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DOCUMENTO SOBRE FAUVISMO

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  • As cores se tornaram cdrgds de dinamite. Elas deueriam explodir em luzes.Tudo poderia ser eleuado acima do real.

    ANDRE DERAIN

    No Sallo de Outono, realizado em rgot em Paris, um gru-po de artistas exp6s obras de tal maneira chocantes

    - cores

    fortes e ousadas, aplicadas com espontaneidade e aspereza -

    que foram imediatamente batizados como les fauurs ("as fe-ras") pelo critico Louis Vauxcelles. Com a intenglo de serum desmerecimento, a designaglo foi acolhida como umadescriglo apropriada a seus mdtodos e objetivos, e o fauvis-mo tornou-se um r6tulo estilistico para a obra inovadora da-quele grupo um tanto disperso de artistas franceses, que atua-ram por volta de r9o4-8. Entre eles, os mais destacados foramHenri Matisse ft869-r954), Andrd Derain (188o-r954) e Mau-rice de Vlaminck (t876-l'958), embora sela costume incluiroutros (Vauxcelles os chamava de "fauuettes"): Albert Mar-quet (r875-r9+7), Charles Camoin (r8Z g-tg 6), Henri-Char-les Manguin (fi74-t94), Othon Friesz (1879-1949),JeanPuy G876-r96r), Louis Valtat (1869-1952), Gborges Rouault(r8 7r-r9 5 8, ver *Expressionismo), Raoul Dufy (r87 7 -r9 g),Georges Braque $882-r9@,ver *Cubismo) e o holandds Keesvan Dongen (t877 -1968).

    O fauvismo foi a primeira das manifestag6es de vanguar-da do sdculo xx a agitar o mundo da arte, mas os fauves ja-mais foram um movimento organizado conscientemente,com um programa consensual. Caracterizou-se antes comouma afiliagio um tanto solta de artistas, amigos e estudio-sos, que compardlhavam suas iddias sobre a arte. Matisse, omais velho e o mais bem-sucedido, em breve tornou-se co-nhecido como "o rei das feras". E em seu quadro Luxo, cal-

    ma e uoh)pia, de r9o4, que muitas caracteristicas dos fauvesse tornam aparentes pela primeira vez.

    A cena, ) qual Matisse muitas vezes retornaria durantesua longa carreira, como o fariam outros fauves, teria sidofacilmente reconhecivel pelos *impressionistas

    -

    mas o mo-

    do corrio Matisse a aborda d muito diferente. Com sua pa-leta vibrante e o emprego emancipado e subjetivo da cor,criam-se uma atmosfera e uma superficie decorativa, maisdo que uma cena descritiva e, em termos estilisticos, ela es-td mais pr6xima dos *p6s-impressionistas e dos *neo-im-pressionistas. O quadro foi pintado durante o ver6o de ryo4,quando Matisse estava no sul da Franga com os neo-impres-sionistas Paul Signac e Henri-Edmond Cross. A semelhangade Matisse, muitos fauves passariam por uma fase neo-im-pressionista. O titulo do quadro de Matisse se refere a umaestrofe de "Uma viagem a Citera", poema de Charles Bau-delaire QSzr-6), o influente escritor e critico que inspirouos *simbolistas. Os fauves compartilhavam a atitude simbo-lista, no sentido de que a arte deveria evocar sensag6es emo-cionais por meio da forma e da cor, mas a melancolia e amoralizaElo de boa parte da obra simbolista foram omitidasem favor de uma abordagem mais positiva da vida. Em "No-tas de um pintor", publicadas em La Grande Reuue, em r9o8-Matisse esclareceu seu conceito relativo ao papel da arte:

    O que busco, acima de tudo, d a expressio [. ..]. Sou incapaz de disdr-guir entre o sentimento que tenho pela vida e meu modo de expres=-lo [...]. O principal objetivo da cor deveria ser o de servir a expres!::tlo bem quanto possivel [. ..]. Sonho com uma arte de equilibrio. l:pureza e serenidade, despo.jada de temas perturbadores ou depressi-.,s.uma arte que possa ser fruida por todo trabalhador mental, seja ele -,-

    homem de neg6cios ou um escritor, e semelhante a uma influ6ncia aprziguadora, um calmante mental, algo como uma poltrona conforta-,:na qual uma pessoa possa descansar da ladiga fisica.

    Luxo, calma e uolilpia foi exposto na primavera de r9o."no Saho dos Independentes, e Signac adquiriu o quadr,:imediatamente. Ap6s vJo, Raoul Dufy registrou sua reaSce converslo ao fauvismo: "Diante desse quadro, compreen-di todos os novos principios. O impressionismo perdeu pa-ra mim todo seu encanto, quando contemplei aquele mila-gre da imaginaglo produzido pelo desenho e pela cor".

    Muitos dos futuros fauves -

    Matisse, Rouault, Camoir"Marquet e Manguin

    - estudaram com Gustave Moreau (r-e:

  • Fauvismo

    Simbolismo), cujas atitudes abertas, originalidade e crengano poder expressivo da cor pura seriam fonte de inspiragd.opara vdrios artistas. Matisse declarou: "Ele nlo nos p6s nocaminho certo, mas nos desencaminhou. Ele perturbou nos-sa complacencia'. Sua morte, ocorrida em 1898, privou osfauves de encorajamento e solidariedade. No entanto, ou-tros pintores ainda desconhecidos do grande priblico in-fluenciariam a obra dos fauves. Paul Gauguin (ver *Sintetis-mo) foi particularmente importante para Matisse. No ver6ode ryo6, Matisse e Derain viram muitas telas desconhecidasde Gauguin guardadas na casa de Daniel de Monfried, ami-go desse pintoq e tiveram a oportunidade de estudar seu em-prego imaginativo da cor e seus esquemas decorativos.

    Vincent van Gogh (ver P6s-impressionismo) iria exerceruma infludncia poderosa sobre Vlaminck, segundo seu pr6-prio relato. Ele viu pela primeira-vez a obra de Van Gogh

    Acima: Andr6 Derain, Ir6s figuras sentadas na relva,1906A afte africana primitiva interessou Matisse, Vlaminck e Derain. Oemprego de manchas de cor, bastante realqadas, por parte de Derain.evoca C6zanne e Gauguin.

    Ao lado: Henri Matisse, A legria de viver,19O5-6Os ousados contornos em arabesco de Matisse evocam Ingres, e o modocomo ele desenha a figura e usa a cor 6 claramente inovador e moderno.

    numa exposiglo em rgor e declarou pouco mais tarde que oamou mais do que a seu prdprio pai. Adquiriu o hdbito deespremer a tinta diretamente do tubo sobre a tela, chaman-do a atenglo para a fisicalidade do material, a exemplo doque se verifica em Piquenique no campo (rSol). Vlaminckdeclarou: "Eu era um selvagem de bom corag6o, repleto deviolncia'. Paul Cdzanne (ver P6s-impressionismo) tambdmfoi importante para os fauves e sua pintura tornou-se maisamplamente conhecida ap6s sua grande retrospectiva, reali-zadaem r9o7. Seus Banhistas e suas naturezas-mortas exer-ceram um impacto duradouro sobre Matisse. Ao mesmotempo em que descobriam a mais recente geraglao da van-guarda, os fauves se voltavam paraaarte francesa prd-renas-centista, a qual foi objeto de um novo reconhecimento, coma exposiglo intitulada Primitivos Franceses, em r9o4. De-rain, Vlaminck e Matisse tamb6m se incluiram entre os pri-meiros artistas a colecionar a escultura africana.

    Uma das principais telas expostas no Saho de Outonode r9o5 foi Mulher com chapy'u, de Matisse (t9oi), um retra-to de sua esposa. Com suas cores vibrantes e pouco naturaise pinceladas aparentemente frendticas, provocou escAndalo.Boa parte do choque advinha do fato de se tratar de um re-trato, de um personagem reconhecivel, o que chamou a aten-

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  • Fauvismo

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  • g5.o para a distorglo ) qual ela foi submetida. Enquanto opriblico e os criticos encararam o quadro com incompreen-slo, os marchands e colecionadores reagiram com presteza eentusiasmo. A obra dos fauves tornou-se subitamente o quehavia de mais desejdvel no mercado de arte. O critico ame-ricano Leo Stein comegou a colecionar os quadros de Ma-tisse (incluin do Mulher com cltapy'u, que ele descreveu pos-teriormente como "a pintura mais lambuzada que vi at6hoje"), seguido por sua irmd, a escritora Gertrude Stein, epor seu irmlo Michael e a mulher dele. O comerciante dearte Ambroise Vollard adquiriu toda a produglo do atelide Derain, em r9ot, e do atelid de Vlaminck, em 19o6. Embreve a febre de aquisigdo da obra dos fauves se espalhou pa-ra fora da Franga. Os colecionadores russos Serguei Sch(r-kin

    - que adquiriu 77 obras, inclusive as decorag6es murais

    Danqa e Milsica, de Matisse, realizadas em rglo -

    e Ivan A.Mor6zov rapidamente iniciaram suas coleg6es.

    Por volta de ryo6 os fauves passaram a ser vistos como ospintores mais avangados de Paris. Ahgria de uiuer $9o5-6),tela de Matisse, dominou o Saho dos Independentes, e oSalao de Outono incluiu obras de todos os participantes dogrupo. Era um conjunto ousado de paisagens de um colori-do brilhante, de retratos e cenas figurativas, temas tradicio-nais interpretados sob um novo olhar. Derain pintou umasdrie de cenas do rio Ti.misa em resposta is cenas de Lon-dres pintadas por Claude Monet (ver Impressionismo), quehaviam sido acolhidas com entusiasmo ao serem expostasem Paris em r9o4. Enquanto as telas de Monet slo observa-g6es sobre aluz e a atmosfera, o tema preponderante, naobra de Derain, 4. a alegria da cor. Thl como na obra de Mo-net, a atmosfera de Londres d evocada com vivacidade, massua apresentagSo totalmente diferente. Derain combinavaaspectos da tdcnica divisionista usada pelos neo-impressio-nistas com as d.reas uniformes de cor de Gauguin e a pers-pectiva inclinada de Cdzanne, a fim de criar uma nova vi-slo, baseada na expressividade da cor.

    A riltima obra fauvista de Matisse, O luxo tt ft9o7-8),mostra o extremo a que ele havia chegado e oferece sinais denovas direg6es. Como Luxo, calma e uoltipia, a nova obraapresenta uma cena arcidica de nus em uma paisagem, comfiguras modeladas pela cor e pela linha. O neo-impressio-nismo de sua obra anterior foi substituido por um estilo maisdespojado, baseado em cores e linhas simplificadas, que ope-Aci ma : Maurice de Vlaminck, A casa bra nca, 19O5-GO uso expressivo da cor por parte deVlaminck e suas pinceladasabertas mostram a influ6ncia deVan Gogh e dos p6s-impressionistas,mas tamb6m indicam a intensidade din6mica dos fauves.

    Ao lado: Raoul Dufy, Bua enfeitada com bandeiras(o 14 de Julho no Havre),1906 Dufy nasceu no Havre, ondeconheceu Friesz e Braque. lnfluenciado por Matisse. ele, no inicio,usava cores vibrantes e mais tarde transportou essa pr6tica paraobras decorativas e designs t6xteis.

    Fauvismo

    ram em conjunto paracriar luz, espago, profundidade e mo-vimento, olhando em diregSo ao tipo de espago pict6ricoque os *cubistas desenvolveriam'. Foi uma pintura como es-sa que levou o poeta Apollinaire a observar mais tarde queo fauvismo era "uma espdcie de introduglo ao cubismo".

    A preeminncia dos fauves em Paris foi monumental, po-rdm breve. Cada artista seguiu seu pr6prio caminho e a aten-Elo do mundo da arte acabou se voltando para os cubistas.Derain, por exemplo, aproximou-se de Pablo Picasso (ver Cu-bismo) e, mais tarde, se entregou a uma abordagem mais clds-sica. Vlaminck abandonou as cores fauves para concentrar-seem paisagens, numa espdcie de realismo expressivo, que apro-ximou sua obra dos expressionistas alemles. Outros fauves,tais como Van Dongen, eue se tornou membro do grupo *APonte, na Alemanha, deram nfase )s afinidades entre os doismovimentos que revolucionaram as prdticas artisticas do sd-culo xx. Matisse, "o rei dos fauves", permaneceu um fauveem certo sentido e tornou-se um dos artistas mais adorados einfluentes do sdculo xx.

    Principais coleg6esCentre Georges Pompidou, ParisM'nno-ano-|iq,llsliltttleblAtt,gi,Minngapoli-.t,,,lVlin!,qs.q!i:'::,.:.rr r. r:",Museu.n ol Modern Art, NovaYorkMuseu Estatal do Hermitago, Sao Pote.sburgoTate Gallery, Lo-dres

    Principais livross. Wr'1*i"io.'iai;rsa1 t1 ggei;

    ,l: fieqlniq1; co.. q:qiColeborqgg-o de R Benjamin et al. The Fauv.ALandscape \1990)

    R.T Clement. Les Fauves {Westport, c , '1994)J.'Fiedmah,' 7he &si.es,1i 996,,

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