadÚnico é instrumento

de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, a ser obrigatoriamente

utilizado para seleção de beneficiários e integração de programas sociais do Governo Federal voltados ao

atendimento desse público. (BRASIL, Ministério de Previdência e Assistência Social, 2002). 14

O número de coletivos é obtido através da divisão do número total de crianças/adolescentes identificados no

campo 270 do Cadastro Único por vinte. O monitoramento da quantidade de crianças/adolescentes com

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realização das ações é feito mediante co-financiamento com o governo federal, o qual repassa

R$ 500,00 mensais por grupo socioeducativo de vinte crianças e adolescentes participantes do

PETI e contrapartida do município o qual repassa 20%. O repasse federal é realizado fundo a

fundo todo mês através do Piso Variável de Média Complexidade (PVMC). Por fim esse

recurso é repassado às entidades que desenvolvem o PETI, podendo ser utilizado na compra

do material de consumo necessário à realização das atividades15

da Jornada Ampliada. Por

parte das famílias atendidas no programa também há contrapartida. Estas devem retirar todos

os filhos menores de 16 anos de todas as formas de trabalho, manter as crianças/adolescentes

na escola com freqüência mensal de pelo menos 85% na Jornada Ampliada.

Em 12 de setembro de 2000 é publicada a Portaria nº 2.917, depois revogada pela

Portaria nº 458, de 4 de outubro de 2001, a qual Estabelece as Diretrizes e Normas do PETI.

Entre outras ações, esta destaca a centralidade da família no desenvolvimento das ações e a

necessidade de realização de um Plano de Ações Integradas articulado entre as entidades

participantes do PETI. A Portaria ainda define as responsabilidades de cada ente federado na

execução das atividades do PETI, destacando que cabe à Secretaria Municipal de Assistência

Social a coordenação e execução do Programa no âmbito municipal e o desenvolvimento de

ações socioeducativas junto às famílias, garantindo-lhes o acesso prioritário a programas e

projetos de qualificação profissional e de geração de trabalho e renda; acompanhar e avaliar a

participação das famílias no programa.

2.2.1 O TRABALHO INFANTIL E O PETI NO MUNICÍPIO DE TOLEDO 16

O município de Toledo está situado no extremo Oeste do Paraná. Tornou-se município

em 1951 através da Lei nº 790 quando foi desmembrado de Foz do Iguaçu, sancionada pelo

Governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Com população estimada em 119.353 hab.

segundo dados do IBGE/2010. Situado a 540 Km da capital, o município tem o índice de

desenvolvimento humano (IDH) 0,827, tendo o 9° melhor IDH do Estado. (PNUD/2000).

marcação no campo 270 é realizado pelo Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) a cada seis meses.

(BRASIL, Ministério de Previdência e Assistência Social, 2002). 15

As atividades desenvolvidas na Jornada Ampliada variam em cada entidade. Contudo são estabelecidos alguns

parâmetros gerais para o desenvolvimento das ações. Dentre as atividades desenvolvidas cita-se reforço escolar,

atividades esportivas, culturais, lúdicas, informática, passeios recreativos, atividades circenses, entre outras.

(BRASIL, Ministério de Previdência e Assistência Social, 2002). 16

O histórico do município pode ser encontrado no site da prefeitura municipal, e na Análise Institucional de

Bruna Gimenes Ferreira Arroyo do ano de 2002, ambos referenciados no final deste trabalho.

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a origem do nome Toledo, vem do Arroio Toledo, que passa ao lado da cidade, no

início da colonização do município, a economia era praticamente agrária, mas em

1950 quando se dá o início da modernização da agricultura, financiada pelo

governo federal através do Banco do Brasil, surgem os primeiros latifundiários e as

terras começam a ser concentradas nas mãos de poucos. (ARROIO, 2002, p. 7).

Toledo é um dos municípios que se destacam na região oeste do Paraná, sendo o 3º

maior na região em número populacional. Sua economia é marcada pelo setor da

agroindústria, comércio e de serviços, além de contar com um pólo de instituições de ensino

superior com universidades, faculdades, e centros tecnológicos, do setor público e privado.

Diante do desenvolvimento do Município e da região também começam a se destacar às

incidências das expressões da “questão social”, como saneamento básico, infra-estrutura,

problemas que se evidenciam à medida que os municípios crescem e se desenvolvem. Nesse

contexto também começa a se destacar a situação de trabalho infantil no município.

Segundo o Relatório Anual do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) de

2009 em 1999 o Governo Federal solicitou aos municípios que realizassem um diagnóstico da

situação do trabalho infantil no município de Toledo, neste momento a problemática do

trabalho infantil era muito evidente concentrando-se principalmente nos aviários, na coleta de

peixes nos açudes, agricultura, vendedores ambulantes e coletores de materiais recicláveis.

Depois de constatada esta situação no município e envio destes dados, o governo federal

mandou para Toledo 110 metas17

de PETI, desta forma o programa foi implantado no

município no ano de 1999. Já no mês de maio de 2000 identificou-se 110 crianças e

adolescentes que trabalhavam na coleta de lixo reciclável. Em dezembro do mesmo ano 582

crianças e adolescentes, trabalhavam com lixo reciclável, comércio informal e trabalho de

bóia fria.

Nessa ocasião o município já contava com uma rede de atendimento direcionada à

criança e ao adolescente composta por entidades18

governamentais e não – governamentais,

sendo estas as responsáveis por desenvolver as atividades do PETI, as primeiras entidades que

receberam metas do programa foram: Piá Ambiental, agora denominado de Núcleo de

Atendimento à Criança e ao Adolescente (NACA) com 52 metas, Casa de Maria com 39

metas e Dorcas com 19 metas. Com o aumento dessas metas no ano de 2000, outras entidades

17

Entende-se por meta a criança e/ou adolescente atendido pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI). 18

Todas as entidades que desenvolvem as atividades do PETI precisam ter registro junto ao Conselho Municipal

de Assistência Social (CMAS), bem como no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CMDCA).

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passaram a executar as atividades de PETI e continuam até os dias atuais, como pode ser

observado no quadro abaixo:

QUADRO 2: Entidades que desenvolvem o PETI

ENTIDADE NÚMERO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

INSERIDOS NO PETI

AÇÃO SOCIAL SÃO VICENTE DE PAULO 39

CAIC 33

CASA DE MARIA 76

CIRCO DA ALEGRIA 63

DORCAS COOPAGRO 89

DORCAS PIONEIRO 45

ESCOLA DE NOVO SARANDI 64

NACA (NÚCLEO DE TENDIMENTO A

CRIANÇA E AO ADOLESCENTE)

81

ESCOLA DE VILA NOVA 58

ESCOLA DE OURO PRETO19

-

TOTAL DE BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA

NO ANO DE 2011

571

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline, Dados coletados junto à Central do Cadastro Único para Programas

Sociais, 2011.

2.2.2 O Atendimento do PETI nos Núcleos

Cada uma das entidades possui autonomia para desenvolver as atividades20

com as

crianças e adolescentes, seguindo cronograma específico, as atividades são desenvolvidas de

segunda a sexta-feira, nos período matutino e vespertino.

As atividades são desenvolvidas em forma de oficinas o que permite a rotatividade das

crianças e adolescentes, e estão descritas a seguir: reforço escolar; educação física; vôlei;

19

O núcleo de PETI da Escola de Ouro Preto encerrou suas atividades por falta de profissional para desenvolver

as atividades, o recurso que era repassado para o núcleo, agora está na conta do município de Toledo/Pr. 20

As atividades que cada entidade desenvolve; os atendimentos realizados pelas mesmas bem como o

cronograma do que será realizado é enviado bimestralmente para a assistente social responsável pela gestão do

PETI no município. As atividades descritas acima foram retiradas do relatório bimestral junho/julho deste ano.

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basquete; futebol; GRD; capoeira; atletismo; tênis de mesa; xadrez; atividades culturais;

teatro; dança; artes plásticas; artesanato; desenho; atividades voltadas a datas comemorativas;

informática; passeios recreativos; dinâmicas lúdicas; gincanas; atividades de circo; iniciação

musical; inglês e espanhol.

2.2.3 O atendimento do PETI na Entidade Dorcas21

Em 6 de junho de 1992, os membros da Comunidade Evangélica Luterana Cristo

Redentor, de Toledo-PR, fundam o Centro Comunitário e Social Dorcas, com o objetivo de

auxiliar, servir, orientar e desenvolver ações de atendimento a crianças, adolescentes e

famílias nos seus diversos aspectos – físicos, psicológicos, espirituais, sociais e culturais; e

contribuir para o resgate da cidadania de pessoas em situação social de risco. A entidade é

registrada no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e no

Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS). É Entidade de Utilidade Pública Federal,

nº 645 (31/06/2000) e de Fins Filantrópicos, nº44006.002604/2000-80.

A entidade possui três unidades de atendimento: A Casa de Meninas Dorcas na Vila

pioneiro, que atende 220 meninas de 06 a 17 anos de idade, com o passar do tempo começou

a atender meninos também, mas sua nomenclatura continuou a mesma; o Centro Integrado

Amigos da Família (CIAF) – Jardim Coopagro, que atende 280 meninos e meninas de 06 a 17

anos de idade; e a Casa Lar Dorcas que tem uma capacidade de atendimento de 12 crianças de

06 a 12 anos, que estão em situação de violação de direitos e rompimento de vínculos

familiares, devido a esta situação. A equipe de trabalho da entidade é composta por 2

administrativos; 2 coordenadores; 2 assistentes sociais; 2 pedagogos; 1 psicóloga; 1

fonoaudióloga; 10 educadores; 3 cozinheiras; 3 auxiliares de serviços gerais; 1 casal social

(Casa-Lar), além de voluntários, estagiários e parceiros.

O PETI foi iniciado na entidade logo que veio para o município, a entidade foi uma

das primeiras a desenvolver as atividades do programa, atendendo naquele momento 19

metas, continua atendendo as crianças e adolescentes que estão inseridos no programa

realizando atualmente, 134 atendimentos.

As atividades de contraturno escolar desenvolvidas são:

ESTUDO: leitura, escrita, auto-expressão, raciocínio matemático;

21

O histórico da Entidade Dorcas foi retirado do site da entidade referenciado no final deste trabalho e do folder

informativo distribuído pela própria entidade.

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CULTURA: música, coral, teatro, dança, circo;

CIDADANIA: convivência e direitos sociais;

REFLEXÃO: valores morais e espirituais;

ARTESANATO: técnicas artísticas e reciclagem;

ARTES MANUAIS: pintura, bordado, crochê, tricô, modelagem;

RECREAÇÃO: esportes, lazer, expressão corporal;

Línguas estrangeiras, digitação, informática;

ORIENTAÇÃO: saúde, nutrição, sexualidade; e respondendo um importante e

fundamental eixo do PETI realiza:

ACOMPANHAMENTO FAMILIAR: palestras, cursos, visitas e aconselhamento,

capacitação, encaminhamentos.

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36

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Para a elaboração de um estudo é necessário percorrer um caminho, que nada mais é

que a metodologia utilizada para a elaboração do projeto de pesquisa.

Segundo Marilena Chauí apud Oliveira (1994, p. 48), “o método significa uma

investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer

alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um processo fixado”,

dessa maneira pode-se dizer que o método nada mais é que um planejamento, um caminho

que deve ser percorrido para alcançar nossos objetivos.

Numa pesquisa no campo das ciências sociais aplicadas e no caso aqui do Serviço

Social é utilizado o método dialético, onde há a interlocução com os sujeitos da pesquisa, é

uma relação de troca, pois o que está sendo pesquisado está presente na sociedade, para tanto

temos que entender o objeto de estudo como resultado da sociedade capitalista na qual

estamos inseridos. Já que o objeto de estudo é uma das expressões da “questão social” que

nada mais é que a contradição capital e trabalho, é importante que o exercício profissional

esteja comprometido na democracia e na busca pela igualdade de direitos, priorizando a ética

profissional.

Portanto entende-se que o método dialético é central tanto na pesquisa em Serviço

Social, na apreensão do objeto da pesquisa e na prática profissional, pois ele reconhece que a

“questão social” e suas expressões advêm da contradição, da desigualdade social que está

posta na sociedade.

É através da pesquisa que se tem uma maior aproximação com o tema escolhido, é a

pesquisa que vai despertar os questionamentos sobre o que está posto na realidade, portanto

para a realização desta pesquisa será trabalhado com a abordagem qualitativa que segundo

Minayo (1994, p. 21), “a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se

preocupa nas ciências sociais, com o nível da realidade que não pode ser quantificado.”

Porém a pesquisa qualitativa deve caminhar junto com a pesquisa quantitativa, pois

uma complementa a outra, de acordo com Minayo (1994, p. 24) “a dialética pensa a relação

da quantidade com uma das quantidades dos fatos ou fenômenos, buscando entender, na parte,

a compreensão e a relação com o todo.”

Os instrumentos de coleta de dados nada mais são que os instrumentos ou técnicas que

serão utilizadas para a obtenção de informações e dados que se referem à pesquisa. Na

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37

pesquisa em questão foram utilizados os seguintes instrumentos: análise documental e a

entrevista semi - estruturada.

Segundo Ludke e André (1986, p. 38) a análise documental pode fundar uma técnica

de obtenção de dados qualitativos, tanto para enriquecer informações obtidas, ou para

desvendar novos aspectos do objeto estudado.

É importante ressaltar que são considerados documentos de acordo com Phillips,

(1974, p. 187), apud Ludke e André (1986), “quaisquer materiais escritos que possam ser

usados como fonte de informação sobre o comportamento humano.”

Portanto, para realizar uma análise documental é imprescindível saber a importância e

o que os documentos representam e revelam para a pesquisa.

Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde

podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e

declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural”

de informação. Não são apenas uma fonte de informação

contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem

informações sobre esse mesmo contexto. (LUDKE e ANDRÉ, 1986,

p. 39).

Ao analisar documentos é preciso ter muita dedicação, coerência e sistematização dos

dados que serão encontrados, pois tudo o que for encontrado deverá servir para enriquecer o

objeto a ser estudado. É a partir das informações já documentadas que será possível

questionar o que está posto, “construir” e “desconstruir” a realidade. Nesse sentido foi

realizada a pesquisa junto ao Cadastro Único para Programas Sociais, para verificar a situação

econômica da família bem como endereço e o motivo de ingresso no programa, esse processo

ajudou a selecionar os sujeitos da pesquisa.

Outro mecanismo utilizado para a coleta de dados se refere à entrevista, que é um

importante meio para o desvendamento da realidade e a visão crítica sobre a mesma, a

entrevista é um instrumental de suma importância na coleta de dados, tanto para uma pesquisa

como para outras atividades desenvolvidas pelo homem em seu dia-a-dia. Ela permite coletar

informações de uma maneira imediata e, além disso, aprofundar aspectos do assunto que está

sendo pesquisado. Por esta razão é um instrumental muito utilizado nas pesquisas em geral.

[...] na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma

atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem

responde. Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas,

onde não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o

entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas

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informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira razão da

entrevista [...] (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33).

Para a realização desta técnica é necessário que o entrevistador tenha a capacidade de

ouvir e de estimular o rumo da conversa para obter as informações desejadas. É de suma

importância também a atenção do entrevistador aos gestos e sinais verbais que podem ajudar

numa melhor compreensão sobre que está sendo falado.

Na entrevista a comunicação oral deve ser clara e o entrevistador tem que estar atento

às respostas e as expressões utilizadas pelo entrevistado.

As formas como o entrevistador irá registrar os dados obtidos também é um aspecto

relevante da entrevista e de acordo com Ludke e André (1986, p. 34) os registros podem ser

realizados através de anotações que são feitas durante o processo da entrevista ou por meio de

gravação direta. É importante ressaltar que as duas maneiras exigem muito esforço do

entrevistador, já que este não poderá deixar de compreender tudo o que merece atenção na

fala do entrevistado.

O mais importante é lembrar que ao utilizar a entrevista como instrumento para a

coleta de dados, tem que se levar em consideração de que esta é “uma das técnicas mais

dispendiosas, especialmente pelo tempo e qualificação do entrevistador”. (LUDKE; ANDRÉ,

1986, p. 38).

Para registrar os dados colhidos na entrevista utilizou-se de formulário que é

caracterizado da seguinte maneira “[...] roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador e

preenchidas por ele com respostas do pesquisado.” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 107).

Porém, para que houvesse a realização das entrevistas foi necessário escolher um

universo, que conforme Richardson (2008, p. 157) “[...] é um conjunto definido de elementos

que possuem determinadas características.” O universo da pesquisa é de 45 crianças e

adolescentes inseridos no PETI e que desenvolvem as atividades na entidade Dorcas Pioneiro,

como a pesquisa também foi realizada com os técnicos do programa, o universo desse

segmento é totalizado em 10 profissionais, pois há 1 responsável pelo programa em cada

entidade, a gestora municipal do programa e a diretora da proteção social especial. Nesse

sentido o universo da pesquisa é de 55 sujeitos.

Houve a necessidade de definir uma amostra para coletar as informações que segundo

Gil (2002, p. 100) nada mais é que: “[...] o subconjunto do universo ou da população, por

meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população.”

Para realizar a amostra foram definidos alguns critérios de seleção que foram: primeiramente

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39

a Entidade Dorcas Pioneiro foi escolhida pelo critério do acesso, quanto aos critérios de

escolha dos sujeitos foram os seguintes:

PETI urbano;

Sexo Feminino;

Ter entre 12 e 16 anos de idade;

Participar das atividades do PETI, no período da tarde; e

Estar há mais de dois anos no PETI.

A partir desses critérios foi delimitada uma amostragem de 7 adolescentes. A

entrevista foi realizada com apenas 4 adolescentes, sendo que 2 adolescentes não freqüentam

mais a entidade todos os dias por estarem em fase de desligamento e encaminhamento para

outros programas sociais, devido à idade e 1 adolescente mudou de endereço, dificultando a

comunicação com a mesma para a realização da entrevista. O formulário da entrevista

realizado com as adolescentes pode ser visualizado no apêndice A.

Os critérios de seleção das profissionais foram realizados de forma simples, já que a

entrevista foi realizada com as adolescentes da Entidade Dorcas Pioneiro, a profissional

responsável pela entidade foi uma das escolhidas por estar ligada diretamente com as

adolescentes e as outras duas profissionais da Secretaria Municipal de Assistência Social por

estarem vinculadas diretamente ao programa no município. O formulário da entrevista

realizado com as profissionais pode ser visualizado no apêndice B.

Dessa forma foram realizadas entrevistas com 4 adolescentes e 3 profissionais,

totalizando 7 sujeitos. As entrevistas foram realizadas em lugares distintos, na Entidade

Dorcas Pioneiro22

e na Secretaria Municipal de Assistência Social.

Para realizar a caracterização da Secretaria Municipal de Assistência Social23

que foi

um local de realização das entrevistas é necessário percorrer um pouco sobre a história, a

Política de Assistência Social, no município de Toledo, passou a ser reconhecida após a

aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) em 1993. Antes dessa lei ser

aprovada a gestão da política de assistência social encontrava-se vinculada a saúde e no

decorrer de sua história recebeu diversas denominações, tais como:

1965: Departamento de Saúde e Previdência Social;

1969: Departamento de Saúde e Assistência Social;

22

O histórico da Entidade Dorcas já foi apresentado no capítulo 2 deste trabalho. 23

Para mais informações a respeito do processo histórico de construção da Secretaria Municipal de Assistência

Social, consultar a Análise Institucional construída por Bruna Gimenes Ferreira Arroyo que está referenciado no

final deste trabalho.

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40

1974: Secretaria de Saúde e Bem Estar;

1977: Secretaria de Saúde e Bem Estar Social;

1991: Secretaria de Assuntos Comunitários e Ação Social;

1993: Coordenadoria da Universidade Popular do Trabalho e da Coordenadoria da

Escola da Cidadania;

1995: Secretaria de Ação Social e Cidadania;

1997: Secretaria de Assistência Social, o que permanece até os dias atuais.

Através da Lei n. 1.800, de 14 de Julho de 1997, que dispõe sobre a estrutura e

atribuições dos órgãos da administração direta do Poder Executivo do Município de Toledo, a

Secretaria de Ação Social e Cidadania passou a ser denominada Secretaria Municipal de

Assistência Social, situando-se nos órgãos fins, dentro da organização da administração

municipal. Nesta época, a Secretaria Municipal de Assistência Social era dividida em:

Gabinete da Secretaria Municipal de Assistência Social, Departamento Técnico,

Departamento de Atendimento à Criança e ao Adolescente, Departamento de Atendimento ao

Idoso e Departamento de Desenvolvimento Social.

Atualmente a Política Municipal de Assistência Social é regida através da Lei n. 2.003

de 16 de julho de 2009 e a Secretaria Municipal de Assistência Social é administrada pela

assistente social, concursada, Ires Damian Scuzziato, a qual assumiu este cargo em maio de

2010. Com a alteração da Lei 1.800/97, a estrutura física desta Secretaria ficou da seguinte

maneira:

Gabinete da Secretária de Assistência Social;

Proteção Social Básica;

Proteção Social Especial;

Gestão do Sistema Municipal de Assistência Social; e

Planejamento e Orçamento.

De forma geral as entrevistas foram realizadas de forma tranqüila, sentiu-se apenas

uma intimidação por parte das adolescentes para responder o questionário proposto. A partir

das entrevistas procurou-se analisar de forma critica as informações quantitativas e

qualitativas evidenciados pelos sujeitos da pesquisa.

Por se tratar de adolescentes, a pesquisadora antes de realizar as entrevistas pediu

autorização dos pais ou responsáveis para a participação dos sujeitos na pesquisa, a partir da

autorização foi realizada a leitura e assinatura tanto pelo sujeito a pesquisa como pelo

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responsável, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme apêndice C,

as profissionais também assinaram o TCLE.

Diante dos objetivos pautados no Projeto de Pesquisa as questões que nortearam a

discussão iniciaram na perspectiva do conhecimento das características pessoais dos sujeitos

da pesquisa. E para melhor visualização e entendimento do leitor a apresentação das

informações para conhecimento dos sujeitos está disposta em forma de gráficos, e a pesquisa

e análise dividida em eixos.

3.1. EIXO 1: Caracterização Social das Adolescentes

Considera-se muito importante o conhecimento da situação social das adolescentes

beneficiárias do PETI, para que se entenda de fato a inserção das mesmas no programa e a

situação de trabalho infantil, para tanto, foram realizadas algumas questões ligadas ao perfil

destes sujeitos e as informações obtidas podem ser observadas através dos gráficos dispostos.

No gráfico abaixo se observa a idade das adolescentes, sendo que a idade que

prevalece é de dezesseis anos, o que corresponde a 50% dos sujeitos entrevistados.

GRÁFICO 1: Idade das adolescentes

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

No próximo gráfico é possível visualizar que cada adolescente está inserida em uma

série diferente que se situa entre o ensino fundamental e o ensino médio.

IDADE ADOLESCENTES

1

1

2

13 ANOS

14 ANOS

16 ANOS

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42

GRÁFICO 2: Escolaridade das adolescentes

ESCOLARIDADE

1

11

1

6ª Série Ensino

Fundamental

7ª Série Ensino

Fundamental

8ª Série Ensino

Fundamental

1º Ano Ensino

Médio

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

A maioria das adolescentes que estão inseridas no PETI ficou sabendo do programa

através da Entidade Dorcas, o que corresponde a (75%) e 1 adolescente (25%) ficou sabendo

através de amigos/vizinhos, com pode ser observado no gráfico 3.

GRÁFICO 3: Como as adolescentes ficaram sabendo do PETI

Como ficou sabendo do PETI

0

1

3

0

CRAS

Amigos ou

Vizinhos

Entidade Dorcas

Outros

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

3.1.1 EIXO 2: Caracterização Social da Equipe Técnica

Para responder de forma mais adequada ao objetivo deste trabalho optou-se também

por entrevistar as técnicas do programa que estão diretamente envolvidas com as

adolescentes, para tanto forma realizadas algumas questões acerca da situação social das

mesmas.

No gráfico 4 se observa a idade das profissionais e que cada uma possui uma idade.

GRÁFICO 4: Idade das profissionais

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IDADE DAS PROFISSIONAIS

1

1

124 ANOS

25 ANOS

47 ANOS

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

No gráfico abaixo observamos o local de trabalho das profissionais, sendo que 2 os

que correspondem a 50% trabalham na Secretaria Municipal de Assistência Social e 1

profissional trabalha na Entidade Dorcas.

GRÁFICO 5: Local de Trabalho das Profissionais

LOCAL DE TRABALHO

2

1

Secretaria

Municipal de

Assistência

Social

Entidade Dorcas

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

No que diz respeito à formação profissional todas as técnicas, ou seja, (100%) possui

ensino superior em Serviço Social como se observa no gráfico 6. O Serviço Social, como

aponta Netto em sua obra Capitalismo Monopolista e Serviço Social, se configura como

profissão apenas quando rompe com a filantropia, passando a desenvolver atividades exigidas

por organismos e instâncias desvinculados da igreja, quando o assistente social, torna-se

concomitante, um vendedor de sua força de trabalho.

GRÁFICO 6: Formação Profissional das Técnicas

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

3

SERVIÇO

SOCIAL

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

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No Gráfico 7, se observa que cada profissional possui um determinado tempo de

trabalho na área da criança e do adolescente, sendo que uma das técnicas já trabalhou nesta

área pelo período de 10 meses e, no momento, não está trabalhando especificamente nesta

área, 1 trabalha há 4 anos e meio e outra trabalha há 20 anos.

GRÁFICO 7: Tempo de trabalho na área da criança e do adolescente

Há quanto tempo trabalha na área da

criança e do adolescente

1

1

1

Já trabalhou por

10 meses

4 anos e meio

20 anos

FONTE: SCARAVONATTO, Fábia Aline. Informações obtidas através de pesquisa empírica, 2011.

3.1.2 EIXO 3: Trabalho Infantil e seu Entendimento para os Entrevistados

Como já mencionado anteriormente, o entendimento acerca do trabalho infantil como

uma expressão da questão social nos remete a preocupação da barbárie em que vivem crianças

e adolescentes em nosso país, na exploração de sua força física e intelectual, comprometendo

seu desenvolvimento.

Muitas vezes, as crianças e os adolescentes têm que entrar no mundo do trabalho

precocemente para ajudar nas despesas da casa, portanto, pode-se perceber que o trabalho

infantil está diretamente relacionado às necessidades materiais, de roupa, de comida e outras

carências pelas quais passam muitas pessoas em nossa sociedade, ou seja, o trabalho infantil

está totalmente vinculado à condição de pobreza.

Diante dessas constatações, sentiu-se a necessidade de saber qual é a compreensão

acerca do trabalho infantil para os sujeitos da pesquisa. As adolescentes estão caracterizadas

como: A1; A2; A3 e A4. E as profissionais como P1; P2 e P3 essa forma de identificação foi

adotada pela questão do sigilo e para preservar a identidade dos sujeitos como está disposto

nos artigos 15 e 16 do Código de Ética Profissional do Assistente Social:

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Art. 15. Constitui direito do assistente social manter o sigilo

profissional.

Art. 16. O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o

assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício

da atividade profissional. (BRASIL, Código de Ética Profissional do

Assistente Social, 1993, p. 22).

Quando perguntado o que é o trabalho infantil, as adolescentes deram as seguintes

respostas.

Pra mim é trocar experiências, passar informação e dar

conhecimento. (A1).

O trabalho infantil pra mim é fazer o serviço em casa, ajudando os

pais e não trabalhando fora, o trabalho que eu falo é (lavar a louça,

limpar uma casa) criança de menor não trabalha fora. (A2).

Ajudar os pais em casa nos afazeres domésticos. (A3).

É uma exploração para as crianças, que muitas das vezes não

estudam para poder trabalhar fora para ajudar a família. (A4).

As adolescentes em suas falas expressam o entendimento de trabalho infantil como

ajuda aos pais nos afazeres domésticos. Nesse sentido, através das falas, gestos e expressões

no processo da entrevista o que se percebe é que a maioria das adolescentes entrevistadas

entende o trabalho infantil como o trabalho doméstico que se configura na realidade por elas

vivida. O trabalho doméstico é aquele realizado em casa onde ninguém vê, mas este tipo de

trabalho é um dos mais prejudiciais, pois traz à criança e ao adolescente que o realiza, a

responsabilidade de um adulto, o que não condiz com sua idade e fase de desenvolvimento,

prejudicando a vida escolar desses sujeitos, que muitas vezes, pelo fato de estarem cansadas

não vão à escola. Para, além disso, o trabalho infantil caracterizado como doméstico, está

associado a outras formas de violação de direitos como aponta o UNICEF.

Serviços Domésticos são aqueles realizados em casa, que são as

mais difíceis de localizar e que são responsáveis por um número

imenso e crianças, principalmente meninas fora da escola, sem

contar a exposição destas a um trabalho quase escravo e que lhes

deixa muito perto da exploração sexual; (UNICEF apud Carneiro,

2002, p. 26-27).

Observa-se na fala da adolescente caracterizada com A4 que destaca o trabalho infantil

como exploração e a troca da escola pelo trabalho, que a sociedade ainda nos dias atuais vê o

trabalho como formador de caráter, com viés educativo, que afirmam que a criança e o

adolescente têm que trabalhar como os pais também trabalharam na sua infância.

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Nesse sentido, em sua concepção o trabalho infantil está vinculado à condição de

pobreza, pois a criança e o adolescente têm que deixar de estudar para através de seu trabalho

ajudar a família financeiramente.

Na fala das adolescentes também nota-se a centralidade da família, tudo que a criança

faz é para ajudar sua família, dessa maneira:

Pensar a família é pensá-la como espaço privilegiado de socialização

e proteção da criança e do adolescente e primeiro grupo de formação

individual e cultural dos sujeitos. Pensar assim a família é inserí-la

na sociedade mais ampla e perceber que ela recebe todas as

influências da sociedade. A família repassa essas influências na

formação dos seus membros, dos seus filhos produzindo e

reproduzindo culturas. Reproduz também a cultura do trabalho.

(BATTINI, 1997, p. 3).

O que se evidencia na fala das adolescentes é o trabalho infantil como ajuda não se

enxergando nesse processo como sujeitos de direitos e pessoas em situação peculiar de

desenvolvimento como destaca o ECA. Não compreendem que o trabalho, mesmo que

realizado para ajudar a sua família compromete sua vida, tanto no presente como no futuro e

se processa como uma violação de direitos.

Neste caso, o fato aprofunda a preocupação em relação ao tema, porque nota-se que é

dentro de casa, no âmbito familiar, que a criança e o adolescente estão sofrendo com um tipo

de violência, nesse caso o trabalho infantil. A família aqui não viola o direito sabendo do

prejuízo ao desenvolvimento da criança e do adolescente, mas a partir da necessidade, das

condições de vida para sobrevivência, é a reprodução da cultura do trabalho, está

reproduzindo a condição que não teve de estudar, brincar, enfim, desenvolver-se plenamente.

As famílias precisam de proteção social para processar a proteção social, o que é de

responsabilidade do Estado, a partir de políticas públicas neste caso, a Política de Assistência

Social, o que nota-se, é que essas famílias não possuem condições objetivas de arcar

financeiramente com todas as necessidades básicas, sem contar com o recurso advindo do

PETI. Diante do exposto a compreensão do trabalho infantil para as adolescentes se constitui

como ajuda.

Para responder ao objetivo geral proposto neste trabalho foi necessário analisar o

significado do trabalho infantil para as técnicas do Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil, para isso foi realizada a pergunta acerca do tema, as respostas e a análise das mesmas

seguem logo abaixo.

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É toda atividade, remunerada ou não, exercida por crianças e

adolescentes em idade inferior a 16 anos, salvo a partir dos 14 na

condição de aprendiz e que o expõe a condições de risco,

insalubridade, causa danos físicos e psíquicos, pelo fato de estar em

fase de desenvolvimento. (P1).

Considera-se trabalho infantil aquele que coloca a criança e

adolescente, competências e riscos que não condizem com o

desenvolvimento deste sujeito, o que gera por si só a gera por si só a

garantia dos direitos fundamentais, além de que atribui à este

competência de garantir o sustento, situação que deve ser realizada

pela família (pais, responsáveis). (P2).

O trabalho infantil é aquele realizado por crianças e adolescentes

que estão abaixo da idade mínima segundo a legislação, causando

prejuízo ao seu desenvolvimento educacional, físico, social e o

exercício de direitos. (P3).

As profissionais entrevistadas afirmam que o trabalho infantil é todo aquele que

prejudica o desenvolvimento físico e mental da criança e do adolescente, é uma atividade que

vai contra o que a legislação determina e não traz nenhum benefício para a vida desses

sujeitos, ao contrário traz a responsabilidade que não é desse momento.

Reforçando a compreensão das profissionais acerca do significado do trabalho infantil,

destaca-se como já mencionado no decorrer deste trabalho o significado de trabalho infantil

“como aquele trabalho que se realiza abaixo da idade mínima básica, que passou a ser 16 anos

pela emenda 20 da Constituição Federal de 1988.” (OLIVEIRA, 2002, p. 193).

O trabalho infantil é algo que está totalmente vinculado à condição de vulnerabilidade

que se encontram muitas famílias em nossa sociedade.

A exploração da força de trabalho infantil traz sérias conseqüências na vida de

crianças e adolescentes que adentram precocemente no mundo do trabalho, violando os

direitos fundamentais desses sujeitos e a própria condição em que se encontram nesta fase da

vida.

O trabalho infantil aqui entendido pelas profissionais é algo que fere que agride a

criança e o adolescente, não é entendido da mesma forma pela sociedade em geral, que acha

que o trabalho tem caráter educativo, que é melhor trabalhar do que ficar na rua, ou sem fazer

nada. É necessário desmistificar isso que foi construído e existe até os dias atuais, isso nada

mais é que um padrão moral construído pela sociedade.

Ressalta-se também, nas falas das profissionais, a importância do conhecimento da

legislação social que é um instrumento de trabalho, uma habilidade e competência para o

assistente social, o que pode ser verificado na Lei 8.662/93 que regulamenta a profissão de

Serviço Social e no Código de Ética Profissional, assim, o assistente social é um profissional

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que deve estar comprometido com a defesa dos direitos humanos, da cidadania e da

democracia proporcionando através de sua prática profissional, a possibilidade da

emancipação dos indivíduos sociais, aqui no caso a prevenção e superação da situação de

trabalho infantil que se encontra a criança e o adolescente.

3.1.3 EIXO 4: Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente

As políticas sociais são formas de intervenção do Estado para atender as demandas

que estão postas na sociedade, mas isso só é possível através de mobilizações sociais, que

acontecem a partir da organização de determinados grupos. “Entende-se, portanto, que uma

política pública envolve: mobilização e alocação de recursos; divisão de trabalho; uso de

controles; interação entre sujeitos; interesses diversos [...].” (SILVA, 1998, p. 68).

O surgimento de políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os

países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da

classe trabalhadora [...] os autores são unânimes em situar o final do

século XIX como período em que o Estado capitalista passa a

assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada,

sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. (BEHRING;

BOSCHETTI, 2009, p. 64).

Em relação à criança e o adolescente o surgimento das políticas sociais não foi

diferente, se deu a partir de muitas mobilizações organizadas, mas em primeiro lugar foi

preciso reconhecer as crianças e os adolescentes enquanto sujeitos de direito e isso levou

muito tempo. Uma das políticas sociais que diz respeito a esse segmento é o PETI, este

programa contempla o pressuposto da Política de Assistência Social, porque atende de forma

seletiva e temporária os beneficiários que vivem numa condição de extrema pobreza.

O PETI segundo Padilha (2006, p. 176), “destina-se, prioritariamente, às famílias

vulnerabilizadas pela pobreza e exclusão social, com renda per capita até meio salário

mínimo, com filhos submetidos a trabalhos caracterizados como exploração infantil [...].” O

programa foi concebido alinhado à política de direitos humanos, já que seu foco é erradicar o

trabalho infantil.

Partindo dessa lógica observa-se através das respostas das adolescentes o que o PETI

significa para elas e para a vida delas.

É uma ajuda que o governo nos oferece e também estimula na

escola. (A1).

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O PETI para mim é um benefício onde eu recebo um dinheiro para

ajudar dentro de casa. (A2).

É uma ajuda financeira. (A3; A4)

Nota-se através de todas as falas que a compreensão do PETI, não é que vem ao

encontro com o principal objetivo do programa que é a erradicação do trabalho infantil, e sim

de um benefício, uma ajuda financeira que serve principalmente para ajudar as despesas da

casa. Neste sentido:

“A concessão de benefícios sociais às famílias particularmente qualificados como

renda mínima tem como condição e fundamento o pertencimento do individuo a uma família,

cujo critério principal de elegibilidade é a insuficiência de renda [...].” (PADILHA, 2006, p.

176).

Nesse sentido, perpetua a noção da política social como filantropia, benemerência,

onde o Estado é tido como benfeitor e pai dos pobres. Há uma perspectiva conservadora da

política de assistência social, retrocedendo dessa forma, as idéias colocadas pelos Códigos de

Menores Brasileiros de 1927 e 1979, que se voltavam para segmentos de crianças e

adolescentes como: os pobres, delinqüentes, abandonados, que viviam em situação irregular, e

que portanto, “precisavam de ajuda” do Estado.

Percebe-se, portanto, que a realidade das adolescentes entrevistadas e a vinculação ao

PETI, não é no momento a situação de trabalho infantil, mas a situação de vulnerabilidade

social que estão condicionadas. Porém, o entendimento, que elas possuem acerca do benefício

que recebem, devido à situação vivenciada, não é de direito, mas de ajuda, reproduzindo a

lógica da caridade no âmbito das políticas sociais, e, portanto, desqualificando-a como

concretização de direitos. Essa é uma questão que deveria ser trabalhada, principalmente por

estarem vinculadas a uma política social de assistência social, e principalmente, por estarem

inseridas no programa há mais de dois anos.

Para compreender a própria realidade que as adolescentes estão inseridas, e porque

estão inseridas no programa, sentiu-se a necessidade de questioná-las a respeito do que faziam

antes de entrar no programa, o que pose ser visualizado a partir das respostas expostas abaixo.

Meio período estudava e no outro meio período fazia contra turno,

só vinha nas Dorcas. (A1).

Eu na minha idade quando entrei na entidade Dorcas não fazia

nada porque eu tinha sete anos então não fazia nada. (A2).

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Ficava em casa. (A3; A4).

As adolescentes relatam que não faziam nada, ficavam em casa, e a A1 estudava e

fazia contraturno, essas informações demonstram mais uma vez que o que leva a inserção das

mesmas no programa é a situação de vulnerabilidade social vivenciada por elas e suas

famílias. A situação em que se encontram essas famílias é o principal fator que leva às

crianças e os adolescentes ao mercado de trabalho de forma precoce, pois a família não

consegue suprir as necessidades de todos.

O que se percebe também, é que as adolescentes que ficavam em casa, sozinhas e

estavam em situação de risco pessoal e social, ficando mais vulneráveis às violências e até

mesmo adentrarem precocemente no mundo do trabalho.

Desta forma, o PETI torna-se de fundamental importância para as famílias

trabalhadoras, que ao saírem para o trabalho, não tem outra opção, a não ser deixar os filhos

sozinhos em casa. Nesse sentido o PETI, é um programa de prevenção das violências, em

especial, o trabalho infantil que ronda a vida dessas famílias. Neste sentido,

A unidade familiar é foco centralizador da atenção do PETI, ainda

que sua finalidade última seja erradicar o trabalho infantil como uma

problemática que afeta aos direitos humanos e a expressão das

péssimas condições de vida em que vive grande parte da população.

(PADILHA, 2006, p. 184).

Considerando este aspecto apresentado, ressalta-se também a importância de saber das

adolescentes quais as mudanças que o PETI trouxe para a vida delas e de suas famílias, para

as adolescentes o programa é configurado da seguinte maneira:

É uma ajuda a mais, antes o dinheiro era só para contas e comida

agora ajuda pra comprar roupas, calçados, etc... (A1).

Muitas, antes eu e minha família não tínhamos dinheiro suficiente

para pagar todas as contas e ao entrar no PETI rende um pouco,

antes quem pegava o dinheiro era minha avó, agora faz um ano que

eu pego pra pagar minhas contas. (A2).

Ajudou no financeiro. (A3).

Agora posso comprar comida diferente, roupa, calçado e ajudar

mais em casa. (A4).

O relato sobre as influências do PETI no cotidiano das adolescentes e suas famílias

revela novamente a carência de recursos materiais por quais estes sujeitos passam. As

principais mudanças apresentadas foram em relação ao aumento de consumo de alimentos,

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roupas, calçados e o pagamento de contas, ou seja, os sujeitos que vivenciam a situação de

carência esperam esse dinheiro, porque é um complemento da renda mensal familiar e não

especificamente para as adolescentes.

O PETI, para as adolescentes, assim como, o trabalho infantil, se configura como

ajuda, como caridade, nesse aspecto pode-se ressaltar que as adolescentes não se concebem

como sujeitos de direitos.

Então, o que se observa com mais ênfase, na fala das adolescentes, é a vinculação da

assistência social como ajuda.

Na medida em que os usuários de serviços assistenciais se

caracterizam, em geral, por níveis de renda muito baixos que os

situam entre os “pobres”, os desprestigiados, os que vivem mal na

sociedade (condição que rejeitam), observa-se [...] a ambigüidade de

rejeitar a condição de “necessitado”, “assistido” e alvo de ajuda e, ao

mesmo tempo, reconhecer sua impotência em face das condições de

carência em que vivem. [...]. (YASBEK, 2003, p. 138).

Nesse sentido acreditando que o benefício que recebem mensalmente é uma ajuda,

estão reproduzindo a assistência social na lógica da filantropia, da caridade, e nessas

circunstâncias, “a assistência, apreendida como ajuda que recebem a contragosto e não como

serviço a quem tem direito reitera a condição de subalternidade em que vivem.” (YASBEK,

2003, p. 138).

A ruptura da cultura da assistência social enquanto ajuda, só se torna possível a partir

da participação dos sujeitos que são usuários desta política, no controle social, ou seja, na

formulação e acompanhamento da execução dos serviços, possibilitando assim, a

emancipação desses sujeitos.

A análise do processo de reposição/ruptura com a condição

subalterna passa assim não apenas pelo enfrentamento das

dificuldades materiais objetivas das condições em que vivem os

subalternos, mas pelo que pensam e consideram acerca desta

realidade que vivenciam. [...] a subalternidade só pode ser abordada

como produção histórica, cujo enfrentamento supõe a unificação das

classes subalternas na superação do caráter episódico e desagregado

de suas lutas a partir de um processo de produção de significados

comuns para suas experiências. (YASBEK, 2003, p. 169).

Com relação ao principal objetivo do programa que é erradicar o trabalho infantil,

partiu-se da inquietação por parte da pesquisadora em saber se o programa cumpre com seu

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objetivo, no município de Toledo, para isso as profissionais do PETI foram questionadas

quanto à efetividade do programa no município.

Para responder a essa pergunta primeiramente há que se levar em consideração que

todas as políticas sociais devem ter um acompanhamento, um monitoramento, para saber se os

seus objetivos estão sendo alcançados. Isso implica a avaliação de políticas, programas e

projetos.

O termo avaliação significa atribuir valor – esforço de apreciar

efeitos reais, determinando o que é bom o ruim. Por implicar

valoração, não é um ato neutro nem exterior às relações de poder,

mas exige objetividade e independência, sendo, por natureza, uma

atividade interdisciplinar. (SILVA, 1998, p. 69).

Conforme respostas das profissionais, a realidade de Toledo é diferenciada de outros

municípios que convivem com a situação de trabalho infantil, porém o PETI é um programa

essencial para prevenir o trabalho infantil, pois tem como um de seus eixos o trabalho com as

famílias, onde é ressaltado que o trabalho precoce de crianças e adolescentes prejudica o

desenvolvimento físico e psíquico e reforça a importância da educação na vida desses

sujeitos. Para, além disso, o programa vem ao encontro com a situação já destacada

anteriormente, de vulnerabilidade social em que se encontram essas famílias.

A realidade de Toledo apresenta-se de forma multifacetada. A

maioria das crianças e adolescentes que estão no Programa não

está em situação de trabalho infantil, mas encontra-se em situação

de vulnerabilidade e que o programa apresenta-se como forma de

prevenção ao trabalho infantil. [...]. (P1)

[...] o programa atende crianças e adolescentes em situação de

risco ou sujeitos em que a família não possui condições de

acompanhamento das atividades diárias, não sendo o público

especifico do trabalho infantil. Considera-se então que a efetividade

do programa se baseia essencialmente na prevenção. (P2).

O PETI é executado desde o inicio de sua implantação no município

de Toledo. O perfil familiar está de acordo com o programa,

havendo perfil/incidência de trabalho infantil. As ações sócio-

educativas visam fortalecer vínculos familiares, escolares e o acesso

a direitos. (P3).

O que se destaca na fala das profissionais é em relação à atenção que a família tem

com as crianças e adolescentes, pois, para conseguir suprir as necessidades materiais e de

alimentação, tem que trabalhar e muitas vezes deixam os filhos sozinhos em casa, onde esses

sujeitos podem sofrer algumas formas de violência e até adentrarem no trabalho infantil.

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Portanto, o que se entende pelo PETI em Toledo é que ele cumpre um papel a de

prevenção, pois a família inserida no programa pela questão da renda coloca a criança e o

adolescente muito próximos dessa condição do trabalho precoce.

Cabe ressaltar que o programa teve início no município, por determinação do Governo

Federal, a partir do histórico do PETI, como já mencionado neste trabalho, no começo, houve

a inserção de 110 crianças e adolescentes nesse programa, por conta da incidência da

expressão da questão social, materializada, aqui como trabalho infantil, nos dias atuais,

porém, a realidade das crianças, adolescentes e famílias que estão inseridas no programa não é

de trabalho infantil, mas da condição de vulnerabilidade social na qual se encontram.

O programa no município, ainda tem um papel muito importante no que diz respeito

ao fortalecimento de vínculos familiares, escolares e o acesso a direitos, ou seja, quando

inserida no programa a família tem como exigência acompanhar e incentivar a freqüência e o

desempenho dos filhos na escola, além disso, tem a responsabilidade ver o trabalho infantil

como prejudicial ao desenvolvimento da criança e do adolescente.

No que diz respeito ao acesso de direitos, através do PETI, as crianças e adolescentes

tem que freqüentar a escola, ou seja, nesse aspecto está garantida a educação, e participando

das atividades do programa nas entidades, terá acesso a atividades relacionadas à cultura, ao

esporte e ao lazer, que na maioria das vezes não poderia ter acesso.

3.1.4 EIXO 5: ECA versus Trabalho Infantil

A partir da problemática do trabalho infantil apresentada, considera-se de grande

relevância, a sua vinculação com o Estatuto da Criança e do Adolescente, protagonistas desta

expressão da questão social. Para tanto os profissionais quando questionados sobre a maneira

de abordagem e a importância do ECA em relação ao trabalho infantil, foram obtidas as

seguintes respostas.

O ECA aborda o trabalho infantil como direito [...], resguardando a

peculiaridade dessa fase, com garantia de cuidados, como limite de

carga horária e garantia de condições mínimas no desenvolvimento

do trabalho, onde o adolescente continua estudando, com horário

diferenciado para desenvolver as atividades e em lugares que não

prejudiquem a sua formação e desenvolvimento. [...]. (P1).

O ECA aborda a questão sobre a perspectiva do direito à

profissionalização e proteção no trabalho sendo que eu concordo

com o recorte de faixa etária, a questão relacionada à

aprendizagem e formação para o trabalho, [...], que há dificuldades

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para a implementação de programas e projetos de aprendizagem.

(P2).

O ECA representa um paradigma novo desde a forma de olhar a

criança e o adolescente enquanto sujeitos de direitos. (P3).

A primeira expressão a ser destacada na fala das profissionais é em relação a forma de

compreender/considerar a criança e o adolescente a partir da introdução do ECA. O Estatuto

da Criança e do Adolescente é uma lei universal e que está voltada aos direitos e

comprometida com as necessidades desses sujeitos.

Foi um processo muito demorado o de reconhecimento da criança e do adolescente

como sujeitos de direitos. Mais um importante avanço na história brasileira em relação à

infância e adolescência, como expressa em seu artigo 4º.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e

do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação

dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao

esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

(BRASIL, ECA, 1990).

Em relação ao trabalho infantil, para o ECA, é uma questão de direito, respeitando a

idade, as condições de trabalho e a permanência e freqüência à escola, e principalmente o

respeito à condição peculiar de desenvolvimento da criança e do adolescente.

Ressalta-se a importância do ECA em relação a implementação de programas e

projetos de aprendizagem, pois a lei dispõe sobre todos os direitos e garantias, mas o que se

vive na realidade, muitas vezes, explicita a distância entre esta e a efetivação dos direitos na

integridade, o que certamente, mudaria, a condição de vida desses sujeitos. É necessário

mostrar para a sociedade que o estatuto não está contra os pais na questão de impor limites,

mas a favor do respeito, da dignidade e da atenção devida por parte de todos para com a

criança e o adolescente.

Nesse sentido as profissionais mostram que tem muito conhecimento acerca do

trabalho infantil que é algo extremamente prejudicial à criança e ao adolescente, e

demonstraram muito conhecimento sobre a legislação referente a esses sujeitos, bem como a

abordagem que o estatuto traz em relação ao trabalho precoce, suas recomendações, e

tratamento desses enquanto direito e não dever.

No que diz respeito à importância do ECA, frente a situação do trabalho infantil, as

profissionais respondem.

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Ele possibilita a proteção do adolescente enquanto aprendiz,

garantindo condições mínimas da não interrupção da escolarização

e da violação de seu desenvolvimento. Para as

crianças/adolescentes em idade inferior a 14 anos propicia a

garantia de um direito que é serem criança e adolescente nessa

faixa etária, não atribuindo a estes responsabilidades incondizentes

com sua capacidade física, psíquica e social, violando sua formação

e tomando fases do desenvolvimento desse sujeito, o adultizando.

(P1).

Considero que apesar do desrespeito à sua aplicação, a partir do

ECA evidencia-se a denúncia enquanto ferramenta que cada

criança/adolescente tenha resguardado seus direitos fundamentais,

que a partir da inserção no trabalho infantil passam a ser violados.

(P2).

O ECA normatiza quanto à idade, formas/tipos, direitos sempre no

sentido de garantir proteção. A dificuldade reside na implementação

desses direitos através de Programas que atendam a fiscalização,

formação e inserção. (P3).

Destaca-se, em relação às falas das profissionais a respeito da importância do ECA, o

conhecimento e domínio da legislação por parte da equipe técnica, sendo que é o assistente

social, o profissional que faz a escuta qualificada, as visitas, os cadastros,o diagnóstico social,

ou seja, que está diretamente relacionado com a realidade vivenciada pelos sujeitos usuários

da política de assistência social.

Conforme o Código de Ética Profissional em seu artigo 3º é dever do assistente social:

“a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando

a legislação em vigor [...].” (CFESS, Código de Ética Profissional, 1993).

Portanto as profissionais entrevistadas mostram competência profissional e

compromisso em relação à criança e ao adolescente, respeitando o 10º princípio do Código de

Ética que dispõe o seguinte: “Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à

população e com aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.”

(CFESS, Código de Ética Profissional, 1993).

Em relação ao que o ECA preconiza, sobre a proteção no trabalho e ao trabalho em

condição de aprendiz, cabe ressaltar que, se a criança e o adolescente não estuda,

possivelmente não terá condições de ser um aprendiz ou um adulto qualificado para o

mercado de trabalho, gerando o desemprego, e o não conhecimento e domínio sobre o que é

garantido na legislação no que se refere ao trabalho de crianças e adolescentes e como este

deve ser realizado, confirma mais uma vez e constantemente um ciclo de uma não condição

de futuro para as famílias no que diz respeito a proteção social para a família e dessa para com

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seus filhos. Por isso, destaca-se a importância do conhecimento e domínio da legislação

social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste trabalho cientifico se deu a partir de muitas leituras, pesquisas e

reflexões, possibilitando que esse processo fosse de muito aprendizado, o trabalho em questão

contemplou o objetivo proposto que era compreender o trabalho infantil a partir da equipe

técnica e adolescentes beneficiárias do PETI e vinculadas à entidade Dorcas do município de

Toledo.

O trabalho infantil não é algo recente, ele está presente em nossa sociedade há muito

tempo e desde sempre está constituído como formador de caráter, de aprendizado, de

educação, é a cultura do trabalho que se disseminou entre as gerações.

Porém o trabalho infantil se intensificou com o advento da Revolução Industrial e o

modo de produção capitalista, que reduziu o pagamento dos empregados, obrigando-os a

inserir toda sua família no mercado de trabalho, inclusive as crianças, para ajudar a

complementar a renda.

Desde o início o trabalho infantil está associado à pobreza, os filhos dos pobres têm

que trabalhar. Essa reprodução da condição de pobreza se deve principalmente pelas novas

configurações de acumulação do capital como: o desemprego estrutural, a terceirização dos

contratos de trabalho e a informalidade no mercado de trabalho, entre outras determinações do

mundo do trabalho, utilizado para o fortalecimento como estratégia para a acumulação do

capital.

O trabalho infantil traz sérias conseqüências para a vida de crianças e adolescentes,

que são obrigados a entrar precocemente no mercado de trabalho, sendo a principal

conseqüência: a educação, pois quando estão trabalhando, a criança e o adolescente não vai à

escola, por não ter tempo, por estarem cansados, entre outras razões.

Mesmo depois do surgimento de legislações que proíbem o trabalho infantil ele ainda

permanece na sociedade até os dias atuais, nesse sentido, foi necessário dar uma maior

visibilidade a esta expressão da questão social e aos sujeitos que estão condicionados a esta

situação, partindo do exposto o Governo Federal lança o PETI no ano de 1996.

O PETI surgiu no Brasil em razão das constantes denúncias sobre o

trabalho escravo a que crianças eram submetidas em vários Estados,

principalmente em trabalho de corte de cana e carvoarias [...], em

1999, o programa foi estendido às crianças e adolescentes

trabalhadores residentes nas áreas urbanas, principalmente para

atender àqueles que trabalhavam em lixões. (PADILHA, 2006, p.

172/173).

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O PETI como já citado foi criado pelo Governo Federal, mas que ele possa acontecer,

conta com a parceria dos Estados e Municípios e com a sociedade em geral, o principal

objetivo do programa é erradicar as piores formas de trabalho infantil nas zonas rurais e

urbanas.

Em relação ao objetivo proposto, quanto aos sujeitos da pesquisa, obteve-se com este

estudo as seguintes colocações: a partir das adolescentes pode-se constatar que as mesmas não

se percebem enquanto sujeitos de direitos, não se vêem como titulares do benefício e sim

como dignas de ajuda, se colocando sempre na condição de subalternidade, reconhecendo o

benefício que recebem como ajuda, assim como o trabalho infantil também é visto por estes

sujeitos como ajuda para a família.

A partir dessas concepções, observa-se a distância que ainda existe entre a lei e a

realidade vivenciada por estes protagonistas, ou seja, o quanto o direito e as condições de vida

destes sujeitos é algo contraditório. Essa distância dificulta e retarda o processo de efetivação

da cidadania no país, o que demonstra a necessidade de se trabalhar com o destinatário das

políticas acerca dos direitos sociais.

Nesse sentido, há uma preocupação no que tange as adolescentes estarem recebendo o

benefício há mais de dois anos (conforme critério para definição da amostra da pesquisa) e, no

entanto, não possuem a compreensão do que é o trabalho infantil e mesmo porque recebem o

benefício, reproduzindo assim, o direito como ajuda.

Pelo contrário, e de forma técnica e satisfatória, sobretudo pelo entendimento da

legislação profissional e social – a equipe técnica compreende o trabalho infantil como algo

prejudicial ao desenvolvimento da criança e do adolescente, conforme explicitado no ECA, e

entendem o benefício que as adolescentes recebem como direito.

Ao concluir este trabalho, vale ressaltar, que há um bom trabalho realizado a partir da

equipe técnica do programa, e que a mesma é muito comprometida com as questões

relacionadas à área da criança e do adolescente. Porém, mesmo que a política de atendimento

a esse segmento frente à situação de trabalho infantil e risco social, no caso o PETI, esteja

sendo executada no município, ainda há a necessidade de se desmistificar a cultura do

trabalho que se arrasta por muito tempo em nossa sociedade, temos que entender o trabalho

infantil, como um atraso na vida de crianças e adolescentes, pois no momento da infancia e

adolescência, não estão preparados para vivenciar esta situação, que não condiz com sua idade

e seu desenvolvimento.

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Ao partir desta lógica acerca do trabalho infantil, cabe salientar que é dever do Estado

juntamente com a sociedade civil engajada na luta com a classe trabalhadora, proporcionar

melhores condições de proteção e efetivação dos direitos da criança e do adolescente, levando

em consideração, o que preconiza o ECA, em relação a estes sujeitos que estão em situação

peculiar de desenvolvimento e são prioridade absoluta.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Formulário de Entrevista para as Adolescentes Beneficiárias do PETI

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FORMULÁRIO DE ENTREVISTA PARA AS ADOLESCENTES BENEFICIÁRIAS

DO PETI

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL - 4º ano

PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: Cristiane Carla Konno ACADÊMICO (A): Fábia Aline Scaravonatto

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Compreender o significado de trabalho infantil a partir da

equipe técnica e adolescentes beneficiários do PETI, vinculadas a Entidade Dorcas

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista

SUJEITOS DA PESQUISA: Adolescentes beneficiárias do PETI

INSTITUIÇÃO/LOCAL DA ENTREVISTA: Entidade Dorcas.

DATA DA ENTREVISTA:

____/____/2011

Nº DA ENTREVISTA: _____

Nome

Idade

Escolaridade

Como ficou sabendo do PETI

( ) Pelo CRAS ( ) Através da Entidade Dorcas

( ) Por amigos/vizinhos ( ) Outros, qual?

Por que você entrou no PETI?

O que é o PETI para você?

Antes de entrar no PETI, o que você fazia?

O que é trabalho infantil para você?

Quais as mudanças que o PETI trouxe para você e sua família?

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APÊNDICE B – Formulário da Entrevista para a Equipe Técnica do PETI

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FORMULÁRIO DE ENTREVISTA PARA A EQUIPE TÉCNICA DO PETI

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL - 4º ano

PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: Cristiane Carla Konno ACADÊMICO (A): Fábia Aline Scaravonatto

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Compreender o significado de trabalho infantil a partir da

equipe técnica e adolescentes beneficiários do PETI, vinculadas a Entidade Dorcas

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista

SUJEITOS DA PESQUISA: Adolescentes beneficiárias do PETI

INSTITUIÇÃO/LOCAL DA ENTREVISTA: Secretaria Municipal de Assistência Social e

Entidade Dorcas.

DATA DA ENTREVISTA:

____/____/2011

Nº DA ENTREVISTA: _____

Nome

Idade

Instituição que trabalha

Qual é a sua formação profissional?

Há quanto tempo trabalha na área da criança e do adolescente?

Qual é a sua compreensão sobre o trabalho infantil?

De que forma o ECA aborda a questão do trabalho infantil? Você concorda?

Qual é a importância do ECA, acerca do trabalho infantil?

Qual é a efetividade do PETI no município de Toledo-PR?

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APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

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ANEXOS

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ANEXO A – Parecer 313/2011 – CEP: Avaliação de Proposta de Projeto de TCC – Aprovado

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