Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

24
. 25 Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e brasileiros Armindo Bião Fascinado, na infância, pelos folhetos de feira – a literatura de cordel e, simultaneamente, aterrorizado com as imagens que representavam o inferno e o ameaçador olho divino que tudo vê e vigia, da imaginária católica popular brasileira, tão presente no Nordeste, diverti-me muito com os versos e as músicas que saíam daqueles folhetos, falando da natureza e da história divinas e, mais ainda, do logro do diabo. Depois vim a descobrir a existência de um verdadeiro ciclo de folhetos de cordel sobre esse tema, o “ciclo do demônio logrado” (FERREIRA, 1995, p. 23). Também descobri o grande poder, simultaneamente pedagógico e artístico, dramático e épico, da transposição dos folhetos para a cena teatral e espetacular, na cidade da Bahia, conforme tive a ocasião de relatar em livro, resultante de minas pesquisas (BIÃO, 2005). E, ainda, pude descobrir também a alegria da folia e o desbunde do carnaval de Salvador, onde, todos sabem, o diabo se encontra em sua própria casa, no quadril dos baianos, como todos cantam 1 : Ah, que bom você chegou Bem-vindo a Salvador Coração do Brasil (do Brasil) Vem, você vai conhecer A cidade de luz e prazer Cadernos de Letras - n. 23 - p. 25-48 - jan./dez. 2007

Transcript of Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

Page 1: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 25

Faustos e diabos na encruzilhada dos discursosgermânicos e brasileiros

Armindo Bião

Fascinado, na infância, pelos folhetos de feira – a literaturade cordel e, simultaneamente, aterrorizado com as imagens querepresentavam o inferno e o ameaçador olho divino que tudo vê evigia, da imaginária católica popular brasileira, tão presente noNordeste, diverti-me muito com os versos e as músicas que saíamdaqueles folhetos, falando da natureza e da história divinas e, maisainda, do logro do diabo.

Depois vim a descobrir a existência de um verdadeiro ciclode folhetos de cordel sobre esse tema, o “ciclo do demônio logrado”(FERREIRA, 1995, p. 23). Também descobri o grande poder,simultaneamente pedagógico e artístico, dramático e épico, datransposição dos folhetos para a cena teatral e espetacular, nacidade da Bahia, conforme tive a ocasião de relatar em livro,resultante de minas pesquisas (BIÃO, 2005).

E, ainda, pude descobrir também a alegria da folia e odesbunde do carnaval de Salvador, onde, todos sabem, o diabo seencontra em sua própria casa, no quadril dos baianos, como todoscantam1:

Ah, que bom você chegouBem-vindo a SalvadorCoração do Brasil (do Brasil)Vem, você vai conhecerA cidade de luz e prazer

Cadernos de Letras - n. 23 - p. 25-48 - jan./dez. 2007

Page 2: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

26 .

Correndo atrás do trioVai compreender que o baiano é:Um povo a mais de milEle tem Deus no seu coraçãoE o Diabo no quadrilWe are CarnavalWe are foliaWe are the world of CarnavalWe are Bahia

Pois foi nessa encruzilhada cultural globalizada que fiz, entresurpreso e fascinado, outra descoberta: a Alemanha. De fato, nosarmários e álbuns de fotografias de minha família se destacavaum meu homônimo - Armindo (entre tantos outros – pelo menosmais quatro, em nossa família - desse mesmo prenome). Desobrenome Valverde Martins, esse Armindo, o irmão mais jovemde minha avó paterna, assistiu aos Jogos Olímpicos de Berlim de19362, foi poeta3 e administrador de cinemas, na região do cacau,no sul da Bahia4. Viveu também pelas cidades de Irará, Feira deSantana, Alagoinhas, Caldas de Cipó, Ilhéus e Itabuna, todas naBahia e circulou, ainda, pelo Rio de Janeiro e São Paulo, naprimeira metade do século XX. Foi casado com sua sobrinha, filhade sua irmã e de seu cunhado, um outro Armindo (esse PedreiraDantas Bião, mais velho que o nubente, seu jovem cunhado, quase30 anos). A ainda mais jovem noiva, Elizabeth Martins Bião, depoisde casada, teve seus sobrenomes invertidos e passou-se a chamarElizabeth Bião Martins. Não deixaram descendência.

Terá sido, provavelmente, e ao menos parcialmente, porconta dessa inusitada descoberta nos arquivos familiares, que, em1964 - ou 1965, aproximadamente com 14 anos de idade, fuiestudar alemão no Instituto Cultural Brasil Alemanha de Salvador,afiliado ao Goethe Institut, sediado em Munique, na Alemanha.

No ICBA de Salvador permaneci então por cinco semestres,conheci nossa homenageada nesta XV Semana Interdisciplinar de

Page 3: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 27

Estudos Anglo-Germânicos, Idalina Azevedo, a quem saúdo, epude vislumbrar um pouco da língua e da cultura alemãs, inclusivealgo – bem superficial - da obra do patrono da instituição, JohannWolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 1749; Weimar, 1832),além de um clássico do cinema expressionista, que me marcouprofundamente, baseado em uma das mais famosas obras deGoethe - e também de toda a tradição literária alemã, dirigido porFriedrich Wilhelm Murnau (Bielefeld, Alemanha, 1888; SantaBarbara, Califórnia, 1931), o Faust, de 1926.

Assim, em minha encruzilhada pessoal, se enredaram osanos de:

- 1926 - do filme de Murnau;- 1936 - das Olimpíadas documentadas para sempre

(RIEFENSTAHL, 1938); da primeira edição de Mephisto, de KlausMann, filho de Thomas Mann, autor de outra célebre versão doFausto; e da primeira viagem de Stefan Zweig ao Brasil (2006, p.258);

- 1966 (quando abandonei o estudo do alemão);- e 2006, quando conheci a pesquisadora, nossa conterrânea

da Bahia, Jerusa Pires Ferreira, autora do livro Fausto no horizonte:razões míticas, texto oral, edições populares (1995), que meajudaria a compor a parte mais importante dessa trama de fios devida, que dá base à presente comunicação.

Na numerologia popular, a repetição do número seis remeteao que se sabe...

Pois foi a partir do desenvolvimento de um projeto depesquisa, financiado pelo CNPq para o triênio 2005/ 2008, que ospersonagens dos diabos me atraíram a atenção. Esse projeto,intitulado “Da cena ao impresso e do impresso à cena - teatro eliteratura de cordel da Lisboa do século XVIII à Salvador do séculoXXI”, dá continuidade a minhas pesquisas na adaptação de folhetosde cordel para a cena. E, por outro lado, consolida a inserção daetnociência do espetáculo, a etnocenologia, que articula arte e

Page 4: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

28 .

ciência, teoria e prática, criação e crítica (com a qualvenho trabalhando desde 1995), na grande área de conhecimento do CNPQ, denominada Artes, Letras e Lingüística,mais especificamente na área das Artes (BIÃO, 2007; 2005; 2004;2000A; 2000B; 1999; 1996; GUINSBURG, 2006).

É fato que, anteriormente, com bons resultados pedagógicose artísticos, eu já incluíra em trabalhos de sala de aula, com alunosdo curso do Bacharelado em Artes Cênicas, Habilitação emInterpretação Teatral, da Escola de Teatro da UFBA, o folheto “AHistória do Satanás Embriagado no Forró” (1997), de JussandirRaimundo de Souza, publicado originalmente em 1982. Nessefolheto, o diabo é ridicularizado: impedido de entrar no forró pornão ter convite, ele se disfarça de mulher e consegue ter acesso.Ficando bêbado, promove pancadaria, durante a qual os convivasdescobrem tratar-se de um homem e, furiosos, obrigam-no a fugir.Conta-nos o poeta:

Satanás desses pinotesQue deu sumiu pelo ar,Inda hoje não se sabePra onde o Cão foi parar...Só se sabe que o DiaboEm todas só leva azar.

Mas a foi a partir de 20015, com a dramatização do folhetode José Costa Leite “O encontro de Lampião com a Negra DumPeito Só”, que meu interesse por esses personagens se ampliou.Esse outro folheto relata o recurso da população do Nordeste àfeitiçaria contra a violência de Lampião. A intriga culmina com aluta de Lampião com esse personagem que, eu viria a saber maisrecentemente, é uma pomba-gira (exu fêmea, mulher endiabrada)6

dos cultos afro-brasileiros (CAROSO e RODRIGUES, 2004, p. 336)7.Também aí conclui o poeta:

Page 5: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 29

A negra deu uma dentadana venta de Lampiãodepois um galo cantoue ela ficou sem açãona vista dele despiu-sedeu um estouro e sumiu-sesem deixar sinal no chão.

Em 2002, em novo espetáculo, reunimos dois folhetos deJosé Pacheco, o “Debate de Lampião com São Pedro” e “A chegadade Lampião no Inferno”, concluindo, com um narrador dizendoassim:

Espectadores, vou terminarTratando de Lampião,Muito embora que não possaVos dar a explicação.Olhe: No céu não entrou.No inferno também não ficou.Por certo está no sertão.Quem duvidar dessa história,Pensar que não foi assim,Querer zombar do meu sério,Não acreditando em mim,Vá comprar papel moderno,Escreva para o inferno,Mande saber de Caim.

Esses três fragmentos de discursos brasileiros vieram a sesomar a minha redescoberta – quase 20 anos depois da descoberta,através das pesquisas de Roberto Motta e Monique Augras - dasmuito prováveis relações matriciais da personagem histórica Maríade Padilla (1334 – 1361) com nossa Maria Padilha, mais umapomba-gira (Augras, 2001; Meyer, 1993; Motta, 1995; 1990;1988), dos cultos afro-brasileiros (a outra que já citei é a negraDum Peito Só8). Assim, apresentei novo projeto de pesquisa ao

Page 6: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

30 .

CNPq, intitulado “Mulheres por um fio no purgatório, inferno eparaíso do Atlântico Negro”, para o período de 2008 a 2010, doqual a presente comunicação reelabora uma abordagem parcial epreliminar.

Voltemos a nossa encruzilhada Brasil Alemanha.Encruzilhada essa que é a morada, segundo nosso imaginário afro-brasileiro de Exu. “Senhor das encruzilhadas e, principalmente,da encruzilhada dos sentidos e dos discursos, ele é um trickster...”(Martins, 1995, p. 56), que chegou a ser muito impropriamenteconfundido com o diabo, pois na verdade se trata de um mediadorentre o homem e o sobrenatural. A mediação, assim como atradução, é uma coisa delicada, que merece muita atenção. Nãorecebendo a atenção devida, pode se constituir numa grandeconfusão, pois aquele que traduz, em alguma medida, trai(traduttore traditore). De fato, a idéia de um cruzamento decaminhos, que permite múltiplas opções, mas que, para que sejaultrapassado, exige que apenas uma dessas alternativas seja aescolhida, é também o lócus da angústia existencialista, tão bemretratada por Jean-Paul Sartre9. E o que distingue uma coisa daoutra é o verbo, é a linguagem. É a linguagem que,simultaneamente, nos prende e nos liberta10. O meio é a mensagem.O mensageiro é Exu, é Hermes, o três vezes grande, que nos ajudaa decifrar os textos, é Mercúrio, o deus dos pés – e capacete –alados, que rege o comércio entre as gentes.

E aqui eu começo a arriscar algumas afirmações a propósitodo título de minha comunicação. É como se nos discursosgermânicos, que estou certo todos os presentes aqui conhecemmais que eu, prevalecesse, ao lado, dos sábios alquimistas quealmejam todo o conhecimento e poder, os diabos em pessoa,parecidos com aqueles aterrorizantes da imaginária católicapopular. Enquanto que nos discursos brasileiros, registrados nosfolhetos de cordel, ao lado dos simples mortais, simbolizados napersonagem maior do ferreiro, que forja os objetos da vida

Page 7: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 31

cotidiana, prevalecessem figuras mais prosaicas, também diabos,também parecidos com aquelas imagens populares, mas, talvez,menos poderosos que os germânicos, mais infantis, um tanto erês,um tanto exus.

Poderíamos fazer uma aproximação entre alquimistas eferreiros, como Jerusa Pires Ferreira, que, ao descrever o quedenomina de “tecido fáustico” (1995, p. 16), cita um estudo deMircea Eliade (p. 79) intitulado, exatamente, Ferreiros eAlquimistas. Mas não temos competência nem apetência para tanto.Acompanhamos, no entanto, a argumentação da grandepesquisadora, que nos informa:

Em várias mitologias é o ferreiro um poderoso agente de transformação.Rebelde, ligado ao ato prometaico do roubo do fogo e sua domação.Lúcifer torna-se semelhante aos deuses. Maldito, ao mesmo tempo,por este domínio e pela aquisição de um ofício mágico. Pode-se lembrarOgum, no panteão iorubá e pensar também em Exu, num mediadorentre os homens e os deuses, indeciso entre perdição e a salvação”. (p. 77)

Voltemos a nossa encruzilhada, que transita entre o oral, oimpresso e o teatro, ainda seguindo os passos de nossa mestraFerreira, que nos informa sobre as muitas edições populares, emdiversos países, que compõem o tecido fáustico, que ela tão bemdescreve. Uma edição matricial seria o Das Volksbuch von DoktorFaust, de Johann Spiess, publicado originalmente em 1587, edesenvolvido em larga tradição de uma Teufel Literatur. Semdúvida, a obra prima de Goethe se inscreve nessa mesma trama,“nas confluências desses vários fios [...] na encruzilhada de muitosatalhos” (FERREIRA, 1995, p. 102). Nesse mesmo enredo fáusticose situam duas outras edições populares. Uma é a edição“facilitada” do célebre – e celebrado - Fausto, de 1928, da editoraJoão do Rio de Savério Fitipaldi, citada por FERREIRA (1995, p.99). Outra é o “texto integral”, da coleção “A Obra-Prima deCada Autor”, da editora Martin Claret, do Fausto (1808), de

Page 8: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

32 .

Goethe, traduzido por Agostinho D’Ornellas (Lisboa, 1836/Niedervalluf, Alemanha, 1901), que nos informa, em uma de suasnotas de tradutor: “Em alemão, diabo – Teufel – rima com -Zweifel – dúvida.” (2006, p. 488). E lugar da dúvida é aencruzilhada.

A opção pela presença do sábio alquimista, comoprotagonista dos discursos germânicos do que Ferreira definiucomo tecido fáustico, não é sem conseqüências. Assim como, nosdiscursos brasileiros, esse protagonista ser um ferreiro, ou mesmoum homem ou mulher comuns, não o é, sem conseqüências. Aindaque todos transitem pelas mesmas encruzilhadas que desafiam oser humano em todas as latitudes. Nos discursos brasileiros docordel, dominantemente picarescos e humorísticios, que têmchegado, inclusive, ao cinema11, esse tecido fáustico, segundoFerreira, teria levado Mário Pontes a falar de um verdadeiro “ciclofaustiano”, em seu trabalho intitulado “A presença demoníaca napoesia popular do Nordeste”, que ainda desconhecemos. Nosdiscursos germânicos, sempre de acordo com Ferreira, aludindoàs análises de Haroldo de Campos sobre o Fausto de Goethe, a“linguagem picaresca de Mefisto, que o situa entre pícaro emalandro” ficaria mais circunscrita, ainda que assustadora paratodos os autoritarismos. O sábio e o sério, no discurso germânico,apenas se aproximariam desse tom, nos diálogos de Fausto comMefisto, o que, no discurso brasileiro se espalha e se espraia,conforme veremos, por toda a tessitura do texto. Aliás, o terrorromântico da moda do suicídio, que teria sido suscitada peloromance epistolar do jovem Goethe Os Sofrimentos do JovemWerther, de 1774, que acometeria Stefan Zweig em sua terraescolhida para adoção e para o futuro, também cruzaria oscaminhos das mesmas encruzilhadas, numa confusa mistura deopção, danação, salvação e maldição, como no caso da morte deKlaus Mann, “em conseqüência de uma overdose de soníferos”,em 194912.

Page 9: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 33

O certo é que, seguindo as pistas de Ferreira e nossa própriaintuição, vimos constituindo um corpus de folhetos brasileiros decordel que nos tem revelado a predominância, em nosso discursobrasileiro, de um misto de humor, amor e destemor. Misturacruzada essa, que, criando sempre um suspense sobre o futuro (onosso e o) dos diabos – sempre possivelmente à espreita - emnossa vida, se constitui numa afirmação dessa mesma vida e daesperteza das pessoas mais simples, numa convivência picaresca,de logros sucessivos, da dor, da morte, de todos os males edemônios. Também, de modo distinto em relação ao discursogermânico, no brasileiro aparece, talvez por conta de nossa tradiçãocatólica, barroca, da contra-reforma e da inquisição, a mulher comodiaba.

É aí que se apresenta a Negra Dum Peito Só e que se anunciaa branca Maria Padilha, de “muitos peitos”, mistura de castelhana,andaluza, judia e cigana, encruzilhada de beleza, sensualidade,traição e feitiçaria (RIBEIRO, 2006; FARELLI, 2002). Essa criaturabranca (tão pomba-gira quanto a outra, negra) evoca a amante dorei Pedro I Cruel (MOYA, 1974), que para ela construiu o Alcazarde Sevilha (ROS, 2003), assim como também evoca a entidadeinvocada pelas feiticeiras portuguesas perseguidas pela Inquisiçãoe pela cigana da ficção Carmen (MÉRIMÉE, 1965). A mulher é aícheia da tradição judaico-cristã-muçulmana, cheia de graça e depecado, o diabo feito gente.

Para concluir eu gostaria de realizar para vocês uma leituradramatizada de um dos seguintes folhetos, que passo agora a citar:A mulher que botou o diabo na garrafa, O encontro de Lampiãocom a Negra Dum Peito Só, A briga da mãe do cão com Lampiãono inferno, Carta de Satanás ao amigo George Bush, Discussãode Severino Gonçalves com a Negra de um Peito Só, A mulherque o diabo surrou Ou a Espera da Vingança, A história do homemque enganou o diabo e ficou sendo rezador, Os mamadores danegra dum peito só, Debate de Lampião com São Pedro, A chegada

Page 10: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

34 .

de Lampião no Inferno, A moça que passou o carnaval noinferno, O Encontro dum Feiticeiro com a Negra Dum Peito Só,História da mulher xingadeira e o menino que nasceucom dois chifres, A Negra de um peito Só, A História doSatanás Embriagado no Forró, Vizita de Satanás ao bailefunk.

Para promover uma inversão bastante expressiva em relaçãoàs características dominantes no discurso germânico, eu escolhi,não sem uma certa dúvida e alguma angústia, ultrapassar aencruzilhada em que me coloquei aqui perante vocês, lendoo folheto de J. Borges A Mulher que Botou o Diabo naGarrafa:

Havia lá no Sertãouma mulher bem casadacom um homem ciumentodesse que não vale nadadesses machão que nuncadeixa a mulher sossegadaA mulher era fielmas ele à tocaiavabrigava sempre com elaela chorando juravamas de toda forma elena mulher não confiavaAté que chegou um pontodele espancar ela um diaela apanhando e dizendoque aquilo não mereciae era de chegar a horaque ela se vingariaE ele bruto como eranão confiava em ninguém

Page 11: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 35

todo dia era uma brigae naquele vai e vemo diabo apareceupara faturar tambémO homem foi trabalharencontrou um molequinhopinotando em sua frenteque ele achou engraçadinhoele pulava e sumiabem no meio do caminhoO homem disse ao moleque:

Você é inteligenteO menino disse:Eu sei

tudo quanto você senteme pague que eu lhe sirvoem tudo daqui pra frenteEu sei que és ciumentoe na mulher não confiase me deres tua almaeu tocaio todo diapra onde ela for eu voute juro com garantiaMas para isso é precisoeu ir contigo morareu estando em tua casavocê pode viajare garanto que não deixosua mulher namorar

Ele levou o negrinhochegou lá disse a mulher

está vendo este negrinho

Page 12: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

36 .

ele é cheio de misterele vai seguir seus passosaté quando ele quizer

A mulher disse ao maridoVocê não tem jeito não

És ciumento demaisSem alma e sem coraçãoE este moleque é tão feioparece filho do cão

O homem lhe respondeuele é quem vai te seguir

amanhã vou viajarporque eu preciso ir

e disse para o molequeprocure bem me servirO moleque respondeu-lhepode seguir sossegado

deixe sua mulher em casaque eu não saio do ladomesmo que ela não mereçamas por você fui contratado

Na saída da viagemela lhe fez um carinhoe lamentou porque eleia viajar sozinhoe depois ela começouconversar com o negrinhoO negrinho disse a ela

não vou sair do seu ladoe por esse meu trabalhovou ser bem recompensadoseu marido me entregouvocê pra eu ter cuidado

Page 13: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 37

A mulher sorriu e disse:muito bem meu camarada

vou lhe propor uma apostapra ver se você se agrada

O moleque disse:digae deu uma gargalhada

A mulher disse ao molequeeu tomei uma atitude

te convido para um banhono meio daquele açudeque o banho é necessáriopra se ter melhor saúde

O moleque disseeu topo

se a senhora for peladae quero saber da senhoraa aposta solicitadae vamos cair na águanessa noite enluarada

A mulher disse:a aposta

é para nós mergulhare se eu sair primeirovocê vai me tocaiarpra o resto da minha vidasem eu lhe atrapalhar

O moleque disse:aceito

e se eu sair primeiroela disse:eu lhe boto

numa garrafa ligeiro

Page 14: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

38 .

bato a cortiça; e do mundovocê não sente nem cheiro

O diabo disse:tá certo

vamos logo ao açudeque estou um pouco sujoe quero lavar meu grudee ver também o seu corpoque a qualquer homem ilude

E assim foram ao banhoe a mulher tirou a roupao diabo disse:

é muito boaigualmente pão com sôpavocê é dessas mulheresque faz defunto dá pôpa

O diabo caiu na águamergulhou foi para o fundoa mulher vestiu a roupalargou a perna no mundofoi procurar cabarée ambiente vagabundoPassou a noite na zonafez sexo de todo jeitonamorou 110 homenslevando tudo de eitoe dizendo

aquele maridoé assim que eu lhe ajeito

Procurou se divertirnaquela vida sacanatomando conhaque e vinholicor cerveja e cana

Page 15: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 39

sem se lembrar do molequepassou mais de uma semanaE depois ela tranzoupor cabarés e motelsaiu dizendo:

eu agoragozei a lua de melvou voltar ao açudee ao marido ser fiel

E chegando no açudetirou a roupa e entroue mergulhou dentro d’águao diabo se levantouolhava para todo cantoe com a mulher se espantouDisse ele:

essa mulheré das que o diabo gosta

naquilo a mulher saiuo diabo estava de costadisse a mulher:

saiu primeiroe eu quem ganhei a aposta

Pegou o pobre molequee na garrafa botoubateu bem a cortiçadentro da água jogoue saiu se rebolandopra sua casa voltouQuando o marido chegouela lhe abraçou chorandodisse

Eu choro é de saudade

Page 16: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

40 .

e foi logo lhe beijandoe ele pelo molequefoi logo lhe perguntandoA mulher lhe respondeutoda cheia de alegriae disse-lhe

o molequinhome fez boa companhiae ele desapareceudaqui já faz mais um dia

O homem abraçou elae entrou em seu aposentoa cabeça cheia de galhatinha até chifre cinzentomas é isso que mereceo homem que é ciumentoFoi essa mulher que botouo diabo na garrafanos cabelos do maridonão entra pente nem marrafahoje é corno chaleiraque aguentou chifre e abafa

O que surpreende, de certo modo, nesse folheto, é umaaparente crítica ao machismo, tão recorrente, junto a um caráterconservador e moralista (CAMPOS, 1959; PROENÇA, 1977),politicamente incorreto e geralmente racista (MOURA, 1976; LESSA,1982, SANTOS, 1989), da maioria dos poetas de cordel. Mas, naverdade, a mulher é apresentada como um ser mais “diabólico”que o próprio diabo, que engana, não somente a este, mas tambéma seu marido ciumento.

De todo modo, nem alquimista nem ferreiro, a protagonistadesse folheto é uma mulher simples e comum, de quem o marido

Page 17: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 41

“ciúma”. Possivelmente se trata de personagem mais vitoriosa emsua lide – lida – com o diabo do que, por exemplo, Lampião ou oferreiro dos folhetos populares do Nordeste brasileiro. Pois essessão, de certa forma, condenados à maldição de vagar pelasencruzilhadas, como os próprios diabos nordestinos, condenadosa vagar, sumir e reaparecer. Assim, aí, nessa encruzilhada,demônios e humanos são todos farinha do mesmo saco.

Para concluir, de verdade, e deixar a última palavra com opoeta, eu gostaria de retornar a um folheto, considerado um clássicopor FERREIRA (1995, p. 27 e seguintes) e também por outrospesquisadores, que trataram do tecido fáustico e do ciclo faustiano,nas diabruras dos discursos brasileiros. Trata-se de Jesus, SãoPedro e o Ferreiro da Maldição, de Francisco Sales Arêda, cujaprimeira edição “teria saído por volta de 1950” (p. 28), o ano emque nasci. Nele, o pobre ferreiro acolhe Jesus e São Pedro paradescansarem em sua casa e ferra, muito gentilmente e a pedido, oburrinho que os servia. Jesus, como não tinha dinheiro, lhe ofereceatender a três pedidos. São Pedro insiste para que o ferreiro peçao reino do céu. Mas o ferreiro pede:

que quem sente em um seu banco só levante quando elequiser;

que quem suba num seu pé de figueira fique lá até quandoele queira;

que quem entre num seu saco, fique dentro até morrer.

Jesus concede os três pedidos, conforme combinado.Sozinho, o ferreiro se arrepende por não ter pedido riqueza e invocao diabo para resolver seu problema. O satanaz (sic) lhe atende,mediante contrato de 10 anos, em troca de sua alma. Ao cabodesse prazo, ao vir cobrar a alma do ferreiro, o satanaz é logradocom o banco que prendia gente. Novo contrato é feito e novologro, com a figueira. O terceiro contrato, logrado com o saco,gera proposta do satanaz de jamais lhe perseguir, se fosse solto do

Page 18: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

42 .

saco, o que gerou mais um contrato. Enfim, o ferreiro morre ebusca abrigo no céu, mas São Pedro lhe nega entrada. No inferno,o satanaz também não quer conversa. Acontece então com oferreiro o mesmo que ocorrera com Lampião, no trecho do textodo espetáculo que aqui já li anteriormente. Ele fica vagando parasempre pelo sertão do Nordeste.

Enfim, conclui o poeta:Assim ficou o ferreirosem achar colocaçãonem no céu nem no infernonão encontrou proteçãoficou vagando se chamaFerreiro da Maldição.

Armindo Bião

UFBA

Notas1 Assim reza a música de Nizan Guanaes “We Are The World OfCarnaval”, gravada originalmente por Ricardo Chaves, em 1991, e, cominusitado sucesso em nível nacional, pelo cantor Netin ho, em seu CDAo Vivo, em 1996, considerada o “grande hino do axé e Carnaval deSalvador”, tendo sido gravada por muitos outros artistas baianos (ErickMelo, Carnasite – aqui tem AXÉ, 29.01.2007).2 Numa caderneta (em bom estado de conservação), de capa de couro(onde estão impressos o ícone da águia nazista, as palavras Olympiadee Berlin e o ano 1936), anotou impressões da viagem, preços de hotel,charutos brasileiros e cinemas; e, num álbum de fotografias (com maisde 50 fotos e em mau estado de conservação), fez muitas anotações,identificando e comentando locais e pessoas.3 Em 1945, publicou uma meia dúzia de sonetos, além de mais outrospoemas, nos jornais Folha do Norte, de Feira de Santana e Irará Jornal.4 Armindo Martins deixou álbuns de fotografias com fotos dos Cines

Page 19: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 43

Teatros Ilhéos e Itabuna e dos cinemas Victoria Palace, Cine Perye Elite Cinema. Rita Virgínia Argollo o cita como um dos proprietáriosdo Cine Teatro Ilhéus, em seu trabalho A Cultura dos Coronéis: Ocinema como o “discreto charme da burguesia cacaueira”(2005).5 Praticamente nesse momento, e a propósito da leitura pública defolhetos de cordel, a professora doutora Maria Monteiro, que meacompanhava à mesa durante a apresentação dessa comunicação,recordou-me de um evento datado de 1970. Durante a Semana Santadesse ano, buscando divulgar a apresentação de uma encenação da qualambos participávamos como atores (a direção era de Haroldo Cardoso),no Teatro Vila Velha, de Salvador, cujo texto (“Joana D’Arc entre aschamas”, de Paul Claudel) havia então sido proibido pela censura,saímos (umas oito pessoas) do teatro, a pé, vestidos de roxo e carregandoflores coloridas de papel crepom, para as entregarmos à Mulher deRoxo, personagem popular de rua de Salvador, na Rua Chile. Passandopela Praça Castro Alves, nos encontramos com Floripes, outra famosapersonagem de rua da cidade, que transgredia as fronteiras doscomportamentos sociais masculinos e femininos e nos reunimos paraque eu lesse, em voz alta, como um ambulante de feira, um folheto decordel então recém-lançado, “Matou a família e foi ao cinema”, cujoautor não me recordo, que tratava de uma tragédia local, sobre um jovemde família abastada e muito conhecida na cidade, que havia matadovários de seus parentes de uma só vez, em sua própria casa. Juntoumuita gente. Fomos todos presos e viramos notícia nos jornais dacidade.6 Yeda Pessoa de Castro (2001, p. 317) registra que a palavra possuiorigem lingüística banto, para “Exu-fêmea”, “variante de Bambojira”,após lhe ter classificado como “entidade congo-angolana, também“Bombojira” e “Maria Padilha” (p. 167) e, finalmente, concluindo:“exerce influência sobre os namoros [...] representada na figura deuma mulher sedutora, branca [...] protetora das prostitutas” (p. 317).Nei Lopes (2003, p. 177) informa: “Do quimbundo pambuanjila(MATTA, 1983), pambu a njîla (RIBAS, 1979), encruzilhada”.7 Carlos Caroso e Núbia Rodrigues registram, entre muitas variantes deexus, as femininas “Maria Padilha”, citada no início da lista, e a “Negade Um Peito Só”, a última dentre as listadas.

Page 20: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

44 .

8 Sobre essa temática, apresentei a comunicação “Mulher é o diabo!”,cujo título original foi “Feitiço feminino na literatura de cordel”, noEncontro Nacional de Pesquisadores de Literatura de Cordel, realizadopela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, nos dias 9 e 10de agosto de 2007, na Mesa Redonda “O feminino e o masculino naótica do cordel”.9 Como, por exemplo, em sua trilogia Les Chemins de la liberté (Oscaminhos da Liberdade), composta pelos romances L’âge de Raison(A idade da razão) (1945), Le Sursis (Sursis) (1947) e La Mort dansl’Âme (Com a morte na alma) (1949).10 A propósito, como considerar a enorme criatividade brasileira nacriação e registro de prenomes inusitados, tanto no Nordeste comoalhures, tanto nas classe menos favorecidas quanto nas outras, senãocomo afirmação libertária, o desejo divino de nomear as pessoas – e ascoisas - realizado?11 O filme O Homem que Desafiou o Diabo, que estreou em 28.09.2007,narra as aventuras, pelo Nordeste brasileiro, de um caixeiro viajante,“espécie de malandro charmoso e de bom coração”, que muda deidentidade, invertendo seu sobrenome, de Araújo para Ojuara, eencontrando tanto criaturas míticas, quanto seu grande amor, até cruzarcom o diabo, a quem engana, tornando-se seu desafeto. O roteiro,co-escrito pelo diretor Moacir Góes e por Bráulio Tavares, é baseadono romance As Pelejas de Ojuara, de Nei Leandro de Castro. Aprodução é de Luís e Luci Carlos Barreto , Warner Brothers e GloboFilmes.12 Conforme consta da segunda orelha da edição brasileira de Mefisto,

de 2000.

Referências Bibliográficas

ARGOLLO, Rita Virgínia A. S.. A Cultura dos Coronéis: O Cinema Como“O Discreto Charme da Burguesia Cacaueira”. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 28., 2005. Rio deJaneiro. Anais... São Paulo: Intercom, 2005. CD-ROM [Arquivo R0563-2.pdf; Tamanho 45kb; Formato Adobe PDF]

Page 21: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 45

AUGRAS, Monique. Maria Padilla, reina de la magia. In: RevistaEspañola de Antropología Americana, n. 31. Madrid: [s. n.], p. 293-319, 2001.BIÃO, Armindo. Um trajeto, muitos projetos. In: Artes do corpo e doespetáculo: questões de etnocenologia. Salvador: P & A, 2007, p. 21-42.

______. Teatro de cordel na Bahia e em Lisboa. Salvador: SCT, 2005.______. Un carrefour nommé Bahia: enjeux, problématiques ainsi quecertaines pratiques concernant le patrimoine culturel immatériel á Bahia(Brésil). In: Internationale de l’imaginaire nouvelle série n. 17. Paris:Babel/ MSH, 2004, p. 175–187 (em português, In: Revista da Bahia v.32, n. 38. Salvador: FUNCEB, 2004, p. 16-23).______. Aspectos epistemológiocos e metodológicos da etnocenologia.In: Memória ABRACE I: Anais do I Congresso Brasileiro de Pesquisa ePós-Graduação. Salvador: ABRACE, 2000, p. 364-367.

______. et al (Org.). Temas em Contemporaneidade, Imaginário eTeatralidade. São Paulo: Annablume, 2000.

______. Christine GREINER (Org.). Etnocenologia: textos selecionados.São Paulo, Annablume, 1999.BIÃO, Armindo. Questions posées à la théorie: une approche bahianaisede l’ethnoscénologie. In: Internationale de l’imaginaire: questionsd’ethnoscénologie, nouvelle série n. 5. Paris: Babel; MSH, 1996, p.145-152.CAMPOS, Renato Carneiro. Ideologia dos Poetas populares do Nordeste.Recife: MEC/ INEP/ CRPER, 1959.CAROSO, Caros; RODRIGUES, Núbia. Exus no Candomblé de Caboclo. In:PRANDI, Reginaldo (Org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres,caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2004, p. 331-362.CASTRO, Yeda Pesoa de. Falares africanos na Bahia: um vocabulárioafro-brasileiro. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001.FARELLI, Maria Helena. Conjuros de María Padilha: A verdadeirahistória da Rainha Padilha, de seus trabalhos de magia e de suas rezasinfalíveis. [S. l.]: Pallas, 2002.FERREIRA, Jerusa Pires. Fausto no horizonte: razões míticas, texto oral,edições populares. São Paulo: EDUC; HUCITEC, 1995.

Page 22: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

46 .

GÓES, Moacir. Homem que Desafiou o Diabo. Rio de Janeiro: Luís eLuci Carlos Barreto ; Warner Brothers; Globo Filmes, 2007, colorido,106 minutos.GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de AgostinhoD’ORNELLAS. São Paulo: Martin Claret, 2006.GUINSBURG, Jacó; FARIA, João Roberto; LIMA, Mariângela Alves de.Dicionário de Teatro Brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo:Perspectiva, 2006.LESSA, Orígenes. Inácio da Catingueira e Luís Gama: dois poetas negroscontra o racismo dos mestiços. Rio de Janeiro: FCRB, 1982.LOPES, Nei. Novo dicionário banto do Brasil: contendo mais de 250propostas etimológicas acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio DeJaneiro: Pallas, 2003.OLIVEIRA, Alysson. ‘1O Homem que Desafiou o Diabo’ remete ao cordel.In: O Estado de São Paulo, 27 de setembro de 2007.MAIOR, Mário Souto. Território da danação: o diabo na cultura populardo Nordeste. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1975.MANN, Klaus. Mefisto: romance de uma carreira. Tradução de ErlonJOSÉ PASCOAL. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.MARTINS, Leda. A cena em sobras. São Paulo: Perspectiva, 1995.MÉRIMÉE, Prosper. Carmen et treize autres nouvelles. Paris: Gallimard,1965.MEYER, Marlyse. Maria Padilha e toda sua quadrilha: de amante umrei de Castela a Pomba-Gira de Umbanda. São Paulo: Duas Cidades,1993.MOTTA, Roberto. O Sexo e o Candomblé: Repressão e Simbolização.In: PITTA, Danielle Perin Rocha; MELLO, Rita MariaCosta (Org.). Vertentes do Imaginário. Recife: EDUFPE, 107-114,1995.MOTTA, Roberto. Transe du corps et transe de la parole dans les religionssyncrétiques du Nordest du Brésil. In: Cahiers de l’Imaginaire n. 5; n.6. Paris: L’Harmattan, p. 47-62, 1990.MOTTA, Roberto. Transe, Possessão e Êxtase nos Cultos Afro-brasileirosdo Recife. In: CONSORTE, Josildeth Gomes; COSTA, Márcia Reginada (Org.). Religião, política, identidade. São Paulo: EDUC, p. 109-120, 1988.

Page 23: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

. 47

MOURA, Clóvis. O Preconceito de Cor na Literatura de Cordel:tentativa de análise sociológica. São Paulo: Ed. Resenha Universitária,1976.MOYA, Gonzalo. Don Pedro el cruel: biologia, política y tradiciónliterária en la figura de Pedro I de Castilla. Madrid: Jucar, 1974.NASCIMENTO, Bráulio do. Catálogo do conto popular brasileiro. Rio deJaneiro: IBECC; Tempo Brasileiro; UNESCO, 2005.PROENÇA, Ivan Cavalcanti. A ideologia do cordel. 2. ed. Rio de Janeiro:Ed. Brasília/ Rio, 1977.RIBEIRO, José. Eu, Maria Padilha. 4. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.RIEFENSTAHL, Leni. Olympia: Fest der Völker, Teil 1; Fest der Schönheit,teil 2. Berlin: Olympia-Film Gmbh, 1938, preto e branco, 115 minutos;89 minutos.ROS, Carlos. Doña María de Padilla: el ángel bueno de Pedro el Cruel.Sevilla: Castillejo, 2003.SANTOS, Olga de Jesus; VIANNA, Marilena. O negro na literatura decordel. Rio de Janeiro: FCRB, 1989.ZWEIG, Stefan. Brasil: um país do futuro. Tradução de KristinaMichahelles. Porto Alegre, RS: L&PM, 2006.

Folhetos citados:

José Francisco BORGES. A mulher que botou o diabo na garrafa.Bezerros: J. Borges, [S. d.], 8 p.José Costa LEITE. O encontro de Lampião com a Negra Dum Peito Só.Condado, PE: [S. N], [S. D.], 9 p.______. A briga da mãe do cão com Lampião no inferno. Recife: [S. d.], 8 p.Zé da MADALENA. Carta de Satanás ao amigo George Bush. Brasília:Jeová Franklin Queiroz, 2002, 10 p.Severino Gonçalves de OLIVEIRA. Discussão de Severino Gonçalves coma negra de um Peito Só. [S. L.], [S. N], [S. D.], 8 p.Hermes Gomes de OLIVEIRA. A mulher que o diabo surrou Ou a Esperada Vingança. 6ª. ed. Ilhéus: Hermes Gomes de Oliveira, [S. d.], 20 p.José Edessom de OLIVEIRA. A história do homem que enganou o diaboe ficou sendo rezador; acompanha A moça brasileira que engravidoude um jegue na Inglaterra. Salbador: FUNCEB, 2005, 24 p.

Page 24: Faustos e diabos na encruzilhada dos discursos germânicos e ...

48 .

José PACHECO. Os mamadores da negra dum peito só. [S. L.], [S. N], [S.D.], 4 p.Debate de Lampião com São Pedro; acompanha ABC do Amor. Juazeirodo Norte: José Bernardo da Silva Ltda. 1976, 16 p.A chegada de Lampião no Inferno. Juazeiro do Norte: José Bernardoda Silva Ltda. 1975, 16 p.Enéias Tavares SANTOS. A moça que passou o carnaval no inferno.Feira de Santana: Erotildes Miranda dos Santos, [S. D.], 8 p.O Encontro dum Feiticeiro com a Negra Dum Peito Só. In: SANTOS,Enéias Tavares dos. O amor de Maristela e a luta de um boiadeiro; Ohomem que morreu duas vezes; O Encontro dum Feiticeiro com a NegraDum Peito Só. São Paulo: Luzeiro, 1973, p. 23-30.Minelvino Francisco SILVA. História da mulher xingadeira e o meninoque nasceu com dois chifres. Itabuna: Minelvino Francisco Silva, 1994,8 p.JOSÉ SOARES. A Negra de um peito Só. [S. L.], [S. N], [S. D.], 8 p.Jussandir RAIMUNDO DE SOUZA. A História do Satanás Embriagado noForró. In: Antologia baiana de literatura de cordel. Salvador: SCT,1997, p. 62-66.MC Tijubina e Botelho PINTO. Vizita de Satanás ao baile funk. 2ª. Ed.[S. L].: Gráfica e Editora Dominada Ltda., [S. D.], 16 p.