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Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Nova de Lisboa
André Filipe Aleixo da Silva Seixo
Aluno 2009472
Ano 2014/2015
Lisboa, Junho de 2015
Relatório Final
Mestrado Integrado em Medicina
André Seixo |Relatório Final - MIM 1
Índice
Página
1) Introdução 2
2) Objectivos gerais e específicos 2
3) Descrição das actividades desenvolvidas 3
a) Estágio de Medicina Geral e Familiar (MGF)
b) Estágio de Pediatria
c) Estágio de Ginecologia e Obstetrícia
d) Estágio de Saúde Mental
e) Estágio de Medicina Interna
f) Estágio de Cirurgia Geral
g) Outras actividades
3
4
4
5
6
7
7
4) Reflexão Crítica 8
5) Anexos 10
André Seixo |Relatório Final - MIM 2
Introdução
O estágio profissionalizante do 6º ano, inserido no plano curricular do Mestrado Integrado
em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (FCM-UNL),
promove o ensino orientado e programado da Medicina por importantes áreas médico-cirúrgicas,
incitando a consolidação do saber, sobretudo nas vertentes do diagnóstico diferencial e
terapêutica; e por isso, deve ser capaz de proporcionar ao aluno uma experiência formativa,
visando a prática clínica autónoma.
O presente relatório incidirá na descrição sumária do contacto, pelo aluno, com os
diferentes estágios parcelares, que simultaneamente remeter-nos-á para o cumprimento ou não
dos objectivos inicialmente propostos. Por último será exposta uma reflexão crítica, com o
propósito de repensar as aprendizagens verificadas, e revelar a sua utilidade a nível profissional,
académico, e pessoal.
Objectivos gerais e específicos
Desde o início do ano lectivo que a actividade desenvolvida procurava ir ao encontro dos
objectivos pré-estipulados nas fichas de unidade curricular inerentes a cada estágio, tomados
como prioritários com base nas metas delineadas no Plano de Estudo de 2011 (Despacho nº
10378/2011 de 17 de Agosto, DR nº 157, 2º série), com destaque para a consolidação de
conhecimentos teóricos e práticos. Deste modo, pretendia inteirar-me da tomada de decisões que
sustentam o doente, desde o pedido de exames complementares de diagnóstico, à instituição da
terapêutica e estabelecimento do prognóstico. Consequentemente, o conhecimento científico
adquirido anteriormente e a capacidade de unir a teoria à prática seriam constantemente auto-
avaliados, e assim seria possível repensar e reformular métodos de trabalho, e reconhecer as
minhas limitações. A minha proposta passava, então, pelo desenvolvimento de competências que
possibilitassem a minha autonomia relativamente à marcha diagnóstica, à identificação de
problemas que implicassem referenciação do doente, bem como ao modo de procedimento em
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situações urgentes. Adicionalmente pretendia integrar-me nas diversas equipas, com o intuito de
estar activamente presente na discussão dos doentes, inclusive com colegas de outras
especialidades, desenvolver um trabalho cooperativo, e criar relações interpessoais. Destaco
ainda o desenvolvimento de capacidades de comunicação com o doente e familiares, a fim de
procurar entender as perspectivas, preocupações e expectativas dos mesmos. Dessa forma,
somente uma atitude participativa e pró-activa revelar-se-ia a pedra-de-toque para atingir os
objectivos pessoais inicialmente propostos.
Descrição das actividades desenvolvidas
Nas próximas páginas será feita uma descrição sumária das actividades desenvolvidas em
cada um dos seis estágios parcelares, segundo a sua ordem cronológica. Iniciarei esta súmula
com o estágio de Medicina Geral e Familiar, seguindo-se a Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia,
Saúde Mental – cada um com uma duração de 4 semanas – posteriormente a Medicina Interna e
Cirurgia Geral – ambos com uma duração de 8 semanas. Termino com uma brevíssima referência
a actividades extracurriculares desenvolvidas durante o período de estágio profissionalizante.
Estágio de Medicina Geral e Familiar (MGF)
O estágio de MGF realizou-se na Unidade de Saúde Familiar do Lavradio, no Barreiro.
Acompanhei o meu tutor pelas diversas valências da consulta: Saúde de Adultos, Saúde Infantil,
Planeamento Familiar, Saúde Materna, Consulta de Diabetes e Hipertensão, Consulta Aberta, e
Consulta Domiciliária, participando na anamnese, exame objectivo, e propondo algumas condutas
diagnósticas e terapêuticas. Através deste amplo espectro de acção médica tive oportunidade de
reconhecer as inter-relações entre factores somáticos, psicológicos e sociais, e a influência das
interacções entre os membros de uma família, na doença e no comportamento da mesma.
Foi vantajoso observar a promoção da saúde e prevenção da doença, por meio de
alterações de hábitos menos saudáveis, que tiveram repercussões na qualidade de vida dos
doentes.
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Estágio de Pediatria
O estágio de Pediatria decorreu no Hospital D. Estefânia, centrando-se no serviço de
Pediatria Médica 5.2. incluindo as actividades inerentes ao funcionamento do próprio – visita,
sessões clínicas, enfermaria, e consulta externa. Durante este período tive oportunidade de treinar
competências comunicacionais e relacionais, que se revelaram um desafio, pelo cariz emocional
que o cuidado permanente das crianças implica. Foi gratificante acompanhar a evolução clínica
dos doentes. Adicionalmente, frequentei as consultas do Viajante, de Imunoalergologia, e
Neurologia Pediátrica que me permitiu o contacto com novas patologias, como por exemplo a
síndrome de Dravet, e um caso de CADASIL. Semanalmente estive presente no SU onde, para
além das patologias mais frequentes no contexto de urgência pediátrica, contactei com outras
patologias que nunca havia observado, como púrpura de Henoch-Schonlein.
Por último, destaco o trabalho apresentado subordinado ao tema: “Feverish illness in
children – Assessment and initial management in children younger than 5 years”, a propósito das
novas guidelines da NICE; e a colheita de uma História Clínica sobre uma criança com ITU.
Estágio de Ginecologia e Obstetrícia
O estágio decorreu no Hospital Cuf Descobertas, durante o qual acompanhei diversos
especialistas nas diferentes valências da especialidade. A rotação pelos vários sítios – consulta,
ecografia, bloco de partos, bloco operatório, exames especiais, atendimento médico permanente –
proporcionou uma abordagem global desta especialidade. Na vertente obstétrica assisti a
consultas de 1º, 2º e 3º trimestres, onde pude aperceber-me de aspectos essenciais a inquirir na
história clínica obstétrica, dos exames complementares a requisitar durante a gravidez, e alguma
da medicação a prescrever. Nas consultas de ginecologia assisti à observação de mulheres com
queixas ginecológicas recentes, ao follow-up de patologias ginecológicas, e ao acompanhamento
de mulheres em menopausa. Tive oportunidade de realizar palpação mamária, palpação
ginecológica bimanual, e exame citológico. Assisti, ainda, a consultas especializadas em
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trombofilias e em patologia mamária, que, por tratarem-se de vertentes não visionadas em
estágios anteriores, fazem com que esta experiência tenha sido gratificante. Presenciei a
realização de exames especiais: sete colposcopias, duas histeroscopias e uma cirurgia de
vaporização a laser CO2.
No AMP, observei situações frequentes do foro ginecológico e obstétrico, por exemplo,
candidíase genital e infecção do trato urinário na grávida.
Semanalmente frequentei o bloco de partos e nas cesarianas tive oportunidade de participar
como 2º ajudante. No bloco operatório, assisti quatro ressectoscopias. Conjuntamente, estive
presente nas reuniões do serviço, nas sessões clínicas, e como trabalho desenvolvido destaco a
apresentação de um seminário relativo ao tema “Gravidez Ectópica”.
Estágio de Saúde Mental
O estágio teve início na FCM, com aulas teórico-práticos leccionadas pelo Professor Doutor
Miguel Xavier. A continuidade do estágio decorreu no Hospital Júlio de Matos, onde integraram-me
no Serviço de Encaminhamento e Triagem de Agudos (SETA). Aí assisti a diferentes técnicas de
entrevistas clínicas e familiares, e discuti os doentes internados, durante as reuniões de serviço.
Contactei com diferentes realidades previstas na lei de Saúde Mental como o internamento
compulsivo e o seu tratamento. Também assisti às consultas externas da Dr.ª Ana Ramos, que
visam facilitar o acesso dos doentes aos cuidados de saúde, tornando acessível o respectivo
seguimento dos mesmos. No Serviço de Urgência no Hospital de S. José contactei com a
anamnese realizada em diversas situações de contexto agudo.
Como trabalhos realizados destaco a colheita de uma História Clínica (Episódio psicótico no
contexto de Esquizofrenia). Além disso foi também possível participar em três sessões do
internato específico em Psiquiatria, e no dia 10 de Dezembro, estive presente no Colóquio
Internacional: “Towards a better Mental Health Service”, na NOVA medical school, integrado no
International Course – Primary Care Mental Health.
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Estágio de Medicina Interna
O estágio de Medicina Interna permitiu-me o contacto com diversas patologias em dois
locais diferentes: enfermaria, onde usufrui de mais autonomia, e serviço de urgência. Durante um
período de 8 semanas fiz parte da equipa do Serviço de Medicina IB, do Hospital Egas Moniz.
Integraram-me em todas as tarefas diárias, com especial enfoque na anamnese, realização de
exame objectivo, interpretação de exames complementares de diagnóstico, discussão de
terapêutica, e elaboração de diários clínicos, sempre exercidas com responsabilidade e devida
tutela, e supervisão. A abordagem multidisciplinar do doente alargou-me ao diálogo com outros
profissionais de saúde. Quando solicitado, tive oportunidade de conversar com os familiares sobre
o estado clínico do doente e evolução durante o internamento. Quanto aos procedimentos, colhi
amostras de sangue arterial periférico e sangue venoso, observei a realização de uma
paracentese, toracocentese, e a colocação de cateteres venosos centrais (CVC), por punção da
veia femoral e punção da veia jugular. O acompanhamento diário permitiu, não só o
aperfeiçoamento do raciocínio clínico, mas também a discussão ética das situações em que os
doentes se encontram num estádio grave e avançado da doença e, por isso, necessitam cada vez
mais de um contacto paliativo; aflorando-se, assim, questões sobre a limitação dos cuidados nos
casos próximos ao fim de vida.
Frequentar o serviço de urgência permitiu-me interagir com um leque diversificado de
patologias num curto espaço de tempo, o que implicou um raciocínio clínico instantâneo,
obrigando à anamnese sucinta e direccionada.
Para concluir, destaco as sessões clínicas presenciadas durante o estágio, e um trabalho
realizado, cujo tema incidiu na revisão teórica mais recente sobre “Distúrbios Electrolíticos: sódio e
potássio”.
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Estágio de Cirurgia Geral
O estágio decorreu ao longo de oito semanas, no Hospital Beatriz Ângelo, e dividiu-se em
seis semanas de Cirurgia Geral, e duas semanas de Anestesiologia onde tive oportunidade de
realizar gestos técnicos, até então nunca praticados, como a entubação oro-traqueal e a
colocação de máscara laríngea. Além disso, pude auxiliar durante os procedimentos de
raquianestesia e anestesia do nervo ciático guiado ecograficamente. A sua prática esteve centrada
no Bloco Operatório, na Enfermaria, no Serviço de Urgência, Consulta Externa, e Reuniões
Semanais do Departamento. Acompanhei o Dr. Hermano Garcia no Bloco Operatório, tendo sido
possível participar em algumas cirurgias, nomeadamente herniorrafias, como 1º e 2º ajudante. Na
enfermaria acompanhei a evolução dos doentes desde o recobro até ao momento da alta, e as
intercorrências que surgiram durante o processo, que ilustram possíveis complicações no pós-
operatório. Além disso, contactei de perto com outros profissionais de saúde, enfermeiros e
nutricionistas, tirando partido de um melhor acompanhamento peri-operatório. De enorme
interesse revelou-se a avaliação de doentes em contexto de followup, na consulta externa, onde
pesquisei sinais e sintomas de recidiva da doença, e existência de sinais de infecção, dor ou
herniação da ferida cirúrgica (avaliação do processo de cicatrização).
Estive presente nas sessões teóricas e teórico-práticas decorridas na primeira semana de
estágio, e destaco a apresentação de um caso sobre “CROHNologia de um caso clínico – do
pródromo à cirurgia” no Mini-Congresso da unidade curricular.
Outras actividades
Paralelamente à actividade curricular do estágio profissionalizante, tive oportunidade de
participar em dois congressos formativos, de diversas áreas médicas e cirúrgicas, organizados no
Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil e Hospital Beatriz Ângelo, constituindo os
Anexos II e III, respectivamente.
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Reflexão Crítica
Globalmente, considero ter cumprido a maior parte dos objectivos inicialmente propostos
para os diferentes estágios parcelares. A rotação pelos locais enumerados possibilitou ter uma
ideia real e concreta de diversas áreas de intervenção médica, onde apreendi a dinâmica de
serviços desenvolvida. A relação tutor aluno, nunca superior a 1:2, permitiu um ano abundante de
experiências pedagógicas, que se revelaram fulcrais na consolidação de conhecimentos e
comportamentos, quer profissionais, quer deontológicos. Adquiri mais confiança, devido à
autonomia proporcionada, e consequentemente a responsabilidade emergiu no exercício da arte
da medicina, em relação aos doentes e a todos os profissionais de saúde – compreendeu-se, na
prática, o termo multidisciplinariedade, e mais importante, o sentimento de entreajuda. A
pluralidade de experiências revelou-se um contributo importante para delinear a escolha futura da
especialidade. A participação em congressos tornou-se fundamental para a actualização científica
inerente à prática clínica.
Os diferentes estágios tiveram contribuições distintas, e igualmente indispensáveis para o
cumprimento dos objectivos iniciais. Na Medicina Geral e Familiar, e na Pediatria, o
desenvolvimento de relações interpessoais tornaram-se alicerces fundamentais no
amadurecimento emocional. Na Saúde Mental entendi o quão fundamental é sensibilizar
mentalidades, a fim de se eliminar estigmas tão conservados na sociedade, aos quais a classe
médica ainda não é excepção, para que possa existir uma verdadeira integração daquelas
pessoas. Na Ginecologia-Obstetrícia e Cirurgia Geral, a prática de procedimentos de pequena
cirurgia foram restritos, no entanto, tal não afectou de forma negativa a minha passagem por
esses locais, onde pratiquei e aperfeiçoei gestos do exame físico. A Medicina Interna recebe uma
palavra afeiçoada da minha parte, pois foi o estágio em que mais cresci, e que terei como
referência ao longo da minha vida profissional, sobretudo pelas pessoas que constroem os lugares
que nos acolhem. Foi com desânimo que observei o número crescente de casos sociais na
enfermaria, muitas vezes precedidos de abandono social. Penso que é mais do que urgente, numa
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população em crescente envelhecimento, a importância de estratégias que permitam o bem-estar
destas pessoas; o acompanhamento, lá fora, por parte de instituições que incentivem a
reconstrução de um projecto existencial, a reinserção comunitária, e o tratamento no domicílio –
pedras-de-toque que evitam, no limite, que se morra sozinho.
A Medicina, ao longo dos últimos anos, conjuntamente com a evolução da ciência, tem
procedido de um puro constructo de conhecimento de ordem técnica e valor procedimental, onde a
idolatria ao cérebro é patente, descurando, por condições externas e internas, a compreensão de
cada ser humano. Devemos resistir a esta tendência da técnica, e ampliarmos o olhar às situações
de que somos contemporâneos, que requerem atenção, esforço, e apelam a mais nobre natureza
de nós mesmos. O acto de compreender exige princípios de ética e humanidade, que devem
sustentar as directrizes da medicina baseada na evidência. Não podemos esquecer que nenhum
dos direitos humanos poderá subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem. Desse
modo, faço referência a duas componentes extracurricular essenciais, a procura literária que
sempre alimentei, e conferências, de cariz filosófico que tive oportunidade de assistir, sobre
múltiplos autores e temas, a última leccionada pela professora catedrática Maria Filomena Molder,
na Culturgest. Estas ensinaram-me a responsabilidade social, o movimento que suspende e
organiza, que repensa decisões, que enquadra a doença no doente, na pessoa, nas suas crenças
e receios, no seu mundo de memórias e vivências por vir, o movimento que procura uma
afeiçoada aprendizagem, indispensável à ética médica.
Em conclusão, deixo o meu agradecimento a todos os professores, mestres, tutores,
colegas, enfermeiros e equipas auxiliares, pela constante disponibilidade e dedicação, que
incentivaram a minha autonomia, procura de conhecimento, e quando precisei, esclareceram,
atenciosamente, todas as dúvidas. Considero, exemplos a seguir, quer a nível profissional, quer
referente ao gesto que torna o acto médico digno na sua relação vital com os doentes. Levo a
memória, a palavra que ensina. Agradeço, também, a respiração incansável dos doentes.
André Seixo |Relatório Final - MIM 10
Anexos
Anexo I – Distribuição dos estágios parcelares
Tabela 1. Distribuição dos estágios parcelares.
O ano profissionalizante decorreu entre 15/09/2014 e 22/05/2015.