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    SOCIEDADE BRASILEIRA DE INSTRUOUNIVERSIDADE CNDIDO MENDES UCAM CAMPOS

    CURSO DE MESTRADO EM PLANEJAMENTO REGIONAL EGESTAO DE CIDADES

    FABRCIO BARBOSA FREITAS

    USO E OCUPAO DO SOLO NO BAIRRO DA PELINCA:

    um reflexo na mobilidade urbana do local

    Campos dos Goytacazes, RJJunho de 2008

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    SOCIEDADE BRASILEIRA DE INSTRUOUNIVERSIDADE CNDIDO MENDES UCAM CAMPOS

    CURSO DE MESTRADO EM PLANEJAMENTO REGIONAL EGESTAO DE CIDADES

    Fabrcio Barbosa Freitas

    USO E OCUPAO DO SOLO NO BAIRRO DA PELINCA:

    um reflexo na mobilidade urbana do local

    Dissertao apresentada ao Programa dePs Graduao em PlanejamentoRegional e Gesto de Cidades daUniversidade Cndido Mendes Campos/R.J., para obteno do grau de Mestre emPlanejamento Regional e Gesto de

    Cidades.

    Orientador: Prof. Jlio Csar Rodrigues, Dr. Sc.

    Co-orientador: Prof. Gustavo Givisiez, Dr. Sc.

    Campos dos Goytacazes, RJJunho 2008.

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    SUMRIO:

    INTRODUO ------------------------------------------------------------------------------------- 06- JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAO ------------------------------------------------ 06

    - OBJETIVO ---------------------------------------------------------------------------------------- 08

    - METODOLOGIA --------------------------------------------------------------------------------- 09

    CAPTULO 1 FUNDAMENTAO TERICA ------------------------------------------- 12

    1.1 ESCLARECENDO OS CONCEITOS ------------------------------------------------- 12

    1.1.1 Uso do solo ----------------------------------------------------------------------------- 12

    1.1.2 Mobilidade urbana --------------------------------------------------------------------- 19

    CAPTULO 2 CONHECENDO A REA DE ESTUDO -------------------------------- 32

    2.1 LOCALIZAO E HISTRICO -------------------------------------------------------- 32

    2.2 MAPEAMENTO ---------------------------------------------------------------------------- 44

    2.2.1 Levantamento fotogrfico ------------------------------------------------------------- 44

    2.2.2 Aspectos scio-econmicos ---------------------------------------------------------- 53

    2.2.3 Uso do solo ------------------------------------------------------------------------------- 57

    2.2.4 Gabaritos ---------------------------------------------------------------------------------- 59

    2.2.4 Hierarquizao viria --------------------------------------------------------------------62

    2.2.6 Mobilidade e trajeto de usurios ---------------------------------------------------- 64

    2.2.7 Infra-estrutura de mobilidade urbana ---------------------------------------------- 68

    2.3 CONSIDERAES ----------------------------------------------------------------------- 73

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    CAPTULO 3 ASPECTOS DA LEGISLAO URBANSTICA MUNICIPAL

    NA REA DE ESTUDO -------------------------------------------------------------------------- 75

    3.1 O PLANO DIRETOR DE 1991 E SUAS ORIENTAES

    PARA A OCUPAO DO SOLO E PARA MOBILIDADE URBANA --------- 75

    3.2 A LEI DE ZONEAMENTO URBANO DE 1998: UMA

    NOVA ORDEM DE USO DO SOLO ------------------------------------------------ 77

    3.3 O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DE 2007: COMO ELE

    ENCONTROU A REA E O QUE MUDA? ----------------------------------------- 81

    3.4 ALGUNS INSTRUMENTOS PRESENTES NO ESTATUTO

    DA CIDADE QUE PODEM CONTRIBUIR PARA A MOBILIDADE

    URBANA NO LOCAL --------------------------------------------------------------------- 873.4.1 Relatrio de plo gerador de trfego ----------------------------------------------- 87

    3.4.2 Estudo de impacto de vizinhana --------------------------------------------------- 89

    CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 91

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ---------------------------------------------------------- 93

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    O urbanista mal se distingue do arquiteto. Oprimeiro organiza espaos arquitetnicos,

    fixa o local e o destino dos volumes deconstruo, rene todas as coisas no tempo

    e no espao por meio de uma redecirculatria. E o outro, o arquiteto, ocupado,

    por exemplo, com uma simples habitao,tambm levanta volumes, cria espaos. No

    nvel do ato criador, o arquiteto e ourbanista so um s.

    Le Corbusier

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    INTRODUO

    JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAO

    O processo de crescimento desordenado das cidades brasileiras vem sendo

    um problema enfrentado pelos gestores desde a dcada de 80 do sculo passado.

    Com o aumento da autonomia dos municpios na dcada de 90, sobretudo em

    virtude da descentralizao do poder do Estado, juntamente com outrastransformaes aqui no mencionadas, o uso e a ocupao do solo urbano nessa

    poca acabam refletindo a configurao social, poltica e econmica de cada

    sociedade, gerando um processo de crescimento desarticulado e excludente.

    A problematizao envolvendo o crescimento das cidades mdias1brasileiras

    pode ser atribuda, em parte, falta de estratgias para o controle e o crescimento

    da expanso urbana. A implantao de alguns instrumentos de planejamento e

    controle do solo urbano, sobretudo a partir da promulgao do Estatuto da Cidade(Lei 10.257 de 10 de junho de 2001), no segue o mesmo ritmo das mudanas

    espaciais da cidade.

    ... o processo de urbanizao (...) apresentou situaes de grandediversidade e heterogeneidade destacando-se entre outros aspectos osque se seguem: interiorizao do fenmeno urbano; acelerada urbanizaodas reas de fronteira econmica, crescimento das cidades mdias;

    1Cidade mdia foi considerada nesse trabalho como sendo aquelas cuja populao varia entre 100 a

    500 mil habitantes.

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    periferizao dos centros urbanos; formao e consolidao deaglomeraes urbanas de carter metropolitano e no metropolitano.1

    Os problemas relacionados com a expanso urbana desordenada podem ser

    percebidos de vrias formas: poluio sonora, visual, grandes aglomerados urbanos

    e problemas de mobilidade urbana como engarrafamentos e aumento nas distncias

    a serem percorridas. O modelo de desenvolvimento urbano pautado no uso do

    automvel relacionado intensidade de uso do solo desentruturado no atende mais

    s necessidades das habitantes da cidade.

    Atravs dos problemas de expanso e verticalizao urbanas relatados

    acima, o que se pretende com esse trabalho fazer uma anlise do uso e ocupao

    do solo urbano em uma rea de uma cidade de porte mdio (Campos dos

    Goytacazes), mediante as leis municipais que tratam desse tema, tendo como ponto

    de partida o Plano Diretor de 1991 bem como as leis em vigor. De posse dessa

    anlise, poder ser feito um estudo sobre os efeitos dessa ocupao para a

    mobilidade urbana do local.

    Sendo assim, o trabalho se justifica no sentido de relacionar a ocupao e o

    uso do solo urbano com a infra-estrutura de mobilidade urbana, visandoproporcionar melhor qualidade de vida populao e, acima de tudo, um

    desenvolvimento sustentvel para a cidade.

    1MOTTA, Diana, 2001: 40 In: ZULCHNER, Ilana Marins. Implantao do estudo prvio de impacto de

    vizinhana: sua contribuio para o cumprimento da funo social da cidade. Dissertao demestrado em Planejamento Regional e Gesto de Cidades. UCAM Campos, 2006. Pgina 1.

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    OBJETIVO

    A dissertao tem como objetivo analisar a expanso urbana e a ocupao do

    solo em rea inserida no bairro da Pelinca, no municpio de Campos dos

    Goytacazes, e os reflexos dessa expanso na mobilidade urbana do local.

    Alm disso, o trabalho observar a efetiva contribuio da legislao

    municipal para a ocupao urbana do local, tendo como ponto de partida o Plano

    Diretor de 1991, passando pela Lei de uso e parcelamento do solo de 1998 at os

    dias atuais, com a implantao do novo Plano Diretor Participativo do ano de 2007.A inteno em analisar essas Leis a de verificar como a Secretaria de Obras

    e Urbanismo e a Secretaria de Planejamento, rgos municipais competentes na

    gesto e planejamento urbano da cidade, interferiram para a ocupao desse trecho

    do bairro, e o que tem feito para coibir ou impulsionar o crescimento do local.

    Utilizaremos tambm alguns instrumentos de controle e planejamento urbano

    presentes no Estatuto da Cidade, o Relatrio de Plo Gerador de Trfego e o Estudo

    de Impacto de Vizinhana e suas aplicaes em outras cidades, relacionando-oscom nossa rea de estudo.

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    METODOLOGIA

    Para realizar o trabalho, primeiramente ser feito uma anlise embasada em

    leituras de textos que abordam o tema da dissertao. Dentro dessa anlise, sero

    includos avaliaes das principais leis de expanso, parcelamento e ocupao do

    solo urbano e de mobilidade urbana. Para tais, os principais documentos analisados

    sero: Lei n. 5.251 de 27 de dezembro de 1991 (Plano Diretor da Cidade de

    Campos dos Goytacazes), Lei n. 6.691 de 30 de novembro de 1998 (Lei de

    Zoneamento do Municpio de Campos dos Goytacazes), Lei n. 6.692 de 27 denovembro de 1998 (Novo Cdigo de Obras do Municpio de Campos dos

    Goytacazes), Lei n. 7.972 de 05 de dezembro de 2007 (Plano Diretor do Municpio

    de Campos dos Goytacazes) e a Lei do Estatuto da Cidade lei federal aprovada no

    ano de 2001.

    A partir da, ser realizada uma observao estruturada do local, com o intuito

    de apresentar um mapeamento da rea de estudo um quadriltero tendo como

    limites a Avenida 28 de maro, a Rua Cornlio Bastos, a Avenida Pelinca e a Baroda Lagoa Dourada. Esta delimitao refere-se a parte dos bairros Parque

    Tamandar e Parque Avenida Pelinca, no municpio de Campos dos Goytacazes

    RJ. Esse mapeamento, juntamente com os dados retirados do CENSO

    DEMOGRFICO 2000, traar o perfil scio-econmico da populao local, o uso do

    solo, as alturas das edificaes existentes, hierarquizao viria, os principais

    pontos e eixos de atrao de pessoas e os aspectos da infra-estrutura de mobilidade

    urbana no local.

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    Alm disso, ser feito um levantamento histrico da regio por meio de

    anlises de livros, jornais, artigos e da histria oral local e de entrevistas para saber

    como se deu a formao urbanstica da rea.

    Foto area e arruamento da rea de estudo.

    Destaque da rea de estudo.Fonte: Arquivo pessoal obtido a partir do Google Earth e do arquivo de arruamento da Secretaria de

    Obras e Urbanismo de Campos dos Goytacazes.

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    As cidades, como os sonhos, soconstrudas por desejos e medos, ainda queo fio condutor de seu discurso seja secreto,

    que suas perspectivas enganosas, e quetodas as coisas escondam outras coisas.

    talo Calvino.

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    CAPTULO 1 FUNDAMENTAO TERICA

    1.1 ESCLARECENDO OS CONCEITOS.

    Para entender, com maior clareza, os tpicos que sero desenvolvidos

    durante a dissertao, alguns termos sero conceituados de acordo com o nosso

    tema de interesse. Sabemos que alguns desses termos podem ser explicados por

    vrias vertentes, no entanto nos propomos a realizar uma abordagem mais social emenos pragmtica.

    1.1.1 Uso do solo

    O termo uso do solo pode ser entendido como a distribuio e a intensidade

    de usos no espao urbano: residencial, industrial, comercial ou misto, que acaba

    determinando as localizaes das atividades humanas como viver, trabalhar e lazer

    dentro de parmetros especficos de ocupao do solo urbano e de zoneamento.

    Esses parmetros e o porqu dessas distribuies podero ser um pouco mais

    compreendidos a partir dessa seo.

    A morfologia urbana como resultado das relaes estabelecidas em um

    determinado espao fsico, variando conforme o tempo e os aspectos decorrentes

    dessas formas acabam enfatizando os processos de uso, ocupao eregulamentao do solo urbano, seja em que cidade for.

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    Podemos relacionar o uso do solo com o zoneamento da cidade, visto que o

    zoneamento consiste na repartio do solo segundo um determinado planejamento

    urbanstico e na atribuio a determinados usos. O zoneamento tambm engloba os

    aspectos fsicos das construes e restries de utilizao de terrenos, alocando as

    atividades das cidades de acordo com seus usos. A diferena entre zoneamento e

    uso do solo que o primeiro, segundo Souza (2004), consiste em um instrumento de

    planejamento urbano e, o segundo, vem a ser uma maneira de planejar a cidade,

    dando atribuies ao uso de um determinado local, implicando em polticas mais

    abrangentes de ocupao e conservao do solo.

    Foi nos Estados Unidos que a idia de excluir certos usos e de se pensar em

    uma legislao de zoneamento comeou a aparecer. Contudo, o zoneamentonaquele pas, passa a extrapolar a idia de um instrumento de planejamento,

    passando a ser um mecanismo de separao e controle de uso do solo urbano.

    Em 1916, o primeiro cdigo a instituir um zoneamento abrangente surgiu na

    cidade de Nova Iorque. Mas, mesmo antes da passagem do sculo, uma ordenao

    legal na cidade de So Francisco tem como finalidade proibir certos usos em

    determinadas partes da cidade.

    Entre os princpios bsicos que norteariam esse instrumento de planejamentourbano, estava o de excluir certos usos e, consecutivamente, - e por muitas vezes de

    maneira notria - certos grupos sociais. Sendo assim, a utilizao do zoneamento

    nos EUA pode ser analisada, particularmente, como um modo de excluso social

    intensa.

    Foi no IV CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) realizado

    no ano de 1933 na Grcia, que alguns parmetros sobre uso e ocupao do solo

    ganharam a notoriedade que perdura at hoje. Entre as propostas revolucionriasescritas no documento intitulado Carta de Atenas, destacamos algumas: toda a

    propriedade e todo solo urbano da cidade devem cumprir uma funo pblica. Outra

    questo que tambm vale a pena ser mencionada foi a separao das funes

    bsicas do viver nas cidades trabalhar, circular, morar e recrear-se. Essas

    propostas foram abraadas pelos arquitetos e urbanistas modernos, baseados na

    separao dos usos em nome da higiene e da ordem, para adaptar o espao urbano

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    era da mquina e do funcionalismo formal, defendida com vigor por nomes como

    Le Corbusier1

    A imagem da casa bem ordenada tornou-se igualmente clebre: segundoesse argumento, a mesma lgica que preside na distino e separao dosdiferentes cmodos de uma casa de acordo com seus usos (a cozinha paracozinhar, o banheiro para tomar banho e fazer as necessidades fisiolgicas,o quarto de dormir para dormir...) deveria governar a organizao doespao da cidade, ou seja, da grande casa. (Souza, 2004, pg. 254.)

    No entanto, a idia de separao funcional da cidade, caracterizada no

    urbanismo modernista, j havia sido pensada em cidades da Europa, Estados

    Unidos (como vimos anteriormente) e at mesmo no Brasil. Em nosso pas, essaidia veio pautada com um discurso higienista, com questes de perigo de difuso

    de doenas e insalubridade de espao urbano. Um bom exemplo disso foi a Reforma

    Pereira Passos que aconteceu no Rio de Janeiro entre os anos de 1902 a 1906 e

    que tinha como objetivos remodelar todo o centro da ento capital federal, alargando

    ruas e retirando os cortios com o propsito de higienizar a cidade.

    Alm de ser relacionado com as questes de zoneamento, o uso do solo

    necessita de alguns parmetros urbansticos para o seu entendimento. Esses

    parmetros, apesar de serem conceituados de uma maneira geral, so especificados

    por cada municpio, expressando aspectos da densidade urbana e das formas

    espaciais de ocupao do solo, no sendo responsveis pela promoo da

    segregao ou de contedos polticos-ideolgicos.

    Esses parmetros acabam induzindo e norteando a ocupao do solo

    urbano. So eles: gabarito, afastamento, rea construda, taxa de ocupao,

    coeficiente de aproveitamento, taxa de permeabilidade, ndice de reas verdes, rea

    bruta e rea lquida e densidade bruta e lquida. Para melhor compreenso de cada

    um desses parmetros, o quadro abaixo conceitua cada um deles.

    GABARITO

    Altura mxima permitida para asedificaes em uma determinada zona,podendo ser determinada de acordocom a preservao harmnica da

    paisagem, proximidade de aeroportos e1Charles-douard Jeanneret (verdadeiro nome de Le Corbusier) nasceu em 1887 e morreu em

    1965.Arquiteto e urbanista, foi um dos maiores nomes da arquitetura moderna do mundo.

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    largura das vias.

    AFASTAMENTO

    Recuos obrigatrios da edificao em

    relao s divisas dos lotes,logradouros e entre edificaes nomesmo lote, influenciando assim asquestes de ventilao, iluminao eprivacidade.

    REA CONSTRUDA

    Soma de todos os pavimentos de umaedificao, podendo ser chamadatambm de rea edificada.

    TAXA DE OCUPAORelao entre a rea de projeohorizontal da edificao e a rea doterreno.

    COEFICIENTE DEAPROVEITAMENTO Relao entre a rea construda e area total do terreno.

    TAXA DEPERMEABILIDADE

    Relao entre a parte do terreno quepermite ser permevel e a rea total domesmo.

    NDICE DE REASVERDES

    Relao entre a rea do terrenocoberta por verdes e a rea total do

    mesmo.

    REA BRUTA rea total de uma zona, incluindo ruas,praas e espaos institucionais.

    REA LIQUIDA rea exclusivamente residencial deuma determinada zona.

    DENSIDADE BRUTA

    Nmero total de pessoas que residemnuma determinada zona dividida pelarea total dessa zona, incluindo ruas,

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    praas e todo tipo de ocupao noresidencial.

    DENSIDADE LQUIDA Diviso do nmero de pessoas queresidem numa determinada zona pelarea apenas destinada para finsresidenciais.

    Quadro dos parmetros urbansticos de ocupao do solo.Fonte: Lei de Zoneamento de Campos dos Goytacazes.

    Como um dos objetivos do nosso trabalho analisar leis e suas aplicaes

    em uma determinada rea de estudo, torna-se necessrio fazer-se um pequeno

    relato sobre o processo de surgimento das legislaes urbanas que dizem respeito

    ao uso do solo em nosso pas.

    Do direito urbanstico

    Com o grande crescimento urbano ocorrido no Brasil a partir da dcada de

    70, muitas construes ilegais foram aparecendo em todo o pas. A aplicao de

    uma legislao urbana de cunho federal que atuava unicamente na propriedade

    legal, no foi capaz de impedir o crescimento dessas construes ilegais. Com o

    intuito de amenizar o caos urbano formado nesse perodo, em 1979 criada a Lei

    Lemann, lei federal que dispunha sobre o parcelamento e uso do solo, com uma

    preocupao especial com a populao cada vez maior que no tinha acesso rede

    urbana formal e tambm com o objetivo de ordenar fisicamente o territrio das

    cidades.

    Um projeto de lei denominado Lei do Desenvolvimento Urbano, foi elaborado

    no ano de 1983 com o intuito de diminuir os conflitos urbanos desencadeados

    durante o perodo desenvolvimentista, com o surgimento de grandes centros

    urbanos. Esse projeto de lei envolvia o princpio de funo social do solo urbano,

    buscando um controle da especulao imobiliria. Talvez tenha sido esse o motivo

    que fez com que o referido Projeto no fora aprovado.

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    Na Constituio Federal de 1988, foram includas as diretrizes da poltica de

    desenvolvimento urbano, objetivando com isso o desenvolvimento das funes

    sociais da cidade e a garantia do bem estar de seus habitantes.

    Treze anos aps a aprovao da Constituio Federal, a Lei 10.257 de 10 de

    junho de 2001, denominada de Estatuto da Cidade, veio regulamentar os artigos 182

    e 183 da Constituio de 1988, que tratavam exclusivamente das polticas de

    desenvolvimento urbano executadas pelo poder pblico municipal. O Estatuto da

    Cidade tem como base de formao as questes relacionadas com a funo social

    do solo urbano, em prol do bem coletivo, da segurana e do bem estar da

    populao.

    O Estatuto da Cidade coloca como pea-chave a formulao pelos municpiosde um Plano Diretor, com o intuito de fazer a aplicao dos principais instrumentos

    urbansticos reguladores do uso do solo, ordenando, assim, as polticas e as prticas

    pblicas.

    Para autores como Souza (2003), esses instrumentos urbansticos,

    juntamente com o zoneamento de uso e ocupao do solo, so alguns dos ndices

    ou parmetros que regulam a densidade e a forma de ocupao do espao. J para

    Maricato (2002), as leis de zoneamento constituem, talvez, a expresso mais fortedo urbanismo modernista com a sua utopia de dirigir ordenadamente o uso e a

    ocupao do solo, com regras universais e iguais, separando usos, nveis de

    circulao, tipologia de edifcios e padres de ocupao do solo.

    fato que o poder municipal sai bastante fortalecido com a Constituio de

    88 e depois com o Estatuto da Cidade, j que passa a ser de competncia da esfera

    municipal legislar sobre assuntos de interesse local. Isso possibilita aos municpios a

    promoo e adequao do ordenamento do territrio, por meio de polticas decontrole, parcelamento e ocupao do solo urbano.

    Mediante essa alterao legal, o municpio de Campos dos Goytacazes

    passa, aps a Constituio de 88 e mais recentemente aps a aprovao do Plano

    Diretor Participativo de 2007, a rever algumas leis que tratam especificamente de

    polticas de uso do solo e parcelamento urbanos.

    O zoneamento, segundo a Lei n 6.691 de 30 de novembro de 1998 Lei de

    Zoneamento da cidade de Campos dos Goytacazes, significa a diviso do territrio

    em zonas de uso predominante, para as quais se determinam tipos e intensidade de

    uso do solo. A Lei tambm estabelece normas de uso e ocupao do solo do

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    Municpio, a intensidade de sua utilizao, assim como normas e parmetros

    especficos de ocupao e aproveitamento do solo em cada zona. Tambm de

    acordo com a Lei, o termo uso caracterizado por atividade ou finalidade para a

    qual um lote ou uma edificao destinado.

    Outra lei que vigora no municpio a Lei de Parcelamento do Solo do

    Municpio (Lei n. 6.690 de primeiro de dezembro de 1998). Essa Lei trata

    exclusivamente do parcelamento do solo urbano e da rea de expanso urbana e

    regida tambm pela Lei de Zoneamento e Uso do Solo analisada anteriormente.

    importante destacar, especificamente na Lei 6690/98, as modalidades de

    parcelamento existentes. O arruamento, feito pelo poder pblico atravs de

    aberturas de vias de circulao, dando alinhamento, greide e benfeitorias; oloteamento, caracterizado pela subdiviso da gleba atendendo ao aumento do

    sistema virio existente; a criao de quadras e lotes para fins urbanos, condies

    para implantao de residncias, indstrias ou comrcios e execuo fiel de projetos

    urbansticos aprovado pelo poder publico; e o desmembramento, que caracteriza o

    parcelamento de gleba em lotes com o aproveitamento do sistema virio e de infra-

    estrutura local. Todas essas modalidades de parcelamento acabam se traduzindo

    em uma determinada ocupao do solo urbano.Outra lei do municpio de Campos dos Goytacazes que ordena a ocupao do

    solo urbano o Cdigo de Obras do Municpio (Lei n. 6.692 de 27 de novembro de

    1998), que dispe sobre a aprovao de projetos e licenas para construo,

    demolio e reformas de qualquer tipo executada dentro do municpio. Vale destacar

    que essa lei refere-se diretamente lei de zoneamento e lei de parcelamento do

    solo, visto que uma licena para construo s dada se o projeto estiver tambm

    de acordo com essas duas outras Leis.Outro ponto importante do Cdigo de Obras que nele esto contidos

    parmetros urbansticos mencionados anteriormente, especificando as alturas das

    edificaes, os afastamentos e as taxas para cada tipo de construo.

    No momento em que as cidades brasileiras comearam a sofrer um processo

    vertiginoso de urbanizao e expanso urbana, fazendo com que fosse necessrio

    limitar uso e funes para o solo urbano a fim de reverter-se a onda de crescimento

    desordenado, o termo uso do solo passa a ganhar cada vez mais importncia. Um

    exemplo disso so os Planos Diretores executados ou revistos aps a aprovao do

    Estatuto da Cidade.

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    1.1.2 Mobilidade urbana

    Hoje em dia, o que podemos verificar nas cidades uma ocupao de solo

    cada vez mais aleatria em conjunto com uma expanso urbana na sua grande

    maioria ocupada de forma desordenada, trazendo reflexos negativos, sobretudo nos

    sistemas de transporte urbano. Com isso, a cidade acaba ficando cada vez menos

    acessvel para todos, gerando problemas de ordem social, econmicos e de

    qualidade de vida da populao.

    A definio de qualquer uso do solo urbano, seja de maneira espontnea ou

    planejada, tem como ponto determinante as relaes e movimentos que configuram

    as vrias demandas de mobilidade.

    Entretanto, as polticas de uso do solo e de mobilidade no podem ficar

    apenas retidas s questes de infra-estrutura de trnsito, como largura de vias, por

    exemplo. O importante nesse caso implementar os modos e meios de mobilidade

    nos tempos requeridos pelo uso do solo.

    Uma poltica de investimentos nos transportes que no leve em considerao

    o uso do solo, assim como uma poltica de uso do solo que no leve em conta a

    mobilidade urbana, acaba contribuindo para o crescimento da segregao scio-

    espacial nas cidades.

    A lei de Uso e Ocupao do Solo um instrumento municipal deplanejamento territorial que permite caracterizar zonas da cidade comfunes especificas, de modo a disciplinar as atividades da iniciativa noterritrio urbano de modo equilibrado entre as demandas sociais e odesenvolvimento econmico. Ela impacta diretamente nos padres dedeslocamento dirio da populao, que vai de casa ao trabalho ou local deestudos, alm de usar os servios e equipamentos urbanos. Ela deve,

    portanto, estar ligada a um plano de mobilidade urbana que crie condiespara a reduo das necessidades de deslocamentos motorizados econtrole o processo de expanso urbana, desestimulando seu crescimentodesordenado, e privilegie o adensamento urbano, e a melhor distribuiode funes urbanas.1

    A mobilidade urbana engloba fatores que vo desde os econmicos at os de

    incluso social, uma vez que a falta de mobilidade acaba gerando problemas para

    grande parcela dos moradores das cidades, sobretudo para aqueles que precisam

    se locomover todos os dias.

    1DUARTE, Fbio, LIBARDI, Rafaela e SNCHEZ, Karina. Introduo mobilidade urbana. Editora

    Juru: Curitiba, 2007. Pgina 13.

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    A necessidade cada vez maior de deslocamentos, associado a uma expanso

    urbana, que pode ser desordenada ou no, contribui para a piora da qualidade dos

    transportes pblicos, acarretando uma demanda cada vez maior pelos automveis,

    aumentando o nmero dos mesmos e culminando num processo de reduo da

    mobilidade, causando, entre outras coisas, congestionamentos.

    Mas o que vem a ser o termo mobilidade urbana? Em que circunstncia ele

    foi criado? Para esclarecer esse tema, nos deteremos em parte na Cartilha de

    Mobilidade e Poltica Urbana, desenvolvida pelo Ministrio das Cidades em 2005 e

    no Projeto de Lei de Mobilidade Urbana (PL 1687/2007), alm de outros textos e

    livros que sero citados no decorrer dessa seo.

    O conceito de mobilidade comea a ser pensado em meio aos encontrossobre polticas urbanas realizados nas Conferncias das Cidades1, cuja necessidade

    principal era ter um novo olhar e novas medidas para melhorar a qualidade de vida

    da populao.

    A necessidade de um conceito de mobilidade urbana surge tambm com a

    finalidade de orientar as aes vistas como necessrias para implementar uma

    poltica capaz de permitir aos cidados o direito de ter acesso seguro e eficiente aos

    espaos urbanos.

    As precrias condies de mobilidade se colocam como obstculo superao da pobreza e da excluso social para cerca de 45% dapopulao brasileira, que tem renda inferior a 3 salrios mnimos.(ITRANS, 2004)2

    No pensar nos transportes de maneira isolada, mas como um meio pelo qual

    a populao acessa os destinos desejados na cidade, nos leva a pensar que um

    sistema de mobilidade urbana pode ser analisado como um conjunto de modos,redes e infra-estruturas que garantem o deslocamento das pessoas na cidade.

    Como em todo sistema o que conta a integrao de suas partes, num sistema de

    mobilidade urbana, quanto melhor a integrao entre os modos (transportes), redes

    (transportes) e infra-estrutura (uso do solo) mais eficiente o sistema se torna e mais

    fcil ser garantir aos cidados o acesso fsico s oportunidades e s funes

    econmicas e sociais da cidade.

    1Seminrios desenvolvidos pelo Ministrio das Cidades com a participao de cada municpio e asociedade civil organizada para esclarecer e orientar sobre o Estatuto da Cidade e a formulao dosPlanos Diretores.2Retirado do site da Empresa de Transporte e Trnsito de Belo Horizonte S.A BHTRANS.

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    Um sistema de mobilidade urbana deve ser planejado e avaliado a fim de

    contemplar a identificao clara e permanente dos sistemas de mobilidade, seja a

    curto, mdio ou longo prazo; assim como identificar os meios financeiros e

    institucionais que assegurem a implantao e execuo do sistema; formular e

    implantar os mecanismos de monitoramento e avaliao permanentes dos objetivos

    estabelecidos e a identificao das metas de atendimento e universalizao da

    oferta dos transportes pblicos coletivos, monitoradas por indicadores pr-

    estabelecidos.

    Esse sistema de mobilidade constitudo e coordenado por meios, servios e

    infra-estruturas que garantem deslocamento de pessoas e bens pela cidade.

    MEIOS DE TRANSPORTESURBANOS

    Motorizados; No motorizados.

    SERVIOS DE TRANSPORTESURBANOS

    De passageiros (coletivos ouindividuais);

    De cargas.

    INFRA-ESTRUTURA DE MOBILIDADEURBANA

    Vias e logradouros pblicos; Estacionamentos; Terminais, estaes e demais

    conexes; Pontos para embarque e

    desembarque de passageiros ecargas;

    Sinalizao viria e de trnsito; Equipamentos e instalaes; Instrumentos de controle,

    fiscalizao e arrecadao detaxas e tarifas e difuso dasinformaes.

    Quadro do Sistema de Mobilidade Urbana.Fonte: Lei de Mobilidade Urbana PL 1687/2007. Pgina 1

    Alguns fatores podem ser relacionados diretamente com a mobilidade urbana,

    interferindo, sobretudo, na movimentao das pessoas pela cidade, alm do modo

    com que elas se locomovem. Esses fatores so a idade, a renda, a escolaridade e o

    gnero dessas pessoas.

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    Observando esses fatores, podemos nos atentar para o fato de que a idia de

    mobilidade urbana est centrada nas pessoas que transitam pela cidade, e que

    desejam que a vontade de atingir seus destinos necessrios seja atendida. Para

    isso, essa idia de mobilidade acaba requerendo uma nfase maior no transporte

    pblico coletivo, trazendo consigo uma orientao maior de incluso social e da

    reduo de congestionamentos, poluio e acidentes.

    Um conjunto de diretrizes e princpios comea a ser desenvolvido para que as

    aes pblicas de mobilidade urbana juntamente com as reivindicaes da

    populao nesse mbito possam ser orientadas. Trata-se da poltica de mobilidade

    urbana, que visa pensar e propor como ser o deslocamento de pessoas e bens

    pela cidade.Essa poltica tem, como princpios bsicos, a acessibilidade urbana como

    direito universal; a garantia de acesso dos cidados aos transportes pblicos; a

    eficincia e eficcia na prestao dos servios de transporte coletivo; transparncia

    e participao social no planejamento, controle e avaliao dos servios de

    transporte e da poltica de mobilidade urbana; justa distribuio dos benefcios e

    nus decorrentes do uso de diferentes modos de transporte urbano; equidade na

    utilizao dos espaos pblicos de circulao, vias e logradouros e a contribuio aodesenvolvimento sustentvel da cidade.

    Esse nosso ltimo princpio de contribuio ao desenvolvimento sustentvel

    nos faz pensar como uma poltica de mobilidade urbana pode contribuir para um

    desenvolvimento sustentvel.

    Para tentar esclarecer esse princpio torna-se importante primeiro fazer uma

    pequena anlise sobre o conceito de desenvolvimento sustentvel.

    Desenvolvimento Sustentvel

    O desenvolvimento sustentvel pode ser entendido como um resumo de

    vrios outros conceitos que se comprometem entre si, formulados durante o

    processo de desenvolvimento do ps-guerra.

    Dentre os conceitos fundamentais temos o desenvolvimento, que ocrescimento das riquezas e a sua distribuio de forma mais justa; a necessidade,

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    as questes de necessidade variam no tempo e no espao, sendo difcil precisar o

    que ser necessrio para as prximas geraes; a preservao da natureza, pois a

    capacidade de regenerao da natureza passa a ser limitada, visto o crescimento

    econmico e populacional dos pases dentro dos padres tecnolgicos da

    atualidade; e, por fim, a transmisso de riquezas, j que as geraes atuais

    tendem a deixar para seus herdeiros o atual padro de riqueza e valores, acumulado

    durante sculos de civilizao.1

    Alm desses quatro conceitos que norteiam as questes de desenvolvimento

    sustentvel, o conceito utilizado pela Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento elaborado em 1987, e que passou a ser mais utilizado preceitua

    ser desenvolvimento sustentvel aquele que atende as necessidades atuais semcomprometer a possibilidade das geraes futuras atenderem as suas prprias

    necessidades.

    Esse conceito ainda acompanhado de outros dois conceitos-chave: o de

    necessidade, sobretudo dos pobres, que devem receber prioridade e a noo das

    limitaes tecnolgicas e da organizao social impostas ao meio ambiente,

    impedindo-o de atender s necessidades presentes e principalmente futuras.

    Entretanto, difcil afirmar que um pas possa alcanar em to pouco tempo odesenvolvimento sustentvel, nem mesmo pode ser avaliado o seu grau. Isso faz

    com que esse termo passe a ser algo ainda em construo, uma busca pautada em

    polticas, programas e planos de desenvolvimento marcados por uma

    sustentabilidade restrita em um determinado tempo e espao, podendo servir para a

    contribuio de um processo a longo prazo.

    Para ajudar na compreenso do conceito de desenvolvimento sustentvel

    necessrio tambm que se analise de maneira conjunta algumas dimenses danossa sociedade, que so as dimenses econmicas, polticas, sociais, ambientais e

    culturais.

    Todavia, para que o processo de implementao do desenvolvimento

    sustentvel fosse colocado em prtica, a ONU na 2 Conferncia Geral das Naes

    Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento elaborou um documento que serve

    de guia para a criao de estratgias e polticas nacionais de desenvolvimento. A

    1Para maior aprofundamento nesses conceitos de fundamentao de desenvolvimento sustentvel

    ler artigo publicado em Zancheti S. M. (2002) Gesto do patrimnio cultural integrado - Gestin delpatrimonio cultural integrado, CECI - Editora da Universidade de Pernambuco, Recife, pp. 79-83.

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    esse documento deu-se o nome de Agenda 21. Os pases que o assinaram se

    comprometem a elaborar polticas de desenvolvimento se baseando em

    recomendaes contidas na Agenda 21, ajustando essas recomendaes s

    especificidades locais.

    No Brasil, as discusses acerca da Agenda 21 tm atingindo no s o nvel

    nacional como tambm os Estados e os Municpios, e vem demandando que o

    governo federal formule uma Agenda Nacional, incentivando alguns estados e at

    mesmo municpios a tambm agirem desta maneira e construrem suas prprias

    Agendas.

    Ao focarmos a esfera local para a elaborao de regras de polticas de

    desenvolvimento sustentvel, acabamos criando outra vertente de desenvolvimento,o desenvolvimento sustentvel urbano. Diante desse deslocamento as questes de

    sustentabilidade ficam mais complicadas de serem entendidas numa cidade, visto

    que um sistema aberto e com elevado grau de complexidade, com muitas variveis

    e integrao interna e externa em constante modificao.

    Todas as teorias de desenvolvimento sustentvel urbano passam pela idia

    de que a sustentabilidade de uma cidade significa a valorizao, de maneira

    sustentvel, dos recursos contidos em seu territrio.Porm, dois problemas esto associados idia de sustentabilidade urbana:

    a primeira indica que nenhuma cidade pode ser sustentvel de maneira

    independente, j que no capaz de gerar sozinha todos os recursos de que

    precisa e, o segundo, garante que mesmo que as cidades trabalhem de maneira

    conjunta, cooperando com trocas de recursos, essas trocas seriam desequilibradas,

    sendo necessrios, para esse equilbrio, mecanismos compensatrios das trocas

    desiguais de recursos.Algumas caractersticas de um novo processo de gesto urbana voltado para

    a viabilidade de uma cidade sustentvel j esto sendo apresentadas pelo pas.

    Entre essas caractersticas, a que nos chama a ateno, a induo de novos

    hbitos de moradia, transporte e consumo nas cidades como o incentivo ao uso de

    bicicleta e de transportes no-poluentes; a implantao de hortas comunitrias,

    jardins e arborizao com rvores frutferas e a construo de edificaes para uso

    comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia, utilizando materiais

    reciclados. Tudo isso alicerado nos conceitos de uso do solo e mobilidade.

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    Apesar de aparentar dualidade, indubitvel que o conceito de

    desenvolvimento sustentvel e at mesmo o de desenvolvimento sustentvel urbano

    ganharam grande fora no cenrio mundial, tornando-se referncia para diversas

    polticas de desenvolvimento internacional, nacional e local, inclusive como pea-

    chave para a poltica de mobilidade urbana.

    A partir dos princpios de desenvolvimento sustentvel e de sustentabilidade o

    conceito de mobilidade urbana sustentvel foi sendo criado. A criao desse

    conceito acabou gerando uma poltica nacional de mobilidade urbana sustentvel,

    que objetiva promover a incluso social da populao de baixa renda no sistema

    pblico de transporte urbano; a melhoria na qualidade e efetividade dos servios de

    transporte pblico e da circulao urbana e o financiamento permanente da infra-estrutura de transporte urbano, integradas com a Poltica de Desenvolvimento

    Urbano.

    O conceito de mobilidade urbana sustentvel tem como prioridade os

    pedestres, ciclistas, passageiros de transportes coletivos, pessoas portadores de

    necessidades especiais e idosos, priorizando tambm o espao urbano de

    circulao, de produo de capital e de reproduo social.

    Dentre as diretrizes do plano de mobilidade urbana sustentvel presentes noartigo Mobilidade e Poltica Urbana: subsdios para uma gesto integrada,

    publicada pelo IBAM e pelo Ministrio das Cidades no ano de 2005, podemos

    destacar:

    Promover o barateamento das tarifas de transporte coletivo, de forma a

    contribuir para o acesso dos mais pobres e para a distribuio de

    renda;

    Promover e apoiar a implementao de sistemas ciclovirios seguros,priorizando os sistemas integrados rede de transporte pblico;

    Promover e apoiar a melhoria da acessibilidade das pessoas com

    deficincia, restrio de mobilidade e idosos, considerando-se o

    princpio de acesso universal cidade;

    Incentivar e difundir medidas de moderao de trfego e de uso

    sustentvel e racional do transporte motorizado individual;

    Promover e viabilizar a associao e coordenao entre a polticanacional de mobilidade sustentvel e de transporte e trnsito em

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    consonncia com as polticas de promoo habitacional,

    desenvolvimento urbano, meio ambiente e saneamento ambiental em

    especial as de drenagem de guas pluviais e resduos slidos;

    Promover polticas de mobilidade urbana e valorizao do transporte

    coletivo e no motorizado, no sentido de contribuir para a reabilitao

    das reas urbanas centrais;

    Promover o desenvolvimento do transporte pblico, com vistas

    melhoria da qualidade e eficincia dos servios.

    Promover e incentivar a utilizao de combustveis alternativos e

    menos poluentes.

    Essas diretrizes nos remetem mais uma vez a uma idia de mobilidade

    urbana como uma resultante da integrao dos fluxos de deslocamento de pessoas

    e bens no espao urbano, sejam esses fluxos feitos por veculos motorizados ou no

    motorizados, sendo tambm considerado como determinante para o

    desenvolvimento urbano, socioeconmico e tecnolgico de uma cidade. Para que

    possamos finalizar esse captulo, vamos agora fazer uma relao das leis

    conceituadas na seo anterior com a mobilidade urbana.

    Lei de zoneamento e uso do solo

    Como vimos, a Lei de Zoneamento e Uso do Solo nos permite a utilizao do

    solo e nos fornece as condies para realizar em diferentes reas da cidade

    algumas atividades distintas. Juntamente a essa lei so exemplificados alguns

    parmetros urbansticos de ocupao do solo voltados para o adensamento urbano.

    A importncia de relacionar os tipos de uso do solo e o zoneamento da cidade

    com hierarquizao viria e os aspectos de mobilidade urbana est nas condies

    que se pode ter para controlar algumas atividades capazes de impactos urbansticos

    e de gerao de trfego.

    Para promover a mobilidade urbana, importante que a abordagem darelao entre uso do solo, transporte e sistema virio incorpore uma viso

    que priorize o transporte pblico coletivo e valoriza a apropriao do

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    espao pblico pelo cidado, a circulao de pedestres e veculos nomotorizados.1

    Alm disso, importante que a Lei de Zoneamento e Uso do Solo esteja,

    entre outras coisas, compatibilizada com as diretrizes de mobilidade definidas tanto

    nos Planos Diretores quanto nos Planos de Transporte e Mobilidade de cada

    municpio, principalmente as diretrizes que esto relacionadas integrao entre os

    parmetros urbansticos e previso de novos programas, aes e investimentos.

    Tambm importante que a lei estabelea parmetros de ocupao do solo

    compatveis com a oferta de infra-estrutura, equipamentos e servios, contribuindo

    para a reduo do deslocamento e melhoria na mobilidade, principalmente da

    populao que utiliza o transporte coletivo.

    Lei de parcelamento do solo

    A relao entre parcelamento do solo e mobilidade urbana pode ser analisada

    por vrias vertentes. Uma delas explicita que para a implantao de uma poltica de

    mobilidade urbana, seja importante a conciliao entre a Lei de Parcelamento do

    Solo, e tambm a de Zoneamento com o Plano Diretor. Com isso, torna-se

    necessrio que a lei coba o parcelamento do solo em reas distantes dos centros

    de comrcio, servio e emprego sem antes estruturar e dimensionar as reas de

    expanso urbana, com o intuito de evitar o distanciamento urbano e a necessidade

    de novos investimentos em transporte e sistemas virios.

    Para que a Lei de Parcelamento do Solo aja como instrumento de promoo

    da mobilidade urbana necessrio que ela incorpore em suas normas diretrizes que

    tenham como finalidade reverter o privilgio na utilizao dos espaos de circulao

    pelos veculos motorizados, incentivando a apropriao do espao pblico pelos

    cidados e valorizando os espaos de convivncia e de circulao de pedestres e

    bicicletas.

    1BERGMAN, Lia e RABI, Ndia Ins Albesa (coord.) Mobilidade e Poltica Urban: subsdios para uma

    gesto integrada. IBAM, Ministrio das Cidades: Rio de Janeiro, 2005. Pgina 27.

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    Entre os objetivos a serem recomendados pela Cartilha de Mobilidade e

    Polticas Pblicas publicada pelo IBAM e Ministrio das Cidades para a melhora da

    mobilidade urbana atravs da Lei de Parcelamento do Solo podemos destacar:

    incentivo promoo de loteamentos de baixa renda em reas bem atendidas

    por trem ou metr;

    exigncia, para os novos loteamentos, de um projeto virio de forma integrada

    ao sistema virio existente, principalmente no que tange criao de vias de

    integrao dos bairros;

    estmulo oferecidos aos novos loteamentos a contriburem para a

    implementao do conceito de multicentralidade flexibilidade de usos

    adequando as novas vias aos transportes pblicos;

    reserva, nos novos projetos de loteamentos, de reas para meios de

    transportes no motorizados, especialmente para a construo de ciclovias e

    ciclofaixas;

    adoo de desenhos especficos de vias, rotatrias e estreitamentos

    compatveis com o uso predominante da rea, proporcionando a reduo da

    velocidade dos veculos e priorizando a segurana dos pedestres.

    Cdigo de obras

    A relao entre o espao construdo, pblico ou privado, e o espao urbano

    de circulao e transportes faz com que o Cdigo de Obras se torne uma lei

    importante sob a tica da mobilidade urbana. Isso porque o Cdigo de Obras pode

    tratar especificamente, por exemplo, dos diferentes acessos de pessoas, indicando e

    dimensionando onde h necessidade de lugares de encontro e espera. Outra ajuda

    que essa lei pode dar na mobilidade urbana especificando o acesso de veculos

    que prestam servio pblico como ambulncia e os locais de veculos de transportes

    de pessoas e mercadorias com as reas de estacionamento consideradas de

    interesse para a mobilidade urbana.

    Outro assunto de suma importncia para a mobilidade urbana e que se

    encontra presente no Cdigo de Obras com relao s caladas. O Cdigo deObras de Campos dos Goytacazes, como de muitos outros municpios pelo pas,

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    transfere ao proprietrio de um imvel ou terreno a construo, reforma e

    manuteno das caladas em toda a extenso de suas testadas. O descuido de

    alguns municpios em no fiscalizar o cumprimento dessa responsabilidade por parte

    dos proprietrios de imveis, como tambm a sua ausncia em estabelecer padres

    de projetos de caladas de forma e garantir o trnsito e a acessibilidade de toda a

    populao, faz com que o princpio bsico de mobilidade urbana, que a priorizao

    dos pedestres, seja esquecido.

    Contudo, alguns municpios vm trabalhando no sentido de se padronizar as

    caladas, tornando-as mais largas e de fcil acesso principalmente para pessoas

    com dificuldade de locomoo, como o caso dos projetos do Rio Cidade, na cidade

    do Rio de Janeiro.

    Projeto Rio-Cidade na Praa Afonso Pena na Tijuca. Rampas para acesso s pessoas comdificuldade de locomoo e grandes espaos de circulao auxiliam na mobilidade urbana.

    Fonte www.rio.rj.gov.br

    Uma inovao dos Cdigos de Obras que exija, nos projetos pblicos ou

    privados, a implantao dos conceitos de acessibilidade e desenho universal pode

    contemplar de forma exemplar a mobilidade urbana.

    Podemos concluir de forma bem sucinta que uma cidade que implementeuma poltica de mobilidade urbana oferecendo uma maior e melhor circulao de

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    pessoas, bens e produtos e um maior dinamismo de suas funes urbanas de uso e

    ocupao do solo pode acabar valorizando o seu espao, trazendo um

    desenvolvimento econmico e social de maneira mais acelerada.

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    A rua para eles apenas um alinhamentode fachadas, por onde se anda nas

    povoaes...Ora, a rua mais do que isso,a rua um fator da vida das cidades, a rua

    tem alma!

    Joo do Rio.

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    CAPTULO 2 CONHECENDO A REA DE ESTUDO

    2.1 LOCALIZAO E HISTRICO

    A rea de estudo est localizada no municpio de Campos dos Goytacazes,

    regio norte-fluminense do Estado do Rio de Janeiro e distante 263km da capital,

    Rio de Janeiro. Com uma rea de 227,6 ha, o quadriltero de estudo foi delimitado

    ao norte pela Avenida Pelinca, ao sul pela Avenida 28 de Maro, ao leste pela RuaCornlio Bastos e a oeste pela Rua Baro de Lagoa Dourada, ocupando assim

    partes dos bairros Parque Pelinca e Parque Tamandar, que constituem um sub-

    centro da cidade.

    Mapa de localizao do municpio de Campos dos Goytacazes dentro de Estado do Rio de Janeiro.

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    Foto area de cidade de Campos dos Goytacazes. Em destaque a rea de estudo.

    Fonte: Google Earth.

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    a parte mais alta dessa margem, onde hoje se localiza a Praa So Salvador e o seu

    entorno.

    Em 1835, quando h a elevao do lugarejo categoria de cidade, o centro

    urbano se encontrava no trecho compreendido entre a Rua So Bento (atual Baro

    de Miracema), Rua do Ouvidor (atual Marechal Floriano), indo no sentido sul ao

    longo da Rua Direita (atual Treze de Maio) e a Rua do Rosrio (atual Carlos de

    Lacerda), contornando, assim, a Lagoa do Furtado, onde hoje se encontra o Parque

    Alberto Sampaio, fazendo com que o entorno da atual Catedral fosse o local mais

    densamente ocupado.

    Mapa da cidade de Campos dos Goytacazes no ano de 1840.Fonte: Jos Manoel de Siqueira Pereira. Evoluo urbana e arquitetnica em trs bairros de Campos

    dos Goytacazes.

    Com a instalao da ferrovia a partir do ano de 1837, a cidade v a ocupao

    do seu territrio estender-se no sentido oeste, onde foi instalada a estao

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    ferroviria. Nota-se que a ocupao do solo nessa direo deu-se primeiramente

    pelas classes sociais mais elevadas, como a residncia do Baro da Lagoa

    Dourada, construda no ano de 1864 e que hoje abriga o Colgio Estadual Liceu de

    Humanidades de Campos.

    No ano de 1842, a cidade recebe seu primeiro plano urbanstico realizado

    pelo engenheiro Amlio Pralon. O Plano Pralon, como conhecido, destacava como

    principal objetivo a valorizao de um espao livre para a permanncia de pessoas,

    representado, basicamente, por meio de praas. Sendo assim, o Plano apresenta

    esses espaos livres como pontos de convergncia das ruas, formando um conjunto

    regular que pode ser observado at os dias de hoje.

    O traado escolhido foi o clssico do tipo tabuleiro de xadrez. Pralon iniciaos trabalhos de calamento de ruas centrais, aterro e drenagem de lagoase pntanos, recuperao de estradas e pontes. Sem realizar um estudo detopografia e das curvas de nvel o engenheiro foi geometricamentedesenhando as ruas, os quarteires e as praas. 1

    As intervenes urbansticas realizadas na cidade at o final do sculo XIX

    foram feitas com o intuito de reforar a importncia e o embelezamento do centro e

    de inseri-la num processo mais amplo de modernizao brasileira. Dentro dessasintervenes, temos alm da estrada de ferro citada anteriormente, a construo de

    canais como o canal Campos - Maca2, instalao de redes de gua e esgoto e a

    luz eltrica.

    J no incio do sculo XX, no ano de 1902, o engenheiro sanitarista Saturnino

    de Brito elabora um Plano Urbanstico para a cidade de Campos. Esse Plano visava

    intervir na cidade como um todo, e tinha suas principais abordagens nas questes

    de higiene, salubridade e sade.3Foi no Plano de Brito que a margem esquerda do

    Rio, o distrito de Guarus, passou a ser includa no permetro urbano de Campos,

    1PEREIRA, Jos Manoel de Siqueira. Evoluo urbana e arquitetura em trs bairros de Campos dos

    Goytacazes.. Dissertao de mestrado em Planejamento Regional e Gesto de Cidades UCAM Campos dos Goytacazes, 2004. Pgina 42.2Com construo iniciada em 1844 e concluda em 1872, o canal tinha como objetivo transportar

    pessoas e mercadorias entre Campos e Maca. Com aproximadamente 100 km de extenso, o canal considerado a segunda maior hidrovia artificial do mundo. Maiores informaes ver FARIA, TeresaPeixoto (Coord.). Seminrio de Saturnino de Brito, 100 anos do Projeto Saneamento de Campos. Editora Viena. Santa Cruz do Rio Pardo, 2005.3

    Para saber mais sobre o plano urbanstico de Saturnino de Brito ver: FARIA, Teresa Peixoto(Coord.). Seminrio de Saturnino de Brito, 100 anos do Projeto Saneamento de Campos. EditoraViena. Santa Cruz do Rio Pardo, 2005.

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    fazendo com que o outro lado da cidade comeasse a se expandir, proporcionando

    um crescimento urbano para direo oposta ao tecido original.

    Mapa do Projeto de Saturnino de Brito de 1902.

    Fonte: Jos Manoel de Siqueira Pereira. Evoluo urbana e arquitetnica em trs bairros de Camposdos Goytacazes

    Desde o Plano Urbanstico de Saturnino de Brito at a dcada de 30, quando

    ele est ainda sendo colocado em prtica, todas as intervenes urbanas na cidade

    visavam critrios de higiene, sade, embelezamento e ampliao das reas centrais

    da cidade. Segundo Faria (2005, p. 4785) a expanso da cidade orientada em

    direo a oeste, em funo de alguns investimentos realizados em equipamentos

    urbanos, como a construo da Praa do Liceu, alinhamento da Rua Alberto Torres,construo da Estao de Ferro Leopoldina e da linha de bonde ligando o centro

    Estao Central de Trem.

    Temos ento at esse momento trs etapas de expanso urbana na cidade:

    uma do centro em direo a oeste, uma segunda em direo a sul/leste, em sentido

    do litoral e a ltima com o aparecimento da rea de Guarus.

    Na dcada de 40, por exigncia dos problemas de ordem scio-espacial que

    j comeavam a ficar evidentes e alarmantes, alguns critrios de uso e ocupao doespao urbano da cidade tiveram que ser revistos. Foi ento que em 1944 a

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    empresa Coimbra Bueno e Cia Ltda elaborou, a pedido do Prefeito da poca Salo

    Brand, um Plano Urbanstico para a cidade. Esse plano foi elaborado tendo como

    base os preceitos do urbanismo moderno, com o intuito de melhorar a configurao

    espacial da cidade, corrigindo os erros contidos nas intervenes anteriores e,

    principalmente, orientando a expanso urbana da cidade.

    Tendo a participao do arquiteto francs Alfred Agache, o Plano foi

    elaborado com um detalhe minucioso, sem precedentes na histria urbana da

    cidade, e apesar de no ter sido colocado em prtica por completo, serviu de base

    para futuras intervenes na cidade. Segundo Faria (2005, p.4788), o ponto de

    destaque do Plano est no fato dele privilegiar uma organizao da cidade, aliando

    beleza e funcionalidade, orientando o sentido de expanso da cidade em direo sreas perifricas.

    Esquema do Projeto Coimbra Bueno em 1944.Fonte: Jos Manoel de Siqueira Pereira. Evoluo urbana e arquitetnica em trs bairros de Campos

    dos Goytacazes

    Entre as dcadas de 50 e 60, o parcelamento e ocupao do solo comeam a

    se intensificar, ultrapassando as margens das ferrovias e indo em todas as direes

    da cidade, na forma de grandes loteamentos, acelerando assim o processo de

    urbanizao e obedecendo as diretrizes presentes no Plano de Urbanizao

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    aprovado pela Prefeitura. Ainda nessa poca, a cidade j apresenta um grande

    nmero de vazios urbanos, em locais at mesmo prximos ao centro da cidade.

    Como reflexo da consolidao do adensamento das reas parceladas na

    dcada de 50 e 60 e pela reduo do ritmo do crescimento da economia local, a

    cidade apresenta uma expanso urbana bem mais lenta na dcada de 70. As

    tendncias de expanso ao longo do rio Paraba do Sul e no sentido norte

    acompanhando a estrada de ferro e a BR 101 continuam mantidas de maneira mais

    branda. No sentido sul da cidade, o crescimento da malha urbana freado pelas

    terras de aproveitamento agro-industrial e pelas grandes extenses de terras

    pertencentes aos proprietrios das usinas de cana-de-acar, fazendo com que o

    adensamento e o crescimento vertical das reas j consolidadas fossemincentivados.

    Com o intuito de coibir as irregularidades ocorridas no tecido urbano da

    cidade e nas reas menos privilegiadas e carentes de infra-estrutura, o ento

    prefeito e arquiteto Raul Linhares elaborou no ano de 1979, com base no Plano

    Coimbra Bueno, o Plano de Desenvolvimento Urbanstico e Territorial de Campos

    (PDUC). Faria (2005, p. 4789) diz que tal plano fora definido pela tentativa de

    promoo de desenvolvimento fsico e territorial urbano do municpio de Campos, deacordo com as relaes scio-econmicas, geopolticas e culturais do momento.

    Tanto as entidades pblicas como as privadas deveriam obedecer s leis

    consideradas como de efetivao do PDUC: 1) Lei dos Permetros Urbanos; 2) Lei

    de Zoneamento e Uso do Solo; 3) Lei de Parcelamento do Solo e 4) Cdigo de

    Obras1.

    1Essas leis foram revistas no ano de 1998.

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    Mapa demonstrando o processo de expanso urbana na cidade de Campos dos Goytacazes

    entre metade do sculo XIX e sculo XX. Fonte: ALVES, Maria da Glria e COSTA, AlineNogueira. Monitoramento da expanso urbana no Municpio de Campos dos Goytacazes

    R.J. Utilizando o Geoprocessamento.Anais XII Simpsio Brasileiro de SensoriamentoRemoto. Goinia. 2005. Pgina 3734.

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    A partir do final do sculo XX e nos primeiros anos do sculo XXI, a cidade

    comea a apresentar um acelerado crescimento em direo ao litoral, assim como

    continua forte o crescimento urbano ao redor da BR 101 no sentido norte. Esses

    dois eixos de crescimento reforam a tendncia das cidades de se expandirem,

    deixando o centro j consolidado e adensado em sentido a periferia.

    Ainda segundo Faria (2005, p.4789), o que podemos concluir que os

    diversos planos urbansticos elaborados para a cidade, por no terem sido

    implantados na sua integridade e por falta de intervenes concretas nas reas

    perifricas, voltadas para as necessidades das camadas populares, no eliminaram

    as contradies do espao urbano da cidade.

    Ocupao urbana da rea de estudo - Pelinca

    Apesar dos limites envolvendo a nossa rea de estudo j estarem includos

    no Plano Urbanstico de Saturnino de Brito no incio do sculo XX, foi na dcada de

    40 deste mesmo sculo, aps a formulao do Plano Coimbra Bueno, que a rea

    comea efetivamente a ser estruturada. O prefeito Salo Brand estimula o

    crescimento dessa rea quando manda executar um projeto de planificao e

    urbanizao da Praa da Bandeira, em frente ao novo Hospital da Santa Casa de

    Misericrdia, que na poca estava em construo no incio da Avenida Pelinca.

    O bairro a sudoeste da cidade resultou do loteamento de partes das terras

    pertencentes fazenda da Usina do Queimado, de propriedade da famlia Nogueira.

    Segundo alguns historiadores e moradores antigos do local, o nome Parque Pelinca

    resultou do nome de um padre que foi morar numa chcara nessas imediaes, oPadre Pelinca.

    A ocupao do bairro ocorreu efetivamente nos anos 50, devido basicamente

    ao esgotamento das reas centrais e a novidade de se morar afastado do centro, em

    casas de estilo moderno, ocupadas por pessoas de mais alta renda.

    Na dcada de 70, a Pelinca, assim como outras reas da cidade, comea a

    passar por um processo de verticalizao que provocou, e provoca at hoje,

    impactos na paisagem urbana e na infra-estrutura da cidade. Sobre esse processode verticalizao Faria diz:

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    em torno dos bairros Jardim Maria de Queiroz e Parque Tamandar que severifica um processo de verticalizao mais radical. Mantendo a mesmalgica que orientou a sua ocupao na primeira metade do sculo, diante da

    estrutura scio-espacial e urbanstica existente, a se instalam edifciosresidenciais altos, destinados camada de alta e mdia renda. Ao mesmotempo em que vem se consolidando como rea de comrcio e serviosdiversificados, notadamente nos seus principais eixos virios, a AvenidaPelinca e Rua Tenente Coronel Cardoso. (2005, pginas 10 e 11.)

    Devido a dificuldade de se manter um bairro com um alto valor do solo num

    espao unicamente residencial, a Pelinca foi se diversificando, sendo ocupado por

    construes comerciais, caracterizando a rea numa zona de mltiplo uso. Um dos

    primeiros comrcios a se instalar no local foi a boutique Zaz. Na poca daconstruo da loja, em 1970, o bairro era formado basicamente de chcaras e

    residncias unifamiliares.

    A intensa verticalizao, aumentando a densidade formada por indivduos de

    alta renda, atrai a instalao de servios e comrcios. Um exemplo disso foi a

    construo do Edifcio Baro da Lagoa Dourada (conhecido como Pelinco).

    Construdo no final da dcada de 70 s margens da principal avenida do bairro, o

    edifcio possui 444 apartamentos com dois quartos cada e distribudos em oitoblocos. A construo desse edifcio demandou, devido ao grande nmero de

    moradores, a implantao de comrcios e servios no local. Vale ressaltar que,

    aps a construo do Pelinco, foi construdo um centro de compras no mesmo

    quarteiro, com diversas lojas e servios.

    Outro exemplo de demanda de comrcio e servios na rea foi a construo

    do Edifcio Solar da Lechia. Tambm localizado na Avenida Pelinca, o Edifcio,

    construdo no incio dos anos 80, constitudo de um nico bloco, com 30apartamentos amplos com varandas, trs quartos e uma rea de lazer comum com

    piscina, sauna, quadra e churrasqueira. Formado por uma populao de alto poder

    aquisitivo, o edifcio depois de construdo demandou uma srie de servios para que

    essa mesma populao, juntamente com a populao j existente no local, pudesse

    realizar suas atividades dirias. Foi ento que em 1988 o primeiro grande shopping

    foi construdo no local, o Parquecentro Shopping. A construo desse shopping no

    local muda de vez a imagem de um bairro unicamente residencial, consolidado a

    partir de ento como um eixo de comrcio e servios.

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    Edifcio Baro da Lagoa DourFonte: Arquivo pes

    O que vemos a

    desenfreada, permissiv

    ada (Pelinco). Edifcio Solar doal. Fonte: Arquivo

    Parquecentro Shopping.Fonte: Arquivo pessoal.

    partir da uma verticalizao cada

    , do ponto de vista da legislao munic

    43

    a Lechia.pessoal.

    ez mais intensa e

    ipal. Isso acaba por

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    possibilitar um adensamento cada vez maior do bairro, composta por uma

    populao com um padro de vida muito alto, desejos cada vez mais especficos,

    fazendo com que, alm de um crescimento populacional significativo, tambm haja

    um desenvolvimento comercial desorganizado, obedecendo basicamente s leis de

    mercado.

    2.2 MAPEAMENTO

    O mapeamento da rea de estudo foi feito a partir de visitas ao local e atravs

    de coletas de dados do Censo Demogrfico 2000 ( IBGE, 2000).

    Com todo esse material em mos, pode ser traado um perfil scio-

    econmico da populao, alm de mapear o uso do solo e os gabaritos do local.

    Pode-se tambm traar os principais trajetos dos usurios da rea, que vem a ser

    tanto a populao local como as pessoas que utilizam a rea para trabalhar, estudar,

    comprar e se divertir.

    2.2.1 Levantamento Fotogrfico

    Metodologia utilizada

    Para fazer um levantamento fotogrfico estruturado, embasado em conceitos

    de anlise da cidade, adotaremos os conceitos de legibilidade e imaginabilidade de

    Kevin Lynch e a sua imagem da cidade.Nascido em 1918 Kevin Lynch sempre apresenta em suas pesquisas e suas

    obras um olhar sensorial da cidade, onde o habitante tem que sentir onde esto os

    limites e os pontos importantes, ou seja, o ponto de partida para Lynch a insero

    do homem na cidade.

    Em uma pesquisa sobre a forma perceptiva da cidade, em que resultou o livro

    A Imagem da Cidade, publicado no ano de 1960, Kevin Lynch adota trs cidade

    americanas: Los Angeles, Boston e Jersey-City, como objeto de estudo, e cria apartir da os elementos da imagem da cidade.

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    Esses elementos foram divididos em cinco grupos:

    Os caminhos vias pelas quais as pessoas circulam de maneira habitual,

    podendo ser ruas, caladas e passeios.

    Os limites fronteiras entre duas fases, constituindo pontos de referncia

    laterais e no eixos de coordenao.

    Bairros fragmentos da cidade e que do personalidade a um determinado

    local.

    Ns so as ramificaes, os cruzamentos e os pontos estratgicos da

    cidade onde o observador pode penetrar.

    Pontos de referncia outro ponto estratgico da cidade, mas o observador

    no pode penetrar neles. Pode ser edifcios, sinais grficos e acidentes

    geogrficos.

    Demonstrao dos dados

    Caminhos:

    Rua Cornlio Bastos.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Rua Manoel Teodoro.

    Fonte: Arquivo pessoal.

    Rua Dr. Siqueira.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Avenida Pelinca.

    Fonte: Arquivo pessoal.

    Avenida 28 de Maro.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Limites:

    Ciclovia na Avenida 28 de Maro.Fonte: Arquivo pessoal.

    Bairros:

    rea residencial homogenea.Fonte: Arquivo pessoal.

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    rea de residncia unifamiliares e ao fundo multifamiliares.

    Fonte: Arquivo pessoal.

    Ns:

    Cruzamento da Avenida 28 de Maro com Rua Voluntrios da Ptria.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Cruzamento da Avenida Pelinca com Voluntrios da Ptria.

    Fonte: Arquivo pessoal.

    Cruzamentos da Avenida Pelinca com Rua Conselheiro Jos Fernandes.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Pontos de referncia:

    Hospital da Santa Casa de Misericrdia de Campos.Fonte: Arquivo pessoal.

    Shopping Pelinca Square Center.

    Fonte: Arquivo pessoal.

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    Shopping Parquecentro.Fonte: Arquivo pessoal.

    CEFET Campos dos Goytacazes.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Shopping Avenida 28.Fonte: Arquivo pessoal.

    2.2.2 Aspectos scio-econmicos

    Metodologia utilizada

    O perfil scio-econmico da rea de estudo foi levantado com base em dados

    do Censo Demogrfico 2000 (IBGE, 2000). Para isso, procurou-se identificar os

    setores censitrios do IBGE que coincidiam com a rea de estudo. Percebeu-se que

    um desses setores, alm de incluir nossa rea de estudo, inclua uma parte a mais

    do que queramos, mas que para fins de estudo no teria uma importncia

    significativa, visto que no se tratava de um setor com caractersticas distintas da

    rea.

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    Mapa destacando a rea que no faz parte da rea de estudo, mas que pertence ao setor censitrio.

    Fonte: Secretaria de obras e urbanismo.

    O perfil scio-econmico foi montado por meio de trs variveis: idade mdia

    da populao, renda mdia mensal dos responsveis pelo domiclio e escolaridade

    mdia desses mesmos responsveis. O fato de ter escolhido esses trs fatores para

    traar o perfil da rea est diretamente ligado aos fatores que condicionam a

    movimentao das pessoas pela cidade, como foi visto quando conceituamos

    mobilidade urbana.

    Resultados

    Com relao idade mdia da populao da rea, percebemos, de acordo

    com o grfico a seguir, que h uma predominncia de pessoas com idade mdia na

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    faixa dos 30 a 44 anos, o que mostra uma tendncia de crescimento da populao

    da terceira idade para daqui h alguns anos. Para ns, o importante em destacar

    essa tendncia diz respeito a implantao de projetos e polticas que visem a

    melhorar as questes de acessibilidade universal.

    Grfico com a idade mdia da populao da rea de estudo.Fonte: CENSO 2000.

    O grfico da renda mdia nominal mensal dos responsveis pelos domiclios

    nos mostra a predominncia de uma classe mdia-alta, com a maioria das pessoas

    ganhando uma mdia de no mnimo R$ 1.500,00 (renda considerada boa para os

    padres de vida da cidade). Percebemos tambm no grfico que, se atentarmos

    para um universo de renda acima de dez salrios mnimos, o nmero de pessoas

    supera o somatrio de pessoas responsveis pelo domiclio que ganham at cinco

    salrios mnimos.

    IDADE MDIA

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    0 a 14 15 a 29 30 a 44 45 a 59 60 a 79 acima de80

    anos

    pessoas

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    Grfico de renda mdia nominal mensal das pessoas responsveis pelos domiclios.

    Fonte: CENSO 2000

    O grfico de escolaridade mdia dos responsveis pelos domiclios est

    diretamente ligado ao grfico de renda mdia, visto que quanto maior a renda, maior

    o nmero de anos de estudo. E na nossa rea de estudo isso se confirmaplenamente. O grfico mostra um grande nmero de pessoas que possuem o ensino

    mdio (antigo segundo grau e que equivale a uma mdia de 10 anos de estudo).

    Nota-se tambm que s o nmero de responsveis pelo domiclio que estudaram por

    mais de 17 anos j superior ao nmero de responsveis pelo domiclio que

    possuem apenas o ensino fundamental.

    RENDA MDIA NOMINAL MENSAL -

    PESSOA RESPONSVEL PELO

    DOMICLIO

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    0 a 3 3 a 5 5 a 10 10 a

    15

    15 a

    20

    acima

    de 20

    salrios mnimos

    pessoas

    responsveispelo

    domiclio

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    Grfico de escolaridade mdia dos responsveis pelos domiclios.

    Fonte: CENSO 2000.

    2.2.3 Uso do solo

    Metodologia utilizada

    Para a classificao dos usos do solo na rea de estudo, foi tomada como

    base a classificao do uso do solo presente na Lei de Zoneamento do municpio de

    Campos dos Goytacazes do ano de 1998.

    A lei define que os usos e atividades implantadas no solo municipal devero

    conter as seguintes classificaes: residencial, comercial, servios, industrial,

    institucional e misto. Quanto conceituao desses usos, a lei divide o usoresidencial em residencial unifamilar (com edificaes destinadas habitao

    contendo uma unidade por lote) e multifamiliar (com edificaes destinadas

    habitao correspondendo a mais de uma unidade por lote).

    Ainda de acordo com a lei, o uso comercial diz respeito a atividades de

    comrcio voltadas para uso comercial, assim como aquelas voltadas para

    comercializao de produtos e artigos de uso pessoal e domstico, drogarias,

    papelarias, livrarias, lojas, floriculturas, veculos e acessrios, lojas especializadas,

    vidraarias e outras atividades similares.

    ESCOLARIDADE M DIA - RESPONS VEL PELODOMICLIO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    0 a 4 5 a 8 9 a 11 12 a 16 17 ou mais

    anos estudados

    pessoasrespnsveis

    pelodomiclo

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    O uso do solo com que recebe a classificao de servios nos remete a

    atividades ligadas ao atendimento s pessoas como salo de beleza, consultrios,

    escritrios, agncias bancrias, lavanderias, restaurantes, hotis, postos de

    abastecimento e outras atividades similares. Vale destacar que para confeco do

    mapa de uso do solo, os servios sero marcados juntamente com o comrcio.

    No uso institucional esto compreendidos espaos ou instalaes voltados ao

    atendimento da populao com atividades de educao, sade, cultura, lazer,

    recreao, culto religioso, esportes, administrao e servios pblicos, terminais de

    transportes, praas, rodovirias e outros usos semelhantes.

    O ltimo fator que ser usado em nosso mapa o uso misto, que

    compreende atividades de natureza distintas desenvolvendo-se em um mesmo loteou edificao, como residncia e comrcio, residncia e servios ou comrcio e

    indstria e demais combinaes possveis.

    Representao dos dados

    Aps o mapeamento feito na rea de estudo, podemos fazer uma anlise de

    seu uso e ocupao do solo em trs partes: a primeira parte, que desperta nossa

    ateno, o grande eixo de comrcio e servio formado na Avenida Pelinca. Apesar

    de dois dos maiores condomnios residenciais da nossa rea estarem situados

    nessa avenida (Edifcio Baro da Lagoa Dourada, conhecido como Pelinco e

    Edifcio Solar da Lechia) o que predomina o comrcio e servio, principalmente por

    estar ali presente dois dos grandes shoppings da cidade e um centro de compras,

    alm das lojas, bares, restaurantes e bancos.A segunda anlise feita dentro dessa vertente a ocupao residencial

    unifamiliar existente. Demonstrando que ainda existe um tecido urbano antigo que

    resiste s especulaes imobilirias atuais.

    O ltimo fato que nos faz prestar ateno quanto quantidade de vazios

    urbanos existentes na rea. De uma forma geral, vazios urbanos podem ser

    compreendidos como lotes no edificados dotados de infra-estrutura de esgoto,

    gua e transportes. certo que alguns desses vazios, hoje em dia, soestacionamentos rotativos, ou seja, tm uma funo clara, mas para nvel de

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    pesquisa adotaremos esses estacionamentos como vazios urbanos, uma vez que

    percebe-se que a permanncia de muitos deles s se d em virtude de uma

    valorizao de rea at uma futura venda.

    2.2.4 Gabaritos

    Metodologia utilizada

    O mapeamento dos gabaritos da rea de estudo foi feito com o mesmoparmetro de dados do mapeamento de uso do solo, que nos d uma noo de

    como vai se comportar o mapa de gabarito do local.

    Para que consegussemos fazer um mapa de gabaritos, inicialmente

    delimitamos trs faixas de alturas: gabaritos at 6,00m de altura; gabaritos entre

    6,00m e 10,00m de altura e gabaritos acima de 10,00m de altura. Vale destacar que

    uma residncia unifamiliar de um pavimento equivale a uma altura mdia em torno

    de 3,00 a 4,00m.

    Representao dos dados

    Como foi dito anteriormente, o mapa de uso do solo j nos apresenta uma

    noo de como seria o gabarito da rea, posto que o eixo de comrcio e servio,

    observado no mapa anterior, leva a um eixo com os maiores gabaritos nesse mapa.

    Quanto grande rea de residncias unifamiliares, instaladas no interior da rea de

    estudo, nos mostra uma rea de baixo gabarito, na sua maioria at 6,00m de altura.

    Outro fato, que deve ser destacado, diz respeito ao baixo gabarito da Avenida

    28 de Maro. Apesar dessa via ser uma eixo de comrcio e servio previsto na Lei

    de Zoneamento da cidade e das suas extremidades possurem gabaritos acima de

    10,00m, podemos observar ainda um nmero grande de construes com gabaritos

    at 6,00m. Essa anlise tambm ser importante no decorrer do trabalho.

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    2.2.5 Hierarquizao viria:

    Metodologia utilizada

    Para poder hierarquizar as vias dentro de nossa rea de estudo, foi usada

    como referencial a classificao viria presente na Lei de Parcelamento do Solo do

    municpio de Campos dos Goytacazes de acordo com as seguintes categorias e

    larguras mnimas:

    Vias arteriais: largura mnima de 36,00m e passeio mnimo de 6,00m;

    Vias coletoras ou distribuidoras: largura mnima de 30,00m e passeio mnimo

    de 3,00m;

    Vias de circulao ou penetrao: largura mnima de 14,00m e passeio

    mnimo de 2,50m;

    Vias locais ou de impasse: largura mnima de 10,00 e passeio mnimo de

    2,00m.

    Representao dos dados

    Aps anlises feitas na rea, podemos concluir que as vias arteriais, de maior

    largura, no teriam representao em nosso mapa.

    Foi definida como vias coletoras a Avenida Pelinca, perimetral norte da rea

    de estudo e Avenida 28 de Maro, perimetral sul. Alm de serem as vias que se

    enquadram no conceito da Lei de Parcelamento do Solo, elas servem de entrada e

    sada de pessoas e produtos e interliga a rea de estudo com vrias partes dacidade.

    As vias de circulao e penetrao da rea estudada so as Ruas Voluntrios

    da Ptria, Conselheiro Jos Fernandes, Baro da Lagoa Dourada e Rua Dr.

    Siqueira. Essas vias absorvem tambm o trnsito das vias coletoras.

    Por fim, demarcamos as vias locais ou de impasse como as Ruas

    Desembargador Alberto Ferreira da Silva Pinto, Rovenil R. Moraes, Campos Sales,

    Manoel Teodoro, Silva Jardim, Cornlio Bastos e Travessa Ferreira. Essas viaspossuem um trnsito bem menos intenso que as outras e servem tambm de ligao

    interna da rea.

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    2.2.6 Mobilidade e trajeto de usurios

    Metodologia utilizada

    O trajeto dos usurios da rea de estudo foi feito a partir de anlise no

    estruturada no local levando em considerao duas variveis. A primeira est

    relacionada aos pontos de maior atrao e demanda de pessoas e a segunda, aos

    eixos de circulao de veculos. A partir da foram escolhidos trs pontos que atraem

    um nmero grande e contnuo de pessoas e trs eixos de circulao de veculos.

    Representao dos dados

    O primeiro eixo observado conforme o mapa foi Avenida 28 de Maro.

    Demarcado com o nmero 1, esse eixo apresenta um grande fluxo de carros que

    cortam a rea para acessar outras partes da cidade. O trajeto de pedestres feito

    nessa parte basicamente da Avenida 28 de Maro em sentido ao interior da rea

    de estudo ou no sentido contrrio, do interior da rea de estudo Avenida 28 de

    Maro. Esse trajeto na sua maioria feito com intuito de se locomover por meio dos

    nibus que trafegam por essa Avenida. Vale ressaltar que das cinco linhas de nibus

    que passam pela rea, quatro passam pela 28 de Maro, e por isso a importncia

    desse trajeto para o local.

    O segundo trecho demarcado no mapa est situado no outro extremo da

    nossa rea, a Avenida Pelinca, demarcado com o numero 2. Como o principal eixo

    de comrcio e servio da rea de estudo, essa avenida atrai trajetos de vrios tipos

    de usurios. Aqueles que vm a trabalho e que acessam a rea a p vindo

    basicamente da Avenida 28 de Maro ou pela direita da Avenida Pelinca partindo da

    Rua Hlion Povoa (Beira Valo), como tambm dos prprios moradores do local,

    que fazem o trajeto a p do interior da rea de estudo em direo principalmente aos

    shoppings e bancos localizados nesse eixo. Vale ressaltar que esse trecho, apesar

    de ser o principal no que tange ao acesso ao comrcio e servio, atendido por

    apenas uma linha de nibus.

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    O trajeto feito de carro nesse segundo trecho tem o intuito de acessar ou os

    servios localizados nessa rea ou outras reas situadas posteriores a nossa rea

    de estudo, pois a Avenida Pelinca segue sendo um eixo de comrcio e servio at o

    seu final, na Rua Tenente Coronl Cardoso, rea no estudada nesse trabalho.

    O ponto de trajeto demarcado no mapa com o nmero 3diz respeito a Rua

    Voluntrios da Ptria. Esse eixo importante, pois faz a permeabilidade da rea de

    estudo e liga a Avenida 28 de Maro ao centro da cidade, na Avenida XV de

    Novembro, passando assim pela Avenida Pelinca. Mas o fato que vem despertado a

    ateno desse eixo o aumento do trajeto de usurios a p, fazendo um eixo de

    servio secundrio, interligando os trs principais shoppings da rea - Parquecentro,

    Pelinca Square e Shopping Avenida 28.Passando agora para os pontos que atraem grande nmero de pessoas, foi

    marcado no mapa com o nmero 4o CEFET Campos. O centro de educao exerce

    uma fora grande dentro da rea, no que diz respeito aos trajetos de usurios, uma

    vez que h uma necessidade diria de se chegar at esse local, seja para estudo ou

    trabalho. Esse trajeto feito basicamente pela Avenida 28 de Maro por meio de

    carro, nibus ou at mesmo de bicicleta, pela ciclovia que corta a avenida.

    Outro trajeto usado nesse ponto a Rua Baro da Lagoa Dourada, emsentido ao centro da cidade e passando pela Avenida Pelinca. Esse trajeto feito

    pelos usurios do lado superior a nossa rea de estudo, e que no utilizam a

    Avenida 28 de Maro para chegar ao CEFET.

    O quinto ponto de trajeto de usurios da nossa rea a Santa Casa de

    Misericrdia de Campos, marcado com o nmero 5no mapa. O curioso de observar

    nesse local que o acesso dos usurios feito a p, vindo do sentido centro. Esse

    fato pode ser explicado pela falta de linhas de nibus que vm do centro da cidadeem direo a esse ponto.

    O ltimo ponto de importncia de trajeto de usurios na rea de estudo o

    shopping Avenida 28, marcado com o nmero 6. O shopping, recentemente

    inaugurado, vem imprimindo uma movimentao muito grande de pessoas. As que

    vo a trabalho e basicamente utilizam como meio de acesso as linhas de nibus pela

    Avenida 28 de Maro ou a p, pelo interior da rea de estudo. Aqueles que buscam

    acessar o shopping em busca de lazer e servios que ele proporciona o fazem

    tambm de nibus ou de carro pela Avenida 28 de Maro em sentido a Rua Cornlio

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    Bastos (entrada de estacionamento do shopping) ou pela Rua Voluntrios da Ptria

    at a Rua Dr. Siqueira, tambm em sentido ao estacionamento.

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    2.2.7 Infra-estrutura de mobilidade urbana

    Metodologia utilizada

    Para identificar os elementos da infra-estrutura de mobilidade urbana dentro

    da rea de estudo, foi levado em considerao o sistema de mobilidade urbana

    exemplificado no quadro da pgina 10. Nesse quadro, a parte do sistema

    identificada como infra-estrutura de mobilidade urbana caracterizada por vias e

    logradouros pblicos, estacionamentos, terminais, estaes e demais conexes,

    pontos para embarque e desembarque de passageiros e cargas, sinalizao viria ede trnsito, equipamentos e instrumentos de controle, fiscalizao e arrecadao de

    taxas e tarifas. Informamos que alguns desses elementos no esto presentes em

    nossa rea de estudo e no sero, portanto, objeto de anlise.

    Representao dos dados

    De posse desses elementos, foi feita uma anlise estruturada do local que

    gerou um mapa com as reas de estacionamentos e pontos de embarque e

    desembarque de passageiros, alm de um levantamento fotogrfico com os outros

    elementos dessa parte do sistema.

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    Vias e logradouros pblicos:

    Avenida Pelinca.Fonte: Arquivo pessoal.

    Rua Baro da Lagoa Dourada.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Sinalizao viria e de trnsito:

    Foto ilustrando a sinalizao semafrica e a faixa de pedestre mal demarcada.Fonte: Arquivo pessoal.

    Foto ilustrando as placas de trnsito e ao fundo as placas com os nomes das ruas.Fonte: Arquivo pessoal.

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    Equipamentos e instalaes:

    nico abrigo de passageiros em toda a rea de estudo, situado a Rua Baro da Lagoa Dourada.Fonte: Arquivo pessoal.

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    2.3 CONSIDERAES

    Aps a descrio da formao da rea e do mapeamento feito, constatou-se

    que os bairros que configuram a rea de estudo desde sua formao foi ocupado

    por pessoas de maior poder aquisitivo. S que os motivos pelos quais essas

    pessoas foram morar nessa rea modificaram um pouco com o passar dos anos.

    Quando o local foi ocupado, as pessoas foram residir na ento periferia da

    cidade, em amplas construes unifamiliares ou em chcaras existentes no local e

    para que assim pudesse ter o gosto de morar afastado de um centro j adensado.

    Hoje, o que podemos observar que a opo de moradia nessa rea pode ser

    considerada pela comodidade ou at pela questo relacionada ao status de se

    morar na rea mais valorizada da cidade, mesmo que isso acarrete viver em

    pequenos apartamentos e numa rea adensada urbanisticamente.

    O padro de vida, que j era alto na poca da ocupao do bairro, continua

    at os dias atuais, fazendo com que a rea possua um das maiores mdias de renda

    da cidade. Um fato curioso, que devemos destacar e que diz respeito ao perfil da

    populao do local, o grande nmero de pessoas de meia idade. Se analisarmos

    que esses dados foram obtidos de CENSO 2000, ou seja, h quase 10 anos, a rea

    de estudo tem uma grande possibilidade de se transformar em breve em um local

    com um nmero grande de idosos. Fato verificado em bairros que, como a Pelincaem Campos dos Goytacazes, teve uma crescente expanso urbana e verticalizao

    como o bairro de Copacabana no Rio de Janeiro.

    Quanto aos fatores de uso do solo do local, o fato mais relevante a

    quantidade de residncias unifamiliares ali encontradas, conforme pode ser

    verificado no mapa de uso do solo (pgina 51), em que a grande mancha em verde

    a representa. Essas casas, acreditam