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FACULDADE MERIDIONAL – IMED
ESCOLA DE PSICOLOGIA
Mariana Debortoli Scheffer
Crianças resilientes, adultos resistentes –
Resiliência como promoção da saúde
Orientador(a): Prof.ª Me. Susana König Luz
Passo Fundo
2016
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Mariana Debortoli Scheffer
Crianças resilientes, adultos resistentes –
Resiliência como promoção da saúde
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Escola de Psicologia, da Faculdade Meridional –
IMED, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Psicologia, sob a orientação
da Professora Mestre Susana König Luz.
Passo Fundo
2016
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Mariana Debortoli Scheffer
Crianças resilientes, adultos resistentes –
Resiliência como promoção da saúde
Banca Examinadora:
Profª. Me. Suzana König Luz
Profª. Dr. Camila Rosa de Oliveira
Profª. Dr. Márcia Fortes Wagner
Passo Fundo
2016
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Crianças resilientes, adultos resistentes –
Resiliência como promoção da saúde
Mariana Debortoli Scheffer1
Resumo
Resiliência é um conceito amplo e complexo que se refere à condição que o ser humano tem
de moldar-se e voltar à sua conformação original após ter-se deparado com situações
adversas, vividas no seu cotidiano. Este estudo teve como objetivo fazer uma análise deste
tema, levando em consideração a influência da família na construção da resiliência, bem como
a sua presença na promoção da saúde do indivíduo. Para essa finalidade foram utilizados dez
(10) artigos científicos, da base SciElo e Lilacs, os quais permitiram realizar a pesquisa e
elaborar a fundamentação teórica deste artigo. Levando-se em consideração os materiais
pesquisados, os autores podem divergir em alguns pontos quanto à questão conceitual da
resiliência, mas todos são unânimes em afirmar a importância que esta característica pessoal
tem no desenvolvimento da saúde do indivíduo.
Palavras-chave: Resiliência. Família. Saúde.
Abstract
Resilience is a broad and complex concept that refers to the condition that the human being
has to shape up and return to its original conformation after it has encountered adverse
situations experienced in their daily lives. This study aimed to analyze this issue, taking into
account the family's influence on building resilience, as well as its presence in the promotion
of the individual's health. For this purpose were used ten (10) scientific papers, the base
SciElo and Lilacs, which allowed to search and develop the theoretical basis of this article.
Taking into account the materials investigated, the authors may differ on some points
regarding the conceptual issue of resilience, but all are unanimous in affirming the importance
of this trait on the development of the individual's health.
Keywords: Resilience. Family. Health.
1 Acadêmica da Escola de Psicologia da Faculdade Meridional – IMED, Passo Fundo (RS). E-mail:
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Introdução
O risco psicossocial atual é objeto de muitas discussões e preocupações, tendo em
vista a diversidade e a complexidade dos problemas enfrentados cotidianamente. Quando não
enfrentados de maneira saudável, os mesmos podem resultar em graves problemas de saúde
tanto em indivíduos em sua particularidade como no âmbito familiar, como um conjunto. Nos
últimos anos é cada vez mais expressiva a quantidade de famílias que sofrem em constante
adversidade representando, consequentemente, em um desafio para os profissionais da área da
saúde que atuam de forma direta com essas circunstâncias (Rozemberg et al., 2014).
A presente pesquisa sobre resiliência tem como objetivo apresentar a sua definição,
bem como uma nova possibilidade para a prevenção da saúde da família e do indivíduo em
sua particularidade, gerando, a partir disto, a resiliência como promoção da saúde. Conforme
a carta de intenções de Ottawa (1986), quando se fala em promoção da saúde, sugere-se a
capacitação e habilidade das pessoas em prol de uma melhor qualidade de vida e saúde, para
que, ao se deparar com situações de risco haja um melhor reestabelecimento, visando reduzir
ao máximo os danos causados pela exposição a estas situações (Silva, 2005).
Resiliência
Conforme ressalta Noronha, Cardoso, Moraes e Centa (2009) “resiliência” é um termo
originado do latim resílio, significando “ser elástico” e foi aplicado, inicialmente, pelo
cientista inglês Thomas Young, em 1807. Silva, Lunardi, Lunardi Filho e Tavares (2005)
afirmam que o termo resiliência é oriundo da física, engenharia que significa a capacidade de
resistir a situações adversas, como por exemplo, a capacidade de um objeto sofrer uma
pressão, e ainda conseguir retornar ao estado original. Quer dizer, a resiliência se referia à
capacidade que esse material tinha, pois, mesmo sofrendo diversos tipos de deformação, o
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mesmo retornava ao seu estado natural.
Já na área das ciências humanas, a representação da resiliência está nas condições que
uma pessoa tem de manter-se emocionalmente bem após sofrer adversidades. Partindo-se
desse pressuposto básico, disciplinas desta área passaram a tecer diversos conceitos teóricos,
fundamentando-os em suas áreas específicas.
A partir da década de 1970, a resiliência, como objeto da matéria de desenvolvimento
humano em condições adversas, passou a ser estudada por diversos autores. Nos seus estudos,
eles buscavam identificar quais fatores de risco e de proteção exerciam influência para que
esses indivíduos se adaptassem e, com isso, passaram a subsidiar programas e políticas
públicas onde sua principal preocupação era fazer com que as pessoas se mantivessem
saudáveis na presença de infortúnios (Noronha et al., 2009).
Silva et al. (2005) afirmam que a resiliência é a capacidade que o ser humano tem de
conseguir levar uma vida saudável e manter uma postura fortalecida, mesmo vivendo em
condições adversas. É um processo complexo, construído gradativamente a partir da
superação das experiências que o sujeito vai vivenciando ao decorrer da vida. Com isso, o ser
humano vai interagindo com o seu ambiente e desenvolvendo condições que lhe permitam
enfrentar, as situações que, em dado momento, lhe eram ameaçadoras.
Os últimos anos apresentaram um aumento significativo de famílias que vivem em
condições muito adversas e, paralelamente, o conceito de resiliência tem sido cada vez mais
considerado e estudado. De acordo com Silva et al. (2005), o conceito de resiliência pode ser
agrupado em três categorias: a) a capacidade de a pessoa mostrar os resultados de
desenvolvimento esperados, mesmo que os riscos presentes no ambiente possam
comprometer esse processo; b) a sustentação de certas competências, mesmo quando a
adversidade se faz presente c) a capacidade do sujeito de recuperar-se das adversidades que
experimenta ao longo de sua vida.
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De modo geral, os autores referidos acima, indicam que o termo resiliência deva ser
aplicado nas situações em que o indivíduo tenha uma resposta positiva diante de uma
circunstância que oferece risco significativo, não se aplicando quando o indivíduo obtém boas
respostas ao seu comportamento, mas não há exposição a situações de risco. A resiliência não
quer dizer que a situação de risco seja eliminada ou anulada, mas sim que o indivíduo, diante
das mesmas, enfrente, com êxito, os desafios que lhe são apresentados.
A resiliência não significa dizer que o indivíduo seja invulnerável, ela representa a
ideia de que essa pessoa tenha capacidade de enfrentar e construir-se de forma positiva a
partir da presença de situações adversas e negativas. Isso não quer dizer que essa pessoa não
esteja sujeita a situações de estresse ou que as situações negativas não as atinja, ou, ainda, que
os riscos estejam afastados. Contrariamente a essa concepção, o indivíduo resiliente traz
consigo os sinais das situações que viveu. Ele conserva, em sua memória, as situações
vividas, mas, concomitantemente, traz também a sua capacidade de se recuperar, pois a
história passada é parte do suporte que tem para ir em frente, desenvolvendo um caminho
considerado como positivo (Silva et al., 2005).
A área das ciências humanas e da saúde apresentam a resiliência como um assunto
novo. Em função disso, este artigo procura esclarecer alguns aspectos a respeito desse
conceito. A característica básica da resiliência encontra-se na capacidade que o ser humano
tem de reagir às ações da vida diária de maneira saudável. Resiliência é um conceito com um
grande potencial quando se refere à prevenção e promoção da saúde das pessoas,
principalmente em tempos repletos de inseguranças e medos. Nesse sentido a resiliência se
torna um forte aliado no que diz respeito à família, à saúde, sua assistência e influência no
dia-a-dia do ser humano (Noronha et al., 2009).
O estudo da resiliência nos últimos anos tem sido fundamentado na observação de
populações expostas a situações adversas diversas. Muitos desses estudos estudam a
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resiliência como um processo de proteção das pessoas, tornando mais tênues os efeitos
negativos na vida diária, tornando os indivíduos mais preparados para enfrentar os riscos
cotidianos. Esses estudam examinam a influência do ambiente exercida sobre as pessoas,
principalmente quando esse é adverso (Silva, Lacharité, Silva, Lunardi, & Lunardi Filho,
2009).
Sob essa ótica, Silva et al. (2009) referem-se à resiliência como algo construído
gradativamente de acordo como os acontecimentos ou fatos de risco vão se sucedendo, vão
sendo vivenciados e, aos poucos, resolvidos, administrados, passando a fazer parte da
realidade que o indivíduo vive. Essa demanda diária faz com que a pessoa possa ir
construindo a sua resistência e a sua capacidade de enfrentar situações semelhantes. Os
problemas podem ser enfrentados direta ou indiretamente, mas eles vão contribuindo para o
crescimento interior do indivíduo, para ele ir se fortalecendo para enfrentar aquilo que a vida
lhe propõe, sejam fatos bons ou menos favoráveis, podendo ser também definitivos ou
temporários.
Há extensa bibliografia sobre resiliência e promoção da saúde junto às famílias. No
entanto, embora não sejam muito coesas sobre o assunto, são unânimes em afirmar que a
resiliência apresenta características que dizem respeito à promoção da saúde (Noronha et al.,
2009).
Em função dos problemas enfrentados no dia-a-dia, inúmeras crianças acabam
apresentando problemas na fase de seu desenvolvimento, ocasionando desequilíbrio
emocional e problemas de conduta. Entretanto, há crianças que conseguem, apesar das
circunstâncias, manterem-se de acordo com seu desenvolvimento, crianças estas que traduzem
o significado de resiliência, pois futuramente haverá grandes chances de serem adultos
resistentes, tornando-se socialmente competentes e produtivos. Há muitos desafios referentes
à promoção da saúde, os fatores de origem nos vários níveis no contexto da vida, a
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ineficiência das redes de apoio social, cultural, bem como a situação econômica e social
devido à instabilidade no âmbito global, pois, ao falar-se de promoção de saúde, deve-se levar
em conta seu contexto e as dificuldades que a colocam em risco, ocasionando então o déficit
atual. Contudo, a importância de criar um plano de estratégias a partir de ações
interdisciplinares, resiliência como promoção da saúde, a compatibilização de políticas
públicas, juntamente com ampliação de medidas protetoras, e a construção de ambientes
propícios à saúde, fortalecendo e prevenindo o desenvolvimento sadio das
crianças/adolescentes (Silva, 2003).
Angst (2009) em “A visão da Psicologia Positiva” está em direcionar-se para aquilo
que está dando certo, sejam em crianças, adolescentes, adultos, idosos ou grupos familiares e
não somente para o que é considerado disfuncional, pois o intuito é acabar com a ideia
negativa e reducionista hoje presente, pois o foco da mesma está nas potencialidades e
emoções positivas, como a capacidade de interação com o meio social, criatividade para
solucionar problemas, bem como senso de independência e de proposta, por isso a resiliência
é compreendida como um meio considerado indicado para a obtenção de uma vida saudável e
adaptativa ao longo do clico vital.
Estudos mostram que, quando a família é considerada resiliente, esse comportamento
tem influência positiva tanto sobre a família quanto sobre o indivíduo. Isso ocorre porque a
família, ao enfrentar períodos pouco favoráveis, se reorganiza de maneira a envolver todos os
componentes do grupo familiar. Não se trata de pai e mãe tentando resolver um problema
mantendo os filhos à parte. É uma situação em que todos enfrentam privações juntos, cada um
na proporção devida, de forma organizada, de maneira que cada familiar possa responder de
forma positiva em uma situação de risco ou momento de adversidade. A resposta positiva aqui
é a habilidade de a família administrar os momentos difíceis, mobilizando um pouco do que
cada um possa oferecer, sem sucumbir diante da situação (Silva et al., 2009).
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Noronha et al. (2009) mencionam que o Programa Saúde da Família foi
regulamentado em 1996, objetivando ampliar a atenção básica. Este programa, diferentemente
dos anteriores, traz a proposta de assistir o indivíduo de maneira integral, promovendo a saúde
e proteção de doenças, fazendo com que o setor ligado à saúde possa garantir melhores
condições de vida para as pessoas dentro do seu contexto.
Dentro das políticas públicas, os autores ainda destacam que é necessário dar destaque
à estratégia do desempenho na vigilância continuada à saúde da população, o que não deve
ficar restrito à área da saúde, necessitando haver articulação com outros setores locais e
regionais, intervindo nas causas do processo saúde-doença. Quando se faz referência à
atenção continuada à população, deve-se considerar o histórico dos sujeitos, que deverão ser
compartilhados dentro de uma equipe multiprofissional que tenha condições de intervir nos
problemas de saúde considerados, fazendo com que o PSF seja uma estratégia de inovação na
saúde, dando prioridade à saúde de forma integral. Essa mudança no atendimento e no
conceito de acompanhamento dos sujeitos, traz uma transformação mais radical também na
relação dos mesmos com os profissionais da saúde, onde estes poderão identificar detalhes
particulares da vida das pessoas.
Essa nova relação envolve duas situações distintas, segundo os autores. De início, as
condições que a família passa a ter no sentido de enfrentar as doenças e em segundo lugar, as
intervenções que a equipe profissional de saúde pode fazer, sendo que esta é a única forma
que o profissional pode intervir de forma conjunta aos usuários do sistema público de saúde, e
que já estão em estado de vulnerabilidade, preocupados, sem condições de reagir diante de
situações problema.
A partir daí surgiu a necessidade de que os serviços de saúde fossem mais flexíveis e
menos vinculados aos modelos tradicionais, interagindo mais com os pacientes e agregando
ao atendimento as crenças, costumes e valores dessas famílias dentro do seu contexto sócio
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econômico. Dentro desse novo conceito, os profissionais do PSF têm sua atuação em visitas a
domicílios, ações derivadas de programas e também atendimentos nos consultórios. Essa
estratégia de visitação domiciliar traz também o conceito de que a intervenção e a presença
dos profissionais nas casas podem prevenir situações de agravo à saúde. Dessa forma, a
equipe multidisciplinar do PSF deve estar em formação educacional permanente para que a
sua atuação na assistência pessoal seja realmente eficiente (Noronha et al., 2009).
As ações desenvolvidas pelos profissionais da saúde permitem uma melhor solução
dos processos de saúde e doença, dentro do contexto familiar, pois dentro do seu espaço a
pessoa se sente mais à vontade para expor aos profissionais seus problemas emocionais, com
socialização, com saúde e até mesmo financeiros. Esse vínculo que se desenvolve entre os
profissionais e os indivíduos faz com que haja um melhor entendimento do processo saúde-
doença, possibilitando-lhes o reconhecimento da precisão de intervenção para além das
práticas somente médicas (Silva et al., 2005).
Noronha et al. (2009) reconhecem que para o PSF torna-se um desafio entender as
dificuldades de cada família em particular, de acordo com as informações que elas fornecem,
pois, a partir dos relatos de seus membros, a equipe de profissionais precisa reconstruir a
maneira de ser dessa família e de seu âmbito comunitário.
Dentro dessa intervenção realizada junto às famílias, visualizou-se as condições de se
trabalhar dentro do conceito de resiliência dentro da promoção de qualidade da saúde. A
abordagem da resiliência nesse contexto, fomentou uma espécie de rede de apoio social,
aproveitando os recursos humanos e de estrutura existentes na área de abrangência, no
atendimento de famílias em situações de risco. Nesse grupo, engajam-se no trabalho as
unidades de saúde, diversos tipos de entidades ligadas à defesa, educação e bem-estar dos
cidadãos, contribuindo não só para amenizar os efeitos da adversidade, como também para dar
origem a novos mecanismos que promovam vínculos de confiança, melhorando as relações
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humanas e promovendo a saúde. No entanto, é importante considerar que o enfoque dado à
resiliência não pode ser confundido com o conceito de superação individual, subestimando
sérios problemas vividos pelas pessoas diariamente (Noronha et al., 2009).
Quando se fala em resiliência, não se faz asserção somente dos riscos que se colocam
no caminho dos indivíduos, causando inúmeros problemas, mas, reconhece-se igualmente a
existência de ocorrências que protegem o sujeito ou que o estimulam para enfrentar as
intempéries que ocorrem durante sua vida (Silva et al., 2005).
A resiliência traz um significado de positividade com relação à forma como os seres
humanos reagem diante dos desafios do dia-a-dia. Dessa forma, chega-se à possibilidade de
um desenvolvimento humano de maior qualidade, principalmente junto a populações que se
encontram em condições psicossociais indesejáveis. Esse é um desafio aos pesquisadores das
áreas sociais na busca de respostas aos questionamentos sobre o que faz com que pessoas
nessas circunstâncias sejam resilientes. Os estudos procuram reconhecer a razão pela qual,
quando as provações que a vida propõe são realmente extremas, o que auxilia as pessoas a
enfrentar as situações contrárias de forma tão eficaz (Silva et al., 2009).
Segundo Noronha et al. (2009) os profissionais da área da saúde passaram a usar o
conceito de resiliência mais recentemente. De início, o conceito passou a ser usado de forma
automática, não levando em consideração a complexidade própria do desenvolvimento
humano. As pessoas resilientes eram as que tinham a capacidade de resistir a contínuos
períodos conturbados sem que danos definitivos fossem observados em sua saúde emocional
ou capacidade cognitiva. Hoje, apesar deste conceito ainda ser usual nas pesquisas sobre o
assunto, o entendimento tenta envolver diversos fatores, atentando para os fatores sociais que
podem propiciar o aparecimento deste sintoma.
No início, tinha-se a concepção que os indivíduos apresentavam condições naturais
para reagir a condições de vida conturbada, não se deixar intimidar por condições
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complicadas e não se permitir como vítima dessas situações. Da década de 1990 em diante,
quando pesquisadores ampliaram os estudos sobre resiliência, perceberam que a resiliência
pode estar presente em qualquer ser humano. Os estudiosos ressaltaram que deve haver
cuidado em usar o termo de forma generalizada, pois essa característica é diferente das
técnicas de superação de problemas que muitos indivíduos, grupos e organizações podem
apresentar (Noronha et al., 2009).
Alguns autores veem a resiliência como a habilidade do indivíduo, em determinadas
situações, de suportar a adversidade, não cedendo à mesma, chamando a atenção para a
necessidade de considerar, dependendo da pessoa e do contexto, a forma de superação de
ocasiões geradoras de muito estresse. Afirmam ainda que o termo resiliência significa, como
conceito, a probabilidade de superação num sentido lógico, que não corresponde a uma
eliminação, mas que dá um novo significado ao problema (Noronha et al., 2009).
Desta forma Rozemberg, Avanci, Schenker e Pires (2014) veem a resiliência como
uma estratégia, como a capacidade de encarar as desventuras e, dessa forma, ter condições de
superar as mesmas, depois recuperar-se e transformar a vida, tornando-a mais intensa e
participante das atividades do seu meio.
De acordo com esses estudos, a resiliência poderia resultar da combinação de fatores
genéticos e ambientais, os quais, igualmente, podem variar, atuando como proteção em dados
momentos e, em outras circunstâncias, tomar a forma de fator de risco. Sob essa ótica, a
resiliência pode ser entendida como a resistência que algumas pessoas manifestam frente a
ocasiões avaliadas de risco psicossocial para o desenvolvimento de suas atividades físicas ou
mentais. Essa variação é que possibilita que a resiliência possa ser observada algumas vezes
mas não em outras, dependendo da etapa de vida em que o indivíduo se encontre e do período
em que ele seja analisado para um estudo. Em razão das mesmas causas não se pode entender
a resiliência como um conceito que pode ser aplicado igualmente a todos ou a todas as áreas
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de funcionamento do ser humano. Isso porque, como os acontecimentos são diferentes, a
resposta aos mesmos também podem diferir. Chama a atenção ainda que essa habilidade
compreende desde a capacidade para suportar os reveses da vida até passar as transformações
próprias da vida, autoconfiança, e estratégias que possa dispor para encarar as dificuldades
com as quais se confronta diariamente (Rozemberg et al., 2014).
Sapienza e Pedromônico (2005) apontam que, a construção da resiliência é um desafio
que vem sendo enfrentado pela população na vida cotidiana de modo geral. Estes vêm
respondendo às demandas de forma positiva, pois ao deparar-se com situações adversas de
risco elevado, poderão ocorrer dificuldades para tomar decisões coerentes perante a vida em
determinados momentos, tornando-se desta forma, um grande desafio a construção do
processo de resiliência.
De acordo com o que sugerem os autores acima, diante das inúmeras definições para o
termo resiliência, normalmente está relacionada ao manejo, pelo indivíduo, dos recursos
pessoais e contextuais. Vale frisar que a resiliência se constitui como uma trajetória de vida,
onde a mesma é construída gradativamente, portanto não sendo inato ao ser humano, e sim
um processo de interação entre o indivíduo e seu meio, seja social, familiar ou cultural.
Em relação a este fenômeno, percebe-se que o mesmo se define em meio a uma série
de contextos múltiplos os quais o ser humano interage de forma indireta ou direta, através de
seu sistema biológico, sua história de vida e suas relações interpessoais com as pessoas e o
ambiente, chamado de processos proximais, sendo primordial para o desenvolvimento do
indivíduo e da sua própria resiliência.
Partindo deste viés, há uma perspectiva positiva em relação à saúde e desenvolvimento
humano, e principalmente aos que vivem em condições psicossociais desfavoráveis, porém há
um desafio não apenas para os que enfrentam as adversidades, mas para os pesquisadores que
tentam entender este fenômeno buscando respostas para os inúmeros questionamentos acerca
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da resiliência (Poletto & Koller, 2008).
De acordo com Yunes (2003) atualmente a Psicologia Positiva apresenta pesquisas
sobre os aspectos saudáveis do viver, diferentemente da psicologia tradicional, cuja ênfase
direciona-se para os aspectos psicopatológicos. Os estudos apontam a resiliência como uma
capacidade humana, por isso a importância da Abordagem Ecológica do Desenvolvimento
Humano (AEDH), de Bronfenbrenner, sendo construída através de uma visão sistêmica e do
desenvolvimento do indivíduo. A compreensão da resiliência a partir do ponto de vista da
Psicologia Positiva é fundamental para que seja possível a construção de comportamentos
eficazes, cuja intenção é a prevenção e promoção de saúde.
O conceito moderno, bem como a prática de promoção da saúde desenvolveu-se de
forma mais intensa no decorrer dos últimos vinte anos, mais precisamente no Canadá, Estados
Unidos e países da Europa Ocidental. A partir disto, foram realizadas quatro importantes
conferências internacionais sobre a promoção da saúde e sua importância em: Ottawa (1986),
Adelaide (1988), Sundsval (1991), Bogotá (1992), Jakarta (1997) e no México (2000) – as
quais desenvolveram os fundamentos básicos, políticos e conceituais da promoção da saúde
(Silva, 2005).
A definição de promoção da saúde pode ser entendida como uma nova maneira de
perceber a saúde e a doença e se traduz como uma eficaz forma dos indivíduos e da população
obter saúde. A promoção da saúde distintivamente da prevenção baseia-se em uma série de
intervenções que tem por objetivo eliminar permanentemente ou de modo duradouro a
doença, buscando acabar com suas causas e não apenas impedir que estas se manifestem. Para
que de fato seja obtida a promoção da saúde, é necessário que haja uma mudança social
relevante, pois, a saúde se promove a partir de condições de vida (Noronha et al., 2009).
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Método
Refere-se o presente estudo a uma revisão sistemática, buscando apresentar uma
análise crítica da literatura científica, encontrada no período de 2003 a 2014, onde foram
encontrados diversos artigos, que foram identificados e selecionados com rigor. A
fundamentação deste artigo foi baseada nas bases Lilacs e Scielo.
Para a seleção dos materiais a serem consultados utilizou-se os seguintes descritores:
Família, Resiliência e Saúde, com o operador AND, para refinar os resultados encontrados.
Os critérios de inclusão foram artigos indexados e redigidos na área de Psicologia e
Saúde, publicados entre os anos de 2003 a 2014, nos idiomas Português e Inglês, com foco
direto ao objeto da revisão.
Os critérios de exclusão relacionaram-se ao fato de não trazerem Resiliência como
objetivo principal e outros por tratarem o mesmo termo de forma secundária ou com menor
relevância do que a desejada.
Encontrou-se inicialmente 295 artigos nas bases de dados consultadas e, após serem
analisados, excluiu-se aqueles que não traziam a ênfase necessária no assunto em questão.
Desta forma, a maior parte dos artigos foi descartada. Restando 33 artigos para análise, ainda
foram descartados 23 dos mesmos, restando, para a confecção do presente estudo, 10 artigos.
A seguir, a Tabela 1, mostra os resultados obtidos na busca nas bases de dados, pelo
cruzamento dos descritores.
Tabela 1
Descrição dos artigos durante a pesquisa
Base de Dados
Descritores
Resiliência AND
Família AND Saúde
Resumos
selecionados
para Leitura
Textos selecionados
para Análise
Lilacs 113 13 2
Scielo 182 20 8
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17
No Fluxograma (Figura 1) abaixo pode-se observar o processo de seleção e exclusão
dos artigos que compõe esta revisão sistemática.
Figura 1. Fluxograma - Descrição dos processos empregados durante a seleção dos artigos.
Tabela 2
Resultados da pesquisa na base de dados
Nº Título Autor(es) Instrumentos Ano País
1
Construção de uma
trajetória resiliente
durante as primeiras
etapas do
desenvolvimento da
criança: o papel da
sensibilidade materna e do
suporte social
Mara Regina
Santos Silva
Maternal Behavior Q-
Sort (Peterson et al.,
1990), Q-Sort
d1attachment,
Arizona social
Support Interview
Schedule (ASSIS),
Questionnaires de
Renseignements
Généraux, Bayley
2003 Brasil
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18
Scales of Infant
Development
(Bayley, 1993)
2
Psicologia positiva e
resiliência: o foco no
indivíduo e na família
Maria Angela
Mattar Yunes Estudo de Caso 2003 Brasil
3 Resiliência e promoção da
saúde
Mara Regina
Santos da Silva,
Valéria Lerch
Lunardi, Wilson
Danilo Lunardi
Filho, Katia Ott
Tavares
Revisão Bibliográfica 2005 Brasil
4
Risco, proteção e
resiliência no
desenvolvimento da
criança e do adolescente
Graziela
Sapienza, Márcia
Regina
Marcondes
Pedremônico
Revisão Bibliográfica 2005 Brasil
5
Contextos ecológicos:
promotores de resiliência,
fatores de risco e de
proteção
Michele Poletto,
Sílvia Helena
Koller
Revisão Bibliográfica 2008 Brasil
6
Processos que sustentam a
resiliência familiar: um
estudo de caso
Mara Regina
Santos da Silva,
Carl Lacharite,
Priscila Arruda da
Silva, Valéria
Lerch Lunardi,
Wilson Danilo
Lunardi Filho
Estudo de Caso 2009 Brasil
7 Psicologia e Resiliência:
uma revisão de literatura Rosana Angst Revisão Bibliográfica 2009 Brasil
8
Resiliência: nova
perspectiva na promoção
da saúde da família?
Maria Glícia
Rocha da Costa e
Silva Noronha,
Paloma Sodré
Cardoso, Tatiana
Nemoto Piccoli
Moraes, Maria de
Lourdes Centa
Revisão Bibliográfica 2009 Brasil
9
Reflections on the social
support network as a
mechanism for the
protection and promotion
of resilience
Maria Cristina
Carvalho Juliano,
Maria Angela
Mattar Yunes
Revisão Bibliográfica 2014 Brasil
10 Resiliência, gênero e
família na adolescência
Laila Rozemberg,
Joviana Avanci,
Miriam Schenker,
Thiago Pires
Estudo transversal,
com dados originados
de um inquérito
epidemiológico
2014 Brasil
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19
Resultados e Discussão
Este estudo teve como objetivo fazer uma análise sobre o tema resiliência, bem como
a influência da família e da saúde na sua construção.
O estudo foi composto pela pesquisa de dez (10) artigos, elencados através dos
elementos de busca: Resiliência, família e saúde, sendo SciElo (8 artigos) e Lilacs (2 artigos).
De acordo com Silva (2005), a resiliência diz respeito à habilidade que as pessoas têm
de confrontar-se e reagir de maneira positiva as situações que apresentam alto potencial de
risco para sua saúde e desenvolvimento. Quando se fala em resiliência, então, é se referir à
saúde em condições adversas. O autor discute o que faz com que uma família, mesmo em
condições não favoráveis, possa construir melhores condições de vida a partir de uma postura
resiliente. Além disto, discute a resiliência como fator promovedor da saúde em famílias em
situação de risco.
Sob a ótica de Silva et al. (2009), a resiliência é uma característica que se constrói aos
poucos, a partir de fatos que vão acontecendo no decorrer da vida. O estudo levado a efeito
pelo grupo buscou identificar que tipo de processos ocorrem dentro da família e também com
o indivíduo que possibilitam às famílias encarar as situações problema que se lhes
apresentam. Dentro desse contexto, levaram a efeito um estudo de caso com uma família no
período de 2005 a 2007. Os principais processos observados foram: “a capacidade de o pai
responder às necessidades dos filhos, criar um espaço relacional que permite a expressão do
potencial dos filhos, aceitar ajuda no exercício de seus papeis, realizar atividades mutuamente
gratificantes entre eles. Destaca-se o papel da sensibilidade do pai em relação às necessidades
dos filhos. ”
Yunes (2003), mostra a psicologia positiva como opção de busca de características do
indivíduo que sejam potencialmente saudáveis, em sentido oposto à psicologia tradicional e
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20
seu destaque nas feições psicopatológicas. Em referência aos fenômenos que indicam uma
vida saudável, a resiliência é destacada em função de se referir a situações que elucidam a
superação de adversidades, onde o indivíduo é sempre o foco principal.
Poletto e Koller (2008), desenvolveram um estudo onde há uma relação entre os
aspectos protetivos e de risco para que o ser humano possa se desenvolver nos diversos
contextos sociais onde convive, como a família, a instituição e a escola, colhidos na literatura,
correlacionando-os à promoção de resiliência. O artigo aborda desde questões conceituais de
resiliência até considerações sobre crianças em situação de vulnerabilidade. A base teórico-
metodológica utilizada foi a teoria bioecológica do desenvolvimento humano de
UrieBronfenbrenner, pois observa o estudo do desenvolvimento associando a compreensão
dos aspectos da vida da pessoa com variáveis como o tempo em que vive, ambientes dos
quais participa e as relações que estabelece.
Rozember et al. (2014) buscou, no seu estudo, os fatores dentro da família, que
influenciam para que adolescentes meninos e meninas fossem resilientes. Foi um estudo que
envolveu a participação 889 estudantes do 9º ano de escolas públicas e particulares de um
município da região metropolitana do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram que resultados
de baixo potencial de resiliência estão associados com difícil relacionamento com mãe ou
madrasta, famílias sem supervisão, depressão, morar aglomerado e manter um relacionamento
difícil com os irmãos. O estudo ainda ressalta que programas e políticas públicas precisam
desenvolver atividades com as famílias para que entendam as precisões dos jovens como
forma de prevenir os problemas de sanidade mental, promovendo a saúde das pessoas de
acordo com seu gênero.
Juliano e Yunes (2014) faz algumas reflexões sobre os conceitos de rede de apoio
social e seu impacto potencial como um mecanismo de proteção e promoção de resiliência.
Essas redes de apoio social têm sido analisadas em diversas áreas do conhecimento e é citado
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21
como sendo uma das fontes de proteção básicas de uma pessoa, família ou comunidade. O
autor ainda mostra a contribuição da psicologia para na construção na apreciação do que é
resiliência, os elementos que a constituem e suas relações como auxiliares a redes,
evidenciando potencialmente “a solidariedade, a autoestima coletiva, identidade cultural,
humor e estado social a honestidade”, por serem critérios ainda pouco estudado no Brasil.
Angst (2009) aborda a situação atual, em um mundo cheio de situações adversas onde
as pessoas passam por situações traumáticas, saindo fortalecidas das mesmas. A autora mostra
que uma das razões para que as pessoas tenham esse tipo de comportamento está relacionado
ao conceito de resiliência. Esta caracteriza um indivíduo ou conjunto de pessoas a passar por
situações adversas, superá-las e saírem fortalecidos das mesmas. Ela ainda aponta que pessoas
resilientes apresentam as seguintes características: autoestima positiva, habilidades de dar e
receber em relações humanas, disciplina, responsabilidade, receptividade tolerância ao
sofrimento. Além disso, cita que os estudos sobre a resiliência auxiliam o trabalho da
psicologia, pois o profissional passa a ser alguém com condições de buscar soluções em si
próprio e no seu contexto para resolver situações de conflito.
Na opinião de Sapienza e Predemônico (2005), as pesquisas sobre desenvolvimento
mental envolvem, com muita frequência temas como risco, proteção e resiliência. O risco se
refere às condições do ambiente do indivíduo que aumentam a possibilidade de que ocorram
situações adversas ou reveses na vida. Já is fatores de proteção são aquelas condições que a
pessoa apresenta que diminuem a ocorrência dos fatores de risco, e a resiliência relaciona-se a
esses fatores de proteção que fazem com que esses mesmos indivíduos tirem resultados
positivos das situações de risco.
Silva (2003) tece um estudo onde analisa o papel da sensibilidade materna como apoio
na construção da resiliência junto a crianças expostas a condições de risco psicossocial nos 18
primeiros meses de vida. Os resultados dos seus estudos revelaram que a ação mediadora
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22
exercida pelas mães nessa fase de desenvolvimento da criança exposta a essas condições tem
papel destacado na construção de uma trajetória resiliente e que, a partir desse
comportamento, é possível recomendar, através de profissionais habilitados, algumas práticas
para famílias e crianças em estado de risco psicossocial.
Noronha et al. (2009) fizeram um estuo descritivo sobre conceitos de resiliência,
buscando entender a influência de resiliência na promoção da saúde dentro do Programa
Saúde da Família (PSF), pois trata-se de um tema novo dentro das ciências humanas. Nesse
contexto, a resiliência representa a capacidade que o indivíduo tem de “construir-se
positivamente frente às adversidades”. Observaram que não existe uma opinião em
conformidade por todos que a estudam, mas é unânime a opinião de que a resiliência tem
influência na questão da saúde.
A resiliência pode apresentar muitos conceitos, bem como explicar de diferentes
formas como ela pode influenciar o comportamento humano diante das dificuldades que a
vida possa apresentar. Apesar disso, deve-se considerar que existem dois fatores que dão
suporte a essa conduta. Um é a capacidade que o indivíduo tem de resistir às adversidades e o
outro é a contínua capacidade de construir-se positivamente, garantindo condições de
enfrentar qualquer tipo de condição adversa (Poletto & Koller, 2008).
Sob esse ponto de vista, os autores citados acima reafirmam que a resiliência é
construída conforme as relações vão sendo compreendidas entre o sujeito e o meio. No
entanto, não se pode deixar de levar em consideração as características individuais, familiares,
sociais e culturais. Identificar e desenvolver características resilientes em indivíduos ou
grupos de pessoas pode vir a ser uma forma de restabelecer os laços e vínculos familiares,
oferecendo-lhes a possibilidade de restabelecer os membros que compõem os grupos
familiares, buscando novas formas de vida para que não se tornem vítimas acomodadas diante
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23
da adversidade. Assim, pensa-se a resiliência como nova perspectiva que colabora para a
promoção da saúde.
Considerações Finais
A resiliência tem um significado complicado e vasto, com foco em vários contextos e
abordagens. O presente estudo teve como objetivo fazer uma análise sobre a resiliência a
partir da literatura recente, com o intuito de compreender fatores que interferem para o
desenvolvimento da mesma. Percebe-se que hoje existem muitas crianças, e adultos não
resilientes, ou seja, não conseguindo lidar saudavelmente com problemas e dificuldades
adversas do cotidiano, que lhes trazem limitações, com as quais o confronto é inevitável,
ocasionando, desta forma, problemas de saúde, como também transtornos mentais.
Entende-se que a resiliência é resultante da combinação entre as características
individuais do sujeito e seu contexto familiar, social e cultural. Assim, a resiliência não pode
ser entendida como uma característica inata, mas como um processo de interação entre o
sujeito e seu meio, podendo haver variações individuais como resposta às situações adversas,
uma vez que os mesmos fatores que podem causar estresse podem ser experimentados de
formas diferentes por pessoas diferentes, não se podendo, portanto, considerar que os mesmos
fatores possam ser de risco para todas as pessoas, tampouco que a resiliência seja uma
característica intrínseca de todos os indivíduos. Soma-se a isto as evidências apontando a
construção de uma trajetória resiliente a qual se pode afirmar ter o ponto de partida,
justamente, no começo da vida.
Por fim, o conceito de resiliência, bem como a sua aplicabilidade, torna-se essencial
nos dias de hoje, pois através da mesma é possível criar crianças resilientes, para que estas se
tornem adultos resistentes - tendo em vista a resiliência como provedora da saúde. No entanto,
o destaque à promoção da resiliência não isenta a responsabilidade das políticas de combate à
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24
desigualdade social e condições de vidas precárias enfrentadas pela população de modo geral.
Sugere-se que, para estudos futuros, possam ser feitas pesquisas empíricas para que seja
possível haver mais comprovações de dados acerca do tema exposto.
Referências
Angst, R. (2009). Psicologia e Resiliência: uma revisão da literatura. Psicol. Argum, 27(58),
253-260.
Juliano, M. C. C., & Yunes, M. A. M. (2014). Reflexões sobre rede de apoio social como
mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambientente & Sociedade, 17(3), 135-
154.
Noronha, M. G. R. da C. e S., Cardoso, P. S., Moraes, T. N. P., & Centa, M. de L. (2009).
Resiliência: nova perspectiva na promoção da saúde da família? Ciência & Saúde
Coletiva, 14(2), 497-506.
Poletto, M., & koller, S. H. (2008). Contextos ecológicos: promotores de resiliência, fatores
de risco e prevenção. Estudos de Psicologia, 25(3), 405-416.
Rozemberg, L., Avanci, J., Schenker, M., & Pires, T. (2014). Resiliência, gênero e família na
adolescência. Ciêncie & Saúde Coletiva,19(3), 673-684.
Sapienza, G., & Pedromônico, M. R. M. (2005). Risco, proteção e resiliência no
desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicologia em Estudo, 10(2), 209-216.
Silva, M. R. S. (2003). Construção de uma trajetória resiliente durante as primeiras etapas
do desenvolvimento da criança: o papel da sensibilidade materna e do suporte social
(Dissertação de Pós Graduação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Silva, M. R. S., Lacharité, C., Silva, P. A., Lunardi, V. L., & Lunardi Filho, W. D. (2009).
Processos que sustentam a resiliência familiar: um estudo de caso. Texto Contexto
Enfermagem, 18(1), 92-99.
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25
Silva, M. R. S., Lunardi, V. L., Lunardi Filho, W. D., & Tavares, K. O. (2005). Resiliência e
promoção da saúde. Texto Contexto Enferm, 14(Esp.), 95-102.
Yunes, M. A. M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: o foco no indivíduo e na família.
Psicologia em Estudo, 8(Esp.), 75-84.