FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

43
FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS TENUTA ARAUJO IMPACTO DA TERAPIA DE RADIAÇÃO NA EXPRESSÃO E LOCALIZAÇÃO DE AQUAPORINAS (AQPs) NA GLÂNDULA SUBMANDIBULAR DE RATOS MARÍLIA 2016

Transcript of FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

Page 1: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA

MARCUS VINICIUS TENUTA ARAUJO

IMPACTO DA TERAPIA DE RADIAÇÃO NA EXPRESSÃO E

LOCALIZAÇÃO DE AQUAPORINAS (AQPs) NA GLÂNDULA

SUBMANDIBULAR DE RATOS

MARÍLIA

2016

Page 2: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

Marcus Vinicius Tenuta Araujo

Impacto da terapia de radiação na expressão e localização de Aquaporinas (AQPs) na

glândula submandibular de ratos

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Acadêmico em “Saúde e Envelhecimento”, da

Faculdade de Medicina de Marília, para obtenção do

título de Mestre. Área de concentração: Saúde e

Envelhecimento.

Orientadora: Profa. Dra Raquel Fantin Domeniconi.

Co-orientador: Prof. Dr. Agnaldo Bruno Chies

Marília

2016

Page 3: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

Autorizo a reprodução parcial ou total deste trabalho, para fins de estudo e pesquisa, desde

que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília

Araujo, Marcus Vinicius Tenuta.

Impacto da terapia de radiação na expressão e

localização de Aquaporinas (AQPs) na glândula

submandibular de ratos / Marcus Vinicius Tenuta Araujo. - -

Marília, 2016.

41 f.

Orientadora: Profa. Dra. Raquel Fantin Domeniconi.

Coorientador: Prof. Dr. Agnaldo Bruno Chies.

Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde e

Envelhecimento) - Faculdade de Medicina de Marília.

1. Glândulas salivares. 2. Radiação. 3. Aquaporina 1. 4.

Aquaporina 5.

A663i

Page 4: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

Marcus Vinicius Tenuta Araujo

Impacto da terapia de radiação na expressão e localização de Aquaporinas (AQPs) na

glândula submandibular de ratos

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Acadêmico em “Saúde e Envelhecimento”, da

Faculdade de Medicina de Marília, para obtenção do

título de Mestre. Área de concentração: Saúde e

Envelhecimento.

Comissão Examinadora:

_______________________________________________

Profa. Dra. Raquel Fantin Domeniconi

Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, UNESP - Botucatu

_______________________________________________

Prof. Dr. Bruno César Shimming, MV, PhD

Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, UNESP - Botucatu

_______________________________________________

Profa. Isabella Bazzo da Costa, MV, PhD

Faculdades Integradas Ourinhos – FIO

Data de Aprovação: _______________________________

Page 5: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

Dedico este trabalho:

A meus pais José Maria Alvares Araujo e Regina Célia Tenuta Araujo, pelo amor,

dedicação e paciência ao longo de toda minha vida.

Aos meus irmãos Luis Gustavo Tenuta Araujo e Beatriz Tenuta Araujo, pelo

companheirismo e apoio incondicional.

A meus sogros Emir Castilho e Carmen Lucia de Souza Castilho, que me acompanharam

nessa caminhada.

Aos meus filhos Laura e João, anjos que iluminam meu caminho.

Em especial à minha esposa Viviane Castilho Araujo, minha companheira, amiga,

apoiadora, conselheira.

E sobretudo a DEUS, Pai misericordioso, que atua em silêncio e faz tudo possível.

Page 6: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Raquel Fantin Domeniconi, pelo apoio, dedicação,

preocupação e transferência de conhecimentos.

Ao co-orientador Prof. Dr. Agnaldo Bruno Chies, inspirado mestre e estimado amigo.

À Profa. Dra. Maria Angelica Spadella Santos, que gentilmente me acolheu e orientou.

Ao Prof. Dr. Gustavo Viani de Arruda, pela dedicação e orientação.

Às colegas e colaboradoras Talita de Mello Santos e Marilia Martins Cavariani doutorandas

do Programa de Biologia Geral e Aplicada - IBB - Unesp - Botucatu.

Aos funcionários do complexo FAMEMA, cuja dedicação à instituição serve de inspiração.

Aos colegas e professores do Programa de Mestrado Acadêmico Saúde e Envelhecimento.

Page 7: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

“A persistência é o caminho do êxito”

Charles Chaplin

Page 8: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

RESUMO

A prevalência de tumores em cabeça e pescoço é alta e, em geral, o tratamento inclui

radioterapia de maxila, mandíbula e glândulas salivares, podendo gerar consequências

adversas relacionadas à diminuição do volume do fluxo salivar. As glândulas salivares

apresentam elevada permeabilidade para a passagem de água e, portanto, suas células

expressam aquaporinas (AQPs), proteínas que facilitam e regulam o transporte de água

através das membranas celulares. Assim, esse trabalho teve por objetivos analisar as possíveis

alterações na morfologia da glândula salivar de ratos submetidos à radiação, bem como

avaliar o impacto do tratamento com radiação na expressão e localização destas proteínas.

Para tanto, foram utilizados ratos Wistar fêmeas, divididos em grupo controle e grupo

irradiado, que foi exposto à radiação gama. Após o período de experimentação, foram

coletadas amostras da glândula submandibular, as quais foram processadas segundo a rotina

das técnicas de Western blotting, histologia e imuno-histoquímica. A análise dos resultados

permitiu a confirmação da presença da AQP1 no endotélio de vasos de maior calibre e

pequenos capilares e em células sanguíneas na luz desses vasos, amplamente citada na

literatura, e também, de maneira inédita, foi observada marcação intensa e consistente em

grânulos no citoplasma das células ductais da glândula submandibular. Além disso, observou-

se a marcação positiva da AQP5 nas células ductais delimitando o lúmen do ducto

intercalado, controversa na literatura, e no citoplasma e nas membranas apical e basolateral

das células acinares. Por fim, a diminuição da marcação das AQPs, nas glândulas de animais

irradiados, comprovam sua radiosensibilidade. Assim concluimos que a diminuição dos níveis

protéicos de AQP1 no endotélio e de AQP5 nas células ductais das glândulas dos animais

irradiados podem ter prejudicado a remoção de água do lúmen do ducto, causando um atraso

na absorção de água e desencadeando discreto aumento de lúmen verificado na

histomorfometria, sendo que o mecanismo relacionado a esse processo permanece não

identificado.

Palavras-chave: Glândulas salivares. Radiação. Aquaporina 1. Aquaporina 5.

Page 9: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

ABSTRACT

The prevalence of Head and Neck tumours is high and treatment usually includes maxilla,

mandible and salivary gland radiotherapy, which may lead to adverse effects related to

salivary flow volume decrease. Salivary glands are highly permeable to water and therefore

its cells express Aquaporins (AQPs), proteins that facilitate and regulate water transport

across cellular membranes. Hence, this paper aims to analyse plausible morphology changes

in rat salivary gland subjected to radiation exposure, as well as to assess the impact of

radiation therapy on the expression and location of these proteins. For this purpose, Wistar

female rat population was divided into a control group and an irradiation group, which was

exposed to gamma radiation. After the experiment period, submandibular gland samples were

collected and then processed according to histology, immunohistochemistry and Western

blotting technique protocols. Data analysis allowed to confirm the presence of AQP1 in the

endothelium of large-calibre and small-calibre blood vessels as well as in blood cells within

those vessels, which was consistent with the background literature. This study also allowed

the observation of intense and steady labelling granules in the cytoplasm of submandibular

gland ductal cells. In addition, contradicting the literature, there was a positive labelling for

AQP5 in ductal cells delimiting the lumens of intercalated duct, in the cytoplasm and apical

and basolateral membrane of acinar cells. Finally, the decrease of AQP labelling in irradiated

animal glands validate their radiosensitivity. Thus, we conclude that the decrease in AQP1

protein levels in the endothelium and AQP5 proteins in gland ductal cells of irradiated

animals may have hindered the removal of water from the lumen of ductal cells, inducing a

delay in the water absorption and triggering a slight lumen increase seen in

histomorphometry, and the mechanism related to this process remains unclear.

Keywords: Salivary glands. Radiation. Aquaporin 1. Aquaporin 5.

Page 10: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ductos, ácinos e estroma observados em MO quantificados pelo método de

contagem planimétrico, que consiste na sobreposição de uma grade que totaliza

168 pontos sobre a imagem capturada, utilizando-se o software Image-Pro

Plus.........................................................................................................................xx

Figura 2 - Método de obtenção das medidas de ducto e lúmen através do software cellSens

Dimension®, Olympus...........................................................................................xx

Figura 3 - Análise imuno-histoquímica para AQP1 e AQP5, nos grupos de animais controle e

irradiado. ...............................................................................................................xx

Figura 4 - Análise dos níveis proteicos de AQP1 e AQP5, em amostras de glândulas

submandibulares. Os gráficos representam a expressão relativa da densidade

óptica integrada para as proteínas AQP1 e AQP5 normalizadas pela GAPDH e

expressa pela média±EPM. ...................................................................................xx

Page 11: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Peso dos animais e peso e estereologia de glândula submandibular.........................xx

Tabela 2. Valores médios e desvio padrão (±) dos valores de diâmetros do ducto e do lúmen,

altura de epitélio do ducto e razão entre altura do epitélio do ducto / lúmen........xx

Page 12: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AQP - aquaporina

BSA - albumina soro bovino

CEUA - Comitê de Ética no Uso de Animais

cGy/min - centigray por minuto

CO2 - gás carbônico

CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal

DAB - diaminobenzidina

FAMEMA - Faculdade de Medicina de Marilia

G1 - grupo controle

G2 - grupo irradiado

Gy - gray

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

KDa - quilodalton

M - molar

MeV - megavolt

mg/kg - miligramas por quilogramas

n - tamanho da amostra

NaCl - cloreto de sódio

p - índice de significância

PBS - tampão fosfato salino

pH - potencial hidrogeniônico

SDS - poliacrilamida - dodecil sulfato de poliacrilamaida

μL - microlitro

μm - micrômetro

(v/v) - concentração volume/volume

Page 13: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14

1.1 Envelhecimento e saúde bucal .................................................................................. 14

1.2 Glândulas salivares ................................................................................................... 14

1.3 Radioterapia e glândulas salivares .......................................................................... 16

1.4 Aquaporinas, glândulas salivares e radioterapia ................................................... 16

2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 20

3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 21

3.1 Grupos experimentais ............................................................................................... 21

3.2 Protocolo de radioterapia ......................................................................................... 22

3.3 Processamento de material ....................................................................................... 22

3.4 Análise morfométrica ................................................................................................ 23

3.4.1 Análise do volume – ductos x ácinos x estroma ......................................................... 23

3.4.2 Análise do diâmetro de ductos e lúmen; altura de epitélio e razão altura de

epitélio/lúmen ........................................................................................................................ 24

3.5 Imuno-histoquímica ........................................................................................................ 26

3.6 Western blotting ............................................................................................................... 26

3.7 Forma de análise dos resultados .................................................................................... 27

4. RESULTADOS .................................................................................................................. 28

4.1 Estereologia e histomorfometria .................................................................................... 28

4.2 Imuno-histoquimica ........................................................................................................ 29

4.3 Western blotting ............................................................................................................... 30

5. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 32

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 37

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 38

APÊNDICE A......................................................................................................................... 44

APÊNDICE B......................................................................................................................... 44

ANEXO A............................................................................................................................... 44

Page 14: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

12

1 INTRODUÇÃO

1.1 Envelhecimento e saúde bucal

A longevidade e o consequente aumento da população idosa é um fenômeno

demográfico bem estabelecido em todo o mundo, principalmente em função do

desenvolvimento da medicina e de novas tecnologias e medicamentos. Em nosso país, dados

do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que a expectativa de

vida ao nascer atingiu 75,2 anos no ano de 2014, contra 74,8 anos para o ano de 2013,

evidenciando claramente essa tendência. O aumento da expectativa de vida média da

população traz grande importância para o conceito de saúde e qualidade de vida, sendo que a

saúde bucal tem um papel relevante nesse contexto.(1)

Assim como todo organismo, as estruturas orais sofrem ação do envelhecimento e

os tecidos da cavidade oral refletem esse processo.(1)

Encontra-se bem fundamentada na

literatura essa situação em relação aos tecidos do periodonto de suporte (ligamentos, gengiva

e osso alveolar)(1,3)

, tecidos das articulações temporo mandibulares(1)

, bem como glândulas

salivares(1,3,6,7,9,12,13,14)

. Quanto às glândulas salivares, além de serem afetadas pelo processo

de envelhecimento propriamente dito, podem sofrer alterações que levam à hipofunção devido

a diabetes mellitus, utilização de medicamentos antidepressivos, anti-hipertensivos e

diuréticos, além da irradiação terapêutica no caso de doenças tumorais (1-6)

, ou ainda,

menopausa(7)

e doenças auto-imunes como a Síndrome de Sjögren(8)

.

Liu et al. (6)

realizaram revisão sistemática abrangendo estudos realizados entre

1989 e 2010 buscando avaliar a prevalência e etiologia da hipofunção das glândulas salivares

em idosos vulneráveis com doenças crônicas e polimedicados. Os autores encontraram que a

xerostomia se constitui como a maior queixa relacionada à saúde bucal dessa população, com

índices de prevalência que partem de 55% em idosos acometidos por doenças sistêmicas,

como diabetes, Parkinson e câncer a 80% em idosos com câncer avançado.

1.2 Glândulas salivares

As glândulas salivares são glândulas exócrinas, que produzem saliva, e podem ser

classificadas em glândulas salivares menores e maiores. As glândulas salivares menores são

encontradas dispersas ao longo da cavidade oral, e as glândulas salivares maiores estão

dispostas aos pares e são nomeadas: parótidas, submandibulares e sublinguais(9)

.

Page 15: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

13

De forma geral, o parênquima das glândulas salivares maiores é composto por

células acinares serosas e mucosas circundadas por células mioepiteliais e por um sistema de

ductos ramificados que conduzem a saliva para a cavidade oral(10)

.

A produção de saliva se inicia nas células acinares que secretam um fluido

isotônico, rico em NaCl, que se acumula no lúmen e gera um gradiente osmótico que

possibilita a passagem de água e formação da saliva primária. Esse fluido segue então para o

sistema de ductos onde ocorrerão a reabsorção dos íons Na+

e Cl- e o aporte de K

+ e HCO3

-

resultando em um fluido hipotônico, denominado saliva secundária, que seguirá para a

cavidade bucal(10,11)

. Além disso, esse fluido é enriquecido com componentes sólidos,

sobretudo imunoglobulinas e proteínas.(10)

A saliva é, portanto, o conjunto de uma secreção

serosa, caracterizada pela presença de ptialina (ou amilase salivar), enzima destinada à

digestão do amido, e de uma secreção mucosa, que contém mucina para lubrificação e

proteção das superfícies da boca e demais regiões do sistema digestório(11)

. Também é

composta por mais de 99% de água enriquecida com eletrólitos, agregada a um componente

proteico, que inclui imunoglobulinas, enzimas digestivas como a amilase e a lipase e enzimas

com função antibacteriana e antifúngica, como a mucina (12)

.

Assim, a saliva tem por funções a lubrificação do bolo alimentar, proteção dos

tecidos bucais e demais partes do sistema digestório contra injúrias mecânicas e biológicas,

limpeza e manutenção do pH neutro da cavidade oral e prevenção da desmineralização

dentária(13)

.

As alterações nas glândulas salivares e o impacto na qualidade e volume da saliva

trazem consequências deletérias para a cavidade bucal tanto para os indivíduos dentados, onde

a falta de saliva afeta, em especial, a capacidade dos tecidos orais em defender-se de

agressões externas, como para os parcial e totalmente desdentados, onde a saliva, além de

estar relacionada à capacidade de defesa, tem também fundamental importância para

estabilização de aparelhos protéticos removíveis, como as próteses parciais ou totais, sendo

este um fator de grande importância para a saúde, conforto e capacidade de mastigação destes

indivíduos(14)

.

1.3 Radioterapia e glândulas salivares

A prevalência de doenças tumorais em cabeça e pescoço é alta. Estudos

demonstram a ocorrência de até 870 mil casos novos de tumores malignos em vias

Page 16: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

14

respiratórias e digestórias superiores por ano no mundo(2)

. O protocolo de tratamento para

estes tipos de tumores pode incluir cirurgia, radioterapia de cavidade bucal, maxila,

mandíbula e glândulas salivares, podendo gerar, como consequência adversa, o aparecimento

de cáries rampantes, mucosites, candidíases, disgeusia, xerostomia(2)

, língua saburrosa, língua

fissurada e estomatite protética(3)

, além da ósteorradionecrose. Todos estes efeitos

intrinsecamente relacionam-se à qualidade e ao volume do fluxo salivar. Vieira et al(4)

., em

um estudo sobre tratamento odontológico em pacientes oncológicos publicado em 2012,

encontraram que 70,58% dos pacientes tratados somente com radioterapia apresentaram

sequelas bucais, em especial mucosite, com prevalência de 23,52% dos casos. Deasy et. al (5)

afirmam ainda que a redução na função salivar pode ter início ao redor de 1 semana após o

início da terapia de irradiação, retornando gradativamente após 2 anos nos casos em que a

radiação não induziu danos severos e irreversíveis às glândulas. Wong (15)

relata índice acima

de 90% de prevalência de algum tipo de prejuízo à cavidade oral após tratamento

radioterápico, sendo a xerostomia a sequela mais comumente relatada.

Por fim, Pinna et al. (16)

, concluem em sua revisão sistemática da literatura, que a

xerostomia induzida por radiação ionizante pode ser considerada uma doença multifatorial

que depende do tipo de tratamento eleito para o câncer assim como da dose de radiação

aplicada nos tecidos.

1.4 Aquaporinas, glândulas salivares e radioterapia

As aquaporinas (AQPs) são canais de água que facilitam e regulam o transporte

de água através das membranas celulares. Constituem uma família de proteínas pequenas,

cujos monômeros têm de 26 a 34 kDa. As proteínas dessa família organizam-se nas

membranas como homotetrâmeros. Cada monômero, consiste de seis domínios “membrane-

spanning” α-hélice, com as extremidades carboxi e aminoterminal orientadas para o

citoplasma, contendo um poro de água distinto(17)

(ANEXO A).

Essas proteínas são expressas na membrana plasmática de tipos celulares

envolvidos no transporte de fluidos, além de estarem presentes na membrana de organelas

intracelulares, regulando assim, o volume da célula e da organela(18)

. As AQPs estão

envolvidas em uma grande variedade de funções fisiológicas como, por exemplo, função

secretória e homeostase de água e solutos, facilitando o transporte transepitelial de fluidos e,

além disso, podem estar envolvidas na migração celular e neuroexcitação. Também

participam de muitos processos patológicos como glaucoma, epilepsia, obesidade e o câncer

Page 17: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

15

(19,20). As células epiteliais acinares, de glândulas salivares, apresentam elevada

permeabilidade para a passagem de água e, portanto, estas células apresentam AQPs.

Em mamíferos, dois subgrupos de AQPs foram definidos, as AQP1, AQP2,

AQP4, AQP5, AQP6 e AQP8 que parecem ser altamente seletivas à água, e as

aquagliceroporinas AQP3, AQP7 e AQP9 que transportam também glicerol e outros pequenos

solutos(17)

. Dentre estes subtipos, a AQP5 foi a mais estudada em glândulas salivares e os

trabalhos mostram que esta AQP desempenha papel fundamental na secreção de fluidos neste

tipo de tecido(21,22)

Estudos, com roedores, identificaram a AQP5 nas glândulas parótida, sublingual e

especialmente, na glândula submandibular, onde foi localizada na membrana apical das

células acinares do tipo serosa. Já nas células dos ductos da glândula submandibular, a

presença desta AQP é controversa e ainda necessita ser discutida (revisado por Delporte e

Steinfeld(23)

).

A radiação utilizada no tratamento de câncer de cabeça e pescoço causa danos às

células acinares das glândulas salivares(24)

. Além disso, foi observada a diminuição na

expressão da AQP5 em glândulas salivares de ratos irradiados. A queda desta AQP pode

participar do mecanismo que leva à perda do fluxo salivar. Alterações no padrão de expressão

e de localização da AQP5 também foram observados em pacientes com a síndrome de

Sjögren's, no entanto, para esta síndrome, os dados ainda parecem ser contraditórios(23)

. A

participação da AQP5 nas situações relacionadas à xerostomia também são abordadas por

Matsuzaki et al.(25)

, Takahashi et al. (26)

, Takakura et al.(27)

e Susa et al.(28)

.

Além da AQP5, outras AQPs têm sido localizadas nas glândulas salivares. A

AQP1 está presente nos vasos das glândulas submandibulares de ratos, durante o

desenvolvimento natal e pós-natal. A imunolocalização da AQP1 nas glândulas salivares, em

humanos, mostrou que além de capilares esta AQP também está associada a células

mioepiteliais. Provavelmente, a AQP1 contribua para as rápidas alterações de volume e

contração da célula mioepitelial, contrações essas imprescindíveis para a constrição do lúmen

dos ácinos, o que facilitaria o fluxo da saliva em direção à boca. Em pacientes com a

síndrome de Sjögren's, doença auto-imune de etiopatogenia pouco esclarecida que apresenta

como principal sintoma a hipofunção das glândulas lacrimais e salivares(8)

, observa-se uma

diminuição na expressão da AQP1 nas células mioepiteliais, sugerindo que esta AQP também

esteja envolvida nas disfunções das glândulas salivares(23)

.

A AQP8 foi imunolocalizada nas células mioepiteliais ao redor dos ácinos das

glândulas salivares maiores, mas não em células acinares(29,30)

. Análises da expressão gênica

Page 18: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

16

revelaram que a AQP8 diminui em ratos envelhecidos, no entanto, faltam dados na literatura a

respeito da expressão proteica desta AQP, bem como das consequências da diminuição da

expressão gênica da AQP8 em ratos envelhecidos (revisado por Delporte e Steinfeld (23)

) ou

submetidos a tratamentos que reduzam o fluxo de saliva.

Recentemente, as AQPs 7 e 9 também foram detectadas nas glândulas salivares de

camundongos adultos normais. A AQP7 foi localizada em células endoteliais, dividindo o

mesmo domínio de membrana da AQP1, e a AQP9 foi detectada com auxílio da técnica de

Western blot(22)

.

Apesar dos trabalhos citados, pouco se sabe sobre o papel das AQPs nas glândulas

salivares e, de forma geral, observamos que os estudos publicados trazem dados

contraditórios a respeito da expressão e/ou localização de alguns subtipos de AQPs. Além

disso, há escassez de estudos experimentais, na literatura científica, que descrevam o impacto

dos tratamentos por radiação na dinâmica e sistemática dos canais de água presentes nas

glândulas salivares.

Em geral, para outros tecidos do corpo, foi descrito que as redundâncias na

expressão de AQPs dividindo um mesmo domínio de membrana ou coexistindo em um

mesmo tecido, são, presumivelmente em parte, um meio para assegurar que a disfunção de

qualquer uma das AQPs não impeça a capacidade deste tecido em transportar água e manter o

balanço iônico do fluido em níveis ótimos para o desempenho de suas funções.

Assim, propusemos esta investigação para sistematizar a expressão proteica de

diferentes subtipos de AQPs na glândula submandibular; e, para entender de que forma o

tratamento com radiação pode alterar a dinâmica dos diferentes subtipos de AQPs,

correlacionando com possíveis alterações morfológicas decorrentes da radiação.

Page 19: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

17

2 OBJETIVOS

O presente trabalho teve como objetivos:

- Localizar as AQPs 1 e 5 na glândula submandibular dos ratos dos grupos

experimentais;

- Avaliar o efeito da radiação na expressão e localização destas AQPs na glândula

submandibular de ratos;

- Sistematizar a dinâmica dos canais de água, mediante ao tratamento com

radiação, correlacionando com possíveis alterações de morfologia geral e morfometria destas

glândulas.

Page 20: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

18

3 MATERIAL E MÉTODOS

Para este estudo foram utilizados 12 ratos Wistar fêmeas, com 10 semanas de

vida, virgens, obtidos no Biotério Central da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA).

Os animais permaneceram, durante o período de experimentação, no biotério de apoio, ligado

ao Laboratório de Farmacologia da mesma Instituição, sendo mantidos em gaiolas plásticas

(30x16x19 cm) com 3 animais por gaiola, alimentados com dieta comum sólida e água ad

libitum e sob condições adequadas de luminosidade (ciclo claro/escuro 12 horas) e

temperatura (23 à 25°C). Todo o experimento e os procedimentos cirúrgicos deste trabalho

foram submetidos e aprovados junto ao Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da

FAMEMA, sob o Protocolo de Estudo no 414/15. A pesquisa foi realizada de acordo com os

princípios éticos em pesquisa animal adotados pelo Conselho Nacional de Controle de

Experimentação Animal (CONCEA). Ressalta-se, ainda, que todos os resíduos químicos

gerados nos laboratórios do Departamento de Anatomia da UNESP foram segregados,

acondicionados e transportados adequadamente para o Entreposto de Resíduos Químicos do

Campus de Botucatu – UNESP, de acordo com o Plano de Gerenciamento de Resíduos

Analíticos (PGRA), identificado por AMBICAMP PGRA nº AMB-A 014-0108-00399.

3.1 Grupos experimentais

Os animais foram divididos em dois grupos experimentais (6 animais cada), sendo

um grupo controle (G1) e outro grupo submetido à radiação (G2).

Tanto os animais submetidos à radiação (G2) quanto grupo controle (G1) foram

anestesiados com quetamina-xilazina (v/v) 70 mg/kg – 7 mg/kg. Para serem submetidos ao

procedimento com radiação, após indução da anestesia, os animais foram fixados a uma

plataforma e expostos à radiação gama emitida a partir de uma fonte radioativa de cobalto

posicionado a uma distância de 20 cm da superfície da pele. A dose entregue foi de 7,5 Gy em

dose única, seguindo-se um período experimental de 14 dias.

3.2 Protocolo de radioterapia

No grupo submetido à radioterapia, os ratos foram colocados em uma caixa na posição

de tratamento, ou seja, com os membros abduzidos e o pescoço hiperextendido. Todos os

ratos foram anestesiados, para impedir movimentações durante o período de emissão do feixe

Page 21: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

19

de irradiação. A região do pescoço foi irradiada, após a colocação de cone de chumbo, com o

intuito de blindar a passagem da radiação, permitindo que apenas a região do pescoço na

região da glândula submandibular tenha sido irradiada. Os ratos foram irradiados com uma

dose única de 7,5 Gy de radiação gama a partir de um acelerador linear, marca VARIAN

6EX. Foi realizada tomografia do animal na região cervical, com a finalidade de garantir que

a dose prescrita tenha sido entregue ao órgão alvo evitando-se ao máximo a exposição das

estruturas ao redor (cavidade oral, esôfago e traquéia). Os ratos do grupo controle não foram

irradiados. Depois de um período de 14 dias após a irradiação do pescoço, os ratos, tanto do

grupo controle (n = 6), quanto do grupo experimental (n=6) foram submetidos à eutanásia

com uso de câmara de CO2, para coleta das glândulas e análise microscópica dos tecidos.

Ao longo do protocolo experimental foi realizado monitoramento diário dos

animais para quantificação da ingesta de água e ração, bem como do peso corporal dos

animais, sendo que não foram observadas quaisquer modificações significativas nesses

parâmetros, que poderiam indicar sofrimento dos animais. Por conseguinte, o experimento

seguiu o período previsto.

3.3 Processamento do material

Após o período de experimentação foram coletadas, dissecadas e pesadas as

glândulas submandibulares dos dois antímeros sendo que, as glândulas submandibulares do

antímero direito foram congeladas imediatamente em nitrogênio liquido e armazenadas em

freezer com temperatura -80°C, e do antímero esquerdo foram fixadas em solução de fixação

de glutaraldeído 2% e paraformaldeído 4% em tampão fosfato Sorensen 0,1M, pH 7,3, por

pelo menos 24 horas. Após a fixação, as glândulas foram desidratadas em série crescente de

concentração de alcoóis (70%, 80% e 90%) e mantidas em álcool 95% por 4 horas. Nas

amostras destinadas à análise morfométrica, procedeu-se a infiltração em mistura 1:1 de

álcool 95% e resina plástica por 4 horas; infiltração em resina de infiltração por 4 horas ou

overnight e por fim, inclusão em metacrilato glicol (Leica Historesin – Embedding Kit).

Secções de 5µm de espessura foram obtidas em micrótomo Leica RM2245, equipado com

navalha de vidro. As secções foram submetidas à coloração por Hematoxilina e Eosina. Já as

amostras destinadas ao estudo imuno-histoquímico, foram fixadas por imersão em

Paraformoldeído 4% PBS por 24 horas, desidratadas em etanol e seguiram rotina para

inclusão em Paraplast (Paraplast Plus, ST. Louis, MO, USA), sendo posteriormente

Page 22: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

20

seccionadas a 4 μm de espessura em micrótomo e coletadas em lâminas silanizadas para

serem armazenadas até o momento de uso.

3.4 Análise morfométrica

As lâminas obtidas foram analisadas e fotomicrografadas em microscópio

Olympus, modelo BX41 acoplado à câmera de vídeo digital, marca Olympus, modelo DP 25,

Software DP2-BSW-Olympus, e as imagens obtidas seguiram para as análises dos seguintes

parâmetros: volume do tecido, e diâmetros de ductos e lúmen.

3.4.1 Análise do volume – ductos x ácinos x estroma

As lâminas destinadas para análise morfométrica de volume do material foram

avaliadas considerando o percentual equivalente de ductos, ácinos e estroma, obtidos através

da contagem de pontos pelo método de contagem planimétrico, que consiste na sobreposição

de uma grade que totaliza 168 pontos sobre a imagem capturada, utilizando-se o software

Image-Pro Plus (Figura 1).

Figura 1 - Ductos, ácinos e estroma observados em MO quantificados pelo método de

contagem planimétrico, que consiste na sobreposição de uma grade que totaliza 168 pontos

sobre a imagem capturada, utilizando-se o software Image-Pro Plus®.

Page 23: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

21

Para tanto, foram analisadas 2 lâminas de cada animal, sendo 6 animais por grupo

experimental, obtendo-se 36 campos histológicos por animal, de maneira aleatória e evitando-

se áreas com artefatos de preparo. Os dados obtidos foram tabulados chegando a uma

porcentagem referente a ductos, ácinos e estroma por animal, seguindo a fórmula:

PORCENTAGEM (ácino/ducto/estroma) = número de pontos coincidentes x

100/168

3.4.2 Análise do diâmetro de ductos e lúmen; altura de epitélio e razão altura de

epitélio/lúmen

Para a análise do diâmetro, foram capturados aleatoriamente 36 campos

histológicos por animal, sendo 6 animais por grupo experimental, onde foram obtidas as

medidas de área, perímetro, diâmetro máximo, mínimo e médio de ducto e lúmen, através do

software cellSens Dimension®, Olympus (Figura 2).

Figura 2. Fotomicrografia ilustrando o método utilizado para obtenção das medidas de

diâmetro do ducto e lúmen.

Page 24: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

22

Os dados coletados foram exportados para a planilha Microsoft Excel, onde foram

obtidos, através de médias aritméticas, os respectivos valores médios. Para a análise estatística

foi utilizado o software GraphPad Prism® e o teste utilizado foi o teste T. Foram

considerados os valores médios de diâmetro máximo de ducto e lúmen e também os valores

médios do diâmetro médio do lúmen. Através desses dados foram obtidos os valores de altura

de epitélio do ducto e razão altura de epitélio/luz, através das fórmulas:

ALTURA DE EPITÉLIO (AE) = média aritmética diâmetro máximo ducto –

média aritmética diâmetro máximo lúmen

RAZÃO ALTURA DE EPITÉLIO/LUZ = EP / diâmetro médio lúmen

3.5 Imuno-histoquímica

Para a imunolocalização das AQPs 1 e 5, os cortes foram desparafinizados e

submetidos à recuperação da atividade antigênica em tampão Citrato de Sódio pH=6,0 por 15

minutos no microondas. Após lavagem em água destilada, os cortes foram submetidos ao

bloqueio da peroxidase endógena (peróxido de hidrogênio em metanol 3%) por 15 minutos no

escuro e ao bloqueio de proteínas inespecíficas com leite desnatado (MOLICO®) a 3% em

tampão PBS por 1 hora. Após esses procedimentos, os cortes foram incubados com os

anticorpos primários anti-Aquaporina 1 (concentração 1:200; Milipore®, Temecula, USA) e

anti-Aquaporina 5 (concentração 1:200 Milipore® Temecula, USA). Após a incubação

overnigth na geladeira com os anticorpos primários, os cortes foram lavados em tampão PBS

e, em seguida incubados com os anticorpos secundários anticoelho (concentração 1:200 HRP

SIGMA®, USA) por duas horas em temperatura ambiente. Após a reação, os cortes foram

revelados com cromógeno DAB (3,3’-diaminobenzidine tetrahydrochloride, SIGMA®, USA)

e contrastados com Hematoxilina por 1 minuto. Por fim, as lâminas foram montadas com

lamínulas e na sequência observadas e analisadas.

Page 25: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

23

3.6 Western Blotting

Com o objetivo de quantificar o nível protéico das amostras, realizou-se a técnica

de Western Blotting. Para isto, os fragmentos das glândulas submandibulares congelados

foram homogeneizados a 4°C em tampão RIPA (Pierce Biothecnology, Rockford, IL, USA) e

inibidores de protease (Sigma Chemical Co) na proporção de 30 mg de tecido/100 l de

tampão de extração em homogeneizador do tipo Tureaux em 3 ciclos de 5 segundos. O

homogeneizado foi centrifugado a 15.000 rpm por 20 minutos a 4°C e o sobrenadante foi

coletado. A quantificação das proteínas foi realizada em placas de ELISA com 96 poços e a

leitura feita em leitor de ELISA pelo método de Bradford (1976)(31)

. As alíquotas (30 μg de

proteína) foram tratadas com solução tampão para corrida em gel (Laemli SampleBuffer –

BioRad®) e β-mercaptoetanol a 95 °C por 5 minutos. Em seguida, as proteínas foram

separadas por eletroforese vertical em gel de poliacrilamida SDS-PAGE de 12% e após a

eletroforese, transferidas para a membrana de nitrocelulose em sistema úmido de

transferência. Os procedimentos de bloqueio, lavagem e incubação dos anticorpos primários e

secundários foram realizados conforme recomendado pelo fabricante dos anticorpos. A

ligação inespecífica de proteínas foi bloqueada em leite desnatado (MOLICO®) a 3% em

tampão TBST por 1 hora em temperatura ambiente. Em seguida, as membranas foram

incubadas overnigth com os anticorpos primários anti-Aquaporina 1 (concentração 1:1000;

Milipore® Temecula, USA) e anti-Aquaporina 5 (concentração 1:500 Milipore® Temecula,

USA) que foram diluídos em TBS-T. Posteriormente, as membranas foram lavadas em TBS-T

3 vezes de 10 minutos. Após a lavagem, foram incubados os anticorpos secundários anti-

coelho (concentração 1:200 HRP SIGMA®, USA), específico para cada anticorpo primário,

diluídos em TBS-T por 2 horas e em seguida, foram lavadas com TBS-T 3 vezes de 10

minutos. Os componentes imunorreativos foram revelados pelo kit luminescente

(Amersham™ ECL Select Western Blotting Detection Reagent) da GE Healthcare® e a

densidade óptica de cada banda foi avaliada pelo software ImageJ® para Windows®,

normalizada pela densidade do GAPDH (concentração 1:800; G9545, SIGMA®, USA), em

seguida, os resultados foram comparados entre os grupos.

3.7 Forma de análise dos resultados

As lâminas, obtidas a partir da rotina imuno-histoquímica, foram analisadas e

fotografadas em fotomicroscópio Axiophot – 2, com câmera digital, modelo AxioCam HR,

Page 26: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

24

Zeiss do Departamento de Anatomia, Instituto de Biociências – UNESP - Campus de

Botucatu. Em seguida, foram analisadas, visando identificar possíveis alterações nas

marcações referentes às AQPs nos diferentes grupos de estudo. Com o objetivo de confirmar a

reação específica e a eficiência da técnica e dos reagentes empregados, controles negativo e

positivo foram utilizados.

Para os resultados obtidos em Western blotting foram realizadas análises

semiquantitativas por densitometria das bandas e a intensidade da marcação da banda da

GAPDH (anti-GAPDH, Sigma, St. Louis, M, USA) foi utilizada para a normalização da

intensidade das bandas entre as amostras.

Os dados obtidos foram expressos pela média ± erro padrão da média (EPM). As

comparações entre os grupos de animais foram feitas através do teste t de Student. Diferenças

nos valores de p<0,05 foram consideradas estatisticamente significativas.

Page 27: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

25

4 RESULTADOS

4.1. Estereologia e histomorfometria

O peso dos animais ao fim do período experimental não apresentou diferença

significativa entre os grupos. No entanto, houve redução significativa no peso das glândulas

submandibulares dos animais do grupo irradiado em relação aos animais do grupo controle

(Tabela 1).

Os resultados estereológicos mostraram que o tratamento de irradiação (7,5 Gy

em dose única) não alterou a porcentagem de volume de área dos ductos, ácino e estroma,

quando comparados ao grupo controle (Tabela 1).

Os dados referentes aos valores médios de diâmetro do ducto e lúmen, bem como

a altura do epitélio ductal também não apresentaram diferenças significativas. No entanto, a

análise da razão altura de epitélio/lúmen apresentou diferença significativa (p=0,0266), como

pode ser observado na tabela 2.

Tabela 1 - Peso dos animais e peso e estereologia de glândula submandibular

Parâmetros

Grupo

Controle (n=6) Irradiado (n=6)

Peso animais (g) 195,80 ± 2,39 196,70 ± 4,77

Peso de glândula

submandibular (mg) 182,70 ± 14,83 159,40 ± 3,63*

Volume ácinos (%) 60,66 ± 2,09 59,14 ± 1,77

Volume ductos (%) 23,94 ± 2,42 23,67 ± 1,89

Volume estroma (%) 15,41 ± 0,48 17,19 ± 1,24

Valores expressos em Média ± Erro Padrão da Média, p ˂0,05. Teste t de Student. *p= 0,0078.

Tabela 2. Valores médios e desvio padrão (±) dos valores de diâmetros do ducto e do

lúmen, altura de epitélio do ducto e razão entre altura do epitélio do ducto / lúmen.

Parâmetros (μm)

Grupo

Controle (n=6) Irradiado (n=6)

Ducto 48,71 ± 1,82 47,90 ± 1,33

Lúmen 6,93 ± 0,47 7,90 ± 0,48

Altura de epitélio 45,63 ± 1,62 43,22 ± 1,29

Razão epitélio/lúmen 6,68 ± 0,35 5,54 ± 0,26*

Valores expressos em Média ± Erro Padrão da Média, p ˂0,05. Teste t de Student. *p= 0,0266.

Page 28: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

26

4.2. Imuno-histoquímica

A análise de lâminas preparadas para imunolocalização da AQP1 dos animais do

grupo controle demonstrou presença desta proteína no endotélio de canais vasculares ao redor

dos ácinos. Também foi detectada reatividade para AQP1 em células sanguíneas na luz desses

vasos. Além disso, há evidente marcação citoplasmática para a AQP1, com aparência de

grânulos, nas células ductais, sem marcação específica nas membranas apical e basal. Por

outro lado, não foi observada imunomarcação no citoplasma e nas membranas de células

acinares (Figura 3A).

Por fim, os animais do grupo irradiado mantiveram o mesmo padrão de

localização para a AQP1 no epitélio glandular, com diminuição na intensidade da marcação

imuno-histoquímica, especialmente no endotélio, quando comparados ao grupo controle

(Figura 3B).

Nos animais do grupo controle, intensa marcação para a AQP5 foi observada nas

membranas apicais e basolaterais de células acinares da glândula submandibular e, marcação

mais dispersa foi observada no citoplasma dessas células. Além disso, fraca marcação para a

AQP5 foi observada na região apical das células dos ductos intercalados (Figura 3C).

A análise imuno-histoquímica para a AQP5 na glândula submandibular de animais

submetidos ao protocolo de irradiação, evidenciou padrão de distribuição para esta AQP

semelhante ao observado no grupo controle, porém, a intensidade da marcação foi

drasticamente reduzida (Figura 3D).

Page 29: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

27

Figura 3 - Análise imuno-histoquímica para AQP1 (A e B) e AQP5 (C e D), nos grupos

de animais controle (A e C) e irradiado (B e D). Bar = 20µm.

4.3 Western blotting

Através da técnica de Western blotting, foi confirmada a queda nos níveis

protéicos da AQP1 na glândula submandibular no grupo de animais submetidos à irradiação,

quando comparados aos animais do grupo controle, conforme observado na imuno-

histoquímica. Os resultados relativos aos níveis protéicos da AQP5, na glândula

submandibular, revelaram alteração dos níveis dessa proteína entre os grupos controle e

tratado. No entanto, não houve resultado estatístico significativo (Figura 4). Esse resultado

contrapõe à evidência de queda brusca na marcação da AQP5, claramente detectada pela

técnica de imuno-histoquímica (Figura 3C e 3D). Apesar da discrepância de resultados entre

as técnicas imuno-histoquímica e de Western blotting, optamos por respeitar o efeito

biológico claramente observado na técnica de imuno-hitoquímica sem, no entanto,

AQP1

AQP5

Grupo Controle Grupo Irradiado

Page 30: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

28

desconsiderar a estatística utilizada para quantificação de níveis protéicos da técnica de

Western blotting.

Figura 4 - Análise dos níveis proteicos de AQP1 e AQP5, em amostras de glândulas

submandibulares. Os gráficos representam a expressão relativa da densidade óptica integrada

para as proteínas AQP1 e AQP5 normalizadas pela GAPDH e expressa pela média±EPM. O

asterisco representa a diferença estatística do grupo irradiado em relação ao grupo controle

(p<0,05).

Irradiado Controle

AQP- 1

AQP- 5

37 kDa

28,8 kDa

28,8 kDa

GAPDH

Page 31: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

29

5 DISCUSSÃO

Diversos estudos demonstram que a radiação pode causar danos ao epitélio

glandular(33-43)

, tendo como consequência hipofunção das glândulas salivares e xerostomia.

Parece ser provável que o prejuízo funcional instalado ocorra por alterações estruturais

impostas a esses tecidos pela radiação e que, por conseguinte, ocorram alterações no

parênquima e estroma das glândulas. De maneira geral, os estudos descrevem como achado

histológico mais frequente atrofia acinar(33,35,36,37,39,40,41)

, que é caracterizada por redução do

tamanho dos ácinos ou perda de parênquima, acompanhada de fibrose ou aumento de tecido

conjuntivo intersticial(33,41)

. Também são relatadas alterações inflamatórias do estroma(37)

,

vacuolização do citoplasma e apoptose(34,42,43)

.

Quanto ao protocolo de irradiação, cabe ressaltar que os estudos divergem em

relação à intensidade e ao fracionamento da dose, de forma que enquanto alguns experimentos

utilizaram dose única(39,40)

, outros fracionaram a entrega de radiação(33,35,37,41)

. Assim, parece

ser consenso que há relação entre a dose e o dano provocado, de modo que transformações

mais intensas são observadas em resposta a doses mais altas.

Partindo dessas premissas, o presente estudo propôs, inicialmente, investigar as

repercussões funcionais e identificar possíveis alterações morfológicas induzidas pela

radiação na glândula submandibular de ratos.

Após a análise dos dados obtidos para avaliação do volume de parênquima e

estroma, não foi encontrada diferença significativa entre os grupos, em contraponto com a

literatura. Essa contraposição pode ser explicada levando-se em consideração que a dose de

radiação utilizada no experimento - única de 7,5 Gy - é menor que a dose utilizada nos

experimentos selecionados na literatura que variaram de 15 a 76,5 Gy.

Também não foram encontradas diferenças significativas na análise dos valores

médios de diâmetro e lúmen e na altura da parede ou epitélio ductal. No entanto, foi

encontrada diferença significativa (p=0,0266) na relação altura de epitélio/lúmen, que sugere

adelgaçamento da parede do ducto. Essa diferença parece ser explicada pelo fato de que as

medidas da altura de epitélio apresentaram discreta diminuição em contraposição a um ligeiro

aumento das medidas de lúmen, que embora não fossem evidentes isoladamente, quando

somadas demonstraram diferença significativa. Sendo assim, esse resultado somado à

evidência de diminuição de peso da glândula, corroboram com a tese, frequentemente

encontrada na literatura, de que a irradiação pode levar à atrofia tecidual. Por fim, outro dado

Page 32: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

30

relevante é que a irradiação não alterou o peso dos animais ao final do tratamento, mostrando

um efeito isolado sobre a glândula submandibular.

Em relação às AQPs, observamos em nossa revisão da literatura que existem

aspectos de consenso bem como controversos quanto à expressão e localização desta família

de proteínas na glândula submandibular.

Nossos dados mostraram presença da AQP1 em eritrócitos e no endotélio de vasos

ao redor dos ductos e ácinos da glândula submandibular de animais de ambos os grupos,

controle e irradiado. Parece ser claro e amplamente aceito na literatura esse padrão de

localização da AQP1 em eritrócitos(22,44)

e em células endoteliais de vasos e capilares que

irrigam o tecido glandular de ratos e camundongos(21,22,44)

e humanos(21,45)

. Provavelmente, a

presença da AQP1 nesses vasos esteja relacionada à remoção de água deste tecido, após

reabsorção realizada pelas células epiteliais.

Em humanos, conforme revisado por Delporte(21)

, a localização da AQP1 não fica

restrita a células endoteliais, mas também está associada às células mioepiteliais que

circundam os ácinos das glândulas submandibular e parótida. Nesse caso, a presença de AQP1

nas células mioepiteliais deve estar relacionada à capacidade de contração dessas células, que

resultaria na constrição acinar para impulsionar a salivar primária em direção aos ductos,

facilitando o fluxo salivar em direção à boca(23)

.

Assim, para todos os estudos até o momento, a AQP1 não foi localizada nas

células do epitélio de glândulas salivares, sugerindo papel secundário desta proteína na

produção de saliva em condições normais(21,22,23,45)

.

No entanto, em contraponto à literatura, identificamos grânulos com marcação

intensa e consistente para AQP1, no citoplasma das células ductais de grande parte dos ductos

da glândula submandibular. Nossa hipótese para explicar a presença desses grânulos, é que,

provavelmente, sejam vesículas intracelulares para estocagem de AQP1, para possível

reciclagem rápida dessa proteína. Ou ainda, seriam vesículas intracelulares, positivas para

AQP1, com a função de controlar o volume das células ductais, já que as aquaporinas, de

forma geral, podem estar presentes nas membranas de organelas intracelulares, regulando

assim o volume da célula e da organela(18)

.

Em nosso estudo, o padrão de localização para a AQP1 na glândula

submandibular de animais, do grupo irradiado, manteve-se semelhante ao observado nos

animais do grupo controle. Porém, foi detectada diminuição na intensidade da marcação e nos

níveis proteicos de AQP1 nos animais irradiados quando comparados aos animais do grupo

controle. Resultados diferentes foram descritos por Li et al.(44)

, onde os autores relatam que

Page 33: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

31

não houve diferença na intensidade de reação da AQP1 em glândulas salivares de ratos

expostos à radiação de 15 Gy em dose única, quando comparado ao grupo controle. Os relatos

divergentes acerca da intensidade da AQP1 poderiam ser explicados pelas diferenças na

escolha dos protocolos experimentais utilizados em cada estudo.

Assim, de acordo com nossos dados, a diminuição na imuno-reatividade para

AQP1 no endotélio pode ter prejudicado, indiretamente, a remoção de água do lúmen do

ducto. Tendo em vista que a remoção de água do lúmen para o epitélio, realizada por outro

canal de água, é absorvida pelos canais vasculares periductais para ser eliminada; um atraso

na absorção de água, causada pela redução da atividade da AQP1 no endotélio, explicaria o

discreto aumento de lúmen verificado na histomorfometria.

Assim, de forma inédita, nossos resultados sugerem que as alterações nos níveis

protéicos de AQP1, na glândula salivar irradiada, poderiam ser responsáveis por desencadear

alterações morfológicas na glândula. Talvez esse processo possa ser progressivo e acentuado

de forma dependente da dose e tempo de exposição à radiação.

Nossos achados evidenciaram marcação para AQP5 na membrana apical das

células ductais, delimitando o lúmen do ducto intercalado, e nas membranas das células

acinares, com discreta marcação citoplasmática.

A presença de AQP5 nas células acinares e ductais foi amplamente discutida na

literatura, porém sua localização e papel na fisiologia de produção de saliva envolvem

aspectos controversos. De maneira geral, a AQP5 é descrita na membrana apical das células

acinares de roedores(21,23,25,26,27,28,44,46,47)

e humanos(21,23,45)

, sendo que alguns autores também

a descrevem na membrana basolateral(25,28,46)

e citoplasma (46)

destas células. Em relação às

células ductais, diversos estudos divergem quanto à sua ocorrência(23,25,27,28,46)

ou

ausência(44,47)

no ducto intercalado.

Estudos com camundongos Knockout para AQP5 mostraram que a ausência deste

subtipo de AQP leva à redução de aproximadamente 60% da secreção de saliva e aumento na

viscosidade(48)

. Assim, é sugerido para essa AQP papel crucial na secreção de saliva. Além

disso, a presença de AQP5 nos ductos intercalados da glândula submandibular de rato sugere

que essa proteína esteja envolvida na absorção e/ou secreção de pequenos solutos, fato esse

que merece ser investigado23

.

Matsuzaki(25)

analisou a presença de AQP5 nas glândulas parótidas, sublinguais e

submandibulares em ratos e camundongos e a localizou no ácino de todas as glândulas, com a

particularidade de que sua marcação foi discreta e localizada apenas na membrana apical em

ratos, e mais evidente e também localizada nas membranas basolaterais em camundongos.

Page 34: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

32

Quanto às células ductais, o autor descreveu marcação fortemente positiva de AQP5 na

membrana apical das células do ducto intercalado somente na glândula submandibular e

negativa para os ductos estriados e excretores de ambas as glândulas em ratos, enquanto que

para camundongos a marcação foi discreta no ducto intercalado e negativa nos demais ductos.

A presença de AQP5 somente nos ductos intercalados tanto de ratos como de

camundongos, e não nos demais, pode ser explicada quando se analisa a fisiologia de

produção da saliva. Assim, no ducto intercalado ocorre a transformação da saliva primária,

produzida pelas células acinares, em saliva secundária, através de trocas iônicas mediadas por

gradiente de concentração osmótica. Dessa forma, Na+

e Cl- são reabsorvidos e K

+ e HCO3

-

são incorporados, transformando o fluído, originalmente isotônico, em hipotônico. Nesse

panorama, torna-se evidente a necessidade de permeabilidade dos ductos intercalados

enquanto os ductos estriados e excretores mostram-se potencialmente impermeáveis visto que

sua função se limita a conduzir o fluido à cavidade bucal, sem haver outras alterações em sua

composição(23)

.

Buscando compreender a dinâmica dos canais de água na glândula salivar, vários

experimentos foram realizados com intuito de avaliar o efeito da irradiação sobre as AQPs,

considerando a radiosensibilidade dessas proteínas e o papel isolado de cada AQP na

hipofunção das glândulas salivares. Encontra-se bem estabelecido na literatura que a

irradiação altera a função das glândulas salivares, resultando em alterações no padrão de

volume e na composição da saliva(2-6,9,12,13,15,16,24,26,27,33-43,44,49)

e, portanto, as AQPs podem ter

papel relevante nesse contexto. No presente estudo, as glândulas submandibulares

apresentaram queda na marcação para a AQP5, após exposição à irradiação.

Delporte(21)

e Delporte e Steinfeld(23)

revisaram a literatura e estabeleceram

relação entre a deficiência do fluxo salivar e a diminuição da expressão de AQP5 nos ductos

intercalados e células acinares em ratos irradiados. Li et al(44)

em seu estudo, avaliaram a

reação da AQP5 em ratos expostos à radiação de 15 Gy em dose única, e encontraram

marcação de AQP5 aproximadamente 60% menor 3 dias após o protocolo de irradiação e

44% menor após 30 dias, quando comparados ao grupo não irradiado. Assim, os autores

concluíram que a queda dos níveis da AQP5 deve participar do processo de redução do fluxo

salivar em glândulas salivares irradiadas. Outros experimentos(27,49)

também demonstram que

a AQP5 sofre acentuada diminuição de imunolocalização após irradiação. Takakura et al(27)

demonstraram queda da imunofluorescência tanto da AQP5 como AQP5mRNA nas células

acinares de camundongos expostos a 15Gy de radiação X. Asari et al (49)

, analisando glândulas

Page 35: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

33

parótidas de ratos também relataram diminuição da expressão de AQP5 após 15 Gy de

irradiação em dose única.

Em resumo, podemos confirmar a presença da AQP1 no endotélio de vasos de

maior calibre e pequenos capilares e em células sanguíneas na luz desses vasos e, de AQP5

nas células ductais delimitando o lúmen do ducto intercalado e no citoplasma e nas

membranas apical e basolateral das células acinares. Além disso, parece ser clara a

radiosensibilidade dessas proteínas, comprovada pela diminuição de suas marcações em

glândulas de animais irradiados, sendo que o mecanismo relacionado a esse processo

permanece não identificado.

Por fim, sabe-se para outros tecidos que diferentes AQPs podem ocupar um

mesmo domínio de membrana e atuar de forma dinâmica a fim de manter a homeostase dos

tecidos. Assim, provavelmente, os animais submetidos à irradiação, não apresentaram severas

alterações morfológicas e estruturais na glândula submandibular, devido a possíveis alterações

na dinâmica desses canais de água como tentativa de preservar sua fisiologia normal. Além

disso, baseado em nossos achados, podemos sugerir que a presença da AQP1 é fundamental

para manutenção estrutural da glândula submandibular. E ainda, com base em nossos

resultados, também é possível concluir que a irradiação mesmo em dose única e baixa, leva a

alterações de função da glândula salivar, tendo em vista a diminuição na intensidade da

AQP5.

Page 36: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

34

6 CONCLUSÕES

Baseado em nossos dados, foi possível concluir que:

- O padrão de localização das AQPs 1 e 5 na glândula submandibular de rato foi

esclarecido, tendo sido, em grande parte, semelhante ao descrito na literatura;

- A irradiação - 7,5 Gy em dose única - não leva a severas alterações morfológicas

na glândula submandibular, porém é suficiente para alterar a função da glândula salivar;

- A terapia de radiação altera os padrões de intensidade de marcação das AQPs 1 e

5;

- Alterações de níveis protéicos da AQP1 devem desencadear alterações

estruturais na glândula submandibular.

Page 37: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

35

REFERÊNCIAS

*CONFERIR TÍTULO ABREVIADO DOS PERIÓDICOS

http://portal.revistas.bvs.br/index.php?lang=pt

1. Rosa BL, Zuccolotto MCC, Bataglion C, Coronatto EAS. Odontogeriatria: a saúde bucal na

terceira idade. RFO UPF. 2008;13(2):82-6.

2. Jham BC, Freire ARS. Complicações bucais da radioterapia em cabeça e pescoço. Rev Bras

Otorrinolaringol. 2006;72(5):704-8.

3. Lucena AAG, Costa EB, Alves PM, Figueiredo RLQ, Pereira JV, Cavalcanti AL. Fluxo

salivar em pacientes idosos. RGO. 2010;58(3):301-5.

4. Vieira DL, Leite AF, Melo NS, Figueiredo PTS. Tratamento odontológico em pacientes

oncológicos. Oral Sci. 2012;4(2):37-42.

5. Deasy JO, Moiseenko V, Marks L, Chao KS, Nam J, Eisbruch A. Radiotherapy dose:

volume effects on salyvary gland function. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2010;76(3

Suppl):S58-63.

6. Liu B, Dion MR, Jurasic MM, Gibson G, Jones JA. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral

Radiol. 2012;114(1):52-60. Xerostomia and salivary hypofunction in vulnerable

elders: prevalence and etiology.

7. Minicucci EM, Pires RB, Vieira RA, Miot HA, Sposto MR. Aust Dent J. 2013

Jun;58(2):230-4. Assessing the impact of menopause on salivary flow and xerostomia

8. Jensen SB(1), Vissink A. 1. Oral Maxillofac Surg Clin North Am. 2014 Feb;26(1):35-53.

Salivary gland dysfunction and xerostomia in Sjögren's syndrome.

9. Holmberg KV(1), Hoffman MP. Monogr Oral Sci. 2014;24:1-13. Anatomy, biogenesis and

regeneration of salivary glands.

10. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 12ª. ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier;

2011. Capítulo 64, Funções secretoras do trato alimentar; p. 815-30.

11. Junqueira L, Carneiro J. Histologia básica. 10ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Capítulo 16, Órgãos associados ao trato digestivo; p. 317-38.

12. Saleh J, Figueiredo MA, Cherubini K, Salum FG. Arch Oral Biol. 2015 Feb;60(2):242-55.

Salivary hypofunction: An update on aetiology, diagnosis and therapeutics

13. Plemons JM(1), Al-Hashimi I(2), Marek CL. J Am Dent Assoc. 2014Aug;145(8):867-73.

Managing xerostomia and salivary gland hypofunction: executive summary of a report

from the American Dental Association Council on Scientific Affairs.

14. Nikolopoulou F, Tasopoulos T, Jagger R. Int J Prosthodont. 2013 Nov-Dec;26(6):525-6.

The prevalence of xerostomia in patients with removable prostheses.

Page 38: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

36

15. Wong HM(1).ScientificWorldJournal. 2014 Jan 8;2014:1-14.Oral complications and

management strategies for patients undergoing cancer therapy Scientific World

Journal.

16. Pinna R, Campus G, Cumbo E, Mura I, Milia E. Ther Clin Risk Manag. 2015 Feb

4;11:171-88. Xerostomia induced by radiotherapy: an overview of the

physiopathology, clinical evidence, and management of the oral damage.

17. Verkman, A.S., Mitra, A.K. Am. J. Physiol. Renal Physiol., 278: F13-F28, 2000. Structure

and function of aquaporin water channels.

18. Nozaki, K., Ishii, D., Ishibashi, K. Pflugers Arch. 2008 Jul;456(4):701-707. Intracellular

aquaporins: clues for intracellular water transport?

19. Verkman, A. S. J Cell Sci. 2005 Aug 1,118:3225-3232. More than just water channels:

unexpected celullar roles of aquaporins.

20. Verkman, A.S. J Exp Biol. 2009 Jun;212(Pt11):1707. Aquaporins: translating bench

research to human disease.

21. Delporte, C. Biochim Biophys Acta. 2013 Aug;4165(13):00351-6. Aquaporins in salivary

glands and pancreas.

22. Aure MH, Ruus AK, Galtung HK. J Mol Histol. 2014 Feb;45(1):69-80. Aquaporins in the

adult mouse submandibular and sublingual salivary glands.

23. Delporte C, Steinfeld S. Biochim Biophys Acta. 2006 Aug;1758(8):1061-70. Distribution

and roles of aquaporins in salivary glands.

24. J.T. Johnson, G.A Ferretti, W.J. Nethery, I.H. Valdez, P.C. Fox, D. Ng, C.C. Muscoplat,

S.C. Gallagher. N Engl J Med, 1993 Aug 5;329(6):390-5. Oral pilocarpine for post-

irradiation xerostomia in patients with head and neck cancer.

25. Matsuzaki T, Susa T, Shimizu K, Sawai N, Suzuki T, Aoki T, Yokoo S, Takata K. Acta

Histochem. Cytochem. 2012; 45 (5): 251–259. Function of the Membrane Water

Channel Aquaporin-5 in the Salivary Gland.

26. Takahashi A, Inoue H, Mishima K, Ide F, Nakayama R, Hasaka A, Ryo K, Ito Y, Sakurai

T, Hasegawa Y, Saito I. PLoS One. 2015 Jan 28;10(1):e0116008. Evaluation of the

Effects of Quercetin on Damaged Salivary Secretion.

27. Takakura K, Takaki S, Takeda I, Hanaue N, Kizu Y, Tonogi M, Yamane GY.Bull Tokyo

Dent Coll. 2007 May;48(2):47-56. Effect of cevimeline on radiation-induced salivary

gland dysfunction and AQP5 in submandibular gland in mice

28. Taketo Susa, Nobuhiko Sawai, Takeo Aoki, Akiko Iizuka-Kogo, Hiroshi Kogo,

Akihide Negishi, Satoshi Yokoo, Kuniaki Takata and Toshiyuki Matsuzaki. . Acta

Histochem. Cytochem. 46 (6): 187–197, 2013 Effects of Repeated Administration of

Pilocarpine and Isoproterenol onAquaporin-5 Expression in Rat Salivary Glands.

Page 39: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

37

29. M.L. Elkjaer, L.N. Nejsum, V. Gresz, T.H. Kwon, U.B. Jensen, J. Frøkiaer, S. Nielsen.

Am J Physiol Renal Physiol. 2001 Dec;281: F1047–F1057. Immunolocalization of

aquaporin-8 in rat kidney, gastrointestinal tract, testis, and airways.

30. R.B. Wellner, R.B. Redman, W.D. Swain, B.J. Baum. Pflugers Arch. 2006

Feb;451(5):642–645. Further evidence for AQP8 expression in the myoepithelium of

rat submandibular and parotid glands.

31. Agre P, Brown D, Nielsen S. Aquaporin water channels: unanswered questions and

unresolved controversies. Curr Opin Cell Biol. 1995;7(4):472-83.

32. Bradford MM. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities

of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Anal Biochem 1976;72:248-

54.

33. Vier-Pelisser at al. Microscopic analysis of the effect of fractioned radiation therapy on

submandibular gland of rat. Radiol Bras 2005, 38(6):409-414.

34. Dexheimer M. Avaliação morfológica e morfométrica das glândulas parótidas de

camundongos submetidos à radiação X ao longo do envelhecimento [dissertação]. .

Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2005. 59 p.

35. Cherry CP, Glucksmann A. Injury and repair following irradiation of salivary glands in

male rats. Br J Radiol. 1959;32:596-608.

36. Frank RM, Herdly J, Philippe E. Acquired dental defects and salivary gland lesions after

irradiation for carcinoma. J Am Dent Assoc. 1965; 70:868-83.

37. Elzay RP, Levitt SH, Sweeney WT. Histologic effect of fractioned doses of selectively

applied megavoltage irradiation on the major salivary glands of the albino rat.

Radiology. 1969;93:146-52.

38. Friedrich RE et al. The effect of external fractionated irradiation on the distribution

pattern of extracellular matrix proteins in submandibular salivary glands of the rat. J

Craniomaxillofac Surg 2002;30:246-54.

39. Ahlner et at. Irradiation of rabbit submandibular glands. Histolgy and morfometry after 15

Gy. Acta Otolaryngol 1993;113:210-9.

40. Nagler RM. Effects of head and neck radiotherapy on major salivary glands – animal

studies and human implications. In Vivo. 2003;17:369-75.

41. Radfar L, Sirois DA. Structural and functional injury in minipig salivary gland following

fractionated exposure to 70 Gy of ionizing radiation: An animal model for human

radiation-induced salivary gland injury. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol.

2003;96:267-74

42. Boraks et al. Effect of ionizing radiation on rat parotid gland. Braz Dent J. 2008;19(1);73-

6.

Page 40: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

38

43. Savage NW, Adkins KF, Kruger BJ. The effects of fractionated megavoltage X-irradiation

on the rat submandibular gland: an assessment by light microscopy and

autoradiography. Aust Dent J. 1985;30:1-7.

44. Li Z, Zhao D, Gong B, Xu Y, Sun H, Yang B, Zhao X. Decreased saliva secretion and

down-regulation of AQP5 in submandibular gland in irradiated rats. Radiat Res.

2006;165(6):678-87.

45. Gresz V, Kwon TH, Hurley PT, Varga G, Zelles T, Nielsen S, Case RM, Steward MC.

Identification and localization of aquaporin water channels in human salivary glands.

Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. 2001;281(1):G247-54.

46. Larsen HS, Aure MH, Peters SB, Larsen M, Messelt EB, Kanli Galtung H. Localization of

AQP5 during development of the mouse submandibular salivary gland. J Mol Histol.

2011;42(1):71-81.

47. Funaki H, Yamamoto T, Koyama Y, Kondo D, Yaoita E, Kawasaki K, Kobayashi H,

Sawaguchi S, Abe H, Kihara I. Localization and expression of AQP5 in cornea, serous

salivary glands, and pulmonary epithelial cells. Am J Physiol. 1998;275(4 Pt

1):C1151-7.

48. T. Ma, Y. Song, A. Gillespie, E.J. Carlson, C.J. Epstein, A.S. Verkman. Defective

secretion of saliva in transgenic mice lacking aquaporin-5 water channels. J Biol

Chem. 1999;274 (29):20071–74.

49. Asari T, Maruyama K, Kusama H. Salivation triggered by pilocarpine involves aquaporin-

5 in normal rats but not in irradiated rats. Clin Exp Pharmacol Physiol. 2009;36(5-

6):531-8.

Page 41: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

39

APÊNDICE A

Tomografia computadorizada realizada previamente ao protocolo de irradiação, para

delimitação da área alvo, a fim de minimizar danos aos tecidos não-alvo. Na sequência,

protocolo de irradiação sendo realizado.

Page 42: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

40

APÊNDICE B

Gráfico de evolução do peso dos animais dos grupos controle e irradiado ao longo do período

experimental.

Page 43: FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARCUS VINICIUS …

41

ANEXO A

Estrutura proposta para as aquaporinas. Cada isoforma é composta por cadeia

polipeptídica simples com seis domínios que atravessam a membrana e as extremidades

carboxi (COOH) e amino (H2N) terminais voltadas para o citoplasma

Adaptado de: Agre P, Brown D, Nielsen S. Aquaporin water channels: unanswered

questions and unresolved controversies. Curr Opin Cell Biol. 1995;7(4):472-83.

Membrana

Citoplasma