Fascículo 7 - cejarj.cecierj.edu.br · Filipe Dutra Fernanda Novaes Larissa Averbug Mario Lima...
Embed Size (px)
Transcript of Fascículo 7 - cejarj.cecierj.edu.br · Filipe Dutra Fernanda Novaes Larissa Averbug Mario Lima...
-
Edio revisada 2016Fascculo 7
Unidades 13 e 14
-
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Governador
Luiz Fernando de Souza Pezo
Vice-Governador
Francisco Oswaldo Neves Dornelles
SECRETARIA DE ESTADO DE CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO
Secretrio de Estado
Gustavo Reis Ferreira
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO
Secretrio de Estado
Antnio Jos Vieira de Paiva Neto
FUNDAO CECIERJ
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
PRODUO DO MATERIAL CEJA (CECIERJ)
Coordenao Geral de Design InstrucionalCristine Costa Barreto
Elaborao de HistriaGilberto Aparecido Angelozzi
Gracilda AlvesSabrina Machado Campos
Denise da Silva Menezes do NascimentoMrcia Pinto Bandeira de Melo
Marcus Ajuruam de Oliveira DezemoneJos Ricardo Ferraz
Priscila Aquino da SilvaIns Santos Nogueira
Renata MoraesErika Arantes
Maria Jos CarvalhoRafael Cupello Peixoto
Gustavo SouzaClaudia Affonso
Reviso de Lngua PortuguesaJos Meyohas
Coordenao de Desenvolvimento Instrucional
Bruno Jos PeixotoFlvia Busnardo
Paulo Vasques de MirandaDesenvolvimento Instrucional
Aline Beatriz Alves
Coordenao de ProduoFbio Rapello Alencar
Assistente de ProduoBianca Giacomelli
Projeto Grfico e CapaAndreia Villar
Imagem da Capa e da Abertura das UnidadesAndreia VillarDiagramao
Camille MoraesFilipe Dutra
Fernanda NovaesLarissa Averbug
Mario LimaNbia Roma
IlustraoClara Gomes
Fernando RomeiroRenan Alves
Vinicius Mitchell
Produo GrficaPatrcia Esteves
Ulisses Schnaider
-
Sumrio
Unidade 13 | Cultura e contra cultura nos anos 60 5
Unidade 14 | Golpes e ditaduras na Amrica Latina 43
-
Prezado(a) Aluno(a),
Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formao. Estamos aqui para auxili-lo numa jornada rumo ao
aprendizado e conhecimento.
Voc est recebendo o material didtico impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as
informaes necessrias para seu aprendizado e avaliao, exerccio de desenvolvimento e fixao dos contedos.
Alm dele, disponibilizamos tambm, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem
auxiliar na sua aprendizagem.
O CEJA Virtual o Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do CEJA. um espao disponibilizado em um
site da internet onde possvel encontrar diversos tipos de materiais como vdeos, animaes, textos, listas de
exerccio, exerccios interativos, simuladores, etc. Alm disso, tambm existem algumas ferramentas de comunica-
o como chats, fruns.
Voc tambm pode postar as suas dvidas nos fruns de dvida. Lembre-se que o frum no uma ferra-
menta sncrona, ou seja, seu professor pode no estar online no momento em que voc postar seu questionamen-
to, mas assim que possvel ir retornar com uma resposta para voc.
Para acessar o CEJA Virtual da sua unidade, basta digitar no seu navegador de internet o seguinte endereo:
http://cejarj.cecierj.edu.br/ava
Utilize o seu nmero de matrcula da carteirinha do sistema de controle acadmico para entrar no ambiente.
Basta digit-lo nos campos nome de usurio e senha.
Feito isso, clique no boto Acesso. Ento, escolha a sala da disciplina que voc est estudando. Ateno!
Para algumas disciplinas, voc precisar verificar o nmero do fascculo que tem em mos e acessar a sala corres-
pondente a ele.
Bons estudos!
-
Golpes e ditaduras na Amrica Latina
Fascculo 7
Unidade 14
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 45
Golpes e ditaduras na Amrica LatinaPara incio de conversa...
So os homens e eu aqui parado de pijama
Eu no gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladro, chame o ladro
Se eu demorar uns meses convm, s vezes, voc sofrer
Mas depois de um ano eu no vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer
(Chico Buarque de Holanda, sob o pseudnimo de Julinho de Adelaide Acorda Amor)
Em 1974, o famoso msico Chico Buarque de Holanda precisou usar um
nome falso - Julinho de Adelaide - para que suas canes pudessem ser gravadas
e distribudas. Na cano Acorda Amor, para no passar pelo vexame de ser preso,
o homem pede para chamar o ladro, justificando assim a presena da polcia na
sua casa durante a noite. Ele aproveita ainda para alertar sua mulher que poderia
no voltar, vindo a desaparecer pela ao policial. Naquela poca, o Ministrio
da Justia promovia a censura por motivos polticos, impedindo gravaes que
fossem consideradas crticas ao regime vigente. Mas o maior problema talvez no
tenha sido a censura sofrida por Chico Buarque/Julinho de Adelaide. O triste e
verdadeiro problema que pessoas realmente estavam desaparecendo aps se-
rem presas: ao todo 140 desaparecidos, a maioria entre 1970 e 1975.
-
46
Voc sabe qual o regime fez isso? Sabe por quanto tempo isso aconteceu sem que familiares sequer
conseguissem respostas procura dos parentes que sumiram?
Nesta primeira seo, falaremos sobre este e outros tipos de desrespeito aos direitos individuais mais elementa-
res liberdade de expresso; direito a um julgamento justo; direito ampla defesa, j que ningum culpado at que
se prove o contrrio; e o direito vida. Infelizmente, essas aes no se limitaram ao Brasil, mas se tornaram uma triste
realidade em diversos pases na Amrica Latina, nas dcadas de 1960, 1970 e 1980. Coincidncia? Mais uma vez no. En-
tender por que tais regimes surgiram e como funcionavam um dos objetivos desta unidade. Mas no falaremos apenas
disso, trataremos tambm das aes da sociedade brasileira contra essas prticas violentas e de como, por meio da luta,
setores organizados da populao procuraram impedir que esses atos lamentveis pudessem se repetir.
Objetivos de aprendizagem
Entender a emergncia de golpes e ditaduras na Amrica Latina nos anos 1960, 1970, 1980;
Compreender as razes para o perodo de 1964 a 1985 ser uma ditadura;
Identificar as caractersticas dos governos militares no Brasil;
Reconhecer a importncia dos movimentos de contestao Ditadura Militar para o reestabelecimento da demo-
cracia no Brasil.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 47
Seo 1Golpes e ditaduras na Amrica Latina
1964: nasce uma ditadura no Brasil e um modelo para o golpismo na Amrica Latina
A deposio do presidente Joo Goulart, em 1964, considerada como o episdio decisivo da poltica nacional
na dcada de 1960, com consequncias que se fazem presentes at os dias de hoje. A ordem democrtica estabeleci-
da em 1946, aps o fim do Estado Novo, foi destruda. Nos anos seguintes a 1964, uma srie de restries aos direitos
da populao foram registrados.
Figura 1: Militares da Fora Pblica, atual Polcia Militar, protegendo o Palcio da Guanabara, no Rio de Janeiro, durante o Golpe Militar no Brasil, em 31 de maro de 1964.
Mas afinal, o que aconteceu em 1964?
Ao longo dos anos, diversas explicaes foram dadas para entender o que ocorreu em 1964. Os vitoriosos cha-
-
48
maram seu movimento de uma "revoluo democrtica". Parte dos derrotados afirmou que houve um golpe militar,
atribuindo a responsabilidade pela derrubada do presidente Goulart quase que exclusivamente s Foras Armadas.
Rejeitando tanto a ideia de uma revoluo democrtica, quanto a de um golpe militar, compreendemos os aconte-
cimentos daquele ano como um golpe civil-militar. Ao acrescentar a palavra civil, o que se procura enfatizar que,
sem o apoio de outros segmentos da sociedade, como parcelas da classe mdia, do empresariado, setores da Igreja
Catlica, partidos (como a UDN) e parte significativa da imprensa, no teria sido possvel a iniciativa militar que garan-
tiu o afastamento do presidente Joo Goulart e a permanncia dos golpistas no poder por tantos anos.
O pas vivia um momento poltico conturbado desde a chegada de Goulart presidncia, em 1961. O fenmeno
eleitoral Jnio Quadros, at ento o presidente que recebera a maior votao da histria do Brasil, renunciou em menos
de 7 meses depois de tomar posse. A rejeio ao vice-presidente Goulart quase lanou o pas numa guerra civil. A solu-
o para impedir o conflito armado e empossar Goulart foi a emenda constitucional que institua o parlamentarismo.
Tudo isso refletia a polarizao ideolgica da Guerra Fria. Nas disputas e no debate poltico nacional, termos
abundantemente utilizados na poca, como "comunista" e "vermelho", serviam para desqualificar adversrios.
Num contexto de crescente radicalizao poltica, o pas caminhava para a polarizao, com muitos despre-
zando a democracia representativa, dando sinais de simpatia diante de solues golpistas. De um lado, as tendncias
crticas ao capitalismo e s foras estabelecidas, como os estudantes, mobilizados na UNE; militares de baixa patente,
reunidos em clubes de suboficiais; artistas; intelectuais; trabalhadores urbanos; trabalhadores rurais, organizados nas
Ligas Camponesas, sob o lema "reforma agrria na lei ou na marra"; e o clandestino PCB. Do outro lado, parte da cpu-
la militar; setores da classe mdia; da Igreja Catlica; parte da imprensa; polticos da UDN; governadores da oposio
conservadora, que recebiam investimentos estadunidenses negados ao governo federal, tais como os governadores
Magalhes Pinto em Minas Gerais, Ademar de Barros em So Paulo e Carlos Lacerda no Estado da Guanabara.
Vocabulrio
Estado da Guanabara: Estado que existiu de 1960 a 1975, criado aps a transferncia da capital federal do Rio de Janeiro para
Braslia. Em 1975, com a fuso dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro, a cidade do Rio de Janeiro (mesmo nome do Estado)
passou a ser a capital do novo Estado, em substituio cidade de Niteri.
A questo que aumentou a crise foi a necessidade de apoio no Congresso Nacional para que o presidente Gou-
lart aprovasse suas Reformas de Base. Aps tentativas fracassadas de negociao poltica, Jango procurou estimular
a mobilizao popular, colocando o povo nas ruas como forma de pressionar o Poder Legislativo. Exemplo disso foi
o Comcio da Central do Brasil, ou Comcio das Reformas de Base, realizado em 13 de maro de 1964, que seria o pri-
meiro de uma srie de atos pblicos.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 49
Mas o fator que precipitou a iniciativa militar foram as demonstraes de quebra da hierarquia e da disciplina
nas Foras Armadas. A velha mxima dos quartis manda quem pode, obedece quem tem juzo, se via ameaada.
Marinheiros que tinham se revoltado em 26 de maro de 1964 foram anistiados, isto , perdoados pelo presidente,
que se recusou a puni-los, tal como a cpula militar reivindicava. Para que no se tenha dvida da importncia disso
para os oficiais das Foras Armadas, os marinheiros que se rebelaram em maro de 1964 somente foram anistiados
em maio de 2001, 22 anos depois de 1979, quando a maioria dos que foram perseguidos aps 1964 recebeu esse
benefcio. Na cerimnia de 2001, os trs ministros militares faltaram em sinal de protesto.
Figura 2. Acompanhe, atravs das datas, os principais fatores que culminaram no golpe civil-militar.
A Guerra Fria e o papel dos EUA
Nos anos seguintes, setores das Foras Armadas na Amrica Latina copiariam a iniciativa dos militares brasi-
leiros. Contribuiu para isso a formao anticomunista que estas Foras receberam desde o final da Segunda Guerra
Mundial. Naquela ocasio, o alinhamento com os EUA na Guerra Fria foi decisivo para a montagem de um sistema
interamericano, cuja principal preocupao era a conteno do perigo vermelho. Medidas como o TIAR (Tratado
Interamericano de Assistncia Recproca) e a criao da OEA (Organizao dos Estados Americanos) representavam
essa preocupao.
-
50
Mas talvez o aspecto decisivo para tal reproduo do golpe brasileiro na Amrica latina tenha sido a difuso
entre os militares latino-americanos da Doutrina de Segurana Nacional. Criada nos EUA durante a Guerra Fria, a
doutrina entendia que o inimigo no estava mais no exterior, mas sim infiltrado dentro do pas, o chamado inimigo
interno. Presente nos mais variados setores, essa nova ameaa estava espreita, pronta para agir e desestabilizar o
pas, levando-o subverso, ou seja, ameaa ordem vigente e ao Estado.
Vocabulrio
Subverso: Qualidade do subversivo, termo utilizado pelos governos militares para designar todo o indivduo que tinha compor-
tamento contestatrio aos regimes ditatoriais latinoamericanos, em especial, aos simpatizantes do modelo comunista da URSS.
Se nas dcadas de 1940 e 1950 j era posio dos EUA apoiar movimentos anticomunistas, essa postura se in-
tensificaria depois da declarao do carter socialista da Revoluo Cubana de 1961 e do risco de um conflito nuclear
aps a Crise dos Msseis em Cuba, em 1962. Temendo novos regimes socialistas na Amrica Latina, o governo estadu-
nidense apoiaria movimentos golpistas, estimulando as aes dos militares e promovendo o reconhecimento, quase
que imediatamente, dos novos governos. Mesmo os regimes que se tornaram violentas ditaduras foram tolerados,
pois isso ajudaria a conter a ameaa comunista.
Assim, aps 1964, os seguintes pases passaram por golpes de estado e ditaduras:
Bolvia (1971-1982) - golpe militar de Hugo Bnzer, seguido do endurecimento do regime a partir de 1974;
Chile (1973-1990) - em 1970, o mdico Salvador Allende foi eleito para a presidncia chilena, numa curta
experincia socialista pela via democrtica. Em 1973, um golpe de estado, liderado pelo General Augusto
Pinochet, o derruba. O Palcio de La Moneda, sede do governo Chileno, bombardeado, morrendo Allende
e colaboradores prximos. Inicia-se uma das mais violentas ditadura da Amrica Latina, que aproveitaria
a represso para promover cortes de investimentos nas reas sociais, privatizaes e abertura econmica;
Peru (1968-1980) - Juan Velasco Alvarado Geral depe Fernando Belande Terry, do Partido de Ao Popu-
lar (AP), iniciando a primeira fase do governo militar, nacionalista e promotora da reforma agrria. Outro
golpe militar, em 1975, instala a ditadura de Morales Bermdez, que inicia a fase mais conservadora;
Argentina (1976-1983) - depois de uma sucesso de golpes, instalada a ditadura militar de Rafael Videla,
que derrubou Isabelita Pern, segunda esposa do ex-presidente Pern, que havia assumido aps a morte
do marido em 1973.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 51
Instaurada no incio dos anos 70, a operao Condor foi uma aliana poltico-militar entre os regimes
militares de Chile, Bolvia, Paraguai, Uruguai, Argenti-
na e Brasil; pases que formam o Cone Sul. O principal
objetivo da aliana era combater o "terrorismo inter-
nacional" que ameaava os pases do Cone Sul, isto ,
os movimentos contestatrios aos regimes ditatoriais
e as aes de guerrilheiros comunistas (como os mo-
vimentos dos Tupamaros, no Uruguai; os Montone-
ros, na Argentina; o MIR, no Chile; entre outros).
H fortes indcios de que os membros participantes da operao Condor contaram com o auxlio do
governo norte-americano em suas aes. A operao era dividida em trs fases, a saber:
1) troca de informaes entre os pases participantes acerca de grupos e pessoas "subversivas";
2) perseguies, mortes e prises de suspeitos que pudessem estar localizados em um dos seis
pases aliados;
3) aes em pases estrangeiros.
A operao Condor foi responsvel pela morte de milhares de pessoas. Alguns historiadores estimam
que 30 mil pessoas tenham sido assassinadas em razo das aes dessa operao. O nome Condor faz
referncia a uma ave tpica dos Andes, smbolo de astcia na caa s suas presas. O governo militar
brasileiro, por muitos anos, negou a participao do Brasil nas atuaes do grupo.
Apoios ao golpe de 64.
Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro".
Desde as manifestaes de junho, um coro voltou s ruas: A verdade dura, a Globo apoiou
a ditadura. De fato, trata-se de uma verdade, e, tambm, de fato, de uma verdade dura.
J h muitos anos, em discusses internas, as Organizaes Globo reconhecem que,
luz da Histria, esse apoio foi um erro.
(...)
1964
-
52
Diante de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, frequente que aqueles
que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964.
A lembrana sempre um incmodo para o jornal, mas no h como refut-la. Hist-
ria. O GLOBO, de fato, poca, concordou com a interveno dos militares, ao lado de outros
grandes jornais, como O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e o Cor-
reio da Manh, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da populao, um
apoio expresso em manifestaes e passeatas organizadas em Rio, So Paulo e outras capitais.
(...)
Os homens e as instituies que viveram 1964 so, h muito, Histria, e devem ser en-
tendidos nessa perspectiva. O GLOBO no tem dvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que
dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do pas.
luz da Histria, contudo, no h porque no reconhecer, hoje, explicitamente, que o
apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decises editoriais do perodo que
decorreram desse desacerto original. A democracia um valor absoluto. E, quando em risco,
ela s pode ser salva por si mesma.
Jornal O Globo, 31/08/2013.
Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604
a. Do que esta reportagem trata?
b. Segundo a reportagem, possvel perceber que o golpe de 1964 contou com
a participao de parcela da populao civil? Justifique sua resposta com uma
passagem do texto.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 53
Seo 2Ditadura militar no Brasil
Figura 3: Os militares no poder.
Com a ascenso dos militares golpistas ao poder, em 1964, a expectativa dos grupos civis que os apoiavam era
que seus opositores fossem afastados do cenrio poltico. Da, novas eleies seriam convocadas. Sem seus principais
adversrios, a UDN acreditava que chegaria presidncia da Repblica, implementando, sem maiores resistncias, o
seu projeto liberal. Enfim, os golpistas, que foram neutralizados com a morte de Vargas em 1954, no conseguiram
impedir a posse de JK, em 1955, e a de Jango, em 1961, e acreditavam ter finalmente alcanado o poder. No entanto,
no foi isso que aconteceu. Os militares golpistas tomaram gosto pelo poder e acabaram permanecendo frente do
governo por 21 anos.
Como isso aconteceu?
A doutrina de segurana nacional importada dos EUA alterou os rumos do movimento militar: qualquer ativi-
dade crtica ao governo era considerada subversiva. Nesse sentido, seguem-se diversas medidas arbitrrias nos Atos
Institucionais AI's. Por meio desse tipo de instrumento jurdico, o Poder Executivo conseguia se impor aos demais
poderes. Indiscutivelmente, a existncia dos AIs tornava o Brasil uma ditadura. De 1964 a 1969 foram editados 17 AIs.
-
54
Principais AIs Ano Caracterstica
AI 1 1964 Cassaes de polticos considerados subversivos.
AI 2 1965
Extinguiu os partidos polticos existentes e criou o bipartidarismo:
- o partido do governo: ARENA (Aliana Renovadora Nacional).
- o partido da oposio consentida, isto , que o regime permitia que existisse e
atuasse, o MDB (Movimento Democrtico Brasileiro).
AI 3 1966 Adiamento das eleies presidenciais, tornadas indiretas.
AI 4 1966 Abertura do Congresso para aprovar uma nova constituio.
AI 5 1968O pior dos AIs. Fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos, suprimiu direitos e
fortaleceu a autoridade presidencial.
Tabela 1: Os principais Atos Institucionais outorgados pelo governo militar e suas respectivas caractersticas.
Outro aspecto que refora o carter ditatorial foi a escolha dos presidentes no perodo. Nenhum foi eleito pelo
voto direto e todos eram generais do Exrcito Brasileiro. Vamos conhec-los.
1. Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) e os primeiros AIs:
Castelo Branco foi o primeiro presidente militar da Ditadura e iniciou em
seu governo a represso a militares contrrios ao golpe, lideranas sindicais e
estudantis, Ligas Camponesas e intelectuais, como vrios educadores.
A criao de Inquritos Policial-militares (IPMs), que investigavam e indi-
ciavam os suspeitos de "subverso", garantiam a eficincia da represso. Essa foi
promovida ainda pelo SNI (Servio Nacional de Informaes), idealizado pelo
General Golbery do Couto e Silva.
No campo econmico foi criado o Plano de Ao Econmica do Governo
(PAEG), que reduziu a inflao e o dficit pblico s custas dos trabalhadores,
que tiveram seus salrios arrochados, ou seja, recebiam aumentos que no per-
mitiam recuperar seu poder de compra.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 55
2. Marechal Artur da Costa e Silva (1967-1969): a ditadura mostra suas garras com o AI-5:
Costa e Silva assume o governo com promessas de dilogo e uma leitura
liberal da nova Constituio de 1967. Esta estabeleceu eleies indiretas para
presidente e governadores e aumentou o poder do presidente.
Nesse governo, ocorreu um aumento das contestaes ditadura. A no-
vidade foi que at mesmo polticos que tinham apoiado o golpe, como Carlos
Lacerda, no estavam mais satisfeitos com o regime. Lacerda criou a Frente Am-
pla, que tinha Juscelino Kubitschek e Joo Goulart como participantes, para rei-
vindicar a redemocratizao.
Em reao a essas mobilizaes, numa sexta-feira 13, em dezembro de
1968, foi baixado o AI-5. Este ato, ao contrrio dos anteriores, no tinha prazo
para acabar. Com ele, o presidente voltou a ter poderes para fechar o Congresso,
cassar mandatos e suspender direitos polticos. Alm disso, o AI-5 suspendeu a
garantia de habeas corpus aos acusados de crimes contra a segurana nacional;
expurgou vrios funcionrios pblicos, inclusive muitos professores universit-
rios; estabeleceu na prtica a censura aos meios de comunicao porque a
censura Imprensa se instala a partir do Golpe e a quaisquer manifestaes
culturais contrrias ao governo. Alm disso, a tortura passou a fazer parte dos
mtodos da represso poltica.
-
56
3. General Emlio Garrastazu Mdici (1969-1974): o auge da represso e o milagre brasileiro:
Com a morte do Marechal Costa e Silva, foi criada uma Junta de Minis-
tros Militares que impediu a posse do vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, um
dos poucos integrantes do governo contrrios ao AI-5. Sob a Junta Militar, o
Congresso enfraquecido aprovou o General "linha dura" Mdici. Seu governo
foi marcado pelo auge da violenta represso a quaisquer movimentos contes-
tatrios e por uma propaganda oficial em torno do slogan do "Brasil Grande",
amparada no crescimento da economia com o "milagre brasileiro" e no tricam-
peonato mundial de futebol, vencido no Mxico, em 1970.
O "milagre econmico" estendeu-se de 1969 a 1973, combinando extra-
ordinrio crescimento econmico com perodos de baixa na taxa de inflao. A
disponibilidade de recursos da economia mundial possibilitou aos pases em de-
senvolvimento uma maior facilidade de adquirir emprstimos. Foi esse o santo
por trs do milagre: os emprstimos obtidos no exterior. Uma maior circulao
de capital permitiu a ampliao de crditos aos consumidores, atraindo fortes in-
vestimentos das empresas multinacionais. A indstria automobilstica liderou o
crescimentoanualem30%eavendadeaparelhosdeTVpraticamentetriplicou.
O bom desempenho do "milagre" dependia, cada vez mais, das condi-
es internacionais, com a oferta de capitais para serem emprestados. Foi por
isso que o milagre acabou quando as condies internacionais se alteraram, a
partir de 1973. Aps a Guerra do Yom Kippur (1973), entre rabes e israelenses,
houve o I Choque do Petrleo.
Vocabulrio
Guerra do Yom Kippur: Em outubro de 73, com uma ao surpresa, o Egito e a Sria atacaram Israel. Aps cruzarem o Canal de
Suez, tomaram de assalto as fortificaes linha Bar-Lev que pertenciam aos israelenses pela extenso do canal. Continuaram
avanando sobre a pennsula do Sinai, havendo ainda a recuperao das Colinas de Gol por parte da Sria. O nome dado a esta
guerra, Yom Kippur, relaciona-se com o dia da invaso, realizada no feriado judaico do dia do perdo. Os israelenses, aps trs
semanas, recuperaram suas posies. EUA e Unio Sovitica interferiram no conflito, o que gerou preocupaes de um confronto
em maior escala, havendo at mesmo a primeira declarao de alerta nuclear desde a crise dos msseis cubanos.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 57
Nesse contexto, a Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (OPEP), composta predominantemente
por pases do Oriente Mdio, provocou a alta do preo do barril do leo. Os pases produtores de petrleo quadrupli-
cam o preo do produto causando profunda instabilidade na economia mundial, levando a uma crise com retrao
de emprstimos e investimentos.
O encarecimento do leo atingiu a economia mundial e os emprstimos para pases, como o Brasil, foram reduzi-
dos e ficaram com juros muito mais altos. Com isso, a dvida externa atingiu limites recordes. O crescimento econmico
foi interrompido e a concentrao de renda no Brasil aumentou. A hora de dividir o bolo, na frmula defendida pelo
ministro Delfim Neto de deixar o bolo crescer, para depois repartir, estava cada vez mais distante de acontecer.
O futebol uma paixo nacional, no mesmo? Afinal de contas somos o pas do futebol e nica nao
cinco vezes campe da Copa do Mundo. No entanto, nem sempre esse esporte foi usado unicamente
para fins culturais e de diverso. Ele j foi alvo de interesses polticos. Durante o regime militar, o fute-
bol foi importante ferramenta de propaganda dos governos ditatoriais.
No governo Mdici, a conquista da Copa do Mundo em 1970 foi utilizada para alavancar seu governo,
exaltar o Brasil e diminuir as vozes da oposio (slogans como "Brasil Ame ou Deixe-o", "Ningum segu-
ra este pas" foram criados dentro deste contexto). Dizem, inclusive, que a substituio do tcnico Joo
Saldanha, jornalista e treinador, que classificou o Brasil para a disputa da Copa do Mundo no Mxico,
em 1970, por Mario Jorge Lobo Zagallo foi fruto de interferncia do governo militar de Mdici. O pre-
sidente percebia Saldanha como um elemento "subversivo".
Figura 4: Seleo brasileira de 1970, tricampe de futebol no Mxico em 1970.
-
58
No foi apenas a seleo brasileira que foi usada pelo governo militar. O Santos Futebol Clube, time em
que Pel jogava, foi utilizado muitas vezes como instrumento diplomtico para estreitar relaes ou
diminuir e redirecionar as crticas feitas ao Brasil, em especial pelos pases europeus, pelo autoritarismo
e violao dos direitos humanos de seu governo.
Diversos jogadores de futebol foram vigiados e seus passos mapeados pelo SNI (Servio Nacional de
Informaes), rgo de vigilncia do governo militar, sendo muitos deles impossibilitados de joga-
rem na seleo brasileira. O caso mais notrio foi o de Afonsinho. Jogador de futebol com passagens
marcantes por Botafogo (1965/70), Vasco (71), Santos (72), Flamengo (73/74) e Fluminense (81/82).
Ele nunca foi convocado para a seleo brasileira, mesmo com o inegvel talento que possua. Ao se
recusar a cortar seus cabelos e barba chegou, inclusive, a ficar impossibilitado de exercer a profisso
por algum tempo, no ano de 1971, tendo que ir justia para conseguir obter a propriedade de seu
prprio passe, feito indito na poca. Por seu comportamento crtico era considerado comunista e
"subversivo". O prprio atual presidente da CBF (Confederao Brasileira de Futebol), Jos Maria Marin,
apontado por muitos jornalistas e estudiosos do perodo como um dos diretos responsveis pela
morte e tortura do jornalista Vladimir Herzog, crtico do sistema ditatorial brasileiro.
Afonsinho e o passe livre
Clique no link a seguir e conhea um pouco mais sobre a histria do jogador Afonsinho e como ele,
hoje, avalia as suas atitudes tomadas na poca da Ditadura.
http://oglobo.globo.com/rio/perfil-afonsinho-homem-que-mudou-jogo-9691469
4. General Ernesto Geisel (1974-1979): abertura lenta, gradual e segura:
A mais importante medida do governo Geisel foi a abertura lenta, gradu-
al e segura, com a volta dos militares aos quartis.
Enquanto tentava diminuir o mpeto da "linha-dura", o governo permitiu
que as eleies legislativas se realizassem num clima de relativa liberdade, com
acesso dos dois partidos permitidos ao rdio e televiso. O resultado foi o for-
talecimento da oposio legal, o MDB, diante da ARENA.
Em seu governo, Geisel combinou medidas repressivas, como a utilizao
do AI-5 e o fechamento do Congresso em 1977, com medidas de abertura pol-
tica, como o fim do Ato Institucional n 5 AI 5.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 59
5. General Joo Batista Figueiredo (1979-1985): Anistia, pluripartidarismo e Diretas J:
No mandato de Figueiredo houve a continuidade do processo de aber-
tura, iniciado por Geisel. A primeira medida nessa direo foi dada em 28 de
agosto de 1979 quando foi decretada a Anistia ampla, geral e irrestrita.
No mesmo ano, a ARENA e o MDB foram extintos e novos partidos pol-
ticos foram criados. O Congresso aprovou uma lei de reforma partidria com a
formao de novos partidos, que seriam legalizados nos anos seguintes: Parti-
do Trabalhista Brasileiro (PTB), de Ivete Vargas; Partido Democrtico Trabalhista
(PDT), de Leonel Brizola; Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula; Partido Popular
(PP), de Magalhes Pinto e Tancredo Neves. A ARENA transforma-se no Partido
Democrtico Social (PSD), herdeiro da velha UDN. Este o novo partido do go-
verno, de Paulo Maluf e Delfim Neto. O MDB, procurando manter a imagem de
partido de oposio ditadura, transforma-se no Partido do Movimento Demo-
crtico Brasileiro (PMDB), de Ulysses Guimares.
Em 1982, a realizao de eleies gerais dava prosseguimento s medi-
das de abertura do regime militar, iniciadas com a Anistia. Mas a linha dura
das Foras Armadas no estava satisfeita com a abertura poltica. Atravs de
atentados terroristas, a linha-dura pretendia incriminar grupos de esquerda e
disseminar o pnico pela sociedade. Alguns desses atentados chegaram a ser
executados (os do Riocentro e da OAB, por exemplo), enquanto outros, feliz-
mente, ficaram apenas nas intenes (como o plano de explodir o gasmetro
do Rio de Janeiro). A expectativa era a de impedir a continuidade do processo
de devoluo do poder aos civis.
Em 1982, ainda, foram realizadas eleies diretas para governadores, se-
nadores, prefeitos e deputados federais e estaduais em quase todo o pas (ex-
cludas as reas de segurana nacional, como os municpios do Rio de Janeiro,
So Paulo e Volta Redonda, que s puderam escolher diretamente seus prefeitos
depois de 1985). No mbito estadual, a oposio ao regime vence em Minas Ge-
rais com Tancredo Neves, em So Paulo com Franco Montoro e no Rio de Janeiro,
com Leonel Brizola.
-
60
A vitria da oposio nesses estados foi fundamental para a maior mobi-
lizao poltica da histria do pas at ento: a Campanha das Diretas J. Com a
presena de 1 milho de pessoas na Candelria, no Rio de Janeiro, e de 1,3 mi-
lho no Anhangaba, em So Paulo, os comcios reuniam polticos e lideranas
de oposio que queriam que o sucessor de Figueiredo fosse escolhido pelo
voto direto. Apesar da forte mobilizao, a proposta de alterao da Constitui-
o no recebeu os votos necessrios, e com isso no foi aprovada pelo Con-
gresso Nacional.
Assim, o sucessor do general Figueiredo foi escolhido pelo voto indire-
to. O Colgio Eleitoral de 686 cidados elegeu o presidente, em nome de 60
milhes de eleitores. Tancredo Neves seria o primeiro civil a ocupar o posto m-
ximo da Repblica desde 1964. A votao, que deu vitria tranquila para Tancre-
do, com 480 votos, contra 180 recebidos por Paulo Maluf, o candidato do PSD,
marcou o fim do regime de exceo brasileiro, que havia sido anunciado mais
de dez anos antes. No dizer do presidente eleito, iniciava-se a Nova Repblica.
Porm, o presidente eleito adoece, internado, e morre no hospital, antes da
posse, num dos mais dramticos episdios da Histria republicana do Brasil. Toma
posse o vice-presidente eleito, Jos Sarney, ex-lder da ARENA e ex-presidente do
PSD, que deixou o partido junto com vrios dissidentes para formar a Frente Liberal,
aliando-se, em seguida, ao PMDB, por obra e articulao de Tancredo.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 61
Leia a letra de msica de Miguel Gustavo e responda s
questes:
Pra Frente Brasil (Copa de 1970)
Noventa milhes em ao
Pra frente Brasil
Do meu corao
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil
Salve a Seleo
De repente aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mo
Todos ligados na mesma emoo
Tudo um s corao!
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleo.
Composio: Miguel Gustavo, 1970
Fonte: http://www.vagalume.com.br/os-incriveis/pra-frente-brasil.html
a. Em 1970, o Brasil se consagrou tricampeo mundial de futebol. De que maneira,
o governo militar do general Mdici utilizou-se da conquista brasileira em seu
governo?
b. Relacione a letra de msica acima com os slogans publicitrios utilizados pela
ditadura militar como: Ningum segura este pas, Brasil, ame-o ou deixe-o,
Voc constri o Brasil.
-
62
Seo 3Movimentos de contestao ao regime militar
Figura 5. Rua do Rio de Janeiro completamente tomada. Segundo as autoridades, mais de 100 mil pessoas participaram dos manifestos de 17 de junho de 2013.
As manifestaes que aconteceram em diversas cidades do Brasil, em junho de 2013, chamaram a ateno do
mundo inteiro. Muitos analistas se diziam surpreendidos com tais atos, que no eram observados desde o comeo dos
anos 1990. Nas semanas seguintes, se intensificaram, por motivos diversos, protestos e reivindicaes em todo pas.
O que foi pouco mencionado que essas aes se inserem numa histria e numa tradio de contestao que
acompanhou segmentos da sociedade brasileira. Em especial, durante a Ditadura Militar, mesmo com a represso e a
vigilncia constantes, setores da sociedade encontraram brechas e exploraram as margens estreitas do regime para
protestarem e reivindicarem direitos. So essas aes de que trataremos a seguir.
A contestao nas artes
Mais que nunca, preciso cantar", sugeria a voz de Nara Leo no musical Opinio, onde ela expressava com seu
canto os desejos de todos que se opunham ao Golpe de 1964: esperana e resistncia. A cantora subia no palco com
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 63
dois compositores de origem popular, o carioca da zona norte Z Kti e o maranhense Joo do Vale. Sem dvida, se
tratava da primeira resposta, de cunho artstico, ao Golpe. O nome da pea resume o contedo da arte nesse momen-
to: ela se faria tanto mais expressiva quanto mais se tivesse OPINIO, quanto mais ela se fizesse instrumento para a
divulgao de contedos polticos e sociais de protesto.
No s essa pea, mais outras, como Liberdade, Liberdade, encenada no Teatro Arena, e O Rei da Vela, no Teatro
Oficina, mostravam o ambiente cultural de busca de mobilizao do pblico, de denncia e de renovao da lingua-
gem artstica, fazendo-a uma amostra da realidade difcil da maioria do povo brasileiro.
No cenrio musical, em 1967, acontecia o III Festival da Msica Popular Brasileira que marcou a msica nacio-
nal, devido ao surgimento do Tropicalismo. As msicas Alegria, Alegria, de Caetano Veloso e Domingo no Parque, de
Gilberto Gil, trazem um modo original de compor, de organizar arranjos e de cantar.
No arranjo da msica de Gil, encontram-se mesclados elementos da tradio popular, da tradio mais culta
e o que havia de mais avanado na tcnica da msica internacional. A cano de Caetano traz tona o cotidiano da
cultura urbana do momento: bancas de revista, fotos e nomes, telefone, entre outros elementos. Destaca-se ainda
uma tomada de posio crtica quanto aos rumos da MPB e uma crtica comportamental: a famlia, o casamento, a
sexualidade, passam a ser problematizados. Percebe-se certa presena dos movimentos hippie e da contracultura que
nesse momento influenciavam jovens em todo o mundo.
Caminhando contra o vento
sem leno sem documento
no sol de quase dezembro
eu vou
(...)
o sol se reparte em crimes
espaonaves guerrilhas
em cardinales bonitas
eu vou (...)
por que no? por que no?
(Caetano Veloso, Alegria Alegria)
Outros exemplos dessa criao cultural contestatria observamos no cinema e no teatro. O cinema traz para
as telas a misria de um povo sem direitos mnimos, como nos trabalhos de Cac Diegues e Glauber Rocha. No teatro,
grupos como o Oficina e o Arena procuram dar nfase aos autores nacionais e denunciar a situao do pas.
-
64
Srgio Porto, sob o pseudnimo de Stanislaw Ponte Preta, publicou o FEBEAP (Festival de Besteiras
que assolam o pas) - um inventrio com os absurdos praticados pelas autoridades brasileiras:
"Foi ento que estreou no Teatro Municipal de So Paulo a pea clssica Electra, tendo comparecido ao local al-
guns agentes do DOPS para prender Sfocles, autor da pea e acusado de subverso, mas j falecido em 406 a.C."
Em Campos houve um fato espantoso: a Associao Comercial da cidade organizou um jri simblico de
Adolph Hitler, sob o patrocnio do Diretrio Acadmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento,
Hitler foi absolvido.
O movimento estudantil
As manifestaes de rua contra o regime militar aumentaram em 1968 com a indignao diante da morte do estu-
dante secundarista Edson Lus. O crime aconteceu durante a represso policial a um protesto, realizado no Rio de Janeiro,
contra a qualidade da alimentao fornecida aos estudantes pobres no restaurante Calabouo. A data de sua morte passou
a marcar O Dia Nacional da Luta no mbito estudantil , com a realizao de passeatas e manifestaes anualmente, e deu
nome ao jornal da Associao Municipal dos Estudantes Secundaristas RJ (AMES) Jornal 28 de maro.
Figura 6: Jornais noticiam a morte do estudante Edson Lus.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 65
O ponto alto da mobilizao da sociedade na luta pela democratizao foi a passeata dos Cem Mil, realizada no
Rio de Janeiro. No s estudantes, mas artistas, trabalhadores, setores da Igreja e da classe mdia, estiveram presen-
tes. Agora, eram os filhos da classe mdia que saam s ruas. No para apoiar o golpe civil-militar como em 1964, mas
sim, para repudiar o regime estabelecido.
Figura 7. Passeata dos 100 mil.
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo ento que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra l...
(Chico Buarque de Holanda, Roda Viva)
-
66
As organizaes da esquerda armada: a guerrilha urbana e a rural
Depois do AI-5, com as perseguies e prises, muitos militantes do movimento estudantil ingressariam na
luta armada.
Com forte atuao nos centros urbanos, entre 1968 e 1973, podemos destacar a ALN (Ao Libertadora Nacio-
nal) que nasceu da ciso do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Dentre suas estratgias de atuao podemos citar os
sequestros para conseguir recursos financeiros e a libertao de companheiros de luta. A histria desta organizao
est atrelada ao nome de Carlos Marighella, antigo dirigente do PCB. Marighella foi uma das vtimas da represso
contra os opositores do regime militar, sendo executado em 4 de novembro de 1969, em So Paulo. A represso e as
prises dos guerrilheiros comprometeram a sobrevivncia do grupo, que se desarticulou em 1974.
Apesar de alguns setores das esquerdas defenderem propostas de luta armada para alcanar o socialismo,
aps o AI-5, atos violentos, inclusive com mortes, seriam promovidos. A ao mais espetacular das muitas organiza-
es da esquerda armada foi o rapto do embaixador dos EUA no Brasil. Essa foi uma das aes de maior ressonncia,
com a leitura de um manifesto em cadeia nacional de televiso, conseguindo a libertao de quinze presos polticos,
que seguiram para o Mxico. Todo esse episdio foi relatado no livro O que isso companheiro, de Fernando Gabeira,
transportado para as telas de cinema, em 1997, no filme homnimo, dirigido por Bruno Barreto.
O sucesso dessa iniciativa levaria, nos anos seguintes, ao sequestro de outros diplomatas estrangeiros para
troc-los por prisioneiros polticos. Depois da promulgao do AI-13, a pena para os sequestradores seria o banimen-
to do territrio nacional.
Durante o governo do General Mdici (1969-1974) e em parte do governo do General Geisel (1974-1979), o
Partido Comunista do Brasil (PCdoB) organizou destacamentos guerrilheiros nas localidades de Xambio e Marab,
no Par, posicionando-se como resistncia armada ditadura. Contra eles, a linha dura insistiu em investidas mais
fortes e conseguiu a aplicao de quatro caas de combate T-6, quatro helicpteros UH, trs avies Bfalo, um C-47 e
quatro avies D-19. Alguns depoimentos de militares indicam a utilizao de napalm, alm de um efetivo de homens
estimado em dez mil.
Vocabulrio
Napalm: Mistura de substncias viscosas e petrleo (ou similar combustvel), usada como armamento militar. Quando usada
contra uma pessoa, essa arma se gruda pele humana, incendiando-se e, consequentemente, causando severas queimaduras.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 67
Num primeiro momento, a represso fez prisioneiros. Na medida que as foras militares perceberam que a
guerrilha se enfraquecera, os militantes passaram a ser caados e assassinados. Ainda hoje seus familiares lutam para
saber o destino dos corpos.
Figura 8: No mapa, em amarelo, a regio do Araguaia. No crculo, a rea de enfrentamento entre guerrilha e exrcito (1972-74).
No interior do pas destacou-se a Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974, sob a direo do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB). Os integrantes defendiam o fim da explorao dos grandes proprietrios de terras sobre os traba-
lhadores rurais e afirmavam que a tomada do poder deveria comear em reas rurais, ganhando com isso, a adeso de
parte da populao camponesa local. A ditadura militar reagiu e enviou para a regio tropas que agiram com extrema
violncia contra os rebelados: muitos moradores da regio foram presos e espancados e a campanha militar terminou
com a morte de inmeros guerrilheiros. Acredita-se que metade do nmero total de desaparecidos polticos no Brasil
se refere aos guerrilheiros do Araguaia.
-
68
Figura 9: Grupo de guerrilheiros no Araguaia, dcada de 1970. Corpos de guerrilheiros mortos com as mos amarradas, observados por militares.
O tema Esquerda Armada ainda polmico. Alguns acusam a guerrilha de ter "endurecido" a ditadura militar
com seus atentados, dando a eles uma desculpa para no abrir o regime. Outros afirmam que, em nome da justia e
da igualdade social, a esquerda armada tambm cometeu crimes e outras arbitrariedades. Tal como dizia o manifesto
publicado pelos guerrilheiros na negociao da soltura do embaixador norte americano: "Quem prosseguir torturan-
do, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora olho por olho, dente por dente."
A imprensa alternativa
No final dos anos 1970, o regime era questionado no somente pelo MDB, como tambm pela oposio de
outros segmentos da sociedade. Os fatos que eram abafados na imprensa, seja pela censura, seja pela simpatia na de-
fesa do regime pelos empresrios dos meios de comunicao, cada vez mais vinham a pblico. Exemplo disso foram
as denncias de torturas e assassinatos cometidos pelos rgos de represso, como a morte do jornalista Vladimir
Herzog, em 1975, e do operrio Manoel Fiel Filho, em 1976.
O semanrio carioca O Pasquim um dos maiores exemplos da imprensa chamada, na poca, alternativa (con-
trastando com a grande imprensa) ou imprensa nanica (devido s mnimas equipes e tiragens). Oposio ferina e des-
contrada ao regime militar, O Pasquim reuniu nomes como Henfil, Jaguar, Ziraldo, Srgio Cabral, Millr, Paulo Francis
e Paulo de Tarso. Foi censurado e perseguido, com sua equipe de redao sofrendo uma priso coletiva, mas deixaria
um legado que inspiraria outras publicaes.
O jornal Brasil Mulher foi um desses exemplos. Jornal feminista, editado em Londrina, com sucursais no Rio e
em So Paulo, junto com outros peridicos como Ns Mulheres (1976) e Mulherio (1981), defenderam uma concepo
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 69
alternativa de poltica, que articulava a luta geral pelo socialismo com a luta pela emancipao das mulheres. A valo-
rizao do cotidiano, as relaes pessoais, a subjetividade, as experincias de vida foram algumas das inovaes que
esses jornais trouxeram.
Numa outra direo, surgiram jornais voltados para homossexuais no final da dcada de 70. Esses jornais bus-
cavam politizar a questo do homossexualismo e inseri-la numa luta mais ampla, afirmando que uma sociedade livre
seria aquela que permitisse a livre opo sexual e o livre exerccio do prazer. Destacam-se os jornais Gente Gay, da
Aliana de Ativistas Homossexuais, lanados em 1977; o jornal Boca da Noite, lanado em 1980; e o Lampio da Esqui-
na, lanado em 1981. Todos eles do Rio de Janeiro.
No final dos anos 1970, ganha fora a Imprensa Negra. Esta imprensa representou o renascer do movimento
negro no Brasil, aps a represso indiscriminada dos primeiros anos do regime militar, e espelhou os principais de-
bates e pontos de conflito dentro deste movimento. Em torno de jornais como Sinba (1977), Tio (1978) e Koisa de
Crioulo (1981), se consolidou um grupo de militncia que teve grande importncia nos anos posteriores.
Apesar da vigncia da censura, a imprensa alternativa construiu um espao em que as diferentes reivindicaes
dos movimentos sociais feminista, gay e negro somente seriam alcanadas com a derrubada do regime autoritrio.
Os movimentos de trabalhadores da cidade e do campo
Alm disso, se fortalecia uma nova oposio: a sindical. A primeira greve, desde o AI-5, foi protagonizada pelo
sindicato dos metalrgicos do ABC paulista - regio formada pelos municpios de Santo Andr, So Bernardo e So
Caetano. Essa greve representou a adeso da classe trabalhadora luta contra o regime. O presidente Figueiredo
decreta a interveno nos sindicatos de metalrgicos e muitos dirigentes foram presos, dentre eles, Luiz Incio Lula
da Silva. Contudo, devido s presses da sociedade, a ordem de priso foi suspensa e os sindicalistas presos foram
libertados. Assim, multiplicam-se as greves, principalmente no ABC paulista. Dos movimentos de trabalhadores orga-
nizados emerge o novo sindicalismo em cujo campo surgiu o PT (1980).
-
70
Figura 10: Jornal Movimento, anunciando uma matria sobre Luiz Incio Lula da Silva.
No campo, as ocupaes de terra se intensificam a partir de 1979. O avano dessas lutas leva fundao do
MST (Movimento dos Sem Terra), em 1984, organizao que hoje referncia para movimentos sociais de esquerda
em toda a Amrica Latina, no campo e na cidade.
Toda essa resistncia aponta para a importncia que teve a participao popular na garantia da reabertura
poltica no pas.
Comisso da Verdade
Instalada em 16 de maio de 2012, no governo Dilma, a partir da criao da Lei n.12.528, de 18 de no-
vembro de 2011, a Comisso da Verdade tem por objetivo apurar a violao de direitos humanos, no
perodo entre 1946 e 1988.
Durante a cerimnia de posse aos sete integrantes da comisso (Cludio Fonteles, Gilson Dipp, Jos
Carlos Dias, Joo Paulo Cavalcanti Filho, Maria Rita Kehl, Paulo Srgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso da
Cunha), Dilma destacou que a comisso no tem por princpio o revanchismo ou movida pelo dio;
pelo contrrio, destacou que sua instalao procura fazer com que o Brasil conhea a totalidade de sua
histria: "A ignorncia sobre a histria no pacifica, pelo contrrio, mantm latente mgoas e rancores".
Com a misso de apurar os crimes e violaes dos direitos humanos durante o perodo militar, a comis-
so ter o prazo de dois anos para realizar as investigaes necessrias.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 71
Mais do que levantar ou expor os crimes contra os direitos humanos praticados pelas aes nefastas dos "po-
res" da Ditadura, a Comisso da Verdade pode proporcionar ao Brasil uma chance nica: a cicatrizao de fe-
ridas ainda abertas em nossa sociedade, resultado das iniciativas violentas dos governos militares e que ainda
hoje clamam ser solucionadas.
Essa a pgina oficial da Comisso da Verdade. Nela, voc pode ter acesso a todas as investigaes que
so realizadas pelo grupo. Acesse: http://www.cnv.gov.br/index.php
Como se deu o fim da Ditadura?
O processo de abertura poltica da ditadura militar brasileira teve incio durante o
governo do general Ernesto Geisel (1974-1978), aprofundando-se no governo de Joo Fi-
gueiredo (1979-1985). Na seo 3, voc viu alguns dos movimentos da sociedade a favor
da abertura poltica durante esse perodo, cite um deles.
-
72
O site Brasil: Nunca Mais Digital tem um dos acervos mais completos acerca dos crimes do perodo
ditatorial brasileiro. Vale a pena conferir! Acesse: http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/
Resumo
Nas dcadas de 1960 e 1970, a Amrica Latina sofreu diversos golpes de estado que conduziram a regimes
autoritrios de direita.
Essas ditaduras violaram sistematicamente diversos direitos humanos, promovendo a censura, a represso
e a violncia contra seus crticos e opositores.
As sociedades latinoamericanas desenvolveram diversas formas de contestao que contriburam para a
retomada da ordem constitucional e democrtica. O caso brasileiro exemplifica muito bem esse processo.
Os 21 anos do regime militar s foram derrotados graas ao de diversos movimentos de resistncia nos
quais se engajaram artistas, estudantes, polticos, trabalhadores do campo e da cidade e diversos outros
grupos que lutaram por seus direitos.
Apesar do sucesso dessas lutas e do fim da ditadura, a democracia um bem que ainda precisa ser aperfei-
oado no nosso pas e no continente.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 73
Veja Ainda
Filmes:
Jango. Direo de Silvio Tendler. Brasil, 1984. Documentrio, 35mm, 117 min., Caliban. Narrao de Jos
Wilker.
O Sol: caminhando contra o vento. Direo de Tet de Moraes. Brasil, 2005. Documentrio, 35mm, 95 min.,
Vemver.
Hrcules 56. Direo de Silvio Da-Rin, 2006. Documentrio, 35mm, 94 min., RioFilme.
Tancredo: a travessia. Direo de Slvio Tendler. Brasil, 2010. Documentrio, 120 min., Intervideo Digital.
REFERNCIAS
CHASTEEN, John Charles. Amrica Latina. So Paulo: Campus, 2002.
FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia. O Brasil republicano. 4 Vol. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.
FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aaro. (orgs.). As esquerdas no Brasil. 3 Vol. Rio de Janeiro: Civilizao Brasi-
leira, 2007.
FICO, Carlos. Verses e controvrsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de Histria, vol. 24,
n 47, p. 29-60, 2004
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. So Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. So Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. So Paulo: Companhia das Letras, 2003.
GASPARI, Elio. A ditadura encurralada. So Paulo: Companhia das Letras, 2003.
REIS FILHO, Daniel Aaro, RIDENTI, Marcelo, MOTTA, Rodrigo Patto S (orgs.). O golpe e a ditadura militar:
quarenta anos depois (1964-2004). Bauru, So Paulo: Edusc, 2004
REIS FILHO, Daniel Aaro. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Zorge Zahar Editores, 2000.
-
RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SANTOS, Ana Maria. Amrica Latina: Dependncia, ditaduras e Guerrilhas. In: AARO Reis et Alii (Org.) O
Sculo XX. Volume III. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000.
Imagens
Acervopessoal AndreiaVillar
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Guanabarasandbag.jpg
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=36048
http://www.tvufg.org.br/wp-content/uploads/2012/03/o-dia-que-durou-21-anos.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Castelobranco.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Costa_e_Silva.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Garrastazu_m%C3%A9dici.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazil_1970.JPG
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ernesto_Geisel.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Figueiredo.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:ABr17062013TMZ0029.jpg
http://www.rebeliao.org/2013/03/28/491/
http://www.bradoretumbante.org.br/sites/default/files/passeatadoscemmil.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrilha_do_Araguaia
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 75
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrilha_do_Araguaia
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=37099
http://www.cnv.gov.br/index.php
http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/
Atividade 1
a. O reconhecimento das organizaes Globo de que apoiou o golpe de 1964 e que
o editorial exaltando a tomada de poder por um regime civil-militar foi um erro.
b. Sim, como o texto destaca, O Globo no foi a nica instituio a concordar com
a interveno dos militares em 1964, outros grandes jornais da poca tambm
o fizeram, como O Estado de S.Paulo,a Folha de S. Paulo,o Jornal do Brasil e o
Correio da Manh. Da mesma forma, parcela importante da populao apoiou
o golpe civil-militar, atravs da expressa adeso em manifestaes e passeatas
organizadas em Rio, So Paulo e outras capitais.
Atividade 2
a. Durante o regime militar, o futebol foi importante ferramenta de propaganda
dos governos ditatoriais. No governo Mdici, a conquista da Copa do Mundo em
1970 foi utilizada para alavancar seu governo, exaltar o Brasil e diminuir as vozes
da oposio
b. Slogans como "Brasil Ame ou Deixe-o", "Ningum segura este pas" foram criados
dentro desse contexto e ajudaram a construir um sentimento de nacionalismo
acentuado, provocando verdadeiros antagonismos na sociedade brasileira. Isto
, amar o Brasil era, acima de tudo, compactuar com as aes do governo e no
boicotar ou criticar qualquer questo que envolvesse o Brasil, inclusive o futebol.
-
76
Atividade 3
Voc pode citar as aes de contestao nas artes, os movimentos de trabalhado-
res da cidade e do campo, as aes da imprensa alternativa com publicaes como do
Pasquim, algumas das organizaes da esquerda armada ou ainda destacar o movimento
estudantil e as Diretas J.
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 77
O que perguntam por a?
Questo 1 (Enem 2010)
A gente no sabemos escolher presidente/ A gente no sabemos tomar conta da gente/ A gente no sabemos
nem escovar os dentes/ Tem gringo pensando que nis indigente/ Intil/ A gente somos intil
MOREIRA, R. Intil. 1983 (fragmento).
O fragmento integra a letra de uma cano gravada em momento de intensa mobilizao poltica. A cano foi
censurada por estar associada:
a. ao rock nacional, que sofreu limitaes desde o incio da ditadura militar;
b. a uma crtica ao regime ditatorial que, mesmo em sua fase final, impedia a escolha popular do presidente;
c. falta de contedo relevante, pois o Estado buscava, naquele contexto, a conscientizao da sociedade
por meio da msica;
d. dominao cultural dos Estados Unidos da Amrica sobre a sociedade brasileira, que o regime militar
pretendia esconder;
e. aluso baixa escolaridade e falta de conscincia poltica do povo brasileiro.
Gabarito: B
-
78
Questo 2 (Uerj 2011)
Tropiclia
Sobre a cabea os avies
Sob os meus ps os caminhes
Aponta contra os chapades
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento no planalto central
do pas
(...)
O monumento no tem porta
A entrada uma rua antiga, estreita e torta
E no joelho uma criana, sorridente, feia e morta
Estende a mo
(...)
Disponvel em www.caetanoveloso.com.br
O disco e a msica Tropiclia tornaram-se smbolos do Tropicalismo, movimento protagonizado por artistas e
intelectuais, no Brasil, em finais da dcada de 1960.
Esse movimento destacou-se, principalmente, pela seguinte proposta:
a. valorizao do pluralismo cultural;
b. denncia das influncias estrangeiras;
c. enaltecimento da originalidade nacional;
d. defesa da homogeneizao de comportamentos sociais.
Gabarito: A
-
Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 79
Questo 3 (UERJ - 2010)
Para ns, operrios, milagre conseguir sobreviver com os baixos salrios que recebemos. Para isso, somos
obrigados a trabalhar 12 a 13 horas por dia, e muitos trabalham aos domingos, o que significa, na prtica, o fim de
uma das maiores conquistas da classe operria: a jornada de 8 horas e o descanso semanal.
Manifesto da Oposio Metalrgica de So Paulo, 1975.
_____________________________________________________________________________________
Apud PAES, Maria Helena Simes. Em nome da segurana nacional: do golpe de 64 ao incio da abertura. So
Paulo: Atual, 1995.
In: Nosso Sculo, n 78. So Paulo: Abril Cultural, 1980.
Entre 1969 e 1973, em funo das taxas de crescimento ento alcanadas, o momento econmico do pas ficou
conhecido como milagre brasileiro.
Com base no testemunho do movimento operrio e na publicidade, pode-se concluir que os principais efeitos
do milagre brasileiro foram:
(A) elevao do PIB expanso dos sindicatos;
(B) nacionalizao da indstria reviso das leis trabalhistas;
-
80
(C) modernizao da tecnologia qualificao da mo de obra;
(D) internacionalizao da economia concentrao de renda.
Gabarito: D