Fenomenologia e Psicopatologia

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    1. Descrever e explicar modelos de compreenso das alteraespsicopatolgicas numa perspetiva integrativa e multidimensional;

    (2) Conhecer e descrever os principais sistemas de classicaodiagnostica e re!etir criticamente so"re os mesmos

    1. Denio e #m"ito de estudo da $sicopatologia

    2. %arl &aspers e a a"ordagem 'enomenolgica

    . odelos *ericos em $sicopatologia

    . +s principais sistemas de classicao diagnosticamente so"re osmesmos;

    Psicopatologia pode ser denida como estudo descritivo dos

    'en,menos ps-uicos de cunho anormal/ exatamente como se

    apresentam 0 experincia imediata/ de 'orma independente dos

    pro"lemas cl-nicos. studando os gestos/ o comportamento e asexpresses dos en'ermos al3m de relatos e autodescries 'eitas

    pelos mesmos.

    De acordo com $45 (1662)/ o estudo desses elementos contri"ui

    para o conhecimento de 'en,menos ue conhecemos por nossa

    prpria experincia/ 'en,menos os uais temos apenas noes e

    'en,menos ue se caracteri7am por no impossi"ilidade de descrio

    podendo ser alcanados apenas por analogias.

    Di'erencia8se da Psiquiatriapor ser uma cincia normativa ueestuda e classica 'en,menos e no como um ramo da cl-nica m3dica

    aplicada sem o"9etivar necessariamente tratamento e assistncia aos

    doentes mentais.

    :egundo 4* (2??@)/ + termo 'oi empregado

    primeiramente por rmming Aaus/ predecessor de Kraeplin/ desde

    1BB como sin,nimo de psiquiatria clnicaE. 4duire seu atual

    signicado pela o"ra de %arl &aspers pu"licada em 161/

    $sicopatologia =eral (4llgemeine $sFchopatologie).

    4 partir desse livro &4:$>: (161)/ tenta construir uma teoria

    geral das uestes relativas a en'ermidade ps-uica. 5d3ia ue pode

    ser constatada 9G no pre'Gcio 0 primeira edio na ual arma ueH

    O presente livro pretende dar uma viso panormica de todo mbito daPsicopatologia Geral, de seus fatos e de suas perspectivas (...) meus esforosvisam distino, separar nitidamente os caminhos bem como a epor apluridimensionalidade da Psicopatologia!

    ntretanto/ segundo 4* (2??@)/ atualmente a

    Psicopatologia tem diculdades de coeso terica devido aos

    muitos discursos ue a"arca. $erce"e8se ue os conhecimentos a ela

    https://psicologado.com/psicopatologia/psiquiatriahttps://psicologado.com/psicopatologia/psiquiatria
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    relativos parecem constituir8se apenas como um aglomerado de

    especialidades

    4 Psicopatologia estG ligada a diversas disciplinasH as

    psicologias/ aspsi"uiatriase o corpo te#rico psicanal$tico. Dentro da

    $sicologia liga8se com $sicologia Cl-nica(dedicada ao diagnstico eestudo da personalidade)/ $sicologia =eral(noes de su"9etividade/

    intencionalidade/ representao/ atos voluntGrios etc)/ e ainda

    $sicologia ligada 0s neurocincias/ tradies hindus e outros.

    $ara &aspers/ a Psicopatologiaseria responsGvel pelo estudo das

    mani'estaes da conscincia se9am essas mani'estaes

    consideradas normais ou anormais.

    IonteH httpsHJJpsicologado.comJpsicopatologiaJpsicopatologia8introducao8e8

    denicaoK $sicologado.com

    Fenomenologia e psicopatologia

    Um dos mtodos mais freqentes de classificao de doena mental pelacategorizao de experincias descritas por pessoas mentalmente doentes e dadefinio dos termos utilizados, tais como "depresso" ou "ansiedade". Para oprogresso no prognstico e no tratamento, tal classificao essencial. o tentar

    entender as experincias su!eti#as de uma pessoa que sofre, o terapeutademonstra um en#ol#imento e o paciente pro#a#elmente ter$ maior confiana notratamento.

    %s sintomas agregam&se em determinados padr'es e podemos, portanto,falar de diferentes doenas mentais ou psiqui$tricas. %s mtodos precisos dediagnstico ou a definio da natureza do pro!lema continuam sendo importantes.Para que a nosologia psiqui$trica possa ser mel(orada, necess$ria umao!ser#ao acurada dos fen)menos com os quais nos confrontamos.

    % que uma pessoa o!#iamente afetada por uma doena mental est$realmente sentindo* +e que forma suas prprias experincias assemel(am&se ou

    diferem da experincia dos outros & tanto daqueles que esto !em quanto dos queesto doentes* importante (a#er um esquema para organizar os fen)menos queocorrem.

    psicopatologia refere&se a toda experincia, cognio e comportamentoanormais. psicopatologia descriti#a e#ita explica'es tericas para e#entospsicolgicos. -la descre#e e categoriza a experincia anormal como relatada pelopaciente e o!ser#ada pelo seu comportamento. -m seu contexto (istrico, errios/01234 a descre#e como um sistema cogniti#o constitu5do por termos, suposi'es eregras para a sua aplicao & "a identificao de classes de atos mentais anormais".6enomenologia o estudo de e#entos , psicolgicos ou f5sicos, sem "enfeit$&los"com explicao de causa ou funo. 7uando usada em psiquiatria, a fenomenologiaen#ol#e a o!ser#ao e categorizao de e#entos ps5quicos anormais, asexperincias internas do paciente e seu comportamento conseqente. % terapeutatenta o!ser#ar e entender o e#ento ou fen)meno ps5quico para que possa sa!er por

    https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinicahttps://psicologado.com/psicologia-geralhttps://psicologado.com/psicopatologia/psicopatologia-introducao-e-definicaohttps://psicologado.com/psicopatologia/psicopatologia-introducao-e-definicaohttps://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinicahttps://psicologado.com/psicologia-geralhttps://psicologado.com/psicopatologia/psicopatologia-introducao-e-definicaohttps://psicologado.com/psicopatologia/psicopatologia-introducao-e-definicao
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    sintomasM /como em psicopatologia fenomenolgica4; este um uso que sedegenerou e, portanto conceitualmente desinteressante. P> refere&se a umsentido pseudotcnico freqentemente utilizado em dicion$rios e que alcana umafalsa unidade de significado ao simplesmente catalogar usos sucessi#os em ordemcronolgica; esta a!ordagem equi#ocada, $ que sugere lin(as e#oluti#as falsas edeixa em a!erto quest'es importantes relacionadas 9 (istria da fenomenologia. PG

    refere&se ao uso idiossincr$sico iniciado por Narl

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    0 & definio da %rganizao Oundial de ?ade afirmaE "?ade um estado decompleto !em&estar f5sico, mental e social e no somente a ausncia de doena ouenfermidade" /013C4. ?e o total !em&estar um requisito, tal#ez praticamentetodos esteamos exclu5dos.

    > & doena pode ser considerada em termos f5sicos, como na afirmao deriesinger /023V4, de que "doenas mentais so doenas do cre!ro". -m!ora estaalegao auste&se aos estados psiqui$tricos org:nicos e possa a!ranger adeficincia de aprendizagem /retardo mental4, no muito simples tentar incluirnesta definio todos os transtornos "neurticos" e os psicticos; por outro lado, deforma alguma os transtornos de personalidade no se encaixam aqui.

    G & +e modo semel(ante, as doenas podem ser descritas como aquelas condi'esque o mdico trata. o definir isto NrWupl TaXlor /012=4 declarouE "Para ser paciente necess$rio e suficiente a experincia #i#ida por uma pessoa ao sentir anecessidade de tratamento, ou, no seu meio, que de#e rece!er tratamento".+oena mental torna&se, ento, um termo para descre#er os sintomas e a condio

    daquelas pessoas que so encamin(adas a um psiquiatra. -sta descriotautolgica de doena tem alguma #antagem pr$tica, $ que no impede queferramentas teraputicas seam utilizadas com relao a um amplo espectro depro!lemas (umanos. -la apresenta, no entanto, a des#antagem de permitir que asociedade escol(a quem ela c(amar$ de "doente mental", e, em um sistema socialtotalit$rio, o estado pode decidir quais indi#5duos com des#ios de#ero serconsiderados doentes /loc( e FeddaSaX,01DD4.

    3 & doena pode ser considerada como uma #ariao estat5stica da norma,trazendo em si mesma des#antagem !iolgica. Jsto foi formulado por ?cadding/01CD4 para a doena f5sica e desen#ol#ido para a doena psiqui$trica por Nendell/01DV4. +es#antagem !iolgica implica fertilidade reduzida eYou #ida mais curta.

    -ste estado de des#antagem torna&se dif5cil de aplicar ao (omem moderno, uma#ez que ele aprendeu a controlar seu am!iente e sua reproduo de tal maneiraque o prprio termo desvantagem biolgicatorna&se question$#el. % que uma#antagem !iolgica para o indi#5duo pode ser uma des#antagem para a espcie, e#iceersa.

    V & doena tem implica'es legais. Por exemplo, as circunst:ncias que resultamem doena podem dar direito 9 compensao legal; se o comportamento resulta dadoena, isto pode reduzir a pena. +a mesma maneira, a doena mental umconceito que pode ustificar deteno compulsria em um (ospital /Rei da ?adeOental, 012G; lugass, 012G4 e criminosos mentalmente enfermos so tratadospela lei de uma maneira diferente de outros criminosos /luglass e oSden, 011=4.

    -sta distino entre normalidade e doena, sade e enfermidade, nada temde tri#ial. "Uma grande parte da tica mdica e muito de toda a !ase da pol5ticamdica atual, pri#ada e p!lica, esto !aseadas precisamente na noo de doenae normalidade. Por si mesmo, o mdico /dando&se conta ou no4 pode fazer seutra!al(o muito !em sem uma definio formal de doena... Jnfelizmente, o mdicono pode tra!al(ar tranqilamente usando seu !om&senso. -le atingido por dois:ngulosE pelos consumidores #orazes e pelos consel(eiros pretensiosos" /Ourp(X,01D14.

    Normalidade/anormalidade

    pala#ra normal usada corretamente no m5nimo em quatro sentidos nal5ngua inglesa /OoS!raX, Fodger e Oellor, 01D14. -stes consistem das normas devalor, estatstica, individual e tipolgica. % termo "normal" passa a ser usado

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    inde#idamente quando su!stitui inustifica#elmente as pala#ras usualouusualmente.

    norma de valortem o ideal como seu conceito de normalidade. ssim, aafirmao " normal ter dentes perfeitos" est$ usando a pala#ra normal em sentidode #alor & na pr$tica, a maioria das pessoas tem, no m5nimo, algum pro!lema com

    seus dentes.

    norma estatstica, naturalmente, o uso preferencial que a pala#ra retmno #oca!ul$rio cient5fico. % anormal considerado aquele que fica fora da faixamdia. ?e um ingls normal mede 0m2=cm, ter 0mC=cm ou 0m1=cm estatisticamente anormal.

    norma individual o n5#el consistente de funcionamento que um indi#5duomantm ao longo do tempo. ps uma leso cere!ral, uma pessoa podeexperimentar um decl5nio na inteligncia, que certamente uma deteriorao deseu n5#el indi#idual pr#io, mas tal diminuio pode no representar qualqueranormalidade estat5stica /p.ex; uma diminuio no 7J de 0>V para 0=V4.

    anormalidadetipolgica um termo necess$rio para descre#er&se asituao em que uma condio considerada como normal em todos os trssignificados anteriormente citados e, contudo representa anormalidade, tal#ezmesmo uma doena. % exemplo dado por OoS!raX e cola!oradores a doenainfecciosapinta. s manc(as cut:neas causadas por esta doena so altamente#alorizadas pelos 5ndios sul&americanos, a tal ponto que os que no tm estadoena so exclu5dos da tri!o. ssim, possuir a doena considerado normal emsentido de #alor, estat5stico em indi#idual, e ainda assim patolgico.

    Amostra psiquitrica! popula"o geral

    Ha discusso de sade e normalidade, importante apontar as generaliza'esperigosas que surgem quando o psiquiatra, normalmente contra sua #ontade, colocado na posio de perito na conduta total da #ida. Ho podemos extrapolar doanormal para o normal; eles tendem a no estar situados em uma lin(a cont5nua,mais em #ez disso, so qualitati#amente diferentes. +e#ido ao con(ecimentodetal(ado dos processos ps5quicos anormais e sintomas e seu maneo, o psiquiatrano necessariamente, tam!m, um perito em educar fil(os ou em dar umareceita para uma mente tranqila.

    amostra de pessoas que #ai a um psiquiatra diferente, em muitosaspectos, daquela que consulta seu mdico de fam5lia com sintomas psicolgicos,sendo que esta populao da cl5nica geral tam!m difere da populao em geral/old!erg e KuxleX,012=4. -m!ora sea muito necess$rio concentrar&se noindi#5duo e em seus sintomas, tam!m til ter em mente as caracter5sticas dorestante da populao da qual ele pro#m. ?eu comportamento e seu entendimentodo mundo tm ra5zes dentro da sua prpria psicopatologia indi#idual, mas tam!mde seu meio social geral.

    Hormalmente, existe um deseo de se raciocinar do particular para o geral.8om !ase em nossa experincia com pacientes esquizofrnicos o#ens em um(ospital&escola, fazemos generaliza'es so!re esquizofrenia. Para sermos capazesde fazer isto de#emos sa!er que os pacientes que estamos atendendo /nossaamostra da populao4 so representati#os da populao&al#o /esquizofrnicos4.?omente poderemos fazer est$ afirmao se nossa amostra foi selecionadaaleatria na populao total dos esquizofrnicos, de modo que todos os

    esquizofrnicos ten(am tido uma pro!a!ilidade con(ecida, igual e maior do quezero de entrar em nossa amostra. Ha pr$tica, certamente, isto nunca pode ser feito

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    desta maneira; assim, de#emos restringir nossa populao&al#o a um grupo maislimitado /uma amostra4. Hossas alega'es so!re o con(ecimento a respeito domesmo tam!m de#em ser limitadas. Zale a pena repetirmos o axiomaE diferentespopula'es tm diferentes caracter5sticas.

    O comum/o esot#rico

    psicopatologia descriti#a 9s #ezes corre o risco de cair no esotrico, com uminteresse excessi#o por s5ndromes raras. fim de ter uso pr$tico, necess$rio quese concentre nas manifesta'es de anormalidade que so comuns a muitospacientesE

    0. o!ser#ao de um fen)meno sem teoria preconce!ida til para a conciliaoentre diferentes escolas de psicopatologia.>. % requisito de uma definio precisa formar uma !ase para uma pesquisa slida.?5ndromes raras tm seu #alor para o aprendizado de (a!ilidades psicopatolgicas,mas o interesse nelas no de#e ocorrer em detrimento de seu uso mais importanteA ainda que mais corriqueiro na pr$tica cl5nica /?ims, 012>4.

    $OM%REENDENDO S&N'OMAS DOS %A$&EN'ES

    % entendimento, tanto no sentido cotidiano quanto no fenomenolgico, nopode ser completo, a no ser que o mdico ten(a um con(ecimento detal(ado da!ase cultural do paciente e de informa'es espec5ficas so!re sua fam5lia e seuam!iente imediato. fenomenologia tam!m no pode concentrar&se somente noindi#5duo isolado, o!ser#ado em um determinado momento de sua #ida. +e#e&sepreocupar com a pessoa em um contexto socialE acima de tudo, a experincia deuma pessoa amplamente determinada por suas intera'es com os outros. -latam!m de#e considerar o estado mental e o am!iente do indi#5duo antes doe#ento de interesse imediato e com o que ocorre aps o mesmo.

    % mtodo fenomenolgico facilita a comunicao; seu uso faz com que seamais f$cil para o mdico entender o paciente. Jsto tam!m auda o paciente a termais confiana no mdico, pois perce!e que seus sintomas so entendidos e,portanto, aceitos como BreaisQ. descrio precisa e a a#aliao dos sintomasauxilia na comunicao entre os mdicos.

    Sintoma/sinal

    medicina cl5nica faz uma clara distino entre sinais e sintomas. % pacientequeixa&se de sintomas, como se sentir agitado e desconfort$#el no calor, com(ipertireoidismo. Sinaisf5sicos so detectados no exameE um le#e !cio com ru5doaud5#el, perda de peso, pulso r$pido e exoftalmia.

    -sta distino no normalmente feita com os fen)menos do estado mental. descrio do paciente de um fen)meno mental anormal geralmente c(amada desintoma, quer ele queixe&se de algo que o pertur!a, ou simplesmente descre#a suaexperincia mental, que parece patolgica para um o!ser#ador. -m seu relatoacerca de suas experincias, am!os so, portanto, considerados sintomas. 7uandoagregados, esses sintomas podem ser considerados como sinais de qualquerdiagnstico indicado.

    % sintoma, pois, considerado como incluindo o sinal, pode ser uma queixa/p.ex., um sentimento de infelicidade4 ou um item de descrio fenomenolgica quepode no representar queixa do paciente /p.ex., ou#ir #ozes que discutem !aixin(oso!re o paciente, com perplexidade e admirao4. % sentimento de infelicidade

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    pode ser um sinal de doena depressi#a; as alucina'es auditi#as podem ser umsinal de esquizofrenia. K$, tam!m, sintomas ou sinais comportamentais, como nopaciente que grita para o teto A isto pode ser considerado como um sinalquesugere alucinao auditi#a. ?(neider /01V14 considera que um sintoma, naesquizofrenia, uma Bcaracter5stica freqente e, portanto, importante, desteestadoQ. Para que um sintoma sea usado no diagnstico, sua ocorrncia de#e ser

    t5pica desta condio e de#e ocorrer com relati#a freqncia na mesma.

    O m#todo de empatia! o m#todo de o(ser)a"o e e*perimenta"o

    % mtodo cl$ssico na medicina, de o!ter informa'es so!re o paciente, ocorrea partir da anamnese e do exame f5sico. % uso da fenomenologia em psiquiatria uma extenso da anamnese, no sentido de que amplia a descrio da queixapresente para dar informao mais detal(ada. , tam!m, um exame, $ que re#elao estado mental. Ho poss5#el para mim, o mdico, o!ser#ar a alucinao de meupaciente, nem medi&la de maneira direta. Ho entanto, para compreend&lo, possoutilizar as caracter5sticas (umanas que ten(o em comum com ele, isto , min(a(a!ilidade para perce!er e usar a linguagem que compartil(o com ele. Posso

    esforar&me para criar em min(a prpria mente uma idia de como de#e ser suaexperincia. -nto, testo para #er se estou correto em min(a reconstruo de suaexperincia, pedindo que ele confirme ou negue min(a descrio. Tam!m utilizomin(a o!ser#ao de seu comportamento A a expresso triste de seu rosto ou oato de !ater com o pun(o na mesa A para reconstruir suas experincias.

    %u#ir e o!ser#ar so cruciais para o entendimento. +e#e&se tomar muitocuidado ao se fazerem perguntas. %s mdicos muitas #ezes identificam sintomasincorretamente e fazem o diagnstico errado pois fizeram perguntas capciosas comas quais o paciente, por meio de sua su!misso ao statusdo mdico e ansiedadepara cooperar, est$ completamente disposto a concordar.

    % mtodo de empatiasignifica usar a (a!ilidade de sentir&se na situao deoutra pessoa, a#anando atra#s de sries organizadas de perguntas; repetindo ereiterando onde for necess$rio at que se ten(a certeza do que est$ sendo descritopelo paciente. seqncia poderia ser a seguinteE

    Pergunta -BZoc diz que seus pensamentos esto mudando; o que acontececom eles*Q Resposta % paciente descre#e seus pensamentos recorrentes so!re matarpessoas e a afirmao de que isto se origina de uma dor em seu est)mago. Pergunta /Tentando isolar os elementos de sua experincia4 B8omo esteseu pensamento de matar pessoas*Q /o!sesso, del5rio, fantasia, c(ance de setransformar em atuao, etc.4 BZoc acredita que seu est)mago afeta seu

    pensamento*; diferente de uma pessoa que sa!e que fica irritada quando est$com fome*; +e que maneira isto diferente*; % que causa sua dor no est)mago*Q Resposta % paciente descre#e os detal(es, que incluiro, entre o materialirrele#ante, o tipo de informao essencial para a determinao dos sintomaspresentes. Pergunta /% con#ite 9 empatia4 B-stou certo ao pensar que #oc est$descre#endo uma experincia na qual raios esto causando dor em seu est)mago,e que este, de alguma maneira !astante independente de #oc, causa estepensamento que o assusta, de que #oc de#e matar algum com uma faca*Q Jsto um relato dos sintomas rele#antes que ele descre#eu na linguagem que poderecon(ecer como sua. Resposta B?imQ /ns, ento, alcanamos nosso o!eti#o4; BHoQ /portanto,

    de#o tentar e#ocar no#amente os sintomas, experiment$&los por mim mesmo edescre#&los outra #ez ao paciente4.

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    Para dar exemplos do que isto significa na pr$ticaE 8omo eu, um mdico,decido se um determinado paciente est$ deprimido ou no* Jsto no feito pelaimitao de uma m$quina que poderia registrar unidades de tom #ocal ou deexpresso facial, c(egando a um diagnstico de depresso. Para a a#aliao cl5nica,sigo o seguinte processoE

    0. -u sou capaz de sentir&me infeliz, miser$#el, deprimido e sa!er como estesentimento dentro de mim.>. ?e eu esti#esse me sentindo como #eo o paciente se sentindo, falando, atuando,etc, tam!m me sentiria miser$#el, deprimido, infeliz.G. Portanto, eu a#alio o (umor do paciente como sendo de depresso. claro queeste processo mental de diagnstico no geralmente #er!alizado.

    -m outro exemplo, um paciente dizE B%s marcianos esto me fazendo dizerpala#r'es, no sou eu que estou dizendo isto.Q % questionamento emp$tico re#ela afalsa crena do paciente de que quando pala#r'es #m de sua !oca ele acredita quea causa est$ fora de si mesmo /marcianos4, em #ez de dentro de si. %questionamento incluiriaE BZoc realmente ouveos marcianos* 8omo #oc sa!e que

    so marcianos e ningum mais*Q, etc.

    Um outro exemplo no&psictico seria o de uma garota de >= anos de idadeque desmaia quando criticada em seu tra!al(o. % mdico precisa colocar&se,mesmo sendo um (omem de VV anos, de uma diferente formao, na posio dapaciente, com um con(ecimento no somente de sua (istria social, mas tam!mda maneira como ela, no presente, perce!e a (istria. ?omente depois disto odesen#ol#imento de seus sintomas pode se tornar compreens5#el. 7uando tomamoscon(ecimento, por exemplo, de seu pai com a!uso de $lcool, das discuss'es destecom a me epilptica da paciente, da experincia cultural restrita da fam5lia emuma aldeia de pescadores isolada; quando sa!emos que a me tin(a um ataquequando as discuss'es com o marido torna#am&se intoler$#eis A podemos comear a

    entender alguma coisa so!re o desen#ol#imento do sintoma da prpria paciente.Jsto no alcanado somente por explicao, como um o!ser#ador externo, maspelo entendimento emp$tico e pela capacidade de experincia su!eti#a por partedo mdico.

    Tal#ez uma analogia da medicina geral fosse til aqui. % mdico experienteapalpa um rim aumentado no a!dome de seu paciente /6igura 0.>4. -le con#ida osestudantes de medicina a apalparem o a!dome !imanualmente para que possamaprender a experimentar esta sensao quase impercept5#el, mas ainda assimsignificati#a. % mtodo fenomenolgico de empatia empregado em psiquiatria mais dif5cil de ensinar do que este. como se o mdico ti#esse que realizar esteexame sem as mos /6igura 0.G4[ Primeiro, ele precisa treinar o paciente a apalpar

    seu prprio a!dome !imanualmente de maneira correta e, depois, descre#er deforma precisa o que sente. % mdico, ento, interpreta a descrio do paciente paradecidir se o rim est$ dilatado sem poder ele prprio colocar a mo no a!dome.

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    Figura +,- . %alpa"o (imanual para)eriica"o de um rim aumentado,

    Figura +,0 . Apalpa"o (imanual1sem as m"os

    proposta do mtodo fenomenolgico, portanto, a seguinteE/04 descre#er experincias internas;/>4 orden$&las e classific$&las; e/G4 criar uma terminologia confi$#el.

    empatia tam!m de grande #alor teraputico no esta!elecimento de umarelao com o paciente. ?a!er que o mdico entende, e que capaz decompartil(ar de seus sentimentos, d$ ao paciente confiana e sensao de al5#io.-sta empatia tam!m til como uma maneira de estender o con(ecimento maisgenericamente no campo da psiquiatria, permitindo o desen#ol#imento de umaterminologia diagnstica.

    O todo n"o.dierenciado 2 a parte signiicati)a

    eralmente, uma classificao de qualquer espcie requer o exame detal(adode uma grande quantidade de material, para a identificao do ind5cio, pequeno,mas significati#o. Jsto se aplica 9 fenomenologia, na qual a parte significati#a domaterial psicolgico para a#aliao fenomenolgica pode ocorrer dentro de umalonga anamnese e exame, onde a maior parte da con#ersa do paciente no re#elaqualquer e#idncia de doena. Um paciente falou por #$rios minutos so!re #$riascoisas que considera#a !astante estran(as, mas no pude ter certeza so!re seuestado psictico. Ho entanto, quando ele disseE B-u raspei min(as so!rancel(asporque eram rui#as, e quando as pessoas #iam so!rancel(as rui#as, elas sa!iam

    que eu era !ic(aQ /na #erdade, ele no era (omossexual4; com isto, ficou !#io quetin(a del5rios, e este sintoma foi explorado em maiores detal(es.

    % uso da fenomenologia para a a#aliao no estado mental pode sercomparado com o exame do campo no microscpio. Ho se pode esperar extrairalgum sentido da amostra de sangue apenas ol(ando e focalizando. +e#e&se mo#era l:mina e conseguir um !om exemplo para demonstrar o ponto de interesse damassa no&diferenciada. ssim, a con#ersa do paciente pode ter demonstradomuitas idias estran(as e del5rios !izarros, mas tal#ez somente uma #ez oentre#istador possa o!ter uma descrio totalmente satisfatria de determinadosintoma psicopatolgico de particular import:ncia diagnstica.

    $omportamento aleat3rio/signiicado

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    Um (omem andando de !icicleta ao redor de um canal encontrou outro(omem, ro!usto, camin(ando na direo oposta e carregando um tu!o de!orrac(a. -ste le#antou o tu!o e o !ateu no om!ro do ciclista, quase o empurrandopara dentro do canal. o c(egar na cidade mais prxima, o ciclista registrou aagresso na pol5cia local, que prendeu o agressor. pol5cia considerou seucomportamento sem sentido e, portanto, solicitou a opinio de um psiquiatra.

    7uando questionado a respeito da razo pela qual (a#ia agredido o ciclista, o(omem respondeu que tin(a sentido uma dor em seu est)mago e ou#iu uma #ozdizendoE Bata no (omem da !icicleta e a dor ir$ passarQ; e foi o que ele fez.

    Um leigo qualquer, comentando o Bcomportamento malucoQ, pode dizer queeste no tem sentido; mas, como o significado no sempre aparente para umo!ser#ador ou mesmo para a #5tima, no se pode negar que no real, apesar depsictico, para o pacienteE BUma ao , a princ5pio, intencionalQ /?artre, 013G4.

    importante tentar alcanar o significado su!eti#o do paciente e nosomente ficar satisfeito porque a resposta anormal. % significado fenomenolgico, algumas #ezes, re#elado no tipo de resposta; por exemplo, quando se pediu a

    um paciente esquizofrnico que explicasse a diferena entre umaparedee umacerca, ele respondeuE BZoc pode #er atra#s de uma cerca, mas as paredes tmou#idosQ /FaSnsleX, 012V, comunicao pessoal4. +a mesma maneira que ose#entos externos tm causas que podem ser explicadas, os e#entos psicolgicosinternos podem originar&se uns dos outros em um encadeamento significati#o, se oestado interno do paciente puder ser entendido empaticamente.

    $ompreens"o/e*plica"o

    Jniciamos com a premissa de que o comportamento significa algo, isto , quesurge com consistncia interna, a partir de e#entos ps5quicos. -m!ora ocomportamento de um paciente possa ser significati#o para ele, pode no ser

    poss5#el para ns, os o!ser#adores externos, entend&lo. -xistem muitos n5#eis nosquais podemos entender. Por exemplo, podemos ter algum entendimento dasdificuldades sexuais de um exi!icionista reincidente ao sa!er so!re sua inf:nciapertur!ada; mas isto ainda no se explica por que ele regularmente repete ocomportamento que o faz entrar em conflito com a lei, preudicando&o socialmentee 9 sua fam5lia. Iittgenstein /01VG4 afirmouE BHs explicamos comportamentos(umanos dando raz'es, no causasQ.

    4 -mpatia esta!elecida a partirdo que emerge

    /34 8ausa e efeito do mtodocient5fico

    $ompreens%o a percepo do significado pessoal da experincia su!eti#a dopacienteE

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    0. ?e quisermos encontrar significado em um determinado momento no tempo, omtodo da fenomenologia apropriado. experincia su!eti#a do paciente dissecada formando&se um quadro est$tico do que tal pensamento ou tal e#entosignificaram para ele naquele determinado momento. Ho feito qualquercoment$rio de como o e#ento surgiu e nem alguma pre#iso ao que acontecer$

    depois. % significado simplesmente extra5do como uma descrio do que opaciente est$ experimentando e o que isto significa para ele agora. Um (omemsente&se zangadoE a compreenso est$tica usa a empatia para descre#er emdetal(es exatamente como para ele sentir&se zangado. -u, o examinador, $experimentei fen)menos como estes* -les so con(ecidos por mim pelasexperincias que ti#e em min(a #ida*

    >. compreenso gentica, em oposio 9 compreenso est$tica, preocupa&se comumprocesso. -ntende&se que, quando insultado, este (omem reage com #iolncia;quando esta mul(er ou#e #ozes comentando so!re suas a'es, ela fec(a ascortinas de sua casa. Para compreender a maneira como os acontecimentosps5quicos originam&se um dos outros na experincia do paciente, o terapeuta usa a

    empatiacomo um mtodo ou ferramenta. -le coloca&sena situao do paciente. ?eeste primeiro acontecimento ti#esse ocorrido com ele nas circunst:ncias totais dopaciente, o segundo e#ento, que foi a reao do paciente ao primeiro, ocorreudentro do esperado, com alguma margem de certeza. -le compreende ossentimentos atri!u5dos ao paciente a partir da ao que deles resulta. -nto, se eufosse o paciente com a mesma (istria, ser$ que teria as mesmas experincias e omesmo comportamento* Um exemplo audaria a demonstrar a (umanidade destaa!ordagem e a uni#ersalidade da experincia (umanaE eu de#o me colocar no lugarde uma o#em mul(er de 01 anos, criada em uma comunidade pesqueira isolada, amais #el(a de oito fil(os, que se torna estuporosa durante sua segunda gra#idez.-la casada com um (omem alcolatra de GV anos, e seu pai tam!m alcoolista.+e#o compreender como ela lidou com o comportamento de seu pai quando

    criana; o que sua gra#idez significou para ela; como ela #iu o comportamento desua me durante suas gesta'es, etc. explica%otrata do registro de e#entos deum ponto de o!ser#ao fora destes; a compreenso, de dentro deles.8ompreende&se a rai#a de uma pessoa e suas conseqncias; explica&se aocorrncia da ne#e no in#erno. -xplica'es tam!m podem ser descritas comoest$ticas ou genticas.

    G. explicao est$tica refere&se 9 percepo sensorial externa, 9 o!ser#ao deum acontecimento.

    3. explicao gentica consiste na desco!erta de conex'es causaisE ela descre#euma cadeia de e#entos e por que eles seguem esta seqncia. 8ompreender eexplicar so partes necess$rias da in#estigao psiqui$trica.

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    significati#as, ento, mostram o #5nculo entre diferentes e#entos psicolgicos, pelacompreenso de como tais e#entos surgem um dos outros, por um processo deempatia.

    %rimrio! secundrio

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    teorias fenomenolgicas podem ser falsificadas a partir das argumenta'es doprprio paciente.

    Forma! contedo

    8omo a urdidura e a trama, a forma e o contedo so essencialmentediferentes, mas esto inextrica#elmente entrelaados. claro que o conceitofilosfico de forma e contedo constitui uma ferramenta did$tica, um aux5lio para oentendimento, e no de#e ser usado de uma maneira concreta ou a!soluta. % que forma a um n5#el de classificao torna&se contedo em outro, como, por exemplo,artefatos de madeirapodem incluir mveiscomo um dos muitos BcontedosQ, masmoblia, quando utilizada como uma BformaQ pode tam!m incluir outros artigosdiferentes. formade uma experincia ps5quica a descrio de sua estrutura emtermos fenomenolgicos, como, por exemplo, um del5rio. Zisto assim, o conte(doo colorido da experincia. % paciente est$ preocupado pois acredita que estorou!ando seu din(eiro. ?ua preocupao que Bpessoas esto tirando meudin(eiroQ, no que Beu manten(o uma falsa crena apoiada em raz'es inaceit$#eisde que pessoas esto tirando meu din(eiroQ. -le est$ preocupado com o contedo.

    8laramente, forma e contedo so importantes, mas em contextos diferentes. %paciente est$ somente preocupado com o contedo, Bque estou sendo perseguidopor 0=.=== tacos de (queiQ. % mdico preocupa&se com a forma e com ocontedo, mas, como fenomenologista, s com a forma; neste caso, uma falsacrena de estar sendo perseguido. Ho que se refere 9 forma, os tacos de (quei soirrele#antes. % paciente, por sua #ez, ac(a este interesse do mdico pela formaincompreens5#el e um des#io do que ele considera importante, aca!ando pordemonstrar irritao com o fato.

    Uma paciente que disseE B7uando giro a torneira, ouo uma #oz sussurrandono canoE L-la est$ a camin(o da lua. Zamos torcer para que ela faa umaaterrissagem sua#eMQ. formadesta experincia o que exige a ateno do

    fenomenologista e til em termos de diagnstico. -la est$ descre#endo umapercepoE uma falsa percepo auditi#a e uma percepo auditi#a falsa oupertur!ada. Tem as caracter5sticas de uma alucinao e, especificamente, de umaalucinao funcional. -sta a forma. -nquanto o psiquiatra preocupa&se emesclarecer a forma, a paciente fica muito irritada porque Bele no est$ anotandonada do que estou dizendoQ. -la est$ preocupada por tal#ez ser mandada para alua. % que acontecer$ quando c(egar l$* 8omo #oltar$* Portanto, o conte(dotudo o que importa para ela e a preocupao do mdico com a forma incompreens5#el e frustrante ao extremo.

    forma depende da doena mental da qual o paciente sofre, constituindo&se,portanto, uma c(a#e diagnstica da mesma. Por exemplo,percep'es delirantes

    ocorrem na esquizofrenia, e quando demonstradas como a forma da experinciaelas indicam esta condio. % ac(ado de uma alucinao #isual sugere apro!a!ilidade de uma psicoss5ndrome org:nica. natureza do contedo destes doisexemplos irrele#ante para se c(egar a um diagnstico. % contedo pode serentendido em termos da situao de #ida do paciente com relao 9 cultura, aogrupo de pares, ao status, 9 sofisticao, 9 idade, ao sexo, aos e#entos de #ida e 9localidade geogr$fica. Um outro paciente, por exemplo, disse que (a#ia sidoen#iado 9 lua e retornado durante a noite duas semanas aps a primeiraaterrissagem da descida do (omem na lua. +escre#er os pensamentos de umapessoa como sendo controlados pela tele#iso necessariamente restrito 9quelaspartes do mundo onde esta in#eno con(ecida. Um colega informou&me queduas semanas aps a morte de -l#is PresleX, trs reencarna'es autoconfessas dofamoso cantor formam atendidas em seu setor de emergncia.

    (ipocondria uma doena de contedo, mais do que de forma. forma

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    pode ser #ariada. -la poderia tomar a forma de uma alucinao auditi#a, na qual opaciente ou#e uma #oz dizendoE BZoc tem c:ncerQ; pode ser um del5rio, quandoele acredita falsamente e com e#idncia delirante que tem c:ncer; pode ser,tam!m, uma idia super#alorizada, quando ele passa a maior parte do diac(ecando sua sade, pois acredita que est$ doente; pode ser uma anormalidade deafeto, que se manifesta em extrema ansiedade (ipocondr5aca ou um des:nimo

    (ipocondr5aco de fundo depressi#o. +e modo semel(ante, o cime mr!ido umtranstorno do contedo, no qual a forma expressa&se de #$rias maneirasEalucinatria, delirante, atra#s de uma idia super#alorizada, como umcomportamento compulsi#o ou um pensamento o!sessi#o; mas o contedo compreens5#el em termos da situao de #ida do paciente.

    Su(7eti)o/o(7eti)o

    o!eti#idade na cincia passou a ser re#erenciada como o ideal, de modoque somente o que externo 9 mente considerado real, mensur$#el e #$lido.Trata&se de um erro, porque necessariamente a#alia'es o!eti#as sosu!eti#amente carregadas de #alor naquilo que o o!ser#ador escol(e medir; e

    poss5#el tornar este aspecto su!eti#o mais preciso e confi$#el. K$ sempreulgamentos de #alor associados a a#alia'es su!eti#as e o!eti#as. % processo defazer uma a#aliao cient5fica consiste de #$rios est$giosE rece!er um est5mulosensorial, perce!er, o!ser#ar /tornar significati#as as impress'es4, anotar, codificare formular (ipteses. -ste um processo progressi#o de se descartar informa'es,e o ulgamento su!eti#o do que #$lido que determina a pequena quantidade decada est$gio que retido para transmisso 9 prxima parte do processo. BHoexiste algo como uma o!ser#ao sem idias preconce!idasQ /Popper, 01D34.

    s a#alia'es o!eti#as na psiquiatria tm co!erto muitos aspectos da #ida.lguns exemplos, alm das muitas medi'es fisiolgicas, so a medio demo#imentos corporais, expresso facial, escritos do paciente, capacidade de

    aprendizagem, respostas a um programa de condicionamento operante, extensoda memria, eficincia ocupacional e a#aliao do contedo lgico das afirma'esdo paciente. Tudo isto pode ser quantificado e analisado o!eti#amente. Podem serfeitas an$lises su!eti#as; por exemplo, a partir da expresso facial, da descriodo paciente so!re si mesmo, de sua prpria escrita ou de seus acontecimentosinternos. 7uando um mdico fala so!re um pacienteE B-la parece tristeQ, ele noest$ medindo o!eti#amente a expresso facial da mesma em Bunidades detristezaQ por algum ga!arito o!eti#o. -le segue estes est$giosE B-u associo suaexpresso facial com o afeto que recon(eo em mim como um sentimento detristezaE #er sua expresso faz&me sentir tristeQ. )apport a qualidade que opaciente esta!elece com o mdico durante sua entre#ista cl5nica. Para que istoacontea, o mdico precisa ser recepti#o 9 sua comunicao. -le de#e ser capaz de

    esta!elecer tam!m um rapport, de ter uma capacidade para o entendimento(umano. -sta necessariamente uma experincia su!eti#a para o mdico, masisto no significa que no sea real ou mesmo que no possa ser medido. % mtodofenomenolgico tenta aumentar nosso con(ecimento de e#entos su!eti#os, demodo que possam ser classificados e, finalmente, quantificados.

    ggernaes /01D>4 definiu su!eti#idade e o!eti#idade por experinciasdi$rias imediatasE

    *uando alguma coisa vivida tem uma qualidade de +sensa%o, diz&setambm que tem uma qualidade de +objetividade se a pessoa que a vive senteque, sob circunst-ncias favorveis, ele seria capaz de viver a mesma coisa com

    outra modalidade de sensa%o que aquela que provocou a qualidade de sensa%o.*uando algo que se experimentou tem uma qualidade de +idea%o, isto , n%oest sendo diretamente percebido no momento, tambm dito que tem uma

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    qualidade de +objetividade se o experimentador sente que, sob circunstanciasfavorveis, ele seria capaz, ainda assim, de viver a mesma coisa com, no mnimo,duas ou mais modalidades de sensa%o. /lgo experimentado tem uma qualidade de +subjetividade se quem o vivesente que sob circunst-ncias favorveis ele seria capaz de viver esta coisa comduas ou mais modalidades de sensa%o.

    ssim, ol(o para a mesa 9 min(a frente como uma percepo #isual ou posso#irar min(a ca!ea e ainda fantasi$&la como uma imagem #isual. -nquanto B#eo amesaQ, em qualquer destas formas, o fato de eu poder imaginar ou#ir um som seeu !atesse na mesa com uma col(er e mac(ucar meus dedos se desse um soconela, confirma sua qualidade de o!eti#idade. ?e eu usar min(a imaginao paracriar em min(a mente uma imagem #isual de uma cadeira que nunca realmente #i,mas que um composto de o!etos e quadros que #i, sei que nunca serei capaz desentir ou ou#ir esta cadeira de fato A esta uma imagem su!eti#a sem realidadeexterna, o!eti#a.

    %rocesso/desen)ol)imento

    +a mesma maneira que o entendimento e a explicao dependem daperspecti#a do entre#istador A empaticamente de dentro ou o!ser#ando de fora & ,assimprocessoou desenvolvimentodependem do modo pelo qual a pessoa#i#encia um acontecimento dentro de seu padro usual de #ida, ou fora do mesmo.% desen#ol#imento significa que uma experincia compreens5#el em termos daconstituio e da (istria da pessoa; transtornos de personalidade seriam #istoscomo altera'es do desen#ol#imento. % processo #isto como a imposio de ume#ento Bde foraQ; a epilepsia seria experimentada como uma ocorrncia da doenaseparada do desen#ol#imento normal A o processo da doena interrompeu o cursonormal da #ida. +e maneira similar, o in5cio de uma doena esquizofrnicafreqentemente produz uma BrupturaQ definiti#a na (istria de #ida de um

    adolescente.

    %OS&89ES 'E:R&$AS DA %S&$O%A'OLO;&A

    -xiste uma multiplicidade de psicopatologias. 7ualquer explicao para ocomportamento anormal tem o germe de uma teoria da psicopatologia.

    psicopatologia descritivatenta e#itar os inmeros argumentos etiolgicos,satisfazendo&se com uma descrio do que ocorre, sem solicitar explica'esadicionais.

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    -sta a!ordagem para o fen)meno ps5quico anormal contrasta de formaacentuada com outras molduras tericas da psicopatologia, como a psicanal5tica. Hapsican$lise, no m5nimo um de #$rios mecanismos supostamente ocorre, e o estadomental torna&se compreens5#el dentro deste referencial. -xplica'es do que ocorreno pensamento ou no comportamento !aseiam&se nestes processos tericos

    su!acentes, como transferncia ou mecanismos de defesa do ego. Por exemplo, nocaso de um del5rio, a psicopatologia descriti#a tenta descre#er aquilo em que apessoa acredita, como ela descre#e sua experincia de acreditar, que e#idncias d$para sua #eracidade e qual o significado desta crena para sua situao de #ida.Tenta&se a#aliar se sua crena tem as caracter5sticas exatas de um del5rio e, seti#er, de que tipo de del5rio. ps esta a#aliao fenomenolgica, a informaoo!tida pode ser utilizada de maneira diagnstica, prognstica e, comoconseqncia, teraputica. lguns dos contrastes entre psicopatologia descriti#a edin:mica so resumidos na Ta!ela 0.>.

    'a(ela +,- 2 %sicopatologia 2 descriti)a )ersus psicanal=tica,

    +escriti#a Psicanal5tica

    Fesumo#aliao emp$tica daexperincia su!eti#a dopaciente.

    -studo das ra5zes docomportamento atual eexperincia consciente por meiode conflitos inconscientes.

    Terminologia +escrio de fen)menos. Processos tericos demonstrados.

    Otodos

    -ntendimento do estadosu!eti#o do paciente porintermdio da entre#istaemp$tica.

    ssociao li#re, son(os,transferncia.

    +iferenas naaplicaopr$tica

    +,6az distino entre

    atendimento e explicaoEentendimento pela o!ser#ao eempatia.

    -ntendimento em termos deno'es de processos tericos.

    -, forma e o contedo soclaramente separadosE a formatem import:ncia para odiagnstico.

    Ho feita distino; en#ol#idacom o contedo.

    0,Processo e desen#ol#imentodiferenciadosE o processointerfere com odesen#ol#imento.

    Ho feita distino; sintomas#istos como tendo uma !asepsicolgica inconsciente.

    psicopatologia anal5tica ou din:mica, no entanto, mais pro#a#elmentetentaria explicar o del5rio em termos de conflitos precoces reprimidos noinconsciente e que somente agora so capazes de gan(ar expresso na formapsictica, tal#ez com !ase na proeo. % contedo do del5rio seria consideradouma c(a#e importante para a natureza do conflito su!acente que tem suas ra5zesno desen#ol#imento precoce. psicopatologia descriti#a no tenta dizer por que umdel5rio est$ presenteE ela somente o!ser#a, descre#e e classifica. psicopatologiadin:mica auda a descre#er como o del5rio ocorreu e por que se trata deste del5rioem particular, com !ase nas e#idncias da experincia no in5cio da #ida destapessoa. Jsto est$ relacionado com a compreenso gentica, conforme descrito, e

    c(amada de entendimento prescientepor Oellor /012V, comunicao pessoal4,indicando um suposto con(ecimento pr#io so!re como os e#entos da #ida mental

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    de#em se desenrolar, pois eles necessariamente tero de se adaptar 9s postula'estericas.

    $onsciente/inconsciente

    fenomenologia no pode estar en#ol#ida com o inconsciente, #isto que opaciente no pode descre#&lo, e, portanto, o mdico no pode sentir empatia. psicopatologia descriti#a no possui uma teoria do inconsciente, nem nega suaexistncia. mente inconsciente est$ simplesmente fora de seus termos dereferncia, e e#entos ps5quicos so descritos sem se recorrer a explica'es queen#ol#am o inconsciente. %s son(os, os contedos do transe (ipntico e os deslizesda l5ngua /atos fal(os4 so descritos de acordo com o modo como o pacienteexperienciou&os, isto , de acordo com a forma como se manifestam naconscincia.

    Org

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    re(ne tudo e o faz novamente operartambm 3eus esta dama tomou e suas duas partes separoudemasiado cedo 4 sua alma e seu pobre corpo mortal5as por Sua vontade seu corpo totalmente s%oser novamente unido 6 sua alma agora coroada

    /t ent%o, os dois repousam na terra e no cu separados

    com o que reuniu tudo o que tem vida ns ent%o nos regozijamos.

    -sta clara afirmao de uma a!soluta separao entre corpo e alma encontra&se em seu tmulo, que pode ser #isitado na 8atedral de -xerter.

    pro#eniente deste dualismo a nossa tendncia de pensarmos em termos docorpo e da mente A doena mental e f5sica. disciplina total da psiquiatria aceitatacitamente uma !ase dual5stica para sua prpria existncia, apesar de se ressentirdisto e tentar duramente ensinar uma medicina da pessoa como um todo. Hossalinguagem continuamente nos le#a de #olta a pala#ras e express'es dual5sticas, eestamos constantemente so! o perigo de uma psiquiatria Bdescere!radaQ ou ento

    Bsem menteQ /-isen!erg, 012C4.

    Heste aspecto, o mtodo fenomenolgico apresenta a #antagem de ser umaponte so!re este a!ismo, de outro modo intranspon5#el. Uma #ez que se preocupacom a experincia su!eti#a, est$ en#ol#ido com a mente e no com o corpo, mas amente pode somente perce!er os est5mulos que o corpo rece!eu, e no pode (a#erpercepo sem a conscincia da mente. B% corpo no somente um mecanismocausado, mas essencialmente uma entidade intencionalsempre dirigida a umo!eti#o. % corpo vivido a experincia de nosso corpo que no pode sero!eti#adaQ /old, 012V; grifos de old4. % termo menteno pretende representaralgum (omnculo psicolgico dentro do (omem, tal#ez #irado de ca!ea para!aixo, como no crtex cere!ral. -la puramente uma a!strao, que se refere aum aspecto de nossa (umanidade. 8omo qualquer outro aspecto ou perspecti#a, o

    que mantido em foco razoa#elmente claro, mas as margens do campo soindefinidas e, portanto, no podemos dizer o que, precisamente, quais so osconfins da mente, assim como nem podemos discriminar completamente o corpo ea mente, nem dir5amos que a (umanidade completamente explic$#el em termosde corpo e mente /?ims, 01134.

    Popper e -ccles /01DD4 desen#ol#eram o dualismo cartesiano ainda alm eela!oraram um conceito tr5plice A mente, corpo e self. s teorias de corpo&mente esuas rela'es com a psiquiatria foram !em resumidas por ran#ille&rossman/012G4. mente usada, daqui por diante, como uma a!strao, um modo deo!ser#armos parte dos fen)menos do (omem. -sses temas so a!ordadosresumidamente neste artigo, onde a finalidade foi a de um ol(ar so!re a doena, e

    no a dissecao da mente A Bo estudo das caracter5sticas distinti#as pelas quais semanifestamQ /Pinel, 02=04. -ste artigo descre#eu o que a fenomenologia e porque ela til na psiquiatria cl5nica. % mtodo concentra&se na experincia su!eti#ado paciente A tentar compreender seu prprio estado interno. Z$rias constela'esde idias foram discutidas, e os conceitos foram listados em pares, comoconstrutores; assim como o modo pelo qual a populao psiqui$trica difere de umapopulao normal.

    s idias !$sicas para o atendimento dos sintomas do paciente soela!oradas usando&se o mtodo de empatia e significado do comportamento, ousea, a compreenso e a explicao dos e#entos ps5quicos. % comportamento dopaciente analisado, adicionalmente, em termos de forma e contedo, a#aliaosu!eti#a e o!eti#a. s posi'es tericas da psicopatologia descriti#a foramdiscutidas e comparadas com mtodos psicanal5ticos e com o enfoque !iolgico dadoena mental. % conceito de mente foi !re#emente discutido.

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    REFER6N$&AS >&>L&O;R4F&$AS